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INSTITUTO FEDERAL DE GOIÁS

CÂMPUS-INHUMAS-GO

Preconceito linguístico na fala do “caipira” do interior de Goiás

Identidade deteriorada e preconceito linguístico na fala do “caipira” do interior de Goiás

Kellyta Vitórya da Silva Souza

Projeto desenvolvido para fins de Iniciação


Científica no Ensino Médio.
Professora Dra Liliane de Paula Munhoz

Junho 2021
Inhumas-Go
RESUMO

O presente estudo será desenvolvido no período de agosto de 2021 a julho de


2022, como pesquisa de iniciação científica desenvolvida no Instituto Federal de Goiás,
Campus Inhumas. E tem por objetivo refletir sobre a discriminação existente na fala
“caipira”, no município de Inhumas, mostrar o quanto o preconceito é comum e a
importância de se discutir sobre essa variação linguística na escola, para minimizar a
discriminação. É preciso discutir sobre variações linguísticas existentes nos diversos
grupos sociais, para que se compreenda e não se discrimine pois por mais que sejamos
diferentes, todos devemos ser respeitados e tratados igualmente. A metodologia
utilizada é o levantamento da literatura sobre o tema e a observação das falas durante
rodas de conversa, como também, nas reuniões com nossa ancestralidade. Também será
abordada a questão do preconceito linguístico tal como discutida pelo professor Marcos
Bagno (1999; 2001) e de estereótipo, discriminação e estigma, segundo Goffman
(2017).

Palavras-chave: Variação linguística. Caipira. Preconceito. Estereótipo. Estigma


APRESENTAÇÃO/JUSTIFICATIVA
Este tema nos chamou atenção pelo fato de termos sido ou criados por nossos
avós ou por estarmos sempre ouvindo expressões dadas como “caipiras” em nosso
cotidiano. Por morarmos na zona rural, desde cedo, quando fomos para a escola,
começamos a perceber algumas diferenças, que se intensificaram, ao mudarmos para a
cidade. Na cidade, as pessoas não usavam as mesmas expressões que nós e às vezes não
compreendiam as que eram usadas por nós.
Os estereótipos fazem parte de um processo cultural: existem imagens que são
armazenadas na nossa memória e nós as acessamos sempre que ouvimos certas palavras
e expressões. Quando dizemos “caipira”, que imagens são acionadas? Com certeza, nos
lembram de pessoas que se assemelham a Jeca Tatu, Chico Bento, Geraldinho e
Leonardo – o cantor sertanejo. Por quê? Porque estas imagens originam-se de nossas
vivências, de nossas experiências, estão no campo de nossa cultura.
Esta estereotipização tem efeitos negativos na construção da nossa subjetividade.
Na escola, por exemplo, chegamos a receber apelido de “Pé no esterco” – o que foi algo
de que nunca nos esquecemos e que nos deixava muitas vezes constrangida. Então,
neste projeto, gostaríamos de abordar que o modo como os sujeitos do interior de Goiás,
especialmente os da zona rural, são vistos deriva de um processo político (ação = uma
forma de agir no mundo). Propomo-nos a pesquisar, portanto, os motivos que levam o
Brasil a considerar assim este sujeito, assim como os conceitos de estereótipo, estigma,
preconceito e discriminação e formas possíveis de combater os estereótipos e promover
a inclusão.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A palavra “caipira”, para nos referirmos a uma pessoa que vive no campo ou na roça é,
provavelmente, originária do tupi (kaa´pora = formado de kaá, que significa mato e
‘pora = habitante de).
Entre os elementos que marcam a cultura caipira, um dos mais representativos é a
linguagem. O dialeto caipira é uma variedade da língua portuguesa, que tem marcas
bastante estigmatizadas. Apesar da sua pronúncia ser o que mais chama a atenção no
modo de falar deste sujeito, existem também diferenças no ritmo, na prosódia (o ritmo,
o canto, a melodia da fala). Quando o caipira fala “frô”, em vez de flor e “istambo”, em
vez de estômago, não se trata de erro, mas de variedade linguística, infelizmente em
desprestígio – mais pela representação da classe social periférica, que do ponto de vista
linguístico. Afirma Marcos Bagno (1999; 2001).
Segundo Amaral, in Linhares (2005):
Longe de ser uma forma errada do caipira fazer uso das palavras, tal
linguagem constitui um dialeto que se forjou a partir de elementos do
tupi, da influência de outras línguas, entre as quais, a africana e a
castelhana, das criações que emergiram no próprio meio caipira e,
fundamentalmente, do próprio português arcaico dos séculos XV e
XVI.

Devido à posição periférica, esse sujeito acaba recebendo um olhar resultante de uma
cultura que o concebe de forma estereotipada, preconceituosa e discriminatória. Na
origem desse fenômeno, existem causas que se podem encontrar especialmente no
contexto social e econômico a que pertence o sujeito. Entre exibir esse “defeito” ou
ocultá-lo, muitos de nós escolhemos a segunda opção, pois revelá-lo, durante os
contatos sociais, geralmente é motivo de nos envergonharmos.
O caipira vive uma das mais destrutivas segregações: aquela em que o sujeito é
silenciado. Pode-se pensar que há exagero na declaração que fazemos, mas, o modo
como uma pessoa sente e como ela reage pode ser devastador. O bullying que ele
vivencia pode ser tão difícil de suportar quanto a perda de uma pessoa. Neste caso, o
sentimento de inferioridade faz com que ele, indefeso e inseguro, perca a própria voz.
O caipira é, muitas vezes, visto de forma estereotipada. A palavra “estereótipo” tem
origem grega (stereos e typos) e significa “Impressão sólida”. Relaciona-se, em
princípio, a uma peça da tipografia: era uma chapa dura de metal, através da qual se
multiplicavam os textos, ou seja, faziam-se cópias em sequência.
O sentido que lhe damos, neste trabalho, remonta a essa origem: uma imagem que se
replica, sem alterações. Daí, toda vez que se pensa no “caipira”, pensar-se na imagem
do Jeca Tatu, tão consagrada por Mazaropi, em seus filmes: ingênuo, “simples”
(eufemismo para “sem desenvolvimento intelectual e que se veste sem requinte ou
sofisticação). Tanto é assim que, nas nossas festas juninas, são muitos os que se vestem
de forma “esculachada” e dançam de modo desengonçado.
Retomando variação linguística, portanto, é bom lembrar que, esta é a seiva que mantém
a língua viva. enquanto a língua padrão é aprendida nas escolas e usada na linguagem
escrita, a língua não padrão é usada e modificada oralmente, no convívio social, sendo
assim, não é certo dizer que o caipira não sabe falar a língua portuguesa: qualquer
pessoa, mesmo que não tenha aprendido a ler e a escrever domina plenamente o uso de
sua língua vernácula - nome que se dá ao idioma próprio de um país, de uma nação ou
região. Assim, se o “caipira” sabe língua portuguesa e domina seu sistema, por que este
sujeito é visto de maneira tão depreciativa na nossa sociedade?

Por isso, nesse trabalho, estudaremos o dialeto caipira, de forma a pensarmos sobre a
manipulação desta identidade. Isto é, em vez do silenciamento, o caipira poderia
representar um indivíduo único, com uma linguística e uma expressividade ricas e
também, únicas.
OBJETIVO GERAL
Refletir sobre fenômenos linguísticos que cercam a linguagem caipira próprias do
sujeito da zona rural no município de Inhumas e cidades circunvizinhas e discutir sua
identidade pessoal e social.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

1. Fazer um inventário de palavras e expressões do dialeto caipira falado pelo sujeito


habitante da zona rural em Inhumas.
2. Discutir os conceitos de estereótipo, preconceito, discriminação e estigma.
3. Refletir sobre variações linguísticas.
4. Investigar as causas históricas do preconceito contra o caipira.
5. Trazer contribuições para os estudos linguísticos ao trazer um inventário de um
vocabulário de acentuada riqueza.

MATERIAIS E MÉTODOS
Em um primeiro momento, faremos uma revisão de literatura sobre a variação
linguística o preconceito linguístico, e a relação entre linguagem e sociedade. Faremos
fichamentos e resumos.
Através da observação e imersão na região rural do nosso município, investigaremos o
modo de falar do sujeito que habita o campo no interior de Goiás. Deste modo, faremos
um inventário de palavras e expressões característicos do modo de falar do sujeito
“caipira”.
Na sequência, aplicaremos um jogo: colocaremos em uma caixa adjetivos que
caracterizam as pessoas: por exemplo: inteligente, simples, altivo, arrogante,
importante, ingênuo, matuto, humilde, indolente etc. Solicitaremos aos estudantes das
diversas turmas do nosso contexto interno a selecionarem os adjetivos que eles
geralmente utilizariam para caracterizar o caipira. Este jogo nos auxiliará a identificar
se, ainda, o caipira é estereotipado no nosso meio.
Por fim, proporemos uma roda de conversa sobre variações linguísticas no nosso
campus e escreveremos nossas impressões, com destaque para o dialeto caipira. Com a
perspectiva de combater os estereótipos, pretendemos investigar quem são os sujeitos do
interior de Goiás, que vêm da zona rural e que são respeitados por seu intelecto? Afinal,
muito já se tem mostrado a importância da representatividade.

CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
Atividades Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun
2021 2021 2021 2021 2021 2022 2022 202 2022 2022 2022
2

leituras x x x x x
fichamentos x x x x x
pesquisa de x x
campo
Preparação x X
de
apresentações
Apresentação x x
Escrita do x
relatório final
Escrita de x
artigo

RESULTADOS ESPERADOS

Espera-se conscientizar sobre a necessidade de se respeitar o modo de falar do


sujeito da zona rural e, a partir do debate que esta pesquisa possa gerar, na comunidade
escolar, efetuar uma mudança na subjetivação do sujeito que pertence ao meio rural e
que se insere entre os sujeitos urbanos. Espera-se também apresentar este trabalho nos
Seminários de Iniciação Científica e em outros eventos acadêmicos, assim como,
escrever um artigo e enviar para apreciação a revistas acadêmicas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola,
1999.
-----. Gramática da língua portuguesa: tradição gramatical, mídia & exclusão social.
São Paulo: Loyola, 2000.
----. Não é errado falar assim! Em defesa do português brasileiro. São Paulo: Parábola
Editorial, 2009.
GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a identidade deteriorada. Tradução de
Márcia Bandeira de Mello Leite Nunes. Rio de Janeiro: LTC, 2017.
LINHARES, A.A.C. Linguagem e identidade cultural caipira no município de
Mossâmedes: por uma nova concepção acerca da linguagem caipira - Revista UFG,
2005 - revistas.ufg.br. Disponível em: < https://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-
BR&as_sdt=0%2C5&q=o+caipira+e+a+línguagem&oq=> Acesso em: 21 jun 2021.

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