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Noções Básicas
3. Interação com o objeto (C) – Após incidir no objeto, a energia interage com a sua
superfície. A natureza desta interação depende das características da radiação e das
propriedades/características da superfície do objeto.
4. Registo da energia pelo sensor (D) – A energia difundida ou emitida (refletida) pelo objeto
vai ser captada e registada por um sensor que não está em contacto com o objeto.
5. Transmissão, receção e tratamento (E) - A energia captada pelo sensor é transmitida,
normalmente via eletrónica, para uma estação de receção na qual a informação é
transformada numa imagem (em formato digital).
6. Interpretação e análise (F) – Para extrair a informação que desejamos do objeto é
necessário um tratamento visual e/ou digital da imagem.
7. Aplicação (G) – A última etapa do processo consiste na utilização da informação extraída
da imagem para melhor compreendermos o objeto, que nos conduza a novos aspetos ou para
nos ajudar a resolver um determinado problema.
Estas sete etapas cobrem todo o processo da deteção remota do princípio ao fim.
Três dos cinco sentidos que possuímos (visão, audição e olfato) podem ser considerados como
uma forma de deteção remota, uma vez que a fonte de informação se encontra afastada,
enquanto os outros dois (paladar e tacto) estão diretamente em contacto com ela.
De acordo com a teoria das ondas, toda a radiação eletromagnética tem propriedades
fundamentais e comporta-se de forma previsível. A radiação eletromagnética (fig. 1.3) é
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constituída por um campo elétrico (E) e por um campo magnético (M). O campo elétrico varia
a sua grandeza e está orientado perpendicularmente à direção de propagação da radiação; o
campo magnético encontra-se orientado perpendicularmente ao campo elétrico; ambos se
deslocam à velocidade da luz (c).
fazem parte as ondas micro “micro-ondas” e as ondas rádio). A deteção remota utiliza alguns
destes intervalos do espectro eletromagnético.
A luz que os nossos olhos detetam (um dos nossos sensores remotos) encontra-se dentro do
espectro visível (fig. 1.7). É importante perceber que o espectro visível é uma pequeníssima
parte de todo o espectro eletromagnético. A maior parte da radiação eletromagnética que nos
envolve é invisível para os olhos humanos, embora possa ser captada por outros dispositivos de
deteção remota.
Os comprimentos de onda visíveis estão no intervalo de 0,4 a 0,7 m. O maior comprimento de
onda visível corresponde à cor vermelha, enquanto o menor corresponde ao violeta. Os
comprimentos de onda do espectro visível que são recebidos como cores estão enumerados a
seguir, sendo importante notar que é a única porção do espectro que pode ser associada à noção
de cores (fig. 1.8).
violeta : 0,4 – 0,446 m
O azul, o verde e o vermelho são as cores (ou comprimentos de onda) primárias do espectro
visível. Uma cor primária não pode ser criada a partir de outras duas, mas todas as outras cores
podem ser criadas combinando as cores primárias em diferentes proporções.
A “tinta” e a “saturação” (“hue” and “saturation”) são duas características independentes
da cor. A “tinta” refere-se ao comprimento de onda da luz, normalmente chamado “cor”. A
“saturação” é uma medida da pureza da cor e indica a quantidade de branco misturado à cor.
Por exemplo, a cor “rosa” pode ser considerada como uma cor “vermelha” que não está
saturada.
Embora a luz do Sol seja vista como tendo uma cor uniforme ou homogénea, ela é composta
por vários comprimentos de onda do espectro que vão desde o ultravioleta até ao infravermelho,
passando pelo visível. A parte visível desta radiação pode ser vista nas cores que a compõem
fazendo passar a luz num prisma (fig. 1.9). O prisma refrata a luz de forma diferente em função
do comprimento de onda.
Cada pequena gota de água da chuva funciona como um pequeno prisma individual (fig. 1.10).
Quando a luz do Sol atravessa as gotas de água, as ondas que a compõem são desviadas de
modo diferente de acordo com os seus respetivos comprimentos de onda. As cores que
constituem a luz do Sol passam desta forma a ser visíveis formando um arco-íris; os
comprimentos de onda pequenos (violeta e azul) situam-se no seu arco interior, enquanto os
comprimentos de onda maiores (laranja e vermelho) situam-se no seu arco externo.
A parte do infravermelho (IR) (fig. 1.11) compreende comprimentos de onda que vão desde
0,7 a 100 m, o que corresponde a um intervalo cerca de 100 vezes maior do que o espectro
visível. A região do infravermelho está dividida em duas partes: o IR refletido e o IR emitido
ou IR térmico. O infravermelho refletido estende-se desde 0,7 a 3 m aproximadamente e é
utilizado em deteção remota da mesma forma que a radiação visível. O infravermelho térmico
é muito diferente do espectro visível e do infravermelho refletido. Esta energia é essencialmente
a radiação que é emitida sob a forma de calor da superfície da Terra e compreende
comprimentos de onda que vão de 3 a 100 m.
Mais recentemente, a região dos micro-ondas (fig. 1.12) tem suscitado cada vez maior
interesse em deteção remota. Este intervalo compreende os maiores comprimentos de onda
jamais utilizados em deteção remota e que vão desde aproximadamente 1 mm até 1 m.
A difusão (fig. 1.14) ocorre devido à interação entre a radiação incidente e as partículas ou
grandes moléculas de gás presentes na atmosfera. As partículas desviam a radiação da sua
trajetória inicial. O grau de difusão que ocorre depende de vários fatores tais como o
comprimento de onda da radiação, a abundância e o tamanho das partículas e das moléculas de
gases, e ainda da espessura de atmosfera que a radiação tem que atravessar. Existem três tipos
de difusão:
Difusão de Rayleigh
Difusão de Mie
Difusão não-seletiva.
A difusão de Mie ocorre quando as partículas têm aproximadamente o mesmo tamanho que o
comprimento de onda da radiação. Este tipo de difusão é normalmente produzido pela poeira,
pólen, fumo e vapor de água. Este tipo de difusão afeta os comprimentos de onda maiores e
ocorrem sobretudo nas camadas inferiores da atmosfera, onde as partículas maiores são mais
abundantes, e predomina quando o céu está nublado.
O terceiro tipo de difusão é a difusão não-seletiva (fig. 1.16) que ocorre quando as partículas
(gotas de água e grandes partículas de pó) são bastante maiores do que o comprimento de onda
da radiação; é chamada “não-seletiva” porque praticamente todos os comprimentos de onda são
dispersos. As gotas de água da atmosfera dispersam o azul, o verde e o vermelho de forma igual,
produzindo uma radiação branca (luz azul + verde + vermelha = branca), razão pela qual o
nevoeiro e as nuvens parecem ser brancas.
Outro fenómeno importante que ocorre quando a radiação eletromagnética interage com a
atmosfera é a absorção (fig. 1.17). A absorção ocorre porque grandes moléculas presentes na
atmosfera absorvem energia de vários comprimentos de onda. O ozono, o dióxido de carbono
e o vapor de água são os três principais constituintes da atmosfera que absorvem radiação.
O ozono absorve os raios ultravioletas que são nefastos aos seres vivos. Sem esta camada de
proteção na atmosfera a nossa pele sofreria queimaduras quando exposta ao Sol.
O dióxido de carbono é um gás que contribui para o efeito de estufa, porque absorve fortemente
a radiação do infravermelho térmico do espectro eletromagnético – a parte associada ao
aquecimento termal – o que faz com que o calor fique aprisionado na atmosfera.
O vapor de água absorve uma boa parte da radiação infravermelha de grandes comprimentos
de onda e micro-ondas de menor comprimento de onda que entra na atmosfera (entre 22 m e
1 mm). A presença de vapor de água na parte inferior da atmosfera varia fortemente de local
para local e em diferentes períodos do ano. Por exemplo, a massa de ar situada por cima de um
deserto terá muito menos vapor de água para absorver energia do que nos trópicos, onde haverá
maior concentração de água (ou seja, humidade elevada).
Uma vez que estes gases e estas partículas absorvem energia eletromagnética em intervalos
específicos do espectro, elas têm influência na escolha dos comprimentos de onda usados em
deteção remota. As partes do espectro que não são fortemente influenciadas pela absorção
atmosférica, e que por essa razão são úteis em deteção remota, são chamadas janelas
atmosféricas. Combinando as características das duas fontes de energia/radiação mais comuns
(o Sol e a Terra) com as janelas atmosféricas disponíveis, é possível identificar os
comprimentos de onda mais úteis em deteção remota (fig. 1.18).
A parte visível do espectro corresponde a uma janela e corresponde também ao nível máximo
de energia solar. Note-se também que a energia térmica emitida pela Terra corresponde a uma
janela situada próxima dos 10 m na parte do infravermelho térmico do espectro
eletromagnético. Há também uma grande janela em comprimentos de onda superiores a 1 mm
que corresponde à região dos micro-ondas.
Figura 1.19. Atinge e interage com a superfície da Terra. Figura 1.20. Três formas de interação.
A absorção (A) acontece quando a energia da radiação é absorvida pelo objeto, a transmissão
(T) quando a energia da radiação passa através do objeto e a reflexão (R) quando o objeto
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redirige a energia da radiação. Em deteção remota é a radiação refletida pelo objeto que é
medida. A reflexão especular ou brilhante e a reflexão difusa representam os dois extremos
de reflexão da energia.
Uma superfície lisa produz uma reflexão especular (fig. 1.21), isto é, toda a energia é
redirecionada numa mesma direção (como se de um espelho se tratasse). A reflexão difusa (fig.
1.22) ocorre quando a superfície é rugosa, dirigindo a energia uniformemente em todas as
direções. A maioria dos objetos da superfície terrestre situa-se entre estes dois extremos.
A medida e monitorização da reflexão do infravermelho é uma das formas mais usadas para
determinar o maior ou menor grau do estado de sanidade da vegetação.
Água (fig. 1.24): A água absorve mais os grandes comprimentos de onda da radiação visível e
do infravermelho próximo. Assim, a água aparece normalmente azul ou azul esverdeada porque
reflete mais os pequenos comprimentos de onda, ou aparece mais escura se é observada sob
comprimentos de onda do vermelho ou do infravermelho próximo. Se existem sedimentos em
suspensão nos níveis superiores da água (S), a transmissão diminui, a reflexão aumenta e a água
aparece mais brilhante. A cor da água deslocar-se-á ligeiramente para os comprimentos de onda
maiores.
Podemos confundir água que contém sedimentos em suspensão com água pouco profunda e
límpida, uma vez que estes dois fenómenos aparecem de forma muito semelhante. A clorofila
das algas absorve mais o azul e reflete mais o verde. Assim, a água parece mais verde quando
tem algas. O estado da superfície da água (rugosa, lisa, com vagas, com objetos flutuantes, etc.)
Vegetação
Reflectância (%)
Água
Por exemplo, a água e a vegetação podem ter uma assinatura espectral semelhante para
comprimentos de onda visíveis, mas são quase sempre diferenciáveis para o infravermelho. As
assinaturas espectrais podem ser muito variáveis para o mesmo tipo de objetos e podem também
variar no tempo e no espaço. Para interpretar corretamente a interação da radiação
eletromagnética com a superfície, é importante saber onde procurar no espectro e compreender
os fatores que influenciam a assinatura espectral do objeto.
As cores que nós recebemos são uma combinação das interações da radiação com os objetos
(absorção, transmissão e reflexão) e representam os comprimentos de onda refletidos. Se todos
os comprimentos de onda são refletidos por um objeto, este aparece branco, enquanto um
objeto que absorve todos os comprimentos de onda do visível aparece sem cor (ou seja, preto).
Ao contrário dos passivos, os sensores ativos (fig. 1.27) produzem a sua própria energia para
“iluminar” o objeto alvo, emitindo uma radiação eletromagnética que é dirigida ao objeto. A
radiação refletida pelo objeto é detetada e medida pelo sensor. A vantagem do sensor ativo é
poder fazer registos a qualquer hora do dia ou da noite e em qualquer estação do ano. Os
sensores ativos utilizam radiações com comprimentos de onda que não são produzidos em
quantidade suficiente pelo Sol, como é o caso das radiações micro-ondas, ou para melhor
controlar o modo como o objeto é iluminado. A desvantagem é que os sensores ativos têm que
produzir uma enorme quantidade de energia para iluminar devidamente o objeto alvo. Os fluoro
sensores a laser e os radares de abertura sintética (SAR- synthetic aperture radar ou RSO- radar
à synthèse d'ouverture) são exemplos de sensores ativos.
Uma máquina fotográfica é um ótimo exemplo de sensor ativo e passivo. Durante um dia
luminoso existe luz solar suficiente para iluminar os objetos que depois é refletida para a
objetiva da máquina fotográfica, e o filme regista simplesmente a radiação refletida (modo
passivo). Durante um dia com pouca luminosidade, ou dentro de um edifício, normalmente não
existe luz solar suficiente para que a máquina fotográfica registe os objetos com definição;
nestes casos a máquina fotográfica usa uma fonte de energia própria (que é o flash) para
iluminar o objeto registando a radiação refletida por ele (modo ativo).
O radar que a polícia usa para medir a velocidade a que circulam os veículos automóveis,
utiliza um sensor remoto ativo; o radar é apontado para um veículo, emite repetidamente uma
radiação e a reflexão da radiação no automóvel é detetada; a velocidade do veículo é
determinada calculando o período de tempo que a radiação tarda entre a emissão e a receção
da radiação. A velocidade pode ser calculada com muito rigor porque a velocidade da
radiação é muito superior à dos veículos…a menos que os automóveis viagem à velocidade de
luz!
eletromagnética. Uma fotografia (fig. 1.28) designa especificamente toda a energia captada e
registada numa pelicula fotográfica. A fotografia a preto e branco representada na figura 1.28 é
uma parte da cidade de Otava, no Canadá, obtida com a parte visível do espectro. As fotografias
registam normalmente os comprimentos de onda entre os 0,3 e 0,9 m (a parte do visível mais
o infravermelho refletido). Com base nestas definições, constatamos que todas as fotografias
são imagens, mas nem todas as imagens são fotografias. Então, a menos que se fale de imagens
registadas pelo processo fotográfico, deve ser usado o termo imagem.
Uma fotografia pode ser apresentada e armazenada em formato digital subdividindo a imagem
em pequenas áreas de igual tamanho chamados pixeis (fig. 1.29). A luminosidade de cada pixel
é representada por um valor numérico, ou número digital. É exatamente o que foi feito à foto
representada na figura 1.29. Usando as definições apresentadas deduzimos que a imagem
representada na figura é uma imagem digital da fotografia original!
A fotografia foi digitalizada (num scanner de varrimento) e subdividida em pixeis; a cada pixel
foi atribuído um valor numérico (conjunto de dígitos) que representam diferentes níveis de
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