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O LUGAR DA TEORIA NAS PRAXIS ARQUITETÔNICA E URBANÍSTICA CONTEMPORÂNEAS

Com o tema-base “Teoria nas práxis arquitetônica e urbanística contemporâneas”, a edição 13


da Revista Projectare visa divulgar artigos científicos e ensaios críticos que explicitem reflexões
sobre potencialidades e limitações da teoria no contexto de “práticas emergentes” na
Arquitetura e Urbanismo. Por práticas-emergentes, entendemos um campo de atuação que,
como enunciado comum, sustenta o entendimento do projeto não só como dado estético, mas
também ético-político. Compromissados com os tecidos físico-sociais envolvidos, destaca-se
que os projetos que daí emergem perseguem mais processos do que produtos; contemplam
saberes e valores locais e põem em estado de crítica repertórios acadêmicos, científicos,
eruditos (e midiáticos); requerem novos papéis de seus profissionais: de “intelectuais-criadores”
a “mediares-educadores” dispostos a colaborar em uma relação horizontal com outros sujeitos.
A prática destes projetos, portanto, amplia e/ou desestabiliza a cultura disciplinar e a própria
profissão, podendo compor, como sugere Chabrat (2019), um “campo-de-fora” da disciplina. Ao
traduzir uma ideia do que é ou deve ser a disciplina, é possível pensar também em teorias-
emergentes desse campo e propor as seguintes questões básicas:
- Como teorias tomadas como “essenciais” ou “universais” pelo “campo-de-dentro” da
disciplina, ou seja, pela profissão e academia, são ainda válidas na práxis contemporânea?
- Quais e como teorias emergentes, inclusive aquelas operantes em-desde outras disciplinas,
alimentam e são alimentadas por essas práticas emergentes?
- Como teorias/práticas emergentes - do campo disciplinar e de outras disciplinas - se
atravessam ou se hibridizam, tornando imprecisos os limites do dentro-fora ou compondo um
“entre”?
As reflexões apresentadas podem emergir de práticas profissionais, de práticas de pesquisa-
ensino-extensão da disciplina acadêmica da Arquitetura e Urbanismo e de outras áreas de
conhecimento. Espera-se que o projeto seja tomado como objeto privilegiado de investigação,
por mediar teoria e práxis e por expressar, ideologicamente, visões de mundo e concepções de
vida social (WAISMAN, 2013). Diante disso podem ser discutidas práxis que, de modo isolado ou
híbrido, pautem: conflitos, ao tomar o projeto como deflagrador de disputas e ao buscar uma
política de partilha, mesmo que sempre dissensual; hegemonia, ao entender o projeto como
estratégia de afirmação de poderes dominantes e de exclusão de grupos “minoritários” (sociais,
econômicos, de gênero, sexualidade, raça, credo, etc.), e ao buscar a retomada de valores
contra-hegemônicos, como igualdade-diferença, multiplicidade e democracia; complexidade,
ao entender o projeto como processo incerto e não linear e ao buscar que sua abordagem
concilie múltiplos saberes - disciplinar, transdisciplinar e popular -; decolonidade e globalização,
ao pautar o projeto como reprodutor de imposições culturais e ao voltar sua atenção às
realidades locais; subjetividade, ao questionar o projeto desde uma racionalidade
historicamente imposta e ao voltar a atenção também aos sujeitos, ao corpo, ao simbólico;
consumo e sustentabilidade, ao colocar o projeto como artifício que retroalimenta a
apagamento de memórias e a degradação ambiental e social e ao buscar ressignificá-lo desde
uma ética planetária.

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