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RESUMO
O presente trabalho é fruto de uma pesquisa em fase inicial e ainda em andamento, busca
discutir, com base nos recentes estudos de inovação, o papel desempenhado por duas formas
de burocracia na administração do processo inovativo: o Estado e a firma. O que interessa a
essa investigação é analisaras formas de relação entre essas duas formas de burocracia no
processo inovativo. Para enquadrar essa empiricamente, optou-se por analisar as estratégias
inovativas adotadas pelas empresas do setor de Software e Serviços de Tecnologia da
Informação (SSTI) de Minas Gerais que foram beneficiadas pelo Programa para o
Desenvolvimento da Indústria Nacional de Software e Serviços de Tecnologia da Informação
(Prosoft) executado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES). A análise foi
realizada a partir dos dados das operações realizadas pelo BNDES em prol dessas empresas,
os quais são disponibilizados pelo próprio BNDES, e das informações disponíveis nos sítios
eletrônicos dessas empresas. Os resultados preliminares indicam que as empresas analisadas
adotam estratégias variadas, embora predominem empresas situadas em segmentos inferiores
da cadeia de valor do setor de SSTI e que adotam uma inserção verticalizada no mercado,
características que indicam estratégias inovativas pouco ofensivas.
1
Graduando em Ciências Sociais pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Bolsista do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PAPq/UEMG.
E- mail: vitorcpresoti@gmail.com
2
G graduando em Ciências Sociais pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Bolsista do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PAPq/UEMG.
E- mail: edbissiati@outlook.com
3 Graduando em Ciências Sociais pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Bolsista do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PAPq/UEMG.
E-mail: caio_martins.007@hotmail.com
Palavras-chaves: BNDES, Estado, Firma, Inovação, Prosoft.
INTRODUÇÃO
A economia é, sem dúvida, um dos elementos fundamentais que norteiam a vida de
qualquer sociedade. Não por acaso, o esforço de grandes economistas que se debruçaram no
estudo dos fenômenos econômicos emergentes é fundamental para compreender diversos
aspectos das sociedades modernas centradas no mercado.
Os estudos de Joseph Schumpeter (1883-1950) são considerados precursores na
temática da inovação, fenômeno que o autor considerava constituir o motor do
desenvolvimento econômico no modo de produção capitalista. Sob a ótica de Schumpeter
“entenderemos por ‗desenvolvimento‘, portanto, apenas a mudança da vida econômica que
não lhe forem impostas de fora, mas que surjam de dentro, por sua própria iniciativa‖ (1997,
p.74). Tal afirmação do economista reflete bem suas teses acerca do processo de inovação na
economia.
O termo ―desenvolvimento econômico‖ aqui empregado, se refere à definição de
Schumpeter, a qual apresenta a inovação econômica como o fenômeno fundamental da
economia capitalista. Para Schumpeter, a inovação consiste, grosso modo, na realização de
novas combinações dos meios produtivos, englobando os casos à frente:
1) Introdução de um novo bem — ou seja, um bem com que os
consumidores ainda não estiverem familiarizados — ou de uma nova
qualidade de um bem. 2) Introdução de um novo método de produção,
ou seja, um método que ainda não tenha sido testado pela experiência
no ramo próprio da indústria de transformação, que de modo algum
precisa ser baseada numa descoberta cientificamente nova, e pode
consistir também em nova maneira de manejar comercialmente uma
mercadoria. 3) Abertura de um novo mercado, ou seja, de um mercado
em que o ramo particular da indústria de transformação do país em
questão não tenha ainda entrado, quer esse mercado tenha existido
antes, quer não. 4) Conquista de uma nova fonte de oferta de matérias-
primas ou de bens semimanufaturados, mais uma vez
independentemente do fato de que essa fonte já existia ou teve que ser
criada. 5) Estabelecimento de uma nova Organização de qualquer
indústria, como a criação de uma posição de monopólio (por exemplo,
pela trustificação) ou a fragmentação de uma posição de monopólio.
(SCHUMPETER: 1997, p. 76)
PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE
Este estudo está em sua fase inicial e tem como objetivo principal descrever e analisar
a estratégia inovativa das empresas do setor de SSTI de Minas Gerais que foram beneficiadas
pelas operações do Prosoft. Sua hipótese sustenta que, como as operações do Prosoft em
Minas Gerais foram realizadas após sua reformulação em 2004, quando o programa passou a
privilegiar empresas grandes e com alta capacidade inovativa, espera-se que as empresas
beneficiadas disponham de estratégias ofensivas, ou seja, que realizem atividades inovativas
complexas voltadas para o lançamento de produtos e serviços com grande potencial inovativo.
Para testar essa hipótese será crucial, primeiramente, apresentar o processo de
aperfeiçoamento do Prosoft, com destaque para as alterações realizadas no programa no ano
de 2004. A principal técnica de análise nessa etapa da investigação será a análise de conteúdo
dos documentos disponibilizados pelo BNDES. Posteriormente, será necessário discriminar as
operações realizadas pelo programa em Minas Gerais. Essa etapa da análise se pautará nos
dados disponibilizados pelo próprio BNDES a respeito da implementação do Prosoft, os quais
discriminam tanto as operações diretas de desembolso do BNDES como as operações de
intermediação financeira do BNDESPar. Assim como na etapa anterior, a principal técnica de
análise será a análise de conteúdo.
Na última e decisiva etapa de análise, por sua vez, espera-se poder apresentar e
analisar a estratégia inovativa das principais empresas beneficiadas pelo Prosoft em Minas
Gerais. Para tanto, será fundamental determinar a posição de cada empresa na cadeia de valor
do setor de SSTI e seu tipo de inserção no mercado, fatores que serão fundamentais para
determinar o tipo de estratégia inovativa desenvolvida pelas empresas.
Nessa etapa da análise, será fundamental. Também nessa etapa da investigação, a
técnica de análise adotada será a análise de conteúdo, mas dessa vez dos dados obtidos nas
pesquisas desenvolvidas nos sítios eletrônicos das empresas.
Meses antes de encerrar a vigência do contrato do Prosoft junto ao BNDES que teria
seu fim no dia 31 de Julho de 2007, o banco realizou um encontro para discutir
aperfeiçoamentos no programa. Compareceram para o debate representantes das seis maiores
empresas do setor instalado no Brasil, além de representantes de órgãos do setor federal
ligados diretamente ligados ao setor de desenvolvimento de software, com a finalidade de
aprimorar o programa e desenvolver ainda mais a indústria de TI no Brasil.
O banco avaliou intensamente o processo de desenvolvimento do programa desde seu
lançamento. Mudanças positivas foram destacadas com o lançamento das ações da PITCE,
mas foi posto em destaque o fato de que o setor merecia maiores investimentos, visto que
ainda não teria atingido o objetivo traçado:
O Prosoft foi renomeado Programa para o Desenvolvimento da Indústria
Nacional de Software e Serviços de Tecnologia da Informação, mas
permaneceu com uma formatação bastante semelhante a anterior, inclusive
com os mesmos três subprogramas. Incorpora, porém. Algumas alterações
que visam tomá-lo mais eficaz. (GUTIERREZ, 2007, p.59)
Após o levantamento das empresas que atuam em Minas Gerais e que que receberam
recursos do BNDES através do Prosoft, o próximo passo desse estudo consiste em explorar
algumas informações nos sítios eletrônicos das empresas que indiquem sua posição na cadeia
de valor do setor de SSTI, sua forma de inserção no mercado e, portanto, se suas estratégias
inovativas tendem a ser mais ou menos ofensivas.
RV Tecnologia
Segundo consta no sítio eletrônico da empresa RV Tecnologia, sua entrada no
mercado em 2002 teve como intuito apresentar uma alternativa para as operadoras de
telefonia do País, distribuírem créditos para celulares através de recargas sem a necessidade
de cartões. Em 2008 a RV Tecnologia foi adquirida pela 3P Investimentos e fundiu-se com a
BM Logística, formando a holding BRMV.
A RV Tecnologia oferece soluções em transações eletrônicas, vendas e distribuição. A
empresa conta com uma rede de serviços como recargas de telefonia e outros serviços pré-
pagos, recebimento de cartões de crédito e débito. Tanto para grandes, médios e pequenos
varejistas. Sua atuação é em âmbito nacional e em parceria com empresas de telefonia e de
serviços e conteúdos digitais, possui escritórios regionais nos seguintes municípios e estados:
Belo Horizonte (MG), Campinas (SP), Divinópolis (MG), Niterói (RJ), Ribeirão Preto
(SP), Rio de Janeiro (RJ), Santos (SP), Sorocaba (SP), Paulo (SP) e Vitória (ES).
Os serviços ofertados pela RV Tecnologia são, sobretudo, a venda de recargas pré-
pagas e de chips de telefonia móvel; venda de recargas pré-pagas para jogos, aplicativos e tv;
correspondente bancário; recebimento de cartões de débito e crédito; divulgação do
estabelecimento no site RVGO; aplicativo para gerenciar todas as suas vendas de forma
prática,
Segundo a empresa, suas formas de inovação se dão através da incorporação,
desenvolvimento e implantação de novas tecnologias nos ramos de TI.
A Rv tecnologia está situada no segmento hierarquicamente superior no interior da
cadeia de valor do setor de SSTI, uma vez que sues serviços de TI tendem a adotar uma
estratégia horizontal, já que aparenta concentrar seus esforços inovativos oferecer serviços
inéditos e a implantação de novas tecnologias no mercado. Sua estratégia inovativa tende a ser
ofensiva.
SIGGA
Segundo o sítio eletrônico da empresa, a Sigga é uma empresa de capital nacional que
oferece soluções integradas para Gestão Estratégica de ativos através do desenvolvimento de
softwares para gestão que engloba todas as atividades de uma empresa, desde as atividades de
manutenção, rotinas de estoque e movimentação de materiais, planejamento e programação de
ordens, até o controle de reparos e inspeções em campo e análise estratégica de indicadores
chave de performance. Além disso, a empresa promete fornecer a seus clientes tecnologia
capaz de inseri-las na Indústria 4.0, última geração da automação industrial.
Presente há 18 anos no mercado, a empresa hoje conta com mais de 40 mil usuários de
seus serviços e mais de 200 mil horas de P&D. Possui escritórios de representação nos
Estados Unidos, Bélgica e China. Possui em sua carteira de clientes empresas de relevância
no cenário econômico, tais como Ambev, Furnas Bunge e Votorantim Cimentos.
Segundo informações contidas no site da empresa Sigga, a utilização de seus softwares
contribui significativamente para a sustentabilidade, eficiência e produtividade das empresas.
A AMBEV, por exemplo, conseguiu uma economia anual de 7,2 milhões de folhas de papel,
redução de 80% do tempo médio de solução de anomalias no processo produtivo e aumento
de 15% na produtividade dos técnicos. No que tange a Furnas, as utilizações dos softwares da
empresa resultaram em uma economia anual de 500.000 folhas de papel, além do despacho de
ordens de manutenção cinco vezes mais rápido.
A Sigga ainda possui parceria com empresas de diferentes setores de atuação e
relevância mundial, tais como: Petrobrás, Shell, Saint-Gobain, Unilever, Vale, Brasken,
dentre outras.
É possível perceber, por tanto que a empresa está situada no segmento
hierarquicamente superior no interior da cadeia de valor do setor de SSTI. Seus serviços de TI
tendem a adotar uma estratégia horizontal, uma vez que a empresa declara mais de 200 mil
horas em P & D, sendo assim, sua estratégia inovativa aparente ser fortemente ofensiva.
STI Soluções em TI
A STI consultoria é uma empresa especializada no desenvolvimento de soluções
voltadas para o negócio de nossos clientes e utiliza TI para geração de resultados. A STI é
uma empresa de tecnologia de informação que oferece soluções customizadas e de alto nível
de valor agregado, sempre observando a atual fase dos nossos clientes, crescendo e adequando
as soluções juntamente com eles. Somos tecnologia, vamos além, criamos vínculos e nos
conectamos com sua empresa.
A empresa indica estar focada na satisfação de seus clientes, o que orienta sua busca
por soluções customizadas que atendam às exigências específicas de seus clientes.
Segundo o site da empresa, cada cliente é único, portanto, a empresa não visualiza a
possibilidade de oferecer um portfólio fixo de produtos e/ou serviços. Por isso, de acordo com
a própria empresa, após ser contratada a empresa inicia um trabalho de consultoria do cliente.
O objetivo é entender a realidade dos nossos clientes para poder propor soluções que
realmente façam a diferença. Ao fim desse processo, a empresa apresenta os resultados do
levantamento da fase um e propõe soluções customizadas, bem como um cronograma e um
plano de ação que leva em conta e põe em relevo uma comparação entre o cenário atual e o
cenário proposto. Feito isso, abre-se a possibilidade de realizar alguns ajustes, os quais
precederão o processo de execução, de testes e de avaliação das medidas propostas.
Após essa fase, é apresentado aos clientes os resultados obtidos, bem como é realizada
uma comparação entre o cenário anterior, quando foi realizado o diagnóstico, e o cenário
encontrado após a execução do plano de ação. Além da execução, a Sigga oferece também um
acompanhamento contínuo do ambiente de seus clientes, a fim de mantê-lo sempre adequado
às mudanças de cenário de seu setor. Sempre que necessário, a Sigga também promete
realizar um novo plano de ação, bem como em aprimorar continuamente seus serviços de
acordo com as necessidades de seus clientes.
A empresa possui uma estrutura composta por profissionais com capacidade para atuar
em diversos segmentos do mercado, o que significa que mesmo os investimentos em
treinamento dos funcionários segue uma lógica de customização.
A empresa está situada no segmento hierarquicamente inferior no interior da cadeia de
valor do setor de SSTI, os serviços de TI, além indicam uma estratégia verticalizada, e a
empresa aparenta concentrar seus esforços inovativos para atender necessidades específicas
de seus clientes. Sua estratégia inovativa tende a ser, portanto, pouco ofensiva.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Certo de que o processo inovativo é um fenômeno fundamental para o desenvolvimento
econômico, o Governo Brasileiro formulou uma agenda para o desenvolvimento da indústria
nacional de softwares e serviços de tecnologia da informação. Para tanto implementou no ano
de 1997 o Prosoft, programa que concedia aporte financeiro a empresas com sede e
administração no Brasil que mantinham atividades relacionadas à cadeia produtiva de
software nacionais.
Conforme já exposto, a primeira versão do programa tinha um papel modesto,
sobretudo porque restringia seu apoio às micros e pequenas empresas nacionais através do
financiamento direto de suas atividades de P&D a juros abaixo do usualmente praticado pelas
instituições financeiras privadas. Entretanto, esse quadro sofreu significativa alteração
mediante a reformulação do programa em função do lançamento da Política Industrial
Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE).
A nova versão do Prosoft, lançada no ano de 2003, ampliou o espectro de cobertura,
agora englobando empresas de médio e grande porte, bem como resultou em um progressivo
aumento de capital do BNDES disponibilizado para o programa. Ainda sob efeito da
reformulação do programa, o BNDES reduziu suas taxas para estimular investimentos no
setor de softwares e TI.
Segundo levantamentos disponibilizados pelo próprio BNDES, seis empresas situadas
no Estado de Minas Gerais receberam, ao todo, financiamento de 24,7 milhões de reais,
através de oito operações realizadas ao longo dos anos de 2010 a 2015. Tais firmas foram
beneficiadas com contratos cuja taxa de juros mensal que variavam de 1% e 4,87, amortização
em 48 meses e prazo de carência para início do adimplemento das parcelas entre 06 e 25
meses. Observa-se que cinco dessas empresas encontram-se sediadas na capital do Estado.
Emerge nos dias atuais um debate que perpassou toda a história do pensamento
econômico: afinal, a intervenção estatal é maléfica ou benéfica ao desenvolvimento
econômico e tecnológico de uma nação? Liberais dirão que, em linhas gerais, a presença
excessiva do Estado não gera uma economia eficiente. Desenvolvimentistas dirão, por outro
lado, que sem o Estado não há uma economia forte e uma industrialização pulsante.
Entretanto, as diversas formas de parceria entre agências governamentais e empresas de
setores estratégicos da economia global mostraram-se como estratégicas para alcançar o
desenvolvimento através da inovação.
REFERÊNCIAS
https://www.emis.com/php/company-profile/BR/Wbr_Consultoria_SA_pt_3895099.html.
Acessado em: 30 de agosto de 2019 - 15:55