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A Base Conceitual da Classificação Pré-Evolucionária

 Antes de Darwin, a classificação baseava-se na scala naturae. O padrão da


biodiversidade é linear e progressivo.
 A Grande Cadeia do Ser (The Great Chain of Being) é a representação adequada e
que resulta como consequência da scala naturae. Esta reflete o Plano de Criação

Dois princípios na filosofia de Aristóteles e Leibniz

(1) Princípio de Plenitude


 Todas as formas possíveis são exemplificadas na natureza. A natureza é perfeita e
completa. (Platão)
 O universo contém todas as formas de existência possíveis, contém todas as
formas matemáticas, geométricas, físicas, químicas, biológicas…

Platão defende que o criador do cosmos terá criado todas as formas de vida no
momento da criação. Pois, o aparecimento de novas formas após a criação
tornariam o plano original do criador incompleto e por isso imperfeito. Todas
as potenciais formas de vida são essenciais numa criação perfeita, todas
deverão ter existido no momento da criação.

(2) Princípio de Continuidade


 Todas as formas na natureza se graduam insensivelmente umas nas outras.
 Bonnet era um “extremista”: a ideia de que existiam sempre formas intermediárias
era controversa.

Muitos naturalistas consideravam que às vezes não existem formas


intermediárias e que os organismos individuais de cada espécie ocupam cada
possibilidade (Bonnet).

Os naturalistas pensavam que existiam tipos naturais e classes naturais. Esta


postura chama-se pensamento tipológico (Ernst Mayr).

O conceito de pensamento tipológico (apesar de haver consenso) baseia-se no essencialismo. É


dizer que as espécies têm uma essência que as caracterizam.

Por exemplo, a essência do filo Chordata é ter um plano corporal específico (simetria bilateral,
fendas branquiais…).

A essência é única e universalmente distribuída neste grupo.

Ideias Pré-Evolucionistas – o mundo pré evolucionista é estático e fixo.


1. Alega-se a criação da natureza biológica.
2. Esta criação respeita o princípio da plenitude na medida em que todas as formas
biológicas possíveis foram criadas no momento de criação.
3. O padrão de biodiversidade é linear, contínuo e progressivo.
4. A relação entre os degraus das escadas não é evolutiva porque não existe
transmutação das formas biológicas.
5. As espécies e outros grupos taxonómicos têm essência.
A derrota do Fixismo
Serão as formas biológicas fixas ou transmutáveis?

Charles Darwin terá sido o primeiro autor a defender uma teoria para a origem das espécies
em termos de transmutação. Na perspetiva contemporânea, transmutação é um facto e a
biodiversidade é o seu produto evolutivo. Mas como é que a transmutação substituiu o
fixismo?

Fixismo: Teoria que defende que as espécies surgiram tal como se conhecem


atualmente e que se mantiveram fixas e imutáveis ao longo dos tempos. Acredita que
as espécies foram criadas independentemente umas das outras.

A visão estática da natureza, comum nos períodos pré-evolutivos baseava-se em 3 teses


interrelacionadas.

(1) Criacionismo – Tese Criacionista


Deus terá produzido toda a Biodiversidade existente no momento da criação.

(2) Essencialismo – Tese Essencialista


Cada forma biológica tem lhe associada uma essência imutável e inalterável.

(3) Fixismo – Tese Fixista


É consequência das anteriores. A biodiversidade não pode ser gerada por
transmutação, dado que as formas biológicas são imutáveis e inalteráveis.

Atenção que:

 O criacionismo não implica necessariamente o Fixismo, uma vez que Deus poderia
depois de ter criado a vida, animá-la de um processo evolutivo.

 O criacionismo e o essencialismo obrigam a um pensamento fixista, pois a


transmutação não poderia afetar a essência das espécies biológicas.

Platão
 Defendeu uma ideia estática do mundo natural. Todas as formas biológicas foram criadas
de uma só vez, de forma fixa e imutável, no momento de criação.

O Criacionismo e o Fixismo de Platão fundem-se com a Tese Essencialista

 Não contrariando as formas observáveis, acreditava que todas as coisas poderiam ser
classificadas como pertencendo a um tipo natural caracterizado por uma essência
constante e invariável.

Esta maneira de pensar foi designada por Pensamento Tipológico por Ernst Mayr.

A essência explica as propriedades dos objetos naturais e aplica-se a muitas


disciplinas diferentes.
O mundo biológico encontra-se organizado hierarquicamente por níveis de organização.

Biomoléculas Células Organismos Ecossistemas

Consideremos as biomoléculas, estas foram criadas desde o início da vida ou mudaram ao


longo do tempo?

Exemplo 1

Os organismos biológicos, são compostos por uma variedade de biomoléculas,


incluindo enzimas, sendo a Rubisco, provavelmente, a mais comum. Tem uma função
especifica na fixação do carbono, o processo que constitui a base da fotossíntese.

Por um lado, não há evidência que a enzima tenha existido no planeta desde o início
do período biológico. A molécula não era produzida pelas primeiras formas de vida.

Assim, a Rubisco terá sido produto de transmutação, ou seja, de evolução bioquímica.


Para além disto, a enzima existe em formas diferentes que da perspetiva evolutiva são
variantes da proteína Rubisco ancestral.

Exemplo 2

Outra unidade de biodiversidade é a variedade de formas celulares. Os neurónios


claramente que não existem desde o início do tempo. Os primeiros seres vivos não
tinham neurónios.

Os neurónios e outros tipos de células são produtos de transmutação celular, ou seja


de evolução celular. Os neurónios existem de formas diferentes (o ser humanos tem
vários tipos e são diferentes do dos ratos) e na perspetiva evolutiva estas formas são
variantes do neurónio ancestral.

 A fixação e imutabilidade das unidades de biodiversidade, em particular das espécies,


foram consideradas razoáveis no período pré-evolutivo. No entanto, nesta altura o
criacionismo acreditava que a transmutação não podia ainda ter ocorrido porque o nosso
planeta era recente (6 mil anos podiam ser insuficientes para transmutações).

 O fixismo dominou a biologia pré-evolutiva. Hoje a biologia é dominada pela teoria


evolutiva (novas espécies surgem por processos evolutivos e geram biodiversidade).

 A Teoria Evolutiva não oferece uma resposta exata para a questão da origem da vida as
nega que as espécies são imutáveis e constantes ao longo do tempo. Para além disto,
rejeita a Grande Cadeia do Ser (The Great Chain of Being) como forma de representação da
biodiversidade.
 A visão Platónica do criacionismo pensado sobre o princípio da plenitude e o essencialismo
é inconsistente com as evidências resultantes da paleontologia, fisiologia, bioquímica,
microbiologia, genética….

 Ernst Mayr nomeou Platão como O grande Herói anti-evolutivo.

 Atualmente, a única explicação naturalista contemporânea existente para a diversidade de


vida existente é evolutiva.

Ideias Evolucionistas – recusam o criacionismo e fixismo

1. Alega-se a existência de um ancestral comum (origem da vida)


2. Não se respeita o princípio da plenitude na medida em que cada forma biológica não
foi criada pelo Demiurgo no início da vida.
3. O padrão da biodiversidade não é linear e progressivo e pode-se representar através
de uma árvore com ramos que representam os resultados dos processos de
diversificação e transmutação.
4. A relação entre as formas de vida é evolutiva porque houve transmutação das mesmas.
5. A recusa do essencialismo é um problema muito mais complexo.

A visão do mundo Evolucionista é dinâmica e em fluxo.

Origem da vida – Representação do ancestral comum

A derrota do Criacionismo
 Argumentos vs Criacionismo. É melhor pensar em termos de evolução e verificar
evidências do que supor que Deus criou espécies fixas. A biologia mostra evidências a
favor da hipótese de um ancestral comum.

Um bom exemplo de Homologia


Outras formas de Criacionismo que não negam a evolução

(1) Evolução Deísta


Deus criou tudo, mas depois não intervém mais. É compatível com evidências
científicas, mas não com as escrituras.
Lugar especial para a Humanidade? Nenhuma providência divina.

(2) Evolução Teísta


A evolução é um fenómeno real que foi posto em movimento por Deus que intervém
continuamente direcionando o processo evolutivo.

Tipos de intervenção: nas mutações, na orientação do processo evolutivo


especialmente no sentido da “hominização” (primatas – homem).

Para Theilhard de Chardin em The Phenomenon of Man,


 Evolução significa aumento da complexidade.
 Evolução biológica leva ao surgimento do Homem que por sua vez leva ao
aparecimento do conceito noosfera que corresponde à consciência coletiva da
humanidade. A noosfera leva ao aparecimento do ponto ómega que é entendido
como o estado final da evolução, quando a humanidade se torna um organismo com a
sua própria consciência independente da consciência de seres humanos individuais.

Pontos importantes da posição católica


(1) As explicações científicas sobre a origem do universo e a evolução biológica requerem
a criação de Deus (continua em destaque, mas agora mais recentemente pelo Papa)

(2) Conceito de Alma e Hominização. A alma é imaterial e especialmente criada por Deus
para cada ser humano e a hominização como um argumento ontológico.

(3) A perspetiva teísta com a intervenção contínua de Deus em destaque porque de outra
forma a evolução é vista de uma forma contingente e sem propósito. Em particular, a
seleção natural é entendida como um mecanismo cego em que as mutações são
aleatórias.

A Árvore da Vida
Houve evolução ao longo dos anos até chegarmos à arvore da vida que conhecemos hoje.
Contribuições de Darwin:
 Transmutação das espécies.
 Continuidade de formas de vida explicadas por um ancestral comum.
 A seleção natural explica o surgimento de novas espécies e o aumento da
biodiversidade.
 Nenhuma “força” em direção à complexidade (vs Lamarck).
Lamarck vs Darwin

Domínios
Grupos taxonómicos usados em Filogenia:
Domínio Reino Filo Classe Ordem Família Género Espécie

Atualmente discute-se entre ter 2 domínios filogenéticos (Procariotas e Eucariotas) ou 3


domínios filogenéticos (Bacteria, Archaea e Eukarya).

Evolução segundo Woese


1. As estruturas moleculares são primárias na filogenia.
2. Morfologicamente archaea e bactéria são semelhantes (unicelulares) mas
molecularmente são muito diferentes.
3. As moléculas de RNA ribossómico têm mais diferenças entre archaea e bactéria do que
entre archaea e eukarya
4. As estruturas de RNA são invariantes.
5. Uma vez que as moléculas são mais importantes do que a morfologia (em termos de
função celular) propõe-se uma nova filogenia.

Evolução segundo Woese

Surgem duas questões fundamentais:


(1) Porque é que os fundamentos moleculares são os mais importantes e fundamentais
para a classificação natural e construir filogenias?
(2) Os fundamentos moleculares caracterizam o grupo de organismos ou grupo
taxonómico. São estes essências?

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