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PASSAGEM HIDRÁULICA DO BARRANCO DOS ARCOS

EN258-1, KM 013+290

CUBA

ESTUDOS GEOLÓGICOS E GEOTÉCNICOS

MEMÓRIA DESCRITIVA E JUSTIFICATIVA


ESTUDO PRÉVIO

618590071.docx

Abril 2021

CIVICONCEBE, Consultores em Engenharia, Lda NIPC: 510 935 834 email: geral@civiconcebe.pt Telf./Fax: +351 211 342 549
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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO..............................................................................................

2. CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA E GEOTÉCNICA SUMÁRIA...............

3. NEOTECTÓNICA E SISMICIDADE..............................................................

CARACTERIZAÇÃO DA ACÇÃO SÍSMICA.................................................................

4. TRABALHOS DE PROSPECÇÃO GEOTÉCNICA E ENSAIOS...............14

5. TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS. METODOLOGIA..............17

6. HIDROGEOLOGIA......................................................................................20

7. ZONAMENTO GEOTÉCNICO E PARAMETRIZAÇÃO.............................20

8. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DA CAPACIDADE DE


CARGA DOS TERRENOS DE FUNDAÇÃO.....................................................21

9. FICHA TÉCNICA.........................................................................................23

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Estudos Geológicos e Geotécnicos (EGG) 2
Memória Descritiva
1. INTRODUÇÃO

Apresentam-se nos parágrafos seguintes, os Estudos Geológicos e Geotécnicos


(EGG) relativos ao projecto do reforço ou substituição da passagem hidráulica do
Barranco dos Arcos.

Referem-se nos parágrafos que se seguem, as características geológicas,


geomorfológicas e sismotectónicas dos terrenos interessados pela obra existente,
bem como as propriedades hidrogeológicas gerais dos terrenos; descrevem-se os
trabalhos de prospecção e ensaios in situ, executados no quadro destes estudos,
procedendo-se à análise e interpretação dos dados coletados e, com base nessa
interpretação, define-se o zonamento geotécnico dos terrenos e faz-se a
parametrização das zonas assim definidas, estimando-se a sua resistência
mecânica e respectiva deformabilidade, bem como as propriedades de hidráulica
subterrânea que podem condicionar o comportamento das fundações da obra.

Tecem-se ainda algumas considerações finais, que se consideram pertinentes face


à natureza da obra e às propriedades dos terrenos nos quais se encontra fundada.

1. GEOLOGIA GERAL E GEOMORFOLOGIA

De acordo com a carta geológica de Portugal à escala 1:500.000, Folha nº 2, que se


apresenta na figura seguinte, os terrenos em que assenta a obra existente
pertencem ao Complexo Gabro-Diorítico de Cuba (). Estas formações antigas,
são recobertas por alternâncias de sedimentos em geral finos (argilo-siltosos) de
idades que variam entre o Paleogénico e o Quaternário, de origem aluvio-coluvionar
indiferenciada.

Figura 1 - Extracto da Carta geológica de Portugal, Folha 2 - Sul, esc. 1:500.000 (fonte
IGM).

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Nas fotos seguintes pode apreciar-se uma vista geral da obra e do respectivo
terreno de fundação.

Figura 2 – PH do Barranco dos Arcos. Vista de jusante.

Do ponto de vista da geomorfologia, os terrenos em análise inscrevem-se na vasta


peneplanície meridional alentejana, mais propriamente no planalto de Beja, em geral
pouco dissecado, assente em substrato de composição variada composta por
rochas máficas e ultramáficas, de que se destaca o vale encaixado do Guadiana,
que corta o planalto e impõe uma geodinâmica externa com mais vigor.

A espessura de solos aluvionares está quase sempre restrita ao leito maior dos rios
e ribeiras da região, e as suas espessuras raramente ultrapassam a dezena de
metros, sendo por vezes muito difícil detetar as mudanças de fácies, da aluvião ou
coluvião para o solo residual, sendo muitas vezes a pura mudança de cor o único
fator distintivo.

A zona da obra caracteriza-se pela sua planura e suavidade, com diferenças de cota
mínimas e pequeno encaixamento das linhas de água, que correm num leito menor
pouco escavado, como é o caso da ribeira em estudo.

2. NEOTECTÓNICA E SISMICIDADE

O risco sísmico em Portugal continental e na costa Atlântica adjacente é


caraterizado por eventos sísmicos moderados a fortes, com localização em terra, e
fortes a muito fortes, no mar. Essa sismicidade é caracterizada por uma distribuição
heterogénea de eventos de pequena magnitude (M <5.0), ocasionalmente
acompanhados de eventos de magnitudes mais elevadas (5.0<M<7.8), conforme se

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representa na figura seguinte. Os primeiros estão relacionados com fenómenos
tectónicos associados às estruturas continentais (sismos do tipo 2), com magnitude
moderada e pequena distância focal, das quais para a região de Cuba cabe
mencionar a falha de Messejana.

Figura 3 – Sismicidade em Portugal continental e região Atlântica adjacente para o


período 1300-2014 (in estudo da sismicidade em Portugal no período 1300-2014: Mapa
de intensidade máxima observada, Ferrão et al.).

Já os segundos associam-se às estruturas longínquas, como o Banco de Goringe e


outros, associados à tectónica de placas, designadamente ao tectonismo resultante
dos movimentos e ajustes das microplacas no entorno da zona meridional oeste da
península e do noroeste de África. Trata-se de sismos com magnitude elevada e
grande distância focal (sismos do tipo 1).

Na figura seguinte apresenta-se a carta neotectónica de Portugal Continental, onde


constam as falhas ativas identificadas no território continental, entre as quais a falha
da Messejana. No mapa de isossistas de intensidades máximas de Portugal,
representa-se a área em estudo, inscrita na zona de intensidade VII, a quarta mais
alta em Portugal continental e próxima do limite da zona de intensidade VIII.

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Apesar de se tratar de uma obra pequena, reveste-se da maior importância e deve
ser objecto de especial preocupação pelo projetista, a avaliação do seu
comportamento sob acção do sismo regulamentar, pelo que se apresenta nos
capítulos seguintes um tratamento aprofundado desta matéria.

Área em estudo

Figura 4 – Carta neotectónica de Portugal.

Caracterização da acção sísmica

A acção sísmica e o modo de a caracterizar são definidos na Parte 1 do Eurocódigo


8 (EC8), que deve ser utilizado em conjugação com o Documento Nacional de
Aplicação (DNA), constante da Norma Portuguesa NP ENV 998-1-1 de 2000.

A definição da acção sísmica para uma determinada obra depende da zona sísmica
onde se inscreve; do tipo de terreno interessado e da fonte sismogénica e pode ser
definida através de espectros de resposta; de espectros de potência ou de
acelerogramas artificiais, registados ou simulados. Para a definição da acção

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sísmica é necessário conhecer a zona do território nacional onde se situa a obra, já
que o país se divide em 4 zonas, de acordo com o previsto no Documento Nacional
de Aplicação (DNA), constante da Norma Portuguesa NP ENV 998-1-1 de 2000 e
anexo ao EC8, conforme a figura seguinte:

PENHAS DOURADAS

CABO CARVOEI RO

BARREI RO

,6 2 6 6 ,6 7 $ 6

= 2 1 $ ' ( ,1 7 ( 1 6 ,' $ ' ( 9


SINES

= 2 1 $ ' ( ,1 7 ( 1 6 ,' $ ' ( 9 ,

= 2 1 $ ' ( ,1 7 ( 1 6 ,' $ ' ( 9 ,,

= 2 1 $ ' ( ,1 7 ( 1 6 ,' $ ' ( 9 ,,,

= 2 1 $ ' ( ,1 7 ( 1 6 ,' $ ' ( ,;

= 2 1 $ ' ( ,1 7 ( 1 6 ,' $ ' ( ;


SAGRES

Figura 5 – Zonamento sísmico do território português e mapa de isossistas de


intensidades máximas de Portugal.

Os valores da aceleração máxima de referência agR para as várias zonas sísmicas e


para os dois tipos de ação sísmica a considerar são os indicados na tabela e na
figura que se seguem.

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Tabela 1 – Aceleração máxima de referência agR (m.s-2) para as diferentes zonas
sísmicas.

Ação sísmica Tipo 1 Ação sísmica Tipo 2

Zona
agR (m.s-2) Zona Sísmica agR (m.s-2)
Sísmica

1.1 2.5 2.1 2.5

1.2 2.0 2.2 2.0

1.3 1.5 2.3 1.7

1.4 1.0 2.4 1.1

1.5 0.6 2.5 0.8

1.6 0.35 - -

Área em estudo

Figura 6 – Zonamento sísmico no continente, para ação sísmica Tipo 1 (à esquerda) e


ação sísmica Tipo 2 (à direita).

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O EC8 introduz o conceito de classes de importância, que distingue estruturas
consoante essa importância. Para efeitos de dimensionamento diferencia os níveis
de risco em função da importância relativa da estrutura, função e operacionalidade,
atribuindo-lhe um coeficiente de importância, i.

A ação sísmica de cálculo (ag) a considerar no dimensionamento da estrutura, é


obtida pelo produto da aceleração de referência (agR) pelo coeficiente de importância
(i):

ag = agR  I (1)

Tabela 2 – Coeficiente de importância (i) a adotar para o território continental.

Ação Ação
Classe de
Edifícios segundo as suas funções sísmica sísmica
importância
Tipo 1 Tipo 2

Edifícios de menor importância, por exemplo,


I 0.65 0.75
edificações destinadas à atividade agrícola.

II Construções correntes: habitação, serviços. 1.00 1.00

Edifícios que devem apresentar resistência sísmica de


III forma a evitar o colapso, por exemplo, escolas, edifícios 1.45 1.25
públicos, museus, teatros.

Edifícios cuja integridade durante o sismo é importante


IV para a proteção civil, por exemplo hospitais, quarteis de 1.95 1.50
bombeiros, unidades industriais, barragens.

O concelho de Cuba interessa a zona 1.4 em termos de ação sísmica tipo 1 e a zona
2.4 para a ação sísmica tipo 2, obtendo-se para cada tipo de sismo os seguintes
valores de referência da aceleração máxima à superfície de um terreno tipo A (agR):

Tabela 3 – Valores de referência da aceleração máxima à superfície de um terreno tipo


A (agR).

Sismo tipo 1 Sismo tipo 2

Zona Sísmica agR (m.s-2) Zona Sísmica agR (m.s-2)

1.4 1.0 2.4 1.1

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Indicam-se a seguir os valores de cálculo da aceleração a considerar, considerando
a expressão anterior que toma em consideração o coeficiente que pondera a classe
de importância (ag = agR  I).

Tabela 4 – Valores dos parâmetros definidores do espectro de resposta elástico para a


acção sísmica Tipo 1 e 2 para as estruturas, com probabilidade de excedência de 10%
em 100 anos.

Período Sismo tipo 1 Sismo tipo 2


Classe de
de
Importância
Retorno I ag (m/s2) I ag (m/s2)

II 475 1.0 1.0 1.0 1.1

III 829 1.45 1.45 1.25 1.38

IV 1291 1.95 1.95 1.50 1.65

Tendo em conta que as condições locais são determinantes para a avaliação da


ação sísmica, o valor de ag é multiplicado pelo coeficiente S, que mede a
amplificação do terreno e varia em função do tipo de solo interessado. O valor do
parâmetro S é definido através das seguintes expressões:

ag < 1 m/s2 S = Smax

1 m/s2 < ag < 4 m/s2 S = Smax – [(Smax – 1)/3](ag – 1)]

ag  4 m/s2 S = 1.0

O parâmetro Smáx define o espectro de resposta elástico, uma vez definido o tipo de
solo da fundação, de acordo com a Tabela 5 e Error: Reference source not found.

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Tabela 5 – Tipos de terreno segundo o EC8 (2010).

Tipos
VS30 NSPT cu
de Descrição do perfil litoestratigráfico
(m/s) (pancadas/30cm) (kPa)
terreno

Rocha ou outra formação geológica de tipo


A rochoso, que inclua, no máximo, 5 m de material > 800 - -
mais fraco a superfície

Depósitos de areia muito compacta, de seixo


(cascalho) ou de argila muito rija, com uma
B espessura de, pelo menos, várias dezenas de 360-800 > 50 > 250
metros, caracterizados por um aumento gradual
das propriedades mecânicas com a profundidade

Depósitos profundos de areia compacta ou


medianamente compacta, de seixo (cascalho) ou 70
C 180-360 15-50
de argila rija com uma espessura entre várias 250
dezenas e muitas centenas de metros

Depósitos de solos não coesivos de compacidade


baixa a média (com ou sem alguns estratos de
D solos coesivos moles), ou de solos < 180 < 15 < 70
predominantemente coesivos de consistência mole
a dura

Perfil de solo com um estrato aluvionar superficial


com valores de Vs do tipo C ou D e uma espessura
E - - -
entre cerca de 5 m e 20 m, situado sobre um
estrato mais rígido com s >800 m/s

Depósitos constituídos ou contendo um estrato


com pelo menos 10 m de espessura de argilas ou < 180 10-
S1 -
siltes moles com um elevado índice de plasticidade (indicativo) 20
(IP > 40) e um elevado teor em água

Depósitos de solos com potencial de liquefação, de


S2 argilas sensíveis ou qualquer outro perfil de terreno - - -
não incluído nos tipos A – E ou S1

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Tabela 6 – Valores do parâmetro definidor do espectro de resposta elástico S máx, EC8
(2010).

Tipo de
Ação sísmica Tipo 1 e Tipo 2
terreno

A 1.00

B 1.35

C 1.60

D 2.00

E 1.80

A aceleração do solo (amáx), é obtida pelo produto das variáveis ag e S.

amax = ag × S (2)

Segundo o EC08, em Portugal, para a definição dos espectros de resposta elásticos


para a acção sísmica Tipo 1 e 2 devem adotar-se os valores da Tabela 7.

Para obtenção da Magnitude de Referência associada a cada local da obra, é


preciso consultar o Anexo Nacional da Parte 5 do EC 8. Na Tabela 8 encontram-se
os valores das magnitudes de referência retirados desse anexo correspondentes à
zona em estudo, em função da classe de importância para a zona em estudo e
considerando o período de retorno adoptado.

Tabela 7 – Valores dos parâmetros definidores do espectro de resposta elástico para


ação sísmica Tipo 1 e 2.

Ação sísmica Tipo 1 Ação sísmica Tipo 2


Tipo de terreno
Smax TB (s) TC (s) TD (s) Smax TB (s) TC (s) TD (s)

A 1.00 0.10 0.60 2.00 1.00 0.05 0.25 1.20

B 1.35 0.10 0.60 2.00 1.35 0.05 0.25 1.20

C 1.60 0.10 0.60 2.00 1.50 0.10 0.25 1.20

D 2.00 0.10 0.80 2.00 1.80 0.,10 0.305 1.20

E 1.80 0.10 0.60 2.00 1.60 0.05 0.25 1.20

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Tabela 8 – Magnitudes de referência (EC 8-P.5 AN I, 2010).

243 anos/ 475 anos/


1044 1303
I II 821 anos/
anos/ anos/
Período de retorno / Classe
(Edifícios (Edifícios III
de importância III IV
e e (Edifícios)
(Pontes) (Edifícios)
pontes) pontes)
Código do Magnitude Magnitude Magnitude Magnitude Magnitude
Município/
T1 T2 T1 T2 T1 T2 T1 T2 T1 T2
Designação

0207/Cuba 7.3 4.9 7.6 4.9 7.8 5.0 7.9 5.0 7.9 5.0

Os valores a tomar para o parâmetro S máx são correlacionáveis os valores de NSPT,


registados, através da correlação proposta por Otha & Goto (1978):
0.348
V s =85,3 . N SPT (3)

Figura 7 – Correlação proposta por Otha & Goto (1978), que relaciona o do NSPT com a
velocidade das ondas de corte Vs (in Guidelines for Estimation of Shear Wave Velocity,
Wair, Dejong, Shantz, 2012).

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3. TRABALHOS DE PROSPECÇÃO GEOTÉCNICA E ENSAIOS

Os trabalhos de prospecção geotécnica realizados no local da obra existente,


constaram de 2 sondagens mecânicas, acompanhadas de ensaios in situ, de
penetração dinâmica normalizada, do tipo SPT, cujos resultados se discutem nos
parágrafos seguintes.

Sondagens Mecânicas

As sondagens realizadas – S-BA 01 e S-BA 02 – tiveram ambas comprimentos


máximos de 9.0m, e interessaram os terrenos de cobertura (argilas colúvio-
aluvionares e de alteração dos gabros e dioritos subjacentes) e a franja de alteração
do maciço rochoso do substrato gabro-diorítico.

Na tabela seguinte regista-se a sequência lito-estratigráfica e as principais


características das sondagens efectuadas.

Tabela 9 – Sondagens efetuadas na Passagem Hidráulica do Barranco dos


Arcos.

Nível
Esp.
Sond. Prof. (m) água Lito-estratigrafia
(m)
(m)

Terra vegetal com escassa matéria orgânica e cor


0.0 – 0.3 0.3
castanha escura.
Camada de argila siltosa castanha, com origem
0.3 – 3.0 2.7
aluvionar e/ou coluvionar (Ag).
S-BA 01
Camada de argila vermelha com quartzo e nódulos de
3.0 – 7.5 4.5
caulinite (Ar).
Camada de solo residual de saibro argiloso cinzento
7.5 – 9.0 > 1.5
(Sr).
Terra vegetal com escassa matéria orgânica e cor
0.0 – 0.3 0.3
castanha escura.
Camada de argila siltosa castanha, com origem
0.3 – 3.0 2.7
aluvionar e/ou coluvionar (Ag).
S-BA 02
Camada de argila vermelha com quartzo e nódulos de
3.0 – 7.5 4.5
caulinite (Ar).
Camada de solo residual de saibro argiloso cinzento
7.5 – 9.0 > 1.5
(Sr).

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Como se constata, as duas sondagens atravessaram os mesmos materiais, a cotas
semelhantes (não exatamente idênticas das a diferença de cotas das bocas dos dois
furos), apresentando as camadas igual espessura, o que dá uma ideia da
regularidade da deposição sedimentar recente na zona, regularidade que aliás não é
inédita na região.

Ensaios de Penetração Dinâmica de tipo SPT

Como se afirmou, executaram-se ensaios SPT no interior dos furos de sonda, nos
trechos em solo e rocha decomposta.

Na interpretação destes ensaios para a determinação do valor de NSPT, tendo em


conta a larga predominância de solos finos, utilizou-se a seguinte fórmula de uso
comum na Europa, para a correção do valor de NSPT (EN ISO 22476-3: 2006):

N60 = CE xNSPT (3)

Em que o N60 (normalizado) é o NSPT corrigido para a energia de cravação efectiva.


Para o efeito teve-se em conta que os ensaios foram executados com equipamentos
dotados de dispositivo de disparo automático do pilão, com eficiência da ordem dos
60%, pelo que o fator corretivo relacionado com a energia de cravação (CE=ER/60) é
igual a 1 e o valor de NSPT = N60.

De molde a garantir uma aproximação racional e objectiva na avaliação do valor de


N60, quando no ensaio o número de pancadas foi superior a 60 (N>60), empregou-se
a fórmula seguinte, de utilização habitual nos países do norte da Europa, em
particular no Reino Unido e Alemanha, para extrapolação do valor de N
representativo:

extrap . 30
N SPT = ∗N SPT (4)
penetr . ( cm )

Esta fórmula usou-se para os valores de ensaio com nega na 2ª fase de penetração
(30cm finais). Quando a nega se dá na primeira fase (penetração <15cm) adoptou-
se a seguinte modificação:

extrap . 30
N SPT =2. ∗N SPT (5)
penetr . ( cm)

Por razões de prudência na interpretação, e de significado físico do ensaio, em


ambos os casos e apesar de ser comum a limitação a 300 ou 200 pancadas (na

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literatura anglo-saxónica e germânica, respectivamente) limitou-se o valor máximo
extrap .
de N SPT às 100 pancadas, considerando a densidade dos trabalhos de prospeção
e a natureza das obras em causa.

Os valores obtidos nos 12 ensaios SPT executados em ambas as sondagens,


constam das tabelas que se seguem, nas quais se introduz desde já o zonamento
geotécnico resultante do modelo conceptual adoptado para os terrenos de fundação,
cuja metodologia e aprofundamento se discutem nos parágrafos seguintes.

A camada de terra vegetal foi desconsiderada já que não existe na zona de


implantação propriamente dita da obra existente e é irrelevante para a análise
pretendida.

Tabela 10 – Ensaios SPT organizados em função das zonas geotécnicas.

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Os valores que constam da tabela anterior representam-se também no gráfico da
figura seguinte, que mostra a variação desses valores com a profundidade e que
permite concluir o seguinte:

Os solos argilosos (Ag) e (Ar) mostram valores de N60 a variar entre as 6 e as 18


pancadas e as 32 a 60 (90 por extrapolação) pancadas respectivamente, sendo os
valores inferiores a 20 pancadas correspondentes à faixa superficial descomprimida.
A resistência das camadas vai aumentando consistentemente com a profundidade;

Os solos residuais (Sr) compostos por saibros argilosos exibem uma resistência
bastante elevada com nega consecutiva na 1ª fase do ensaio, atribuindo-se o valor
extrapolado de N60 = 100 pancadas.

Figura 8 – Variação do N60 nas formações terrosas.

4. TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS. METODOLOGIA

Os critérios de tratamento e análise dos dados provenientes da prospecção e


ensaios foram concebidos em conformidade com as recomendações constantes do
EC7 (Parte 1, § 2.4.3) que preconiza as seguintes tipologias de obras geotécnicas,
que aqui se designam como tipo 1 (T1) e tipo 2 (T2):

 Tipologia T1: Obras que envolvem um “escasso” volume de terreno, que não
garante a compensação das zonas mais fracas (que ocorrem
estocasticamente) pelas zonas mais resistentes (igualmente
estocasticamente ocorrentes) por transferência de carga de umas para as
outras e para as quais a estrutura geotécnica atinge o estado limite

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considerado (de serviço, ou último, consoante os casos) antes que essa
transferência de esforços, das zonas mais fracas, para as mais resistentes,
possa ter lugar. Para estas obras o parâmetro característico deve ser tal que
a probabilidade de ocorrência de um valor mais baixo seja inferior a 5% (X k
5%);
 Tipologia T2: Obras que envolvem um amplo volume de terreno, com um
comportamento relativamente homogéneo, que assegura a compensação
das zonas mais fracas (que ocorrem estocasticamente), pelas zonas mais
resistentes (igualmente estocasticamente ocorrentes), por transferência de
carga de umas para as outras e para as quais a estrutura geotécnica
assegura que essa transferência se dá antes do colapso ou perda de
funcionalidade, consoante se trate de estados limites últimos ou de serviço.
Para estas obras o parâmetro característico deve ser tal que o seu valor
médio é aquele que tem uma probabilidade de 95% de ser superior ao valor
médio real (desconhecido) que caracteriza a camada (Xk Med).

Considerando que a obra em apreço se enquadra na tipologia T1, estimaram-se os


respectivos parâmetros geotécnicos característicos, deduzidos a partir do tratamento
estatístico dos dados disponíveis resultantes da prospecção geotécnica executada
no local, e respectivos ensaios de campo. No que respeita à caracterização do
módulo de finura dos solos e sua plasticidade, na indisponibilidade de ensaios de
laboratório, partiu-se do conhecimento adquirido dos solos da região, cuja natureza
é sobejamente conhecida. A atribuição de valores indicativos para o peso volúmico e
o índice de plasticidade característico dos solos envolvidos foi feito por ponderação
cautelosa (educated guess) conforme recomendado no EC7, (Parte 1, §2.4.3).

Na análise estatística recorreu-se à distribuição de TStudent e ao método proposto


por Schneider1, pela aplicação da seguinte equação:

[( ) ]
0.5
0.95 1
X k5 % =x ± t ( n−1 ) .s. +1 (6)
n

Em que: Xk5% é o valor característico com probabilidade de ocorrência de um valor


0.95
mais baixo inferior a 5% (T1); x é o valor médio da distribuição; t (n−1) é o inverso da

1
O método proposto por Schneider (Schneider, 1989), faz uma aproximação expedita e muito prática para a determinação
dos parâmetros característicos, através do coeficiente de variação, que é uma propriedade que tende a ser constante para
cada litologia. Todavia o método foi abandonado porque os resultados não foram os esperados.

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função de TStudent, em que 0.95 é a probabilidade de ocorrência, s o desvio padrão e
n o grau de liberdade. A análise estatística foi feita sobre os dados brutos

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provenientes da prospecção e ensaios, determinando-se os valores que constam
das tabelas seguintes.

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Para a determinação do ângulo de atrito, em tensões efetivas, dos solos finos,
admitiram-se os seguintes valores para o índice de plasticidade:

5. HIDROGEOLOGIA

De acordo com os dados recolhidos antes e após a furação, conclui-se que o nível
de água, depois de estabilizado, se situa aos 3,2 metros e 4,3m respetivamente nos
furos S-BA 01 e S-BA 02. Apesar de se desconhecer se se trata de um nível geral
ou local, uma vez que os dados disponíveis não são suficientes para uma avaliação
regional, deve tomar-se esta posição como representativa do limite da zona
saturada, para efeitos de cálculo das capacidades de carga.

6. ZONAMENTO GEOTÉCNICO E PARAMETRIZAÇÃO

Atendidas as características mencionadas, estabeleceu-se o modelo conceptual dos


terrenos de fundação da obra, para o qual se adoptou o método do zonamento
geotécnico, conforme as recomendações das associações internacionais, normas e
códigos em vigor, associando as litologias ao seu comportamento geomecânico,
através de um zonamento que corresponde grosso modo às camadas
estratigráficas. Este modelo conceptual, construído para interpretar a geometria e o
comportamento geomecânico e hidráulico dos maciços terrosos e rochosos
interessados, contempla as seguintes zonas geotécnicas, do topo para a base da
série estratigráfica:

ZG3 – Zona geotécnica 3: engloba os terrenos mais superficiais, compostos pelos


solos argilosos de cor castanha (Ag), muito moles a moles, com valores de N60 a
variar entre as 6 e as 18 pancadas. O valor característico de N60 obtido no cálculo
estatístico apresentado é de N60 = 9 pancadas;

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ZG2 – Zona geotécnica 2: esta zona interessa os solos argilosos vermelhos (A r).
Considerando que a sua franja mais superficial se apresenta com valores de N 60 da
ordem das 30 pancadas, enquanto a parte mais profunda exibe um N 60 com
penetrações de 20cm, optou-se por subdividir a camada em duas subzonas, ZG2a e
ZG2b, a primeira correspondente aos valores mais elevados de resistência dinâmica
e a segunda com um valor característico de N60 obtido é de N60 = 32 pancadas;

ZG1 – Zona geotécnica 1: este nível interessa o solo residual que corresponde à
franja de alteração do maciço gabrodiorítico de Beja O valor característico de N 60
obtido no cálculo apresentado é de N60 = 100 pancadas.

Como a derivação dos parâmetros geotécnicos não resulta da análise directa dos
resultados da prospecção e ensaios, esta foi feita tentativamente, através das
correlações seguintes, que demonstraram ser as mais coerentes para os solos em
causa (depois de experimentadas estas e outras correlações correntes e
consagradas da bibliografia):

- Coesão não drenada: cu (kPa) = 5 . N60, Terzaghi, Peck & Mesri (1996) (7)

- Ângulo de atrito (’): ’nc (º) = 39 – 11 x log (IP), (Sorensen e Okkels, 2013) (8)

- Coesão efetiva (c’): c’ = 0.1 . cU, dedução comum na bibliografia (“rule of thumb”)
(9);

- Módulo de elasticidade: E (MPa) = (0.5 a 1.0) . N60, Kulhawy & Mayne (1990) em
solos (10);

Tomando os valores característicos obtém-se os seguintes resultados para os


parâmetros geotécnicos:

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7. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DA CAPACIDADE DE CARGA
DOS TERRENOS DE FUNDAÇÃO

Os estudos agora apresentados asseguram um conhecimento suficiente das


propriedades geotécnicas e geomecânicas dos terrenos que constituem a fundação
da obra, para que o projecto de reabilitação ou substituição desta disponha dos
dados necessários ao dimensionamento das fundações, no caso de se tratar de uma
obra nova, ou para a avaliação da condição atual da fundação do existente, caso se
opte por uma reabilitação.

Trata-se de formações geológicas com comportamento previsível e sem


singularidades, que exibem um incremento progressivo da resistência e da
deformabilidade assegurando, para as tensões a transmitir ao terreno, previsíveis
para uma obra desta natureza, condições de suporte adequadas.

A zona saturada dos terrenos de fundação, surge a partir dos 3,5 a 4 metros de
profundidade, pelo que esta condição deve ser adequadamente considerada no
dimensionamento.

Para efeitos de avaliação preliminar e sumária das soluções de fundação para uma
obra nova, fez-se um cálculo sumário da tensão última para uma sapata unitária,
assente no topo das argilas vermelhas da ZG2, 3.0m abaixo do terreno natural, que
se considera próxima do limite abaixo do qual a fundação direta deixa de fazer
sentido, até porque o nível de água se encontra já bastante próximo. Para o efeito
recorreu-se á formulação simplificada de Terzaghi:

1
q ult =c . N c +q 0 + N q + . B . γ . N γ
2

Em que Nc, Nq e Ng são os fatores de capacidade de carga, calculados através das


seguintes expressões básicas:

1+ sin ϕ
Nq=
1−sin ϕ

N c =( N ¿¿ q−1)cot ϕ ¿

N γ =1.5 .( N ¿¿ q−1)tan ϕ ¿

Obteve-se um valor para a tensão última qult = 165 kN/m2, o que simplificando,
afetado de um fator de segurança de FS=3, conduz a 66 kN/m2.

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Parece, pois interessante estudar uma solução com fundação indireta, através de
pegões, ou em alternativa por microestacas com bolbo de selagem na ZG1, isto é,
no solo residual, cujas características são adequadas.

8. FICHA TÉCNICA

Coordenação

Eng.º José Delgado

Geologia de Engenharia

Dr. José António do Amaral

Desenho

Técnico

Lisboa, 20 de Abril de 2021

Engenheiro Civil

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Diretor Técnico

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