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RESUMO: Com o presente artigo pretendo traçar paralelos e interpretações entre Um Cão
Andaluz (1929) e A Idade do ouro (1930), ambos de Luis Buñuel em conjunto com Salvador
Dalí, através das ideias de Fernando Mascarello, André Breton e Sigmund Freud, passando
pela análise do simbolismo da mão como fonte de significados ocultos na produção
surrealista.
Palavras-Chave: Surrealismo; Buñuel; Desejo; Mão.
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Artigo apresentado às disciplinas de Pesquisa I e História do Cinema I, do Bacharelado em Cinema e
Audiovisual da Unespar – Universidade Estadual do Paraná, sob orientação da Profa. Dra. Juslaine Abreu
Nogueira e do Prof. Dr. Fábio Luciano Francener Pinheiro. Curitiba, 2022.
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Estudante do curso de Cinema e Audiovisual – Universidade Estadual do Paraná (Unespar). E-mail:
henriquedomingues04@gmail.com
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Algumas linhas teóricas afirmam que o início do movimento surrealista no cinema se deu com “A Conhca e o
Clerigo” (1928) de Germaine Dulac.
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2 OS DESEJOS DE BUÑUEL
Nascido em uma família abastada em uma pequena vila espanhola chamada Calanda,
onde podia-se “dizer que a Idade Média se estendeu até a Primeira Guerra Mundial”
(BUÑUEL, 2009, p.09), Buñuel foi estudar em uma escola jesuítica, instituição que o ensinou
desde cedo como a igreja consegue cercear as liberdades individuais através de seus tantos
dogmas. Já na adolescência ele se identificou como ateu e anticlerical, visão que ficaria
explícita em toda a sua carreira como diretor. Como é o exemplo das figuras religiosas
presentes em A Idade do Ouro (1930), que se transformam em esqueletos ao longo da
narrativa surrealista.
E não foi só a igreja que Buñuel atacou no filme. Ao longo da obra nós
acompanhamos um casal que quer consumar sua relação, mas é impedido por várias situações
sociais burguesas. A moral da burguesia está sempre em questão na carreira do diretor e aqui
isso fica explícito, ele parece querer refletir sobre sua própria situação na infância em um
ambiente tradicional, cercado por arranjos e obrigações que reprimiram vários de seus
desejos.
Em Um Cão Andaluz (1929) existe uma situação similar: um homem deseja
sexualmente uma mulher e a assedia. A mulher consegue fugir e quando o homem vai
persegui-la acaba tendo que levar consigo o peso de dois pianos, dois bois e dois padres. Não
é certo, como nada na produção surrealista, o que todos esses elementos significam, mas
pode-se afirmar que, por meio de imagens pictóricas, Buñuel coloca seu personagem preso a
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convenções sociais que o impedem de realizar suas fantasias, concordando assim com as
observações de Mascarello acerca do movimento:
Opondo-se radicalmente a tudo quanto denote repressões dessa natureza, a
linguagem pictórica, ancorada em suportes propícios à manifestação de imagens e
gestos, foi, nas mãos dos surrealistas, um instrumento para combater as aleivosias
provocadas pela deturpação da linguagem, visto que, em tais aleivosias, a
intransigência e a hipocrisia da sociedade armazenavam as causas basilares da
constante insatisfação dos seres humanos no transcurso da história.
(MASCARELLO, 2008, p.145).
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É impossível dizer que em qualquer filme surrealista exista um personagem que possa ser considerado
principal, mas utilizo essa nomenclatura aqui para facilitar a explicação dos enredos.
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Outra mão que aparece ao longo do filme já está decepada e uma pessoa andrógina
brinca com ela no meio da rua, o casal observa atentamente essa ação de sua janela, até que a
pessoa é violentamente atropelada e cai sem vida na calçada. Essa tragédia é o gatilho dos
desejos sexuais do homem para com a mulher, evidenciando suas tendências de psicopatia,
que o levam a assediá-la. Ele coloca suas mãos nos seios dela e sua mente delira de impulsos.
Quando a moça consegue finalmente escapar das agressões, ela prende a mão dele na
porta, o levando ao desespero de ter seu membro também decepado.
Segundo Stent (2014), essa repetição da mão ao longo do filme cria uma
"fetichização'' acerca dela, exaltando a ambiguidade desse membro, fato que nos leva a pensar
no complexo de castração de Freud. Esse conceito faz parte da teoria de desenvolvimento
sexual freudiana, e seria um estágio que ocorre nos meninos com cerca de 5 anos - mas que
perdura a vida toda - se mostrando como um medo irracional de ter seu pênis cortado pelo pai,
como forma de punição por desejar sexualmente a própria mãe, fruto do Complexo de Édipo.
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REFERÊNCIAS
A IDADE do Ouro. Direção: Luis Buñuel. Roteiro: Luis Buñuel, Salvador Dalí. Paris: [s. n.],
1930. (60 min.)
ANÁLISE DO FILME "A IDADE DO OURO" (L’age d'or) de Luís Buñuel e Salvador Dalí.
Portal Alexandria: YouTube, 2014. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=cVZG7fg3iQM&t=1089s. Acesso em: 20 maio 2022.
ANÁLISE do filme: Um Cão Andaluz. Portal Alexandria: YouTube, 2014. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=R9UuGno7k2c&t=892s. Acesso em: 20 maio 2020.
BRETON, André. Manifesto Surrealista. França: [s. n.], 1924. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ma000015.pdf. Acesso em: 20 maio 2022.
BUÑUEL, Luis. Meu Último Suspiro. 1. ed. São Paulo, SP: Cosac Naify, 2009.
FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. Porto Alegre, RS: L & PM, 2012.
STENT, Sabina. Surrealism, symbols and sexuality in Un Chien Andalou (1929) and
L’age D’or (1930). Estados Unidos: [s. n], 2014. Disponível em:
https://silentlondon.co.uk/2014/03/14/surrealism-hands-and-sexuality-in-un-chien-andalou-19
29-and-lage-dor-1930/amp/. Acesso em: 20 maio 2022.
UM CÃO Andaluz. Direção: Luis Buñuel. Roteiro: Luis Buñuel, Salvador Dalí. França: [s.
n.], 1929. (16 min.)