Você está na página 1de 4

Endereço da página:

https://novaescola.org.br/conteudo/2056/de-onde-
vem-o-sal

Publicado em NOVA ESCOLA Edição 257, 01 de Novembro |


2012

Prática Pedagógica

De onde vem o sal?


Pesquisar o caminho do composto até a mesa tem tudo a
ver com dois conteúdos: o ciclo da água e a separação de
misturas
Camila Camilo

As respostas dos alunos para a pergunta do


título desta reportagem costumam ser as mais
diversas. No 5º ano da EEEF Doutor Aristides
Alexandre Campos, em Cachoeiro do
Itapemirim, a 139 quilômetros de Vitória, por
exemplo, os estudantes disseram à professora
Kátia Chiotto que o sal era inventado e
produzido pelo homem em indústrias. "Eles
não sabiam que se tratava de algo natural
nem como era extraído do ambiente."
Na EEEF Doutor Aristides Alexandre
Flávia Pereira Lima, professora de Ciências do
Campos, as crianças compararam o sal
Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à
grosso e o refinado para pesquisar o
processo industrial do produto
Educação da Universidade Federal de Goiás
(UFG), conta que uma menina do 5º ano
respondeu à mesma questão dizendo que um
grande navio ia até o fundo do oceano e sugava o sal nas profundezas. Outra
criança disse achar que a água do mar batia nas pedras do litoral e, com isso,
fazia furinhos, de onde o sal saía. Esses dois pensamentos indicam que a
meninada já conhece algo sobre a água do mar e a relaciona com a obtenção
do produto. De fato, existem milhões de toneladas desse mineral nos
oceanos, originário do processo de desgaste das rochas.

Como você pode notar, conhecer a origem e qual o caminho do sal até ele
chegar à mesa não é óbvio para os alunos. No entanto, as ideias que eles têm
podem revelar bons pontos de partida. Por isso, sondar o que a turma pensa
a respeito é essencial antes de começar a expor o conteúdo.
Mas por que vale explorar o assunto em sala? A validade do tema não se
encerra nele: um trabalho bem feito envolve conceitos estruturantes da
disciplina de Ciências. Dentre eles, o ciclo da água, a separação de misturas e
os estados físicos da matéria (sólido, líquido e gasoso), além das
transformações.

Vejamos: o sal usado no preparo de alimentos tem origem no mar. Está


diluído na água (por isso ela é salgada) e, de maneira simplificada, é por meio
da evaporação, ou seja, da separação da mistura formada por sal (sólido) e
água (líquida), que o homem obtém o produto.

Mais que planejar momentos de pesquisa a fim de que os estudantes


busquem informações sobre todo esse processo, é interessante proporcionar
o estudo na prática. Confira três sugestões de experiências para fazer com as
crianças nos quadros à direita e na página seguinte. Elas foram sugeridas por
Mara Rosana Cassas, pedagoga responsável pelo Laboratório de Ciências do
Fundamental I do Colégio Santo Américo, em São Paulo. "São ótimas
oportunidades para os alunos investigarem a relação do sal e de outros
materiais, como o açúcar e o óleo, com a água. A turma levanta hipóteses,
observando as ocorrências, toma notas e formula conclusões", diz Mara.
Todas as propostas são simples de serem realizadas e requerem ingredientes
caseiros.

Experiência 1
O que é capaz de se dissolver na água?

Proponha que os alunos analisem três misturas e as comparem à água do mar. O


sal e o açúcar, solúveis em água, dissolvem. O gesso não. Pastoso, ele fica no
fundo do recipiente.

Caso A: 2 copos
plásticos (de café)
de água e 1 colher
(de café) rasa de
sal. (à esq.)
Caso B: 2 copos
plásticos (de café) de água e 1 colher (de café rasa) de açúcar. (centro)
Caso C: 2 copos plásticos (de café) de água e 1 colher (de café) rasa de gesso.
(dir.)

Alunos precisam se apropriar do conceito de evaporação

Na EEEF Doutor Aristides Alexandre Campos, depois de perguntar às crianças


o que elas já sabiam sobre a origem do sal, Kátia apresentou o vídeo De
Onde Vem o Sal?. Ao assisti-lo, todas elas puderam conhecer a cadeia
completa de obtenção do composto, desde as salinas - local onde ocorre a
evaporação da água do mar - até a chegada ao
mercado, passando pelas mais diversas etapas
industriais - dentre elas, a lavagem (exclusão
das impurezas), a centrifugação
(homogeneização do produto) e a secagem, a
aproximadamente 400 OC (eliminação da
água).

A professora também levou para a sala textos


informativos, fotos de salinas e de montanhas
de sal na Região Nordeste, além de sal grosso
Para compreender o processo de
obtenção do sal até o refino, a turma (mais próximo da forma natural) - e refinado.
assistiu a um vídeo e pesquisou o assunto O objetivo era fazer a criançada estudar mais
em textos informativos
sobre o tema e tirar eventuais dúvidas. "O
grupo aprendeu que o processo industrial tem
como objetivo preparar o composto a fim de
que ele possa ser usado na alimentação", explica Kátia.

Na avaliação do que as crianças haviam aprendido, a educadora observou


que elas sabiam descrever o caminho feito pelo sal, do mar à mesa, e que
nesse processo ocorre a evaporação da água. É esperado que a meninada
não só compreenda o conceito de evaporação como também o utilize em
falas (um termo usado em muitos temas estudados até o Ensino Médio).
"Dizer que a água desaparece no ar é pouco", diz Flávia.

Vale destacar que o mais importante de tudo isso é que os alunos


abandonaram as suposições que tinham e se apropriaram da explicação
científica a respeito do tema, uma mudança significativa para tantas outras
investigações que são realizadas na escola.

É possível complementar o trabalho explorando outros dois pontos com os


estudantes. O primeiro tem a ver com o sal-gema. Diferentemente do
misturado à água do oceano, ele é encontrado em depósitos continentais,
formados pela evaporação da água salgada de lagos e mares que existiram
há milhares de anos. Vale propor uma pesquisa a respeito: ele pode ser
usado na alimentação? No território brasileiro, existem locais para a extração
desse tipo específico de sal?

O segundo tem a ver com o fenômeno causado pela grande quantidade de


sal na água em alguns lugares, como no mar Morto, na Ásia. Lá, a
concentração é cerca de dez vezes maior do que a dos oceanos, o que
impede que os corpos afundem. Que tal simular esse cenário? Mara diz que
basta colocar um ovo cru em um copo com água e acrescentar sal aos
poucos. Peça que todos observem. Inicialmente, o ovo fica no fundo do copo.
Depois, passa a boiar. Questione o motivo. Nessa etapa da escolaridade, não
é necessário mencionar detalhes sobre a densidade (relação entre massa e
volume). O essencial é que a turma conclua que é a grande concentração de
sal que provoca a mudança.

Experiências 2 e 3
O que é capaz de se misturar à água? E o que acontece quando a água
evapora?

Peça que as crianças analisem três misturas, desta vez, com líquidos. Nos casos
A e C, o corante e o álcool, respectivamente, se misturam com a água por
completo. Já o óleo, no caso B, não. A mistura fica dividida em duas partes: a
água na parte inferior do recipiente e, o óleo, na superfície.

Caso A: 1/2 colher


(de café) de corante
e 2 copos plásticos
(de café) de água.
(à esq.)
Caso B: 2 colheres
(de café) de óleo de
cozinha ou azeite e 2 copos (de café) de água. (centro)
Caso C: 2 colheres (de café) de álcool e 2 copos (de café) de água.(dir.)

Solicite que os estudantes observem uma mistura de sal e água, que deve
permanecer em repouso por 3 dias ou até que a água evapore por completo.
Vale pedir que todos tomem notas individualmente, dia após dia. Ao fim do
período, no fundo do pote, resta o sal. Com a ajuda de uma lupa, é possível
observar melhor os cristais desse composto. Peça que a criançada relacione o
experimento com o processo que ocorre nas salinas.

Caso: 1 colher (de café) de sal, 2 copos (de café) com água
e 1 lupa (opcional).

Você também pode gostar