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Cap. 40 - Sistema FM
Cap. 40 - Sistema FM
O sistema de frequência modulada (FM), microfone sem fio, é utilizado como complemento da adaptação do aparelho
de amplificação sonora individual (AASI) e/ou implante coclear (IC) com o objetivo de melhorar a compreensão do
sinal/fala em ambientes ruidosos, reverberantes e quando a fonte sonora está distante. O uso da amplificação é descrito
como o primeiro passo no processo de intervenção para a família1 e o sistema de FM deve ser considerado como parte
fundamental da intervenção audiológica do deficiente auditivo, principalmente no caso de crianças.
O objetivo principal do processo de habilitação ou reabilitação da pessoa com deficiência auditiva é reduzir os efeitos
negativos da perda de audição na comunicação. Pensando nisso, é papel do fonoaudiólogo avaliar e auxiliar na criação de
condições para que o diálogo possa fluir até mesmo nas situações desfavoráveis de comunicação.
Apesar dos avanços tecnológicos que observamos nos AASI, principalmente no que diz respeito às conexões sem fio,
como a possibilidade de conexão direta com o celular por meio do Bluetooth, conexão com a televisão via interfaces
específicas disponíveis em diferentes fabricantes de AASI, bem como os algoritmos responsáveis por suprimir o ruído
ambiental, cancelar a reverberação presente em uma sala e acionar o microfone direcional, e consequentemente a melhora
da qualidade sonora, os AASI possuem limitações no que diz respeito a otimizar a relação sinal/ruído adequada para o
deficiente auditivo, especialmente quando a fonte sonora está distante.
O ruído de fundo (competitivo) atrapalha a comunicação oral e pode gerar prejuízos físicos, emocionais e
educacionais, tais como alterações nos limiares auditivos e/ou zumbido; cansaço resultante do esforço maior para se
concentrar, prejuízo na aprendizagem, pois o aluno poderá perder parte do conteúdo, ou mesmo, receber a mensagem
alterada2.
É bem estabelecido que indivíduos deficientes auditivos com perdas de origem coclear têm mais dificuldade em
perceber a fala em um ambiente ruidoso37, necessitando de uma relação sinal/ruído de +15 dB a +20 dB para a recepção
inteligível da fala, sendo que indivíduos com audição normal precisam de uma relação sinal/ruído de +6 dB para a mesma
tarefa8.
O objetivo deste capítulo é discutir a importância da adaptação dos sistemas de comunicação sem fio, microfone sem
fio, e os aspectos relevantes desta adaptação e a tecnologia atual.
Figura 40.1 Adaptação de um receptor de radiofrequência universal por meio da sapata de áudio.
Figura 40.2 Adaptação de um receptor radiofrequência específico – receptor desenvolvido especialmente para se integrar
ao design do modelo do AASI.
Figura 40.4 Adaptação de um receptor de radiofrequência universal em uma interface de comunicação sem fio digital de
alguns tipos de AASI.
Adaptar um receptor específico possui vantagem estética e há a facilidade de manuseio devido à possibilidade do
acesso à pilha do AASI sem a necessidade da desconexão do receptor. Já a desvantagem é a utilização restrita deste
receptor a uma família específica de AASI de um determinado fabricante.
Adaptar um receptor por indução magnética possibilita que um maior número de AASI seja compatível, tanto nos
modelos retroauriculares quanto nos intraaurais. Porém, existem três desvantagens que consistem na necessidade de o
paciente utilizar o receptor pendurado ao pescoço, faixa de frequência da bobina telefônica do AASI mais estreita em
comparação à faixa de frequência da entrada direta de áudio e conexão menos estável, devido à possibilidade de
ocorrência de interferências.
Já no caso da adaptação do receptor via interface de comunicação do AASI, a vantagem também consiste na
possibilidade do uso do sistema de radiofrequência nos aparelhos intraaurais e a desvantagem no número restrito de
AASI com essa tecnologia até então.
Figura 40.5 Exemplo de tela de programação de um AASI com DPAI.
Existe ainda AASI que, além de possuir DPAI, ativa este programa automaticamente, ou seja, assim que o transmissor
do sistema de radiofrequência é ligado, o AASI altera a sua programação automaticamente para o DPAI.
No AASI sem DPAI não é possível programar parâmetros acústicos como ganho, saída, compressão etc. Neste caso, é
possível utilizar recursos do receptor universal para alternar entre os modos FM+M ou FM apenas.
No AASI adaptado com um receptor por indução magnética, o programa a ser criado neste é o de bobina telefônica +
microfone e/ou bobina telefônica (Figura 40.6). Em alguns AASI há possibilidade de programar parâmetros acústicos
como ganho, saída e compressão da bobina telefônica.
O AASI adaptado com o receptor de radiofrequência universal por meio da interface de comunicação exige
emparelhamento prévio desta interface com o AASI. Assim, é necessário que o fonoaudiólogo conheça a forma de
funcionamento da interface de comunicação e não só o sistema de radiofrequência que irá adaptar. Em alguns aparelhos, é
possível alterar os parâmetros acústicos de programação, como ganho, saída, compressão, entre outros, de forma
independente para o sinal da interface, o que influenciará a qualidade sonora do sistema de radiofrequência quando o
receptor universal estiver encaixado na interface.
Diante das várias possibilidades de adaptação dos receptores de radiofrequência no AASI e, analisando suas
vantagens e desvantagens, é importante que o fonoaudiólogo considere no momento da seleção do AASI a possibilidade
da adaptação futura dos sistemas de radiofrequência.
Figura 40.6 Exemplo de tela de programação de um AASI adaptado com receptor por indução magnética.
Figura 40.7 Exemplo de adaptador e cabo para conexão do receptor de radiofrequência em processadores de fala do tipo
caixa.
Figura 40.8 AuriaTM da Advanced Bionics com o ângulo denominado “iConnec” para conexão direta do receptor de
radiofrequência.
Figura 40.9 FreedomTM da Cochlear com o compartimento de bateria “Microlink Freedom”; compartimento de bateria com
receptor de radiofrequência integrado.
Figura 40.10 Opus 2TM da MEDEl possui compartimento de bateria que permite a conexão direta do receptor universal.
Características do mapeamento
Na grande maioria dos casos não são necessárias modificações no mapeamento; em geral, os fabricantes de implante
coclear sugerem uma redução da sensibilidade do microfone do processador de fala. A redução da sensibilidade do
microfone varia a razão entre o nível de entrada do sinal do sistema de radiofrequência e o nível de entrada do sinal do
microfone do processador de fala. Testes de fala no ruído e observações do desempenho da criança sem e com o sistema
de radiofrequência em ambientes ruidosos auxiliam na determinação do melhor nível de sensibilidade do microfone do
processador.
• Calibrar o equipamento de mensuração no acoplador de 2 cc
• Encaixar o AASI no acoplador de 2 cc dentro da caixa de teste e traçar curva 1 para uma entrada de 65 dB NPS
(tipo de estímulo: digital speech ou sinal de fala). Essa será a curva de referência do funcionamento do AASI, mas
não será utilizada para o cálculo da transparência.
• Ainda na caixa teste, conectar o receptor de radiofrequência no AASI. Ligar o transmissor fora da caixa de teste e
colocar em mudo seu microfone ou vedar com a massa (Figura 40.11). Traçar curva 2 para uma entrada de 65 dB
NPS (tipo de estímulo: digital speech ou sinal de fala)
• Com o AASI ainda ligado ao acoplador de 2 cc e microfone de teste, o mesmo deve ser removido para fora da
caixa de teste e seu microfone vedado com massa. O microfone do transmissor de radiofrequência deve ser
colocado na caixa de teste e então traçada a curva 3 nas mesmas condições das curvas 1 e 2 (Figura 40.12).
• Subtrair a resposta das curvas 3 e 2 para as seguintes frequências: 750, 1.000 e 2.000 Hz (Figuras 40.13 e 40.14).
Calcular uma média de frequência das diferenças. Se a diferença média é <2 dB, não alterar a configuração do FM
(ganho FM). Se a diferença for >2 dB, alterar a configuração do FM e reavaliar para confirmar a transparência. Por
exemplo, se a média da curva 3 é de 4 dB inferior à média da curva 2, a configuração do sistema de
radiofrequência (ganho FM) deve ser aumentada em 4 dB e as diferenças médias recalculadas
• Por fim, realizar uma inspeção auditiva com entradas simultâneas no microfone do sistema de radiofrequência e do
AASI para julgar a qualidade do sinal.
Este procedimento é necessário para garantir que a conexão do sistema de radiofrequência não altere as configurações
do microfone do AASI e que ambos os sinais, do sistema de radiofrequência e do microfone do AASI, estejam audíveis.
Se o dispositivo não estiver transparente, o aluno pode deixar de monitorar a sua própria voz e escutar os colegas de
classe, por exemplo.
Figura 40.11 Posicionamento do AASI e receptor dentro da caixa teste.
A Figura 40.1523 representa a verificação eletroacústica em sistema de radiofrequência com receptor via indução
magnética. Os passos são os mesmos descritos no roteiro anterior, porém é necessário o uso do cordão de indução ao
redor do pescoço e a aproximação do acoplador e AASI na altura da orelha no caso do AASI intracanal ou encaixe do
AASI no gancho do acoplador no caso de AASI retroauricular. É importante lembrar que a bobina telefônica do AASI
deve estar ativada.
Figura 40.12 Posicionamento microfone do transmissor FM dentro da caixa de teste.
Figura 40.13 Exemplo de resultado de pesquisa de transparência. (Esta figura encontrase reproduzida em cores no
Encarte.)
Figura 40.14 Exemplo de resultado de transparência nas frequências de 750, 1.000 e 2.000 Hz.
Figura 40.15 Verificação eletroacústica em sistema de radiofrequência com receptor via indução magnética23.
■ Uso de questionários
O uso de medidas subjetivas, como os questionários “Avaliação do Sistema FM”31 (Figuras 40.16 a 40.18), “Early
Listening Function – ELF”32, e o “Questionário de Participação em Sala de Aula – CPQ”33 (Figura 40.19), entre outros já
consagrados para a utilização no acompanhamento do AASI, juntamente com medidas objetivas,é fundamental para
determinar a eficácia da indicação dos dispositivos auxiliares para o deficiente auditivo. Pesquisas34 relacionando as duas
formas de medidas são necessárias para uma adequada definição de protocolos de indicação e adaptação do sistema de
radiofrequência.
Figura 40.16 Avaliação do sistema FM.
Figura 40.17 Questionário de avaliação do sistema FM.
Figura 40.18 Informações sobre o uso do sistema FM.
Figura 40.19 Questionário de participação em sala de aula (CPQ).
■ Checagem do equipamento
Para o usuário de sistema de radiofrequência, foram selecionadas algumas das dúvidas mais importantes do dia a dia
relacionadas ao funcionamento do sistema de radiofrequência (Quadro 40.1, baseado em Blasca et al., 200635).
• Proporcionar adequada audibilidade e inteligibilidade
• Percepção da fala compatível ao desempenho obtido em situações ideais de escuta
• Monitoramento auditivo da própria voz e audibilidade consistente da fala no ambiente de comunicação
• Redução dos efeitos da distância, ruído e reverberação
• Sinal consistente do locutor, independentemente do movimento da cabeça
• Tecnologia que será utilizada de forma efetiva por parte do indivíduo, dos pais e/ou professores.
Para tanto, a Figura 40.20 apresenta um exemplo de proposta de planejamento do uso e monitoramento do FM,
principalmente para crianças em situações educacionais, em que devem ser definidos36:
Problemas no funcionamento
Problemas Soluções
1. O receptor de FM não funciona (não é possível escutar a voz do Vericar a pilha do AASI e/ou IC e bateria de FM (trocá-las ou recarregá-las)
professor) ou apresenta funcionamento intermitente
Vericar funcionamento do microfone do transmissor (checar com um microfone reserva)
2. A bateria de FM dura menos que 4 horas após a recarga Orientar a troca da bateria do transmissor por uma nova e, se persistir, encaminhar FM para
completa assistência técnica
3. O som de FM está distorcido, com chiado Vericar a pilha do AASI e/ou IC e de FM (trocá-las ou recarregá-las)
Vericar o funcionamento do microfone do transmissor (checar com um microfone reserva)
► Conclusão
A adaptação do AASI e/ou IC adequados para a perda auditiva e a verificação dos benefícios destes para todas as
situações em que a pessoa com deficiência auditiva é exposta é uma das primeiras responsabilidades do fonoaudiólogo.
Diversos estudos descrevem a influência negativa do ruído para a compreensão de fala no processo de aquisição de
linguagem ou até mesmo no desempenho escolar de ouvintes e de pessoas com deficiência auditiva. Portanto, é
importante considerar o uso de auxiliares auditivos, como o sistema de radiofrequência, no processo de habilitação ou
reabilitação do deficiente auditivo.
O sistema de radiofrequência é um dispositivo eletrônico de fácil adaptação e manuseio, e, em geral, não são
necessárias alterações em suas configurações. Porém é fundamental a verificação de algumas características e/ou
programação do dispositivo primário (AASI ou IC).
Como ocorre com o AASI e IC, o sistema de radiofrequência está em constante evolução tecnológica. As pesquisas e
experiências clínicas, como também o aumento no número de usuários deste tipo de tecnologia após a incorporação do
sistema de frequência modulada pessoal na tabela de procedimentos, medicamentos, órteses, próteses e materiais
especiais do SUS pela portaria no 1274, de 25 de junho de 201337, contribuem para a consolidação do conhecimento para
o atendimento das necessidades desta população.
Na escola, se o aluno não é capaz de ouvir a instrução do professor, todo o processo educacional é prejudicado38.
Desta forma, o fonoaudiólogo pode colaborar com programas de atuação baseados em instrumentos de avaliação que
apontem as adequações ambientais e as orientações necessárias para o professor e a criança com deficiência auditiva,
visto que os dispositivos auxiliares da comunicação, como o sistema radiofrequência, fazem parte da tecnologia assistiva
a que o professor deve ter acesso para que seu aluno deficiente auditivo tenha acesso à informação3942 (Brasil, 2004a, b,
2006a, b).
Enfim, o papel do fonoaudiólogo na reabilitação do deficiente auditivo é possibilitar seu acesso e por consequência
independência e segurança no maior número de ambientes de comunicação possíveis em todas as fases de sua vida.
Incluir orientações sobre os equipamentos auxiliares, como o sistema radiofrequência, possibilita a esses indivíduos e
seus familiares muitas vezes os meios necessários para uma participação integral em sua comunidade43.
► Glossário
► Aparelho de amplificação sonora individual (AASI). Dispositivo eletrônico de amplificação sonora individual.
► Auxiliares auditivos. Qualquer dispositivo designado a ajudar seus usuários a ouvir em situações difíceis, pode ser
utilizado sozinho ou conectado na prótese auditiva ou implante coclear.
► Implante coclear. Dispositivo eletrônico de estimulação elétrica individual.
► Relação sinal/ruído. Razão entre o nível de intensidade do sinal (p. ex., fala) e o nível de intesidade do ruído.
► Sistema FM. Auxiliar auditivo que envia o som captado por um microfone à orelha do ouvinte via frequência
modulada (similar a um rádio FM).
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