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CÂMPUS-INHUMAS-GO
Junho 2021
Inhumas-Go
RESUMO
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A palavra “caipira”, para nos referirmos a uma pessoa que vive no campo ou na roça é,
provavelmente, originária do tupi (kaa´pora = formado de kaá, que significa mato e
‘pora = habitante de).
Entre os elementos que marcam a cultura caipira, um dos mais representativos é a
linguagem. O dialeto caipira é uma variedade da língua portuguesa, que tem marcas
bastante estigmatizadas. Apesar da sua pronúncia ser o que mais chama a atenção no
modo de falar deste sujeito, existem também diferenças no ritmo, na prosódia (o ritmo,
o canto, a melodia da fala). Quando o caipira fala “frô”, em vez de flor e “istambo”, em
vez de estômago, não se trata de erro, mas de variedade linguística, infelizmente em
desprestígio – mais pela representação da classe social periférica, que do ponto de vista
linguístico. Afirma Marcos Bagno (1999; 2001).
Segundo Amaral, in Linhares (2005):
Longe de ser uma forma errada do caipira fazer uso das palavras, tal
linguagem constitui um dialeto que se forjou a partir de elementos do
tupi, da influência de outras línguas, entre as quais, a africana e a
castelhana, das criações que emergiram no próprio meio caipira e,
fundamentalmente, do próprio português arcaico dos séculos XV e
XVI.
Devido à posição periférica, esse sujeito acaba recebendo um olhar resultante de uma
cultura que o concebe de forma estereotipada, preconceituosa e discriminatória. Na
origem desse fenômeno, existem causas que se podem encontrar especialmente no
contexto social e econômico a que pertence o sujeito. Entre exibir esse “defeito” ou
ocultá-lo, muitos de nós escolhemos a segunda opção, pois revelá-lo, durante os
contatos sociais, geralmente é motivo de nos envergonharmos.
O caipira vive uma das mais destrutivas segregações: aquela em que o sujeito é
silenciado. Pode-se pensar que há exagero na declaração que fazemos, mas, o modo
como uma pessoa sente e como ela reage pode ser devastador. O bullying que ele
vivencia pode ser tão difícil de suportar quanto a perda de uma pessoa. Neste caso, o
sentimento de inferioridade faz com que ele, indefeso e inseguro, perca a própria voz.
O caipira é, muitas vezes, visto de forma estereotipada. A palavra “estereótipo” tem
origem grega (stereos e typos) e significa “Impressão sólida”. Relaciona-se, em
princípio, a uma peça da tipografia: era uma chapa dura de metal, através da qual se
multiplicavam os textos, ou seja, faziam-se cópias em sequência.
O sentido que lhe damos, neste trabalho, remonta a essa origem: uma imagem que se
replica, sem alterações. Daí, toda vez que se pensa no “caipira”, pensar-se na imagem
do Jeca Tatu, tão consagrada por Mazaropi, em seus filmes: ingênuo, “simples”
(eufemismo para “sem desenvolvimento intelectual e que se veste sem requinte ou
sofisticação). Tanto é assim que, nas nossas festas juninas, são muitos os que se vestem
de forma “esculachada” e dançam de modo desengonçado.
Retomando variação linguística, portanto, é bom lembrar que, esta é a seiva que mantém
a língua viva. enquanto a língua padrão é aprendida nas escolas e usada na linguagem
escrita, a língua não padrão é usada e modificada oralmente, no convívio social, sendo
assim, não é certo dizer que o caipira não sabe falar a língua portuguesa: qualquer
pessoa, mesmo que não tenha aprendido a ler e a escrever domina plenamente o uso de
sua língua vernácula - nome que se dá ao idioma próprio de um país, de uma nação ou
região. Assim, se o “caipira” sabe língua portuguesa e domina seu sistema, por que este
sujeito é visto de maneira tão depreciativa na nossa sociedade?
Por isso, nesse trabalho, estudaremos o dialeto caipira, de forma a pensarmos sobre a
manipulação desta identidade. Isto é, em vez do silenciamento, o caipira poderia
representar um indivíduo único, com uma linguística e uma expressividade ricas e
também, únicas.
OBJETIVO GERAL
Refletir sobre fenômenos linguísticos que cercam a linguagem caipira próprias do
sujeito da zona rural no município de Inhumas e cidades circunvizinhas e discutir sua
identidade pessoal e social.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
MATERIAIS E MÉTODOS
Em um primeiro momento, faremos uma revisão de literatura sobre a variação
linguística o preconceito linguístico, e a relação entre linguagem e sociedade. Faremos
fichamentos e resumos.
Através da observação e imersão na região rural do nosso município, investigaremos o
modo de falar do sujeito que habita o campo no interior de Goiás. Deste modo, faremos
um inventário de palavras e expressões característicos do modo de falar do sujeito
“caipira”.
Na sequência, aplicaremos um jogo: colocaremos em uma caixa adjetivos que
caracterizam as pessoas: por exemplo: inteligente, simples, altivo, arrogante,
importante, ingênuo, matuto, humilde, indolente etc. Solicitaremos aos estudantes das
diversas turmas do nosso contexto interno a selecionarem os adjetivos que eles
geralmente utilizariam para caracterizar o caipira. Este jogo nos auxiliará a identificar
se, ainda, o caipira é estereotipado no nosso meio.
Por fim, proporemos uma roda de conversa sobre variações linguísticas no nosso
campus e escreveremos nossas impressões, com destaque para o dialeto caipira. Com a
perspectiva de combater os estereótipos, pretendemos investigar quem são os sujeitos do
interior de Goiás, que vêm da zona rural e que são respeitados por seu intelecto? Afinal,
muito já se tem mostrado a importância da representatividade.
CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
Atividades Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun
2021 2021 2021 2021 2021 2022 2022 202 2022 2022 2022
2
leituras x x x x x
fichamentos x x x x x
pesquisa de x x
campo
Preparação x X
de
apresentações
Apresentação x x
Escrita do x
relatório final
Escrita de x
artigo
RESULTADOS ESPERADOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola,
1999.
-----. Gramática da língua portuguesa: tradição gramatical, mídia & exclusão social.
São Paulo: Loyola, 2000.
----. Não é errado falar assim! Em defesa do português brasileiro. São Paulo: Parábola
Editorial, 2009.
GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a identidade deteriorada. Tradução de
Márcia Bandeira de Mello Leite Nunes. Rio de Janeiro: LTC, 2017.
LINHARES, A.A.C. Linguagem e identidade cultural caipira no município de
Mossâmedes: por uma nova concepção acerca da linguagem caipira - Revista UFG,
2005 - revistas.ufg.br. Disponível em: < https://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-
BR&as_sdt=0%2C5&q=o+caipira+e+a+línguagem&oq=> Acesso em: 21 jun 2021.