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Aula 1: Arquitetura, cidade, filosofia, pandemia (apontamentos)

A epidemia do Covid-19
radicaliza uma presença
constante da era moderna e
contemporânea, o impulso
de conhecer e
problematizar a sociedade
em que vivemos, na sua
operação, principalmente
no que se refere a sua
capacidade de distribuir
felicidade e bem estar entre
todos. Uma mudança na
inércia comportamental, de
certa maneira abrupta da
existência estabelecida e
comportada, determinado
por um agente biológico de
um vírus, como o da
pandemia de Covid-19. É
claro também, que a
aspiração a sua
transformação em algo
diverso do existente decorre
de uma diversidade de visões e narrativas, que disputam o metabolismo social, todas
almejando ser compartilhada pela maior parcela. Há uma clássica divisão entre os
conhecimentos ou as narrativas, que disputam a opinião social. De um lado, uma
parcela dita progressista, que luta contra a manutenção de sua forma operativa;
alienada, competitiva e repetitiva, bloqueadora da felicidade e do bem estar. E, de
outro lado, uma parcela conservadora, que reafirma que a forma de funcionar da
sociedade contemporânea competitiva é adequada, e que, não deve ser questionada,
pois sua própria reprodução permitirá alcançar a felicidade e o bem estar. Há um pós
epidemia colocado no futuro, que várias correntes disputam qual será sua
configuração, numa disputa de narrativas que se sobrepõe, repetindo como será
nosso "novo normal". Como ele se reestruturaria? Havendo, claramente um paradoxo,
nessa expressão "novo normal", uma vez que, se verdadeiramente "novo" deveria não
ser "normal". Será, já um direcionamento em favor do conservadorismo? No Brasil, o
discurso conservador ganhou terreno a partir de uma série de acontecimentos desde o
processo de redemocratização, que podem ser resumidos em quatro pontos;

• as tradições estruturais do autoritarismo brasileiro,


• a longa recusa do enfrentamento em nossa história desse mesmo
autoritarismo,
• o capital rentista que apura valores exorbitantes sem produzir nada e
• a curta conjuntura de emergência de grupos milicianos e para militares, a partir
de 2013, que endemonizaram a política pós constituinte de 1988.
Tais pontos estão de certa forma naturalizados em nossa sociedade, em uma série de
comportamentos e atitudes cotidianas.

"O machismo foi tornado crime, o que lhe reduz as manifestações públicas e abertas.
Mas ele sobrevive no imaginário da população, no cotidiano da vida privada, nas
relações afetivas e nos ambientes de trabalho, nas redes sociais, nos grupos de
whatsapp, nas piadas diárias, nos comentários entre os amigos “de confiança”, nos
pequenos grupos onde há certa garantia de que ninguém irá denunciá-lo. O mesmo
ocorre com o racismo, com o preconceito em relação aos pobres, aos nordestinos, aos
homossexuais. Proibido de se manifestar, ele sobrevive internalizado, reprimido não
por convicção decorrente de mudança cultural, mas por medo do flagrante que pode
levar a punição. É por isso que o politicamente correto, por aqui, nunca foi expressão
de conscientização, mas algo mal visto por “tolher a naturalidade do cotidiano...O
“brasileiro médio” gosta de hierarquia, ama a autoridade e a família patriarcal, condena
a homossexualidade, vê mulheres, negros e índios como inferiores e menos capazes,
tem nojo de pobre, embora seja incapaz de perceber que é tão pobre quanto os que
condena. Vê a pobreza e o desemprego dos outros como falta de fibra moral, mas
percebe a própria miséria e falta de dinheiro como culpa dos outros e falta de
oportunidade. Exige do governo benefícios de toda ordem que a lei lhe assegura, mas
acha absurdo quando outros, principalmente mais pobres, têm o mesmo
benefício.” LAGO 2020

Desde tempos imemoriáveis a filosofia se dedica a Teoria da descrição do real, como


podemos nos apropriar do que existe, vê-lo de forma precisa e convincente, descrevê-
lo de forma aceitável e persuasiva, que na contemporaneidade corresponderia ao que
denominamos; narrativas ou lugares de interpretação ou fala. Platão (428-348 a,C.), a
partir da Alegoria da Caverna, que está no livro VII da República, e sucede A analogia
do sol e A analogia da linha dividida e descreve o processo de desvelamento do real,
como uma sucessão de aproximações a partir de diferentes fontes de iluminação.
Primeiro a fogueira no interior da caverna e depois o sol no ambiente aberto e natural
constroem uma sucessão de compreensões, que vão ao final desvendar o objeto do
conhecimento. As perguntas; o que é exatamente conhecer? O que me autoriza a
afirmar que realmente conheço um assunto? Quem me garante que o que sei, ou acho
que sei, corresponde ao real? Coisas banais como uma cadeira podem ser conhecidas
pela experiência ou pela empiria; sua cor, a maciez do assento, sua solidez, seu
espaldar, sua materialidade de madeira, seu desenho, e sua estrutura. Para ir além da
empiria precisamos trilhar caminhos, que nos exigem mais abstração teórica; como ela
se relaciona com outras cadeiras, sua concepção, seu estilo, sua técnica produtiva,
qual sua conexão com o tempo que a concebeu, etc...

As visões de mundo se agruparam em Escolas do Pensamento, que forneciam chaves


variadas para essa compreensão, mesmo na Grécia Antiga houve cisões entre a
Academia, onde se agrupavam Platão e Aristóteles (384-322 a.C.), e o Jardim de
Epícuro (341-217 a.C.), um outro filósofo que a partir do hedonismo irá celebrar o
prazer racional. A felicidade e o prazer eram os objetivos maiores da filosofia para
Epícuro, que fundará em torno dessa doutrina uma série de colônias, fundadas por
seus seguidores e discípulos em torno de um Evangelho, e que se instituíram desde a
Espanha ao Oriente Médio, os chamados Jardins de Epícuro. Locais aonde se
celebrava a festa e a produção para o compartilhamento da amizade entre mestres e
discípulos materializados em refeições e festas de confraternização.

"Trata-se, portanto de um conhecimento que não pode ficar limitado à percepção


sensível direta: precisa construir interpretações abstratas, baseadas em informações
que não podem ser imediatamente cotejadas com a experiência vivida pelo
observador. O sujeito se abstrai da multiplicidade das sensações, da percepção
imediata, e se fixa em determinados elementos, que vão sendo desdobrados e postos
em conexão uns com os outros." KONDER 2002 página16
Esses desdobramentos das questões sensitivas imediatas, empíricas, até as
abstrações teóricas, conectadas entre si, conformando todas uma experiência do
conhecer vai construindo o saber, que pode incorrer em equívocos e erros. Esses
últimos, equívocos e erros, parecem mais fáceis de acontecer no momento inseguro
do início da apreensão, mas se tornam mais difíceis de serem identificados, depois
que a argumentação do conhecimento é construída, e colocada em pé pelo sujeito. Há
sempre riscos de descaminhos, por isso um dos campos mais importantes da reflexão
filosófica se materializou na Teoria do Conhecimento, que desvenda não apenas o
objeto, mas também o sujeito. Certamente, o argumento mais convincente dessa
argumentação venha exatamente do termo em grego para designar a
verdade, alétheia, aonde "a" é um prefixo negativo, e "létheia" é ocultação, latência, ou
recalque. Na verdade, "létheia" é também da mesma raiz latina de "latere", que nós
conservamos no português com a palavra; "latente", como sinônimo de "oculto",
recalcado, escondido. Portanto, o termo grego "alétheia" reforça a ideia do
conhecimento ou da verdade, como um processo contínuo de desocultação, de
desvelamento, como uma construção interminável, aonde não apenas o objeto é
compreendido, mas também o sujeito. O desvelamento é contínuo e interminável, pois
são infinitas as possibilidades de abordagem do objeto, que sempre pode ser
delimitado de diversas formas.

Interessante cotejarmos características e conceitos imputados á sociedade brasileira,


como; o patriarcalismo ou o patrimonialismo, submetidos ao processo de desocultação
continuada. Enquanto, o patriarcalismo envolve uma certa concentração de poder no
patriarca da familia ampliada com seus agregados, num processo contínuo e
expansivo de apadrinhamento, que envolve benefícios e obrigações. O
patrimonialismo envolveria uma indefinição entre as esferas públicas e privadas, entre
o Estado e a Sociedade, que teria suas origens num iberismo e nas Capitanias
Hereditárias, aonde o sujeito se denomina a representação natural do poder; "O
Estado sou eu." Mas essas duas características-conceitos, que se reforçam
mutuamente também estão sujeitas a sua superação, pois sua própria fixação sofre
conflitos e questionamentos de forma contínua.

"A verdade do ser consiste na fidelidade à dialética da desocultação. Ora, um


pressuposto dessa dialética é que nenhum momento, nenhum estágio da
desocultação esgota o ser. Em outras palavras: em nenhum instante, a face presente
do tornar-se presente que é o ser é capaz de materializar toda a realidade. De modo
que qualquer fixação unilateral do presente levaria a esquecer a verdadeira natureza
do ser." MERQUIOR 1969 página 161

O inglês Francis Bacon (1561- 1626) no seu Novum Organum escrito nos tempos do
Renascimento Europeu pretendia recuperar o trato direto com as coisas, da
experiência empírica se rebelando contra o pensamento da filosofia escolástica, para
se libertar de uma imensa quantidade de noções, que ele chamava de ídolos. De
acordo, com ele eram quatro as espécies de ídolos que serviam as conveniência
humanas para expressar a correta realidade da natureza e do mundo; ídolos da
tribo, ídolos da caverna, ídolos do foro, e ídolos do teatro. Os ídolos da tribo eram os
que levavam o gênero humano a acreditar que sua visão era a expressão geral e
correta da realidade. Os ídolos da caverna eram os que levavam os indivíduos a
acreditar que sua opinião tinha valor universal e aceitação geral. Os ídolos do
foro provinham da comunicação entre indivíduos através da linguagem e da
imperfeição das palavras. Por último, os ídolos do teatro derivavam do fato de que
todas as ideias chegam aos indivíduos através de encenações sancionadas pela
tradição, sejam elas filosóficas, científicas, ou crendices e superstições. Os ídolos
seriam como obstáculos, condicionadores do pensar que bloqueavam seu livre
caminhar, dando-lhe um sentido automático e mecânico, que hoje poderiam estar
representados pelas culturas institucionais que participamos, como; a família ou clã
(tribo), o nosso círculo de relações (caverna), da linguagem corriqueira, exclusiva ou
profissional (foro) e dos aparatos formadores que nos instruíram (teatro).

Os ídolos parecem evoluir com a complexidade de conformação do conhecer e da


experiência compartilhada de um existir; no clã, nas amizades, na língua e nas
escolas. Um represamento dos afetos de identidade, que nos formaram e que todos
temos, que precisam ser explicitados e dimensionados, para que sejam superados, ou
reconhecidos como presenças limitadoras. Límites, que muitas vezes só nos é dado
compreender ou se aproximar quando somos fustigados pelo outro, pela diversidade,
pelo confronto e pela polêmica de outras formas de construir o pensamento, muito
além da nossa formação. A intrínseca multi disciplinaridade do saber, que envolve
diferentes formações e pensamentos, cooperando de forma conflituosa de forma a
superar os ídolos de barro.

"O intelecto humano não é luz pura, pois recebe influência da vontade e dos afetos,
donde se pode gerar a ciência que se quer. Pois o homem se inclina a ter por verdade
o que prefere. Em vista disso, rejeita as dificuldades, levado pela impaciência da
investigação; a sobriedade, porque sofreia a esperança; os princípios supremos da
natureza, em favor da superstição; a luz da experiência, em favor da arrogância e do
orgulho, evitando parecer se ocupar de coisas vis e efêmeras; paradoxos, por opinião
do vulgo. Enfim, inúmeras são as fórmulas pelas quais o sentimento, quase sempre
imperceptívelmente, se insinua e afeta o intelecto." BACON, citado em KONDER 2002
página19

Michel Montaigne (1533-1592) jurista, filósofo e cético francês também do


Renascimento se chocava com o comportamento e atitude dos europeus, frente aos
povos do novo mundo, afirmando nos seus ensaios um livre pensar associativo e
descompromissado de escolas e vertentes. A partir, da interação com os povos do
Mundo Novo, trazidos a Europa denuncia a estreiteza da cultura europeia, chocando-
se com o tratamento brutal e desrespeitoso com a diversidade do outro. Dois séculos
mais tarde, Denis Diderot (1713-1784), o editor chefe e cofundador da Enciclopédia
Iluminista, retoma a crítica de Montaigne aprofundando a crítica ao eurocentrismo,
localizando um certo belicismo da Europa, na questão da propriedade privada. Afinal,
para os selvagens a posse da terra era comum, o que determinava um ambiente mais
pacífico e civilizado, livre das guerras que sempre nasciam de uma pretensão comum
a mesma propriedade. A pretensão do eurocentrismo, que não enxergava as
diferenças e outros arranjos societários, na verdade impede e bloqueia uma
compreensão mais ampla de nós mesmos. Interessante pensar, que a diversidade não
está apenas no saber constituído em diferentes matrizes, mas também em diferentes
existências, consideradas como formadoras e aprendizados compartilháveis. A
experiência do índio, da mulher, do negro, do favelado enfim do outro, do
subalternizado carrega em si um saber e um conhecimento que precisa ser ouvido,
explicitado, construído. A experiência empírica do colonizado precisa se expressar
para fazer o colonizador perceber a ignorância na qual está mergulhado, numa
racionalidade restrita, imperfeita e inacabada.

Daqui se depreende o medo e a insegurança que o autoritarismo bolsonarista está


submetido, na medida em que não tolera a argumentação do outro, do diverso,
daquele que não pensa como o patriarca, branco, heterossexual e competitivo. Por
isso, reduz todos os opositores a ídolos panfletários incompreensíveis, negando o
contraditório, querendo a todo custo se manter num pseudo saber simplificante,
construtor de frágeis argumentos. As manifestações como; "não há povos no Brasil,
apenas um povo brasileiro" (Weintraub - Min. da Educação) ou "o nazismo que tinha o
nome de nacional-socialismo está mais próximo do socialismo do que do
capitalismo" (Ernesto Araújo - Min. Relações Exteriores), ou ainda, por conta de
protestos e reinvindicações; "Não se assustem então se alguém pedir o AI-5. Já não
aconteceu uma vez." (Paulo Guedes - Min. da Economia) denunciam uma forte
insegurança da própria construção, pretendendo se afastar ou calar as manifestações
contraditórias. O fascismo buscou esse mesmo anti intelectualismo, um culto pelo
simplismo reducionista, por figuras espontâneas e populares em seus gestos e
pensamentos, como Hitler e Mussolini, aonde o caricato se aproxima do homem
comum.

"Em primeiro lugar, é preciso saber formular problemas. E, digam o que disserem, na
vida científica os problemas não se formulam de modo espontâneo. É justamente esse
sentido do problema que caracteriza o verdadeiro espírito científico. Para o espírito
científico, todo conhecimento é resposta a uma pergunta. Se não há pergunta, não
pode haver conhecimento científico. Nada é evidente. Nada é gratuito. Tudo é
construído." BACHELARD 1999 página18

Nesse sentido, Immanuel Kant (1724-1804), constroe seu pensar e interpretar o


mundo a partir de uma interação complexa e dinâmica entre sujeito e objeto, ser e
dever ser, ciência e ética, razão e juízo. Kant desenvolve e determina um pressuposto
básico da teoria do conhecimento ou da representação do real presente nas três
críticas - A crítica da Razão Pura (1781), Crítica da Razão Prática (1788) e a Crítica do
Juízo (1790). No pensamento kantiano há um gradiente, uma complexidade e ao
mesmo tempo uma interação multi direcionada, entre três conceitos fundamentais de
percepção do que existe de fato; a ética, a ciência e a arte, ou os correlatos; o dever
ser, o ser e o sensível. Um processo complexo, que envolve aproximações sucessivas
sobre o real, a partir; das possibilidades do futuro, do que é, e do jogo lúdico da
experiência, ou ainda; a reflexão, o reflexo e o juízo. O pensamento de Kant segue
uma sistematização complexa, na qual ser e dever ser estão inicialmente separados,
no sentido de que um (ser) é a totalidade do real que apreendemos, e o segundo
(dever ser) são os preceitos éticos e morais. Na última crítica, a do Juízo, Kant reforça
os elementos do pensar ligados a imaginação, e ao processo de livre pensar que era
categorizado na expressão em alemão "Federdenker", ou seja, pensa escrevendo.
Antes da publicação da primeira crítica, Kant ministrou um curso nos anos de (1779-
80), denominado Antropologia, no qual abordava as possibilidades da imaginação agir
sem coerção no processo de escrita, no qual, de certa forma, reforça essa
disponibilidade do livre pensar. Uma livre associação de ideias e especialidades, como
uma rede de entidades vivas e interagente, no qual há o abandono do nível de
equilíbrio consolidado e estável do saber. Kant irá perceber a necessidade do repouso
das ideias, no qual a imaginação floresce, impulsionando o processo criativo além do
interesse e do desempenho o que se pretende é o pensar onírico. Uma crítica clara ao
positivismo da ciência, que acreditam apenas no relacionamento direto de causas e
efeitos simplificadores, na eleição de uma única lógica; médica, judiciária, econômica,
etc... Um investimento no olhar demorado e lento, que se articula a partir de diversos
saberes e especialidades, que são conectados pelo pensar desinteressado das
ciências humanas; a antropologia, a filosofia, a política, que se utilizam de abordagens
generalistas, que conectam saberes.

"Desta forma, as ideias poderiam surgir com o livre curso da imaginação: "devemos ter
à mão uma folha de papel dobrada no meio, na qual vamos registrando promiscue
todas as imagens que digam respeito à matéria. Além disso, também precisamos fazer
alguns intervalos enquanto pensamos, os quais contribuem de maneira extraordinária
para o descanso e fortalecimento da imaginação. Também devemos evitar reler com
frequência aquilo que nós mesmos tivermos escrito. Não devemos ler escritos sobre a
matéria a respeito da qual estamos refletindo, do contrário atamos o gênio." KANT
1995 página11
Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 Stutgart - 1831 Berlim) foi amigo e conviveu com
o poeta Friedrich Hölderlin, e com o também filósofo Joseph Von Schelling,
participando na ainda não unificada Alemanha, dos acontecimentos da Revolução
Francesa (1789). Estudou no seminário teológico e protestante de Tubingen (1788-
1793) na região de influência de Stutgart, no que era o Ducado Würtemberg. Depois,
foi preceptor na cidade de Berna na atual Suíça, mantendo-se mobilizado pelos tema
religiosos, principalmente a partir do texto de Kant; A religião nos limites da simples
razão. Na qual, a determinação ética do pensamento segue uma trilha entre a moral e
a religiosidade, na mesma trilha da humanização do sagrado, encarnado na figura de
Jesus Cristo e nos questionamentos de Lutero, expressos no drama entre a doutrina
eclesiástica e a fé do sujeito. Há uma distinção importante, nesses escritos da
juventude, entre a religião estatutária e a popular e da comunidade, sendo essa última
a que sintetiza a racional e universal vontade do sagrado. Hegel foi um entusiasta dos
princípios revolucionários do Iluminismo, no que concerne a liberdade, fraternidade e
igualdade. Quando, Napoleão entrou em Iena, em 13 de outubro de 1806, Hegel
escreveu uma carta enaltecendo aquilo que considerava como sendo; "o Espirito do
mundo." Ou, quando da derrota napoleônica em 1814, que descreveu como um
acontecimento trágico, "o espetáculo de um gênio grandioso destruído pela
mediocridade" (SINGER, 2003. p. 12). Nessa admiração, alguns críticos apontaram
uma antecipação da crença no poder autocrático do Estado, que sem dúvida terá sua
adesão, quando da restauração da Prússia, no qual via a encarnação da razão
absoluta. Diferentemente de Rousseau e de toda tradição filosófica francesa, o centro
racional aqui não é o indivíduo isolado, mas a reunião e o esforço empreendido pela
história para a emergência de formas de aglutinação de indivíduos em comunidades.

"Vi o imperador - essa alma do mundo - cavalgar através da cidade em missão de


reconhecimento: é deveras um sentimento maravilhoso contemplar um tal indivíduo
que, concentrado em determinado ponto, sentado num cavalo, abarca e domina o
mundo." ABBAGNANO 1983 página77

Sua juventude (1788-1800) é dominada por escritos e reflexões religiosas


como; Religião do povo e cristianismo, A vida de Cristo (1795) e Sobre a relação da
religião racional com a religião positiva (1795-96), aonde se afasta do anti clericalismo
do iluminismo, mas ao mesmo tempo demonstra uma vontade de conciliação entre o
divino e o terreno. Na verdade, a geração de Hegel está profundamente envolta por
linhas do pensamento complexas e amplas, que envolvem em termos esquemáticos; o
helenismo, o cristianismo, o protestantismo, o iluminismo, e a modernidade. Todas
envoltas pelo espectro de Kant (1724-1804), que ainda está vivo no espaço temporal
da geração de Hegel, e determina um pressuposto básico da teoria do conhecimento
ou da representação do real. Hegel gesta e gera na Alemanha do século XIX uma
série de discípulos; progressistas a sua esquerda (Feuerbach, Marx e Engels) e
conservadores a direita (Ludwig Von Mises), que se distinguem pela sua compreensão
do papel do Estado nas transformações sociais. De um lado, aqueles que identificam
no Estado uma construção da burguesia, que atende a seus interesses exclusivos e
de outro, os que acreditam na racionalidade e neutralidade do Estado, como
representante da vontade geral.

No contexto da pandemia de Covid-19 da contemporaneidade que vivemos, a questão


do Estado na sociedade foi desnudado e colocado a prova, pois as condições dos
serviços de saúde e o acesso a moradia higiênica são fundamentais no combate ao
contágio generalizado. Benesses, que se mostraram inacessíveis pela generalização
da lógica competitiva e da privatização, que vinham desde o final dos anos setenta
(Thatcher 1979 e Reagan 1981) destruindo o Estado de Bem Estar Social - Wellfare
State - restringindo as atuações estatais, nos campos da saúde e habitação pública.
Frases, que pareciam verdades inquestionáveis, como; "Se os países não conseguem
pagar suas dívidas, que se vendam" e "Não existe sociedade, apenas famílias e
indivíduos" THATCHER, Margareth, ou "Não existe alternativa ao mercado" BEZOS,
Jeff, que naturalizavam a condição de competição, afastando a empatia, a mútua
dependência societária, lançando-nos numa luta do indivíduo contra todos. A eficiência
na produção de uma subjetividade competitiva, avessa a solidariedade genérica e
impessoal de um sistema de mútua dependência, que foi implementada pelo neo
liberalismo parece ter sido desmontada. Enfim, a frase, no livro Princípios da Filosofia
do Direito (1821), na qual Hegel absolutiza o papel do Estado como ente racional,
desinteressado e neutro, frente ao indivíduo e a sociedade civil, denuncia e pré figura
muito das disputas ideológicas do século XX, na estruturação das sociedade
modernas.

"O Estado é absolutamente racional ... e tem o direito supremo sobre o indivíduo, cujo
dever supremo é de ser um membro do Estado." HEGEL

Nesse sentido, Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), elegeram como
sua forma de interpretar o mundo o conflito inter classes, a emergência de uma
subjetividade nova e inusitada, o operariado e a didática da história como parteira da
transformação pensada e induzida. Além disso, Marx e Engels identificam uma
tendência inercial do sistema capitalista, que supervaloriza a forma líquida, a base
monetária, que materializa o lucro, na fórmula; Dinheiro - Mercadoria - Dinheiro' (D-M-
D'). A décima primeira tese sobre o filósofo materialista, pertencente a esquerda
hegeliana Ludwig Feuerbach (1804-1872) procura construir uma nova posição para o
pensar nos tempos modernos;

"Os filósofos apenas interpretaram o mundo diferentemente, importa é transformá-


lo." MARX e ENGELS 2007, página613.

Uma proposição assertiva, que mira mais nos objetivos a serem atingidos, do que na
descrição daquilo que ocorre, sintetizado no agente concentrado e subalternizado pela
produção industrial, o operariado. A proposta é a instituição de uma filosofia da práxis,
aonde parte se da vivência humana concreta e objetiva, os homens de carne e osso,
para se chegar as suas ideias, sua imaginação e naquilo que engendram
mentalmente, como justificativa para sua atuação. A base empírica sobre a qual Marx
pensa e observa, o desenvolvimento do Capital é a Inglaterra, mas especificamente
Manchester, aonde seu companheiro de reflexão Engels administra a fábrica do seu
pai, rico industrial alemão associado ao empreendimento textil fabril da Ermen &
Engels Victoria Mill. Engels irá vivenciar de forma bastante próxima, a dura situação da
classe operária na Inglaterra do primeiro impulso industrial, fornecendo rico material
empírico para as abstrações de Marx. Nessas observações e escritos de Engels há
um olhar e afeto específico para os irlandeses, que são os principais explorados, tendo
inclusive namorado uma empregada da sua fábrica, Mary Burns, imigrante da Irlanda.
Interessante nesse pensamento foi, apesar de sua gestação datada em meados do
século XIX, e localizada na Revolução Industrial da Inglaterra, sua capacidade de se
manter como explicação da forma de operar capitalista até os dias atuais.

"Sem dúvida, o mundo capitalista e sua própria espacialidade mudaram de forma


brutal do século XIX para o XXI, as formas de atuação e operação mudaram havendo
uma clara aceleração dos processos, no entanto a lógica de procurar na forma
monetária a segurança da realização do lucro permanece intocada. E, esse fato
acarreta uma série de permanências que não parecem mudar. Uma certa aproximação
inevitável, e inexorável com as crises. Aquilo que SCHUMPETER 2017 denominou
como destruição criativa do capitalismo, uma forma constante de revolucionar as
formas de atuação. Marx no século XIX já apontava essa marca do sistema capitalista
de funcionamento, que tendia a procurar a forma monetária, tendendo
inexorávelmente a especulação e ao rentismo para de certa forma se livrar da forma
mercadoria. Essa capacidade de descrever criticamente o sistema capitalista é talvez
o principal legado de Marx e Engels, que identificaram nas crises cíclicas da economia
um modo atávico de realizar o lucro para poucos, e sempre concentrar renda. O
historiador francês Fernand Braudel, na sua imensa obra fazia uma distinção, que me
parece importante entre mudanças superficiais, que ocorrem na superfície do mar
fustigado por ventos e ondas, enquanto as grandes profundidades se mostram
imutáveis, e funcionando do mesmo jeito. Na sua analogia Braudel, se referia a longa
transformação, sofrida entre o feudalismo e o capitalismo, fixando um certo padrão de
repetição no capitalismo, no qual a última metamorfose era sempre a fase de
predominância financeira, da realização do lucro, ou sua monetarização.

"O ponto de partida de nossa investigação foi a afirmação de Fernand Braudel, de que
as características essenciais do capitalismo histórico em sua longue durée - isto é,
durante toda suas existência - foram a flexibilidade e o ecletismo do capital, e não as
formas concretas assumidas por ele em diferentes lugares e épocas: 'Permitam-me
enfatizar aquilo que me parece ser um aspecto essencial da história geral do
capitalismo: sua flexibilidade ilimitada, sua capacidade de mudança e de adaptação.
Se há, segundo creio, uma certa unidade no capitalismo, da Itália do século XIII até o
ocidente dos dias atuais, é aí, acima de tudo, que essa unidade deve ser situada e
observada.'" BRAUDEL 1982 pagina 433, citado por ARRIGHI 1996 página4

Os ciclos repetidos do capitalismo são sem dúvida uma constante na sua história
desde o século XIII europeu, conforme demonstrado por ARRIGHI 1996, aonde a
sucessão de hegemonias dominadoras assinalam o processo apontado por Braudel.
Uma fase de intensa produção, aonde a mercadoria parece ser a própria
representação da riqueza, seguida por uma fase aonde a moeda passa a ser
centralidade da prosperidade. ARRIGHI 1996, também assinala, que no século XIX o
capital parecia ter encontrado uma nova casa, algo inusitado até então, que eram as
unidades fabris de produção da revolução industrial, que pareciam ter ancorado o
capital na produção. Mas logo, a repetição das crises em 1870 e 1929 mostraram que
o padrão de busca pelo padrão rentista e especulativo se repetia da mesma forma.
Desde os banqueiros genoveses do século XV, que descobriram que era mais seguro
emprestar dinheiro aos reis da península ibérica, aos investidores de Wall Street em
Nova York em 1929 ou em 2008, vale mais apostar do que produzir." MOREIRA 2018
www.arquiteturacidadeprojeto.blogspot.com captado em 05-06-2020

Vladimir Ilitch Ulianov, Lênin (1870-1924) é o conformador de uma linha de


pensamento, o marxismo-leninismo, que se posicionou sobre a transformação violenta
e rápida num país que estava na periferia do desenvolvimento capitalista da
atualidade, mudando expectativas do próprio pensamento de Marx. Impossível se
referir a Lenin, sem mencionar a Revolução Russa de Outubro de 1917, um processo
que na verdade se estende de janeiro de 1905 até março de 1921, que envolve cinco
grandes acontecimentos.

• O primeiro, a Revolução de 1905, que envolve a capitulação do império russo


ao império japonês expansionista, que conquista a base naval russa de Port Arthur, no
nordeste da China, lançando o país numa grande carestia e que determina uma série
de greves e protestos contra a autocracia dos Tsares, aonde emerge uma organização
social única de base; o Soviete.
• O segundo a Revolução de Fevereiro de 1917, do Governo Provisório que de
novo reúne protestos e greves nas principais cidades contra a participação da Rússia
na 1a Guerra Mundial na Europa, iniciada em agosto de 1914.
• O terceiro a Revolução de Outubro de 1917, na qual Lenin sintetiza as
demandas dos protestos, no lema da destruição do Estado autocrático dos Tzares;
"Todo o poder aos Sovietes", que eram como Conselhos de base popular,
incrivelmente pulverizados na sociedade.
• O quarto, são as guerras civis de 1918-1921, nas quais forças das mais
diversas correntes, que se contrapunham ao Partido Bolchevista de Lenin se
agruparam no exército branco, sabotando as iniciativas do novo Estado.
• O quinto e último, é a Revolta dos marinheiros do Mar Báltico, que ocorre em
março de 1921 na cidade de Kronstadt, que foi fortemente reprimida pelos
bolcheviques, e que na historiografia oficial constará como um surto contra
revolucionário, mas que o próprio Lenin reconheceu como um arbítrio autoritário,
apenas necessário num Socialismo de Guerra.

"Os marinheiros não queriam Brancos nem Vermelhos...Eles foram o relâmpago,


melhor que qualquer outro que iluminou a realidade." LENIN, citado em REIS 2017
página142

A importância das formulações de Lenin para o nosso mundo atual, pois fazem frente
a uma certa tendência a localizar as posições progressistas de esquerda como
estatizante, de uma maneira simplificadora e reducionista. Muitas vezes,
principalmente a partir dos anos oitenta do século XX, o senso comum geral assumiu
essa interligação mecânica e automática da defesa do Estado, com o lugar de
resguardo do interesse público, e portanto campo de defesa dos progressistas. Mas tal
posição é de certa forma uma novidade histórica, pois no começo do século XX, e até
meados do século XIX, a esquerda não celebrava o Estado dessa forma. Um
personagem, que foi fruto de uma enorme mistificação pelo regime oficial soviético,
que se caracterizava como Socialismo Real ou de Estado. Lenin vai ter seu cadáver
embalsamado após sua morte, e seu corpo é até hoje exposto junto ao Kremlim, em
Moscou, permanecendo como uma das figuras mais populares da Russia atual, só
perdendo para Pedro, o Grande.

O que inicialmente nos surpreende é a intensa produção livresca e intelectual do


personagem, seguindo os passos de Marx e Engels, Lênin se debruçou sobre seu
contexto histórico e produziu uma das mais extensas bibliografias da história. Um dos
trabalhos mais conhecidos, e com grande destaque nessa obra foi o Estado e a
Revolução, a doutrina do marxismo e as tarefas do proletariado na revolução,
escrito antes da tomada do poder pelos bolcheviques em agosto e setembro de 1917.
Um trabalho que ainda cobra da esquerda e dos neo liberais uma reflexão mais
apurada, do que é o Estado. Algo subordinado a sociedade, ou que a subordina?
Publicado em 1918, após a revolução, mas escrito antes dela como já assinalado, no
qual Lênin descreve o Estado como um órgão de dominação dissimulada de classe,
algo que segundo os hegelianos representaria o interesse de todos, e que segundo
Marx deveria ser suprimido numa sociedade sem classes. E, o fato de que a
verdadeira tarefa da revolução socialista era a destruição do Estado, como uma
instituição criada pela burguesia, não para a conciliação das classes, mas como um
poder supostamente neutro colocado aparentemente por cima da sociedade, que
atendia sobretudo aos seus interesses. O contexto no qual o texto é escrito são as
reflexões dos sociais democratas alemães, como Karl Kautsky, que afirmavam um
caráter reformista e anti revolucionário, de revalorização do papel do Estado, e, por
outro lado, a presença dos sovietes, como instituições de representação direta, ou de
supressão da representação profissional da democracia burguesa. Nas formulações
de Lênin, há uma clara tensão entre utopia e pragmatismo, um documento que
apresenta uma luta contínua entre a realpolitik, e uma construção proativa de um novo
aparato, ainda inexistente, materializado de baixo para cima. Nada em Lênin aparece
como muito confortável, e segundo alguns ele nunca acreditou que o socialismo do
autogoverno democrático dos trabalhadores, ou a democracia dos sovietes poderia ser
instalada com facilidade na Rússia de tradição autocrática. Na verdade, destaca-se
aqui um artigo escrito por Lênin, antes da Revolução de Outubro de 1917;

"Em "Conservarão os bolcheviques os poderes de Estado", Lênin afirma: "Nós não


somos utopistas. Sabemos que um operário não qualificado e uma cozinheira não são
capazes, neste momento, de começar a dirigir o Estado. Nisso estamos de acordo [...]
com os democráticos-constitucionalistas [...]. Mas diferenciamo-nos desses cidadãos
porque exigimos a ruptura imediata com o preconceito de que administrar o Estado [...]
é algo que só ricos ou funcionários provenientes de famílias ricas podem
fazer." KRAUSZ 2017 página253

Importante também assinalar uma diferenciação fundamental entre os argumentos da


burguesia e os progressistas, que sempre enfatizaram a impossibilidade da
neutralidade científica do Estado, como representação do interesse geral, enquanto a
primeira persiste acreditando nela. É interessante também assinalar, que O Estado e
a Revolução podem nos levar a duas interpretações antagônicas; de um lado,
àqueles que identificaram a obra como a semente do autoritarismo do Estado
soviético, como A. J. Polan e Robert Service(1), e outros como, Neil Harding e Kevin
Anderson(2) que veem na obra princípios libertários, negados pelo Estado Stalinista
que se seguiu.

"Entre todas as obras de Lênin, o Estado e a Revolução foi a que sobreviveu de modo
mais interessante. O flanco marxista e, na verdade, quase todos os movimentos
anticapitalistas e críticos do Estado a tomaram para si. O texto pode se aplicar em
oposição tanto aos conceitos capitalistas quanto aos stalinistas do Estado, na medida
em que a meta marxista, a da extinção do Estado era, e é, objetivo declarado da
Revolução Russa e da revolução socialista universal." KRAUSZ 2017 página250

Interessante destacar, que a crítica de Max Weber sempre apontou a unificação


realizada pelo Estado soviético, em um órgão de trabalho do Executivo e do
Legislativo, dominado por um partido único, como uma característica do Estado
autoritário. O problema, que choca a concepção liberal e também nossa visão
contemporânea é que O Estado e a Revolução sempre afirmou numa linguagem
clara seu compromisso de classe, com uma fase intermediária da Ditadura do
Proletariado, fato que causa calafrios a um oficialismo cientificista imperante. E, que
demanda da contemporaneidade uma reflexão mais aprofundada. Há muito, que a
esquerda principalmente no Brasil, abandonou as armas e afirmou seu compromisso
com a democracia, como um valor inegociável (3). Volta-se assim a questão da
neutralidade axiológica, que tanto embasa a sociologia liberal de Max Weber, que
recalca os interesses de classe no preparo que as classes privilegiadas desfrutam, e,
efetivamente possuem, pois estão além da sobrevivência. A questão da Revolução,
das transformações violentas estariam superadas na perspectiva histórica da nossa
contemporaneidade? A questão deve ser ponderada a partir da imperfeição da própria
democracia, que se configura como um sistema de forças e contra forças, que
pretendem superar os interesse particulares e de classe. E, pela perspectiva histórica,
que claramente nos mostra que a interação entre Estado e Sociedade aparece mais
equilibrada nas sociedades mais desenvolvidas no período entre a Revolução de
Outubro de 1917, na Rússia e a Queda do Muro de Berlim em 1989, pois a ameaça da
transformação violenta fustigava e assustava o pensamento burguês. A partir da
Queda do Muro de Berlim, a contra força do espectro comunista parou de rondar as
democracias ocidentais, lançando-as numa arrogante supremacia de conceitos como;
mercado, competição, empresariamento, etc.., que só ampliou a concentração de
renda, e a própria fraqueza da verdadeira democracia. Diante dessa questão há uma
citação primorosa de Lenin, num outro texto denominado, As três fontes e as três
partes constitutivas do marxismo, que delimita a forma de pensar de um
revolucionário com clareza;

"Os homens sempre foram em política vítimas ingênuas do engano dos outros e do
próprio e continuarão a sê-lo enquanto não aprenderem a descobrir por trás de todas
as frases, declarações e promessas morais, religiosas, políticas e sociais, os
interesses de uma ou de outra classe." Lênin citado por KRAUSZ 2017 página 251

NOTAS:

(1) Os livros, que apontam a premissa autoritária da obra de Lênin são; POLAN, A. J. -
Lenin and the End of Politics - Methuen, Londres 1984 e SERVICE, Robert - Lenin A
political Life v3 The Iron Ring - Mcmillan, Londres 1994, ambos citados por KRAUSZ
2017 página249.

(2) Os livros que apontam a disposição libertária da obra de Lênin são; HARDING, Neil
- Lenin´s Political Thought v.2 - Martin Press Nova York 1981 e ANDERSON, Kevin -
Lenin, Hegel and the End of Politics - Methuen, Londres 1984

(3) Ver aqui no blog, o texto A grave crise brasileira e dois textos esclarecedores, que
são COUTINHO, Carlos Nelson - A democracia como valor universal - acessível no
site https://www.marxists.org/portugues/coutinho/1979/mes/democracia.htm e
VIANNA, Luiz Werneck -Volver Não sairemos deste mato sem cachorro sem a política
e os políticos que nos sobraram - O Estado de S.Paulo 04 Junho 2017
BIBLIOGRAFIA:

AARÃO REIS, Daniel - A revolução que mudou o mundo: Rússia 1917 -


Companhia das Letras São Paulo 2017

ARRIGHI, Giovanni - O longo século XX, dinheiro, poder e as origens do nosso


tempo - editora Unesp São Paulo 1996

BACHELARD, Gaston - A formação do espírito científico, contribuição para uma


psicanálise do conhecimento - Editora Contraponto Rio de Janeiro 1999

BRAUDEL, Fernand - The Wheels of Commerce - Harper & Row, Nova York 1982

GABRIEL, Mary - Amor e Capital, a saga da família de Karl Marx e a história de


uma revolução - editora Zahar Rio de Janeiro 2013

HOBSBAWM, Eric - Como Mudar o Mundo, Marx e o marxismo de 1840-2011 -


Editora Companhia das Letras São Paulo 2011

KANT, Immanuel - Duas introduções à crítica do juízo - Editora Iluminuras São


Paulo 1995

KONDER, Leandro - A questão da ideologia - Companhia das Letras São Paulo


2002

KRAUSZ, Tamás - Reconstruindo Lênin, uma biografia intelectual - Editora


Boitempo 2017
LAGO, Ivann - O Jair que há em nós - artigo publicado em carta maior coletado em
maio de 2020 em https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Sociedade-e-Cultura/O-
Jair-que-ha-em-nos/52/47388

LÊNIN, Vladimir Ilitch Ulianov - O estado e a Revolução, a doutrina do marxismo e as


tarefas do proletariado na revolução - Editora Boitempo São Paulo 2017

MARX, Karl e ENGELS, Friedrich - A Ideologia Alemã: Crítica da novíssima


filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Brauer e Stirner, e do
socialismo alemão em seus diferentes profetas, 1845-1846 - Civilização Brasileira
Rio de Janeiro 2007

MOREIRA, Pedro da Luz - O espaço da Europa em 1848, e o nosso tempo


contemporâneo - Dezembro de 2018, em www.arquiteturacidadeprojeto.blogspot.com
coletado em 05/06/2020

__________, Pedro da Luz - A mudança, o Estado e a Sociedade Civil - Fevereiro


de 2018, em www.arquiteturacidadeprojeto.blogspot.com coletado em 05/06/2020

SCHUMPETER, Joseph A - Capitalismo, socialismo e democracia - Editora UNESP


São Paulo 2017

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