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METODOLOGIAS PARA

APRENDIZAGEM ATIVA
Ingrid Gayer Pessi
Aprendizagem baseada em
projetos e em problemas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Definir as metodologias pautadas em resolução de problemas e sua


relevância para o contexto social vigente.
„ Identificar os diferentes modos de se elaborar a questão norteadora.
„ Descrever os modos de aplicação das estratégias pedagógicas basea-
das em problemas, projetos e o aprendizado em times, bem como
possibilidades de avaliação.

Introdução
A aprendizagem baseada em projetos e em problemas é uma metodo-
logia que coloca os alunos na posição de investigadores, separando-os
em pequenos grupos, tendo o professor como orientador. Essa moda-
lidade de aprendizagem permite a construção coletiva e colaborativa
do conhecimento.
Neste capítulo, você vai estudar os conceitos e as características prin-
cipais da aprendizagem baseada em projetos e em problemas (ABP), en-
tendendo como o professor pode transformar suas aulas em momentos
de reflexão e de interação, a partir da construção de bons problemas.
Você também conhecerá as estratégias que podem ser utilizadas no
desenvolvimento dessa metodologia e como construir uma avaliação
significativa. Por fim, você aprenderá aspectos importantes do planeja-
mento de projetos e a refletir sobre o uso da ABP na prática educativa.
2 Aprendizagem baseada em projetos e em problemas

Metodologias pautadas em resolução de


problemas
No final da década de 1960, professores da faculdade de Medicina da Uni-
versidade MacMaster, no Canadá, introduziram uma abordagem específica
educacional, com o objetivo de mudar a forma de ensino da medicina, de-
nominada aprendizagem baseada em problemas (ABP). O intuito da equipe
de professores era formar médicos que soubessem aplicar, na prática, todo o
conhecimento obtido de forma teórica. Para tanto, essa proposta era introdu-
zida nos últimos anos do curso, em que os alunos já possuíam conhecimento
teórico suficiente para resolver determinados problemas.
Conhecida como aprendizagem baseada em projetos, aprendizagem ba-
seada em problemas ou aprendizagem por descoberta, a abordagem é sem-
pre a mesma: colocar o aluno em contato com problemas ou situações que
se aproximem de sua realidade, para que possa resolvê-los utilizando seus
conhecimentos.
A maior diferença entre a aprendizagem baseada em projetos e a aprendi-
zagem baseada em problemas está na necessidade de integração das diferentes
áreas do conhecimento, na capacidade de solução da questão em forma de um
produto e na cooperação para resolução da proposta de trabalho.

Na aprendizagem baseada em projetos, o resultado está no produto ou no artefato,


e ela exige maior participação dos alunos, envolvendo-os ao longo de todo o processo
de construção do conhecimento. Já na aprendizagem baseada em problemas, o
foco está na busca pela solução do problema.

A ABP, originalmente denominada project based learning (PBL), representa


uma estratégia de ensino ativa e inovadora, em que o aluno irá construir o
conhecimento de forma coletiva e interdisciplinar, por meio de atividades de
Aprendizagem baseada em projetos e em problemas 3

projeto. Em linhas gerais, a ABP é a solução de um ou mais problemas que


podem se desenvolver durante o ensino de projeto.
Trata-se de uma abordagem pedagógica na qual os estudantes iniciam
sua atividade partindo de um problema que pode ser real ou uma situação
simulada de qualquer área do conhecimento, desde que atenda aos objetivos
de aprendizagem de um curso ou disciplina. É importante considerar que os
problemas são situações contextualizadas e apresentadas pelo professor em
forma de questões, casos e cenários que necessitam de uma solução/resposta
por meio de um processo investigativo realizado pelos discentes.
Apesar de ter sua origem na década de 1960, foi a partir de 1990 que a
ABP passou a ser aplicada nos Estados Unidos. É uma metodologia que tem
ganhado cada vez mais espaço, por ser “[…] um formato de ensino empolgante
e inovador, no qual os alunos selecionam muitos aspectos de sua tarefa e são
motivados por problemas do mundo real que podem, e em muitos casos, irão
contribuir para a sua comunidade” (BENDER, 2014, p. 15).
Diferentes universidades passaram a introduzir a metodologia em seus
cursos de Medicina, inclusive o Brasil, que em 1993, implantou a ABP pela
primeira vez na Escola de Saúde Pública do Ceará. Em seguida, a prática
começou a ser empregada em diferentes universidades e áreas que não fossem
somente da saúde, como administração, pedagogia, engenharias, entre outras.
Analisando o modelo educacional tradicional, baseado demasiadamente
em aulas expositivas e na memorização de conteúdos, entendemos a impor-
tância de repensarmos sobre metodologias inovadoras, que possibilitem maior
participação do aluno em seu processo de aprendizagem.
A ABP entende que o problema é apresentado para ajudar os alunos a
identificarem suas próprias necessidades de aprendizagem, à medida que
tentam entendê-lo, reunir, sintetizar e aplicar informações sobre o problema
e começar a trabalhar efetivamente para aprender com os membros do grupo
e com o tutor (professor). Os fundamentos da aprendizagem baseada em
problemas estão descritos a seguir.

„ Aprendizagem em grupos pequenos: a aprendizagem baseada em


projetos e em problemas ocorre em uma configuração de tutoria, em
grupos de sete a oito alunos. Um aluno é designado para um grupo
tutorial e há um facilitador diferente em cada uma das cinco áreas de
fundamentação. Os tutoriais ocorrem duas vezes por semana.
„ Facilitação por parte dos professores: o tutor procura estabelecer um
equilíbrio entre guiar a conversa do tutorial e solicitar ativamente o
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feedback dos alunos, para garantir que suas lacunas de conhecimento


sejam abordadas e resolvidas.
„ Uso de casos reais: os alunos são apresentados a casos reais durante o
primeiro tutorial da semana. Espera-se que os alunos estudem, inves-
tiguem o caso e apresentem seus resultados durante o segundo tutorial
dessa semana.
„ Objetivos de aprendizagem: simplesmente propor aos alunos um caso
não garante que eles entenderão os conceitos apropriados. Cada caso/
tutorial é fundamentado em um conjunto de objetivos de aprendizagem
definidos, essenciais para garantir que os alunos abordem o conteúdo
correto e identifiquem seus pontos fortes e fracos naquela área em
particular.

Para Bruner (1976), o processo de aprendizagem ocorre a partir da aquisição


e da transformação de uma nova informação, adaptando novas ideias e ava-
liando a aquisição dessa informação. Entendendo o processo de aprendizagem
e considerando os fundamentos da ABP, é importante destacar que, para o
sucesso desse processo e para que o aprendizado realmente aconteça, é neces-
sário o envolvimento do aluno, seu interesse e sua curiosidade em aprender.
Para que esse interesse desperte no aluno, os problemas trazidos para
sala de aula não podem ser rotineiros: devem ser construídos, privilegiando
problemas reais, que desenvolvam as habilidades dos alunos, instiguem a
busca criativa de soluções e o pensamento crítico.
O papel do professor é fundamental, uma vez que ele é o mediador entre o
aluno e o conteúdo a ser estudado (Figura 1), estimulando-o em suas descober-
tas. É ele quem cria as situações de aprendizagem e seu papel na construção
dos problemas é fundamental, uma vez que ao formulá-los, ele precisa fazer
conexões entre a teoria e a prática, buscando as relações entre o que ensina e
as habilidades necessárias aos futuros profissionais, de forma que estimule
os alunos a tomarem suas próprias decisões.
Quando bem aplicada, a ABP pode produzir efeitos positivos na prática
educativa, levando os alunos a interagir com a realidade e a desenvolverem o
senso crítico. Ao analisar as constantes mudanças sociais, é de suma impor-
tância repensar os métodos adotados pelo professor em sala de aula, para que
estes também atendam às necessidades da sociedade.
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Professor

Aluno Conteúdo

Figura 1. Na ABP, o professor é o mediador entre o aluno e


o conteúdo.

Entendendo que a aprendizagem não é um processo passivo, em que um


obrigatoriamente ensina e outro aprende, a ABP coloca professor e aluno como
parceiros na construção do conhecimento. Para Mamede e Penaforte (2001),
a ABP possibilita que o aluno, autodirigindo sua aprendizagem, construa o
conhecimento de forma ativa e colaborativa, aprendendo de forma contextu-
alizada e dando um significado pessoal ao saber.
Nesse sentido, para construir um bom problema, o professor deve pensar
em atrair a atenção e o interesse de seus alunos, a fim de motivá-los a bus-
carem respostas para a questão, não esquecendo que este (o problema) venha
ao encontro dos objetivos da disciplina para que os educandos percebam a
correspondência entre o conteúdo e a proposta apresentada. Outro aspecto
importante é propor um problema desafiante, porém não muito extenso, que
contenha informações claras e contemple os conhecimentos prévios dos alunos
para que tenham interesse em pesquisar e descobrir mais.
6 Aprendizagem baseada em projetos e em problemas

A aprendizagem baseada em projetos e em problemas se diferencia em muitos as-


pectos da problematização. Primeiramente, por quem a executa: enquanto a ABP
envolve todos na gestão educacional, fazendo necessária a preparação do ambiente
educacional, a problematização é uma decisão do professor que não requer grandes
mudanças na estrutura e nos materiais. Trata-se de uma mudança comportamental
do professor e dos estudantes. Na problematização, o indicado é que os estudantes
possam identificar os problemas a partir da primeira fase da metodologia, que é a
observação da realidade, enquanto na ABP usualmente quem introduz o problema
é o professor e os estudantes devem resolvê-lo, pois este problema é elaborado de
acordo com o objetivo da aula/conteúdo ou da disciplina na qual será desenvolvida a
ABP. Em comum, ambas as metodologias oferecem a possibilidade de os estudantes
formularem hipóteses, incluem trabalho em grupo e partem de uma pergunta focal
como padrão para gerar novas informações, mediante processos de análise e de síntese.

Estratégias para o desenvolvimento e


para a avaliação das atividades
A aplicação da ABP em sala de aula requer profunda reflexão sobre o(s)
objetivo(s) que se pretende atingir, para que a partir disso seja elaborada a
questão que norteará a aprendizagem. No desenvolvimento da atividade, o
professor deve estar ciente de que não se trata de mera obtenção de conceitos
por parte dos alunos, mas do desenvolvimento de habilidades cognitivas como
compreensão, raciocínio e estratégia.
Para a aplicação da ABP, Souza e Dourado (2015) apresentam uma estrutura
básica de passos que podem ser adaptados e aplicados em diferentes níveis
de ensino.

„ Elaboração do cenário ou contexto problemático: deve ser de acordo


com o objetivo que se pretende atingir e chamar a atenção do aluno
para que este identifique o tema do objeto de estudo. Além disso, deve
haver relação com o conteúdo, ser funcional e de um tamanho ideal.
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„ Questões-problema: ao receber as questões-problema, os grupos devem


organizar as informações, dividir as tarefas, esclarecer as dúvidas com
o professor/tutor para então decidirem como vão aprofundá-las.
„ Resolução dos problemas: é a fase em que os alunos colocam em
prática todas as ações planejadas anteriormente.
„ Apresentação do resultado e autoavaliação: o grupo deve elaborar
uma síntese com as reflexões e os debates realizados. Todos deverão
apresentar a solução encontrada para o grupo. No final, é importante
que o grupo e que cada aluno realizem uma autoavaliação junto ao
professor, que irá verificar se o objetivo foi ou não atingido, realizando,
assim, a avaliação da aprendizagem.

A construção de conhecimentos por meio da ABP se caracteriza não só


por ser uma oportunidade rica e significativa para que o aluno confronte suas
ideias com as de outros colegas, mas também propicia uma visão concreta e
prática do aprendizado.
Ao trabalhar em grupo, os alunos percebem a importância da troca de
saberes e da colaboração, apoiam-se mutuamente, significando a importância
de atingirem os objetivos que lhes são comuns, acordados pelo coletivo, o que,
por sua vez, exige o estabelecimento de relações que prezem pela liderança
compartilhada, pela confiança mútua e a corresponsabilidade para a condução
das tarefas.
A aprendizagem em grupo na ABP se configura como uma estratégia de
ensino na qual os sujeitos, de diferentes níveis de desempenho, trabalham
juntos e em pequenos grupos a fim de atingir uma meta — a partir da qual
entram em expressiva e significativa interatividade.
Uma das mais importantes mudanças que acontecem na prática docente
da ABP começa pela concepção que se tem de avaliação, uma vez que esta
deve vir carregada de significados e não ser apenas uma forma de mensurar
quantitativamente o quanto o aluno sabe ou não.
A ABP permite o feedback imediato para que o professor avalie o progresso
da aprendizagem dos alunos, obtendo pistas da assimilação do conteúdo e
das possíveis dificuldades encontradas. Já para o aluno, é a oportunidade de
refletir, em tempo real, sobre as estratégias utilizadas e avaliar o caminho
que percorreu.
Ao receber o feedback imediato, o aluno desmistifica a ideia negativa que
se tem do erro na aprendizagem, uma vez que o percebe como parte natural
do processo e isso o leva a experimentar diferentes formas de pensar.
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Como elaborar questões norteadoras


Ao planejar a questão norteadora, o professor deve privilegiar para que a
avaliação ocorra durante todo o processo e na sua aplicação, estando atento
às impressões dos alunos.
Na elaboração de uma questão norteadora, deve-se considerar que:

„ as questões devem ser provocativas, ir além de superficialidades, ins-


tigando e despertando o interesse dos alunos;
„ devem ir além da obtenção por respostas fáceis, levando os alunos a um
pensamento superior, exigindo que eles integrem, sintetizem e avaliem
criticamente as informações;
„ não podem privilegiar apenas uma disciplina ou tópico; é importante
que promovam conexões e quando possível, a interdisciplinaridade;
„ podem surgir a partir de dilemas da vida real dos alunos e responder
às suas dúvidas ou curiosidades;
„ não se detenham a responder “o que é isso?” ou “quais são?”, mas sim,
“por que isso acontece?” ou “como isso acontece?”.

Além dessas dicas, é importante que o professor tenha claro seu objetivo
e evite “armadilhas”, pois a questão norteadora deve promover a reflexão por
parte dos alunos.
Isso o possibilitará a melhora de possíveis futuros aspectos que acabaram não
funcionando em determinada atividade. A avaliação contínua permite uma me-
lhor reflexão sobre as relações entre professor e aluno, professor e conhecimento,
estudante e estudante, estudante e conhecimento (SOUZA; DOURADO, 2015).
A avaliação se caracteriza como um dos maiores desafios da ABP, uma
vez que as instituições escolares ainda privilegiam avaliações formais. Nesta
metodologia, a avaliação acontece de forma contínua e exige cuidados por parte
do professor, uma vez que é baseada na observação direta, nos argumentos e
nos registros realizados pelos alunos.
O professor deve pensar em uma forma de avaliar por meio da APB, so-
licitando um produto final da solução encontrada pelo grupo, podendo ser:

„ uma apresentação de slides;


„ a produção de um artigo científico;
„ um relatório escrito;
„ qualquer outra produção que evidencie a construção significativa do
conhecimento.
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É preciso ter em mente que a ABP possibilita a integração de conhecimentos,


uma vez que considera o conhecimento prévio do aluno para a construção
de novos conhecimentos. Nesse sentido, é importante valorizar aquilo que
o aluno já sabe, planejando questões que instiguem sua curiosidade e seu
pensamento crítico.

A ABP pode ser implementada em um ambiente on-line, sem alterar sua filosofia
fundamental. A riqueza de mídias que podem ser utilizadas no ambiente on-line
acaba fundamentando a experiência. Apesar da curva de aprendizado ser íngreme, o
treinamento e o planejamento podem ajudar estudantes e tutores a se adaptarem e a
desenvolverem a alfabetização on-line para se utilizar a ABP em educação a distância.
Apesar de seus desafios, a ABP on-line tem potencial para apoiar a aquisição e a
aplicação de novos conhecimentos em diversos contextos, além de criar a possibilidade
de aprendizagem interdisciplinar.

A aprendizagem baseada em projetos e em


problemas na prática
A aprendizagem baseada em projetos e em problemas não tem como objetivo
a mera transmissão e a aquisição de conteúdos, mas é caracterizada pela
articulação entre teoria e prática, com a intenção de apresentar ao aluno um
problema ou uma situação próxima da realidade, que resulte em uma solução e
leve o aprendiz a tomar consciência da sua participação efetiva nesse processo.
A aprendizagem baseada em projetos desenvolve nos educandos o senso de
responsabilidade, amplia seus conhecimentos e desperta a atenção às diferenças
individuais. Os resultados obtidos refletem a coletividade, favorecendo futuras
discussões e o intercâmbio de ideias, permitindo uma comunicação direta em
que todos percebam os problemas e as dificuldades durante a atividade. Esta
interação possibilita o desenvolvimento de lideranças, o compartilhamento de
expectativas, dificuldades e metas, promovendo o sentimento de coleguismo
e, principalmente, de aprendizagem colaborativa.
Segundo Bender (2014), para se conceber o planejamento dos projetos de
ABP são necessários alguns componentes essenciais, conforme descrito no
Quadro 1.
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Quadro 1. Planejamento de projetos na ABP

Âncora do projeto Simples narrativas que descrevam o problema,


podendo ser algo mais envolvente e que desperte
o interesse dos alunos. É imprescindível que ela
descreva um projeto real para os alunos.

Questão motriz Em conjunto com a âncora, a questão motriz


deve tanto motivar os alunos quanto ajudá-los a
delinear parâmetros que orientem seu trabalho.

Voz e escolha O professor deve envolver os alunos na escolha do


dos alunos projeto, considerando não apenas os tipos de escolhas
de ABP significativas para eles, mas principalmente qual
delas tem maior possibilidade de funcionar para eles.

Processos Apenas algumas atividades e alguns processos de


específicos para aprendizagem devem ser estipulados pela tarefa
investigação inicial, proporcionando experiências autênticas para
e pesquisa que os grupos possam resolver o problema.

Investigação O professor deve usar meios que estimulem a investigação


e inovação e o pensamento inovador dos alunos durante o
dos alunos processo de planejamento, pesquisa e desenvolvimento
das atividades, por exercer o papel de facilitador.

Cooperação Ajudar os alunos a trabalharem juntos na


e trabalho resolução de um problema, desempenhando
em equipe diferentes papéis e se ajudando mutuamente.
É uma das principais contribuições da ABP.

Oportunidades Estimulando e levando o aluno a usar o pensamento


para a reflexão reflexivo, ele é capaz de encontrar soluções para
o problema de forma criativa e inovadora.

Feedback e revisão Quando o aluno recebe o feedback constante


dos caminhos percorridos em cada etapa e tem
a oportunidade de revisar seu trabalho, ele se
sente mais motivado durante o processo.

Apresentações O professor pode dar como alternativa para os


públicas dos alunos publicarem os resultados do projeto em
resultados dos formato de vídeos, relatórios, websites, apresentação
projetos de slides, entre outros, a fim de divulgar para
outras pessoas as soluções encontradas.

Fonte: Adaptado de Bender (2014).


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Analisando o Quadro 1, temos uma visão geral de como a ABP pode con-
tribuir para a formação de um aluno com habilidades necessárias para atuar
em nossa atual sociedade por meio da comunicação, do raciocínio lógico, do
desenvolvimento da criatividade e do pensamento inovador.
A seguir, podemos analisar uma sequência didática de aplicação da me-
todologia da ABP.

a)  O professor seleciona um problema, caso, cenário ou uma situação a


partir das necessidades do conteúdo trabalhado.
b)  Os estudantes realizam pesquisas ou a coleta de informações, indi-
vidualmente ou em grupo, ou seja, passam a investigar o assunto/
solução conforme as especificidades de cada situação, com o intuito
de desvendar ou resolver o problema que receberam.
c)  Para que os estudantes consigam solucionar o problema elencado, o pro-
fessor pode indicar as fontes ou autores de base para a investigação, mas
nesta forma de trabalho também é possível utilizar outras referências
como parte do processo de busca e de qualificação da resposta/solução.
d)  O professor deve indicar a forma de apresentação da resolução do
problema, bem como critérios para sua solução, como a capacidade
de execução, a viabilidade, entre outros.

Para enriquecer sua proposta, o professor pode organizar o projeto fazendo


uso das tecnologias disponíveis para o ensino. Quando bem utilizadas, estas
aumentam a eficácia da aprendizagem e o envolvimento dos alunos na ativi-
dade, abrindo oportunidade para integrar, enriquecer e expandir os materiais
educacionais, apresentando novas maneiras de interação. É importante utilizar
tecnologias nas metodologias adotadas pelo professor, pois ao mesmo tempo
em que inovam a prática docente, elas também vão ao encontro da realidade
dos alunos.
Quando aplicadas à ABP, as tecnologias se tornam ferramentas que pro-
porcionam possibilidades de aprendizagem que colaboram para o professor
estreitar laços de fala e interação com os educandos. É possível planejar
atividades que utilizem a internet, softwares, celulares, câmeras fotográficas
e de vídeo, quadros interativos, aplicativos, jogos digitais, entre outros.
12 Aprendizagem baseada em projetos e em problemas

Para conhecer um pouco mais sobre o uso de recursos tecnológicos na ABP, leia o
artigo “Aprendizagem baseada em projetos: contribuições das tecnologias digitais”,
que traz importantes reflexões sobre as possibilidades e os desafios para a prática
educativa, disponível no link a seguir.

https://qrgo.page.link/gp3Yd

Tipos de projetos da ABP


Como mencionado anteriormente, o planejamento de um projeto deve vir ao
encontro da necessidade de se possibilitar uma aprendizagem significativa,
contemplando problemas contextualizados, que levem o aluno a fazer uso
do pensamento reflexivo e crítico. Moura (1993) apresenta três categorias de
projetos que podem ser adotadas no planejamento da ABP.

„ Projeto construtivo: tem o objetivo de construir algo novo, inovador


ou uma nova solução para um problema.
„ Projeto investigativo: adotando o método científico, o aluno utiliza
da pesquisa em diversas fontes para encontrar a solução do problema.
„ Projeto didático ou explicativo: com base nas questões: “Como?” e
“Para quê?”, explica a funcionalidade do objeto de estudo.

A ABP pode ser planejada por um ou mais professores, contemplando


diferentes disciplinas. O importante é que, em seu planejamento, o professor
privilegie oportunidades de interação e de interiorização dos conhecimentos
produzidos pelos alunos.

Para entender melhor como a ABP pode ser usada na prática pedagógica, vamos
imaginar que o professor, após ter trabalhado o conteúdo de alimentação saudável,
lança o seguinte desafio: como conscientizar as pessoas sobre a importância de uma
alimentação saudável? Pode ser que um grupo crie uma campanha com panfletos
Aprendizagem baseada em projetos e em problemas 13

e cartazes que informem os benefícios dos alimentos funcionais; outro grupo pode
criar um aplicativo com receitas saudáveis; enquanto o outro pode entrevistar um
nutricionista para aprofundar a questão. Portanto, na ABP não há um único caminho
para encontrar a solução de um problema: a aprendizagem é construída a partir da
curiosidade, da criatividade e da autonomia.

BENDER, W. N. Aprendizagem baseada em projetos: educação diferenciada para o século


XXI. Porto Alegre: Penso, 2014. 156 p.
BRUNER, J. S. Uma nova teoria de aprendizagem. 4. ed. Rio de Janeiro: Bloch, 1976. 162 p.
MAMEDE, S.; PENAFORTE, J. C. Aprendizagem baseada em problemas: características,
processos e racionalidade. In: MAMEDE, S.; PENAFORTE, J. C. (org.). Aprendizagem
baseada em problemas; anatomia de uma nova abordagem educacional. Fortaleza:
Hucitec, 2001. p. 27–48.
MOURA, D. G. A dimensão lúdica no ensino de ciências: atividades práticas como elemento
de realização lúdica. 1993. 311 f. Orientador: Ernst Wolfgang Hamburger. Tese (Doutorado
em Educação) — Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1993.
SOUZA, S. C.; DOURADO, L. Aprendizagem baseada em problemas (ABP): um método
de aprendizagem inovador para o ensino educativo. Holos, Natal, v. 5, p. 182–200, 2015.
Disponível em: http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/view/2880/.
Acesso em: 8 maio 2019.

Leituras recomendadas
BACICH, L.; MORAN, J. (org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma
abordagem teórico-prática. São Paulo: Penso, 2018. 260 p. (Série Desafios da Educação).
BERBEL, N. A. N. A problematização e a aprendizagem baseada em problemas: dife-
rentes termos ou diferentes caminhos? Interface — Comunicação, Saúde, Educação,
Botucatu, v. 2, n. 2, p. 139–154, fev. 1998. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_abstract&pid=S1414-32831998000100008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt.
Acesso em: 8 maio 2019.
BUCK INSTITUTE FOR EDUCATION. Aprendizagem baseada em projetos: guia para pro-
fessores de ensino fundamental e médio. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. 200 p.
14 Aprendizagem baseada em projetos e em problemas

CYRINO, E. G.; TORALLES-PEREIRA, M. L. Trabalhando com estratégias de ensino-apren-


dizado por descoberta na área da saúde: a problematização e a aprendizagem baseada
em problemas. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 20, n. 3, p. 780–788, maio/jun.
2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0102-
-311X2004000300015&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 8 maio 2019.
PAULA, F. B. R. Da “Aprendizagem Baseada em Problemas” à “Aprendizagem Baseada em
Projetos”: estratégias metodológicas para o ensino de projeto nos cursos de Design à luz
dos paradigmas contemporâneos. Actas de Diseño, Buenos Aires, v. 9, n. 17, p. 142–146,
jul. 2014. Disponível em: https://fido.palermo.edu/servicios_dyc/publicacionesdc/
vista/detalle_articulo.php?id_libro=485&id_articulo=10252. Acesso em: 8 maio 2019.

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