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AVALIAÇÃO DE IMPACTOS

AMBIENTAIS NA INDÚSTRIA

Autoria: Fernanda Pereira Lopes Carelli

1ª Edição
Indaial - 2021

UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:


Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jairo Martins
Jóice Gadotti Consatti
Marcio Kisner
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci

Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2021


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.
C271a

Carelli, Fernanda Pereira Lopes

Avaliação de impactos ambientais na indústria. / Fernanda Pereira


Lopes Carelli – Indaial: UNIASSELVI, 2021.

155 p.; il.

ISBN 978-65-5646-435-0
ISBN Digital 978-65-5646-436-7

1. Impactos ambientais. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo


da Vinci.

CDD 577

Impresso por:
Sumário

APRESENTAÇÃO.............................................................................5

CAPÍTULO 1
Sustentabilidade na Indústria......................................................7

CAPÍTULO 2
Políticas Ambientais.....................................................................57

CAPÍTULO 3
Práticas Ambientais na Indústria..............................................103
APRESENTAÇÃO
Avaliar os impactos ambientais na indústria pode parecer uma tarefa
complicada e difícil, mas, quando pensamos o que é a indústria e o que ela
significa economicamente, é possível perceber a importância e relevância deste
setor. Neste momento, constatamos que é necessário e até mesmo imprescindível
quantificar os impactos ambientais gerados, procurando minimizá-los para garantir
uma atuação mais equilibrada e duradoura para todos.

A indústria é um setor tradicional. Desde sua criação na revolução industrial,


os processos e forma de atuação da indústria podem ser considerados mais
robustos e estruturados. Nesse sentido, grandes mudanças de gestão, em seus
processos, ou na forma da condução das atividades, precisam ser ajustadas
a uma realidade muitas vezes complexa, com muitos cargos e hierarquias,
processos e produtos.

Por outro lado, pela sua relevância, a indústria tem um papel de transformação
da sociedade, pois ela gera inovação, tecnologia e desenvolvimento. Neste
sentido, existe uma expectativa de que a indústria seja uma protagonista no
processo de construção de uma atuação empresarial mais sustentável. A partir
disso, entendemos a importância de avaliar os impactos ambientais gerados pela
indústria e identificar caminhos e ações para melhorar essa relação.

A indústria brasileira desde seu início estabeleceu como vantagens


competitivas o fato de se ter uma abundância relativa de recursos naturais e uma
oferta ilimitada de força de trabalho a baixos salários. Essas premissas permitiram
a expansão e o crescimento industrial, porém, as indústrias não se preocuparam
em desenvolver esforços de práticas sustentáveis ao longo do tempo, e isso
acabou construindo uma imagem de um setor pouco sensível para as questões
ambientais.

Atualmente, a realidade é outra, sabemos que os recursos são escassos


e, por isso, é necessária uma atuação consciente e responsável. As indústrias
precisam estar sensibilizadas com as questões ambientais e com os impactos
gerados pela sua estrutura, instalação, produção, processos, insumos, produtos,
resíduos, dentre outros. A indústria tem que avaliar e mensurar os impactos para o
planeta, para a sociedade e para o consumidor, e prestar contas da sua atividade.

Medir os impactos ambientais gerados pelas indústrias e ter métricas e


indicadores é um bom caminho para melhorar a forma de atuação do setor. Ao
quantificar as ações, conseguimos fazer correções de rota, propor melhorias e
minimizar o impacto ambiental. Você sabia que a indústria é um setor importante
porque gera emprego, renda, tecnologia, progresso, produtos com valor agregado
e importantes para impulsionar o desenvolvimento da sociedade? Pois é, por
isso, esse setor precisa estabelecer métricas capazes de avaliar os impactos
ambientais e o uso correto dos recursos naturais.

Quando uma indústria se instala, ela precisa observar diferentes aspectos,


desde o terreno, o local, a cultura da região, a localização geográfica, o perfil
dos habitantes e identificar se, de fato, ela vai contribuir para o desenvolvimento
da região. Por isso, é importante avaliar os impactos gerados no ambiente para
dimensionar e garantir uma relação harmoniosa de desenvolvimento sustentável.

No Capítulo 1, você aprenderá um pouco sobre sustentabilidade, a evolução


das discussões sobre o tema, o conceito do triple bottom line e o pilar ambiental.
Também entenderá como as indústrias vem inserindo as questões ambientais
em sua cultura e imagem organizacional. E, por fim, conhecerá os conceitos
ambientais que estimularam a criação de métricas, indicadores e formas para
avaliar o uso dos recursos dentro das indústrias.

No Capítulo 2, abordaremos o tema políticas ambientais, descrevendo os


principais atores e instituições presentes que regem e dirigem os processos
ambientais. Você também entenderá como funcionam as normas ambientais e os
projetos ambientais, além de aprender sobre o EIA e RIMA. Por fim, no Capítulo
3, trabalharemos as práticas ambientais na indústria, com uma análise de
negócios sustentáveis, indicadores ambientais e exemplos de questões práticas
relacionadas ao meio ambiente que acontecem nos diversos setores industriais.
C APÍTULO 1
Sustentabilidade na Indústria

A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Relacionar as ações das indústrias e seus impactos no meio ambiente.


• Reconhecer os conceitos de sustentabilidade, o pilar ambiental e sua evolução
ao longo do tempo.
• Compreender a evolução do tema sustentabilidade ambiental e sua relação
com a indústria.
• Compreender a importância de avaliar o impacto ambiental e conhecer
ferramentas de avaliação e modelos existentes.
• Identificar e reconhecer as principais métricas de sustentabilidade utilizadas na
indústria como estudos e relatórios de impacto ambiental.
• Analisar as principais métricas de sustentabilidade utilizadas pelo setor
industrial.
• Avaliar os pontos positivos e negativos dos indicadores ambientais.
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

8
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
A sustentabilidade é um tema que vem sendo discutido mundialmente pelos
mais diversos fóruns e públicos. Você já deve ter ouvido falar a respeito da
escassez de recursos, que temos apenas um planeta e que vivemos com recursos
limitados, e, talvez, já tenha escutado as afirmações: “precisamos preservar os
nossos recursos naturais”, “é necessário produzir mais com menos e com mais
consciência” entre tantas outras frases, comuns no nosso cotidiano e, também, no
ambiente corporativo.

Todo esse movimento demonstra uma preocupação por parte da sociedade


em se portar de uma forma sustentável e consciente. Uma postura mais
responsável se estende, também, para as indústrias que compreendem que
precisam transformar os seus negócios e minimizar os impactos gerados em todas
as esferas, sejam elas ambientais, econômicas ou sociais. Estamos vivendo um
tempo em que é evidente a necessidade de construir uma nova forma de ação
individual e coletiva. Um novo posicionamento das empresas baseado em novas
bases competitivas e em estratégias e fatores diferenciados, a fim de preservar
nossos recursos atuais e não impactar as necessidades das gerações futuras.

O fato é que sim, existe uma responsabilidade para as indústrias de uma


atuação cada vez mais consciente, mas também, existem múltiplas oportunidades
nesta nova economia. Afinal, o uso responsável dos recursos, com inovação,
engajamento e um processo de produção sustentável pode abrir novas
possibilidades, novas soluções e a possibilidade de desenvolver novos negócios.
Afinal, o que é a sustentabilidade? E por que ela é tão relevante e necessária
nas nossas vidas e no ambiente industrial? É isso que vamos abordar neste
capítulo, em que o foco principal do estudo será compreender o conceito de
sustentabilidade, entender o pilar ambiental e conhecer as formas de avaliar os
impactos ambientais gerados pelas indústrias.

2 SUSTENTABILIDADE E O PILAR
AMBIENTAL
De maneira geral, a palavra sustentabilidade significa sustentar, favorecer,
conservar e cuidar. Ser sustentável significa ter a capacidade de ser mantido ou
suportado. Então, a sustentabilidade pode ser compreendida como uma condição,
um fim, uma meta estipulada que deve ser alcançada. Já o desenvolvimento
sustentável é entendido como o caminho, como a forma para alcançar a
sustentabilidade.

9
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Ambos os conceitos, seja o de sustentabilidade ou de desenvolvimento


sustentável observam três aspectos, são eles: econômicos, sociais e ambientais.
Para uma ação ser considerada sustentável, ela precisa se atentar para
estes três aspectos, procurando não negligenciar nenhum deles. Para um
melhor entendimento, é interessante conhecer e observar alguns conceitos de
sustentabilidade e refletir sobre o que eles representam, e é isso que vamos ver
a seguir.

2.1 CONCEITO DE
SUSTENTABILIDADE E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Existem diversos conceitos de sustentabilidade e desenvolvimento
sustentável. O que vamos utilizar aqui como o principal é o que está contido
no Relatório de Brundtland, por ser um dos mais difundidos e aceitos nas mais
diferentes esferas sociais, políticas e organizacionais.

[...] desenvolvimento sustentável é um processo de


transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos
investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico
e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o
potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades
e aspirações futuras [...] é aquele que atende às necessidades
do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações
futuras atenderem as suas próprias necessidades (COMISSÃO
MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO,
1991, s. p.).

O Relatório de Brundtland é um documento também conhecido


como “Nosso Futuro Comum”, publicado em 1987, que apontou o
risco no uso excessivo dos recursos naturais para atender às formas
de produção e os padrões de consumo. Este relatório disseminou a
ideia de desenvolvimento sustentável. A versão em inglês pode ser
acessada no link: https://sustainabledevelopment.un.org/content/
documents/5987our-common-future.pdf

10
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

A questão central que o relatório apresenta neste conceito de desenvolvimento


sustentável e que precisamos nos atentar é o atendimento a necessidades
atuais sem comprometer as necessidades das gerações futuras. Ao falarmos
de sustentabilidade, precisamos sempre analisar a relação entre ser humano e
meio ambiente sem estagnar o crescimento econômico, mas sim conciliando as
questões econômicas, ambientais e sociais.

Nesse sentido, o trabalho humano, de modo algum, deveria impactar os


ciclos naturais do planeta, e, também, não deveria afetar aquilo que estará à
disposição das gerações futuras. O desenvolvimento sustentável pode ser visto
como o processo que faz com que a comunidade se comprometa com o hoje e o
amanhã.

Pensando no hoje e no amanhã, assista ao vídeo a história das


coisas, que retrata o processo para a produção de alguns bens que
consumimos sem muitas vezes observar a sua origem, a sua história.
Boa reflexão! Link: https://youtu.be/7qFiGMSnNjw

O conceito de desenvolvimento sustentável trata especificamente de uma


nova maneira de a sociedade se relacionar com seu ambiente, de forma a garantir
a sua própria continuidade e a de seu meio externo. No entanto, a formulação de
uma definição para o conceito de desenvolvimento sustentável tem um consenso
em relação a alguns aspectos, são eles: a necessidades de se reduzir a poluição
ambiental, eliminar os desperdícios e diminuir o índice de pobreza.

Nesse sentido, o Quadro 1 apresenta uma relação de conceitos de


desenvolvimento sustentável, para ilustrar o que diferentes atores pensam a
respeito, e percebemos como este conceito vem sendo construído ao longo do
tempo.

11
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

QUADRO 1 – CONCEITOS DE DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL E SUSTENTABILIDADE

Conceito de Desenvolvimento Sustentável e Sus- Autor/Organi-


Ano
tentabilidade zação
Uma sociedade pode ser considerada sustentável
quando todos os seus propósitos e intenções po-
1 Goldsmith 1972
dem ser atendidos indefinidamente, fornecendo
satisfação ótima para seus membros.
Desenvolvimento que significa alcançar satisfação
2 constante das necessidades humanas e a melhora Allen 1980
da qualidade da vida humana.
No documento intitulado Worlds Conservation
Strategy, afirma-se que, para que o desenvolvi- International
mento seja sustentável, deve-se considerar as- Union for the
pectos referentes às dimensões social e ecológi- Conservation of
3 1980
ca, bem como fatores econômicos, dos recursos Nature and Nat-
vivos e não vivos e as vantagens de curto e longo ural Resources
prazo de ações alternativas. O foco do conceito é (IUCN)
a integridade ambiental.
A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento não acredita que o cenário
sombrio de destruição do potencial global nacio-
nal para o desenvolvimento seja um destino in-
escapável. Os problemas são planetários, mas
não são insolúveis. Se cuidarmos da natureza,
ela tomará conta de nós. A conservação chegou
a um ponto do conhecimento que, se quisermos
salvar parte do sistema, temos que salvar o siste-
ma inteiro. Esta é a essência do que chamamos
Desenvolvimento Sustentável. Existem várias di- Brundtland, Gro
4 1987
mensões para a sustentabilidade. Primeiramente, Harlem (WCED)
ela requer a eliminação da pobreza e da privação.
Segundo, requer a conservação e a elevação da
base de recursos, a qual sozinha pode garantir
que a eliminação da pobreza seja permanente.
Terceiro, ela requer um conceito mais abrangente
de desenvolvimento, que englobe não somente o
crescimento econômico, como também o desen-
volvimento social e cultural. Quarto e mais impor-
tante, requer a unificação da economia e da ecolo-
gia nos níveis de tomada de decisão.

12
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

O conceito de desenvolvimento econômico suste-


ntável, quando aplicado ao Terceiro Mundo, diz re-
speito diretamente à melhoria do nível de vida dos
pobres, a qual pode ser medida quantitativamente
em termos de aumento da alimentação, renda real,
serviços educacionais e de saúde, saneamento
e abastecimento de água etc. e não diz respeito
5 Barbieri 1987
somente ao crescimento econômico no nível de
agregação nacional. Em termos gerais, o objetivo
primeiro é reduzir a pobreza absoluta do mundo
pobre através de providências meios de vida se-
guros e permanentes que minimizem a exaustão
de recursos, a degradação ambiental, a disrupção
da cultura e a instabilidade social.
Definido como um padrão de transformações
econômicas estruturais e sociais (i.e, desenvolvi-
mento) que otimizam os benefícios societais e
econômicos disponíveis no presente, sem destru-
ir o potencial de benefícios similares no futuro. O
objetivo primeiro do Desenvolvimento Sustentável
é alcançar um nível de bem-estar econômico ra-
zoável e equitativamente distribuído que pode ser
perpetuamente continuado por muitas gerações
humanas. Desenvolvimento sustentável implica Goodland e
6 1987
usar os recursos renováveis naturais de maneira Ledloc
a não degradá-los ou eliminá-los, ou diminuir sua
utilidade para as gerações futuras, implica usar os
recursos minerais não renováveis de maneira tal
que não necessariamente se destruam o acesso a
eles pelas gerações futuras, e, também, implica a
exaustão dos recursos energéticos não renováveis
em uma taxa lenta o suficiente para garantir uma
alta probabilidade de transição societal ordenada
para as fontes de energia renovável.
O critério da sustentabilidade requer que as
7 condições necessárias para igual acesso à base Pearce 1987
de recursos sejam conseguidas por cada geração.
A ideia básica de Desenvolvimento Sustentável é
simples no contexto dos recursos naturais (exclu-
indo os não renováveis) e ambientais: o uso feito
desses insumos no processo de desenvolvimen-
to deve ser sustentável ao longo do tempo. Se
Markandya e
8 aplicarmos a ideia aos recursos, sustentabilidade 1988
Pearce
deve significar que um dado estoque de recursos
(árvores, qualidade do solo, água etc.) não pode
declinar. Sustentabilidade deve ser definida em
termos da necessidade de que o uso dos recursos
hoje não reduza as rendas reais no futuro.

13
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Tomamos desenvolvimento como um vetor de ob-


jetivos sociais desejáveis, e seus elementos de-
vem incluir: aumentos na renda real per capita;
melhora no status nutricional e da saúde; melhora
educacional; acesso aos recursos; distribuição de
renda mais justa; aumento nas liberdades básicas.
Desenvolvimento Sustentável é, então, uma situ-
ação na qual o vetor de desenvolvimento aumenta Pearce, Barbier
9 1988
monotonicamente sobre o tempo. Sumarizamos e Markandya
as condições necessárias para o desenvolvimen-
to sustentável como “constância do estoque do
capital natural". Mais estritamente, o requerimen-
to para mudanças não negativas no estoque de
recursos naturais como solo e qualidade de solo,
águas e sua qualidade, biomassa e a capacidade
de assimilação de resíduos no ambiente.
Existe um amplo consenso sobre as condições
requeridas para o desenvolvimento econômico
sustentável. Duas interpretações estão emergin-
do: uma concepção mais ampla com respeito ao
desenvolvimento econômico, social e ecológico,
e uma concepção mais estreita com respeito ao
desenvolvimento ambientalmente sustentável
(i.e., com administração ótima dos recursos e do
ambiente no tempo). A primeira, uma visão alta-
mente normativos do desenvolvimento sustentável
10 Barbier 1989
endossada pela Comissão Mundial de Desenvolvi-
mento e Meio Ambiente) define o conceito como
desenvolvimento que alcança as necessidades do
presente sem comprometer a capacidade das fu-
turas gerações satisfazerem suas próprias neces-
sidades. Em contraste, a segunda concepção, de
administração ótima de recursos e do ambiente,
requer maximizar os benefícios líquidos do desen-
volvimento econômico, mantendo os serviços e a
qualidade dos recursos naturais.
A capacidade do sistema de manter sua produção
a um nível aproximadamente igual ou maior que
11 Lyman & Herdt 1989
sua média histórica, com uma aproximação deter-
minada pelo nível de variabilidade histórica.
A incorporação da dimensão ambiental nas es-
tratégias e projetos de crescimento econômico não
12 é condição suficiente nem para o Desenvolvimen- Rattner 1991
to Sustentável nem para a melhoria das condições
de vida dos pobres e desprovidos.

14
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

O conceito de desenvolvimento sustentável deve


ser inserido na relação dinâmica entre o sistema
econômico humano e um sistema maior, com
taxa de mudança mais lenta, o ecológico. Para
ser sustentável essa relação, deve assegurar que
a vida humana possa continuar indefinidamente,
13 Constanza 1991
com crescimento e desenvolvimento da sua cul-
tura, observando-se que os efeitos das atividades
humanas permaneçam dentro de fronteiras ade-
quadas, de modo a não destruir a diversidade, a
complexidade e as funções do sistema ecológico
de suporte à vida.
Destacam o papel do crescimento econômico na
sustentabilidade. O desenvolvimento é sustentável
quando o crescimento econômico traz justiça e
14 oportunidades para todos os seres humanos do Pronk e ulHaq 1992
planeta, sem privilégio de algumas espécies, sem
destruir os recursos naturais finitos e sem ultra-
passar a capacidade de carga do sistema.
A sustentabilidade dos ecossistemas naturais
pode ser definida como o equilíbrio dinâmico entre
Fresco & Kro-
15 as suas demandas e sua produção, modificadas 1992
onenberg
por eventos externos, tais como mudanças climáti-
cas e desastres naturais.
Resumem a sustentabilidade à obtenção de um
grupo de indicadores que sejam referentes ao Munasingle e
16 1995
bem-estar e que possam ser mantidos ou que McNeely
cresçam no tempo.
O estoque de capital que deixamos para as futu-
ras gerações definido de forma a incluir todos os
17 Word Bank 1995
tipos de capital deve ser igual ou maior que o que
encontramos.
Desenvolvimento sustentável significa, fundamen-
talmente, discutir a permanência ou a durabilidade
18 da estrutura de funcionamento de todo o processo Merico 1996
produtivo sobre o qual está assentada a sociedade
humana contemporânea.
Define o desenvolvimento sustentável como sen-
do um conceito plurívoco, isto é, une a preocu-
pação com o meio ambiente à preocupação com o
meio ambiente à preocupação com a economia e
a pobreza. Realça que o desenvolvimento para ser
sustentável, além de ser viável em sua dimensão
19 Lafer 1996
econômica, precisa ser igualmente viável do pon-
to de vista do meio ambiente e da sociedade; por
isso, visa ao reconhecimento dos outros, dos nos-
sos contemporâneos, no espaço de um mundo
comum com as futuras gerações na amplitude do
tempo.

15
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

A sustentabilidade está ligada à persistência de


certas características necessárias e desejáveis
de pessoas, suas comunidades e organizações, e
os ecossistemas que as envolvem, dentro de um
período longo e indefinido. Para atingir o progres-
20 so em direção à sustentabilidade, deve-se alca- Hardi e Zdan 1997
nçar o bem-estar humano, não o dos ecossiste-
mas, sendo que o progresso em cada uma dessas
esferas não deve ser alcançado à custa da outra,
e sim reforçando a interdependência entre os dois
sistemas.
O maior desafio do desenvolvimento sustentável é
a compatibilização da análise com a síntese. O de-
safio de construir um desenvolvimento dito suste-
ntável, juntamente com indicadores que mostrem
esta tendência é compatibilizar o nível micro com
21 Rutherford 1997
o macro. No nível macro, deve-se entender a situ-
ação do todo e sua direção de uma maneira mais
geral e fornecer para o nível micro, em que se
tomam as decisões, as informações importantes
para as necessárias correções de rota.
Desenvolvimento sustentável envolve a questão
temporal; a sustentabilidade de um sistema só
22 Bossel 1998
pode ser observada a partir da perspectiva futura,
de ameaças e oportunidades.
Transformar recursos em lixo mais lentamente que Steve Goldfin-
23 1999
a natureza consegue transformar lixo em recursos. ger
O desenvolvimento sustentável é o mais recente
conceito que relaciona as coletivas aspirações de
paz, liberdade, melhoria das condições de vida e
National Re-
24 de um meio ambiente saudável. Seu mérito reside 1999
search Council
na tentativa de reconciliar os reais conflitos entre
a economia e o meio ambiente e entre o presente
e o futuro.
Equilibrar o conflito básico entre as duas metas
25 que competem entre si, ou seja, assegurar a quali- Wackenagel 2000
dade de vida e viver dentro dos limites da natureza
Um autêntico modelo de Desenvolvimento sus-
tentável deve apresentar uma perspectiva de
desenvolvimento além do crescimento econômi-
co, reconhecer as múltiplas tradições culturais e
26 crenças, transcender o consumismo e fornecer Haque 2000
uma estrutura de estilo de vida mais desejável, en-
fatizar reformas estruturais para equidade interna
e global e delinear efetivos planos legais e insti-
tucionais para a manutenção ambiental

16
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

Desenvolvimento sustentável pode ser defini-


do como um vetor no tempo de objetivos sociais
desejáveis, como: incremento da renda per capita,
27 melhorias no estado de saúde, níveis educacio- Resende (s.d)  
nais aceitáveis, acesso aos recursos, distribuição
mais equitativa de renda e garantia de maiores
liberdades fundamentais.
Desenvolvimento sustentável é a emergência de
um novo paradigma para orientação dos proces-
28 sos e reavaliação dos relacionamentos da econo- Jara 2001
mia e da sociedade com a natureza, bem como
das relações do Estado com a sociedade civil.
Desenvolvimento sustentável é uma ideologia, um
29 Schwartzman 2001
valor, uma ética.

FONTE: Adaptado de Baroni (1992) e Bellen (2006).

1 Com base nos diferentes conceitos de sustentabilidade e


desenvolvimento sustentável apresentados, descreva a diferença
entre a sustentabilidade e desenvolvimento sustentável.

Há algum tempo, o desenvolvimento sustentável vem sendo discutido


e defendido como único caminho possível a ser seguido e trilhado por
organizações, pessoas e países. As preocupações acerca das desigualdades
sociais e, principalmente, dos desastres e ameaças ambientais decorrentes, em
grande parte, do modelo de desenvolvimento vigente na maioria dos países a
partir da revolução industrial, afloraram, nas décadas de 60 e 70, uma série de
questionamentos e reflexões sobre os rumos e consequências do perseguido
crescimento econômico.

Desde então, algumas discussões importantes e movimentos surgiram no


século XX que ajudaram a fundamentar o conceito de sustentabilidade, são eles:
o relatório sobre os limites do crescimento, publicado em 1972, o surgimento
do conceito de eco desenvolvimento, em 1973, a Declaração de Cocoyok, em
1974, o relatório da Fundação Dag-Hammarskjold, em 1975, e, finalmente, a
Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Meio Ambiente
e Desenvolvimento, em 1992. Todos estes marcos ajudaram a nos levar a um
melhor entendimento sobre o tema do desenvolvimento sustentável.

17
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Desde então, diferentes atores como governos, empresas, organizações não


governamentais, institutos de pesquisas e outros têm se engajado na busca por
modelos de desenvolvimento mais equilibrados, que garantam as condições ideais
de funcionamento dos sistemas humanos e ambientais, tanto para as gerações
atuais como futuras. Com o passar dos anos, o conceito vem amadurecendo e
novos atores estão se somando ao desafio de materializar o desenvolvimento
de maneira sustentável. Eventos importantes, de repercussão mundial, estão
promovendo debates e reflexões sobre a temática. Para entendermos melhor,
a Figura 1 apresenta uma breve linha do tempo, sintetizando alguns marcos da
evolução destes conceitos e atores.

FIGURA 1 – LINHA DO TEMPO – CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

FONTE: Adaptado de Louette (2007).

Entre os novos atores engajados no desafio de promover o desenvolvimento


sustentável, é possível destacar a adesão crescente de diferentes empresas e
indústrias. Seja pela ciência das suas responsabilidades socioambientais, pela
garantia de competitividade ou, ainda, pressionadas por legislações, acordos
internacionais e/ou setoriais, referências da cadeia produtiva e até pelos seus
próprios consumidores, as empresas e indústrias tem procurado se adequar à
sustentabilidade e aproveitar as oportunidades existentes neste novo modelo.

Pensando na sustentabilidade dentro da esfera das empresas e das


indústrias, é interessante observarmos o conceito que o International Institute for
Sustainable Development (IISD) apresenta, que é: para os negócios empresariais,
desenvolvimento sustentável significa adotar estratégias de negócios e atividades
que atendam a necessidades da empresa e seus stakeholders hoje, enquanto
protege, sustenta e melhora os recursos humanos e naturais que serão

18
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

necessários no futuro (IISD, 2003).

Este conceito revela que as indústrias estão buscando se posicionar e


compreender esta nova dinâmica presente no desenvolvimento e crescimento de
forma sustentável. Outro conceito, do prisma corporativo, é que o desenvolvimento
sustentável é “a busca do equilíbrio entre o que é socialmente desejável,
economicamente viável e ecologicamente sustentável” (SILVA, QUELHAS, 2006,
p. 387).

Mesmo diante dos esforços empreendidos e resultados alcançados, é


possível perceber que ainda resta um longo caminho pela frente, cheio de
obstáculos e barreiras a serem superadas. Ainda assim, muitos passos já
foram dados. O tema desenvolvimento sustentável clareou as relações entre
os sistemas econômicos, humanos e ambientais, expondo suas fragilidades e a
necessidade urgente de equilíbrio e integração entre estes. Afinal, ficou evidente
que o crescimento econômico não pode acontecer atingindo os sistemas humano
e ambiental.

A institucionalização do desenvolvimento sustentável no meio empresarial e


corporativo tem ocorrido rapidamente, contudo, de diferentes maneiras. Em alguns
casos, novas aspirações empresariais são visualizadas por trás da agenda da
sustentabilidade, enquanto outros veem a continuação de antigas aspirações pelo
controle ou dominação dos recursos mundiais. Já em outros casos, felizmente,
empresários e executivos sensibilizados pelo tema, tem buscado soluções e
mudanças concretas para contribuir com o desenvolvimento sustentável. Assim,
as organizações verdadeiramente preocupadas com a sustentabilidade são
aquelas que perseguem nas suas atividades o equilíbrio entre as dimensões
econômicas, sociais e ambientais.

2.2 DIMENSÕES DA
SUSTENTABILIDADE – TRIPLE
BOTTON LINE
Ao falarmos sobre sustentabilidade, sempre referenciamos os aspectos
ambientais, sociais e econômicos. Isto se deve pelo fato de a sustentabilidade
estar fundamentada no tripé resultante da visão do Triple Botton Line, denominado
também de dimensões da sustentabilidade. Muitas vezes, o conceito é apenas
relacionado a questões ambientais, que são, em alguns casos, as mais nítidas
e de fácil sensibilização. No entanto, existem mais dimensões presentes no
desenvolvimento sustentável que também precisam ser observadas, pois

19
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

englobam comportamentos individuais e coletivos que impactam diretamente na


vida e na sociedade atual e futura.

Contudo, a sustentabilidade trabalha com um conceito multidimensional,


em que existem diferentes dimensões e que estas se inter-relacionam e se
complementam. Existem diferentes propostas de dimensões para representar
as múltiplas facetas do desenvolvimento sustentável. Em geral, as dimensões
ambientais, econômicas e sociais são frequentemente destacadas. Na Figura
2, é possível visualizar as representações para estas dimensões com algumas
variações: (a) o desenvolvimento sustentável como ponto de interseção entre as
dimensões ambientais, econômicas e sociais; (b) a sustentabilidade empresarial
como ponto de interseção entre as dimensões traduzidas em planeta, lucro e
pessoas; e (c) a linha do pilar ambiental, econômico e social.

FIGURA 2 – REPRESENTAÇÕES DE DIMENSÕES PARA


O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

FONTE: Barbieri (2010, p.146).

Outra proposta de dimensões para o desenvolvimento sustentável considera,


além das já citadas, as dimensões materiais, ecológicas, legais, culturais,
políticas e psicológicas. Há, também, propostas que consideram a dimensão
institucional, além das ambientais, econômicas e sociais. Apesar da tentativa de
inserir diferentes dimensões da sustentabilidade, cabe ressaltar que, na realidade
da área produtiva das indústrias as dimensões mais comumente observadas são
as ambientais, sociais e econômicas, conhecidas e difundidas através do Triple
Bottom Line (TBL).

O termo Triple Bottom Line surgiu na década de 1990 e tornou-se de


conhecimento do grande público em 1997, com a publicação do livro Cannibals

20
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

With Forks: The Triple Bottom Line of 21st Century Business de John Elkington, e,
desde então, organizações como o Global Reporting Initiative (GRI) e a Account
Ability (AA) vêm promovendo o conceito do Triple Bottom Line e o seu uso em
corporações de todo o mundo, que refletem um conjunto de valores, objetivos e
processos que uma organização deve focar para criar valor em três dimensões:
econômica, social e ambiental.

Outra fonte que estimula os conceitos do tripé da


sustentabilidade são as normas. Por exemplo, as diretrizes da norma
AA1000 auxiliam as empresas na determinação de suas estratégias
de sustentabilidade e do quanto elas são incorporadas na gestão e
no dia a dia da empresa. Para conhecer mais sobre o tema, leia o
artigo que retrata a norma em uma indústria, disponível em: http://
www.anpad.org.br/admin/pdf/enanpad2002-cab-1026.pdf

Existem diferentes relações que permeiam as dimensões da sustentabilidade


e o conceito do Triple Botton Line. A Figura 3 ilustra a relação entre as três
dimensões para a sustentabilidade, onde observa-se a relação “suportável”
(bearable) entre o Meio Ambiente (environment) e a Sociedade (social), a
relação “equitativa” (equitable) entre a Sociedade e a Economia (economic), e
a relação “viável” (viable) entre a Economia e o Meio Ambiente. O conceito da
sustentabilidade está justamente no centro das três dimensões, em que é possível
observar a convergência entre Meio Ambiente, Sociedade e Economia.

FIGURA 3 – TRIPLE BOTTOM LINE

FONTE: Adaptado de Dreosvg (2009).


21
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Muito embora existam outras propostas e uma gama de dimensões


atribuídas à sustentabilidade, vamos nos concentrar em compreender melhor as
três dimensões inseridas no conceito do triple botton line.

A dimensão ambiental ou sustentabilidade ambiental é compreendida como


a preservação dos sistemas de sustentação da vida. Esta pode ser incrementada
pelo uso das seguintes alavancas:

• intensificação do uso dos recursos potenciais dos vários ecossistemas,


com um mínimo de dano aos sistemas básicos e para propósitos
socialmente válidos;
• limitação do consumo de combustíveis fósseis e de outros recursos e
produtos facilmente esgotáveis ou ambientalmente prejudicais;
• redução do volume de resíduos e de poluição, por meio da conservação
e reciclagem de energia e recursos;
• autolimitação do consumo material pelos países ricos e pelas camadas
sociais privilegiadas em todo o mundo;
• intensificação da pesquisa de tecnologias limpas;
• definição das regras para uma adequada proteção ambiental.

Desta forma, as organizações devem entender o que é capital natural, ou


seja, riqueza natural, para, então, fazer uma avaliação própria quanto a sua
sustentabilidade ambiental. Já a dimensão social ou sustentabilidade social é
entendida como a consolidação de um processo de desenvolvimento baseado em
outro tipo de crescimento e orientado por outra visão do que é a boa sociedade.
O objetivo desta dimensão, portanto, é o de construir uma civilização do “ser”, em
que exista maior equidade na distribuição do “ter” e da renda, de modo a melhorar
substancialmente os direitos e as condições de amplas massas de população e a
reduzir a distância entre os padrões de vida de abastados e não-abastados.

Existe uma preocupação emergente baseada no bem-estar humano para


que seja aumentada a qualidade de vida das pessoas. Uma das iniciativas sociais
neste sentido é o movimento para promover a igualdade de renda, que, na
atualidade, diminui a diferença entre os níveis sociais e melhora o estilo de vida
social da população.

E, na terceira dimensão, temos a sustentabilidade econômica, que é


possibilitada por uma alocação e gestão mais eficientes dos recursos e por um
fluxo regular do investimento público e privado. Uma condição fundamental para
tanto é superar as atuais condições externas, decorrentes de uma combinação de
fatores negativos como o ônus do serviço da dívida e do fluxo líquido de recursos
financeiros do Sul para o Norte, as relações adversas de troca, as barreiras

22
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

protecionistas ainda existentes nos países tidos industrializados e, finalmente, as


limitações do acesso à ciência e à tecnologia. Assim, a eficiência econômica deve
ser avaliada mais em termos macrossociais a que apenas por meio de critérios de
lucratividade empresarial.

O pilar econômico deve ser avaliado mais em termos macrossociais do


que apenas por meio de critérios pontuais de lucratividade empresarial, com o
intuito de promover mudanças estruturais que atuem como estimuladores do
desenvolvimento humano sem comprometer o meio ambiente natural. Assim,
será possível agir de forma consciente, promovendo um novo modelo de
desenvolvimento baseado na economia da permanência, reduzindo a poluição e
aumentando a qualidade de vida de todos.

1 Descreva e explique cada uma das três dimensões contidas no


conceito do tripé da sustentabilidade, do Triple Bottom Line.

Desta forma, podemos entender que existe uma busca por parte das
empresas na adoção de práticas que atendam estas três dimensões, ambiental,
social e econômica. Porém, sabe-se que mesmo buscando o equilíbrio, este tripé
por vezes está mais direcionado para a área econômica, social ou ambiental
dependendo do momento em que vive a empresa. Pensando nestas perspectivas
existem diversas metodologias que apoiam as empresas que buscam práticas
sustentáveis, como a Produção Limpa aplicada no setor produtivo das indústrias
de transformação.

2.3 SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL


Ao pensarmos na dimensão ambiental da sustentabilidade, deparamo-nos
com macro questões, como o aquecimento global, a destruição da camada de
ozônio, o consumo de energia e o aumento da produção industrial. Todas essas
preocupações devem estar presentes no dia a dia das indústrias e, também, das
pessoas. Afinal, chegamos a este ponto devido a comportamentos individuais e
coletivos, que precisam ser ajustados para garantirmos um futuro próspero.

23
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Ao falarmos de comportamento individual e para refletir


sobre a sustentabilidade, assista o vídeo da ONU sobre
cinco formas de ser mais sustentável no link: https://youtu.
be/2NwZyszcdEY?list=PLUZOt6bFc2fiWCrPx_O06yeCnKjGIEdr8.

Nesse sentido, devido à velocidade das mudanças, faz se necessário na


mesma velocidade a avaliação e criação de soluções para esta nova realidade
de produção e consumo. No entanto, não é isso que observamos na prática, pois
algumas soluções até são criadas, mas a grande dificuldade está na capacidade
das indústrias de absorver e inserir novas tecnologias, diferentes formas de
produção, novas formas de descarte, uso de materiais diferenciados, entre outros.

Nesta perspectiva, observamos que existe um limite de utilização dos


recursos naturais para que estes sejam preservados. Como forma de exemplificar
esta realidade, basta analisarmos as ações que alguns países adotam nesse
sentido de tentar preservar os seus recursos, entre elas, podemos destacar:
limitar o crescimento da população, garantir água, alimentos e energia a longo
prazo, preservar a biodiversidade, usar fontes de energia renovável, controlar
a urbanização e integrar as regiões do campo, as cidades menores e atender
a população em suas necessidades de saúde, escola e moradia. Todas estas
práticas evidenciam a importância da questão ambiental e de estratégias que
promovam o desenvolvimento sustentável.

Porém, o que sabemos é que o atual modelo de crescimento econômico


gerou enormes desequilíbrios, se, por um lado, nunca houve tanta riqueza e
fartura no mundo, por outro lado, a miséria, a degradação ambiental e a poluição
aumentam dia a dia. Diante desta constatação, surge a ideia do Desenvolvimento
Sustentável, buscando conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação
ambiental e, ainda, com o fim da pobreza no mundo.

24
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

Para tentar promover um mundo mais equilibrado com proteção


ambiental e desenvolvimento econômico, surgiu a Agenda 21 criada
na conferência Rio 92, que serviu de base para outros documentos
vinculados à sustentabilidade. A agenda foi um marco e um grande
primeiro passo, pois, na oportunidade, mais de 170 países se
comprometeram com um conjunto de metas para a criação de
um mundo mais sustentável. Agora, temos a Agenda 2030 de
desenvolvimento sustentável, que também agrega um conjunto de
metas a serem alcançadas. A Agenda 2030 de desenvolvimento
sustentável está disponível no link http://www.agenda2030.org.br/
sobre/.

De forma prática, dentro das indústrias, se analisarmos as questões


ambientais vamos nos deparar, inicialmente, com o centro do sistema produtivo
que é a produção de bens. Para minimizar e diminuir os impactos gerados por
sistemas produtivos alinhados a outras premissas como a abundância e o uso
ilimitado dos recursos naturais, é necessário buscar formas mais sustentáveis
de produção. Uma das formas de caminhar na direção do pilar ambiental da
sustentabilidade é por meio do uso da metodologia conhecida como produção
mais limpa, que busca soluções nos processos produtivos das indústrias, com
foco principal na origem da geração de resíduos.

A produção mais limpa é uma estratégia aplicada na produção e nos


produtos a fim de economizar e maximizar a eficiência do uso de energia,
matérias-primas e água e, ainda, minimizar ou reaproveitar resíduos gerados. Ela
tem procedimentos simples e econômicos, podendo chegar a um número maior
de empresas, pois a análise é feita compreendendo apenas a unidade fabril em
questão, sem considerar a cadeia produtiva como um todo, ou seja, fornecedores
e clientes não são foco de estudo.

Segundo o Comitê Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável


(CEBDS) (CEBDS, 2005), a produção mais limpa, com seus elementos essenciais,
adota uma abordagem preventiva em resposta à responsabilidade financeira
adicional, trazida pelos custos de controle da poluição, assim como auxilia as
empresas a adotarem práticas de fabricação através de um novo conceito de
produção e consumo.

A produção mais limpa pode ser considerada uma forma de produzir melhor
gastando menos, e que nem sempre a alteração em um processo depende de

25
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

investimentos financeiros. Dessa forma, a produção mais limpa propõe que as


indústrias invistam em tecnologias para redução de resíduos. Para isto, existe
uma metodologia que auxilia o processo. O desafio das empresas é colocar entre
seus planos estratégicos a produção mais limpa, que pode trazer benefícios
ambientais, econômicos e de saúde ocupacional. Para tanto, é necessária
uma mudança de atitude de todos, desde os níveis de diretoria até os níveis
operacionais. A metodologia da produção mais limpa envolve algumas etapas,
são elas:

a) planejamento e organização – comprometimento da direção e dos


funcionários e formação de equipes de trabalho;
b) pré-avaliação e diagnóstico – estabelecimento de metas para produção
mais limpa e elaboração de fluxogramas, com avaliação de entradas e
saídas;
c) avaliação da produção mais limpa – identificar as ações que podem
ser implementadas imediatamente e as que necessitam de análises
adicionais mais detalhadas, através de balanços materiais e de energia
e informações das fontes e causas da geração de resíduos e emissões;
d) estudo de viabilidade técnica, econômica e ambiental – selecionar as
oportunidades viáveis e documentar os resultados esperados;
e) implementação e plano de continuidade – implementar as opções
selecionadas e assegurar atividades que mantenham a produção mais
limpa, monitorar e avaliar as oportunidades implementadas, assim como
planejar atividades que assegurem a melhoria contínua com a produção
mais limpa.

Nesse sentido, a Figura 4 apresenta a lógica da metodologia de implantação


da produção mais limpa.

FIGURA 4 – METODOLOGIA DE IMPLANTAÇÃO DA PRODUÇÃO MAIS LIMPA

FONTE: Adaptado de Kraemer (2002).

O esquema apresentado na Figura 4 pode ser considerado um pequeno


exemplo de uma metodologia em prol ao desenvolvimento ambiental sustentável
dentro das indústrias. Porém, sabemos que um conjunto de ações é o que torna

26
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

uma indústria ambientalmente correta e responsável. Um outro exemplo a ser


destacado, que também é utilizado pelas indústrias é o Sistema de Gestão
Ambiental (SGA). O SGA é um conjunto de ações e diretrizes para que a
indústria implemente de maneira correta as normas, legislações e boas práticas
que possibilitam avaliar e controlar os impactos ambientais de suas atividades,
processos, produtos e serviços.

A intenção do SGA é permitir que a empresa alinhe suas estratégias e


ações com a preservação do meio ambiente. Com a necessidade mundial de ser
mais sustentável e com os consumidores cada vez mais exigentes, buscando
empresas que tenham cuidado com a natureza e o meio ambiente, o sistema de
gestão ambiental pode ser uma resposta para estruturar as ações da empresa e
dar uma resposta mensurável para a sociedade e seus consumidores.

Além de se portar de forma sustentável o SGA também permite a redução de


desperdícios e a redução de custos de produção para a empresa. Para entender
essa lógica, é só pensarmos em uma indústria que utiliza muitos litros de água
em seu processo produtivo. Caso ela inicie um processo de reaproveitamento
de água, ela estará reduzindo custos e, ao mesmo tempo, preservando um
importante recurso natural.

Outro exemplo é a separação correta dos resíduos. Quando eles não são
separados, tem como destino o aterro comum, mas, ao serem selecionados,
podem ser vendidos como insumos para outras indústrias. É o caso do metal,
plástico, vidro, papel, madeira, tecido, entre outros. Para implementar um SGA,
a principal referência é a ISO 14.001, uma norma da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT), que especifica os requisitos para um SGA. Com estes
requisitos, a empresa passa a compor uma estrutura para avaliar, controlar e
monitorar os impactos ambientais de sua atividade.

Nesse sentido, para alcançar e cumprir com os requisitos estabelecidos, a


empresa necessita estabelecer uma política ambiental para apresentar os seus
compromissos com o meio ambiente. Ter um ciclo de planejamento, execução,
verificação e melhoria para atingir as metas e objetivos traçados pela organização.
Além disso, deve haver uma participação efetiva da alta gestão da empresa, que
deve avaliar de tempos em tempos como está o sistema de gestão ambiental e
realizar os ajustes necessários.

27
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Para exemplificar a implantação de um sistema de gestão


ambiental no ambiente industrial, leia o estudo de caso de uma indústria
de papel que implementou a ISO 14.001. Link: https://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-23112017000200274.

Uma outra iniciativa na busca de caminhos sustentáveis, que também


é muito conhecida por sua ampla divulgação, é o crédito de carbono, que é a
redução de emissões de gases que causam o efeito estufa. Este crédito pode
ser concedido para uma pessoa ou para uma empresa. Um crédito de carbono
equivale a uma tonelada de carbono que não foi emitida na atmosfera. Esses
créditos podem ser comercializados no mercado mundial de carbono. Ao comprar
créditos de carbono, um país ou uma empresa tem a permissão para emitir gases
do efeito estufa. No entanto, é necessário obedecer às legislações estabelecidas
pelos países com os limites estabelecidos de emissões.

Para entender um pouco melhor sobre as emissões de carbono


e o efeito estufa e, também, para refletir se o seu comportamento tem
cooperado com a conservação do meio ambiente, assista o vídeo
sobre pegada de carbono no link: https://youtu.be/s2yhSTcBGMI.

Para traçar um caminho sustentável, é necessário, além de sistemas e


boas práticas, uma forma de medir a sustentabilidade. Neste sentido, é preciso
estabelecer métricas e sistemas de medição para avaliar se a rota traçada
está correta ou se precisa de ajustes, porém, uma questão que surge é: como
medir a sustentabilidade? Quais aspectos avaliar? Acredita-se que, medindo as
ações, é possível ter uma visão do presente e subsídios para tomar decisões no
futuro. Para começar, um bom caminho é o estabelecimento de indicadores, sim,
indicativos que apontam para onde uma indústria está caminhando.

Os indicadores, dentro do contexto industrial, têm um papel de demonstrar


pontos passíveis de melhoria, que, se trabalhados pelas indústrias, podem
promover avanços em prol do meio ambiente, além de proporcionar espaços

28
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

para reflexão de uma forma de atuação industrial mais consciente. Nas métricas
ambientais, os indicadores permitem visualizar a sustentabilidade como fator
competitivo e determinante para as indústrias que desejam destaque em um
mercado mundialmente acirrado.

Formas de avaliar e medir os impactos ambientais podem ser consideradas


um caminho interessante para as indústrias atingirem patamares mais equilibrados
entre a atividade industrial e o meio ambiente. A seguir, conheceremos algumas
formas de medição.

3 MÉTRICAS DE SUSTENTABILIDADE
Para se compreender melhor um cenário, uma situação, existem mecanismos
para medir e quantificar as atividades e ações, que são chamados de indicadores.
Eles permitem que as empresas tenham uma visão mais ampla e uma tomada
de decisão mais assertiva. Ao se estabelecer indicadores, é possível tirar uma
fotografia da situação atual, e, com as informações obtidas redirecionar atividades,
rever processos e impulsionar melhorias dentro das empresas.

3.1 INDICADORES
Os indicadores possibilitam conhecer verdadeiramente a situação que se
deseja modificar, estabelecer as prioridades, escolher os beneficiados, identificar
os objetivos e traduzi-los em metas e, assim, acompanhar melhor o andamento
dos trabalhos, avaliar os processos, adotar os redirecionamentos necessários e
verificar os resultados e os impactos obtidos. Com isso, aumentam as chances de
serem tomadas decisões corretas e de se potencializar o uso dos recursos.

Um indicador ajuda a compreender em que ponto se está, qual o caminho


a ser seguido e a que distância se está da meta estabelecida. O indicador ajuda
a identificar os problemas antes que se tornem insuperáveis, e auxiliam na sua
solução. Para que um indicador seja efetivo, é necessário que seja relevante,
refletindo o sistema que precisa ser conhecido, fácil de ser entendido, confiável e
baseado em dados acessíveis (HART, 2005).

Para ser relevante e representativo, os tomadores de decisão de uma


empresa e demais envolvidos no processo precisam considerar importante o
indicador. Apenas com o comprometimento de todos e a certeza de que a coleta
de determinado dado fará a diferença nas atividades, é possível se estabelecer
um ambiente de melhoria. As pessoas não devem olhar para o indicador como
mais trabalho, mas sim como uma oportunidade de melhoria para seus processos.

29
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Um indicador é capaz de resumir diversas informações para uma pessoa


que o observa e, também, pode ajudar a sinalizar a indicar a direção a ser
seguida. Aquilo que é medido tende a se tornar relevante. Indicadores surgem de
valores e geram valores, e podem ser usados como instrumentos de mudança,
aprendizagem e propaganda (MEADOWS, 1998).

Os indicadores são informações que apontam características de uma ação,


atividade ou ambiente. Eles podem ser compostos por uma variável ou um
conjunto de variáveis. São medições baseadas em mais de um dado. Bellen
(2006) define variável como uma representação operacional de um atributo
(qualidade, característica, propriedade) de um sistema.

Embora os indicadores sejam apresentados na maioria das vezes em forma


estatísticas ou gráficos, eles são distintos dos dados primários. Segundo Bellen
(2006), os indicadores e índices mais agregados estão no topo de uma pirâmide
de informações cuja base são os dados primários derivados do monitoramento e
da análise das medidas e observações, conforme Figura 5.

FIGURA 5 – PIRÂMIDE DE INFORMAÇÕES

FONTE: Adaptado de Bellen (2006).

Para Bellen (2006), o objetivo dos indicadores é agregar e quantificar


informações de modo que sua significância fique mais aparente. Eles simplificam
as informações sobre fenômenos complexos, tentando melhorar com isso o
processo de comunicação sobre eles de forma mais compreensível e quantificável.
Um indicador relevante deve possuir algumas destas características (OCDE,
1993):

30
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

• Ser simples e fácil de interpretar.


• Fornecer um quadro representativo da situação.
• Mostrar tendências ao longo do tempo.
• Responder a mudanças do sistema.
• Fornecer base para comparações.
• Ser nacional ou aplicável a regiões que tenham relevância.
• Estar associado a uma meta ou valor limite de tal modo que os usuários
possam comparar e avaliar o significado dos valores observados.

A utilização de indicadores para avaliar a dinâmica de um sistema complexo


(ambiente, organização, território, entre outros) deve levar em conta os objetivos
essenciais para os quais o indicador foi concebido. Basicamente, um indicador
pode ter como objetivos (OCDE, 1993), (IISD,1999), (BELLEN, 2006):

• Definir ou monitorar a sustentabilidade de uma realidade.


• Facilitar o processo de tomada de decisão.
• Evidenciar em tempo hábil modificação significativa em um dado sistema.
• Caracterizar uma realidade, permitindo a regulação de sistemas
integrados.
• Estabelecer restrições em função da determinação de padrões.
• Detectar os limites entre o colapso e a capacidade de manutenção de
um sistema.
• Tornar perceptíveis as tendências e as vulnerabilidades.
• Sistematizar as informações, simplificando a interpretação de fenômenos
complexos.
• Ajudar a identificar tendências e ações relevantes, bem como avaliar o
progresso em direção a um objetivo.
• Prever o status do sistema, alertando para possíveis condições de risco.
• Detectar distúrbios que exijam o replanejamento.
• Medir o progresso em direção à sustentabilidade.

Ao ser selecionado um indicador e/ou ao se construir um índice, tal


como quando se utiliza um parâmetro estatístico, ganha-se em clareza e
operacionalidade, e perde-se em detalhe da informação. Os indicadores e os
índices são projetados para simplificar a informação sobre fenômenos complexos
de modo a melhorar a comunicação.

Ao se pensar em indicadores de sustentabilidade, indicadores ambientais,


deve-se verificar as formas existentes de avaliação da sustentabilidade e do meio
ambiente. Dentro das indústrias podemos citar o uso de alguns indicadores como:
a quantidade de água utilizada no processo produtivo; a quantidade de energia
utilizada em uma fábrica; quais fontes de energia são utilizadas; níveis de seleção
de resíduos; uso de tratamento de efluentes, dentre outros.

31
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Para exemplificar os indicadores ambientais utilizados por


uma indústria, leia o estudo que apresenta alguns indicadores de
indústrias dos setores de celulose, têxtil, automotivo, madeireiro e de
metais sanitários, disponível no seguinte link: https://siambiental.ucs.
br/congresso/getArtigo.php?id=84&ano=_quinto#:~:text=Foram%20
considerados%20como%20indicadores%20principais,Tipos)%20
( Ta b e l a % 2 0 2 ) . & t e x t = O s % 2 0 s e c u n d % C 3 % A 1 r i o s % 2 0
ser%C3%A3o%20classificados%20de,nas%20empresas%20
(Tabela%203).

3.2 INDICADORES DE
SUSTENTABILIDADE E
BIOINDICADORES
Indicadores de sustentabilidade devem ser mais do que indicadores
ambientais e só se transformam nisto através da incorporação da perspectiva
temporal, limite ou objetivo. Assim como indicadores de desenvolvimento
sustentável, devem representar mais do que crescimento econômico, expressando
também eficiência, suficiência, equidade e qualidade de vida (SIENA, 2002). Os
indicadores de sustentabilidade identificam até que ponto os objetivos sustentáveis
são atendidos, sejam eles econômicos, sociais ou ambientais.

Constituem de ferramentas relevantes os indicadores de sustentabilidade, por


avaliarem o desempenho de uma empresa ou indústria, considerando a variedade
disponível de indicadores e os níveis diversos de complexidade a ser aplicado
em qualquer uma delas, cujos índices, desde que planejados, possam melhorar
o funcionamento e desenvolvimento (AL-SHARRAH; ELKAMEL; ALMANSSOOR,
2010). Para exemplificar a categorização dos indicadores ambientais, sociais
e econômicos, abordaremos brevemente sobre Pressão-Estado-Resposta
(PER) para exemplificar a categorização dos indicadores ambientais, sociais e
econômicos.

O modelo PER é utilizado na análise de indicadores da área ambiental e do


Desenvolvimento Sustentável, estando fundamentado em um marco conceitual
que aborda os problemas ambientais segundo uma relação de causalidade.
Os indicadores desenvolvidos pelo modelo buscam responder a três questões

32
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

básicas: o que está acontecendo com o ambiente (Estado); por que isso ocorre
(Pressão) e o que a sociedade está fazendo a respeito (Resposta) (CARVALHO;
BARCELLOS, 2010). Na Figura 6, está sistematizado o modelo PER, segundo a
OECD.

FIGURA 6 – SISTEMA PRESSÃO-ESTADO-RESPOSTA

FONTE: OECD (1993, s. p).

De acordo com a OCDE (1993), o método PER apresenta a vantagem de


evidenciar os elos entre a atividade humana e o ambiente e, ajudar os tomadores
de decisão e o público a perceber a interdependência entre as questões ambientais
e as outras, sem, todavia, esquecer que existem relações mais complexas nos
ecossistemas e nas interações entre o meio ambiente e a sociedade. Segundo
Lira (2008), no modelo PER, os indicadores são divididos em três categorias:

• Indicadores da pressão ambiental, que descrevem as pressões das


atividades humanas sobre o ambiente, incluindo a quantidade e
qualidade dos recursos naturais.
• Indicadores das condições ambientais ou de estado que se referem à
qualidade do ambiente e à qualidade e quantidade dos recursos naturais.
Eles devem fornecer uma visão da situação do ambiente e sua evolução
no tempo, não das pressões sobre ele.
• Indicadores das respostas sociais que são medidas que mostram
a resposta da sociedade às mudanças ambientais, podendo estar
relacionadas à prevenção dos efeitos negativos da ação do homem sobre
o ambiente, à paralisação ou reversão de danos causados ao meio, e à
preservação e conservação da natureza e dos recursos naturais.

33
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Nesse sentido, a Figura 7 apresenta a estrutura PER e as relações existentes


entre seus elementos.

FIGURA 7 – ESTRUTURA PER

FONTE: Adaptado de Maranhão (2007).

Ao observarmos o modelo PER, percebemos que ele retrata as conexões


entre o ambiente e a atividade humana e, também, possibilita a visão ampla
de vários elementos de um problema ambiental. Por outro lado, as limitações
do modelo são a falta do estabelecimento de metas a serem atingidas; o olhar
limitado das pressões no ambiente causadas apenas pela ação humana; e a
simplificação de situações complexas que são observadas de forma linear.

Outra forma de mensurar as ações ao meio ambiente são os bioindicadores,


que, de uma forma ampla, referem-se aos seres vivos da natureza utilizados para
avaliar a qualidade ambiental. Considerando o uso desenfreado dos recursos
naturais, o qual tem promovido uma degradação do meio ambiente, como a
contaminação dos mares e dos rios, a poluição do ar, o esgotamento do solo, a
extinção de espécies dentre tantos outros, percebemos que todo o movimento
contribui em prol de um desequilíbrio ecológico que pode ser prejudicial e
comprometer até mesmo a própria vida humana.

Nesse sentido, a interação de uma forma sustentável com a natureza vem


ganhando força e se transformando em um dos grandes objetivos dos indivíduos,
sociedade, empresas, organizações e países. Os bioindicadores ajudam a
quantificar se o meio ambiente está sofrendo com as nossas intervenções,
pois, por meio de seres vivos, é possível medir as alterações do ambiente. Ao
se constatar a presença, ausência ou abundância de determinados seres vivos
34
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

em determinado ambiente pode ser um indicador de alguma degradação,


contaminação que pode ser prejudicial para o meio ambiente atual e futuro.

Existem diversos seres que podem atuar como bioindicadores. É


interessante que eles sejam sensíveis ao desequilíbrio ambiental e que sejam
de fácil monitoramento. Os bioindicadores permitem uma avaliação mais
confiável e segura da qualidade ambiental. Ao medir um ambiente e identificar as
características físicas e químicas, é possível retratar uma condição de uma forma
pontual, de se obter uma fotografia da situação atual.

Por outro lado, os bioindicadores permitem perceber as consequências da


ação do homem no meio ambiente e a ação dos seres vivos da natureza podem
ajudar na diminuição dos impactos provocados pelo ser humano.

Ao pensarmos na indústria alimentícia, sabemos da importância


da segurança alimentar e por sua vez do equilíbrio ambiental.
Por isso para que um produto esteja de acordo com as normas
estabelecidas, é necessário iniciar o monitoramento lá na agricultura,
na plantação dos alimentos, observando o controle das pragas
nas plantações, e isso pode ser realizado com os bioindicadores.
Outro fator importante é o controle de qualidade de produtos
agrícolas que pode ser assegurado pelas análises microbiológicas.
Veja esse exemplo para realizar o controle de pragas, por meio de
indicadores. Link: https://foodsafetybrazil.org/gestao-e-indicadores-
de-controle-de-pragas/#:~:text=Um%20bom%20controle%20de%20
pragas,dados%20e%20um%20hist%C3%B3rico%20de

Para tornar mais clara a atuação dos bioindicadores abaixo, seguem alguns
exemplos em diferentes ecossistemas. No solo, por exemplo, temos como um
bioindicador as minhocas, pois elas podem ser prejudicadas em solos com
contaminações ambientais ou com falta de nutrientes. A minhoca colabora para a
fertilidade do solo e, por isso, sua presença é tão importante. O monitoramento de
bactérias e fungos no solo permite maior produtividade e um uso mais sustentável
do solo.

No ar, a associação entre fungos e algas formam os chamados liquens, que


são indicadores da qualidade do ar. Os liquens só conseguem se desenvolver em

35
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

locais úmidos e sem poluição, por isso, são um bioindicador para ar puro e de
qualidade. Na água, um exemplo clássico é a maré vermelha, que ocorre quando
algas vermelhas e marrons se proliferam de forma desordenada. Estes tipos de
algas são tóxicas e provocam alterações de temperatura da água e salinidade,
normalmente causado pelo direcionamento do esgoto no mar.

Os bioindicadores ressaltam para nós que a própria natureza se regulariza,


com uma capacidade incrível de emitir sinais. Cabe ao ser humano observar e
interpretar estes indicativos e traçar caminhos mais sustentáveis de uso destes
recursos essenciais.

1 Descreva o que é um bioindicador e qual a sua importância para


o meio ambiente.

Ao observarmos os diversos indicadores de sustentabilidade, é interessante


realizar uma análise das vantagens e desvantagens da aplicação de indicadores
que buscam promover o desenvolvimento sustentável. Na tabela 1 a seguir estão
descritas algumas vantagens e limitações.

TABELA 1 – SÍNTESE DE ALGUMAS VANTAGENS E LIMITAÇÕES DA


APLICAÇÃO DE INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

FONTE: DGA (2000, s. p.).

36
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

3.3 AVALIAÇÃO DA
SUSTENTABILIDADE
Com um conjunto de indicadores, é possível formar métodos e formas de
avaliar os impactos causados pela ação humana no meio ambiente. Para isso,
existem diversos métodos e ferramentas utilizados pelas empresas para verificar
se estão trilhando o caminho de práticas mais sustentáveis.

Um dos desafios para se alcançar o desenvolvimento sustentável,


perpassa, necessariamente, pela criação de ferramentas capazes de avaliar a
sustentabilidade em suas diferentes perspectivas, além de prover informações
relevantes ao processo de tomada de decisão. Assim, indicadores de
desenvolvimento sustentável são tidos como instrumentos essenciais para guiar a
ação e subsidiar o acompanhamento e a avaliação do progresso alcançado rumo
ao desenvolvimento sustentável (IBGE, 2010).

Vale destacar que as ferramentas e, principalmente, os indicadores


de desenvolvimento sustentável servem como um meio para se atingir a
sustentabilidade e não como um fim em si mesmos. Os indicadores e as
ferramentas acrescentam mais pelo que apontam do que pelo seu valor absoluto,
e são mais úteis quando analisados em seu conjunto do que pelo exame individual
de cada indicador.

Os indicadores devem simplificar as informações sobre fenômenos


complexos, buscando melhorar o entendimento e comunicação sobre estes.
Podem ser quantitativos ou qualitativos, sendo que existem autores que
preconizam a utilização de indicadores qualitativos como mais adequados para
avaliar as experiências referentes a sustentabilidade (VAN BELLEN, 2002). Em
alguns casos, avaliações qualitativas podem ser transformadas em uma notação
quantitativa.

No contexto mundial, a avaliação do desenvolvimento


sustentável conta com alguns direcionamentos já consolidados,
um exemplo é o documento intitulado Indicators of sustainable
development: framework and methodologies, publicado pela
Comissão para o Desenvolvimento Sustentável (CSD) das Nações
Unidas. Em sua terceira edição, o documento, também conhecido
como Livro Azul, contém uma proposta de 50 indicadores essenciais
e outros 46 complementares, além de recomendações metodológicas

37
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

para avaliação do desenvolvimento sustentável e está disponível no


link: https://www.un.org/esa/sustdev/csd/csd9_indi_bp3.pdf.

A maioria das avaliações de desenvolvimento sustentável faz uso da proposta


de indicadores contida no Livro Azul das Nações Unidas. Um dos benefícios
decorrentes é a disponibilização de informações consolidadas, unificadas e que
permitem comparações entre diferentes países.

Ainda que alguns dos indicadores propostos sejam passíveis de adaptação


para o contexto corporativo, a avaliação do desenvolvimento sustentável nas
organizações ainda não conta com a disponibilidade de documentos referenciais
já consolidados. Ainda assim, existem algumas iniciativas que estão sendo
amplamente utilizadas no meio empresarial corporativo, bem como ferramentas
de avaliação que podem servir como inspiração para a construção de indicadores
adequados à realidade e especificidades do público-alvo desejado.

No Quadro 2, estão descritas algumas iniciativas e ferramentas de avaliação


comumente utilizadas por organizações empresariais e industriais. Esse
levantamento se torna relevante para proporcionar uma visão geral dos diferentes
tipos de iniciativas e ferramentas.

QUADRO 2 – FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE CORPORATIVA


IDENTIFICAÇÃO PAÍS DE ORI- DESCRIÇÃO
GEM
Indicadores de Responsab- Argentina Guia de autoaplicação para grandes
ilidade Social Empresarial empresas. Inclui correlação com
(IARSE) os princípios do Pacto Global das
Nações Unidas.
IARSE para Pequenas e Argentina Ferramenta de autoavaliação e
Médias Empresas (PMEs) planejamento para PMEs.
IARSE para Empresas Co- Argentina Guia de primeiros passos em re-
operativas de Usuários sponsabilidade social para empre-
sas cooperativas de usuários.
Conselho Boliviano de Re- Bolívia Publicação colocada à disposição
sponsabilidade Social Em- pelo IARSE a partir de uma a adap-
presarial (COBORSE) tação feita pela organização argen-
tina dos IARSE, publicado pelo In-
stituto Ethos de Responsabilidade
Social Empresarial.
Instituto Brasileiro de Aná- Brasil Demonstrativo numérico sobre as
lises Sociais e Econômicas atividades sociais das empresas
(IBASE) em forma de tabela de uma página.
De fácil preenchimento, permite a
verificação dos dados e a compara-
ção com outras empresas.
38
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

Escala Akatu de Respons- Brasil Escala que propõe um conjunto de


abilidade Social Empresar- 60 referências Akatu – Ethos de Re-
ial sponsabilidade Social Empresarial
(RSE) que, uma vez respondidas,
permite às empresas serem catego-
rizadas em quatro grupos homogê-
neos em sua prática de responsab-
ilidade social.
Bolsa de Valores Sociais e Brasil Programa pioneiro no mundo,
Ambientais (BOVESPA) lançado pela Bovespa – Bolsa de
Valores de São Paulo, para apoiar
projetos na área da educação e
do meio ambiente, apresentados
por ONGs brasileiras, por meio da
reprodução do mesmo ambiente
de uma bolsa de valores, visando
promover melhorias nas perspecti-
vas sociais e ambientais do País. A
ideia é unir organizações não-gov-
ernamentais que precisem de re-
cursos financeiros e de investidores
(doadores) dispostos a provê-los.
Indicadores ETHOS de Re- Brasil Ferramenta de autodiagnóstico cuja
sponsabilidade Social Em- principal finalidade é auxiliar as em-
presarial presas a gerenciarem os impactos
sociais e ambientais decorrentes de
suas atividades.
Matriz Brasileira de Evidên- Brasil Análise que relacione aspectos da
cias de Sustentabilidade – sustentabilidade com reconhecidos
ETHOS fatores de sucesso nos negócios.
Matriz de Critérios Essenci- Brasil Matriz que procura identificar um
ais de SER e seus Mecanis- conjunto de critérios essenciais de
mos de Indução – ETHOS responsabilidade social empresari-
al e os diversos agentes indutores,
no Brasil, que contribuem para a
adoção de práticas de gestão so-
cialmente responsáveis.
Indicadores GIFE de Brasil Conjunto de indicadores para aval-
Gestão do Investimento iação da gestão do investimento so-
Social Privado – GIFE cial da organização.
Manual de Indicadores de Brasil Ferramenta de análise, planeja-
Responsabilidade Social mento e acompanhamento das
das Cooperativas – FIDES práticas de responsabilidade social
das cooperativas.

39
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Instrumento para aval- Brasil Instrumento que sintetiza a com-


iação da sustentabilidade preensão histórica e das tendên-
e planejamento estratégico cias futuras (estado da arte) de
– FDC articulação entre os conceitos e
práticas sobre Sustentabilidade e
Planejamento Estratégico (SPE),
possibilitando, dessa maneira, o
estabelecimento de uma pauta para
o encontro entre as premissas do
movimento pelo desenvolvimento
sustentável e a função de planeja-
mento nas organizações.
Indicadores de Responsab- Chile Ferramenta prática que permite às
ilidade Social Corporativa – empresas avaliar o nível de desen-
ACCIÓN volvimento de suas estratégias,
políticas e práticas nos distintos
âmbitos que envolvem a respons-
abilidade de um bom cidadão cor-
porativo.
Manual de SER para PMEs Chile Manual orientado para as pequenas
– PROHUMANA e médias empresas chilenas, que
aspiram a adotar de maneira grad-
ual estratégias de responsabilidade
social que as levem a alcançar mel-
horas em sua gestão e obter um
desenvolvimento humano suste-
ntável.
Sistema de Gestión de Colômbia Conjunto de instrumentos que
Responsabilidad Integral permite administrar, com um enfo-
(SGRI) que mais sistemático, os esforços
necessários para atingir, com êxi-
to, o desenvolvimento sustentável
e a responsabilidade social dos
negócios.
Índice CCRE - Centro Co- Colômbia O índice CCRE é uma ferramenta
lombiano de Responsabili- que avalia o estado das práticas
dade Empresarial de Responsabilidade Social que
desenvolve a empresa com seus
grupos de interesses e a congruên-
cia de seus processos, políticas e
princípios corporativos dentro de
esquemas de gestão socialmente
responsáveis.
Indicadores de Respons- Equador Indicadores que permitam quan-
abilidade Social do Consor- tificar o grau de responsabilidade
cio Ecuatoriano para la RS social das empresas, fundações,
(CERES) universidades, entre outras organi-
zações.

40
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

Manual de Autoevaluación Uruguai Indicadores de Responsabilidade


de la Responsabilidad So- Social Empresarial.
cial Empresarial – DERES
Modelo de Responsabili- Peru Ilustração prática da aplicação da
dade Social Peru 2021 responsabilidade social que inclui
uma revisão do conceito de re-
sponsabilidade social, as ações
que devem ser executadas pela
empresa junto a cada um dos seus
stakeholders ou grupos de inter-
esse, e os benefícios gerados por
estas ações, tanto para o grupo de
interesse impactado como para a
própria empresa.
Indicadores de Responsab- Costa Rica Ferramenta de autodiagnóstico que
ilidade Social Empresarial tem o intuito de rever a gestão da
para Costa Rica - AED empresa em cada uma das áreas
que demanda uma conduta social-
mente responsável.
Autoavaliação de Práticas El Salvador Objetivo de contribuir para o desen-
de SER – FUNDEMAS volvimento econômico e social de
El Salvador, mediante o fortaleci-
mento da Responsabilidade Social
da empresa privada, da promoção
da filantropia empresarial e do fo-
mento dos comportamentos em-
preendedores.
IndicaRSE 2006 – CEN- Guatemala Instrumento de autoavaliação que
TRARSE mede a aplicação de políticas e
práticas de RSE.
AutoevaluaRSE – CEDIS Panamá Indicadores para autoavaliação da
responsabilidade social.
The Good Company – Ca- Canadá Questionário e diretrizes que for-
nadian Business for Social mulam um conjunto de práticas que
Responsibility (CBSR) podem ser facilmente aplicadas
por pequenas, médias e grandes
empresas que desejam melhorar
a gestão da sua responsabilidade
social.
SD Planner – Global Envi- EUA Ferramenta de autodiagnóstico,
ronmental Management Ini- automatizada, desenhada para aju-
tiative (GEMI) dar as empresas a avaliar, plane-
jar e integrar o desenvolvimento
sustentável em seus processos de
negócio.

41
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Global Citizenship 360 – EUA e Japão Software que permite melhor de-
Future 500 (GC 360) sempenho e estratégia de respons-
abilidade social corporativa e ajuda
a aprimorar relatórios de sustentab-
ilidade e no modelo proposto pela
GRI.
Indicadores de Instituciona- México Indicadores para que as organi-
lidad y Transparencia – CE- zações da sociedade civil (OSCIP),
MEFI dedicadas à assistência, promoção
e desenvolvimento social, e que lu-
tam por causas fundamentadas nos
princípios de solidariedade, filan-
tropia e corresponsabilidade social,
possam contar com um guia para
alcançar padrões de institucionali-
dade e transparência.
Integrated Management Áustria Gestão integrada de várias ferra-
Systems (IMS) (ECO4W- mentas passíveis de certificação:
ARD) ASchG, OHSAS 18001, SCC, EM-
ASVO, ISO 14001, ISO 9001:2000,
ISO 9004:2000.
Albatros – Business & Soci- Bélgica Questionário para autoavaliação da
ety Belgium gestão geral e da responsabilidade
social das empresas.
VastuunAskeleit – Finnish Finlândia É um conjunto de ferramentas que
Business & Society ajuda empresas a desenvolver a re-
sponsabilidade social corporativa.
Guide CSR Europe Allianc- França Adaptação francesa de uma ferra-
es menta desenvolvida por uma insti-
tuição de âmbito europeu destinada
a pequenas e médias empresas
que desejam avaliar e fortalecer
sua responsabilidade social corpo-
rativa.
Le Guide de la Perfor- França O guia de Desempenho Global é
mance Globale – CJD um questionário com 100 pergun-
tas que visa elaborar diagnóstico e
estabelecer um plano de ação para
tornar a empresa mais competitiva
e mais humana, e, ao mesmo tem-
po, fazer que tenha, como missão,
a preocupação de melhorar o de-
sempenho global e o da própria em-
presa.

42
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

CR Index – Business in the Reino Unido Ferramenta de benchmark que


Community (BITC) pesquisa e compara o comporta-
mento responsável das empresas,
por meio da avaliação da estraté-
gia de responsabilidade social, da
integração desta estratégia com o
negócio e do desempenho social e
ambiental da organização.
Bilan Societal – Centre França Instrumento de avaliação da gestão
des JeunesDirigeants et empresarial e, principalmente, de
Acteurs de L´EconomieSo- prestação de contas/comunicação
ciale (CJDES) às partes interessadas da conduta
das organizações sob a ótica da re-
sponsabilidade social.
Sustainability Integrated Grã-Bretanha Conjunto de diretrizes e ferramen-
Guidelines for Manage- tas para empresas que visam con-
ment (SIGMA) tribuir efetivamente para o desen-
volvimento sustentável.
Global Reporting Initiative Holanda É a primeira iniciativa em escala
(GRI) mundial que visa chegar a um con-
senso a respeito de uma série de
diretrizes de comunicação sobre a
responsabilidade social, ambiental
e econômica nas empresas. Seu
objetivo é elevar a qualidade dos
relatórios a um nível passível de
comparação, consistência e utili-
dade.
Small e Better Business Reino Unido As duas ferramentas são desen-
Journey – The Small Busi- volvidas para ajudar pequenas em-
ness Consortium presas a aumentar seus lucros com
práticas de responsabilidade social.
Small Business Journey é um guia
on-line e Better Business Journey é
um livreto.
Responsible Competitive- Reino Unido Índice que relaciona o estado da
ness Index (RCI) responsabilidade corporativa com
a competitividade das nações.
O índice revela quais os países
que estão atingindo crescimento
econômico sustentável baseado em
práticas de responsabilidade social.

43
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

The Natural Step – WHH / Suécia Guia com condições fundamentais


AntaKarana para uma sociedade sustentável,
construídas a partir de um con-
senso de cientistas , e com uma
metodologia para o planejamento
de negócios/tomada de decisões.
É destinado a empresas, organi-
zações e pessoas que desejam
contribuir para o desenvolvimento
sustentável da sociedade.
CSR Toolkit for SME – Alemanha e Conjunto de ferramentas desen-
COSORE outros volvido para apoiar consultores re-
sponsáveis pela introdução de RSE
em pequenas e médias empresas.
FONTE: Adaptado de Louette (2007).

Ao observar diversas ferramentas e técnicas para avaliar a sustentabilidade


e os aspectos ambientais, quais seriam as mais indicadas para o setor industrial?
Vale frisar que o dia a dia da indústria é repleto de indicadores, métricas e sistemas
de avaliação em seus processos produtivos, em suas vendas, desempenho de
mercado entre tantos outros.

Portanto, ao escolher uma ferramenta de avaliação, a indústria precisa estar


ciente da sua estrutura, das suas capacidades de operação para inserir um novo
processo que seja de fácil absorção e implementação, pois isso é o que garantirá
o sucesso do levantamento de dados e, consequentemente, dos indicadores
ambientais.

Muitas indústrias, com suas ferramentas de avaliação, elaboram


relatórios de sustentabilidade que sistematizam todas as suas ações
em prol ao desenvolvimento sustentável. Isso pode ser considerado,
inclusive, por muitas uma ferramenta de marketing empresarial e de
valorização da imagem e da marca da empresa. O Grupo Boticário
é uma destas indústrias que utiliza esta prática. Para conhecer
um pouco mais segue o link do relatório de sustentabilidade da
companhia: https://relatoriogrupoboticario.com.br/wp-content/
uploads/2020/12/Relatorio-Sustentabilidade-2019.pdf

44
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

Nesta linha, muitas indústrias de médio e grande porte estão utilizando


o Global Reporting Initiative (GRI), que apoia as indústrias na elaboração dos
seus relatórios de sustentabilidade. A proposta desta ferramenta é evidenciar os
impactos positivos e negativos no meio ambiente, sociedade e economia, além de
manifestar os compromissos assumidos para melhorar sua atuação.

Existem organizações que ajudam as empresas a comunicar o


impacto dos negócios frente a questões de sustentabilidade. Este é
o caso do GRI que, por meio das suas diretrizes, apoia as empresas
na construção de relatórios, os quais trazem informações relevantes
e padronizadas sobre as práticas de sustentabilidade que podem
ser comparadas entre si. Para conhecer sobre as diretrizes do GRI,
acesse o link: https://www.globalreporting.org/about-gri/regional-
hubs/gri-in-brazil/.

Normalmente, os relatórios de sustentabilidade são utilizados pelas indústrias


para desenvolver uma estratégia de gestão voltada para os indicadores sociais,
ambientais e econômicos. Assim, com os indicadores, as indústrias conseguem
estabelecer metas e realizar a gestão das mudanças necessárias para tornar
suas operações e atividades mais sustentáveis.

Os relatórios de sustentabilidade são considerados ferramentas importantes


para quantificar as ações das indústrias. Se realizados de forma periódica, são
capazes de trazer a evolução histórica das melhorias implementadas. Essas
informações são, também, fontes de divulgação e marketing que valorizam as
marcas das indústrias para os clientes, acionistas e para a sociedade.

Para alcançar uma visão positiva da sociedade perante ações de


sustentabilidade praticadas por uma indústria, é necessário o engajamento
das diferentes esferas de liderança dentro das indústrias, ou seja, desde seus
dirigentes até toda a sua base de operadores, para que, de forma conjunta, seja
construída uma atuação sólida, diferenciada e sustentável. Para atingir esse
patamar, a indústria precisa avaliar sua cultura, seus valores e sua visão frente ao
meio ambiente.

45
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

3 A CULTURA INDUSTRIAL E O MEIO


AMBIENTE
Podemos dizer que a imagem de uma indústria é formada pelo conjunto
de valores, diretrizes e premissas que acompanham a sua história e toda a sua
trajetória dentro do mercado. A cultura de uma organização pode ser entendida
como um conjunto de valores, de normas e princípios, que interage com a
estrutura e os comportamentos, criando uma maneira única de como se comporta
aquela organização, baseado em certos fundamentos e buscando determinados
resultados finais.

Uma cultura organizacional forte é resultado de uma história marcante,


de fundadores e empreendedores que tem uma visão e uma estratégia para o
empreendimento, de valores compartilhados e objetivos em comum. Com base
nesses conceitos, vamos analisar o contexto em que as indústrias estão inseridas
para compreender melhor suas ações relacionadas com o meio ambiente. Um
movimento recente de aproximação com consumidores, fornecedores, sociedade,
acionistas e todas as partes interessadas vem ocorrendo dentro das indústrias,
para entender de que forma eles percebem o valor agregado dos produtos e do
setor industrial.

Estar mais próximo destes públicos e compreender o que eles necessitam e


a forma que eles enxergam as indústrias se tornou uma estratégia de vantagem
competitiva. Nesse sentido, as indústrias que entendem e criam oportunidades
para atender às exigências desses públicos crescem e fortalecem a sua imagem
em um mercado altamente competitivo. Nesse contexto, percebemos que as
indústrias de todos os segmentos e portes devem adotar esse caminho para,
assim, se tornarem organizações que aprendem a substituir seus anteriores e
tradicionais métodos e sistemas produtivos para novas formas de produção com
foco na sustentabilidade.

Ao estabelecer o foco na sustentabilidade, as indústrias estão atendendo


aos novos comportamentos de seus clientes e consumidores, que estão cada
vez mais valorizando o consumo consciente e, também, estão caminhando em
direção a tendências mundiais de produção da economia de baixo carbono.

46
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

Para entender melhor sobre as tendências mundiais e nacionais


da indústria, acesse o documento Tendências Mundiais e Nacionais
com impacto na indústria brasileira, da Confederação Nacional da
Indústria (CNI), disponível em: https://www.portaldaindustria.com.br/
publicacoes/2018/3/tendencias-mundiais-e-nacionais-com-impacto-
na-industria-brasileira/.

Inserir práticas sustentáveis que envolvam as dimensões sociais, econômicas


e ambientais pode ser um grande desafio para as indústrias que entendem a
sustentabilidade como a adoção de estratégias de negócios e atividades que
atendam às necessidades das partes interessadas. Nesse contexto, conciliar
diferentes dimensões a interesses de diversos públicos exige uma habilidade
grande de adaptação às mudanças impostas por este novo modelo.

Diante disso, para compreender os desafios enfrentados pela indústria e


se adaptar a novos modelos, precisamos analisar a história da indústria e seus
principais marcos, para entender em que cenário e com qual cultura ela vem se
desenvolvendo ao longo dos anos. Pode não parecer, mas a trajetória pode nos
ajudar a explicar a visão que temos da indústria e os comportamentos deste setor
com o meio ambiente.

Se observamos a história da indústria, perceberemos que, com o seu


surgimento, no movimento chamado Revolução Industrial, houve uma transição
de métodos de produção artesanais para uma produção realizada por máquinas e
ferramentas. Essa revolução iniciou na Inglaterra no final do século XVIII e início
do século XIX, e, posteriormente, expandiu-se para a Europa Ocidental e Estados
Unidos.

O início das atividades industriais contribuiu para uma nova economia,


devido a invenções do tear mecânico, da máquina de fiar e de tantas outras
que alavancaram a produção de bens. Por outro lado, ocorreu um crescimento
acelerado e desorganizado das empresas que, para conseguirem concorrer e
competir, tiveram que estabelecer métodos produtivos em massa e condições de
trabalho intensas.

47
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Para entender melhor este período da Revolução Industrial e


como as indústrias trabalhavam naquela época, assista a um trecho
do filme Tempos Modernos (1936), de Charles Chaplin, que retrata
a forma de produção e as relações de trabalho neste período. Link:
https://youtu.be/4PaGw4ZRmWY.

Se o movimento da Revolução Industrial ocorreu na Inglaterra entre 1760 e


1840, no Brasil, a indústria começou a se estabelecer timidamente apenas em
1827, tendo um período de maior consistência em 1844, com incentivos por parte
do governo vigente. A indústria brasileira começou com o estabelecimento de
fábricas de tecidos nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e na Bahia, além
do segmento de metalurgia no estado de Pernambuco. Em 1850, surge, no Rio
de Janeiro, o primeiro grande conglomerado industrial, formado por uma fundição
e um estaleiro com capacidade para produzir 72 embarcações, utilizando uma
tecnologia avançada para a época, a navegação a vapor.

Em 1910, o Brasil já contava com mais de 3.900 indústrias, ainda abaixo


do seu potencial de mercado, que aumentou com a crescente urbanização.
No entanto, o impulso para a indústria brasileira aconteceu durante a Primeira
Guerra Mundial (1914-1918), assim, as dificuldades da Europa para manter as
exportações com destino ao Brasil estimulou a abertura de uma série de indústrias
para atender a demanda nacional. Outro ponto alto foi a exportação do café, que
também estimulou outros empreendimentos.

Em 1920, a indústria brasileira praticamente triplicou de tamanho. Embora


tenha diminuído o número de trabalhadores por fábrica, a capacidade de
atendimento aumentou consideravelmente. Neste período, as fábricas brasileiras
atendiam mais de 90% do consumo de tecidos, móveis e sapatos no país. Nos
anos seguintes, o ritmo de crescimento diminuiu, mas a produção vinha se
mantendo até que, em 1929, houve a chamada Grande Depressão, impulsionada
pela queda das ações da Bolsa de Nova York, que fez com que o café, grande
responsável pelas exportações do país, sofresse com uma forte queda de preço.
Este período foi conhecido como a crise dos anos 30.

No entanto, com a Segunda Guerra Mundial, em 1939, aconteceu um novo


movimento por instalação de fábricas para atender a demanda nacional e diminuir
os produtos que o Brasil importava de outros países. Em 1946, teve início a

48
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

produção de aço, o que possibilitou atender a manufatura pesada e, em seguida,


outras usinas estatais e privadas foram sendo criadas. Em 1953, foi fundada
a Petrobrás, e, entre os anos de 1956 e 1957, foi atingido um marco histórico
em que o valor da indústria brasileira superava, pela primeira vez, a produção
agrícola.

Em 1955, houve a abertura para mais empresas estrangeiras, o que


impulsionou crescimento e diversas transformações no setor fabril, agregando
novos conhecimentos nos processos produtivos. Setores tradicionais continuaram
a se expandir, como o de tecidos, bebidas e móveis. Outros setores cresceram,
também, em importância, como o automobilístico, petroquímico e bens de
produção. No entanto, o Brasil vivia, já, nessa época, o grande problema da
inflação.

No período 1967 a 1973, houve uma retomada da expansão industrial tão


grande, que ficou conhecido como “milagre-brasileiro”. Um dos principais fatores
desse crescimento foi o fato de o brasileiro gastar mais em bens de maior
valor, como automóveis. Após todo período de crescimento experimentado pela
indústria nacional, nas décadas anteriores, o ano de 2015 não foi fácil para a
indústria. Segundo algumas estimativas, foram fechados mais de 1 milhão e 200
mil postos de trabalho, sendo a metade deles na indústria de transformação.

Nos anos seguintes, o setor industrial passou por uma forte crise, e, se a
indústria está em crise, o Brasil está em crise. Entre 2019 e 2020, a participação da
Indústria no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu de 21,4% para 20,4%, com
a crise causada pela pandemia de COVID-19. O percentual de 2020 é o menor
desde 1947. Apesar da desaceleração da indústria e da retração da economia no
Brasil, o país fabrica a maior parte daquilo que consome, entre outros produtos.

Segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a indústria


brasileira, apesar de representar 20,4% do PIB do Brasil, tem o poder de gerar
crescimento, pois, a cada R$ 1,00 produzido na indústria, são gerados R$
2,43 na economia brasileira. Nos demais setores, o valor gerado é menor. Na
agropecuária, o valor gerado é de R$ 1,75 e, no comércio e serviços, o valor é
de R$ 1,49. Além disso, a indústria emprega 9,7 milhões de trabalhadores no
país, e é responsável por 20,4% do emprego formal no Brasil. Na Figura 8 são
apresentados alguns dados da indústria brasileira.

49
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

FIGURA 8 – A IMPORTÂNCIA DA INDÚSTRIA NO BRASIL

FONTE: CNI (2021, s. p.).

Com base no histórico apresentado, pode-se compreender que, durante


o processo acelerado de desenvolvimento industrial brasileiro, houve pouca
preocupação com as questões sustentáveis e ambientais que culminaram
em atividades de alto poder poluidor, grande exploração da mão de obra com
atividades excessivamente braçais e repetitivas, degradando rapidamente os
recursos naturais pela forma desenfreada de consumo deste bem.

Este pensamento é fruto de uma cultura industrial e da visão em geral que


toda a sociedade construiu referente às indústrias por toda a história e que,
ainda, por vezes e por alguns exemplos negativos, infelizmente se confirmam.
No entanto, sabemos que existe um movimento para mudar esta percepção,
pois muitos setores industriais estão engajados em modificar esta visão única da
sociedade e mostrar o quanto contribuem e atuam de uma forma mais consciente
e equilibrada. Na Figura 9, podemos observar um desenho que representa a visão
de muitas pessoas sobre a indústria tradicional versus a indústria sustentável.

FIGURA 9 – VISÃO DA INDÚSTRIA TRADICIONAL X INDÚSTRIA SUSTENTÁVEL

FONTE: O Autor.

50
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

Se pedirmos para uma pessoa descrever um ambiente industrial,


certamente ela falará da tradicional fumaça que sai das chaminés das indústrias.
Provavelmente, será muito difícil alguém apontar ou remeter como primeira
lembrança o uso de energias renováveis, um ambiente equilibrado com pouco
ruído, geração de emprego, renda, tecnologias ou outros tantos benefícios que as
indústrias podem trazer para a sociedade.

Isso ocorre, em grande parte, porque a cultura em que as indústrias cresceram


e se instalaram foi essa. Afinal, quando alguém ia começar um processo produtivo,
uma marcenaria, por exemplo, logo se pensava no espaço, que normalmente era
um galpão, na matéria-prima necessária, na mão de obra, na localização para as
movimentações de recebimento de materiais e envio de produtos. E, talvez, nem
fosse cogitada a questão de resíduos, reaproveitamento, reciclagem, entre outras
tantas práticas mais modernas, tecnológicas, cooperativas e integradoras.

Nesse sentido, deve ser estimulado que os processos produtivos das


indústrias de transformação devem ser olhados por uma nova ótica, através
das premissas da sustentabilidade. Técnicas de produção limpa devem ser
inseridas neste novo cenário. Acredita-se que, quando disseminadas, essas
técnicas sustentáveis podem ser valorizadas por consumidores e por todas as
partes interessadas. Se as indústrias sofrem com esta visão limitada, cabe ao
setor ampliar sua consciência de que a resposta possível e a mais desejável é
a de se posicionar ativamente para enfrentar esses desafios, mas, sobretudo,
encarando-os também como garantias de competitividade e oportunidades de
desenvolvimento empresarial em novas bases competitivas.

O que percebemos é que os valores e demandas da sociedade em geral


estão mudando rapidamente, assim como mudarão as oportunidades para
as atividades empresariais. Se a sociedade vem demandando das empresas
uma atitude de maior responsabilidade e transparência, cabe às indústrias se
inserirem neste novo contexto competitivo e responderem com ações práticas
que evidenciem a sua conduta frente ao meio ambiente.

Vale frisar novamente que as indústrias de transformação são


impulsionadoras de grandes mudanças e posicionamentos dentro da sociedade.
Desde a sua criação, as indústrias, por meio das máquinas, equipamentos e
de diversos produtos, estão promovendo mudanças significativas na vida das
pessoas. Sabendo disso, faz parte do papel das indústrias se posicionar em
novas bases competitivas buscando o desenvolvimento sustentável, já que este
desenvolvimento é fundamental para a continuação e perpetuação da vida na
terra.

51
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

No entanto, não basta apenas se adequar a essa nova realidade. Faz-se


necessário que as empresas sejam sustentáveis e, ao mesmo tempo, sejam
competitivas. Com base nessa premissa, a sustentabilidade deve ser vista
também como um dos mais importantes pilares da competitividade do futuro,
criando, inclusive, novos critérios competitivos.

Nesse sentido, além dos relatórios de sustentabilidade que são elaborados


de forma livre espontânea pelas indústrias, existem as premissas contidas em
normas e leis que necessitam ser seguidas por empresas de todos os portes
e dos mais diversos segmentos. É o caso de indústrias que apresentam um
potencial poluidor, ou que desejam exportar seus produtos para determinado país
e tem que cumprir com as normas e certificações ambientais.

Quando isso ocorre, entram em cena os Estudos de impacto ambiental


(EIA) e os Relatórios de Impacto Ambiental (RIMA), que são previstos em lei para
algumas atividades industriais. No próximo capítulo, aprenderemos um pouco
mais deste cenário de normas e estudos ambientais.

4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Neste capítulo, procuramos apresentar os principais conceitos de
sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável, assim como a evolução
desses termos ao longo do tempo. Ao observamos os diferentes conceitos, fica
clara a necessidade que temos de preservar os recursos naturais disponíveis,
para garantir que as necessidades das futuras gerações sejam atendidas e para
assegurar a perpetuação da vida na terra.

Por um outro lado, o mundo precisa seguir se desenvolvendo e atendendo


às necessidades da sociedade moderna. Nesse sentido, a indústria tem um
papel de transformação da sociedade, pois ela gera inovação, tecnologia e
desenvolvimento. Desde a sua criação, as indústrias, por meio das máquinas,
equipamentos e de diversos produtos, promovem mudanças significativas na vida
das pessoas.

Na sociedade moderna, não é diferente, pois a indústria ainda continua como


uma importante protagonista no atendimento das necessidades de consumo,
na geração de empregos, renda, desenvolvimento econômico e social do país,
porém, sabemos que a sustentabilidade e o desenvolvimento com base nas
questões ambientais é o único caminho possível e viável de ser trilhado pelas
indústrias, assim como pelas demais empresas e a sociedade de uma maneira
geral.

52
Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

Para tanto, é necessário se ajustar a esta nova realidade. A cultura das


indústrias precisa ser modificada, e a questão ambiental ser inserida como centro
deste novo modelo de desenvolvimento. Percebemos, ainda, que a grande
maioria da população enxerga o setor industrial como forma altamente poluidora
de produção de bens de consumo, de explorador de mão de obra e de consumidor
desenfreado de recursos naturais, porém, todos continuam consumindo de
uma forma pouco sustentável, descartando seus itens eletrônicos de maneira
inadequada, não separando os seus resíduos e tantos outros comportamentos
que também comprometem o meio ambiente.

Precisamos, assim, de uma mudança profunda nas indústrias, na sociedade


e nos indivíduos, para começar a construir caminhos mais sustentáveis. Nesse
sentido, no mundo corporativo, as múltiplas ferramentas de avaliação da
sustentabilidade sistematizam os indicadores ambientais e facilitam a visualização
das práticas e ações de cuidado com o meio ambiente. É necessário adaptar os
processos e começar a caminhar de acordo com os princípios ambientais, com a
premissa de crescer e desenvolver, mas preservando, estimulando e cuidando do
meio ambiente.

Por mais distante que, muitas vezes, tais ações possas parecer, em alguns
setores industriais, podemos dizer que sim, é possível ser mais sustentável, afinal,
muitos países já se adaptaram e seguem práticas mais sustentáveis. O Brasil, por
sua vez, tem toda a capacidade para seguir no mesmo caminho. Outra forma de
garantir as práticas ambientais dentro das indústrias é por meio da imposição
de normas, legislações e certificações que devem ser cumpridas para garantir o
funcionamento da atividade industrial e para assegurar que os comportamentos
ambientais esperados estejam sendo seguidos.

Por fim, temos um longo caminho a trilhar para conseguir alcançar o


desenvolvimento sustentável. Para isso, é preciso conhecer os atores do
processo e as regras que preconizam a atuação sustentável de atuar, competir
e preservar. No próximo capítulo, conheceremos as regulamentações legais
ambientais que influenciam na indústria, assim como os órgãos fiscalizadores
e regulamentadores, que são os principais atores nos processos ambientais.
Abordaremos, também, a respeito dos projetos ambientais, licenças, estudos e
relatórios de impacto ambiental solicitados nas atividades industriais.

53
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

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Capítulo 1 Sustentabilidade na Indústria

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Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

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abr. 2021.

56
C APÍTULO 2
Políticas Ambientais

A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Conhecer as regulamentações legais ambientais que influenciam na indústria e


os órgãos fiscalizadores e regulamentadores.
• Analisar as políticas e normas ambientais e verificar seus impactos na indústria.
• Reconhecer os principais fatores avaliados dentro dos projetos ambientais das
indústrias.
• Identificar os principais atores que influenciam diretamente nos processos
ambientais nas indústrias.
• Analisar estudos e relatórios que avaliam os impactos ambientais.
• Compreender as etapas do processo de avaliação dos impactos ambientais,
do Estudo de Impactos Ambientais (EIA), do Relatório de Impactos Ambientais
(RIMA) e a relação com o processo de licenciamento ambiental.
• Elaborar um roteiro para implementar EIA e RIMA.
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

58
Capítulo 2 Políticas Ambientais

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Conhecer as regulamentações, legislações, normas e diretrizes ambientais
que regulamentam e autorizam as atividades industriais é fundamental para as
indústrias que buscam uma atuação consciente e responsável.

Existem diversos órgãos que são responsáveis por criar, aplicar e monitorar
regras e normas que devem ser seguidas pelos diferentes setores industriais.
Entender a dinâmica e os atores envolvidos no processo facilita o dia a dia e os
trâmites necessários para regulamentar a atividade industrial. A dinâmica presente
nos diversos órgãos visa demonstrar os cuidados e os pontos de atenção que as
indústrias necessitam adotar em seus processos produtivos.

Apesar de ter que atender diferentes normas e legislações tanto em âmbito


federal quanto em âmbito estadual, as indústrias estão sempre na busca por
segurança jurídica para o desempenho de suas atividades. Por outro lado, ao
se atender aos requisitos solicitados, muitas indústrias se habilitam, em alguns
casos, a exportar os seus produtos e, assim, conquistar novos mercados, além de
construir uma imagem de atuação consciente e responsável para os consumidores
e para toda a sociedade.

Nesse contexto, porém, existem atividades industriais mais poluidoras,


com características que necessitam ser monitoradas e regradas na tentativa de
estabelecer um equilíbrio entre a atividade industrial e o meio ambiente. Nesse
sentido, para facilitar e mensurar os impactos ambientais e apresentá-los para
todas as esferas da sociedade existem instrumentos como o EIA e o RIMA. O
EIA é um instrumento fruto da política nacional de meio ambiente, que tem por
objetivo avaliar os impactos ambientais gerados por atividades potencialmente
poluidoras ou que possam gerar degradação ambiental.

O EIA é considerado um documento técnico que é elaborado para responder


a legislação ambiental brasileira. As principais informações contidas no EIA, bem
como sua conclusão, devem ser apresentados no RIMA. O RIMA é um documento
público que possibilita que todos os interessados tenham acesso à informação de
uma forma simples e prática.

Dessa forma, o que vamos abordar neste capítulo são as normas, as


legislações ambientais que incidem sobre as atividades industriais, além de
conhecer um pouco sobre os atores envolvidos em todo o processo ambiental
entendendo suas responsabilidades e forma de atuação. Nesse sentido, o foco
deste capítulo será compreender este universo de políticas e práticas ambientais
e as formas de mensurar os impactos por meio do estudo de impacto ambiental e
do relatório de impacto ambiental.
59
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

2 PROCESSOS AMBIENTAIS –
ASPECTOS E ATORES ENVOLVIDOS
NOS PROCESSOS AMBIENTAIS
Os movimentos para a preservação do meio ambiente estão presentes nas
agendas mundiais de diferentes países. A pauta das reuniões que ocorrem com
frequência com os países mais influentes do mundo gira, principalmente, em
torno do debate de formas para equilibrar o crescimento econômico e o cuidado
com os recursos naturais.

A Organização das Nações Unidas (ONU) é uma das principais instituições


responsáveis em reunir países para debater sobre os impactos ambientais
gerados pela sociedade moderna e tentar desenhar caminhos possíveis para, em
conjunto, comprometer os países em ações de preservação do meio ambiente.

Um dos impactos abordados nas conferências da ONU trata a respeito das


mudanças climáticas. O que pode se perceber é que o planeta terra vem sofrendo
um aquecimento acelerado, com estimativas preocupantes para os próximos anos
e décadas. Esse aquecimento é fruto da alta emissão de gases na atmosfera, que
podem gerar para as gerações futuras temperaturas elevadas, escassez de água,
aumento do nível do mar, alterações nos ecossistemas terrestres e marinhos,
entre tantas outras mudanças significativas.

Para monitorar as ações de preservação, a ONU publica relatórios periódicos


com dados, estatísticas e estudos que apontam as principais tendências de
futuro para o meio ambiente. Nesse sentido, a ONU se reúne com os principais
países desde que firmou o primeiro documento sobre mudanças climáticas
assinado durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, evento conhecido como a Cúpula da Terra, realizado em
1992, no Rio de Janeiro. O tratado assinado em 1992 entrou em vigor em 1994,
com a participação de 197 países que se reúnem anualmente por meio de uma
conferência entre as partes, conhecida pela sigla COP, para debater formas de
avançar na preservação ambiental.

O evento mais recente realizado pela ONU foi a COP25 em 2019, que
aconteceu em Madri. A COP25 teve como objetivo debater ações práticas para
colocar em prática o acordo climático global, conhecido como Acordo de Paris,
assinado em 2015. Aliás, desde 2015, este é o tema dos eventos da ONU. Nesse
sentido, está agendado para o novembro de 2021 a COP26, que deverá ocorrer

60
Capítulo 2 Políticas Ambientais

na cidade de Glasgow no Reino Unido. Na COP26, espera-se que os países


apresentem metas mais robustas para serem alcançadas até 2030.

Dessa forma, a ONU segue reunindo as lideranças mundiais para que


a pauta ambiental tão relevante não seja esquecida, e para que em conjunto
todos possam traçar caminhos possíveis e sustentáveis. Assim, a ONU e outras
organizações mundiais realizam as provocações e debates em prol do meio
ambiente esperando que cada país desdobre estes temas em suas leis e normas
por meio das instituições competentes, a fim de que as metas estipuladas no
mundo sejam alcançadas.

O Brasil se comprometeu com a ONU e com os outros países participantes


e assinou, em 2015, o Acordo de Paris. Na oportunidade, o Brasil estabeleceu
como meta a redução de emissão de gases de efeito estufa em 37% até 2025. Tal
meta já foi revisada e ajustada para uma redução de 43% até 2030. Dessa forma,
para alcançar esses objetivos, é necessária a atuação de órgãos ambientais que
estabeleçam leis e diretrizes para todo o país, inclusive para a atividade industrial
brasileira, mas quais são estes órgãos e como eles funcionam? É isso que
veremos agora.

Ao olharmos para o Brasil, podemos ver que o nosso país se destaca pela
sua biodiversidade, possui uma gama de florestas, sendo a Amazônia a maior
floresta tropical do mundo. Além de ter riquezas com uma diversidade de fauna
e de flora, como o pantanal, a mata atlântica e a caatinga. Somos um país que
possui uma extensa costa litorânea, além de contarmos com um bem muito
valioso que são as reservas de água doce, que estão entre uma das maiores do
mundo.

Para proteger toda essa riqueza e diversidade e para garantir o total cuidado
com o meio ambiente existem no Brasil diversos órgãos que criam normas,
legislações, diretrizes, fiscalizam e monitoram as atividades industriais, com o
objetivo de resguardar os recursos naturais, tão preciosos em nossa sociedade
moderna.

Conhecer os atores envolvidos nos processos ambientais e sua forma de


atuação pode parecer complexo, mas ter uma visão das responsabilidades de
cada órgão facilita para a indústria saber o que está sendo exigido e por quem, e
assim poder, inclusive, manifestar-se a respeito.

Para entendermos melhor, precisamos saber que existem órgãos federais,


estaduais e municipais. Sendo que, em linhas gerais, os órgãos federais possuem
uma atuação em todo o território nacional, os estaduais dentro dos estados e
os municipais dentro das cidades. Vamos conhecer os principais órgãos em que
cada esfera.
61
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

2.1 ÓRGÃOS FEDERAIS


O Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) é formado por órgãos
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. É a estrutura
máxima de gestão ambiental no Brasil e foi criado pela necessidade de se
estabelecer uma rede de agências governamentais que garantisse mecanismos
aptos para a consolidação da Política Nacional do Meio Ambiente em todo o nível
da Federação. O Artigo 6º, da Lei nº 6398/81, estabeleceu a estruturação do
SISNAMA em níveis diferenciados, cada um com suas respectivas atribuições.
São eles:

Conselho de Governo - Órgão Superior

O Conselho de Governo é a entidade que integra a Presidência da República.


O objetivo é assessorar o presidente na elaboração de políticas públicas voltadas
à preservação ambiental.

Conselho Nacional do Meio Ambiente (Órgão Consultivo e Deliberativo)

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) é um órgão normativo,


consultivo e deliberativo e tem, dentre outras finalidades, as de estudar, assessorar
e propor ao Conselho de Governo Federal diretrizes e políticas governamentais
para o meio ambiente, assim como normas e padrões compatíveis com um
ecossistema ecologicamente equilibrado.

Ministério do Meio Ambiente - Órgão Central

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) tem como missão promover a adoção


das políticas e princípios para o conhecimento, a preservação e a recuperação do
meio ambiente. Além disso, o MMA visa o uso sustentável dos recursos naturais
e a inserção do desenvolvimento sustentável na criação e implementação de
políticas públicas em todas as instâncias do governo, por meio do planejamento,
coordenação, controle e supervisão da implementação da Política Nacional e
diretrizes governamentais para o meio ambiente.

IBAMA - Órgão executor

O Instituto Nacional do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (IBAMA),


que completou 30 anos em 2019, é uma autarquia do MMA com autonomia
administrativa e financeira, que tem como missão proteger a natureza, garantir a
qualidade ambiental e a sustentabilidade, no que se refere ao uso dos recursos

62
Capítulo 2 Políticas Ambientais

naturais. Tendo personalidade jurídica própria, executa o controle e fiscalização


ambiental nos âmbitos nacional e regional por meio de ações de gestão concretas.

ICMBIO

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)


trata-se de um órgão ambiental da administração pública, que tem o poder
de autoadministração, nos limites estabelecidos em lei. O ICMBio foi
criado pela Lei no 11.516/2007, com a missão de proteger o patrimônio
natural e promover o desenvolvimento socioambiental, por meio da gestão
das Unidades de Conservação (UCs) federais.
 
Órgãos Colegiados

Apesar de o MMA ser considerado o órgão máximo de proteção ambiental,


existem outras entidades colegiadas que também fiscalizam o meio ambiente,
como conselhos inseridos no poder executivo municipal, de natureza deliberativa
ou consultiva, integrados por diferentes atores sociais (governo, empresas,
universidades, trabalhadores e sociedade civil) envolvidas com o meio ambiente
e que integram a estrutura dos órgãos locais do SISNAMA. Entre eles, estão:

• Comissão de Gestão de Florestas Públicas: órgão de natureza consultiva


do Serviço Florestal Brasileiro, que tem por finalidade assessorar, avaliar
e propor diretrizes para a gestão de florestas públicas brasileiras.
• Conselho Nacional de Recursos Hídricos: responsável pela efetivação
da gestão de recursos hídricos no Brasil.
• Comissão Nacional de Biodiversidade: está entre os órgãos ambientais
que regem a conservação e a utilização de recursos naturais, bem como
a repartição igualitária de sua utilização e conhecimentos associados
(TERA AMBIENTAL, 2021).

Nesse sentido, na Figura 1 a seguir, temos um breve resumo dos principais


órgãos e suas funções.

63
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

FIGURA 1 – PRINCIPAIS ÓRGÃOS AMBIENTAIS FEDERAIS

FONTE: A autora.

2.2 ÓRGÃOS ESTADUAIS


Nos estados, existem os órgãos seccionais, que são entidades estaduais
com a função de executar programas e projetos, além de controlar e fiscalizar as
atividades capazes de degradar o meio ambiente. Alguns destes órgãos são:

• São Paulo: Coordenadoria de Fiscalização Ambiental (SMA).


• Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Ambiente (INEA).
• Minas Gerais: Secretaria de Meio Ambiente.
• Bahia: Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA) e
Secretaria de Meio Ambiente.
• Paraná: Instituto Ambiental do Paraná (IAP).
• Santa Catarina: Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA).
• Amazonas: Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM).

Entre os órgãos apresentados, conheceremos melhor o IMA, de Santa


Catarina. O instituto atua em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento
Econômico Sustentável (SDS), um órgão executivo do governo do estado, que
implementa as políticas ambientais, e com o Conselho Estadual do Meio Ambiente
(CONSEMA), que é o órgão regulamentador que define padrões ambientais a
serem seguidos. Na operacionalização, os órgãos estaduais no estado de Santa
Catarina funcionam da seguinte forma, conforme descrito na figura 2.

64
Capítulo 2 Políticas Ambientais

FIGURA 2 – OPERAÇÃO DOS ÓRGÃOS ESTADUAIS – CASO DE SANTA CATARINA

FONTE: A autora.

2.3 ÓRGÃOS MUNICIPAIS


Já na esfera dos municípios e das cidades, a prefeitura é responsável
em definir as políticas, os conselhos municipais de meio ambiente definem os
parâmetros, as secretarias ou fundações licenciam e fiscalizam e a Polícia Militar
Ambiental (PMA) fiscaliza e insere as devidas providências. Na Figura 3, segue
o exemplo da operação dos órgãos ambientais na cidade de Florianópolis, em
Santa Catarina.

FIGURA 3 – OPERAÇÃO DOS ÓRGÃOS AMBIENTAIS EM FLORIANÓPOLIS/SC

FONTE: A autora.

65
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Podemos perceber que a indústria tem uma interação com diversos órgãos,
dependendo da questão ambiental e do âmbito que estão tratando. O importante
é saber que esses órgãos, sejam eles federais, estaduais ou municipais, apesar
de terem uma dinâmica própria, comunicam-se e procuram se complementar.

1 Conhecendo os diversos órgãos ambientais que estão presentes


em diferentes esferas, descreva em qual esfera o IBAMA está e
qual a sua atuação frente a questões ambientais.

Para as indústrias, o caminho mais lógico e com melhor acesso é iniciar


a conversa com o próprio município, que tem o total interesse em ajudar o
desenvolvimento local. Após o fortalecimento dessa parceria, é possível trilhar
caminhos nas esferas estaduais e federais. Na próxima seção, aprenderemos
quais são as leis e normas que foram estipuladas por estes órgãos e que devem
ser cumpridas pelas indústrias.

3 LEGISLAÇÕES E NORMAS
AMBIENTAIS
O Brasil conta com uma série de legislações ambientais que devem ser
cumpridas a fim de preservar o meio ambiente. Apesar de ser um tema complexo,
separamos as principais leis que incidem diretamente na indústria. Na Figura 4,
podemos observar uma linha do tempo com as principais leis, e, a seguir, temos o
detalhamento de cada lei.

66
Capítulo 2 Políticas Ambientais

FIGURA 4 – LINHA DO TEMPO LEGISLAÇÕES QUE IMPACTAM A INDÚSTRIA

FONTE: A autora.

1 – Lei Patrimônio Cultural – Decreto-lei no 25, de 30 de novembro de


1937: lei que organiza a Proteção do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, incluindo como patrimônio nacional os bens de valor
etnográfico, arqueológico, os monumentos naturais, além dos sítios e
paisagens de valor notável pela natureza ou a partir de uma intervenção
humana. A partir do tombamento de um destes bens, ficam proibidas sua
demolição, destruição ou mutilação sem prévia autorização do Serviço
de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN).

2 – Lei da Fauna Silvestre – no 5.197, de 3 de janeiro de 1967: a lei


classifica como crime o uso, perseguição, apanha de animais silvestres,
caça profissional, comércio de espécies da fauna silvestre e produtos
derivados de sua caça, além de proibir a introdução de espécie exótica
(importada) e a caça amadorística sem autorização do IBAMA. A lei
criminaliza, também, a exportação de peles e couros de anfíbios e
répteis em bruto.

3 – Lei das Atividades Nucleares – no 6.453, de 17 de outubro de


1977: dispõe sobre a responsabilidade civil por danos nucleares e a
responsabilidade criminal por atos relacionados com as atividades
nucleares. Determina que, se houver um acidente nuclear, a instituição
autorizada a operar a instalação tem a responsabilidade civil pelo dano,
independentemente da existência de culpa. Em caso de acidente nuclear
não relacionado a qualquer operador, os danos serão assumidos pela
União. Essa lei classifica como crime produzir, processar, fornecer,
usar, importar ou exportar material sem autorização legal, extrair e
comercializar ilegalmente minério nuclear, transmitir informações
sigilosas nesse setor ou deixar de seguir normas de segurança relativas
à instalação nuclear.
67
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

4 – Lei do Parcelamento do Solo Urbano – no 6.766, de 19 de dezembro


de 1979: estabelece as regras para loteamentos urbanos, proibidos em
áreas de preservação ecológicas, naquelas onde a poluição representa
perigo à saúde e em terrenos alagadiços.

5 – Lei do Zoneamento Industrial nas Áreas Críticas de Poluição –


no 6.803, de 2 de julho de 1980: atribui aos estados e municípios o
poder de estabelecer limites e padrões ambientais para a instalação e
licenciamento das indústrias, exigindo o EIA.

6 – Lei da Área de Proteção Ambiental – no 6.902, de 27 de abril de


1981: lei que criou as “Estações Ecológicas “, áreas representativas
de ecossistemas brasileiros, sendo que 90% delas devem permanecer
intocadas e 10% podem sofrer alterações para fins científicos. Foram
criadas também as Áreas de Proteção Ambienta (APAS), áreas que
podem conter propriedades privadas e onde o poder público limita as
atividades econômicas para fins de proteção ambiental.

7 – Lei da Política Nacional do Meio Ambiente – no 6.938, de 31 de agosto


de 1981: é a lei ambiental mais importante e define que o poluidor é
obrigado a indenizar danos ambientais que causar, independentemente
da culpa. O Ministério Público pode propor ações de responsabilidade
civil por danos ao meio ambiente, impondo ao poluidor a obrigação
de recuperar e/ou indenizar prejuízos causados. Essa lei criou a
obrigatoriedade de EIA e RIMA.

8 – Lei da Ação Civil Pública – no 7.347, de 24 de julho de 1985: lei de


interesses difusos, trata da ação civil pública de responsabilidades por
danos causados ao meio ambiente, ao consumidor e ao patrimônio
artístico, turístico ou paisagístico.

9 – Lei do Gerenciamento Costeiro – no 7.661, de 16 de maio de 1988:


define as diretrizes para criar o Plano Nacional de Gerenciamento
Costeiro, ou seja, define o que é zona costeira como espaço geográfico
da interação do ar, do mar e da terra, incluindo os recursos naturais e
abrangendo uma faixa marítima e outra terrestre. Permite aos estados e
municípios costeiros instituírem seus próprios planos de gerenciamento
costeiro, desde que prevaleçam as normas mais restritivas. Esse
gerenciamento costeiro deve obedecer às normas do CONAMA.

10 – Lei da criação do IBAMA – no 7.735, de 22 de fevereiro de 1989:


criou o IBAMA, incorporando a Secretaria Especial do Meio Ambiente

68
Capítulo 2 Políticas Ambientais

e as agências federais na área de pesca, desenvolvimento florestal e


borracha. Ao Ibama, compete executar a política nacional do meio
ambiente, atuando para conservar, fiscalizar, controlar e fomentar o uso
racional dos recursos naturais.

11 – Lei dos Agrotóxicos – no 7.802, de 11 de julho de 1989: a lei


regulamenta desde a pesquisa e fabricação dos agrotóxicos até
sua comercialização, aplicação, controle, fiscalização e o destino
da embalagem. Entre as exigências impostas pela lei, estão a
obrigatoriedade do receituário agronômico para venda de agrotóxicos ao
consumidor; o registro de produtos nos Ministérios da Agricultura e da
Saúde; o registro no IBAMA. O descumprimento dessa lei pode acarretar
multas e reclusão.

12 – Lei da Exploração Mineral – no 7.805, de 18 de julho de 1989:


essa lei regulamenta as atividades garimpeiras. Para essas atividades,
é obrigatória a licença ambiental prévia, que deve ser concedida pelo
órgão ambiental competente. Os trabalhos de pesquisa ou lavra que
causarem danos ao meio ambiente são passíveis de suspensão, sendo
o titular da autorização de exploração dos minérios responsável pelos
danos ambientais. A atividade garimpeira executada sem permissão ou
licenciamento é crime.

13 – Lei da Política Agrícola – no 8.171, de 17 de janeiro de 1991: coloca


a proteção do meio ambiente entre seus objetivos e como um de seus
instrumentos. Define que o poder público deve disciplinar e fiscalizar o
uso racional do solo, da água, da fauna e da flora; realizar zoneamentos
agroecológicos para ordenar a ocupação de diversas atividades
produtivas, desenvolver programas de educação ambiental, fomentar a
produção de mudas de espécies nativas, entre outros.

14 – Lei da Engenharia Genética – no 8.974, de 5 de janeiro de 1995.


Revogada pela Lei no 11.105, de 24 de março de 2005: essa lei
estabelece normas para aplicação da engenharia genética, desde o
cultivo, manipulação e transporte de organismos modificados (OGM),
até sua comercialização, consumo e liberação no meio ambiente. A
autorização e fiscalização do funcionamento das atividades na área e
da entrada de qualquer produto geneticamente modificado no país, é
de responsabilidade dos Ministérios do Meio Ambiente, da Saúde e da
Agricultura. Toda entidade que usar técnicas de engenharia genética é
obrigada a criar sua Comissão Interna de Biossegurança, que deverá,
entre outros, informar trabalhadores e a comunidade sobre questões
relacionadas à saúde e segurança na atividade.

69
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

15 – Lei de Recursos Hídricos – no 9.433, de 8 de janeiro de 1997: institui


a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de
Recursos Hídricos. Define a água como recurso natural limitado, dotado
de valor econômico, que pode ter usos múltiplos (consumo humano,
produção de energia, transporte, lançamento de esgotos). A lei prevê
também a criação do Sistema Nacional de Informação sobre Recursos
Hídricos para a coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de
informações sobre recursos hídricos e fatores intervenientes em sua
gestão.

16 – Resolução Conama no 237, de 19 de dezembro de 1997: dispõe


sobre os procedimentos e critérios utilizados no licenciamento ambiental
e no exercício da competência, bem como sobre as atividades e os
empreendimentos sujeitos ao licenciamento ambiental.

17 – Lei de Crimes Ambientais – no 9.605, de 12 fevereiro de 1998:


reordena a legislação ambiental brasileira no que se refere às infrações
e punições. A pessoa jurídica, autora ou coautora da infração ambiental,
pode ser penalizada, chegando à liquidação da empresa, se ela tiver sido
criada ou usada para facilitar ou ocultar um crime ambiental. A punição
pode ser extinta caso se comprove a recuperação do dano ambiental. As
multas variam de R$ 50,00 a R$ 50 milhões de reais.

18 – Lei no 9.985, de 18 de junho de 2000 – institui o Sistema Nacional


de Unidades de Conservação da Natureza: entre seus objetivos, estão:
a conservação de variedades de espécies biológicas e dos recursos
genéticos; a preservação e restauração da diversidade de ecossistemas
naturais; e a promoção do desenvolvimento sustentável a partir dos
recursos naturais.

19 – Lei no 11.445, de 5 de janeiro de 2007 – estabelece a Política Nacional


de Saneamento Básico: versa sobre todos os setores do saneamento,
como drenagem urbana, abastecimento de água, esgotamento sanitário
e resíduos sólidos.

20 – Lei das Florestas – no 4.771, de 15 de setembro de 2012: determina


a proteção de florestas nativas e define como áreas de preservação
permanente (onde a conservação da vegetação é obrigatória) uma faixa
de 30 a 500 metros nas margens dos rios, de lagos e de reservatórios,
além de topos de morro, encostas com declividade superior a 45 graus e

70
Capítulo 2 Políticas Ambientais

locais acima de 1.800 metros de altitude. Também exige que propriedades


rurais da região Sudeste do país preservem 20% da cobertura arbórea,
devendo tal reserva ser averbada em cartório de registro de imóveis.

No site do IBAMA, é possível encontrar um quadro com a


legislação vigente classificado por atividade e por setor no seguinte
link: http://www.ibama.gov.br/laf/legislacao.

Para entender melhor a aplicação da legislação, no setor


da construção, que é responsável pela construção de rodovias,
estradas, pontes, viadutos dentre outros, é necessário se atentar
para a Portaria Interministerial nº 1, de 4 de novembro de 2020.
Esta portaria estabelece os procedimentos relativos à regularização
ambiental de rodovias federais pavimentadas que estejam operando
sem a devida licença ambiental de operação. As informações estão
no site https://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-interministerial-n-1-
de-4-de-novembro-de-2020-286701778.

Nesse contexto, existem diversas legislações que incidem no setor industrial.


No Quadro 1 a seguir, estão algumas outras leis federais que impactam a indústria.

QUADRO 01 – LEIS FEDERAIS


Lei Descrição
Lei Complementar nº Fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do
140, de 8 de dezembro caput e do parágrafo único do art. 23 da Constituição
de 2011 Federal, para a cooperação entre a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas
ações administrativas decorrentes do exercício
da competência comum relativas à proteção das
paisagens naturais notáveis, à proteção do meio
ambiente, ao combate à poluição em qualquer de
suas formas e à preservação das florestas, da fauna
e da flora; e altera a Lei no 6.938, de 31 de agosto de
1981.
71
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Lei nº 12.651, de 25 de Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera


maio de 2012 as leis no 6.938, de 31 de agosto de 1981; no 9.393,
de 19 de dezembro de 1996; e no 11.428, de 22 de
dezembro de 2006; revoga as leis no 4.771, de 15 de
setembro de 1965; no 7.754, de 14 de abril de 1989, e
a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de
2001 e dá outras providências.
Lei nº 12.305, de 2 de Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera
agosto de 2010 a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 e dá outras
providências.
Lei nº 11.428, de 22 de Dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação
dezembro de 2006 nativa do Bioma Mata Atlântica e dá outras
providências.
Lei nº 10.257, de 10 de Regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição
julho de 2001 Federal, estabelece diretrizes gerais da política
urbana e dá outras providências.
Lei nº 10.165, de 27 de Altera a Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, que
dezembro de 2000 dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente,
seus fins e mecanismos de formulação e aplicação e
dá outras providências.
Lei nº 9.985, de 18 de Regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da
julho de 2000 Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação da Natureza e dá outras
providências.
Lei nº 9.795, de 27 de Dispõe sobre a educação ambiental, institui a
abril de 1999 Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras
providências.
Lei nº 9.605, de 12 de Dispõe sobre as sanções penais e administrativas
fevereiro de 1998 derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente e dá outras providências.
Lei nº 9.433, de 8 de Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria
janeiro de 1997 o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da
Constituição Federal, e altera o artigo 1º da Lei nº
8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei
nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989.

72
Capítulo 2 Políticas Ambientais

Lei nº 9.017, de 30 de Estabelece normas de controle e fiscalização sobre


março de 1995 produtos e insumos químicos que possam ser
destinados à elaboração da cocaína em suas diversas
formas e de outras substâncias entorpecentes ou que
determinem dependência física ou psíquica, e altera
dispositivos da Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983,
que dispõe sobre segurança para estabelecimentos
financeiros, estabelece normas para constituição
e funcionamento de empresas particulares que
explorem serviços de vigilância e de transporte de
valores e dá outras providências.
Lei nº 7.990, de 28 de Institui, para os Estados, Distrito Federal e Municípios,
dezembro de 1989 compensação financeira pelo resultado da exploração
de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para
fins de geração de energia elétrica, de recursos
minerais em seus respectivos territórios, plataformas
continentais, mar territorial ou zona econômica
exclusiva e dá outras providências (Art. 21, XIX da
CF).
Lei nº 7.805, de 18 de Altera o Decreto-Lei nº 227, de 28 de fevereiro de
julho de 1989 1967, cria o regime de permissão de lavra garimpeira,
extingue o regime de matrícula e dá outras
providências.
Lei nº 7.804, de 18 de Altera a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que
julho de 1989 dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente,
seus fins e mecanismos de formulação e aplicação,
a Lei nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989, a Lei nº
6.803, de 2 de julho de 1980 e dá outras providências.
Lei nº 7.802, de 11 de Dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a
julho de 1989 produção, a embalagem e rotulagem, o transporte,
o armazenamento, a comercialização, a propaganda
comercial, a utilização, a importação, a exportação, o
destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a
classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização
de agrotóxicos, seus componentes e afins e dá outras
providências.
Lei nº 7.677, de 21 de Dispõe sobre a criação, pelo Poder Executivo, de
outubro de 1988 entidade destinada a promover o desenvolvimento da
tecnologia mineral e dá outras providências.

73
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Lei nº 7.661, de 16 de Institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro


maio de 1988 e dá outras providências.
Lei nº 7.347, de 24 de Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por
julho de 1985 danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor,
a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico e dá outras providências.
Lei nº 7.312, de 16 de Altera a Lei nº 6.567, de 24 de setembro de 1978, para
maio de 1985 incluir o basalto no regime especial de exploração por
licenciamento.
Lei nº 6.938, de 31 de Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente,
agosto de 1981 seus fins e mecanismos de formulação e aplicação e
dá outras providências.
Lei nº 6.766, de 19 de Dispõe sobre o Parcelamento do Solo Urbano e dá
dezembro de 1979 outras Providências.
Lei nº 6.567, de 24 de Dispõe sobre regime especial para exploração e
setembro de 1978 o aproveitamento das substâncias minerais que
especifica e dá outras providências.
Lei nº 6.437, de 20 de Configura infrações à legislação sanitária federal,
agosto de 1977 estabelece as sanções respectivas e dá outras
providências.
Lei nº 5.197, de 3 de Dispõe sobre a proteção à fauna e dá outras
janeiro de 1967 providências.
Lei nº 4.504, de 30 de Dispõe sobre o Estatuto da Terra e dá outras
novembro de 1964 providências.
Lei nº 3.924, de 26 de Dispõe sobre os monumentos arqueológicos e pré-
julho de 1961 históricos.
Resolução nº 15, de 2012 Institui o Prêmio Mérito Ambiental a ser conferido
anualmente pelo Senado Federal.
FONTE: A autora.

Além das leis federais também existem os decretos federais, sendo que
ambos têm força e funções diferentes. No entanto, vale ressaltar que as leis são
superiores aos decretos. No Quadro 2, estão descritos alguns decretos federais
relacionados ao meio ambiente.

QUADRO 2 – DECRETOS FEDERAIS


Decretos Federais Descrição
Decreto n° 12867, de 15 Institui o Plano de Ação para Prevenção e Controle
de setembro de 2010 do Desmatamento e das Queimadas no Bioma
Cerrado (PPCerrado), altera o Decreto de 3 de julho
de 2003, que institui Grupo Permanente de Trabalho
Interministerial para os fins que especifica.

74
Capítulo 2 Políticas Ambientais

Decreto nº 6.660, de 21 Regulamenta dispositivos da Lei no 11.428, de 22 de


de novembro de 2008 dezembro de 2006, que dispõe sobre a utilização e
proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica.
Decreto nº 6.514, de 22 Dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao
de julho de 2008 meio ambiente, estabelece o processo administrativo
federal para apuração destas infrações e dá outras
providências.
Decreto nº 5.300, de 7 Regulamenta a Lei no 7.661, de 16 de maio de 1988, que
de dezembro de 2004 institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro
(PNGC), dispõe sobre regras de uso e ocupação da
zona costeira e estabelece critérios de gestão da orla
marítima e dá outras providências.
Decreto nº 4.281, de 25 Regulamenta a Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999,
de junho de 2002 que institui a Política Nacional de Educação Ambiental
e dá outras providências.
Decreto nº 3.739, de 31 Dispõe sobre o cálculo da tarifa atualizada de
de janeiro de 1991 referência para compensação financeira pela utilização
de recursos hídricos, de que trata a Lei no 7.990, de 28
de dezembro de 1989, da contribuição de reservatórios
de montante para a geração de energia hidrelétrica, de
que trata a Lei no 8.001, de 13 de março de 1990 e dá
outras providências.
Decreto nº 1, de 11 de Regulamenta o pagamento da compensação financeira
janeiro de 1991 instituída pela Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989
e dá outras providências.
Decreto nº 99.274, de 6 Regulamenta a Lei nº 6.902, de 27 de abril de 1981,
junho de 1990 e a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que
dispõem, respectivamente sobre a criação de Estações
Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental e sobre
a Política Nacional do Meio Ambiente e dá outras
providências.

FONTE: Adaptado de BRASIL (1990). Acesso em: 28 ago. 2021.

Para exemplificar o impacto de um decreto na indústria, podemos citar o


decreto nº 6.660, de 21 de novembro 2008 que regulamenta dispositivos da Lei
no 11.428, de 22 de dezembro de 2006, que dispõe sobre a utilização e proteção
da vegetação nativa do bioma mata atlântica.

Este decreto impacta diretamente as atividades da indústria florestal, que


tem que verificar se as formas de plantio e manejo das florestas plantadas estão
adequadas e de que forma estão cuidando para a preservação das espécies

75
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

nativas da mata atlântica. Nesse sentido, um decreto impacta na indústria que


produz o papel que você utiliza ou o móvel que você tem na sua casa, por
exemplo.

Outro exemplo é o decreto nº 5.300, de 7 de dezembro de 2004, que


regulamenta a Lei no 7.661, de 16 de maio de 1988, que institui o PNGC, dispõe
sobre regras de uso e ocupação da zona costeira, estabelece critérios de gestão
da orla marítima e dá outras providências. Esse decreto impacta as atividades
da indústria pesqueira, que, com seus barcos, faz a pesca de algumas espécies,
tendo que obedecer a critérios como manter uma certa distância, além de seguir
as regras para ocupar e utilizar o território marítimo. Muitas dessas indústrias
possuem parte do seu processo produtivo realizado em alto mar, o que também
demanda seguir uma série de regras de preservação ambiental. Sendo assim, a
indústria que produz a latinha de atum que você consome, tem que seguir uma
série de leis e decretos para conseguir entregar esse produto até você.

Para exemplificar, no Quadro 3 a seguir estão algumas legislações estaduais


relacionadas ao meio ambiente que impactam a indústria. Utilizamos como
exemplo as legislações do estado de Santa Catarina.

QUADRO 3 – LEGISLAÇÕES ESTADUAIS DE SANTA CATARINA

Leis Estaduais Descrição


Lei nº 15.940, de 20 Altera a Lei nº 14.262, de 2007, que dispõe sobre a Taxa
dezembro de 2012 de Prestação de Serviços Ambientais.
Lei nº 15.815, de 8 Acrescenta o Capítulo VI no Título V da Lei nº 14.675, de
de maio de 2012 2009, que institui o Código Estadual do Meio Ambiente e
estabelece outras providências.
Lei nº 15.736, de 11 Dispõe, define e disciplina a piscicultura de águas
de janeiro 2012 continentais no Estado de Santa Catarina e adota outras
providências.
Lei nº 15.587, de Autoriza a Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca
27 de setembro de a indenizar criadores de animais mortos em catástrofe
2011 ambiental no ano de 2009 nos municípios do Extremo-
Oeste do Estado de Santa Catarina e adota outras
providências.
Lei nº 15.251, de 3 Veda o ingresso, no Estado de Santa Catarina, de resíduos
de agosto de 2010 sólidos com características radioativas e de resíduos
orgânicos oriundos de frigoríficos e abatedouros, que
apresentem riscos sanitários, tais como a disseminação
de febre aftosa ou outras zoonoses.

76
Capítulo 2 Políticas Ambientais

Lei nº 15.111, de 18 Proíbe a construção de Pequenas Centrais Hidroelétricas


de janeiro de 2010 (PCHs) no trecho do rio que antecede o Parque das Sete
Quedas do Rio Chapecó, localizado no município de
Abelardo Luz.
Lei nº 14.601, de Institui o Cadastro Técnico Estadual de Atividades
29 de dezembro de Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos
2008 Naturais, integrante do Sistema Nacional do Meio
Ambiente (SISNAMA), a Taxa de Fiscalização Ambiental e
estabelece outras providências.
Lei nº 14.496, de 7 Dispõe sobre a coleta, o recolhimento e o destino final das
de agosto de 2008 embalagens plásticas de óleos lubrificantes e adota outras
providências.
Lei nº 13.973, de 26 Dispõe sobre a concessão e/ou renovação de licença
de janeiro de 2007 ambiental a empreendimentos ou atividades com
significativo impacto ambiental regional ou local.
Lei nº 13.972, de 26 Dispõe sobre a dispensa de EIA e RIMA para a atividade
janeiro de 2007 de pequeno porte de extração de carvão mineral a céu
aberto, em áreas remanescentes mineradas em subsolo e
a céu aberto, de até cinco hectares.
Lei nº 13.674, de 09 Dispõe sobre a dispensa de EIA e RIMA para a atividade
de janeiro de 2006 de extração mineral classe II, em área de preservação
permanente de até cinco hectares, em empreendimentos
regularmente licenciados anteriormente à publicação
da Resolução nº 237, de 19 de dezembro de 1997, do
CONAMA.
Lei nº 12.548, de Torna obrigatória a publicação da relação dos
20 de dezembro de estabelecimentos multados por poluição e degradação
2002 ambiental.
FONTE: <https://www.ima.sc.gov.br/>. Acesso em: 28 ago. 2021.

Para exemplificar, podemos verificar que a Lei nº 15.587, de 27 de setembro


de 2011, que autoriza a Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca a
indenizar criadores de animais mortos em catástrofe ambiental no ano de 2009
nos municípios do extremo oeste do Estado de Santa Catarina e adota outras
providências, incide diretamente na agroindústria. Afinal, as agroindústrias que
atuam com proteína animal podem receber esta indenização, uma vez que os
eventos ambientais muitas vezes não podem ser previstos e muito menos
controlados.

77
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

A catástrofe ambiental que ocorreu em setembro de 2009,


provocada por um tornado que atingiu a região oeste de Santa
Catarina, foi o principal motivo para a criação de uma lei de
indenização para as agroindústrias. Durante o evento, que por ser
um fenômeno da natureza não pode ser contido, mais de 60 mil aves
morreram, provocando um forte impacto na agroindústria da região.
Fonte: http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2014/09/registro-
de-tornado-que-devastou-cidade-em-sc-completa-cinco-anos.html

Um exemplo de catástrofe ambiental foi o rompimento da


estrutura de esgoto tratado da Casan, em janeiro de 2021, no centro
da Lagoa da Conceição, em Florianópolis, Santa Catarina que alterou
os níveis de oxigênio na água e atingiu diversas espécies marinhas.
A unidade de tratamento de água responsável pela estrutura foi
notificada e as leis cabíveis deverão ser aplicadas para tentar
minimizar e reparar os danos ambientais provocados e indenizar
as famílias que tiveram suas casas atingidas pelo rompimento da
estação de tratamento. Fonte: https://ndmais.com.br/meio-ambiente/
lagoa-zona-morta-desastre-ambiental/

Outro exemplo de desastre ambiental ocorrido no Brasil foi


o rompimento das barragens da mineradora Samarco, na cidade
de Mariana, Minas Gerais, considerado pelo IBAMA como o maior
desastre ambiental do Brasil, que impactou diversas espécies.
Fonte: https://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/
noticia/2015/12/desastre-em-mariana-ameaca-quase-400-especies-
de-animais.html

78
Capítulo 2 Políticas Ambientais

Nesse contexto, percebemos que as legislações e decretos são importantes


para preservar os recursos naturais do nosso país. As legislações servem como
um mecanismo para orientar, direcionar e punir qualquer ação que impacte o
meio ambiente. Infelizmente, existem diversos acidentes e desastres ambientais
que impulsionam e justificam a necessidade de termos órgãos específicos para
garantir o uso adequado dos nossos recursos. Se olharmos para o mundo e para
o Brasil, é possível identificar diversos acidentes emblemáticos que mostram a
importância de sempre estarmos atentos ao uso dos recursos e dos impactos
gerados no meio ambiente.

Os principais acidentes ambientais ocorridos no Brasil e no


mundo estão apresentados no site: https://www.unicamp.br/unicamp/
ju/noticias/2017/12/01/principais-desastres-ambientais-no-brasil-e-
no-mundo. Nessa leitura, é possível perceber o impacto e os diversos
danos causados por um acidente ambiental

Nesse sentido, as legislações estão presentes para tentar minimizar os


potenciais danos causados ao meio ambiente e, assim, fortalecer a busca contínua
pelo equilíbrio entre preservação ambiental e desenvolvimento econômico. No
entanto, além das leis, existem normas que auxiliam as indústrias a estabelecer
seus processos ambientais, como é o caso da norma ISO 14.001.

3.1 ISO 14.001


ISSO é uma sigla em inglês para Organização Internacional de Normalização,
sendo formada por diversos países, em que seus membros reúnem especialistas
para desenvolver padrões internacionais. Esses padrões são feitos de forma
voluntária e são baseados em consenso sobre aspectos importantes do mercado,
que irão apoiar a inovação e proporcionar soluções para os desafios globais. O
Brasil se inseriu na ISO por meio da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT).

A ISO possui diversas normas e, entre elas, existe a série 14000. Essa série
se refere a normas de padrões ambientais com objetivo de abordar temas como:

• Sistemas de gestão ambiental.


• Rotulagem ambiental.

79
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

• Auditorias ambientais.
• Análise do ciclo de vida.
• Comunicação ambiental.
• Desempenho ambiental.
• Aspectos ambientais.
• Terminologia.

A ISO 14001 visa, também, atender indústrias de qualquer segmento e porte.


O Comitê Técnico 207, chamado ISO/TC207 é a área da ISO responsável pela
série ISO 14000. Na ABNT, seu correspondente é o Comitê Brasileiro de Gestão
Ambiental CB-38. Fazem parte dessa série as normas: ISO 14001, 14004, 14010,
14020, 14031, 14040 e 14064 (NOMUS, 2021).

A norma ISO 14.001 foi criada pela ABNT e tem como objetivo apresentar
os requisitos para a estruturação de um Sistema de Gestão Ambiental. A norma
considera aspectos ambientais que são influenciados pela empresa e, também,
outros aspectos que a organização pode controlar. Um dos diferenciais da norma
ISO 14.001 é a possibilidade dada às empresas de desenvolverem um sistema
que proteja o meio ambiente, respondendo de forma proativa e rápida a mudanças
das condições ambientais.

A empresa que busca ter uma postura sustentável e ser reconhecida por
isso pelos seus clientes, parceiros e pela sociedade, é o tipo de empresa que
implementa a ISO 14.001. Essas empresas veem a norma como uma forma de
estabelecer um sistema de gestão ambiental e de estarem seguras sobre políticas
e práticas ambientais adotadas em suas organizações.

As indústrias têm procurado atuar de uma forma ambientalmente correta e


seguir as leis e diretrizes impostas para o setor. No entanto, o que a ISO 14.001
proporciona é uma atuação em que a gestão ambiental é trabalhada de forma
estratégica, inserida no objetivo de promover o desenvolvimento sustentável da
organização.

A norma ISSO 14.001 trabalha com questões altamente relevantes para


as indústrias, analisando, assim, a cadeia de valor, o ciclo de vida dos produtos
envolvendo as fases de concepção, fabricação, comercialização até a destinação
final. A proposta é analisar desde a fase do projeto, em seu escopo inicial,
passando pela fabricação, distribuição e descarte dos produtos. A intenção é que
a indústria absorva a preocupação com a perspectiva de ciclo de vida com foco
na prevenção dos impactos ambientais. A norma também analisa os aspectos
sociais, por meio da análise das condições ambientais locais, regionais e globais
afetadas pela empresa.

80
Capítulo 2 Políticas Ambientais

Ao implementar uma norma, a indústria dispende recursos humanos e


financeiros. Esse esforço deve ser sempre avaliado e medido para que, de
fato, a energia da organização seja canalizada para algo que dará retorno para
a organização. Dessa forma, os objetivos da norma devem estar claros para a
indústria e todos os envolvidos. No caso da ISO 14.001, os objetivos são:

• Proteção do meio ambiente pela prevenção ou mitigação dos impactos


ambientais adversos.
• Mitigação de potenciais efetivos adversos das condições ambientais na
organização.
• Auxílio à organização no atendimento aos requisitos legais e outros
requisitos.
• Aumento do desempenho ambiental.
• Controle ou influência no modo que os produtos e serviços da
organização são projetados, fabricados, distribuídos, consumidos e
descartados, utilizando uma perspectiva de ciclo de vida que possa
prevenir o deslocamento involuntário dos impactos ambientais dentro do
ciclo de vida.
• Alcance dos benefícios financeiros e operacionais que podem resultar
da implementação de alternativas ambientais que reforçam a posição da
organização no mercado.
• Comunicação de informações ambientais para as partes interessadas
pertinentes.

Vale ressaltar que, para que os objetivos traçados sejam alcançados, é


necessário o envolvimento de toda a empresa, principalmente o patrocínio e o
comprometimento da alta administração, que dará o tom do discurso e a direção
para execução de todas as atividades.

Ao começar a trabalhar com a norma ISO 14.001, uma indústria apresenta o


seu interesse por incorporar uma atuação sustentável, mudar a sua mentalidade,
passando a pensar na perspectiva de oportunidades e riscos. Esse pensamento
é formado por questões como: quais são as oportunidades que o meu produto
apresenta quando tem o seu ciclo fechado? Quais as oportunidades para
a indústria trabalhar com processos de logística reversa, ou seja, em sua
destinação, os resíduos retornam como matéria-prima para outros produtos,
sejam secundários ou até mesmo novos produtos.

Um exemplo prático que demonstra bem esta mentalidade é o de indústrias


que fabricam embalagens de aço e que tem como um de seus principais objetivos
receber as embalagens usadas para utilizar como parte da matéria-prima para a

81
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

produção de novas embalagens de aço. Tal ação estimula a reciclagem e gera


ganhos ambientais e financeiros para o negócio.

Outro pensamento que as indústrias começam a inserir é referente aos


riscos que determinados produtos podem trazer para os seus consumidores e
para o meio ambiente, começando a estruturar formas seguras para a realização
do descarte. Por meio dessa postura de ações, as indústrias podem melhorar
o seu desempenho e colher os resultados dos investimentos realizados para
se tornarem mais sustentáveis, melhorando, assim, o desempenho ambiental.
Nesse sentido, as indústrias evitam receber multas desnecessárias pelos órgãos
ambientais, além de melhorar a sua imagem para a sociedade e para os seus
consumidores.

A intenção principal de inserir práticas sustentáveis e um sistema de gestão


ambiental na indústria é para conciliar a preservação do meio ambiente com
a produtividade. Essa ação é possível por meio das práticas ambientais que
resultam diretamente em benefícios operacionais e financeiros, ampliando a
competitividade da empresa.

Nesse sentido, a ISO 14.001 pode proporcionar ganhos econômicos


consideráveis para as indústrias, pois pode reduzir o consumo de recursos,
reduzir custos e, também, fortalecer a imagem da organização nos mercados
nacionais e internacionais que cada vez mais valorizam essa certificação.

Neste sentido, quando uma indústria é certificada com um Sistema de


Gestão Ambiental por meio da ISO 14.001, reconhecido internacionalmente, a
organização alcança uma série de benefícios, como:

• Crescer de forma sustentável


o A ISO 14001 identifica e estabelece o significado de todos os impactos
ambientais.
o Implantação de um controle efetivo de todo o impacto ambiental.
o Melhora a eficiência ao usar materiais naturais na linha de produção.
o Diminui o custo operacional do negócio, reduzindo desperdícios e
aumentando a eficiência.
o Amplia a confiança dos stakeholders.

• Estar atualizado frente a leis ambientais e possíveis processos


o Atendimento a todos os requerimentos legais com a implantação da ISO
14001.
o Garantia no atendimento aos requisitos legais.
o Torna os dados levantados pela indústria relevantes legalmente e,
também, úteis para colaboradores e interessados.

82
Capítulo 2 Políticas Ambientais

o Reduz as chances de processos e multas, o que pode resultar em menos


visitas de agentes do governo e seguros mais baratos.
o Atualização sobre mudanças legais e um tempo maior para se adequar
aos novos requisitos.

• Manter a imagem da organização e da marca em alta com clientes e


investidores
o Um certificado ISO 14001 mostra que impactos ambientais são prioridade
para a indústria.
o Garante para investidores que a indústria está usando as melhores
práticas ambientais.
o Garante que as pessoas envolvidas e a equipe continuem melhorando o
sistema ambiental continuamente.
o Melhora a reputação e satisfação de sócios e investidores.
o Aumenta o acesso a novos clientes e parceiros.
o Estabelece uma vantagem competitiva para a indústria crescer.

• Exigir que os fornecedores tenham responsabilidade ambiental


o O certificado ISO 14001 demonstra que a indústria é ética e tem
credibilidade.
o É reconhecido e aceito internacionalmente, o que pode aumentar
bastante suas vendas e possibilidade de investimento.
o Ampliar a atuação da indústria no mercado externo, elevando as
exportações de seus produtos.

Desta forma, frente a tantos benefícios, a dúvida é: como implementar a


ISO 14.001 em uma indústria? Para responder a essa dúvida, consideramos que
a indústria que está interessada em implantar um sistema de gestão ambiental
e obter o certificado da ISO 14.001 deverá atender aos requisitos da norma
ambiental internacional. Isso acontece porque a legislação ambiental no Brasil
é complexa, e envolve diferentes esferas nacionais, estaduais e locais, como já
vimos anteriormente. Sendo assim, para a certificação, a indústria precisa realizar
um detalhamento da sua situação em relação a questões ambientais, o que, em
um primeiro momento, pode ser considerado mais complexo e trabalhoso se
comparado a outras certificações.

O período médio para implantar a ISO 14.001 é de 12 a 18 meses,


o que impacta nesse tempo são fatores como o porte da indústria, o nível de
comprometimento da direção e da equipe dedicada ao trabalho. Para iniciar
um processo de implantação da norma, a indústria deve, em primeiro lugar,
estabelecer uma equipe própria com conhecimento do tema, composta por
colaboradores da empresa ou por uma consultoria para realizar uma auditoria
interna e adequar os processos às exigências da norma.

83
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Para obter a certificação, a indústria precisa contatar as organizações


de certificação independentes que fazem todo o processo e atestam que a
indústria está de acordo com os requisitos solicitados na norma. As instituições
independentes mais conhecidas que atuam com a ISO 14.001 no Brasil são a
Bureau Veritas Quality International e a Sociedade Geral de Superintendência
(SGS). Nesse sentido, são listadas a seguir algumas ações importantes que
devem ser consideradas pelas indústrias interessadas em implementar a ISO
14.001.

• Estudar sobre o tema: é importante estar por dentro dos impactos


que a indústria pode causar ao meio ambiente e, também, formas de
os eliminar sem perder rentabilidade. Vale observar e estudar a norma
para saber e entender um pouco mais sobre o processo que a indústria
passará.
• Envolver os colaboradores e sócios no projeto de implantação: o ideal é
que todos abracem a causa para resultados mais rápidos e efetivos.
• Oferecer treinamentos e incentivos para a equipe: assim, é possível
formar auditores internos capazes de acelerar a implementação e facilitar
a manutenção da certificação.
• Usar o benefício comercial da norma para melhorar a imagem da
indústria: mostrar para clientes, parceiros e possíveis clientes que a
indústria tem credibilidade e preocupação com o meio ambiente.
• Estabelecer uma equipe focada na implantação: garante que o processo
siga de forma continua e estável.
• Buscar ajuda especializada: devido à complexidade de alguns temas, é
importante a participação de especialistas capacitados.

Para visualizar a implantação da ISO 14.001, leia o estudo de


caso da implantação da ISO 14.001 em uma indústria de papel no
estado do Paraná, disponível em: https://www.scielo.br/j/read/a/
rwhsb6JQK65TQbTZv96J7jy/?lang=pt

84
Capítulo 2 Políticas Ambientais

1 A Norma ISO 14.001 é uma das melhores formas de uma indústria


estabelecer um sistema de gestão ambiental. Nesse sentido,
descreva quais são os objetivos da ISO 14.001 e para empresas
de qual porte ela é indicada.

Observamos que a norma ISO 14.001 pode ser considerada uma forma de
conciliar preservação ambiental à estratégia de crescimento e desenvolvimento
das indústrias. Ao implementar uma certificação desse nível, a indústria estabelece
novos padrões competitivos e se insere em um rol de indústrias com uma visão
sustentável ampliada de seus negócios.

Nesse sentido, a certificação ISO 14.001 não é uma obrigação, mas sim uma
oportunidade para as indústrias que queiram estabelecer seus sistemas de gestão
ambiental. Por outro lado, existem projetos ambientais que estão previstos em lei
e que necessitam ser atendidos conforme a atividade industrial realizada.

4 PROJETOS AMBIENTAIS
Dentre as ações que as indústrias estão mais atentas e preocupadas em
atender, podemos citar um dos instrumentos da Política Nacional de Meio
Ambiente, o licenciamento ambiental. O objetivo do licenciamento ambiental
é compatibilizar o desenvolvimento econômico-social com o meio ambiente
ecologicamente equilibrado.

Por isso, segundo o Ibama (2021), a construção, instalação, ampliação


e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos
ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma,
de causar degradação ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental.

O Ibama é o órgão executor do licenciamento ambiental de competência


da União. A Lei Complementar nº 140/11, art. 7º, inciso XIV, e o Decreto nº
8.437/15 estabelecem os critérios e tipos de atividades e de empreendimentos
sujeitos ao licenciamento ambiental no Ibama, sendo de competência do Ibama o
licenciamento ambiental de atividades e de empreendimentos:

• Localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país


limítrofe.

85
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

• Localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma continental


ou na zona econômica exclusiva.
• Localizados ou desenvolvidos em terras indígenas.
• Localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação instituídas
pela União, exceto em APAs.
• Localizados ou desenvolvidos em dois ou mais Estados.
• De caráter militar, excetuando-se do licenciamento ambiental, nos termos
de ato do Poder Executivo, aqueles previstos no preparo e emprego das
Forças Armadas.
• Destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar,
armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que
utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações,
mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
• Ferrovia federal: Implantação, ampliação de capacidade e regularização
ambiental. Não se aplica aos casos de implantação e ampliação de
pátios ferroviários, melhoramentos de ferrovias, implantação e ampliação
de estruturas de apoio de ferrovias, ramais e contornos ferroviários.
• Rodovia federal: implantação, regularização ambiental de rodovias
pavimentadas, pavimentação e ampliação de capacidade com extensão
igual ou superior a duzentos quilômetros e atividades de manutenção,
conservação, recuperação, restauração e melhoramento em rodovias
federais regularizadas. Não se aplica aos casos de contornos e acessos
rodoviários, anéis viários e travessias urbanas.
• Hidrovias federais: implantação e ampliação de capacidade cujo
somatório dos trechos de intervenções seja igual ou superior a duzentos
quilômetros de extensão.
• Portos organizados, exceto as instalações portuárias que movimentem
carga em volume inferior a 450.000 TEU/ano ou a 15.000.000 ton/ano.
• Terminais de uso privado e instalações portuárias que movimentem
carga em volume superior a 450.000 TEU/ano ou a 15.000.000 ton/ano.
• Petróleo e gás: exploração e avaliação de jazidas, compreendendo as
atividades de aquisição sísmica, coleta de dados de fundo (piston core),
perfuração de poços e teste de longa duração quando realizadas no
ambiente marinho e em zona de transição terra-mar (offshore).
• Petróleo e gás: produção, compreendendo as atividades de perfuração
de poços, implantação de sistemas de produção e escoamento, quando
realizada no ambiente marinho e em zona de transição terra-mar
(offshore).
• Petróleo e gás: produção, quando realizada a partir de recurso não
convencional de petróleo e gás natural, em ambiente marinho e em zona
de transição terra-mar (offshore) ou terrestre (onshore), compreendendo
as atividades de perfuração de poços, fraturamento hidráulico e
implantação de sistemas de produção e escoamento.

86
Capítulo 2 Políticas Ambientais

• Usinas hidrelétricas com capacidade instalada igual ou superior a


trezentos megawatts.
• Usinas termelétricas com capacidade instalada igual ou superior a
trezentos megawatts.
• Usinas eólicas, no caso de empreendimentos e atividades offshore e
zona de transição terra-mar.

Se a atividade ou empreendimento não se enquadrar em nenhum dos


critérios que definem a competência da união para conduzir o processo de
licenciamento, o interessado deve consultar a Lei Complementar nº 140/11, art. 8º
e 9º, bem como as normativas do estado ou município no qual se insere o projeto,
para verificar se este deve ser submetido ao licenciamento ambiental estadual ou
municipal. Nesses casos, deve-se buscar informações sobre os procedimentos de
licenciamento ambiental no órgão ambiental competente do estado ou município
em que se localiza a atividade ou empreendimento.

Algumas atividades específicas são consideradas de risco leve, irrelevante


ou inexistente, com irrelevante potencial de degradação ambiental, e, por isso,
não são passíveis de licenciamento ambiental.

Algumas atividades não são submetidas ao procedimento de licenciamento


ambiental; no entanto, requerem a emissão de licenças e autorização
específica do órgão ambiental competente, tais como uso e manejo de fauna
silvestre, supressão e manejo da vegetação, transporte, por qualquer meio, e
o armazenamento de madeira, lenha, carvão e outros produtos ou subprodutos
florestais oriundos de florestas de espécies nativas, transporte de produtos
perigosos. O setor da indústria florestal é um exemplo de atividade industrial
que necessita seguir uma série de regras ambientais para a realização de suas
atividades.

1 Descreva o que é o licenciamento ambiental e qual sua


obrigatoriedade para as atividades industriais.

87
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Na Figura 5, são apresentadas as etapas do licenciamento ambiental.

FIGURA 5 – ETAPAS DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL

FONTE: Adaptado de IBAMA (2021).

A definição do procedimento a ser adotado, incluindo tipos de licença e


estudos ambientais necessários, é realizada na etapa de enquadramento do
objeto, de acordo o estabelecido na legislação e com as características do projeto
e de seu potencial de causar degradação ambiental.

De modo geral, o procedimento de licenciamento ambiental depende da


obtenção de licença prévia (LP), licença de instalação (LI) e licença de operação
(LO), emitidas nessa ordem, sendo que a LI ou LO é emitida após a análise do
projeto e do atendimento das condições estabelecidas na licença anterior.

Existe, ainda, um licenciamento específico de atividades em regularização


ambiental, denominado licenciamento ambiental corretivo. O procedimento de
licenciamento ambiental corretivo contempla a obtenção da licença de operação.
Há, também, outros procedimentos e licenças específicas estabelecidas na
legislação, de acordo com o tipo e características da atividade ou empreendimento.

88
Capítulo 2 Políticas Ambientais

As licenças ambientais são atos administrativos pelos quais o órgão ambiental


estabelece as condições, restrições e medidas de controle e monitoramento
ambientais que deverão ser cumpridas pelo empreendedor – o responsável pelo
projeto/empreendimento/atividade/obra licenciados. De modo geral, sem prejuízo
de outros atos autorizativos definidos em demais regulamentos, podem ser
emitidas as licenças e autorizações ambientais relacionadas a seguir:

• Licença prévia (LP): concedida na fase preliminar do planejamento do


empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção,
atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos
básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua
implementação. O prazo de validade dessa licença é de cinco anos.
• Licença de instalação (LI): autoriza a instalação do empreendimento
ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos,
programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle
ambiental e demais condicionantes. O prazo de validade dessa licença é
de seis anos.
• Licença de instalação corretiva (LIC): essa modalidade de pedido de
licença é utilizada para empreendimentos já instalados ou em operação.
A proposta é regularizar estabelecimentos concebidos quando os
instrumentos ambientais de licenciamento não eram tão efetivos,
ou, no caso de empreendimentos que iniciaram suas atividades,
desconhecendo a obrigatoriedade dos procedimentos de licenciamento
ambiental para sua atividade.
• Licença de operação (LO): autoriza a operação da atividade ou
empreendimento, com as medidas de controle ambiental e condicionantes
determinados para a operação. O prazo de validade dessa licença é de 4
a 10 anos.
• Licença de operação corretiva (LOC): modalidade de licença utilizada
para empreendimentos implantados sem o devido licenciamento
ambiental. Essa licença permite a regularização do empreendimento
diante dos órgãos ambientais.
• Licença de pesquisa sísmica (LPS): autoriza a pesquisa de dados
sísmicos marítimos e em zonas de transição e estabelece condições,
restrições e medidas de controle ambiental que devem ser seguidas pelo
empreendedor para realizar essas atividades.
• Autorização de supressão de vegetação (ASV): autoriza as atividades
de supressão de vegetação nativa para a instalação e operação dos
projetos licenciados.
• Autorização para coleta, captura e transporte de material biológico (Abio):
autoriza a execução de atividades relacionadas ao manejo de fauna
durante a fase prévia, de instalação ou operação do projeto licenciado.

89
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Dentro do processo de licenças ambientais, existem estudos e planos


ambientas que possuem natureza técnica e instrutória no processo de
licenciamento ambiental, subsidiando a decisão quanto à viabilidade ambiental,
instalação, ampliação, operação, recuperação e remediação ambiental,
descomissionamento, entre outros. Os estudos e planos ambientais podem ser
solicitados isolados ou conjuntamente.

O estudo ambiental apresenta os resultados e conclusões da avaliação


de impacto ambiental da atividade ou empreendimento, indicando as medidas
ambientais para evitar, reduzir, recuperar e compensar os impactos negativos e
potencializar os impactos positivos.

O licenciamento ambiental federal de atividades ou de empreendimentos


potencialmente causadores de significativo impacto ambiental é subsidiado
pelo EIA e RIMA, que são tipos de documentos por meio dos quais a avaliação
de impacto ambiental é consubstanciada. O Ibama ainda pode determinar
a elaboração de outros tipos de estudo conforme critérios estabelecidos na
legislação.

O plano ambiental ou plano de gestão ambiental (PGA) é um documento


que descreve as medidas ambientais, incluindo os critérios e diretrizes para
adoção destas medidas, podendo ser dividido em programas de ação específico.
O PGA é apresentado juntamente com o requerimento de licença de instalação
ou operação. O plano gestão ambiental recebe inúmeras denominações na
legislação vigente, tais como o plano básico ambiental (PBA), plano de controle
ambiental (PCA) e relatório de controle ambiental (RCA).

Os estudos e planos ambientais devem ser elaborados por profissionais


legalmente habilitados, às expensas do empreendedor, que serão responsáveis
pelas informações apresentadas (Resolução Conama nº 01/86, art. 8º; Resolução
Conama nº 237/97, art. 11).

Dependendo da localização da atividade ou empreendimento, outros órgãos


são envolvidos no processo de licenciamento ambiental federal. De modo
geral, esses órgãos atuam nas etapas de definição de escopo, análise técnica
e acompanhamento do processo de licenciamento ambiental federal, de acordo
com os seguintes critérios:

• Funai: quando a atividade ou o empreendimento submetido ao


licenciamento ambiental localizar-se em terra indígena ou apresentar
elementos que possam ocasionar impacto socioambiental direto na terra
indígena, respeitados os limites do anexo I da Portaria Interministerial
MMA/MJ/MC/MS nº 60/15.

90
Capítulo 2 Políticas Ambientais

• Incra: quando a atividade ou o empreendimento submetido ao


licenciamento ambiental localizar-se em terra quilombola ou apresentar
elementos que possam ocasionar impacto socioambiental direto na terra
quilombola, respeitados os limites do anexo I da Portaria Interministerial
MMA/MJ/MC/MS nº 60/15.
• Iphan: quando a área de influência direta da atividade ou o
empreendimento submetido ao licenciamento ambiental localizar-se em
área onde foi constatada a ocorrência dos bens culturais acautelados
referidos no art. 2º, inciso II, da Portaria Interministerial MMA/MJ/MC/MS
nº 60/15.
• SVS/MS: quando a atividade ou o empreendimento localizar-se em
municípios pertencentes às áreas de risco ou endêmicas para malária.
• Órgão federal, estadual ou municipal responsável pela gestão ou criação
da unidade de conservação: quando a atividade ou empreendimento
afetar unidade de conservação da natureza ou sua zona de
amortecimento, de acordo com a Resolução Conama nº 428/10 e
Instrução Normativa Conjunta nº 08/19.
• ICMBIO: quando houver impactos da atividade ou empreendimento sobre
espécies ameaçadas de extinção, quando o Ibama julgar pertinente,
conforme Instrução Normativa Conjunta nº 08/19.

A Lei nº 9.985/2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de


Conservação da Natureza (SNUC), determina que, em casos de licenciamento
ambiental de empreendimentos de significativo impacto ambiental, com
fundamento em EIA e respectivo RIMA, o empreendedor é obrigado a apoiar a
implantação e manutenção de unidade de conservação do grupo de proteção
integral e, no caso de ser diretamente afetada, também daquelas do grupo de uso
sustentável.

O valor a ser destinado pelo empreendedor deve ser definido pelo órgão
ambiental licenciador, de acordo com o grau de impacto do empreendimento. A
compensação ambiental financeira determinada na Lei do SNUC não deve ser
confundida com outras medidas ambientais para compensação de impactos
ambientais identificados no processo de licenciamento ambiental ou determinadas
por outras normas.

Referente aos custos, o valor das licenças ambientais e suas renovações é


definido em função do porte da empresa e do potencial dos impactos ambientais.
Esses valores podem ser conferidos na Tabela 1 a seguir, em reais (R$).

91
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

TABELA 1 – VALORES COBRADOS PARA LICENÇAS AMBIENTAIS


EMPRESA DE PEQUENO PORTE (Receita bruta anual superior a
R$360.000,00 e igual ou inferior a R$4.800.000,00)
Impacto Ambiental Pequeno Médio Alto
Licença Prévia 5.426,84 10.853,69 21.707,37
Licença de Instalação 15.195,16 30.390,32 60.780,64
Licença de Operação 7.597,58 15.195,16 30.390,32
EMPRESA DE PORTE MÉDIO (Receita bruta anual superior a R$4.800.000,00
e igual ou inferior a R$12.000.000,00)
Impacto Ambiental Pequeno Médio Alto
Licença Prévia 7.597,58 15.195,16 30.390,32
Licença de Instalação 21.164,69 42.329,38 84.658,75
Licença de Operação 9.768,32 21.164,69 42.329,38
EMPRESA DE GRANDE PORTE (Receita bruta anual superior a
R$12.000.000,00)
Impacto Ambiental Pequeno Médio Alto
Licença Prévia 10.853,69 21.707,37 43.414,75
Licença de Instalação 30.390,32 60.780,64 121.561,29
Licença de Operação 15.195,16 30.390,32 60.780,64
FONTE: Adaptado de IBAMA (2021).

O valor da Autorização de Supressão de Vegetação (ASV) é calculado com


base na área de vegetação a ser suprimida, e é aplicável à supressão realizada
em área de preservação permanente (APP). Os valores podem ser conferidos na
Tabela 2 a seguir, em reais (R$).

TABELA 2 – VALORES PARA A SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO


DE ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE
Área Valor (R$)
Até 50 há R$ 360,89
Acima de 50 ha R$ 16.958,89 + (67,84 x área que excede 50 ha)
FONTE: Adaptado de IBAMA (2021).

Adicionalmente a esses valores, é realizada uma cobrança relativa à


avaliação e análise de documentação que subsidiou a emissão das licenças
e autorizações, a título de cobrança sobre os serviços prestados pelo órgão
ambiental. A cobrança é realizada após a etapa de decisão do Ibama sobre o
requerimento de licença ou autorização.

92
Capítulo 2 Políticas Ambientais

Devido a alta relevância do tema licenciamento ambiental para


o setor industrial, a Federação das Indústrias do Estado de Santa
Catarina (FIESC), por meio da sua câmara de meio ambiente e
sustentabilidade, reuniu-se com empresários de diversos setores
industriais para abordar o tema do licenciamento ambiental e seus
impactos nas atividades industriais. Fonte: https://fiesc.com.br/pt-br/
imprensa/fiesc-debate-projeto-de-lei-de-licenciamento-ambiental.

A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)


promoveu um evento com a presença de especialistas no tema
para abordar como a lei geral de licenciamento ambiental atuará no
setor da construção civil no Brasil. Link: https://www.youtube.com/
watch?v=qnGOFCMuHIQ.

Alguns setores industriais conseguiram simplificar


significativamente o processo de licenciamento ambiental. É o caso
dos avicultores que, no estado de Santa Catarina, tem o processo de
licenciamento ambiental mais ágil, pois contam com a modalidade
de licenciamento por adesão e compromisso (LAC). O setor foi
beneficiado com esta possibilidade pois a avicultura apresenta um
baixo potencial poluidor. Todos os controles ambientais da
atividade são validados e consolidados por instituições de pesquisa
e pelo próprio Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA),
que autoriza/licencia a atividade por vários anos. Fonte: https://
avicultura.info/pt-br/avicultores-sc-licenciamento-ambiental/.

93
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Para compor o processo de licenciamento ambiental, existem outros


mecanismos previstos na legislação ambiental que também devem ser seguidos,
principalmente pelas indústrias com potencial poluidor. Entre esses instrumentos,
estão o EIA e o RIMA, considerando que

Impacto ambiental é qualquer alteração das propriedades


físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causadas por
qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades
humanas, que direta ou indiretamente afetem: a) a saúde, a
segurança e o bem-estar da população; b) as atividades sociais
e econômicas; c) a biota; d) as condições estéticas e sanitárias
do meio ambiente; e e) a qualidade dos recursos ambientais
(CONAMA, 1986, s. p.).

Portanto, conforme orienta a resolução do CONAMA, o impacto ambiental


é caracterizado por qualquer alteração no meio ambiente pelo ser humano
que, de forma significativa, venha a alterar sua forma original. Já o artigo 225,
no parágrafo 1º, inciso IV, da Constituição Federal de 1988, diz ser obrigatória a
execução do EIA/RIMA em qualquer empreendimento que cause ou possa causar
dano caracterizado como impacto ambiental no meio ambiente, modificando sua
estrutura original.

Estudo de Impacto Ambiental – EIA

O EIA é um documento de natureza técnica que tem como finalidade


avaliar os impactos ambientais gerados por atividades e/ou empreendimentos
potencialmente poluidores ou que possam causar degradação ambiental. Uma
vez constatado o impacto ao meio ambiente, deve-se ponderar se é positivo
ou negativo. Se for negativo, deve-se avaliar as melhores ações e os meios
necessários para evitar ou minimizar o prejuízo. A Lei no 6.938/81 estabeleceu a
“avaliação dos impactos ambientais” (BRASIL, 1981, s. p.) como instrumento da
Política Nacional do Meio Ambiente.

Relatório de Impacto Ambiental – RIMA

As principais informações contidas no EIA, bem como sua conclusão, devem


ser apresentadas no RIMA em linguagem clara e objetiva e ilustrado por mapas,
cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação visual, de modo
que se possam entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como
todas as consequências ambientais de sua implementação. Nesse sentido, o
RIMA é um documento público que confere transparência ao EIA, um resumo em
linguagem didática, clara e objetiva, para que qualquer interessado tenha acesso
à informação e exerça controle social.

94
Capítulo 2 Políticas Ambientais

O EIA é um estudo profundo e interdisciplinar que caracteriza ambientalmente


a região de construção do empreendimento, além de quantificar os impactos
que possivelmente ocorrerão no local e no entorno. O EIA é colocado ao lado
do RIMA, que sintetiza o EIA em uma estrutura mais clara e acessível, sendo
divulgado de forma pública para o conhecimento da sociedade.

Para exemplificar e compreender melhor a apresentação do


RIMA, podemos observar o RIMA de uma unidade de processamento
de gás natural e infraestrutura de gasoduto no estado do Rio de
Janeiro. Link: http://www.inea.rj.gov.br/wp-content/uploads/2020/09/
RIMA_alta.pdf

A principal função do EIA/RIMA é elaborar e dispor de ações que possam


mitigar ou realizar a compensação ambiental dos possíveis impactos através da
análise da caracterização regional. Isso serve, em última instância, para evitar
conflitos econômicos, sociais e ambientais.

Um exemplo de EIA podemos ver na indústria da construção


pesada, ou seja, aquela responsável pela construção e obras em
rodovias e cidades. Para compreender melhor, veja o exemplo do
EIA do túnel Ayrtin Senna, na cidade de São Paulo. Link: https://www.
prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/arquivos/secretarias/
meio_ambiente/cades/eia_rima/0007/eiatunelairton.pdf.

Atualmente, o EIA é obrigatório para empresas de médio a grande porte que


possam causar degradação ambiental através da construção e/ou produção. Essa
necessidade está vinculada à segurança jurídica da empresa, dado que ele serve
como um documento avaliativo do empreendimento nas fases do Licenciamento
Ambiental.

95
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

O EIA é requerido na Licença Prévia, uma das fases do Licenciamento


Ambiental, para compor a caracterização do empreendimento e suas
consequências oferecendo uma base sólida para autorização da Licença
de Instalação e de Operação. O EIA é composto por 7 campos que norteiam
a análise do estudo. Os campos giram em torno da caracterização ambiental,
econômica e social do empreendimento e do que está ao redor. Na Figura 6,
estão apresentados os campos de preenchimento do EIA.

FIGURA 7 – CAMPOS DE PREENCHIMENTO DE UM EIA

FONTE: Adaptado de Eu Reciclo (2020).

A seguir, descrevemos os pontos necessários para cada uma das fases de


elaboração para compor um EIA. O campo 1, das informações gerais, deve conter
as seguintes informações:

• CNPJ.
• Breve histórico da empresa.
• Tipos de atividades executadas.
• Objetivo e justificativa para a implantação.
• Caracterização do Empreendimento.

No campo 2, caracterização do empreendimento, deve constar:

• Localização.

96
Capítulo 2 Políticas Ambientais

• Número de funcionários.
• Infraestrutura interna para apoio da obra.
• Descrição dos processos industriais (principalmente dos que diminuirão
o impacto ambiental, como tratamento de efluentes e sistema de filtro ou
dispersão dos poluentes).

O campo 3, área de Influência, apresenta as seguintes informações:

• Mapeamento das áreas sujeitas a influência direta – áreas que


possivelmente serão afetadas.
• Mapeamento das áreas sujeitas a influência indireta – áreas que sofrem
impacto indireto, ou seja, quando o empreendimento gera impacto e cria
outra externalidade que atinge a área em questão.
• Mapeamento das áreas diretamente afetadas – áreas que serão de fato
afetadas diretamente.

Por sua vez, o campo 4, diagnóstico ambiental, deve conter a descrição do


meio físico através da análise quantitativa e descritiva do clima, da qualidade do
ar, da qualidade do solo, da qualidade das águas, do ruído, da flora, da fauna.

No campo 5, qualidade ambiental, além dos aspectos citados anteriormente,


é considerada também a descrição do aspecto social através do Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH), do número populacional e da descrição das vias
de transporte da região.

Já no campo 6, análise dos impactos ambientais, há a avaliação e exposição


dos impactos potenciais do empreendimento sobre todos os aspectos anteriores
abordados. E, para finalizar, no campo 7, medidas mitigadoras, são apresentadas
as seguintes informações:

• Em vista dos impactos potenciais, a equipe responsável pelo EIA/RIMA


desenvolve metodologias e maneiras de evitá-los ou de diminuí-los.

Como exemplo, uma das medidas mitigadoras fixada pelo Ibama é a


destinação do valor mínimo de 0,5% dos custos totais de instalação para que
sejam aplicados em unidades de conservação ambiental. Essa medida é uma
ação de compensação ambiental do impacto causado e pode ser substituída por
alternativas que possuam o mesmo caráter de compensação.

Nesse sentido, quem é responsável por elaborar um estudo de impacto


ambiental? Devido à complexidade do estudo, é aconselhável que uma equipe
multidisciplinar fique responsável em elaborar o EIA, pois são necessárias várias

97
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

competências em diferentes áreas para promover uma análise concreta do


empreendimento e seus impactos.

Por conta disso, o artigo 7 da Resolução CONAMA nº 1, de 23 de janeiro de


1986, definiu como necessária uma equipe altamente especializada que possa
contribuir com saberes técnico-científico diversificados. Além disso, é necessário
que os responsáveis possuam o cadastro técnico federal de atividades e
instrumentos de defesa ambiental, disposto pelo Ibama.

Para garantir o cumprimento do estudo de impacto ambiental, existem


duas esferas responsáveis pela fiscalização do EIA vinculado ao Licenciamento
Ambiental. A primeira delas é a Federal, de responsabilidade do IBAMA, que trata
de empreendimentos que influenciam para além das fronteiras do Estado.

A segunda esfera é a estadual, que diz respeito a empreendimentos que


mantêm seus impactos dentro do Estado. Nessa última, o responsável pela
fiscalização são os órgãos estaduais. Por exemplo, em São Paulo, a Companhia
ambiental do estado de São Paulo (CETESB) é a responsável pela fiscalização
do licenciamento ambiental, assim como pela análise e aprovação do EIA.

Apesar do EIA e do RIMA serem instrumentos trabalhosos e complexos, eles


são importantes instrumentos para direcionar os empreendimentos e as indústrias
e, seguindo os protocolos, as legislações as indústrias estão se comprometendo
com uma atuação mais consciente e sustentável.

O fato é que a sustentabilidade é o único caminho possível e viável de ser


percorrido para as indústrias, portanto sabemos que é necessário simplificar os
processos para que não sejam tão burocráticos e para que garantam a segurança
jurídica, mas, também, é fundamental garantir a aplicação da legislação para que
os recursos naturais sejam preservados de maneira correta.

As indústrias que conseguem ultrapassar as barreiras e incorporam de fato


os conceitos de sustentabilidade são aquelas que olham para as legislações e
demais regras ambientais como uma oportunidade. Muitas indústrias estão até
mesmo utilizando os conceitos ao seu favor e criando os negócios verdes, que
veremos no Capítulo 3 deste Livro Didático.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Neste capítulo, conhecemos os diferentes órgãos ambientais e sua atuação.
Foram apresentadas, também, as principais legislações com impacto direto no
setor industrial. Foi possível entender o papel da legislação, que existe para

98
Capítulo 2 Políticas Ambientais

criar as regras e direcionar as empresas por qual caminho devem percorrer para
promover o desenvolvimento e preservar o meio ambiente. E é para fazer cumprir
as leis ambientais é que existem diversos órgãos ambientais que são responsáveis
por criar, aplicar e garantir o cumprimento das legislações ambientais.

Apesar de parecer um universo muito político, as indústrias necessitam


conhecer os diversos atores envolvidos nas esferas federais, estaduais e
municipais, pois este conhecimento facilita o processo e a interlocução frente a
questões ambientais.

Nesse sentido, o que percebemos é que a temática da sustentabilidade tem


ultrapassado as fronteiras da legislação e, passou a ser uma forma de atender
às necessidades dos consumidores, que estão cada vez mais conscientes das
problemáticas ambientais.

Neste sentido, há algumas oportunidades surgem para as indústrias que


querem ampliar sua competitividade e se destacar no mercado. Este é o caso
da certificação ISO 14.001 que, como vimos, não é uma obrigação, mas sim
uma oportunidade para as indústrias que queiram estabelecer seus sistemas de
gestão ambiental.

Entre os benefícios gerados pela norma ISO 14.001 para as indústrias,


podemos destacar: a possibilidade da indústria de crescer de forma
sustentável; de estar atualizado frente as leis ambientais e possíveis
processos; manter a imagem da organização e da marca em alta com
clientes e investidores; exigir que os fornecedores tenham responsabilidade
ambiental.

Certamente as indústrias têm utilizado esta certificação para ampliar


e se diferenciar em um mercado altamente competitivo. Por outro lado,
as indústrias também possuem desafios que estão previstos em lei e que
necessitam ser atendidos conforme a atividade industrial realizada. Dentre todas
as legislações presentes, um dos destaques de maior impacto para as indústrias
é o licenciamento ambiental. Previsto em lei, ele é cobrado para as indústrias e
atividades com potencial poluidor.

Mesmo sendo um processo burocrático e complexo que as indústrias


precisam trilhar, sabemos que o licenciamento ambiental é uma das formas de
garantir o cuidado adequado com o meio ambiente. O cuidado e atenção com a
legislação ambiental é muito importante para a evolução da sociedade de forma
sustentável. A legislação, nesse sentido, serve como um mapa dos principais
pontos a serem seguidos para empreender de forma íntegra, harmonizando a
dimensão social, ambiental e econômica.

99
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Nesta dinâmica para a obtenção de licenças, existem estudos e relatórios que


precisam ser compostos para dimensionar os impactos ambientais da atividade
industrial e apresentá-los para toda a sociedade. Este é o caso do estudo de
impacto ambiental e do relatório de impacto ambiental que também aprendemos,
e, apesar de sua natureza técnica, são instrumentos de grande valor para manter
a preservação do meio ambiente.

No Capítulo 3, aprenderemos um pouco sobre as práticas ambientais nas


indústrias e conhecer os negócios sustentáveis que tem a sustentabilidade como
centro, além dos princípios da liderança sustentável. Abordaremos, também,
alguns indicadores ambientais utilizados nas indústrias e relataremos casos de
alguns setores industriais e sua relação com o meio ambiente.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Agência Nacional de Mineração. Home. c2021.Disponível em: https://
www.gov.br/anm/pt-br. Acesso em: 5 maio 2021.

BRASIL. Decreto no 99.274, de 6 de junho de 1990. Brasília, DF: Presidência


da República, 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/
antigos/d99274.htm. Acesso em: 31 ago. 2021.

BRASIL. Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981. Brasília, DF: Presidência da


República, 1981. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6938.
htm. Acesso em: 31 ago. 2021.

CONAMA. Resolução no 1, de 23 de janeiro de 1986. Brasília, DF: Diário


Oficial da União, 1986. Disponível em: http://www.siam.mg.gov.br/sla/download.
pdf?idNorma=8902. Acesso em: 31 ago. 2021.

EU RECICLO. Guia prático para elaboração do Estudo de Impacto


Ambiental do seu empreendimento. c2021. Disponível em: https://blog.
eureciclo.com.br/guia-pratico-estudo-de-impacto-ambiental-eia/. Acesso em: 16
maio 2021.

IBAMA. Sobre o Licenciamento Ambiental Federal. 2021. Disponível em:


http://www.ibama.gov.br/laf/sobre-o-licenciamento-ambiental-federal. Acesso em:
5 maio 2021.

100
Capítulo 2 Políticas Ambientais

IMA. Home. c2021. Disponível em: https://www.ima.sc.gov.br/ Acesso em: 6


maio 2021.

NOMUS BLOG INDUSTRIAL. Home. c2021. Disponível em: https://www.nomus.


com.br/blog-industrial/ Acesso em: 15 maio 2021.

TERA AMBIENTAL. Home. c2021. Disponível em: https://www.teraambiental.


com.br/. Acesso em: 19 maio 2021.

101
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

102
C APÍTULO 3
Práticas Ambientais na Indústria

A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Conhecer formatos de negócios sustentáveis.


• Identificar as características, comportamentos e dilemas de líderes sustentáveis.
• Analisar indicadores ambientais, sua estrutura, forma de coleta, alimentação
dos dados e apresentação dos resultados.
• Analisar práticas ambientais vivenciadas pelos setores industriais.
• Identificar as boas práticas das indústrias assim como as principais dificuldades
frente a questões ambientais.
• Conhecer práticas sustentáveis na indústria.
• Estabelecer indicadores para medir as ações ambientais dentro das indústrias
e seus impactos.
• Reorganizar processos de forma a torná-los mais sustentáveis.
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

104
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Para alinhar os conceitos de progresso e meio ambiente e para que a
sociedade cresça e se desenvolva ao mesmo tempo que preserva seus recursos
essenciais, é necessário ter novos formatos de negócios e, também, atuar em
novas bases competitivas. Competir da velha maneira, tendo como premissas
mão de obra barata e recursos naturais infinitos é uma mentalidade que precisa
ser extinta por completo do mundo industrial.

Para isso acontecer, observamos que o conceito de sustentabilidade vem


ganhando força e repercussão em diferentes esferas pelo mundo. A cada dia o
tema ganha mais força, e a preservação do meio ambiente apresenta-se como
a única e melhor forma de prosseguir e avançar como sociedade e no ambiente
corporativo.

Por outro lado, no sentido de ensinar e corrigir, diversas diretrizes e leis são
criadas para tentar manter as indústrias dentro do que é esperado com relação
ao meio ambiente. O desafio é grande, afinal produzir, faturar, ser lucrativo, ter
um retorno positivo, ser bem-visto pelos seus consumidores e stakeholders, e
trabalhar em novas bases competitivas, em que a sustentabilidade está em foco,
é algo completamente novo para o setor industrial, mas não é impossível.

Na prática das indústrias, observamos que existe um longo caminho a ser


percorrido e conseguimos identificar diversos e importantes avanços que foram
implementados por força de lei, mas também, em muitos casos, há avanços
implementados por lideranças com uma mentalidade completamente diferente,
mais arrojada e calibrada na perspectiva do cuidado com o meio ambiente.

Para se observar esses avanços, é possível avaliar os indicadores de


sustentabilidade utilizados pelas indústrias e muitas vezes compilados em
relatórios de sustentabilidade, que a cada dia estão mais refinados em termos
de medição, aspectos e abrangência. Além de serem absorvidos não apenas na
operação, mas, também, na estratégia das indústrias.

De qualquer forma, o que percebemos é que, para fechar essa nova equação
com novos fatores, as indústrias precisam de uma mentalidade de negócios
sustentáveis que inicie pela alta gestão da empresa e que permeie a todos os
colaboradores, de uma maneira que seja absorvida por completo no dia a dia da
indústria.

Afinal, o que são negócios sustentáveis? E por que essa nova forma de
atuação é tão relevante para as indústrias? É isso que vamos abordar neste

105
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

capítulo. Nesse sentido, o foco principal do nosso estudo será compreender os


negócios sustentáveis, os diferentes aspectos da liderança sustentável, avaliar os
indicadores ambientais e aprender com exemplos de indústrias que se destacam
nas questões relacionadas ao meio ambiente.

2 NEGÓCIOS SUSTENTÁVEIS
O mercado mudou, novos formatos competitivos são necessários para atuar
em um ambiente altamente competitivo e com mudanças rápidas e contínuas.
Nessa linha de pensamento, com todos os desafios impostos, é que surge uma
nova mentalidade de gestão: os negócios sustentáveis.

Os negócios sustentáveis são um novo modelo empresarial em que os


produtos ou serviços de uma empresa ou indústria buscam formas e estratégias
para integrar as questões ambientais, sociais e econômicas na forma de operar e
realizar a gestão de uma organização.

Na prática, as indústrias que utilizam o modelo de negócios sustentáveis


procuram inserir a tecnologia como aliada aos seus processos produtivos, além
de ter um olhar atento a todas as etapas do processo, observando todas as etapas
do ciclo produtivo de seus produtos, desde a matéria-prima até o descarte final.

Para entender um pouco melhor e observar exemplos práticos


de negócios sustentáveis, como empresas que atuam com energia
solar, embalagens ecológicas, dentre outros, acesse o link: https://
hccenergiasolar.com.br/posts/negocios-sustentaveis-confira-6-
ideias-lucrativas-para-investir/.

É importante compreender que ser uma indústria que atue com o modelo
de negócio sustentável vai muito além de alterar a forma como usam copos de
plásticos ou resmas de papel. A proposta de um negócio sustentável deve estar
de acordo com a ideia de garantir um equilíbrio entre desenvolvimento e respeito
ao meio ambiente.

Para isso se tornar real, é necessário que a empresa coloque a questão


ambiental, social e econômica no centro da sua estratégia, e que todas as

106
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

pessoas estejam envolvidas e dedicadas para colocar em prática essa nova


forma de atuação.

Para empresas novas no mercado, que estão começando suas atividades,


pode ser considerado mais fácil implementar esse conceito de modelo de negócio
sustentável, porque, no início, está muito atrelado inclusive a crenças e ideologias
do empreendedor.

Sabendo que os consumidores estão cada vez mais buscando produtos


sustentáveis, que valorizam empresas que se preocupam com o meio ambiente e
que, em muitos casos, estão dispostos a pagar mais por estes produtos, podemos
dizer que iniciar um negócio sustentável é olhar para um futuro promissor.

Nesse sentido, já percebemos um movimento de pequenas empresas muitas


delas no setor industrial, criadas para tentar amenizar os problemas existentes
entre economia e meio ambiente. Algumas áreas de atuação dessas empresas
são: energia, transporte, varejo, alimentação, dentre outros. Todas com foco em
oferecer formas mais sustentáveis e com menor impacto para o meio ambiente.

Para compreender melhor como os negócios sustentáveis


são aplicados na prática, você pode conhecer as oito ideias verdes
mais criativas do Brasil. São iniciativas brasileiras desenhadas
para concorrer em uma competição global de ideias de negócios
verdes, com propostas para diminuir os problemas relacionados as
mudanças climáticas e o meio ambiente. Link: https://exame.com/
blog/ideias-renovaveis/as-oito-ideias-verdes-mais-criativas-do-brasil/

Quando falamos do modelo de negócios sustentáveis inserido em jovens e


pequenas empresas parece algo fácil e lógico para o momento. No entanto, a
questão que fica é: e para o setor industrial, com indústrias de diferentes portes
inseridas nos mais diversos setores, será que é possível implementar o modelo
de negócios sustentáveis e minimizar os impactos ambientais?

Para respondermos essa questão, inicialmente, precisamos analisar os


princípios de um negócio sustentável para entender a abrangência do tema e os
diversos desafios inseridos para o setor industrial.

107
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Segundo o site Ideia Sustentável (2013, s. p.), os 8 princípios


dos negócios sustentáveis são:

1. O mundo precisa de empresas capazes de colocar o


propósito antes do lucro.

É necessário revisar a ideia de empresa, fortalecendo novos


conceitos como o do “capitalismo de stakeholder”, defendido no
Fórum Econômico Mundial. Cada vez mais o que a sociedade
espera é que as empresas cumpram o seu papel principal –
solucionar problemas – e que sejam competentes em gerar valor e
distribuir resultados para todas as partes interessadas, assumindo a
responsabilidade de serem agentes de transformação em benefício
do coletivo.

2. O mundo precisa de empresas que tratem os humanos


como humanos e não apenas recursos.

O principal ativo das empresas são as suas pessoas.


Colaboradores são pais, mães, maridos, esposas, filhos. Integram
famílias, comunidades, sociedades. E, por isso, têm direito a uma
vida cujo valor não pode ser determinado apenas pelo trabalho. Os
humanos estão também nas comunidades. Humana é a diversidade.
Cada vez mais os indivíduos vão querer investir, comprar de e
trabalhar em organizações cujos valores se afinam com os seus e
que demonstrem cuidado individualizado, escuta afetiva, respeito às
diferenças e preocupação genuína com o bem-estar e qualidade de
vida.

3. O mundo precisa de empresas mais preocupadas em


cooperar do que competir na construção de respostas para os
dilemas da sociedade.

É importante estabelecer parcerias entre diferentes atores


da sociedade. A compreensão maior de nossa vulnerabilidade
aumentou a empatia, a solidariedade e o senso de responsabilidade.
Se foi possível a empresas concorrentes atuarem em cooperação
durante a pandemia, será possível, também, fora dela trabalharem
em conjunto, de modo planejado e sistêmico, para enfrentar as
mudanças climáticas e suprir déficits históricos de bem-estar social.

108
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

4. O mundo precisa de empresas mais sensíveis à noção de


interdependência.

Sabemos que estamos conectados. É impossível pensar na


prosperidade de uma empresa sem considerar a prosperidade
de todos os grupos impactados por ela, especialmente os mais
vulneráveis. Impôs-se uma nova consciência, segundo a qual nossas
atitudes e escolhas individuais determinam coletivamente o mundo
que queremos hoje e para as próximas gerações.

5. O mundo precisa de empresas mais éticas, cuidadoras e


transparentes.

Transparência fortalece a confiança. Em tempos de crise,


nos quais colaboradores, fornecedores, parceiros de negócio e
comunidades esperam por cuidado e proteção, cresce a necessidade
por informações precisas, posicionamentos firmes e valores claros.
Empresas que compreenderam a importância da transparência,
comunicaram-se adequadamente com os seus stakeholders e
prestaram contas à sociedade saíram mais fortes.

6. O mundo precisa de empresas interessadas não só em


zerar impactos, mas regenerar.

Apenas eliminar impactos socioambientais negativos, já se


sabe, não será suficiente para conter um processo acelerado de
mudanças climáticas e esgotamento de recursos naturais. Desafia-
nos a necessidade de investir em tecnologias, processos disruptivos
de produção e novos modelos de negócio capazes de gerar impactos
positivos para o meio ambiente e as comunidades afetadas pelos
negócios.

7. O mundo precisa de empresas com mais líderes


orientados por valores.

É evidente a importância de um novo tipo de liderança, orientada


por valores e preparada para fazer a transição de um modelo
convencional de negócios para outro mais ético, transparente, justo,
íntegro e respeitoso em relação à diversidade, às pessoas e ao meio
ambiente. Trata-se de um líder mais empático, cuidador, atento e
ecocêntrico.

109
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

8. O mundo precisa de empresas que sejam parte da


solução e protagonistas de uma nova economia.

A crise mundial abriu importantes janelas de oportunidade para


acelerar a agenda de sustentabilidade, intensificar os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável e promover uma economia menos
intensiva em uso de recursos naturais e emissões de carbono.
Bancos centrais, bancos e governos podem utilizar o seu poder
de conceder empréstimos e isenções fiscais para estimular, como
contrapartida, investimentos na adoção de energias renováveis,
preservação da floresta em pé, economia circular, geração de
trabalho e renda, regeneração de ambientes degradados, saúde,
segurança e bem-estar de pessoas e comunidades.

Esses princípios nos apresentam um cenário altamente desafiador para o


setor industrial. Nesse sentido, uma mudança de mentalidade e de modelos de
negócios é essencial para redirecionar a trajetória das indústrias.

1 Descreva o que são negócios sustentáveis.

Existem diversas iniciativas na indústria que estão sendo adotadas


para expandir e fortalecer um posicionamento diferenciado e sustentável no
mercado. Na agroindústria, observamos, por exemplo, diversos tipos de cultivos
diferenciados, produtos orgânicos ganhando cada vez mais escala de produção
e mercado.

Pensando em negócios verdes e na sustentabilidade, na


agroindústria, temos o exemplo do cultivo do coco verde. Uma
indústria da região do Mato Grosso criou e adaptou o próprio
maquinário pensando nas questões ambientais, sociais e econômicas
do negócio, promovendo uma inovação sustentável na agroindústria.
Link: http://engemausp.submissao.com.br/17/anais/arquivos/270.pdf.

110
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

Nesse contexto, outro setor que também tem se movimentado e procurado


inserir ações sustentáveis em seus negócios é a construção civil. O consenso
entre as indústrias do setor é que é necessário criar soluções sustentáveis
nas edificações que atendam às questões ambientais e às necessidades dos
moradores.

Alguns empreendimentos no setor da construção civil já fazem uso de


técnicas como reaproveitamento da água do banho, que fica armazenado em
reservatórios para outras utilidades. Além da questão de energia, em que soluções
como: luzes com sensores, uso de novas fontes de energia e painéis solares nos
estacionamentos estão cada vez mais frequentes.

Na indústria da construção, a forma de construir também está se adaptando.


Nesse sentido, o exemplo das construções sustentáveis pode ser observado
em indústrias do setor que mudaram os insumos que utilizam e as formas de
construção, buscando inserir processos mais eficientes e sustentáveis.

Algumas indústrias do setor da construção estão utilizando


técnicas diferenciadas para inserir novas formas de construção.
Existem indústrias que oferecem sistemas construtivos com linhas
de produção automatizadas, redução significativa de resíduos da
obra e uma enorme economia de recursos hídricos, o que gera uma
construção mais rápida e sustentável. Link: https://www.tecverde.
com.br/

Para se ter mais negócios sustentáveis e uma cultura de sustentabilidade


incorporada às empresas, é necessário ter líderes sensibilizados e identificados
com a temática da sustentabilidade. Bons gestores são importantes para as
empresas e mercado, mas líderes com princípios e valores são vitais para um
mundo em constante e rápida transformação.

O Pacto Global descreveu algumas características de um perfil de líder


sustentável no relatório de 2004, intitulado Liderança Globalmente Responsável:
um chamado ao engajamento. O programa afirmou que líderes sustentáveis são
pessoas que valorizam o desenvolvimento humano e as riquezas naturais tanto
quanto o capital financeiro e estrutural. Além disso, líderes sustentáveis acreditam
que suas empresas têm criatividade e os recursos necessários para solucionar

111
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

desafios sociais e ambientais e que, além de gerar valor para seus negócios,
devem se responsabilizar pelo desenvolvimento mais amplo das comunidades
nas quais estão instaladas. Para o Pacto Global, líderes em sustentabilidade têm:

• A coragem necessária para transpor obstáculos à mudança, sejam eles


organizacionais, regulatórios ou sociais.
• A capacidade de produzir transformação efetiva na cultura de uma
empresa, influenciando a adoção de novas atitudes e comportamentos.
• O mérito de compreender o propósito moral e filosófico dessa
transformação.
• A capacidade de exercitar a solidariedade, a tolerância e a transparência,
respeitando o outro, acolhendo a diversidade e estabelecendo um
diálogo aberto e propositivo com todas as partes interessadas.
• Um elevado senso de responsabilidade que os leva utilizar seu poder
para criar valor não apenas econômico, mas também social e ambiental.

O Pacto Global é uma iniciativa desenvolvida em 1999, pela


Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de mobilizar
a comunidade empresarial internacional para a promoção de
valores essenciais de direitos humanos, trabalho e meio ambiente.
Atualmente, o Pacto Global tem mais de 5.200 empresas signatárias,
articuladas em 150 redes ao redor do mundo. Link: https://www.
pactoglobal.org.br/.

Líderes sustentáveis tem suas vidas regidas por princípios muito claros,
firmes e inegociáveis. Além de um senso de justiça acima da média e do apego
a tudo que signifique liberdade, eles têm em comum um espírito altruísta e
reconhecem a interdependência entre os homens e todos os outros seres vivos
do planeta (VOLTOLINI, 2011).

Este novo perfil de líder reconhece e sabe que um bom empreendimento é a


aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade
das gerações futuras de suprir as suas próprias. No Quadro 1 a seguir, estão
descritas 20 atribuições para o líder em sustentabilidade.

112
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

QUADRO 1 – ATRIBUIÇÕES PARA O LÍDER SUSTENTÁVEL


1 Comandar a elaboração de uma estratégia consistente de sustentabilidade
para a empresa, buscando a cooperação entre as diferentes áreas e as
questões/causas mais relevantes para o negócio e o seu setor de atuação;
fazer com que o conceito permeie a cultura organizacional, transforman-
do-o em um valor corporativo relevante para a definição da identidade da
companhia.
2 Garantir uma coordenação entre as diversas funções corporativas da em-
presa, com o objetivo de maximizar o desempenho em sustentabilidade.
3 Com base em uma análise permanente de cenários, avaliar riscos e opor-
tunidades relacionados com questões de sustentabilidade para a empresa
e o setor.
4 Assegurar que a empresa identifique, de forma clara, todos os impactos
socioambientais negativos causados por suas operações; cuidar para min-
imizá-los ou eliminá-los.
5 Definir políticas específicas e cenários para o futuro, estabelecendo metas
mensuráveis de curto, médio e longo prazos.
6 Envolver e educar funcionários e colaboradores, adotando programas de
treinamento e desenvolvimento e sistemas sólidos de incentivo.
7 Realizar monitoramento e mensuração de desempenho baseado em métri-
cas específicas para, por exemplo, gestão de água, energia, emissões de
gases de efeito estufa, poluição, efluentes e biodiversidade.
8 Responsabilizar pela execução da estratégia, áreas corporativas essenci-
ais, como: compras, marketing, recursos humanos, jurídico e relações insti-
tucionais, assegurando que nenhuma delas atue em conflito com os com-
promissos e objetivos de sustentabilidade da empresa.
9 Alinhar estratégias, metas e estruturas de incentivo de todas as unidades
operacionais com os objetivos e compromissos de sustentabilidade da em-
presa.
10 Analisar cada elo da cadeia de valor, mapeando impactos, riscos e opor-
tunidades.
11 Envolver fornecedores na estratégia de sustentabilidade; sensibilizar, tre-
inar e capacitar parceiros de negócio; monitorar o quanto estão alinhados
com os compromissos e práticas da empresa.
12 Rever processos e modos de produzir, desenvolver produtos e serviços ou
conceber modelos de negócio que contribuam para promover a sustentab-
ilidade.
13 Realizar investimento social alinhado com as competências da empresa e
o contexto operacional de seu negócio, enquadrando-o em sua estratégia
de sustentabilidade; atuar sempre em sintonia com as políticas públicas
correlacionadas para garantir maior eficácia nos resultados.

113
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

14 Integrar campanhas e iniciativas públicas, assumindo, em suas comuni-


cações (palestras, aulas magnas, artigos), compromissos com as questões
mais relevantes de sustentabilidade.
15 Coordenar esforços com outras organizações – de primeiro, segundo e ter-
ceiro setor – a fim de potencializar investimentos e não anular outras inicia-
tivas de desenvolvimento sustentável.
16 Cooperar com organizações do mesmo setor e com outras partes interessa-
das em iniciativas que ajudem a encontrar respostas para desafios comuns,
local ou globalmente, com ênfase naquelas que venham a ampliar o impac-
to positivo sobre a cadeia de valor.
17 Fazer o papel de mentor para as empresas do mesmo setor ou de outro
setor que ainda se encontrem em estágio inicial de implantação de práticas
sustentáveis; na condição de referência em liderança em sustentabilidade,
facilitar o acesso a informações por parte daqueles que desejam conhecer
a política da empresa.
18 Comunicar, de forma ampla, os resultados e a evolução de suas práticas
de sustentabilidade, visando prestar contas às partes interessadas e à so-
ciedade, e, também estimular o comportamento sustentável de outras em-
presas.
19 Envolver e educar os stakeholders para que conheçam as políticas da em-
presa e participem, a seu modo, de sua consecução no dia a dia.
20 Capitanear o processo de mudança, inserir as dimensões social e ambiental
na noção de sucesso empresarial, superar a inércia e o apego aos modelos
consagrados, estabelecendo uma visão e uma missão de sustentabilidade.
FONTE: Adaptado de Voltollini (2011).

1 Descreva quais são as características de um líder sustentável


segundo o movimento pacto global.

Além das atribuições da liderança sustentável, existem grandes dilemas na


transição de modelos mais tradicionais para modelos mais sustentáveis.

Com base em dados do Pacto Global (UN, 2010) e, também, de pesquisa


feita pela área de sustentabilidade com CEOs de 275 empresas, ranqueadas na
lista da revista Fortune 1.000, especialistas da Accenture apontam cinco grandes
dilemas impostos aos líderes que querem inserir a sustentabilidade na gestão

114
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

dos negócios (ABOOD; BERTHON; LACY, 2010). Para superar cada um desses
dilemas, enunciados na forma de perguntas, são apontados diferentes desafios
práticos.
O primeiro dilema diz respeito ao custo de sair à frente oferecendo o
benefício adicional da sustentabilidade aos clientes que não parecem ainda
inteiramente preparados para valorizá-lo. “É vantajoso investir em produtos e
serviços orientados para a sustentabilidade enquanto os consumidores e clientes
ainda não definiram como vão aceitar essa oferta?” (ABOOD; BERTHON; LACY,
2010, s. p.), questionam os especialistas da Accenture.

A resposta a esse dilema passa, segundo o estudo, pelos desafios de


desenvolver produtos sustentáveis realmente inovadores, fornecer a maior
quantidade possível de informações sobre os atributos socioambientais e educar
os consumidores para que sejam mais conscientes no ato de consumo, oferecer
incentivos financeiros e psicológicos capazes de fortalecer esse comportamento.

O segundo dilema está ligado à ideia – nem sempre inteiramente verdadeira


– de que pensar e planejar sustentabilidade representa um trabalho a mais.
“Como desenvolver as capacidades necessárias para colocar a sustentabilidade
no centro do negócio principal quando já se exigem muitos talentos dos
funcionários?” (ABOOD; BERTHON; LACY, 2010, s. p.), ressalta o estudo.

Na opinião dos especialistas da Accenture, o dilema só poderá ser


solucionado se houver uma definição muito clara, por parte da empresa, das
competências exigidas, aliada a uma combinação de treinamento interno com
educação externa e à adoção de um papel ativo dos governos na criação de
políticas públicas educacionais que promovam a capacitação em sustentabilidade.

O terceiro dilema está relacionado às dificuldades de avaliar o retorno da


sustentabilidade para o negócio: “Como construir um novo modelo de análise de
valores corporativos que considere as práticas sustentáveis quando as métricas
são vagas?” (ABOOD; BERTHON; LACY, 2010, s. p.).

Se quiserem superar esse impasse, os líderes terão de desenvolver


metodologias que permitam medir o desempenho em sustentabilidade em termos
de impactos negativos e positivos para a sociedade, vincular o desempenho em
sustentabilidade a réguas convencionais, como: aumento de receitas; redução de
custos; riscos e resultados para a reputação da empresa; e, ainda, incorporar os
resultados na análise de desempenho e na remuneração dos funcionários.

O quarto dilema trata da ausência de regras bem definidas por parte do


poder público. Cerca de 60% dos diretores-presidentes entrevistados acham
que os governos devem ter participação mais efetiva no encaminhamento das

115
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

questões de sustentabilidade. “Como fazer investimentos de longo prazo em


sustentabilidade quando não há um ambiente regulatório claro ou consistente
entre os países?” (ABOOD; BERTHON; LACY, 2010, s. p.).

O estudo defende a realização de esforços conjuntos entre as esferas pública


e privada no sentido de estabelecer mecanismos que favoreçam a colaboração.
Nesse sentido, mercado e governos precisam trabalhar juntos, visando resultados
comuns.

O quinto dilema mencionado pelo refere-se à dificuldade de administrar o


conflito intrínseco entre o curto e o longo prazo: “Por que investir em iniciativas
de sustentabilidade quando não há garantia de retorno para os investidores? ”
(ABOOD; BERTHON; LACY, 2010, s. p.).

A solução para esse impasse exigirá dos líderes clareza nas informações,
objetividade na argumentação e convicção no convencimento da comunidade
investidora. Saber prestar contas regularmente do impacto da sustentabilidade
para o negócio passou a ser uma competência imprescindível, ao lado da
capacidade de envolver e influenciar governos para criar ambiente de incentivos
que recompensem investimentos em produtos e serviços sustentáveis.

Dessa forma, para enfrentar todos estes dilemas o líder sustentável precisa ter
um conjunto de valores, atitudes, habilidades e conhecimentos que o distinguirão
dos demais líderes, e que podem ser considerados um fator de sucesso para
as indústrias interessadas em atuar nesse novo modelo de negócio. Segundo
Voltollini (2011), o líder sustentável precisa ter uma série de conhecimentos,
habilidades, atitudes e valores que serão apresentados nos tópicos a seguir.

Conhecimentos

• Compreensão das tendências relacionadas com os grandes temas da


sustentabilidade que irão impactar, direta ou indiretamente, o negócio e
o setor, como as mudanças climáticas, escassez de recursos naturais,
pagamento por serviços ambientais, esgotamento do solo, pobreza,
violência, conflitos intergeracionais, entre outros.
• Profundo conhecimento de toda a cadeia de valor, dos impactos
socioambientais em cada eixo e das formas de minimizá-los ou eliminá-
los.
• Domínio dos fundamentos técnicos das grandes questões da
sustentabilidade, seus fenômenos e implicações práticas.
• Domínio de indicadores, ferramentas, métricas e práticas que tornam
tangível a gestão sustentável.

116
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

• Sólida cultura geral e entendimento dos grandes temas da


sustentabilidade, seus desafios e oportunidades, em nível local e global.
• Noções de ecologia, eco economia, ecoeficiência, gestão ambiental
e desenvolvimento sustentável, formadas com base na leitura de
obras clássicas e dos documentos internacionais mais importantes
relacionados com o tema.
• Autoconhecimento, implicando a identificação de potenciais e limites nos
diferentes papéis exercidos pelo líder.

Habilidades

1. Ser um facilitador e disseminador da sustentabilidade dentro e fora da


organização, atuar como mentor entusiasmado, educador interessado
dos stakeholders.
2. Transformar valores e crenças em planos de ação e práticas mais
sustentáveis, saber “fazer acontecer” a sustentabilidade na empresa.
3. Comunicar ideias de sustentabilidade de forma clara, objetiva, direta,
autêntica e entusiasmada.
4. Mobilizar diferentes públicos de interesse, atrair seguidores, adeptos e
simpatizantes para as causas, metas e projetos de sustentabilidade da
empresa.
5. Converter o que seriam riscos para os clientes em oportunidade de
negócios sustentáveis.
6. Criar o futuro não apenas com base na leitura e análise de dados do
passado, mas de uma visão projetada pela empresa com a participação
dos seus colaboradores e partes interessadas.
7. Saber escutar e conversar, promovendo diálogos abertos, leais e
construtivos com todos os públicos de interesse.
8. Pensar de modo sistêmico, com o olhar no longo prazo, enxergando
a sustentabilidade em suas diferentes variáveis e correlações com o
negócio.
9. Analisar a sustentabilidade com base no todo e não só em um de seus
aspectos: considerar o todo, tomando por base o conjunto mais amplo
possível de visões não se restringindo à ótica de uma comunidade.
10. Julgar e promover ajustes entre o que é necessário (para o negócio) e o
que é certo (para a sociedade e o planeta) fazer.
11. Saber atuar em rede.
12. Exercitar a empatia, colocando-se no lugar dos públicos afetados
pelas atividades da empresa e aprendendo a pensar e a sentir com os
parâmetros e valores desses públicos.
13. Saber incorporar os diferentes públicos de interesse no planejamento

117
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

baseado na convicção de que a sobrevivência de qualquer empresa


depende da capacidade que ela tem de interagir de modo construtivo
com eles.
14. Reconhecer as dinâmicas da organização como um sistema vivo e atuar
para torná-las saudáveis.
15. Saber catalisar as energias e os talentos para a mudança necessária.

Atitudes

1. Coragem para mudar modelos de negócio consagrados, sustentar


decisões difíceis e enfrentar os dilemas de sustentabilidade do negócio e
do mercado.
2. Coerência entre o que se diz e o que se faz.
3. Introduzir a sustentabilidade na estratégia e na cultura da organização,
fazendo com que ela deixe a periferia das ações pontuais e esporádicas
e passe a orientar decisões de negócio.
4. Flexibilidade para lidar com realidade dinâmicas, complexas e mutáveis.
5. Agir com alegria e senso de humor.
6. Abertura para aprender com a experiência do outro (indivíduos,
organizações, fornecedores, comunidades, governos), compreendendo
que, em um campo de saberes em construção, não se tem todas as
respostas prontas e que a formação do conhecimento deve ser coletiva.
7. Ser o exemplo vivo da mudança que se pretende operar na empresa.
8. Valorizar a noção de interdependência na tomada de decisões e na
adoção de estratégicas de negócio.
9. Ter alta energia, voltada para a execução, ter disposição e envolvimento
com os projetos de sustentabilidade, crer na empresa e em seus valores.
10. Ser proativo para pautar permanentemente o tema da sustentabilidade,
transformando-o em agenda comum de funcionários, colaboradores e
parceiros.
11. Prestar contas sempre, e de modo transparente, a todos os públicos de
interesse da empresa.
12. Estabelecer noções de padrões de desempenho de sustentabilidade e
avaliar pessoas e sistemas.
13. Ser capaz de realizar algo incomum, com determinação, consciência
coletiva e paixão pelo que faz, colocando emoção e energia nos projetos.
14. Influenciar governos na elaboração de políticas públicas relacionadas
com os grandes temas da sustentabilidade, como, por exemplo, gestão
de resíduos e fontes de energia renováveis.
15. Conversar com todos os atores envolvidos na cadeia produtiva,
prestando atenção ao quanto os elos são construídos sobre práticas que
fortalecem o triple bottom line.
16. Ensinar os liderados a correr riscos e a lidar com os antagonismos de
modo humilde e propositivo.
118
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

17. Criar ambiente favorável e estimulante para que a sustentabilidade seja


um tema transversal de inovação.
18. Ter mais autoridade que poder, mais aspiração que ambição; sua palavra
precisa ter força moral.
19. Ter modéstia em relação aos seus feitos, serenidade, forte vontade
profissional combinada com humildade pessoal.

Valores

1. Interesse e respeito pelo ser humano; só quem respeita o ser humano


pode respeitar o planeta.
2. Amor ao próximo.
3. Elevado senso de justiça e ética.
4. Apego à ideia da liberdade.
5. Respeito e valorização da diversidade.
6. Perseverança.
7. Integridade.
8. Solidariedade e altruísmo.
9. Amor ao belo.
10. Fé no futuro.
11. Senso de responsabilidade em relação aos impactos gerados pelos
negócios às partes interessadas.
12. Consciência de que empresas são agentes de desenvolvimento e que os
melhores empreendimentos são os que conseguem combinar interesse
da empresa com os da sociedade e do planeta.

Assim, com todos esses requisitos, percebemos que o líder que atua a frente
de um negócio sustentável é uma pessoa diferente, com uma visão e percepção
ampla de mundo, e com ideias arrojadas. Um líder que deseja fazer a diferença e
deixar a sua marca.

Mas será que isso é possível dentro do setor industrial? Para provar que sim,
que temos boas referências instaladas dentro das indústrias, segue abaixo alguns
exemplos de líderes que fazem a diferença e que implementam cada vez mais o
modelo de negócios sustentáveis em suas empresas.

QUADRO 2 – PERFIL LÍDER 1

Guilherme Peirão Leal

É copresidente do Conselho de Administração e dono de 25% das ações da


Natura, indústria brasileira do setor de cosméticos com sede em São Paulo e
atuação global em países como Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru, Ven-
ezuela, França e Estados Unidos, além de outros 63 países indiretamente.

119
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Insights O sucesso da Natura é produto de sua proposição de val-


or diferenciado – do seu jeito de ser, do modo de formu-
lar produtos, do relacionamento com as partes interessa-
das, do respeito à biodiversidade brasileira, do apoio aos
grandes movimentos do país, do espírito democrático e
de sua visão do mundo.
Ideias-chave O conhecimento em sustentabilidade está em perma-
nente construção, o que exige grande capacidade para
se reinventar. Como o alvo é móvel, deve-se construir
a competência de aprender a aprender. Quem atua em
rede, entende melhor os impactos sociais e ambien-
tais de seu negócio, melhora sua capacidade de fazer
permanentes releituras e reconstruções sistemáticas.
“Cuidar do outro, da comunidade e do planeta é cuidar
de si próprio. Não há o fora e o dentro. Estamos tudo e
todos interligados”.
Desafios Organizar uma cultura forte, baseada nos princípios de
sustentabilidade, especialmente os de interdependência
e diversidade. Diante da abertura do capital da compan-
hia na Bovespa em 2004, crescer sem deixar um sistema
mais complexo de gestão engolir seus valores essenci-
ais.
Obstáculos Sobreviver e crescer em um mercado caracterizado pela
presença de competidores globais com forte capacidade
de investimento em pesquisa e desenvolvimento de
moléculas.
Estratégias Em vez de copiar as grandes, a Natura decidiu ser ela
mesma: uma empresa brasileira, fundada no conceito in-
spirador do “Bem-estar bem”, respeitosa em relação ao
uso sustentável da socio biodiversidade, com valores e
crenças de sustentabilidade.
Momentos Mar- Acidente fatal com funcionária da fábrica de Itapeceri-
cantes ca da Serra (SP), em 1991, quando a empresa acabava
de lançar um código de conduta. Abertura do capital da
companhia na Bovespa em 2004.
Perfil do líder em Compreensão de interdependência entre os sistemas
sustentabilidade econômico, social e ambiental. Sensibilidade para per-
ceber o essencial. Valores firmes e sólidos. Flexibili-
dade para lidar com realidades dinâmicas, complexas e
mutáveis. Saber atuar em rede.
FONTE: Adaptado de Voltolini (2011).

120
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

Para conhecer um pouco mais sobre posicionamentos de líderes


sustentáveis, leia a entrevista de industriais sobre as metas do futuro.
Link: https://www.amcham.com.br/noticias/gestao/nao-e-so-vender-
mais-lideres-da-gerdau-natura-e-ambev-revelam-metas-do-futuro.

QUADRO 3 – PERFIL LÍDER 2


Franklin Feder

Foi presidente da ALCOA América Latina, uma indústria da cadeia produtiva do


alumínio com diversas unidades no Brasil.
Insights Confluência entre seus valores individuais e os valores
da companhia. Constatação de que a empresa enfrenta-
va tensões e conflitos nos Estados Unidos, por não ter as
mesmas preocupações socioambientais que manifestava
no Brasil. Aprendizado permanente sobre humildade, em-
patia, escuta ativa e convivência com opiniões diversas.
Ideias-chave Não dá para ser uma empresa rica em uma comunidade
pobre. Projetos como os da Alcoa só podem dar certo se
a empresa tiver a capacidade de ouvir, dialogar e interagir,
se as comunidades se apropriarem deles. Nenhuma em-
presa pode estar acima do desejo da sociedade por um
mundo mais justo e um planeta mais saudável, sob o risco
de perder legitimidade de operar.
Desafios Fazer o discurso da sustentabilidade chegar, firme e claro,
no chão da planta industrial. Vencer a resistência dos co-
laboradores em mudar hábitos e assumir responsabilidade
individuais pelas práticas de sustentabilidade.
Estratégias Inserção do tema no topo da agenda. Comunicação per-
manente para fazer fluir a mensagem do topo a base.
Criação de canais de comunicação e relacionamento efi-
cazes com as comunidades nas quais a empresa tem op-
erações. Contribuição, na forma de investimento concreto,
para o desenvolvimento sustentável da região onde a em-
presa está instalada

121
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Momentos Mar- Chega em Juruti, no Pará, em 2007. Ameaça, em 2007,


cantes da invasão do canteiro de obras por grupo contrário ao
empreendimento. Lançamento, em 2009, do Fundo Juruti
Sustentável.
Perfil do líder em Convicção de que a sobrevivência de uma empresa de-
sustentabilidade pende de sua capacidade de interagir com as partes inter-
essadas. Saber escutar. Ter gosto pelo diálogo.
FONTE: Adaptado de Voltolini (2011).

Para conhecer um pouco mais sobre as ideias do líder Franklin


Feder, veja o vídeo que ele fez explicando um pouco a sua visão
sobre sustentabilidade. O vídeo é da plataforma liderança com
valores. Link: https://liderancacomvalores.com.br/franklin-feder-perfil-
lideranca-com-valor/.

QUADRO 4 – PERFIL LÍDER 3


Paulo Nigro

Foi presidente da indústria Tetra Pak, que fabrica embalagens para alimentos.
Insights Na infância, aprendeu com o pai o valor de reciclar e a
importância do ato para gerar riqueza. Trabalhando com
empresas suecas, incorporou a noção cultural de res-
peito a natureza e a conservação ambiental
Ideias-chave Bem cuidada, a questão ambiental representa um cam-
po de oportunidades para a empresa malcuidada, signifi-
ca risco. Sustentabilidade é um templo de dois pilares:
econômico e ético-socioambiental. Empresa que preser-
va o meio ambiente promove o bem-estar social. Quan-
do se preocupa com o desenvolvimento da sociedade,
o público a percebe como mais ética. O conhecimento
amplo da cadeia de valor associado a uma base sólida
de princípios possibilita ao líder realizar cotidianamente
um ajuste ético entre o que é preciso e o que é certo
fazer. As 150 mil toneladas de embalagem da Tetra Pak
enterradas representam uma mina de ouro que, bem
garimpada, pode gerar riqueza para as comunidades
mais pobres.

122
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

Desafios Recuperar a imagem da Tetra Pak no Canadá, prejudi-


cada por causa de negligência em relação ao sistema
público de coleta seletiva de resíduos. Perseguir a meta
de reciclar 100% das 200 mil toneladas de embalagens
produzidas. Hoje, ela recicla 25%.
Estratégias À frente da Tetra Pak canadense, e com a empresa
em crise, criou a primeira recicladora de embalagens
naquele país. Para tanto, investiu em equipamentos, fez
parcerias locais e atraiu os melhores desenvolvedores
de tecnologia. Na Tetra Pak Brasil: usar papel de fonte
certificada (FSC), mudar processos industriais, abas-
tecer os caminhões com biodiesel e adotar o “plástico
verde”.
Momentos Mar- Ameaça, em 2009, de desarticulação da cadeia de cat-
cantes adores, por causa da queda do preço do papel e do
papelão; a empresa fez estoque regulador. Instituição,
em 2010, da Política Nacional de Resíduos Sólidos; re-
sponsabilidade compartilhada é uma de suas bandeiras
pessoais.
Perfil do líder em Conhecimento do negócio por inteiro, acompanhando
sustentabilidade cada etapa do processo, da geração da matéria-prima à
venda. Atenção a todos os elos da cadeia de valor.
FONTE: Adaptado de Voltolini (2011).

Para conhecer um pouco mais sobre as ideias do líder Paulo


Nigro, veja o vídeo que ele fez explicando um pouco a sua visão sobre
sustentabilidade. O vídeo é da plataforma liderança com valores.
Link: https://liderancacomvalores.com.br/lideres/paulo-nigro/.

A liderança sustentável pressupõe uma maneira diferente de pensar a


sustentabilidade não a partir da perspectiva de quanto custa realizá-la, mas do
custo de não a empreender. Nesse sentido, para garantirmos que as indústrias
estão trilhando o caminho correto, existem indicadores ambientais e de
sustentabilidade que são responsáveis por apresentar formas de mensurar os
ganhos e fazer eventuais ajustes de rota para manter o propósito de crescer
preservando o meio ambiente.

123
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

3 INDICADORES AMBIENTAIS
Indicadores são elementos que tem por objetivo apontar, direcionar e mostrar
dados que contenham informações para apoiar na avaliação e decisão de algum
acontecimento ou situação específica.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2021), indicadores são informações


quantificadas, de cunho científico, de fácil compreensão usadas nos processos de
decisão em todos os níveis da sociedade, úteis como ferramentas de avaliação
de determinados fenômenos, apresentando suas tendências e progressos que se
alteram ao longo do tempo.

Os indicadores permitem a simplificação do número de informações para se


lidar com uma dada realidade por representar uma medida que ilustra e comunica
um conjunto de fenômenos que levem a redução de investimentos em tempo e
recursos financeiros. Indicadores ambientais são estatísticas selecionadas que
representam ou resumem alguns aspectos do estado do meio ambiente, dos
recursos naturais e de atividades humanas relacionadas.

Com o objetivo de apoiar o planejamento, apontar possíveis direções


para subsidiar a formulação de políticas públicas e orientar de uma forma
mais transparente a priorização de recursos e ações de políticas ambientais, o
Ministério do Meio Ambiente criou os indicadores ambientais a seguir:

• Área de Floresta Pública com Uso Comunitário.


• Área de Florestas Públicas.
• Área de Florestas Públicas Federais sob Concessão Florestal.
• Cobertura do Território Brasileiro com Diretrizes de Uso e Ocupação em
Bases Sustentáveis, definidas por meio de Iniciativas de Zoneamento
Ecológico-Econômico (ZEE).
• Concentração de Dióxido de Nitrogênio (NO2), na Região Metropolitana
de São Paulo.
• Concentração de Material Particulado com Diâmetro Menor que 10
micrômetros (MP10), na Região Metropolitana (RM) de São Paulo.
• Destinação Adequada de Pneus Inservíveis no Brasil.
• Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção com Planos de Ação
Nacional para Conservação das Espécies Ameaçadas de Extinção.
• Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção.
• Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção com Planos de Ação para

124
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

Recuperação e Conservação.
• Índice de Efetividade de Gestão das Unidades de Conservação Federais.
• Número de Ações de Fiscalização Executadas nas Unidades de
Conservação Federais.
• Número de Conselhos Gestores de Unidades de Conservação Criados
na Esfera Federal.
• Percentual de Alcance da Meta Estabelecida de Coleta de Óleos
Lubrificantes Usados ou Contaminados no Brasil.
• Percentual de Espécies da Fauna/Flora Ameaçadas de Extinção
com Planos de Ação ou Outros Instrumentos para Recuperação e
Conservação.
• Percentual do Território Brasileiro Abrangido por Unidades de
Conservação.
• Proporção da Área Marinha Brasileira Coberta por Unidades de
Conservação da Natureza.
• Quantidade de Agrotóxico Comercializado por Classe de Periculosidade
Ambiental.
• Reservação de Água Doce.
• Número de participantes alcançados por ações e iniciativas de
informação e formação com conteúdo de desenvolvimento sustentável.
• Consumo de Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio.

A título de exemplo, na Figura 1, temos um dos indicadores que tem relação


com a indústria, um exemplo da ficha síntese do indicador Quantidade de
Agrotóxico Comercializado por Classe de Periculosidade Ambiental.

125
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

FIGURA 1 – EXEMPLO DE FICHA SÍNTESE

FONTE: Ministério do Meio Ambiente (2021, s. p.).

126
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

Nesse sentido, podemos observar que os indicadores ambientais são


instrumentos para avaliar os esforços despendidos pelas indústrias para a
preservação do meio ambiente e dos recursos naturais.

Vale ressaltar que cada setor industrial tem suas particularidades e, por isso,
para propor indicadores ambientais, é necessário respeitar a forma de atuação, o
nível de maturidade no tema e as características da indústria em questão.

A seguir, listamos alguns exemplos de temas de indicadores ambientais


amplamente utilizados em grande parte das indústrias:

• Fontes de energia utilizadas – (Tipos de fontes).


• Consumo de energia – (consumo KW h/mês).
• Consumo de água – (consumo m3/ mês).
• Tratamento de efluentes (quantidade mg/litro).
• Geração de resíduos sólidos (quantidade m2 de peças).
• Geração de gases (quantidade mg/m3).
• Consumo de matéria prima (consumo m3/mês).
• Consumo de materiais de embalagem (consumo ton/mês).
• Reciclagem de resíduos (quantidade ton/mês).
• Situação e uso do solo (área m2/área total).

Esses indicadores podem ser utilizados por indústrias de diferentes portes


e setores, respeitando obviamente as particularidades de cada setor industrial.
No setor de mineração, devido ao seu alto impacto ambiental, observamos
o uso de uma série de indicadores ambientais, que são fundamentais para o
acompanhamento e monitoramento das atividades do setor.

O artigo Seleção de Indicadores Ambientais para Indústrias com


Atividade Galvânica, apresenta a estrutura e forma de medição dos
indicadores ambientais. Link: http://www.anpad.org.br/admin/pdf/
enanpad2004-gsa-0900.pdf.

Outro indicador ambiental relevante para o setor industrial é o de uso e de


qualidade da água, que muitas indústrias utilizam para mensurar a forma de uso
desse recurso tão importante e essencial para a existência humana.

127
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Nesse sentido, a Figura 2 ilustra um modelo interativo de governança da


água. Nesse modelo, no início do processo de uso, as indústrias devem assumir
um compromisso, e, posteriormente, devem mensurar, medir e verificar se
estão atendendo à legislação, avaliar os riscos e impactos, definir questões de
sustentabilidade, implementar indicadores e metas, monitorar e comunicar os
seus resultados. Esse modelo é uma sugestão para a governança da água.

FIGURA 2 – MODELO INTERATIVO DE GOVERNANÇA DA ÁGUA

FONTE: CEO (2014, s. p.).

Referente aos indicadores da qualidade da água, eles são considerados


não conformes quando alcançam valores superiores aos estabelecidos para
determinado uso. Os principais indicadores da qualidade da água são separados
sob os aspectos físicos, químicos e biológicos.

O conceito de qualidade da água sempre tem relação com o uso que se


faz dessa água. Por exemplo, uma água de qualidade adequada para uso
industrial, navegação ou geração hidrelétrica pode não ter qualidade adequada
para o abastecimento humano, a recreação ou a preservação da vida aquática.
Existe uma grande variedade de indicadores que expressam aspectos parciais
da qualidade das águas. No entanto, não existe um indicador único que sintetize
todas as variáveis de qualidade da água.

Na questão química, podemos destacar a análise do potencial hidrogeniônico


(pH). O valor do pH influi na distribuição das formas livre e ionizada de diversos
compostos químicos, além de contribuir para um maior ou menor grau de
solubilidade das substâncias e de definir o potencial de toxicidade de vários

128
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

elementos. As alterações de pH podem ter origem natural, como dissolução de


rochas, fotossíntese; ou antropogênica, como despejos domésticos e industriais.

Quanto aos indicadores de qualidade biológica da água, são utilizadas as


bactérias do grupo coliforme para identificar a contaminação da água. Quanto
maior a população de coliformes em uma amostra de água, maior é a chance de
que haja contaminação por organismos patogênicos.

No entanto, o que as indústrias utilizam, geralmente, é a mensuração do


volume de água gasto em seus processos produtivos, e a destinação da água
para reuso ou reciclagem por meio de tratamentos específicos. Na Figura 3,
está apresentado um esquema ilustrativo da entrada de água nos processos
produtivos.

FIGURA 3 – ENTRADA DE ÁGUA NOS PROCESSOS PRODUTIVOS

FONTE: Confederação Nacional da Indústria (2017, s. p.).

Outro indicador amplamente utilizado pelas indústrias é referente ao uso


de energia. Dentro deste aspecto, podemos destacar as seguintes formas de
mensuração de acordo com a pesquisa realizada pela FIESC sobre o uso de
energia na indústria em 2018: Consumo mensal de energia elétrica; forma
de compra de energia; se possui geração própria de energia; quais insumos
energéticos a indústria utiliza, como eletricidade, óleo diesel, gás natural, GLP,
resíduos biomassa, lenha, óleo combustível, carvão mineral, licor negro, carvão
vegetal. Destinação dos insumos energéticos na indústria, como iluminação, força

129
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

motriz, ar comprimido, aquecimento, refrigeração, calor processo, geração vapor,


eletroquímica e outras.

Também é interessante observar e medir a aplicação final das indústrias


na utilização de calor para secagem, aquecimento de fluídos, água quente
para higienização, lavação, cocção, cozimento, tingimento, coloração, fusão
de minerais não metálicos, esterilização, pasteurização, evaporação, refino
eletrolítico, escaldamento. E, por fim, verificar se as indústrias fazem a gestão de
energia e se utilizam fontes renováveis.

Para compreender melhor a aplicação de indicadores ambientais


na indústria, leia o estudo de caso Construção de Indicadores
Ambientais Industriais como Estratégia de Política Ambiental: Um
Estudo de Caso em Ambiente Virtual, que apresenta exemplos de
indicadores ambientais para os setores industriais de celulose, metais
sanitários, indústria automotiva e têxtil. Link: https://siambiental.ucs.
br/congresso/getArtigo.php?id=84&ano=_quinto.

Vale destacar que apenas a implementação dos indicadores não é garantia


de uma atuação ambiental correta por parte das indústrias. Neste caso é que
entra a ação humana como um importante elemento para fiscalizar e cobrar que
as ações previstas sejam seguidas e obedecidas de acordo com os órgãos e
legislações vigentes. Por isso, a importância da fiscalização e da implementação
dos novos parâmetros de desempenho e operação dentro das indústrias.

Para apoiar a implementação de indicadores ambientais nas indústrias,


existem normas que direcionam e sistematizam os indicadores, e isso pode
ser uma estratégia interessante para as indústrias que querem ter uma gestão
ambiental do seu processo.

A Norma Brasileira (NBR) ISO 14031, proposta pela Associação Brasileira


de Normas Técnicas (ABNT), surgiu em 2004 como uma ferramenta de gestão
ambiental com o objetivo de medir e analisar o desempenho ambiental de
uma empresa. Os resultados obtidos são comparados às metas definidas no
estabelecimento do sistema de gestão ambiental e, dessa forma, é possível
avaliar as melhorias alcançadas.

130
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

Para mensurar isso, indicadores de desempenho ambiental são selecionados


pela empresa. Eles devem deixar mais tangível uma tendência ou fenômeno que
não seja imediatamente detectável. Além disso, devem informar o progresso em
relação ao alcance de uma meta.

Outras características inerentes aos indicadores são: serem específicos


a uma determinada área; serem relevantes; cientificamente válidos; de fácil
comprovação; e terem custos de medição compatíveis aos objetivos da avaliação.

A NBR ISO 14031 visa auxiliar a organização na avaliação do seu


desempenho ambiental. Considerada como uma ferramenta de gestão interna,
a norma busca prover o gerenciamento de uma base de dados contínua, de tal
forma que seja possível avaliar a adequabilidade das medidas adotadas nos
processos da organização em relação aos critérios estabelecidos inicialmente em
seu sistema de gestão ambiental.

Por meio da Avaliação de Desempenho Ambiental, proposta pela norma, é


possível que a organização identifique aspectos ambientais e determine quais
deles são relevantes; estabeleça critérios para seu desempenho ambiental; e
avalie seu desempenho mediante esses critérios.

Dentro da Avaliação de Desempenho Ambiental, algumas ferramentas


podem ser utilizadas, como as auditorias ambientais e a Análise do Ciclo de
Vida. Em ambas as ferramentas, é possível analisar os aspectos ambientais e
potenciais impactos relacionados a produtos e serviços.

Outra característica importante sobre a ISO 14031 é que ela é aplicável


a todas as organizações, independente do seu tipo, tamanho, localização e
complexidade. No entanto, a norma não estabelece níveis de desempenho
ambiental, não podendo ser usada, portanto, com propósito de certificação ou
registro.

Para promover a Avaliação do Desempenho Ambiental, a ISO 14031


estabelece duas categorias: os Indicadores de Desempenho Ambiental (IDA) e os
Indicadores de Condição Ambiental (ICA). Os ICA fornecem informações sobre a
condição do meio ambiente. Dessa forma, é possível que a organização entenda
quais impactos, sejam eles reais ou potenciais, estão relacionados aos aspectos
ambientais oriundos das suas atividades.

Isso torna possível a adoção de medidas preventivas e/ou corretivas tanto


durante a fase de planejamento quanto na fase de implementação da Avaliação
de Desempenho Ambiental. Considera-se que o desempenho dos processos

131
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

operacionais é fator decisivo nas tomadas de decisão por parte da administração


da organização.

Nesse sentido, são exemplos de ICA: a concentração de um poluente no ar


proveniente de veículos automotores; nível de água subterrânea de um lençol
freático; taxa de abastecimento de água de uma região geográfica; população de
uma espécie da flora dentro de um raio de distância pré-definido; o número total
de espécies da fauna em uma dada área; entre outros.

Os indicadores de desempenho ambiental (IDA), como o nome sugere,


sugerem informações sobre o desempenho ambiental de uma organização.
Podem ser divididos em dois tipos:

• Indicadores de desempenho gerencial: fornecem informações sobre


esforços gerenciais que influenciam o desempenho ambiental das
operações da organização. Exemplos: percentual de atendimento
aos requisitos legais; percentual de alocação de recursos financeiros
em programas ambientais; número de horas de treinamento para
colaboradores internos; recursos financeiros destinados a pesquisas de
monitoramento ambiental.
• Indicadores de desempenho operacional: fornecem informações
sobre o desempenho ambiental das operações da organização.
Exemplos: redução nas emissões de gases contaminantes por veículos
automotores; quantidade de combustível fóssil consumido; eficiência do
combustível; percentual da frota de veículos equipada com tecnologias
de controle ambiental; quantidade de água consumida por dia; entre
outros.

Diante disso, a ISO 14031 configura-se como uma ferramenta de gestão


ambiental muito importante para todas as empresas. Isso se deve ao fato de a
norma propor uma Avaliação do Desempenho Ambiental de todos os aspectos que
possam gerar impactos ambientais, o que abrange muitos setores e processos,
convergindo em valiosas fontes de aperfeiçoamento, que trazem benefícios
financeiros e ambientais.

Para compreender melhor a abrangência e os itens avaliados


na ISO 14031, basta acessar a versão completa da norma de Gestão
Ambiental – Avaliação de Desempenho Ambiental – Diretrizes no link:
http://www.madeira.ufpr.br/disciplinasghislaine/abnt-nbr-iso-14031.
pdf.

132
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

1 Descreva a diferença entre indicadores os Indicadores de


Desempenho Ambiental (IDA) e os Indicadores de Condição
Ambiental (ICA) descrita na ISO 14031.

No entanto, apesar de todo o esforço para criar indicadores de


sustentabilidade com foco na indústria, percebe-se que ainda é grande a
dificuldade de entendimento dos setores industriais acerca do conceito, das
práticas e dos benefícios da sustentabilidade e, por consequência, de seu reflexo
nas atividades empresariais. Usualmente, o tema é percebido apenas sob a
perspectiva ambiental e associado a restrições e limitações.

Diante desse contexto, surgiu uma iniciativa para tentar mudar este
panorama no ambiente industrial que foi a bússola da sustentabilidade, criada
pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP). A bússola tem por
objetivo desmistificar e tornar tangível o conceito de sustentabilidade, promovendo
a reflexão sobre a temática entre as indústrias do Paraná e fomentando a
competitividade destas nos cenários atual e futuro.

A iniciativa tem como pressuposto o alinhamento entre as estratégias de


negócio e as perspectivas do desenvolvimento sustentável por meio da difusão
de práticas no contexto industrial. Para tanto, foram definidos alguns objetivos
estratégicos:

• alinhar-se às diversas iniciativas para mensurar a sustentabilidade;


• mobilizar setores industriais e entidades de representação em torno da
temática de sustentabilidade;
• sensibilizar e orientar o empresário paranaense acerca das práticas de
sustentabilidade que influenciam a competitividade;
• identificar o perfil de sustentabilidade da indústria;
• orientar o tecido industrial a evoluir em suas práticas de sustentabilidade.

A Bússola da Sustentabilidade segue metodologia própria, com enfoque na


sensibilização e orientação de empresários e executivos. A pesquisa acontece
em um ambiente on-line, por meio de um processo de Coleta-Aprendizagem.
Durante a participação, são disponibilizados conteúdos sobre sustentabilidade
na perspectiva do funcionamento das organizações e, ao término do processo,
as indústrias recebem um diagnóstico personalizado. Nele, são fornecidos

133
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

o desempenho da empresa, com base nas respostas oferecidas, bem como


orientações pontuais sobre práticas possíveis de melhoria.

Com cada empresa participante de posse de seu diagnóstico, há a posterior


consolidação dos resultados e a construção de retratos da sustentabilidade da
indústria paranaense. No que tange às informações de acesso público, são
utilizadas duas abordagens para disseminação. A primeira diz respeito a esse
documento, Perfil de Sustentabilidade Industrial, no qual estão reunidos os
resultados de todas as empresas. A segunda trata de um Dashboard (http://www.
bussoladasustentabilidade.org.br), por meio do qual é possível analisar diferentes
recortes de respondentes, segundo as variáveis tamanho da empresa, setor de
atuação e localização.

Sob avaliação de profissionais e pesquisadores, foi definida uma estrutura


para categorizar essas ações no modelo, o qual se desdobra em três grandes
ambientes empresariais:

• Ambiente interno: referente à estrutura e às atividades internas da


organização, com implicação imediata na administração da empresa.
• Microambiente: diz respeito ao ambiente de atuação em que ocorrem
relações externas com atores que afetam a organização ou são afetados
diretamente por ela, como fornecedores, clientes, competidores etc.
• Macroambiente: relativo aos segmentos que não estão diretamente
envolvidos nas atividades empresariais, mas que a organização depende
para o desenvolvimento de seus negócios.

Cada ambiente se desdobra em duas ou mais dimensões de atuação


empresarial, totalizando oito:

• Planejamento e Gestão de Processos: projeção e otimização dos


resultados considerando os impactos dos processos de produção, de
modo que o crescimento da empresa não gere externalidades negativas.
• Gestão de Pessoas: promoção da formação e de relações de trabalho
que considerem valores éticos e justos, atendendo a princípios de
dignidade e respeito à diversidade na empresa.
• Produção: aplicação de estratégias para promover a eficiência produtiva,
de maneira a evitar quaisquer desequilíbrios ambientais e danos sociais.
• Cadeia de Suprimentos e Distribuição: adoção de critérios para
seleção de fornecedores, tendo em vista o consumo consciente de
recursos naturais e o respeito a normas sociais, além da priorização de
processos de transporte e distribuição de menor impacto.
• Consumidores: incorporação de atributos de comunicação nos produtos
e serviços, de forma a atender à dinâmica de sustentabilidade na relação
entre empresa e consumidor.
134
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

• Parcerias Institucionais: mútua colaboração entre as organizações,


a fim de ultrapassar as limitações individuais na busca por soluções
sustentáveis e pelo fortalecimento da capacidade dos negócios.
• Meio Ambiente: atuação em conformidade com legislação e normas
pertinentes, promovendo a conservação ambiental, bem como
fornecendo respostas a riscos e desastres decorrentes ou não das
atividades da empresa.
• Engajamento Local: atuação da empresa em prol do desenvolvimento
do entorno onde está inserida e do fortalecimento da sociedade civil
nessa localidade. Essas dimensões de atuação empresarial, por sua
vez, se associam a 15 áreas temáticas ligadas às perspectivas da
sustentabilidade:
• Organização e Gestão: incorporação de aspectos de sustentabilidade
no planejamento e na execução de estratégias organizacionais,
na definição de objetivos e metas, assim como na coordenação de
processos de produção.
• Compromissos Éticos: adoção de valores e princípios para orientar a
conduta da organização e suas relações com as partes interessadas.
• Relações de Trabalho: construção de relações pautadas em valores
éticos como transparência, equidade e respeito aos direitos humanos e
laborais.
• Equidade de Gênero e Respeito à Diversidade: favorecimento da
inclusão social de segmentos marginalizados e promoção da igualdade
de oportunidades
• Educação: incentivo contínuo à aprendizagem e capacitação para
promoção da qualidade de vida, relacionadas ou não a práticas
sustentáveis.
• Produção Mais Limpa: otimização do processo produtivo, por meio da
aplicação de estratégias que visem a aumentar a eficiência no uso de
matérias-primas e demais recursos.
• Inovação: inserção de produtos, processos, métodos organizacionais e
práticas de negócio, novos ou significativamente melhorados, voltados
para promoção de uma relação harmônica entre meio ambiente e
sociedade.
• Seleção de Fornecedores: adoção de critérios de responsabilidade
socioambiental e de consumo consciente na escolha dos parceiros de
negócio.
• Transporte e Distribuição: minimização dos impactos negativos
decorrentes da movimentação de materiais.
• Consumo Consciente: sensibilização, divulgação e fortalecimento de
fatores que influenciam o processo de escolha, compra e descarte de
produtos e serviços.
• Cooperação: fortalecimento de parcerias entre organizações, na busca
por melhores soluções para cada uma e para a sociedade em geral.
135
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

• Conservação Ambiental: elaboração de iniciativas em resposta aos


impactos negativos do processo produtivo, visando proteger o meio
ambiente e a biodiversidade.
• Riscos e Desastres: investimentos em ações de prevenção de riscos e
desastres, para evitar ou minimizar a ocorrência de impactos negativos
desses incidentes sobre o meio natural e social.
• Relacionamento Empresa-Comunidade: fomento de oportunidades
em prol do desenvolvimento local.
• Governança Pública: suporte à formulação e implantação de ações
para o melhor uso de recursos e a promoção de valores democráticos e
cívicos.

As áreas temáticas são compostas por um ou mais indicadores, sendo eles


a menor e mais específica unidade de análise, orientação e sensibilização no
modelo adotado. Cada indicador tem como input uma ou mais ações (dentre as
83 levantadas) e práticas voltadas ao desenvolvimento sustentável.

No total, foram definidos 38 indicadores, articulados a conteúdos da base


de conhecimentos previamente construída, envolvendo definições, exemplos
e abordagens de acordo com a situação que cada empresa se encontra. É por
meio deles que os empresários chegam a propostas mais práticas de intervenção
em seu negócio. De maneira sintética, as relações entre ambientes empresariais,
dimensões empresariais, áreas temáticas e indicadores estão expressas na
Figura 4 e na Figura 5 a seguir.

FIGURA 4 – DIMENSÕES DO AMBIENTE INTERNO E INDICADORES ANALISADOS

FONTE: FIEP – Observatórios (2019, s. p.).

136
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

FIGURA 5 – DIMENSÕES MACROAMBIENTE E


MICROAMBIENTE E INDICADORES ANALISADOS

FONTE: FIEP (2019, s. p.).

A proposta da bússola da sustentabilidade procura obedecer às características


do público-alvo e permitir a simplificação de informações sobre fenômenos
complexos existentes, como é o caso da sustentabilidade. Para identificar o
desempenho nesse tema, houve uma consulta a acadêmicos, consultores e
agentes de mercado durante o processo de pesquisa. Com isso, foram definidos
três níveis de desempenho que traduzem quanto uma dada indústria está alinhada
aos princípios de sustentabilidade:

• Desempenho em sustentabilidade por indicador.


• Desempenho em sustentabilidade por dimensão empresarial.
• Desempenho geral em sustentabilidade.

Esses níveis são aplicáveis inicialmente no contexto da empresa, quando o


diagnóstico personalizado é criado e disponibilizado para o respondente. Assim,
cada empresa recebe scores/graus, com base nas respostas enviadas. Os
mesmos níveis também podem ser entendidos no contexto estadual, por meio da
consolidação de respostas e do cálculo das médias.

Quanto ao desempenho em sustentabilidade por indicador, a bússola


da sustentabilidade trata o indicador como a mais específica e, também, mais
importante unidade de análise na Bússola da Sustentabilidade. É o seu resultado
que direciona a forma como a empresa será orientada (práticas sugeridas e
benefícios esperados) no contexto do diagnóstico. Enquanto nos outros dois
níveis de desempenho (por dimensão empresarial e geral) há apenas referências
numéricas (score de 0 a 10), no caso dos indicadores existe uma abordagem

137
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

qualitativa, por meio de quatro graus de maturidade empresarial (‘Iniciante’,


‘Sensibilizada’, ‘Consciente’ e ‘Engajada’).

A seguir, na Figura 6, encontramos um exemplo de desempenho em


sustentabilidade por indicador.

FIGURA 6 – DESEMPENHO DE SUSTENTABILIDADE POR INDICADOR

FONTE: FIEP (2019, s. p.).

Na Figura 7, podemos observar o resultado da pesquisa de 2017 no indicador


de Produção.

FIGURA 7 – INDICADOR PRODUÇÃO

FONTE: FIEP (2019, s. p.).

138
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

Na Figura 8, podemos observar o modelo que a ferramenta bússola de


sustentabilidade apresenta os dados para as empresas participantes da pesquisa.

FIGURA 8 – PAINEL COM OS INDICADORES DE PRODUÇÃO MAIS LIMPA

FONTE: FIEP (2019, s. p.).

Além dos dados, a ferramenta bússola da sustentabilidade apresenta


recomendações a respeito do indicador em questão, conforme apresentado na
Figura 9 a seguir.

139
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

FIGURA 9 – RECOMENDAÇÕES: PRODUÇÃO MAIS LIMPA

FONTE: FIEP (2019, s. p.).

No indicador de produção mais limpa, podemos verificar a importância da


ação humana que, observando o impacto negativo de um processo produtivo,
pode realizar ajustes, inserir novas práticas e formas de monitoramento e, assim,
torná-lo um processo com menor impacto para o meio ambiente. Este pode ser
considerado um exemplo de um impacto ambiental negativo, ocasionado por
processos produtivos tradicionais que, ao receber a ação humana e os devidos
ajustes, transforma-se em algo positivo para o meio ambiente.

Para ilustrar, na prática, a produção mais limpa na indústria, leia


o artigo que relata a aplicação dessa prática em uma indústria de
beneficiamento de couro de grande porte. Link: http://www.abepro.
org.br/biblioteca/enegep2010_tn_stp_113_739_16730.pdf.

Para ilustrar, a seguir, a Figura 10 e a Figura 11 apresentam dados coletados


a respeito do indicador de Meio Ambiente nas indústrias do estado do Paraná.

140
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

FIGURA 10 – PAINEL COM OS INDICADORES DE CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

FONTE: FIEP (2019, s. p.).

FIGURA 11 – RECOMENDAÇÕES PARA O INDICADOR CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

FONTE: FIEP (2019, s. p.).

Para finalizar os resultados da Bússola de Sustentabilidade, no ano de 2017,


foram cerca de 250 que ingressaram na ferramenta on-line gratuita da Bússola

141
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

da Sustentabilidade e iniciaram sua participação. Destes, 154 enviaram todos os


dados, receberam um diagnóstico personalizado e ajudaram a compor um retrato
estadual. A diferença significativa entre convidados e participantes evidencia a
dificuldade de entendimento do caráter fundamental da sustentabilidade para a
sobrevivência das empresas.

O resultado sugere, também, uma dissociação entre sustentabilidade e


competitividade. Ou seja, não há a compreensão de que, sem o alinhamento
aos princípios sustentáveis, as empresas perdem cada vez mais espaço nos
mercados nacional e global.

A incorporação de aspectos de sustentabilidade nas estratégias e a criação


de mecanismos formais para a aplicação das normas de conduta e valores,
nos processos e relações com todas as partes envolvidas, viabilizam o alcance
de resultados organizacionais com impacto positivo na empresa, sociedade e
no mercado. Se o planejamento e gestão de processos estiverem alinhados
aos pressupostos do desenvolvimento sustentável, as indústrias poderão obter
vantagens, que vão desde a eficiência econômica até benefícios de melhoria da
imagem institucional, evidenciando a responsabilidade social e ambiental.

Ao tratar de produção, discute-se a melhoria do desempenho econômico


da empresa, possibilitando a ela oferecer produtos com menor custo e orientados
por princípios de sustentabilidade. Nessa busca, as indústrias podem adotar
procedimentos para acréscimo da eficiência com o melhor aproveitamento dos
recursos e insumos do processo produtivo, minimizando riscos e desperdícios.
O desenvolvimento de produtos, serviços e processos voltados para
sustentabilidade, novos ou significativamente melhorados, permite o aumento
da qualidade da oferta, a ampliação da participação de mercado e a redução de
impactos com a produção.

A relação com os consumidores é algo presente em praticamente todas


as ações da Bússola da Sustentabilidade, haja vista que um dos benefícios
permanentes esperados com as práticas é a valorização da imagem institucional e
o acréscimo de valor percebido nos produtos e serviços. O chamado consumidor
consciente é aquele que ultrapassa apenas o bem-estar pessoal enquanto critério
de escolha, priorizando, também, os recursos ambientais e as necessidades
sociais.

A empresa tem dois papéis nas relações que passam a ser estabelecidas
diante da mudança de comportamento dos clientes: ser ativa na sustentabilidade,
deixando suas ações transparentes para o consumidor, bem como se tornar um
agente multiplicador dos princípios sustentáveis, auxiliando na conscientização
pública. Ao mesmo tempo em que atende à nova demanda, a organização é

142
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

partícipe na disseminação do consumo consciente. Notou-se que nenhum dos


casos surge explorado enquanto prática pelas indústrias, revelando grande
espaço para melhorias. Tal situação poderá progredir quando as empresas
orientarem e conduzirem os consumidores com maiores detalhes sobre o produto,
seu uso, sua embalagem e descarte seguro.

Os resultados que se encontram em situação mais incipiente estão no


macroambiente, ou seja, no espaço relacional externo às empresas, conforme
discussão a seguir por dimensão (meio ambiente e engajamento local). Tanto no
campo acadêmico como no ambiente empresarial, quando a sustentabilidade
é mencionada, em um primeiro momento, o aspecto que aparece com maior
frequência é o meio ambiente. No entanto, com os dados observados, é possível
verificar que essa dimensão ainda está distante do empresariado. A maior
concentração de respostas registradas se deu no grau “não se aplica”, o que
permite duas avaliações.

Se a sustentabilidade não se resume ao meio ambiente, ela até já está


presente na prática e/ou na ideação de muitas empresas, mas ainda não aparece
explorada nesses termos. Por outro lado, comprova-se que, quando restrita ao
tema da conservação ambiental (no monitoramento do impacto, na questão de
gases poluentes ou no compromisso com a preservação) e/ou da gestão de riscos
e desastres (prevenção e assistência à comunidade), o estágio ainda é incipiente
na maioria do cenário industrial. Por fim, a Figura 12 apresenta o modelo de painel
de bordo da ferramenta Bússola de Sustentabilidade.

FIGURA 12 – PAINEL DE BORDO BUSSOLA DE SUSTENTABILIDADE

FONTE: FIEP (2019, s. p.).

143
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Percebemos, com a iniciativa apresentada, que cada vez mais surgem


ferramentas para facilitar a medição das ações de sustentabilidade no ambiente
industrial. A proposta é estimular as indústrias a implementar ações sustentáveis
e a internalizar os conceitos de preservação ambiental.

A seguir, vamos observar alguns desafios enfrentados pelos diversos setores


industriais e alguns cases de sucesso que ilustram, bem as ações implementadas
pelas indústrias para promover o desenvolvimento e preservar o meio ambiente.

4 OS SETORES AMBIENTAIS E O
MEIO AMBIENTE
As indústrias compreendem a necessidade de atuar de uma forma sustentável
e de preservar o meio ambiente. Seja por uma consciência ambiental ou por força
de legislação, o setor industrial está procurando adequar-se permanentemente e
avançar na temática da sustentabilidade.

No entanto, ainda existem desafios a serem superados relacionados ao


meio ambiente, muitos deles os setores industriais já estão tratando com ações
práticas, e com uma postura proativa na busca por soluções. Para ilustrar melhor
essa realidade nas indústrias, no Quadro 5, estão descritos os desafios de alguns
setores industriais.

144
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

QUADRO 5 – DESAFIOS AMBIENTAIS NA INDÚSTRIA


Indústria Desafios Ações
Diminuir a quantidade de água As indústrias estão investindo em alta tecnolo-
nos processos produtivos, gia, buscando soluções de reaproveitamento e
como os da lavagem do jeans. reuso da água para alcançar os mesmos objeti-
vos, mas com um consumo de água menor.
Utilização dos resíduos do pro- Criação de novos produtos com o reaproveit-
cesso produtivo, fios, pedaços amento dos materiais que não foram uti-
de pano, malha. Reciclagem lizados por completo no processo pro-
de peças produzidas com de- dutivo. Exemplo de almofadas, toalhas,
feito ou abaixo do controle de roupas de boneca, roupas para pets.
qualidade. Direcionamento das peças com pequenos de-
feitos ou abaixo do controle de qualidade estip-
ulado para outlets das fábricas.
Mão de obra barata para a re- As fiscalizações e a pressão da mídia têm di-
alização de serviços de costura minuído significativamente esse movimento.
e confecção. Muitas marcas As empresas estão procurando legalizar os tra-
grandes procuram terceirizar balhadores e fornecer as condições adequadas
em outros países e até mesmo de trabalho.
entre imigrantes estes serviços
na busca de preços mais com-
petitivos.
Diminuir a quantidade de tintas Para responder a demanda por produtos efici-
e demais produtos tóxicos nas entes, seguros e não tóxicos, a indústria têxtil
confecções. A demanda por tem criado roupas feitas com algodão orgânico
produtos eficientes, seguros e corantes naturais e cosméticos não testados
Têxtil e não tóxicos é crescente, de em animais, para se diferenciar no mercado.
acordo com o estudo.
Aproveitamento do papel. Ao As indústrias de papel e celulose aproveitam
invés de descartar, utilizar o papel utilizado como fonte de matéria-prima
como matéria-prima do proces- para o papel reciclado.
so produtivo.
Manejo Florestal. Poda de ár- Ao podar as árvores da floresta plantada, as
vores. Processo produtivo para indústrias florestais estão permitindo e cuidado
extrair e aproveitar ao máximo para manter a qualidade da madeira e o seu uso
a madeira da floresta plantada. adequado. As indústrias devem respeitar diver-
sas leis ambientais e o código florestal para re-
alizar suas atividades.
Florestal, Embalagens – Plano de As indústrias têm adequado os seus processos
papel e Logística Reversa. para realizar a logística reversa de materiais e
celulose embalagens produzidas pelo setor.

145
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Problemas com entulhos e Uso da produção mais limpa, com técnicas para
resíduos do processo constru- minimizar a quantidade de entulhos e dar o des-
tivo. tino correto para cada tipo de material.
Novos materiais para con- Construções com painéis de madeira estrutura-
struções mais sustentáveis. da são uma tendência no setor. As construções
são mais rápidas, geram menos resíduos e tem
diversos ganhos térmicos, acústicos e ambien-
tais.
Busca por construções inteli- Uma das ações do setor é o investimento em
gentes e eficientes para reduzir telhados verdes, que são cobertos por plantas
as contas de água e luz. para reduzir a temperatura do ambiente e ainda
dar mais verde para a paisagem

Construção

Reciclagem reaproveitamento Por ser um material de alto valor, as indústrias


do aço e de demais matérias têm procurado utilizar ao máximo suas matérias
primas. primas e serem eficientes nos seus processos

Automotivo produtivos.
Filtros para diminuir a emissão O setor procurou implantar filtros capazes de
de gases. Uso de fontes alter- minimizar de forma significativa a emissão de
nativas de energia. gases. Outra iniciativa é o uso de fontes de en-
ergia alternativas como o gás que, comparado
com outros tipos de combustíveis, polui sig-
nificativamente menos, uma vez que tem ca-
pacidade de reduzir a emissão de poluentes,
o que auxilia na preservação da natureza. No
processo da cerâmica vermelha, as indústrias
substituíram a lenha, carvão, por biomassa, o
que contribui para a redução do desmatamento
e preservação.
Cerâmica
branca/ver-
melha

146
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

Diminuir o uso de químicos ou Muitas indústrias de pequeno porte estão se


pesticidas na produção de ali- estabelecendo com alimentos produzidos local-
mentos. mente, sem componentes químicos ou pestici-
das. Entre as oportunidades com mais poten-
cial, está a venda e produção de café orgânico,
a organização de mercados locais ou coopera-
tivas de produtores para atender a restaurantes
ou bufês orgânicos.
Carcaças, eliminação de ani- Por meio do investimento de alta tecnologia,
mais com doenças. existem máquinas que utilizam uma espuma
para realizar o abate de animais com doenças,
de uma forma rápida, segura e que não gera
Agroin- sofrimento animal.
dústria

Forte odor expelido pelo pro- Parceria com instituições na pesquisa de filtros
cesso produtivo das grandes que amenizem o odor. Negociações em con-
indústrias do setor, o que pode junto com o governo e com a comunidade local
incomodar a comunidade local. para amenizar o desconforto.
Armazenagem inadequada dos Adequação às normas estabelecidas pela fiscal-
pescados e dificuldade no pro- ização para não perder o produto. Qualificação
cesso produtivo realizado na dos colaboradores e ajustes nos processos pro-
Pesca própria embarcação. dutivos para atender a legislação ambiental.
Indústria Produzir produtos de limpeza As indústrias estão investindo em produtos
química mais seguros para a saúde e de limpeza ecológicos, além de Itens biode-
gradáveis e serviços de limpeza certificados.
para o meio ambiente.

Embalagens com um materi- As indústrias estão investindo para se adequar


al diferente, mais amigável ao a novas embalagens; com menos alumínio.
meio ambiente.
Também estão se adequando a novas norma-
tivas que pede a substituição da gordura trans
por outro tipo de gordura nas misturas dos pro-
Alimentos Diminuição do uso de Gordura
cessos produtivos dos alimentos.
trans.

Reciclagem de produtos As indústrias estão adotando medidas chama-


eletrônicos. das de Tecnologia da Informação verde uma
das áreas de maior potencial. A ideia é criar
negócios para prestarem serviços a outras em-
Tecnologia
presas como consultorias e análises de gastos
energéticos em data-centers, por exemplo. Out-
ro exemplo são soluções para a de reciclagem
de produtos eletrônicos.
FONTE: A Autora.

147
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Para compreendermos o esforço que a indústria vem dispendendo na


superação dos desafios para preservar o meio ambiente, vamos ver algumas
iniciativas de indústrias que deram certo e que foram premiadas no 27º prêmio
expressão ecologia 2019/2020.

Case: Whirlpool - Joinville (SC)


Conservação de Energia
Gestão energética: alavancando resultados extraordinários.

Um dos ODS priorizados pela Whirlpool é o ODS12 – Consumo e Produção


Responsáveis. A unidade Joinville implantou um sistema de gestão de energia
baseado na metodologia World Class Manufacturing (WCM), atuando de maneira
estruturada para promover a redução de perdas com vetores energéticos, em
especial de energia elétrica.

Para tal, realizou-se a priorização dos vetores energéticos e, em seguida,


o levantamento das perdas em cada área e cada processo. As perdas foram
então minimizadas através de projetos e ações focadas, como eliminação de
vazamentos de ar comprimido, recuperação de calor, troca de luminárias, até
ações para redução de consumo excessivo.

Os resultados são expressivos: reduziu-se em cerca de 15% o indicador de


performance, considerando o período desde 2017 até o final de 2019, sendo esse
um resultado nunca antes atingido na história da empresa.

Para maiores informações sobre o tema de conservação


de energia acesse o link: http://www.procelinfo.com.br/
m a i n . a s p ? Te a m I D = % 7 B 9 2 1 E 5 6 6 A - 5 3 6 B - 4 5 8 2 - A E A F -
7D6CD1DF1AFD%7D

Case: Tabocas Participações Empreendimentos - Paraná


Controle de Poluição
Gestão da água: boas práticas de gerenciamento e reuso de efluentes

Esse projeto apresenta soluções ecológicas que têm por objetivo a


redução de impactos no solo, na água e na flora a partir de técnicas aplicadas
em obras, que trazem consigo as ideias propostas pelas Tabocas Participações

148
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

Empreendimentos, empresa atuante no segmento de construção de linhas de


transmissão e subestações de energia.

A implantação de Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) e de outras


infraestruturas presentes nos canteiros de obras, pertencentes à Tabocas, focam
na gestão dos efluentes líquidos, na proteção do solo e na conservação dos
recursos hídricos.

Como resultado, obteve-se redução do consumo de recursos hídricos, menor


supressão vegetal e prevenção de poluição pela geração e pelo lançamento de
efluentes, reforçando a visão e o engajamento da empresa com o conceito de
desenvolvimento sustentável, respeitando seus compromissos firmados em sua
política de gestão integrada e em seus princípios socioambientais.

Para maiores informações sobre o tema gestão da água: https://


www.terra.com.br/noticias/dino/os-desafios-da-industria-na-gestao-
da-agua,e18f6f357286462e9912ef9b4b732b15zy13eeao.html.

Case Engie Brasil Energia - Lages (SC)


Energias limpas
Unidade de cogeração Lages: um exemplo do potencial transformador
da economia circular e da geração de energia renovável

Idealizada como um mecanismo de desenvolvimento limpo, a Unidade de


Cogeração Lages (UCLA), pertencente a Engie, tem a redução de emissões
atmosféricas entre seus principais propósitos. Ao utilizar resíduos da indústria
madeireira local para gerar energia elétrica e vapor, a usina deu novo destino a
um material com grande potencial de emissão de metano (CH4) – gás de efeito
estufa (GEE) até 25 vezes mais danoso que o dióxido de carbono (CO2).

Assim, em uma década, a operação da UCLA evitou a emissão de


aproximadamente 2,5 milhões de toneladas de CO2 equivalentes. Adicionalmente,
a companhia buscou ampliar o impacto positivo do empreendimento, destinando
as cinzas de biomassa para uso da agricultura e, em um projeto experimental, na
compostagem de rejeitos orgânicos domésticos.

149
Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Engie Brasil Energia

Os resultados obtidos com a criação de um mercado para esses resíduos


da indústria madeireira confirmam que o investimento em iniciativas de economia
circular guarda grande potencial transformador.

A destinação de cinzas de biomassa para aplicação na agricultura contribui


para a redução de emissões de gases de efeito estufa, especialmente por reduzir
o uso de insumos agrícolas convencionais. Por isso, a Engie iniciou, em 2009, a
distribuição gratuita de 100% das cinzas de biomassa da UCLA para produtores
rurais da região de Lages.

Para maiores informações sobre o tema de energias renováveis,


acesse o link: http://www.portaldaindustria.com.br/cni/canais/
industria-sustentavel/temas-de-atuacao/energias-renovaveis/.

Case Florestal Gateados - Campo Belo do Sul (SC)


Gestão Ambiental
Sistema de Gestão Ambiental

Os projetos desenvolvidos contemplam colaboradores internos, suas famílias


e a comunidade externa. As ações desenvolvidas com base no sistema de gestão
ambiental evidenciam a responsabilidade social e ambiental da empresa. Seus
principais objetivos são envolver os colaboradores e a comunidade na adoção de
práticas sustentáveis e reduzir os impactos ambientais das operações florestais.

Ao longo dos últimos anos, foram desenvolvidas diversas ações que


abrangem iniciativas de destaque, tais como: definição e monitoramento de
indicadores que visam à redução de impactos ambientais; identificação da fauna
silvestre presente nas áreas da empresa; preservação de significativa área de
florestas e de seus recursos naturais; educação ambiental através da trilha
ecológica e de parceria com a Polícia Militar Ambiental de Santa Catarina; e
destinação correta dos resíduos sólidos gerados.

150
Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

Para maiores informações sobre o tema de sistemas de gestão


ambiental, acesse o link: http://www.portaldaindustria.com.br/
publicacoes/2012/9/gestao-ambiental-na-industria-brasileira/

Case Volvo - Curitiba (PR)


Gestão Ambiental
Pontas de Estrela: promoção da cultura de meio ambiente e
sustentabilidade

Em 2016, durante o processo de avaliação do Sistema Lean de Produção, os


auditores identificaram que o envolvimento dos operadores da área de powertrain
da Volvo com as questões ambientais tinha algumas oportunidades de melhoria.

Decidiu-se, então, por criar os Pontas de Estrela de Meio Ambiente, uma


prática já existente para outros temas, tais como Segurança do Trabalho e
Qualidade. Em paralelo, estabelecia-se uma estratégia de desenvolvimento de
competências no nível operacional, com o objetivo de se evitar “treinar todos
sobre tudo” e de desenvolver pessoas que fossem referência em um determinado
tema em cada uma das equipes autogerenciáveis.

Os Pontas de Estrela de Meio Ambiente foram convidados a compor esse


time de pessoas de referência e então treinados nas práticas que estariam sob
sua responsabilidade. Muitos foram os ganhos para a gestão ambiental, tais como
ideias para reduzir o consumo de energia e de como melhorar a coleta seletiva de
resíduos.

Case Klabin - Santa Catarina


Manejo florestal sustentável
Certificação FSC em Fornecedores de Madeira

O modelo de manejo florestal adotado pela Klabin ultrapassa as divisas das


suas áreas. Programas desenvolvidos pela empresa incentivam os produtores de
florestas da região a seguir as práticas de manejo florestal sustentável.

A partir disso, foi possível desenvolver o Programa de Certificação Florestal


para as florestas de fornecedores de madeira, parceiros da Klabin no planalto
serrano catarinense. O objetivo é agregar valor às florestas, estimulando o

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Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

encadeamento produtivo do setor madeireiro na região com o desenvolvimento


sustentável das florestas plantadas aliado à conservação das áreas nativas.

O processo de formação de fornecedores e suas áreas florestais para


a certificação dura 12 meses e é custeado pela Klabin. Após essa fase, os
empreendimentos passam por auditoria de certificação com uma empresa
credenciada para emitir o selo FSC.

Para maiores informações sobre o tema de manejo florestal


sustentável, acesse o link: https://www.florestal.gov.br/documentos/
concessoes-florestais/concessoes-florestais-florestas-sob-
concessao/floresta-nacional-do-crepori/producao-1/brasadoc/2249-
plano-de-manejo-florestal-sustentavel-brasadoc-crepori-umf-iii/file.

Case Dana Indústrias - Gravataí (RS)


Reciclagem
Borracha 100% Reciclada

A Associação Brasileira de Tecnologia da Borracha (ABTB) registra que mais


de 90% dos pneus produzidos no Brasil são reciclados. Essa realidade não se
aplica à indústria de autopeças, que utiliza artefatos de borracha, mesmo sendo o
automotivo o oitavo maior setor produtivo brasileiro.

Dois aspectos a considerar: elastômeros têm até 15 componentes, enquanto


o pneu tem apenas quatro. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)
permite o envio para aterros industriais, desestimulando a indústria de reciclagem.
A Dana estabeleceu a meta de reciclar 100% dos resíduos de borracha resultantes
dos processos produtivos no Complexo Gravataí, até 2018, e atingiu a meta um
ano antes.

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Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

Para maiores informações sobre o tema reciclagem, acesse o


link: https://ideiasustentavel.com.br/desafios-da-reciclagem-industria-
fox/.

Case NT Wood Line - Almirante Tamandaré (PR)


Reciclagem
Produtos ecológicos fabricados em madeira de descarte

A empresa surgiu em 2014, inicialmente, como revenda de revestimentos


fabricados com madeira sem apelo sustentável em sua produção. Ao visitar um
fornecedor de madeiras, a NT Wood Line identificou que ele descartava em sua
caldeira uma quantia muito grande de madeiras que poderiam ser aproveitadas
em seu processo.

A partir desse momento, surgiu não apenas um projeto, mas um processo de


sustentabilidade. A empresa começou então a produzir 100% de seus produtos
com madeiras oriundas de descarte que seriam queimadas.

A planta fabril, localizada na cidade paranaense de Almirante Tamandaré,


produz atualmente deques, revestimentos, mesas, cadeiras, treliças, biombos
e outros itens totalmente fabricados com resíduos dessas madeiras. Essa
ação trouxe para a empresa e a comunidade vários pontos positivos, como a
diminuição de CO2 emitido e de corte e desmatamento em mais de 300m³ na
madeira utilizada.

Para ilustrar melhor algumas iniciativas das indústrias com


foco ambiental. assista os vídeos a vida do papel no link: https://
youtu.be/k8f5NUQuLg8. Vídeo dos projetos ambientais da Bracell,
indústria de celulose link: https://youtu.be/o73YTwj1Q2Q. Vídeo de
manejo sustentável da indústria florestal no link: https://youtu.be/
FolCIXvet4w. E o vídeo do Lab Moda Sustentável no link: https://
youtu.be/SfBVjL_7yMA.

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Avaliação de Impactos Ambientais na Indústria

Desta forma, a indústria segue com a certeza cada vez mais evidente que o
único caminho possível de ser trilhado é o caminho da sustentabilidade. E com
uma postura ativa de impulsionadora de transformações na sociedade, esperamos
que a indústria se porte como protagonista no desenvolvimento sustentável e na
preservação do meio ambiente.

5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Neste capítulo, procuramos apresentar conceitos de negócios sustentáveis,
de indicadores ambientais e de sustentabilidade utilizados pelas indústrias e
apresentar casos reais dos desafios e ações implementadas por diferentes setores
industriais. A preservação ambiental é uma necessidade nítida atualmente, e, por
isso, múltiplos esforços vêm sendo despendidos para criar soluções que integrem
desenvolvimento econômico e preservação ambiental.

Nesse sentido, os negócios sustentáveis impulsionam da mesma forma


que instigam os setores industriais a se adaptarem a esta nova realidade.
Por um outro lado, é necessário medir, mensurar se o caminho trilhado está
atendendo as expectativas, e, para isso, são utilizados os indicadores ambientais
e de sustentabilidade. Porém, mais importante que utilizar um indicador, é
extremamente relevante que este indicador atenda às características do setor
industrial e, por isso, ferramentas e instrumentos vêm sendo criados para atender
as necessidades específicas das indústrias dentro da temática da sustentabilidade.

Percebemos que muitas iniciativas vêm sendo implementadas pelo setor


industrial para promover a preservação do meio ambiente e o crescimento
sustentável. Por outro lado, novas empresas vêm se constituindo dentro do setor
industrial aproveitando esta nova mentalidade e fortalecendo este movimento em
prol da sustentabilidade.

Esperamos que cada vez mais as indústrias possam se fortalecer e


apresentar iniciativas voltadas para a preservação dos recursos atuais e futuros, e
que sobressaia mais os casos de sucesso do que os desafios enfrentados.

O posicionamento sustentável, com líderes que tenham uma mentalidade


sustentável, é uma premissa para as indústrias que querem se manter e crescer
no mercado. Portanto, internalizar e absorver a sustentabilidade nas estratégias
e no cerne das organizações industriais é a maneira esperada para crescermos
equilibrando desenvolvimento e preservação ambiental.

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Capítulo 3 Práticas Ambientais na Indústria

REFERÊNCIAS
BERTHON, B.; ABOOD, D. J.; LACY, P. “Can Business Do Well by Doing Good?”.
Outlook, [on-line], n. 3, p. 1-14, out. 2010.

PACIFIC INSTITUTE. Corporate water disclosure guidelines: toward


a common approach to reporting water. 2014. Disponível em: http://
ceowatermandate.org/files/Disclosure2014.pdf. Acesso em: 13 jul. 2021.

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA. O uso racional da água no


setor industrial./Confederação Nacional da Indústria, Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo. 2. ed. Brasília : CNI, 2017.

FIEP. Bússola da Sustentabilidade. 2019. Disponível em: https://www.


bussolasdaindustria.org.br/sustentabilidade/#resultados. Acesso em: 2 set. 2021.

FIESC. Pesquisa do uso de energia. 2018. Disponível em: https://fiesc.com.br/


pt-br/imprensa/industria-investe-em-eficiencia-energetica-de-olho-na-autonomia.
Acesso em: 13 jul de 2021.

GUIA SUSTENTABILIDADE. 27º Prêmio Expressão de Ecologia 2019 – 2020,


Florianópolis, n° 64. Editora Expressão: Florianópolis, 2020.

IDEIA SUSTENTÁVEL. Os 8 princípios dos negócios sustentáveis. 2013.


Disponível em: https://ideiasustentavel.com.br/os-8-principios-dos-negocios-
sustentaveis/. Acesso em: 2 set. 2021.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Indicadores Ambientais Nacionais. [2019].


Disponível em: https://antigo.mma.gov.br/informacoes-ambientais/indicadores-
ambientais.html. Acesso em: 2 set. 2021.

UNITED NATIONS. A New Era of Sustainability: UN Global Compact-Accenture


CEO Study. 2010. Disponível em: https://d306pr3pise04h.cloudfront.net/docs/
news_events%2F8.1%2FUNGC_Accenture_CEO_Study_2010.pdf. Acesso em: 2
set. 2021.

VOLTOLINI, R. Conversas com Líderes Sustentáveis – O que aprender


com quem fez ou está fazendo a mudança para a sustentabilidade. São Paulo:
SENAC-SP, 2011.

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