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40329 Deteção Remota e SIG Jorge Medina 1.

Noções Básicas

1. NOÇÕES BÁSICAS EM DETEÇÃO REMOTA

1.1 O que é a deteção remota (ou teledeteção)


Uma definição de deteção remota, ou teledeteção, pode ser a seguinte:
A deteção remota é uma técnica que, através da aquisição de imagens, permite obter
informação da superfície da Terra sem que haja contacto direto com ela. A deteção remota
engloba todos os processos que consistem em captar e registar a energia de um raio
eletromagnético emitido ou refletido, tratar e analisar a informação, para depois ser usada nos
diversos campos de aplicação; neste sentido a fotografia aérea é usada para fazer deteção
remota.
Na maioria dos casos a deteção remota implica uma interação entre a energia incidente e o
objeto de interesse (fig. 1.1). Entende-se como objeto de interesse a entidade geográfica objeto
de estudo. Os processos de deteção remota através de sistemas de imagens envolvem as sete
etapas seguintes. Contudo deve-se ter em conta que a deteção remota tanto envolve a energia
emitida como também utiliza sensores não representados na imagem.

Figura 1.1: Processos implicados na deteção remota.


1. Fonte de energia ou iluminação (A) – Na origem de todo o processo tem de existir
necessariamente uma fonte de energia que “ilumina”, ou que fornece energia
eletromagnética, ao objeto de interesse.
2. Radiação e atmosfera (B) – Durante o seu percurso entre a fonte de energia e o objeto há
uma interação com a atmosfera. Esta interação existe uma segunda vez durante o trajeto entre
o objeto e o sensor.

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3. Interação com o objeto (C) – Após incidir no objeto, a energia interage com a sua
superfície. A natureza desta interação depende das características da radiação e das
propriedades/características da superfície do objeto.
4. Registo da energia pelo sensor (D) – A energia difundida ou emitida (refletida) pelo objeto
vai ser captada e registada por um sensor que não está em contacto com o objeto.
5. Transmissão, receção e tratamento (E) - A energia captada pelo sensor é transmitida,
normalmente via eletrónica, para uma estação de receção na qual a informação é
transformada numa imagem (em formato digital).
6. Interpretação e análise (F) – Para extrair a informação que desejamos do objeto é
necessário um tratamento visual e/ou digital da imagem.
7. Aplicação (G) – A última etapa do processo consiste na utilização da informação extraída
da imagem para melhor compreendermos o objeto, que nos conduza a novos aspetos ou para
nos ajudar a resolver um determinado problema.
Estas sete etapas cobrem todo o processo da deteção remota do princípio ao fim.
Três dos cinco sentidos que possuímos (visão, audição e olfato) podem ser considerados como
uma forma de deteção remota, uma vez que a fonte de informação se encontra afastada,
enquanto os outros dois (paladar e tacto) estão diretamente em contacto com ela.

1.2 A radiação eletromagnética


Como já vimos, em primeiro lugar, para que um objeto seja iluminado é necessário uma fonte
de energia (fig. 1.2) sob a forma de radiação eletromagnética (a menos que o objeto produza
essa energia)

Figura 1.2. Fonte de energia que ilumina o objeto.

De acordo com a teoria das ondas, toda a radiação eletromagnética tem propriedades
fundamentais e comporta-se de forma previsível. A radiação eletromagnética (fig. 1.3) é
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constituída por um campo elétrico (E) e por um campo magnético (M). O campo elétrico varia
a sua grandeza e está orientado perpendicularmente à direção de propagação da radiação; o
campo magnético encontra-se orientado perpendicularmente ao campo elétrico; ambos se
deslocam à velocidade da luz (c).

Figura 1.3. Radiação eletromagnética.

Para compreender a deteção remota é necessário conhecer duas características particularmente


importantes da radiação eletromagnética, que são: o comprimento de onda e a frequência (fig.
1.4).

Figura 1.4. Comprimento de onda e frequência.

O comprimento de onda equivale ao comprimento de um ciclo de uma onda, que corresponde


à distância entre duas cristas sucessivas dessa onda. O comprimento de onda é normalmente
representado pela letra grega lambda () e é medido em metros ou num dos seus submúltiplos,
tais como nanómetros (nm, 10-9 metros), micrómetros (m, 10-6 metros) ou centímetros (cm,
10-2 metros). A frequência representa o número de oscilações por unidade de tempo. A
frequência é normalmente medida em Hertz (Hz) (isto é, em oscilações por segundo) ou em
múltiplos de Hertz.
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O comprimento de onda e a frequência estão relacionados de acordo com a seguinte equação


matemática:
c = .
em que:
 = comprimento de onda (m)
 = frequência (ciclos por segundo, Hz)
c = velocidade da luz (3x108m/s)
O comprimento de onda e a frequência são inversamente proporcionais, isto é, quanto mais
pequeno for o comprimento de onda, mais elevada é a frequência; quanto maior for o
comprimento de onda, mais baixa será a frequência. De forma a compreender a informação
retirada dos dados da deteção remota é preciso conhecer as características da radiação
eletromagnética.
Os ultrassons, as cartas meteorológicas de satélites, radares para controlo de velocidade, fotografias de
graduação e sonares (quer os dos barcos, quer os dos morcegos) podem todos eles ser considerados como formas
de deteção remota. Os hospitais usam a tomodensitometria, a ressonância magnética (que produz imagens em
três dimensões de tecidos humanos), os ultrassons e os raios X, para examinar o corpo humano. Todas estas
técnicas são exemplos de deteção remota (técnicas não intrusivas).
Um osciloscópio, instrumento eletrónico que permite visualizar ondas semelhantes às da radiação
eletromagnética, pode ser usado para ver o comprimento de onda e a frequência da voz humana. Os sons agudos
têm comprimentos de onda curtos e frequências elevadas, enquanto os sons graves têm uma frequência baixa e
comprimentos de onda longos.
De acordo com os investigadores, a Terra vibra com uma frequência muitíssimo baixa produzindo um som tão
baixo que é impercetível ao ouvido humano. O mesmo princípio (aplicado às ondas luminosas) é usado pelos
astrólogos para calcular a velocidade com que algumas estrelas se afastam.
Os conceitos de comprimento de onda e frequência são importantes para compreender o efeito de Doppler. O
efeito de Doppler explica a razão pela qual as ondas sonoras e luminosas são sentidas como estando a ser
comprimidas ou dilatadas dependendo do modo como o objeto que as produz se move relativamente ao recetor.
Por exemplo, quando um comboio ou um automóvel ruidoso se movimenta em nossa direção recebemos sons com
uma frequência cada vez mais elevada. À medida que o objeto se vai afastando de nós, vamos recebendo os sons
com uma frequência cada vez mais baixa. Em astronomia, aplica-se este mesmo princípio à luz para determinar
a velocidade de deslocação das estrelas relativamente a nós (conhecida como medida da deslocação para o
vermelho).

1.3 O espectro eletromagnético


O espectro eletromagnético (fig. 1.5) compreende intervalos de comprimentos de onda curtos
(dos quais fazem parte os raios gama e os raios x) até comprimentos de onda longos (dos quais

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fazem parte as ondas micro “micro-ondas” e as ondas rádio). A deteção remota utiliza alguns
destes intervalos do espectro eletromagnético.

Figura 1.5. O espectro eletromagnético.

Os comprimentos de onda mais pequenos utilizados em deteção remota situam-se no


ultravioleta (UV) (fig. 1.6). A radiação ultravioleta posiciona-se para além do violeta do
espectro visível. Alguns materiais da superfície terrestre, sobretudo rochas e minerais, são
fluorescentes ou emitem luz visível quando iluminados por radiação UV (ultravioleta).

Figura 1.6. Radiação ultravioleta ou UV.

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A luz que os nossos olhos detetam (um dos nossos sensores remotos) encontra-se dentro do
espectro visível (fig. 1.7). É importante perceber que o espectro visível é uma pequeníssima
parte de todo o espectro eletromagnético. A maior parte da radiação eletromagnética que nos
envolve é invisível para os olhos humanos, embora possa ser captada por outros dispositivos de
deteção remota.

Figura 1.7. O espectro visível.

Os comprimentos de onda visíveis estão no intervalo de 0,4 a 0,7 m. O maior comprimento de
onda visível corresponde à cor vermelha, enquanto o menor corresponde ao violeta. Os
comprimentos de onda do espectro visível que são recebidos como cores estão enumerados a
seguir, sendo importante notar que é a única porção do espectro que pode ser associada à noção
de cores (fig. 1.8).
 violeta : 0,4 – 0,446 m

 azul : 0,446 – 0,500 m

 verde : 0,500 – 0,578 m

 amarelo : 0,578 – 0,592 m

 laranja : 0,592 – 0,620 m

 vermelho :0,620 – 0,7 m


comprimento de onda
Figura 1.8. As cores.
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O azul, o verde e o vermelho são as cores (ou comprimentos de onda) primárias do espectro
visível. Uma cor primária não pode ser criada a partir de outras duas, mas todas as outras cores
podem ser criadas combinando as cores primárias em diferentes proporções.
A “tinta” e a “saturação” (“hue” and “saturation”) são duas características independentes
da cor. A “tinta” refere-se ao comprimento de onda da luz, normalmente chamado “cor”. A
“saturação” é uma medida da pureza da cor e indica a quantidade de branco misturado à cor.
Por exemplo, a cor “rosa” pode ser considerada como uma cor “vermelha” que não está
saturada.
Embora a luz do Sol seja vista como tendo uma cor uniforme ou homogénea, ela é composta
por vários comprimentos de onda do espectro que vão desde o ultravioleta até ao infravermelho,
passando pelo visível. A parte visível desta radiação pode ser vista nas cores que a compõem
fazendo passar a luz num prisma (fig. 1.9). O prisma refrata a luz de forma diferente em função
do comprimento de onda.

Figura 1.9. Prisma.

Cada pequena gota de água da chuva funciona como um pequeno prisma individual (fig. 1.10).
Quando a luz do Sol atravessa as gotas de água, as ondas que a compõem são desviadas de
modo diferente de acordo com os seus respetivos comprimentos de onda. As cores que
constituem a luz do Sol passam desta forma a ser visíveis formando um arco-íris; os
comprimentos de onda pequenos (violeta e azul) situam-se no seu arco interior, enquanto os
comprimentos de onda maiores (laranja e vermelho) situam-se no seu arco externo.

Figura 1.10. Gotas de água.

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A parte do infravermelho (IR) (fig. 1.11) compreende comprimentos de onda que vão desde
0,7 a 100 m, o que corresponde a um intervalo cerca de 100 vezes maior do que o espectro
visível. A região do infravermelho está dividida em duas partes: o IR refletido e o IR emitido
ou IR térmico. O infravermelho refletido estende-se desde 0,7 a 3 m aproximadamente e é
utilizado em deteção remota da mesma forma que a radiação visível. O infravermelho térmico
é muito diferente do espectro visível e do infravermelho refletido. Esta energia é essencialmente
a radiação que é emitida sob a forma de calor da superfície da Terra e compreende
comprimentos de onda que vão de 3 a 100 m.

Figura 1.11. Radiação infravermelha ou IR.

Mais recentemente, a região dos micro-ondas (fig. 1.12) tem suscitado cada vez maior
interesse em deteção remota. Este intervalo compreende os maiores comprimentos de onda
jamais utilizados em deteção remota e que vão desde aproximadamente 1 mm até 1 m.

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Os comprimentos de onda mais pequenos têm propriedades semelhantes às do infravermelho


térmico, enquanto as dos comprimentos de onda maiores aproximam-se às das ondas rádio.

Figura 1.12. Região das micro-ondas.

1.4. Interação com a atmosfera


Antes da radiação utilizada em deteção remota atingir a superfície da Terra, ela atravessa a
atmosfera terrestre (fig. 1.13). As partículas e os gases presentes na atmosfera podem desviar
ou bloquear a radiação incidente. Estes efeitos são causados pelos mecanismos de difusão e
absorção.

Figura 1.13. Interação com a atmosfera terrestre.

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A difusão (fig. 1.14) ocorre devido à interação entre a radiação incidente e as partículas ou
grandes moléculas de gás presentes na atmosfera. As partículas desviam a radiação da sua
trajetória inicial. O grau de difusão que ocorre depende de vários fatores tais como o
comprimento de onda da radiação, a abundância e o tamanho das partículas e das moléculas de
gases, e ainda da espessura de atmosfera que a radiação tem que atravessar. Existem três tipos
de difusão:
 Difusão de Rayleigh
 Difusão de Mie
 Difusão não-seletiva.

Figura 1.14. Difusão

A difusão de Rayleigh ocorre quando o tamanho das partículas é inferior ao comprimento de


onda da radiação. Estas podem ser finas partículas de pó ou moléculas de azoto e oxigénio. A
difusão de Rayleigh dispersa e desvia os pequenos comprimentos de onda de forma mais eficaz
do que os grandes comprimentos de onda. Esta forma de dispersão é a que predomina nas
camadas superiores da atmosfera. Este fenómeno explica a razão pela qual durante o dia o céu
aparece “azul”. Como a luz do Sol atravessa a atmosfera, os comprimentos de onda mais
pequenos do espectro visível (que correspondem ao azul) são dispersos e desviados de forma
mais eficaz do que os comprimentos de onda maiores. Ao nascer e pôr-do-sol (fig. 1.15) a
radiação tem que percorrer uma distância maior através da atmosfera até atingir a superfície
terrestre do que a meio do dia. A difusão dos comprimentos de onda pequenos é mais
importante. Este fenómeno permite que uma maior proporção de radiação com maiores
comprimentos de onda penetre na atmosfera.

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Figura 1.15. Nascer e pôr-do-sol.

A difusão de Mie ocorre quando as partículas têm aproximadamente o mesmo tamanho que o
comprimento de onda da radiação. Este tipo de difusão é normalmente produzido pela poeira,
pólen, fumo e vapor de água. Este tipo de difusão afeta os comprimentos de onda maiores e
ocorrem sobretudo nas camadas inferiores da atmosfera, onde as partículas maiores são mais
abundantes, e predomina quando o céu está nublado.
O terceiro tipo de difusão é a difusão não-seletiva (fig. 1.16) que ocorre quando as partículas
(gotas de água e grandes partículas de pó) são bastante maiores do que o comprimento de onda
da radiação; é chamada “não-seletiva” porque praticamente todos os comprimentos de onda são
dispersos. As gotas de água da atmosfera dispersam o azul, o verde e o vermelho de forma igual,
produzindo uma radiação branca (luz azul + verde + vermelha = branca), razão pela qual o
nevoeiro e as nuvens parecem ser brancas.

Figura 1.16. Dispersão não-seletiva.

Sem a difusão da radiação na atmosfera, as sombras pareceriam negras em vez de


apresentarem vários tons de cinzentos; a difusão confere uma certa luminosidade à atmosfera
permitindo iluminar os objetos que se encontram na penumbra.

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Outro fenómeno importante que ocorre quando a radiação eletromagnética interage com a
atmosfera é a absorção (fig. 1.17). A absorção ocorre porque grandes moléculas presentes na
atmosfera absorvem energia de vários comprimentos de onda. O ozono, o dióxido de carbono
e o vapor de água são os três principais constituintes da atmosfera que absorvem radiação.

Figura 1.17. Absorção.

O ozono absorve os raios ultravioletas que são nefastos aos seres vivos. Sem esta camada de
proteção na atmosfera a nossa pele sofreria queimaduras quando exposta ao Sol.
O dióxido de carbono é um gás que contribui para o efeito de estufa, porque absorve fortemente
a radiação do infravermelho térmico do espectro eletromagnético – a parte associada ao
aquecimento termal – o que faz com que o calor fique aprisionado na atmosfera.
O vapor de água absorve uma boa parte da radiação infravermelha de grandes comprimentos
de onda e micro-ondas de menor comprimento de onda que entra na atmosfera (entre 22 m e
1 mm). A presença de vapor de água na parte inferior da atmosfera varia fortemente de local
para local e em diferentes períodos do ano. Por exemplo, a massa de ar situada por cima de um
deserto terá muito menos vapor de água para absorver energia do que nos trópicos, onde haverá
maior concentração de água (ou seja, humidade elevada).
Uma vez que estes gases e estas partículas absorvem energia eletromagnética em intervalos
específicos do espectro, elas têm influência na escolha dos comprimentos de onda usados em
deteção remota. As partes do espectro que não são fortemente influenciadas pela absorção
atmosférica, e que por essa razão são úteis em deteção remota, são chamadas janelas
atmosféricas. Combinando as características das duas fontes de energia/radiação mais comuns
(o Sol e a Terra) com as janelas atmosféricas disponíveis, é possível identificar os
comprimentos de onda mais úteis em deteção remota (fig. 1.18).

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Figura 1.18. Comprimentos de onda mais úteis em deteção remota.

A parte visível do espectro corresponde a uma janela e corresponde também ao nível máximo
de energia solar. Note-se também que a energia térmica emitida pela Terra corresponde a uma
janela situada próxima dos 10 m na parte do infravermelho térmico do espectro
eletromagnético. Há também uma grande janela em comprimentos de onda superiores a 1 mm
que corresponde à região dos micro-ondas.

1.5 Interações radiação/objeto


A radiação que não é absorvida nem difundida ao atravessar a atmosfera atinge e interage com
a superfície da Terra (fig. 1.19). Quando a energia atinge o objeto, a sua superfície pode
absorver (A), transmitir (T) ou refletir (R) a energia incidente (I). A energia incidente total
interagirá com a superfície segundo um destes três modos de interação (fig. 1.20), ou uma
combinação entre eles. A proporção de cada interação dependerá do comprimento de onda da
energia e ainda da natureza e das condições da superfície.

Figura 1.19. Atinge e interage com a superfície da Terra. Figura 1.20. Três formas de interação.

A absorção (A) acontece quando a energia da radiação é absorvida pelo objeto, a transmissão
(T) quando a energia da radiação passa através do objeto e a reflexão (R) quando o objeto
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redirige a energia da radiação. Em deteção remota é a radiação refletida pelo objeto que é
medida. A reflexão especular ou brilhante e a reflexão difusa representam os dois extremos
de reflexão da energia.
Uma superfície lisa produz uma reflexão especular (fig. 1.21), isto é, toda a energia é
redirecionada numa mesma direção (como se de um espelho se tratasse). A reflexão difusa (fig.
1.22) ocorre quando a superfície é rugosa, dirigindo a energia uniformemente em todas as
direções. A maioria dos objetos da superfície terrestre situa-se entre estes dois extremos.

Figura 1.21. Reflexão especular. Figura 1.22. Reflexão difusa.

Então, o modo como um objeto reflete a radiação depende da amplitude e da rugosidade da


superfície relativamente ao comprimento de onda da radiação incidente. Se o comprimento de
onda da radiação é muito mais pequeno do que a rugosidade da superfície ou do que a
granulometria das partículas que compõem a superfície, predomina a reflexão difusa. Por
exemplo, uma areia de grão fino parece uniforme perante radiação com grandes comprimentos
de onda, mas rugosa perante os comprimentos de onda da banda do visível.
Examinemos alguns exemplos de objetos à superfície da Terra e vejamos como é que a energia
com comprimentos de onda do visível e do infravermelho interagem com eles.
As folhas (fig. 1.23): A clorofila, um componente químico que encontramos dentro das folhas,
absorve fortemente a radiação com comprimentos de onda do vermelho e do azul, mas reflete
o verde. As folhas, que contêm o máximo de clorofila no Verão, são mais verdes durante esta
estação do ano. No Outono, em que as folhas contém menos clorofila, absorvem menos
vermelho, ou seja, reflete-o, parecendo vermelhas ou amarelas (o amarelo é uma combinação
de comprimentos de onda do verde e do vermelho). A estrutura interna das folhas sãs age como
um excelente refletor difuso para os comprimentos de onda do infravermelho. Se os nossos
olhos fossem sensíveis ao infravermelho, as folhas teriam um aspeto extremamente brilhante.

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A medida e monitorização da reflexão do infravermelho é uma das formas mais usadas para
determinar o maior ou menor grau do estado de sanidade da vegetação.

Figura 1.23. Folhas

Água (fig. 1.24): A água absorve mais os grandes comprimentos de onda da radiação visível e
do infravermelho próximo. Assim, a água aparece normalmente azul ou azul esverdeada porque
reflete mais os pequenos comprimentos de onda, ou aparece mais escura se é observada sob
comprimentos de onda do vermelho ou do infravermelho próximo. Se existem sedimentos em
suspensão nos níveis superiores da água (S), a transmissão diminui, a reflexão aumenta e a água
aparece mais brilhante. A cor da água deslocar-se-á ligeiramente para os comprimentos de onda
maiores.

Figura 1.24. Água

Podemos confundir água que contém sedimentos em suspensão com água pouco profunda e
límpida, uma vez que estes dois fenómenos aparecem de forma muito semelhante. A clorofila
das algas absorve mais o azul e reflete mais o verde. Assim, a água parece mais verde quando
tem algas. O estado da superfície da água (rugosa, lisa, com vagas, com objetos flutuantes, etc.)

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pode suscitar problemas na interpretação devido à reflexão especular e de outras influências na


cor e no brilho.
Estes exemplos mostram que observamos respostas muito diferentes aos mecanismos de
absorção, de transmissão e de reflexão dependendo da composição do objeto e do comprimento
de onda da radiação que lhe é característico. Medindo a energia refletida ou emitida pelo objeto
para determinados intervalos de comprimentos de onda, podemos construir a assinatura
espectral de um determinado objeto (fig. 1.25). Comparando as assinaturas espectrais de
diferentes objetos, podemos distingui-los uns dos outros, ainda que não o possamos fazer se os
compararmos apenas para um único comprimento de onda.

Vegetação
Reflectância (%)

Água

Comprimento de onda (m)


Figura 1.25. Assinaturas espectrais.

Por exemplo, a água e a vegetação podem ter uma assinatura espectral semelhante para
comprimentos de onda visíveis, mas são quase sempre diferenciáveis para o infravermelho. As
assinaturas espectrais podem ser muito variáveis para o mesmo tipo de objetos e podem também
variar no tempo e no espaço. Para interpretar corretamente a interação da radiação
eletromagnética com a superfície, é importante saber onde procurar no espectro e compreender
os fatores que influenciam a assinatura espectral do objeto.

As cores que nós recebemos são uma combinação das interações da radiação com os objetos
(absorção, transmissão e reflexão) e representam os comprimentos de onda refletidos. Se todos
os comprimentos de onda são refletidos por um objeto, este aparece branco, enquanto um
objeto que absorve todos os comprimentos de onda do visível aparece sem cor (ou seja, preto).

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1.6 Sensores ativos e passivos


Até agora verificámos que o Sol é uma fonte de energia ou radiação necessária para a deteção
remota. A energia do sol é refletida (em comprimentos de onda do visível) ou absorvida e
retransmitida (em comprimentos de onda do infravermelho térmico) pelo objeto. Os
dispositivos que medem a energia disponível que ocorre na natureza são os sensores passivos
(fig. 1.26). Os sensores passivos recebem a energia refletida só quando o Sol ilumina a Terra e
durante o período da noite não há energia solar refletida. Para além desta, a energia que é
emitida naturalmente (tal como a infravermelho natural) pode ser detetada dia ou noite desde
que a quantidade de energia disponível seja suficiente para ser registada.

Figura 1.26. Sensores passivos

Ao contrário dos passivos, os sensores ativos (fig. 1.27) produzem a sua própria energia para
“iluminar” o objeto alvo, emitindo uma radiação eletromagnética que é dirigida ao objeto. A
radiação refletida pelo objeto é detetada e medida pelo sensor. A vantagem do sensor ativo é
poder fazer registos a qualquer hora do dia ou da noite e em qualquer estação do ano. Os
sensores ativos utilizam radiações com comprimentos de onda que não são produzidos em
quantidade suficiente pelo Sol, como é o caso das radiações micro-ondas, ou para melhor
controlar o modo como o objeto é iluminado. A desvantagem é que os sensores ativos têm que
produzir uma enorme quantidade de energia para iluminar devidamente o objeto alvo. Os fluoro
sensores a laser e os radares de abertura sintética (SAR- synthetic aperture radar ou RSO- radar
à synthèse d'ouverture) são exemplos de sensores ativos.

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Figura 1.27: Sensores ativos.

Uma máquina fotográfica é um ótimo exemplo de sensor ativo e passivo. Durante um dia
luminoso existe luz solar suficiente para iluminar os objetos que depois é refletida para a
objetiva da máquina fotográfica, e o filme regista simplesmente a radiação refletida (modo
passivo). Durante um dia com pouca luminosidade, ou dentro de um edifício, normalmente não
existe luz solar suficiente para que a máquina fotográfica registe os objetos com definição;
nestes casos a máquina fotográfica usa uma fonte de energia própria (que é o flash) para
iluminar o objeto registando a radiação refletida por ele (modo ativo).
O radar que a polícia usa para medir a velocidade a que circulam os veículos automóveis,
utiliza um sensor remoto ativo; o radar é apontado para um veículo, emite repetidamente uma
radiação e a reflexão da radiação no automóvel é detetada; a velocidade do veículo é
determinada calculando o período de tempo que a radiação tarda entre a emissão e a receção
da radiação. A velocidade pode ser calculada com muito rigor porque a velocidade da
radiação é muito superior à dos veículos…a menos que os automóveis viagem à velocidade de
luz!

1.7. Características das imagens


Antes de passarmos ao capítulo seguinte, que trata dos sensores e suas características, é
necessário definir e explicar alguns termos e conceitos fundamentais associados às imagens
usadas em deteção remota.
A energia eletromagnética pode ser detetada de forma fotográfica ou eletronicamente. Os
processos fotográficos usam uma reação química sobre uma superfície sensível à luz (filme)
para captar e registar as variações de energia. Em deteção remota é importante distinguir os
termos imagem e fotografia. Uma imagem é uma representação gráfica, qualquer que seja o
comprimento de onda ou o sistema de deteção remota usados para captar e registar a energia

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eletromagnética. Uma fotografia (fig. 1.28) designa especificamente toda a energia captada e
registada numa pelicula fotográfica. A fotografia a preto e branco representada na figura 1.28 é
uma parte da cidade de Otava, no Canadá, obtida com a parte visível do espectro. As fotografias
registam normalmente os comprimentos de onda entre os 0,3 e 0,9 m (a parte do visível mais
o infravermelho refletido). Com base nestas definições, constatamos que todas as fotografias
são imagens, mas nem todas as imagens são fotografias. Então, a menos que se fale de imagens
registadas pelo processo fotográfico, deve ser usado o termo imagem.

Figura 1.28. Imagem de uma fotografia aérea.

Uma fotografia pode ser apresentada e armazenada em formato digital subdividindo a imagem
em pequenas áreas de igual tamanho chamados pixeis (fig. 1.29). A luminosidade de cada pixel
é representada por um valor numérico, ou número digital. É exatamente o que foi feito à foto
representada na figura 1.29. Usando as definições apresentadas deduzimos que a imagem
representada na figura é uma imagem digital da fotografia original!

Figura 1.29. Pixeis e valores numéricos correspondentes.

A fotografia foi digitalizada (num scanner de varrimento) e subdividida em pixeis; a cada pixel
foi atribuído um valor numérico (conjunto de dígitos) que representam diferentes níveis de
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luminosidade. A cada valor numérico corresponde um nível de luminosidade. Os sensores


registam eletronicamente a energia em formato digital (em conjuntos ordenados
numericamente). Estas duas diferentes formas de armazenar e representar os dados obtidos por
deteção remota, fotografia e imagem digital, são intercambiáveis uma vez que representam a
mesma informação (embora possam perder detalhes quando convertidas uma na outra).
Já foi descrita a parte visível do espectro e o conceito de cor. Nós detetamos as cores porque os
nossos olhos captam toda a gama dos comprimentos de onda correspondentes ao visível e o
nosso cérebro transforma esta informação nas diferentes cores. Imaginemos o mundo se apenas
pudéssemos detetar uma estreita banda de comprimentos de onda ou de cor! Muitos sensores
usados em deteção remota funcionam desta forma, isto é, a informação de uma gama estreita
de comprimentos de onda é captada e armazenada numa banda ou canal, em formato digital.
Depois é possível combinar e apresentar estas bandas de informação digital utilizando as três
cores primárias (vermelho, verde e azul). Os dados de cada banda são representados como uma
cor primária e, de acordo com a luminosidade relativa (isto é, o valor numérico, ou digital) de
cada pixel dentro de cada uma das bandas, as cores primárias combinam-se em diferentes
proporções para representarem cores diferentes.
Quando este método é utilizado para mostrar uma só banda ou gama de comprimentos de onda,
ela é mostrada com as três cores primárias. Uma vez que a luminosidade de cada pixel é a
mesma para cada uma das cores primárias, as cores combinam-se dando uma imagem a preto
e branco (fig. 1.30); a imagem mostra os diferentes tons de cinza, de preto a branco. Quando
mostra mais do que uma banda, cada uma delas com uma cor primária diferente, o nível de
luminosidade pode ser diferente para cada combinação de bandas ou de cores primárias, e as
cores combinam-se para formar uma imagem a cores (fig. 1.31).

Figura 1.30. Imagem a preto e branco. Figura 1.31. Imagem a cores.

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A película fotográfica tem a vantagem de poder registar detalhes espaciais extremamente


pequenos uma vez que cada molécula de nitrato de prata tem a capacidade de registar uma
quantidade de luz diferente da molécula vizinha. Por outro lado, os sensores digitais têm uma
sensibilidade radiométrica e espectral muito mais fina. Estes sensores são capazes de
diferenciar bandas espectrais muito estreitas, permitindo estabelecer a assinatura espectral de
um objeto, e registarem vários milhares de níveis de intensidade de energia.

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