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Artigo de Revisão Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.

0201

6 A FELICIDADE EM PESSOAS COM DOENÇA MENTAL: UMA REVISÃO


INTEGRATIVA DA LITERATURA
| Paulo Seabra1; Alexandra Sarreira-Santos2; Lurdes Medeiros-Garcia3; Alexandre Costa4; Idália Cardoso5; Amélia S. Figueiredo6 |

RESUMO
CONTEXTO: A forma como cada pessoa vive e sente satisfação com a sua experiência de vida, tem naturalmente uma dimensão subjetiva
mas reveladora de aspetos intrínsecos da dimensão humana. A felicidade pode ser um conceito agregador dessas dimensões embora de
difícil definição para pessoas com ou sem doença mental.
OBJETIVO: Identificar a perceção de felicidade em pessoas com doença mental, os fatores que contribuem para aumentar ou menorizar
essa perceção.
MÉTODOS: Revisão Integrativa da Literatura. Pesquisa em bases de dados internacionais, realizada em agosto de 2016. Foi aplicado um
conjunto de descritores e critérios de inclusão. Obteve-se uma amostra final de 7 estudos, publicados entre 2006-2014.
RESULTADOS: Não se encontraram definições aprofundadas do conceito expressas pelos participantes. Emerge como aproximação ao
conceito a capacidade para interação social ou enquanto fenómeno intrinsecamente relacionada com a religiosidade. A felicidade depende
pouco de eventos externos e reforça-se com fatores duradouros e de uma dimensão mais interior e predeterminada previamente à doença. Os
fatores que contribuem são essencialmente de ordem pessoal, familiar, suporte social alargado e emocional. Os que contribuem para meno-
rizar a felicidade são de ordem pessoal, efeitos secundários da medicação, escassez de suporte social alargado, disfunção afetiva e emocional.
A família não surgiu enquanto fator associado a menor felicidade.
CONCLUSÕES: A felicidade está interligada à vivência social e ao bem-estar, à resiliência, a fatores protetores internos da própria pessoa.
PALAVRAS-CHAVE: Felicidade; Transtornos mentais; Qualidade de vida

RESUMEN ABSTRACT
“La felicidad en las personas con enfermedad mental: Una re- “The happiness of people with mental illness: An integrative lit-
visión integradora de la literatura” erature review”
CONTEXTO: La forma que cada persona vive y siente la satisfacción con BACKGROUND: The way each person lives and feels satisfaction with
su experiencia de vida, es por supuesto una dimensión subjetiva, pero their life experience, naturally has a subjective but revealing dimension
revelador de aspectos intrínsecos de la dimensión humana. La felicidad of intrinsic aspects of the human dimension. Happiness can be an aggre-
puede ser un concepto unificador de estas dimensiones, aunque difícil gating concept of these dimensions although difficult to define for people
definir para personas con o sin enfermedad mental. with or without mental illness.
OBJETIVO: Identificar la percepción de felicidad en personas con enfer- AIM: To identify the happiness perception in people with mental illness,
medad mental, los factores que contribuyen a aumentar o disminuir esta the factors that contribute to increase or reduce this perception.
percepción. METHODS: Integrative Literature Review. Research in international da-
METODOLOGÍA: Revisión Integradora de Literatura. Búsqueda en tabases, held in August 2016. A set of descriptors and inclusion criteria
bases de datos internacionales efectuada en Agosto, 2016. Se ha aplicado were used. A final sample of 7 studies, published between 2006-2014, was
un conjunto de descriptores y criterios de inclusión. Esto produce una obtained.
muestra final de 7 estudios publicados entre 2006-2014. RESULTS: There were no in-depth definitions of the concept expressed
RESULTADOS: No se ha encontrado definiciones en profundidad ex- by participants. It emerges as an approach to the concept, the capacity for
presadas por los participantes. Surge como aproximación al concepto social interaction or as an intrinsically phenomenon related to religiosity.
la capacidad para la interacción social o como fenómeno estrechamente Happiness depends little on external events and is reinforced by enduring
ligado a la religiosidad. La felicidad depende menos de eventos externos factors and a more inward and predetermined dimension prior to illness.
y se refuerza con factores de larga duración y de dimensión más interior, The factors that contribute are essentially personal, family, extended so-
predeterminada antes de la enfermedad. Los factores que contribuyen son cial support and emotional. Those that contribute to lower happiness are
personales, familiares, de apoyo social extendido y emocional. Aquellos personal, side effects of medication, lack of broad social support, affective
que contribuyen para reducirla son factores personales, efectos secundar- and emotional dysfunction. The family did not arise as a factor associated
ios de la medicación, falta de apoyo social extendido, disfunción afectiva with less happiness.
e emocional. La familia no surgió como factor asociado a la felicidad in- CONCLUSION: Happiness is intertwined with social experience and
ferior. well-being, with resilience, with person internal protective factors.
CONCLUSIONES: La felicidad está conectada a la vida social y al bi-
enestar, la capacidad de recuperación, factores protectores internos de la
persona. KEYWORDS: Happiness; Mental disorders; Quality of life

DESCRIPTORES: Felicidad; Enfermedades mentales; Calidad


Submetido em 30-03-2017
de vida Aceite em 29-11-2017

1 Doutor em Enfermagem; Professor Auxiliar Convidado na Universidade Católica Portuguesa, pauloseabra@ics.lisboa.ucp.pt


2 Doutoranda em Enfermagem; Mestre em Gestão dos Serviços de Saúde; Assistente de 2º Triénio na Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, alexantos@ics.lisboa.ucp.pt
3 Doutoranda em Enfermagem; Mestre em Ciências da Educação; Assistente de 2º Triénio na Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, mgarcia@ics.lisboa.ucp.pt
4 Doutorando em Formação de Adultos Ciências da Educação; Enfermeiro especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, alexandrecoelhocosta@gmail.com
5 Enfermeira especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica; Enfermeira Chefe no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, idalia_cardoso@hotmail.com
6 Doutora em Educação; Professora Auxiliar na Universidade Católica Portuguesa, Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde, simoesfigueiredo@ics.lisboa.ucp.pt

Citação: Seabra, P., Sarreira-Santos, A., Medeiros-Garcia, L., Costa, A., Cardoso, I., & Figueiredo, A. S. (2018). A felicidade em pessoas com doença mental: Uma revisão
integrativa da literatura. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (19), 45-53. doi: 10.19131/rpesm.0201

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INTRODUÇÃO Pessoas com a mesma doença não percecionam felici-
dade da mesma maneira (Buckland et al., 2014). Para al-
A desigualdade verificada no acesso aos cuidados de
guns autores, a felicidade não é um bom indicador para
saúde e a vivência com “doença mental”, seja de forma
a qualidade de vida das pessoas com doença mental
institucionalizada, ou autónoma, pode levar-nos a uma
porque, o seu humor tende a refletir estados psicológi-
reflexão sobre a auto perceção do estado de saúde das
cos alterados e não, circunstâncias objetivas das suas vi-
pessoas com doença mental. Nesse sentido, e tendo
das, embora, as dúvidas, sobre se as pessoas conseguem
em conta, aspetos mais subjetivos relacionados com a
julgar as suas vidas adequadamente, pela distorção pos-
saúde mental e com a qualidade de vida, e no que isso
sível ao nível afetivo e cognitivo, se estendam à popu-
tem de intrínseco com a forma como cada um vive e
lação em geral, pois não se investigam estas perceções
sente satisfação com a sua experiência de vida, surgiu,
quando as pessoas estão em estado psicótico (Bergsma,
a reflexão sobre a perceção de “felicidade” em pessoas
Veenhoven, Have, & de Graaf, 2011). Por outro lado,
com doença mental. A procura da felicidade é um ob-
na população em geral, uma percentagem elevada dos
jetivo humano fundamental pois mais felicidade está
que não se sentem felizes nos últimos dias, têm psico-
associada a mais saúde (Agid et al., 2012; World Healt
patologia (Bergsma & Veenhoven, 2011a; Bergsma et
Organization [WHO], 2011).
al., 2011),ou seja, é um indicador importante em qual-
Para se compreender a perceção de felicidade em pes-
quer população. Apesar desta subjetividade, a felicidade
soas com doença mental, alguns aspetos são determi-
tem sido defendida como um indicador a ter em conta
nantes. No que se refere às pessoas com esquizofrenia,
nas decisões futuras sobre a vida das pessoas (Loew-
é evidenciada maior dificuldade em obter melhores re-
enstein & Ubel, 2008; WHO, 2011) pois, é considerada
sultados face aos sintomas negativos, em contraponto
por muitos, como uma efetiva avaliação de qualidade
dos positivos, e é evidenciada a diminuição progressiva
de vida, sendo coisas diferentes. A felicidade tem uma
das capacidades sociais e ocupacionais desde a jovem
dimensão cognitiva (Veenhoven, 2009) e para alguns
idade adulta (Agid et al., 2012). Para estas dificuldades,
autores, a qualidade de vida é uma condição prévia,
intervenções promotoras de reabilitação, de relações
mais do que uma experiência intrínseca de felicidade
sociais e de sentido de vida, permitem maior perceção
(Agid et al., 2012). Tem-se verificado, que a satisfação
da felicidade, fundamental para o recovery. É preciso
com a vida e a felicidade, não é muito baixa nas pessoas
identificar barreiras para experienciar a felicidade,
com doença mental, o que pode sugerir que essa per-
implementar estratégias para que possam assumir a re-
ceção não se deve a eventos exteriores e circunstanciais,
sponsabilidade pela sua vida, procurar experiências que
que a falta de insight aumenta a perceção de uma forma
lhes tragam felicidade, pois estas promovem esperança
não justificável ou ainda, que a sua perceção não esteja
e o estabelecimento de uma identidade positiva (Buck-
consonante com o resto da população (Bergsma et al.,
land, Schepp, & Crusoe, 2014). A fase da doença surge
2011). Surge muitas vezes, em pessoas com esquizofre-
como fator importante pois os mais jovens tendem a
nia, valores positivos, e até equivalentes à população em
ter mais expetativas e esperança que os doentes há mais
geral (Palmer et al., 2014). As pessoas com esquizofre-
tempo (Kaplan, Salzar, & Brusilovskiy, 2012). A felici-
nia tendem a ter os mesmos objetivos de vida que tin-
dade é uma emoção básica caracterizada por um estado
ham antes da doença, o que provoca sofrimento pela
emocional positivo, com sentimentos de bem-estar e de
diminuição da funcionalidade (Agid et al., 2012).
prazer, associados à perceção de sucesso e à compreen-
O facto de muitas pessoas com doença mental viverem
são coerente e lúcida do mundo (Ferraz, Tavares, e Zil-
em ambientes protegidos como residências com al-
berman, 2007). Desempenha um papel importante na
gum apoio social, surge associado a mais felicidade que
dimensão física, mental/bem-estar, nas relações sociais, naqueles que vivem sozinhos ou com as suas famílias
nas emoções e cognição, no desenvolvimento moral e (Buckland et al., 2014; Palmer et al., 2014). Importa a
no desempenho (Martens, 2006), no entanto, não existe reflexão sobre as intervenções que combatem um dos
uma definição consensual, (Palmer, Martin, Depp, Glo- fatores que mais contribuem para perceção negativa da
rioso, & Jeste, 2014). É um fenômeno predominante- felicidade, a anedonia (Agid et al., 2012). Na população
mente subjetivo, mais subordinado a traços psicológi- em geral a felicidade pode ainda ser um fator preditivo
cos, socioculturais e até genéticos, do que estritamente e promotor de bem-estar, pois tem sido associada à di-
a fatores ou eventos isolados e externamente determi- minuição de possíveis perturbações (Agid et al., 2012;
nados (Ferraz et al., 2007; Palmer et al., 2014). Bergsma et al., 2011; Homayouni, 2010).
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Já no que se refere às pessoas com doença mental, os Quadro 1 - Critérios de Seleção dos Estudos
que se sentem felizes com frequência têm menos ab- Critérios de Critérios de inclusão Critérios de ex-
sentismo, recorrem menos aos serviços de saúde, usam seleção clusão
menos medicação analgésica, funcionam melhor psi- População Pessoas adultas Pessoas com outra
cologicamente, são menos neuróticos, têm melhor au- (Population) com doença mental tipologia de doença
crónica. mental ou física.
toestima, mais energia e uma atitude mais relaxada que Amostra que inte-
os que se sentem felizes menos vezes (Bergsma et al., gre crianças
2011). Mesmo lidando com sintomas da sua perturba- Exposição (Ex- Acompanhadas ou não
--
ção, as pessoas sentem-se felizes muitas vezes (Bergsma posure) por equipas de saúde.
& Veenhoven, 2011a). Resultados (Out- Perceção da felicidade Não referência a
É nesta complexa relação entre a perceção de felicidade comes) Fatores relacionados fatores que pro-
com a felicidade movem ou meno-
e a doença mental, e na variabilidade de análise do rizam a perceção
fenómeno, que elaboramos a seguinte questão de inves- da felicidade
tigação: Qual a perceção de felicidade nas pessoas com Tipo de estudo Estudos primários Estudos secundári-
doença mental? Traçamos como objetivos: (Study) com abordagem quan- os noutros idiomas,
- Identificar na literatura a forma como é percecionada tita-tiva, quali¬tativa publicados antes de
ou mista; em por- 01/08/2006; Que
a felicidade em pessoas com doença mental. tuguês, in-glês ou exijam pagamento
- Identificar na literatura que fatores contribuem para es¬panhol; publicados para con¬sulta.
aumentar a perceção de felicidade. entre 01/08/2006
- Identificar na literatura que fatores contribuem para – 31/07/2016; dis-
poníveis de forma
menorizar a perceção de felicidade. gratuita através de
bases de dados ou
MÉTODOS plataformas

Decidimos pela realização de uma revisão integra-


A pesquisa foi realizada de 1 a 8 de agosto de 2016, nas
tiva da literatura (RIL), método de investigação que
seguintes plataformas eletrónicas de bases de dados e
deve seguir seis fases distintas: identificação do tema e
motores de busca.
seleção da hipótese ou questão norteadora da revisão
integrativa; estabelecimento de critérios para inclusão
Reviews, Elsevier - Science Direct; PUBMED; Spring-
e exclusão de estudos/ amostragem ou pesquisa de lit-
erLink, Taylor & Francis, Wiley; EBSCO, Web of Sci-
eratura; definição das informações a serem extraídas
ence (ISI), ISI Proceedings; RCAAP.
dos estudos selecionados/categorização dos estudos;
-
avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa;
tral Register of Controlled Trials; Cochrane Database of
interpretação dos resultados; e apresentação da revisão/
Systematic Reviews; Database of Abstracts of Reviews
síntese do conhecimento (Whittemore & Knafl, 2005).
of Effects; Library, Nursing & Allied Health Collection;
Nesta perspetiva e face à natureza da questão de investi-
British Nursing Index; MedicLatina; Health Technol-
gação, mobilizou-se o método PEOS da Cochrane para
ogy Assessments, NHS Economic Evaluation Database,
definir os critérios de inclusão e exclusão (Quadro 1).
ERIC.

Scielo, Medcaribe, Cochrane, Medline, Mediclatina).

Os termos para a pesquisa foram validados na termi-


nologia e conteúdo consultando os descritores Mesh e
Decs.
Fizemos diferentes configurações de pesquisa, recor-
rendo aos operadores booleanos. A palavra “felicidade”
foi o conceito que pretendíamos que estivesse explic-
itado nos estudos (Quadro 2).

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Quadro 2 - Conjugações de Pesquisa Elaboramos uma grelha de caracterização para de-
Plataforma eletrónica de Fórmula de pesquisa scriminar os elementos mais relevantes de cada artigo,
base de dados ou seja, uma síntese narrativa: título, autores, ano de
B-On TITLE (happiness) AND SUB- publicação, país, caracterização dos participantes, de-
JECT TERMS (mental disorders) senho, instrumentos, perceção de felicidade, e por fim,
OR (mental health) OR (psy-
chiatry) OR (mental illness) OR os fatores que contribuem para elevar essa perceção e
(mental well-being) OR (quality fatores que minimizam a perceção.
of life) OR (emotion) OR (elderly)
OR (rehabilitation) OR (revovery) RESULTADOS
OR (satisfaction)
EBSCO TITLE (happiness) AND AB- O país onde se publicaram mais estudos foi a Holan-
STRACT (mental disorders) OR da (quatro). Os estudos foram publicados entre 2006
(mental illness) OR (recovery) OR e 2014, embora não se encontrasse entre 2007-2009 e
(psychiatry)
TITLE (happiness) OR (well- 2015-2016. A perceção de felicidade em pessoas com
being) OR (life satisfaction) doença mental surge naturalmente acompanhada em
AND ABSRACT (psychiatry) OR muitos estudos, por um conjunto vasto de conceitos
(inpatient) que permitem analisar a forma como as pessoas vivem
BVS TITLE (happiness) AND AB- no seu dia-a-dia (qualidade de vida, bem-estar, satis-
STRACT (mental disorders)
OR (mental illness) OR (mental fação, etc.). Sistematizamos em quadros a informação
health) OR (recovery) mais relevante (Quadros 3 a 9).

Para a seleção dos estudos seguimos as guidelines Quadro 3 - Dados do Estudo 1


PRISMA para a identificação, seleção, elegibilidade e Nº Referência do artigo

inclusão dos estudos na RIL (Moher, Liberati, Tetzlaff, 1 “Defining Happiness for Young Adults
with Schizophrenia: A Building Block
Altman, & Group, 2009). Cada artigo foi analisado por for Recovery” (Buckland et al., 2014)
dois investigadores, de forma independente, com o ob- Participantes / Intervenção Método / Recolha de dados
jetivo de averiguar a concordância na seleção. Naqueles /País
em que não havia concordância, o artigo era revisto por Participantes: 11 Tipo de estudo: Estudo piloto de-
Média de idades 27 [23-25]. scritivo. Método misto. Amostra de
um terceiro investigador para se tomar uma decisão. Habilitações: 6 com ensino conveniência intencional por “bola
Com a conjugação dos descritores e operadores referi- secundário, 7 com estudos de neve”. Análise interpretativa de
dos no Quadro 2, apurou-se uma amostra de 193 estu- acima do ensino secundário. conteúdo quantificando perceções.
Intervenção a que são sujeitos: Três entrevistas semiestruturadas a
dos, da qual se obteve uma amostra final de 7 que foram Serviços de saúde mental cada participante (intervalo temporal
analisados (Fluxograma 1). comunitária e grupos de de 6 semanas), com o referencial do
autoajuda. conceito de reabilitação e utilizando o
Fluxograma 1 - Processo de seleção dos artigos País: EUA inquérito apreciativo.
Felicidade – Definição / Características definidoras / Dimensões
-
Fatores que contribuem para a felicidade:
Sentir ajuda de outras pessoas (categoria social e dimensão relacional);
Desenhar (categoria cognitiva, propriedade criativa, dimensão indi-
vidual); frequentar serviço religioso (categoria espiritual e social); ter
namorada (categoria social); ter amigos (relações sociais), manter laços
familiares; ser tratado como normal.
Barreiras / fatores que contribuem para menorizar a felicidade:
Medo (relacionado com a insegurança); isolamento; medicação (apesar
de valorizada, provoca dificuldades em: estar alerta, iniciativa, contro-
lar peso, compromisso com atividades agradáveis, ter um sentimento
positivo em relação à sexualidade e autoestima, diminuição da libido,
não ser considerado “normal” (estigma e auto estigma)).

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Quadro 4 - Dados do Estudo 2 Quadro 6 - Dados do Estudo 4
Nº Referência do artigo Nº Referência do artigo
2 “Do They Know How Happy They Are? On the 4 “The happiness of people with a
Value of Self-Rated Happiness of People With a mental disorder in modern society”
Mental Disorder” (Bergsma et al., 2011) (Bergsma & Veenhoven, 2011b)
Participantes / Método / Recolha de dados Participantes / Intervenção Método / Recolha de dados
Intervenção /País /País
Participantes: 1135. Tipo de estudo: Prospetivo com avaliação aos 0, Participantes: 7076. Idade Tipo de estudo: Quantitativo, trans-
Intervenção a aos 12 e aos 36 meses (coorte). 18-64 anos. versal
que são sujeitos: Instrumentos quantitativos: Perceção da felici- Intervenção a que são sujeitos: Instrumentos: Perceção da felicidade
nenhum programa dade (1 item SF 36); Bem-estar mental (General nenhuma (1 item do SF 36).
clínico. Health Questionnaire (GHQ-12)); Lócus de País: Holanda
País: Holanda Control (Mastery Scale); Neuroticismo (Gron-
inger Neuroticism Questionnaire); Autoestima Felicidade – Definição / Características definidoras
(Rosenberg Self-esteem Scale)
-
Felicidade – Definição / Características definidoras
Fatores que contribuem para a felicidade:
-
- Fatores de suporte psicossocial
Fatores que contribuem para a felicidade:
Barreiras / fatores que contribuem para menorizar a felicidade:
- Não ter perturbação mental (nem como estado num determinando
momento, nem como diagnóstico único ou associado); Menores - Ter doença mental
problemas psicológicos; Mais autoestima, estabilidade emocional, ter
controlo e satisfação com a sua vida, recreação social, sentir-se com Quadro 7 - Dados do Estudo 5
energia, satisfação com a sua família; Receber uma remuneração pelo
trabalho. Nº Referência do artigo
Barreiras / fatores que contribuem para menorizar a felicidade: 5 “Happiness and Related Remission in
Patients with Antisocial Personality
- Ter perturbação mental (perturbação do humor, da ansiedade e abuso
Disorder” (Martens, 2006)
de substâncias); Duplo diagnóstico; Maior número de episódios de
perturbação mental (mais crónicos). Participantes / Intervenção Método / Recolha de dados
/País
Quadro 5 - Dados do Estudo 3
Participantes: 1 Tipo de estudo: Estudo de caso
Nº Referência do artigo
Intervenção a que é sujeito: Instrumentos: -
3 “Wellness within illness: Happiness in schizo- Unidade de psiquiatria forense
phrenia” (Palmer et al., 2014) País: Holanda
Participantes / Método / Recolha de dados
Intervenção /País Felicidade – Definição / Características definidoras
Participantes: 1º Tipo de estudo: Comparativo, transversal, cor- - Ter capacidades para interação social
grupo: 72 utentes relacional
Fatores que contribuem para a felicidade:
(54,2% mulheres); Instrumentos: Percepção de felicidade: (4
Média de idade questões / CES-D); Severidade da psicopatologia - Aumento da capacidade / atitudes emocionais e desenvolvimento
50,1 anos [23-70]; (Positive and Negative Symptoms Scales / Brief moral; Acabar o ensino básico; Ajuda neurobiológica para o controlo
média de 24,4 anos Symptom Inventory-Anxiety subscale (BSI-A)); de impulsos e terapia cognitiva; Aumentar as competências sociais
de doença; Média Qualidade de vida (SF 36); Impacto das comorbi- (para menorizar isolamento); Relaxamento e privacidade; Bem-estar
de idade de apare- lidades (Cumulative Illness Rating Scale for Ge- espiritual.
cimento da doença riatrics (CIRS-G)); Perceção de stress (Perceived Barreiras / fatores que contribuem para menorizar a felicidade:
25,8 anos; Stress Scale); Resiliência (Hardy–Gill Resilience
- Tédio, solidão (tornaram-no primitivo, violento e selvagem); Isola-
2º grupo: 64 (não Scale (HGRS)); Otimismo (Life Orientation
mento social.
doentes); média de Test-Revised (LOT-R)); Suporte social (Duke
- Atitudes desviantes e disfunção socio emocional (desconfiança,
idade de 50,7 anos; Social Support Index (DSSI)); Lócus de controlo
mente fechada, falta de empatia, indiferença).
Intervenção a que (Personal Mastery Scale (PMS)); Atitude face ao
são sujeitos: Segui- envelhecimento (Philadelphia Geriatric Center
dos em estruturas (PGC)); Experiência espiritual (Brief Multidi-
de apoio ambu- mensional Measure of Religiousness/Spirituality
latório (BMMRS)); Cognição (Telephone Interview for
País: EUA Cognitive Status-Modified)
Felicidade – Definição / Características definidoras
-
Fatores que contribuem para a felicidade:
- Fatores psicossociais (Melhor perceção da qualidade de vida; maiores
níveis de resiliência no que se refere ao traço e a eventos de vida, otim-
ismo e melhor lócus de controlo).
Barreiras / fatores que contribuem para menorizar a felicidade:
- Perceção de maior stress.

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Quadro 8 - Dados do Estudo 6 Os estudos onde as amostras têm maior dimensão,
Nº Referência do artigo são de base populacional alargada, com apuramento
6 “A Survey on the role of religious orienta- daqueles que se podiam incluir nos critérios de pertur-
tion, mental health and happiness in the senile
bação mental.
people” (Homayouni, 2010)
Participantes / Método / Recolha de dados
O estudo com mais pessoas identificadas com doença
Intervenção /País mental foi o estudo de Palmer e colaboradores (Palmer
Participantes: 80 Tipo de estudo: Correlacional; amostra random- et al., 2014) no qual foram entrevistados 72 doentes de
Intervenção: Não izada. unidades de apoio ambulatório. Em apenas dois estu-
referem Instrumentos: Orientação religiosa (Allport´s
País: Irão religious orientation scale (AROS)); Felicidade dos, verificamos que a idade média dos participantes
(Argyle´s happiness inventory (AHI)); Saúde era inferior a 30 anos (Agid et al., 2012; Buckland et
Mental (General Health Questionnaire (GHQ)).
al., 2014) e estes, estavam a ser acompanhados em uni-
Felicidade – Definição / Características definidoras
dades de apoio a pessoas com esquizofrenia. Nesta faixa
- Associado à religiosidade.
etária, os dados apontam perceções numa fase inicial
Fatores que contribuem para a felicidade:
da doença, associadas a mais esperança e espectativas,
- Ter maior religiosidade intrínseca contribui para a esperança e felici-
dade em todos os momentos da vida. com repercussão positiva na sua qualidade de vida e
Barreiras / fatores que contribuem para menorizar a felicidade: funcionalidade (Kaplan et al., 2012).
- Componentes da doença mental Sobre a perceção de felicidade das pessoas com doença
mental, a contribuição dos estudos para a definição do
Quadro 9 - Dados do Estudo 7 conceito e as suas características definidoras, é redu-
Nº Referência do artigo zida.
7 “Happiness in first-episode schizophrenia” (Agid Em nenhum dos estudos, se encontra uma definição
et al., 2012) aprofundada do conceito, expressa pelos participantes.
Participantes / Método / Recolha de dados Em apenas um dos estudos (com a perceção de um
Intervenção /País
participante) a felicidade é definida como ter “capacid-
“Happiness in first- Tipo de estudo: Misto. Comparativo, random-
episode schizophre- izado, de autorrelato
ade para interação social” (Martens, 2006). Outro, não
nia” (Agid et al., Instrumentos: Sintomas da esquizofrenia (Posi- definindo o conceito, evidencia que felicidade é intrin-
2012) tive and Negative Syndrome Scale for Schizo- secamente relacionada com a religiosidade (Homay-
Participantes: 31 phrenia (PANSS) / Clinical Global Impression
(doentes), Média scale (CGI)) ; Depressão (Calgary Depression ouni, 2010). O facto de os resultados não nos aproxi-
de idade de 24,4 Scale (CDS)); Insigth (Schedule for Assessment marem de uma definição conceptual, surge na linha da
anos [18-35]; 29 of Insight (SAI)); Cognição (Brief Assessment
(controlos) of Cognition in Schizophrenia, version 3.0
dificuldade identificada noutros estudos (Ferraz et al.,
Intervenção: Uni- (BACS)), Felicidade (Subjective Happiness Scale 2007) mas, dá suporte aos que defendem que felicidade
dade de 1º episódio (SHS); Satisfação com a vida (Satisfaction with depende menos de eventos efémeros e externos mas
de esquizofrenia Life Scale (SWLS); Funcionalidade (Social Func-
País: Canadá tioning Scale (SFS) reforça-se com fatores duradouros e de uma dimensão
Felicidade – Definição / Características definidoras mais interior e predeterminada previamente à doença
- (Palmer et al., 2014).
Fatores que contribuem para a felicidade: Na análise interpretativa, relativa aos fatores que con-
- Mais satisfação com a vida, melhor funcionamento social e ocupacio- tribuem para perceção da felicidade, é clara a aborda-
nal; Performance independente e relações interpessoais. gem na dualidade social (Dubar, 2006; Goodson, 2008).
Barreiras / fatores que contribuem para menorizar a felicidade: Assim, os artigos sustentam os resultados entre duas
- Depressão, sintomas negativos. transações, uma subjetiva, mais relacionada com o self,
ou com o individuo na relação consigo próprio, na for-
ma de se capacitar para a relação com os outros e outra,
DISCUSSÃO relacional, em múltiplos contextos sociais de trabalho,
Os estudos foram realizados na Holanda (três), nos família, religião etc.
EUA (dois), Irão e Canadá (um), maioritariamente Sobre os fatores que contribuem para aumentar a per-
de natureza quantitativa. Quanto aos participantes, as ceção de felicidade, sistematizamos em diferentes di-
amostras são díspares, desde 1 até 7076 participantes. mensões.

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Na dimensão pessoal: não ter perturbação mental, Na dimensão interpessoal / relacional, surgiram fa-
ter menos problemas psicológicos, mais autoestima tores relacionados com suporte social alargado nome-
(Bergsma et al., 2011), estabilidade emocional (Bergs- adamente o medo (relacionado com a insegurança),
ma et al., 2011; Martens, 2006), controlo e satisfação solidão e isolamento (Buckland et al., 2014; Martens,
com a sua vida (Agid et al., 2012; Bergsma et al., 2011), 2006), ausência de atividades ocupacionais e disfunção
sentir-se com energia (Bergsma et al., 2011), mais re- social (Martens, 2006).
siliência, mais otimismo e locus de controlo (Palmer et Fatores a nível afetivo: disfunção emocional (Martens,
al., 2014), bem-estar espiritual e desenvolvimento mor- 2006).
al (Martens, 2006), relaxamento (Martens, 2006), reli- Não se apuraram fatores a relacionados com a família.
giosidade intrínseca (Homayouni, 2010), atividades de Sobre os aspetos que menorizam a felicidade, evidenci-
base recreativa como desenhar (Buckland et al., 2014). am-se mais aspetos do domínio pessoal, que interpes-
Na dimensão interpessoal / relacional apuramos fatores soal, aproximando esta discussão do que alguns autores
de três categorias. Fatores relacionados com a família, defendem, que a perceção de felicidade tem maioritari-
como a manutenção de laços efetivos (Bergsma et al., amente uma essência pessoal, individual, mais da for-
2011; Buckland et al., 2014). Fatores relacionados com ma como a pessoa vivencia os acontecimentos de vida,
suporte social alargado: sentir ajuda por parte de out- e menos de eventos pontuais e exteriores (Ferraz et al.,
ras pessoas (Buckland et al., 2014), suporte psicosso- 2007; Palmer et al., 2014). O acesso ou a falta de apoio
cial profissional (Bergsma & Veenhoven, 2011b), ajuda igualmente não emergiram como fatores promotores
neurobiológica para o controlo de impulsos e terapia de menor felicidade (Bergsma et al., 2011), embora a
cognitiva (Martens, 2006), ser tratado como normal sintomatologia ou mesmo a patologia mental é fator de-
(Bergsma & Veenhoven, 2011b; Buckland et al., 2014), terminante para esta menor perceção (Buckland et al.,
ter amigos (Buckland et al., 2014), interação social e 2014).
ocupacional (Agid et al., 2012), receber uma remunera- Sistematizando os estudos apresenta valores muitos
ção pelo trabalho (Bergsma et al., 2011), treino de capa- semelhantes de felicidade e satisfação com a vida em
cidades sociais, estudos básicos, privacidade (Martens, geral, embora ligeiramente superiores naqueles sem
2006). doença (Bergsma et al., 2011; Martens, 2006; Palmer et
Fatores a nível afetivo: ter namorada (Buckland et al., al., 2014), apontando para o facto de esta diferença não
2014). estar na psicopatologia mas em factos da vida, diminu-
O contributo para a felicidade emerge essencialmente indo sim, quando é menor a resiliência (Palmer et al.,
na dimensão interpessoal, tal como noutros estudos, 2014).
associado a um suporte alargado (Ferraz et al., 2007; Esta resiliência surge como determinante para mais
WHO, 2011). saúde mental, promotora de bem-estar e protetora para
Sobre os fatores que contribuem para menorizar a fe- aqueles que têm doença mental (Aburn, Gott, & Hoare,
licidade, utilizando as mesmas categorias, destaca-se 2016).
na dimensão pessoal: a medicação que apesar de val- Por vezes, conclui-se que a falta de insight pode levar
orizada, surge associada a várias dificuldades (estar a assinalar valores injustificáveis, mas não há consen-
alerta, ter iniciativa, controlar peso, compromisso com so sobre esta afirmação. Enquanto fator protetor para
atividades agradáveis, sentimento positivo em relação agudização ou cronicidade da pessoa com perturbação,
à sexualidade e autoestima, diminuição da libido). A a felicidade pode ser um fator preditivo pois, contribui
toma da medicação surge associada ainda ao medo de para diminuir essa possibilidade, contribui para o re-
não ser considerado “normal” (Buckland et al., 2014). covery (Agid et al., 2012; Bergsma et al., 2011; Martens,
Os outros fatores identificados foram, ter perturbação 2006).
mental ou duplo diagnóstico associado (Bergsma & Verifica-se igualmente que é nas pessoas com pertur-
Veenhoven, 2011b; Bergsma et al., 2011; Homayouni, bação do humor, que a felicidade é normalmente mais
2010), cronicidade da perturbação mental (Bergsma et baixa (Bergsma & Veenhoven, 2011b).
al., 2011), perceção de maior stress (Palmer et al., 2014),
depressão, sintomas negativos (Agid et al., 2012).

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CONCLUSÃO Os instrumentos utilizados foram de tal maneira dís-
pares, que é difícil fazer comparação de dados. Não se
A diferença da perceção de felicidade entre pessoas
apuraram estudos sobre esta temática em pessoas com
com ou sem perturbação mental é, em muitos estudos,
doença crónica de evolução prolongada e instituciona-
pequena e sem significado estatístico, embora, nesta
lizadas.
RIL se apure diferenças entre 2,7% e os 27%, superior
naqueles sem perturbação. As condições necessárias
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
para a felicidade também se assemelham, o que deve
ser enquadrado na perspetiva que a diferença não está
Aburn, G., Gott, M., & Hoare, K. (2016). What is re-
na psicopatologia, mas em factos da vida. Em alguns
silience? An integrative review of the empirical litera-
estudos não se verificam diferenças consoante variáveis
ture. Jounal of Advanced Nursing, 72(5), 980-1000. doi:
socio demográficas, duração da doença, severidade dos
10.1111/jan.12888
sintomas positivos e negativos, função física, comorbil-
idades e funcionamento cognitivo. A felicidade aumen-
Agid, O., McDonald, K., Siu, C., Tsoutsoulas, C.,
ta a capacidade social, emocional e moral. As pessoas
Wass, C., Zipursky, R. B., Foussias, G., & Remington,
com doença mental sentem-se mais felizes se tiverem as
G. (2012). Happiness in first-episode schizophrenia.
características associadas a uma boa saúde mental, têm
Schizophrenia Research, 141(1), 98-103. doi: 10.1016/j.
uma perceção positiva da felicidade.
schres.2012.07.012
Sobre os fatores que condicionam de forma negativa a
perceção da felicidade, salientam-se as transações sub-
Bergsma, A., & Veenhoven, R. (2011a). The happiness
jetivas e os fatores inerentes à própria doença, como
of people with a mental disorder in modern society.
a medicação, os sintomas negativos, o estigma e a au-
Psychology of Well-Being: Theory, Research and Prac-
toestima. Apesar do número reduzido de estudos so-
tice, 1(1), 2. doi: 10.1186/2211-1522-1-2
bre a temática, os dados apontam para que mesmo com
doença, os que vivem na comunidade tem valores supe-
Bergsma, A., & Veenhoven, R. (2011b). The happiness
riores de felicidade.
of people with a mental disorder in modern society.
Esta RIL contribui para o debate acerca do estudo de
Psychology of Well-Being: Theory, Research and Prac-
um fenómeno, subjetivo e de difícil definição em qual-
tice, 1(1), 2. doi: 10.1186/2211-1522-1-2
quer grupo populacional. A felicidade está interligada
à vivência social e ao bem-estar, à resiliência, a fatores
Bergsma, A., Veenhoven, R., Have, M., & de Graaf,
protetores internos da própria pessoa. Defende-se que a
R. (2011). Do they know how happy they are? On the
intervenção profissional deve promover melhor intera-
value of self-rated happiness of people with a mental
ção social, recursos associados a realização pessoal com
disorder. Journal of Happiness Studies, 12(5), 793-806.
o próprio, apoio familiar e emocional, apoio medica-
doi: 10.1007/s10902-010-9227-5
mentoso mas, principalmente promover suporte social
alargado. Suporte social não muito diferente de qual-
Buckland, H., Schepp, K., & Crusoe, K. (2014). Defining
quer outro grupo populacional sem doença mental.
happiness for young adults with schizophrenia: A build-
Sobre a fiabilidade dos estudos sobre este conceito sub-
ing block for recovery. Archives of Psychiatric Nursing,
jetivo, devido a falta de insight que em algumas situa- 27(5), 235-240. doi: 10.1016/j.apnu.2013.07.002
ções podem levar as pessoas a assinalar valores injusti-
ficáveis, estes achados sugerem-nos que nos doentes, o Dubar, C. (2006). A crise das Identidades: A Interpreta-
funcionamento cognitivo e o insight, não tiveram efeito ção de uma mutação. Porto: Afrontamento.
nos ratings de felicidade. Aliás, os dados apontam para
que não seja necessário excluir as pessoas com pertur- Ferraz, R., Tavares, H., e Zilberman, M. (2007). Feli-
bação, dos estudos da felicidade na população em geral, cidade: Uma revisão. Revista de Psiquiatria Clínica,
porque as medidas podem ser as mesmas. 34(5), 234-242.
São limitações desta RIL a dificuldade de sistematizar
dados de alguns dos estudos principalmente relaciona- Goodson, I. (2008). Conhecimento e vida profissional
dos com a percentagem dos participantes com doença estudos sobre educação e mudança. Porto: Porto Edi-
mental. tora.

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AGRADECIMENTOS
Moher, D., Liberati, A., Tetzlaff, J., Altman, D. G., & A equipa de investigação teve a colaboração do Sr. Enf.º
Group, T. P. (2009). Preferred reporting items for sys- Luís Galhanas e da Sra. Enf.ª Paula Arvela, do Centro
tematic reviews and meta-analyses : The PRISMA Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, na revisão do artigo.
statement. PLOS Medicine, 6(7). doi: 10.1371/journal.
pmed.1000097

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