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Revista Brasileira de Marketing

ISSN: 2177-5184
admin@revistabrasileiramarketing.org
Universidade Nove de Julho
Brasil

Varotto, Luis Fernando


VAREJO NO BRASIL – RESGATE HISTÓRICO E TENDÊNCIAS
Revista Brasileira de Marketing, vol. 17, núm. 3, 2018, Julio-Septiembre, pp. 429-443
Universidade Nove de Julho
São Paulo, Brasil

DOI: https://doi.org/10.5585/remark.v17i3.3897

Disponible en: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=471759751009

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REMark – Revista Brasileira de Marketing
e-ISSN: 2177-5184
DOI: 10.5585/remark.v17i3.3897
Data de recebimento: 02/02/2018
Data de Aceite: 27/06/2018
Editor Científico: Otávio Bandeira De Lamônica Freire
Avaliação: Double Blind Review pelo SEER/OJS
Revisão: Gramatical, normativa e de formatação

VAREJO NO BRASIL – RESGATE HISTÓRICO E TENDÊNCIAS

Objetivo: Este estudo faz um resgate histórico sobre a evolução do varejo no Brasil, retratando a trajetória do
comércio varejista desde a descoberta do ouro no interior até os dias atuais, fazendo um paralelo entre as mudanças
sociais, econômicas e políticas no país e as transformações por que passou o varejo no decorrer desse processo.
Método: O estudo foi desenvolvido por meio de extensa pesquisa bibliográfica em livros, teses, dissertações,
artigos científicos e periódicos nacionais e internacionais, sob uma perspectiva histórica e um formato cronológico
e descritivo, enfatizando momentos emblemáticos para a evolução varejista no Brasil.
Originalidade/relevância: Este estudo preenche uma lacuna na literatura de marketing sobre a história do varejo
no Brasil, contribuindo para o incremento de novas perspectivas de estudo na área, lançando luzes sobre aspectos
pouco conhecidos do varejo no Brasil.
Resultados: O artigo retrata a trajetória do comércio varejista no Brasil até os dias atuais, descrevendo a evolução
ao longo do tempo. O estudo mostra as transformações que as novas tecnologias imprimem ao setor, evidenciando
o entretenimento e a experiência de compra como os novos indutores para o varejo.
Contribuições teóricas/metodológicas: A pesquisa em marketing e negócios sob a perspectiva histórica amplia
as possibilidades de pesquisa por meio de novas fontes, problemas e abordagens, contribuindo para expandir as
oportunidades de análise e teorização no ambiente organizacional. Preenche uma lacuna na literatura sobre varejo
no Brasil, dada a escassez de estudos de cunho acadêmico na área de Ciências Sociais Aplicadas sobre o tema com
uma perspectiva histórica.

Palavras-chave: História do Varejo. Varejo no Brasil. Merchandising. Comércio Eletrônico. Omnichannel.

RETAIL IN BRAZIL - HISTORICAL RESCUE AND TRENDS

Objective: This study provides a historical overview of the evolution of retailing in Brazil, portraying the
trajectory of retail trade from the discovery of gold in the interior of the country to the present day, making a
parallel between the social, economic and political changes in the country and the changes in the retailing along
the time.
Method: The study was developed through extensive bibliographical research in books, theses, dissertations,
scientific articles and national and international periodicals, under a historical perspective and a chronological and
descriptive format, emphasizing emblematic moments for the retail evolution in Brazil.
Originality / relevance: This study fills a gap in the marketing literature on the history of retailing in Brazil,
contributing to the evolution of new perspectives of study, and shedding lights on little known issues of retailing
in Brazil.
Results: The article describes the trajectory of retailing in Brazil up to the present day, describing its evolution
over time. The study concludes showing the transformations that the new technologies have impressed to the
sector, evidencing the search for entertainment and the shopping experience as the new retailing inductors.
Theoretical / methodological contributions: Marketing and business research from the historical perspective
expands the possibilities of research through new sources, problems and approaches, contributing to expand the
opportunities for analysis and theorization about the organizational environment. It also fills a gap in the retail
literature in Brazil, given the scarcity of academic studies in the field of Applied Social Sciences on retailing with
a historical perspective.

Keywords: Retail History. Retail in Brazil. Merchandising. E-commerce. Omnichannel.

Luis Fernando Varotto1

1
Doutor em Administração pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas
- EAESP/FGV. Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Nove de Julho -
PPGA/UNINOVE. São Paulo, Brasil. E-mail: varotto@uni9.pro.br
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1 INTRODUÇÃO descobertas de ouro e diamantes feitas pelos


bandeirantes paulistas. A corrida do Ouro
Com uma participação de cerca de 20% na desencadeada por essas primeiras descobertas no
composição do Produto Interno Bruto (PIB), e início do século XVIII atraiu um contingente variado
empregando formalmente mais de 10,2 milhões de de forasteiros – pequenos proprietários, padres,
pessoas (IBGE, 2016), o setor varejista é um dos comerciantes, prostitutas e aventureiros – que
mais relevantes para a economia brasileira (Parente, alterou de forma significativa o comércio da época.
2014). Apesar da grande importância na economia e O ciclo do ouro leva o povoamento para o interior da
nos hábitos de consumo do brasileiro, há poucos colônia, e em sua esteira são instalados pousos e
estudos que se debruçam sobre a origem e a evolução estalagens, que surgem para abastecer os viajantes
do varejo no Brasil. A pesquisa em administração com mantimentos, ferramentas e ferragens, além de
sob a perspectiva histórica tem suscitado o interesse oferecer descanso para as longas jornadas, o que
de pesquisadores no Brasil e no exterior (Costa, permitiu o surgimento de pequenas vilas e cidades
Barros, & Martins, 2010; Üsdiken & Kieser, 2004; como Vila Rica (Ouro Preto), Mariana e São João
Vizeu, 2007), evidenciado que a utilização desse tipo Del Rei (Fausto, 1998).
de método de análise amplia as possibilidades de Nesse novo cenário, agricultores antes
pesquisa por meio de novas fontes, problemas e voltados exclusivamente para a produção de
abordagens, contribuindo para expandir as subsistência iniciam atividades agrícolas orientadas
oportunidades de análise e teorização acerca do para o comércio, abastecendo com seus produtos as
ambiente organizacional (Costa et al., 2010). O vilas que vão surgindo, principalmente no litoral
resgate histórico e descritivo com foco na evolução brasileiro. Esses primeiros empresários, muitos de
e na formação do varejo do Brasil é, portanto, um origem indígena, e que virão a ser denominados
importante recurso para melhor se compreender o como “caboclos”, começam a produzir alimentos
atual funcionamento do setor e de seus principais com o objetivo de troca por mercadorias e objetos,
agentes, e preenche uma lacuna na literatura sobre marcando o surgimento de uma incipiente classe
varejo no Brasil, dada a escassez de estudos de cunho média, que irá se posicionar entre os grandes
acadêmico na área de Ciências Sociais Aplicadas proprietários de terras e os escravos (Prado, 2002).
acerca de sua evolução no país. Baseando-se De fato, a economia do ouro na região das
exclusivamente em pesquisa bibliográfica, e com minas abre espaço pela primeira vez para que
caráter descritivo, o artigo parte do Brasil Colônia, empreendedores com poucos recursos tenham a
retratando a trajetória do comércio varejista desde a oportunidade de empreender, dado que ao contrário
descoberta do ouro nas minas gerais até os dias da economia do açúcar, as necessidades de capital
atuais, fazendo um paralelo entre as mudanças para iniciar as atividades na mineração eram muito
sociais, econômicas e políticas no país e as menores, abrindo espaço para que brancos pobres,
transformações por que passou o varejo no decorrer mestiços e até mesmo escravos pudessem abrir
desse processo. A primeira parte do artigo descreve pequenos negócios para atender às demandas dos
o alvorecer do varejo no Brasil sob a descoberta do garimpos e das vilas que surgiam (Furtado, 1982).
ouro na região das minas gerais e o seu Esse aumento populacional longe do litoral
desenvolvimento e diversificação ao longo do e distante dos portos, desencadeado pela descoberta
processo de independência e da industrialização do do ouro, permitiu o surgimento de um mercado
país. Na sequência é descrito o processo de interno, que apesar da pouca renda, quando
modernização do varejo, com destaque para o comparado ao nordeste açucareiro, criou a demanda
merchandising como instrumento de ambientação e por bens de consumo básico, incentivando o
indutor da experiência de compra, e o surgimento surgimento de pequenos empresários. Ao mesmo
dos primeiros supermercados e shopping centers, tempo a existência de minério de ferro naquela
que mudam de forma dramática o cenário varejista região desencadeou o desenvolvimento da siderurgia
brasileiro. Finalmente, resgata-se o surgimento do e a fabricação de ferragens e ferraduras (Souza,
comércio eletrônico no mercado brasileiro, e as Oliveira, Machado, & Benati, 1997). Assim, apesar
transformações que as novas tecnologias tem de nascida com a mineração a evolução da economia
imprimido ao setor, evidenciando a busca pelo das minas se deu com o comércio, este menos
entretenimento e pela experiência de compra como dependente das fortunas auferidas com a mineração,
os novos indutores para o varejo. e menos suscetível ao colapso advindo ao final do
ciclo do ouro.
Primórdios do Varejo no Brasil À proporção em que a economia se
desenvolvia e a população crescia, a demanda por
Embora o comércio exista desde a época do alimentos e outros bens de consumo também
descobrimento, o florescimento do varejo no Brasil aumentava. Esse momento marca o surgimento dos
acontece na região das minas gerais em meio às tropeiros, que passaram a abastecer os centros
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populacionais que se estabeleceram nas minas gerais De fato, a vinda da família real e a abertura
(Furtado, 1982). A partir de São Paulo, no dos portos causou uma intensa movimentação de
denominado Caminho de São Paulo, foi estabelecida navios e mercadorias nas cidades portuárias
uma importante rota, especialmente para o comércio brasileiras, como Rio de Janeiro, Recife, Salvador,
de muares. As mulas eram trazidas do Sul, dos então São Luís e Belém (Prado, 2002). Comerciantes
territórios espanhóis, em troca de contrabando de europeus vieram se instalar no Brasil, surgindo
aguardente e tabaco. Esses tropeiros em sua longa muitas lojas nas ruas próximas aos portos. A
viagem do sul do Brasil até Minas Gerais acabaram transferência da corte de Lisboa para o Rio de
por formar muitas povoações ao longo do caminho, Janeiro trouxe para o Brasil as primeiras estradas de
destacando-se a cidade de Sorocaba, cuja feira anual boa qualidade, a melhora dos portos, a introdução de
recebia negociantes e tropeiros de toda parte. Por novas espécies de vegetais, a promoção da imigração
volta de 1750 vendia-se ali mais de 10 mil mulas a de colonos europeus, além de aprimorações técnicas,
cada ano (Danieli, 2006). por exemplo, no processo de mineração de ouro. Só
Vale lembrar, entretanto, que Minas Gerais a cidade do Rio de Janeiro no período entre 1799 e
não foi somente ouro e diamante, tendo 1821 passou de cerca de 40 mil para 79 mil
desenvolvido também a pecuária e a agricultura. O habitantes, o que ocasionou uma mudança nos
gado nordestino chegava a Minas Gerais pela rota padrões de serviços da época, e a procura por novos
que ficou conhecida como o Caminho da Bahia. A tipos de bens e produtos, além de uma demanda
rota era da Bahia, mas os produtos vinham do crescente por moradias (Villaça, 2007). Um
Maranhão, Pernambuco ou de outras capitanias do importante reflexo dessa efervescência comercial foi
Norte e Nordeste. Além do gado, passavam pelo o surgimento do primeiro jornal brasileiro, a Gazeta
Caminho da Bahia objetos de vestuário, “fazendas do Rio de Janeiro (Meirelles, 2006).
sertanejas”, ferramentas de uso nas lavras, foices, A abertura dos portos se por um lado
machados, baralhos, pólvora, chumbo, azougue, promoveu o acesso livre ao Brasil de mercadorias de
facas flamengas, tabaco, armas de fogo, dentre todo o mundo, por outro lado comprometeu o
outras bugigangas (Lamas, 2008). desenvolvimento de sua incipiente indústria e a
No final do período colonial as atividades produção local de uma enorme gama de produtos de
comerciais desenvolvidas por esses pequenos consumo. Juntamente com a abertura dos portos, por
empresários já eram bastante diversificadas. Em São meio do tratado de livre comércio com a Inglaterra,
Paulo se produzia amendoim, centeio, batata-doce, e que foi posteriormente estendido às demais
mandioca, trigo e milho; em Santa Catarina, potencias da época, foi estabelecida uma taxa de
produzia-se pimenta, baunilha, arroz, copaíba e café; 15% “ad valorem” sob a pauta geral das alfândegas
no Rio de Janeiro eram comuns café, chá, cará, brasileiras, valor este bastante baixo e que
mandioca, inhame e cola de sapateiro, além do inviabilizou a concorrência com produtos
tabaco em Minas e Bahia, cacau e algodão no estrangeiros. O resultado é que praticamente tudo
Maranhão e no Pará, trigo, uva, erva-mate e cuia para que se comercializava na época era importado, até
chimarrão no Rio Grande do Sul e banana, cebola e mesmo caixões de defunto. Esta situação irá perdurar
aguardente de forma espalhada ao longo do território até 1844, quando se revogam as bases dos tratados
(Souza et al., 1997). de livre comércio estabelecidos em 1810 (Cervo &
Bueno, 2002).
Família Real e Independência Outra importante consequência para o
comércio nacional foi o domínio quase que
O ano de 1808 é um divisor de águas nos exclusivo dessa atividade pelos estrangeiros. Os
rumos da colônia e do comércio. Ele marca a vinda ingleses serão os senhores do grande comércio e das
da família real portuguesa para o Brasil, fugindo de transações financeiras e os franceses dominarão os
Napoleão Bonaparte na Europa. Portugal negócios de luxo e de moda. Essa facilidade em obter
representava uma brecha ao bloqueio comercial produtos europeus modificou os hábitos da
imposto à Inglaterra, e em novembro de 1807 as população. Artigos como cristais, perfumes,
tropas de Napoleão invadiram o país com o objetivo talheres, pentes, velas e barbantes, antes raros no
de fazer valer o bloqueio continental. Ente os dias 25 mercado local, passaram a ser consumidos pela
e 27 de novembro de 1807 entre 10.000 e 15.000 população de maior renda, que também adotou o
pessoas deixaram Lisboa rumo ao Brasil, protegidos modo de se vestir à maneira europeia (Alencastro,
pela marinha inglesa. Dentre as várias e importantes 1997).
mudanças ocasionadas pela chegada da corte ao
Brasil, em termos econômicos e comerciais a mais Industrialização
significativa foi a abertura dos portos às nações
amigas, que pôs fim a trezentos anos de sistema Após a independência e por volta de 1850,
colonial (Fausto, 1998). com a proibição do tráfico de escravos, muitos
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capitais são direcionados para a importação de carne seca. Com o advento do café e o surgimento de
produtos semiduráveis, duráveis e supérfluos uma elite urbana capaz de consumir produtos e
oriundos da Europa e Estados Unidos. Houve serviços mais sofisticados há o deslocamento do
inclusive a implantação de linhas regulares de navios centro comercial para o denominado “triangulo
vapor entre o Rio de Janeiro e a Europa, os chamados histórico” ou “triangulo central”, formado pelas ruas
Paquetes (Goularti, 2011). Também a corrida do Direita, São Bento e Imperatriz (atual Quinze de
ouro na Califórnia, costa oeste dos Estados Unidos, Novembro), sendo esta última a que concentrava os
contribuiu para que a cidade do Rio de Janeiro se principais cafés, restaurantes, confeitarias, casas
tornasse ponto de passagem obrigatória para os que importadoras, bancos e grandes casas comerciais,
pretendiam atingir o Pacífico vindos da costa do como a Casa Garraux. Essa loja foi inaugurada em
Atlântico, o que contribuiu para que a cidade se 1860 e se instalou em um prédio com fachada de
integrasse ao comércio exterior norte-americano. mármore, porta central e duas grandes vitrines
Lojas como “Nathaniel Sands”, principal casa laterais. Vendia livros, artigos de papelaria, objetos
importadora americana no Rio de Janeiro, já de escritório, e até mesmo feijão, arroz, batatas e
publicava, na época, reclames oferecendo tecidos, vinhos franceses, e foi uma das grandes lojas gerais
máquinas debulhadoras de milho, fogões para da época (Villaça, 2007).
cozinha, máquinas de costura e mobílias. Nesta Com a construção do viaduto do chá em
época, entretanto, a influência norte-americana ainda 1891, a rua Direita foi se tornando comercialmente
não era significativa, sendo a França a principal mais atrativa do que a rua Quinze de Novembro, e se
referência em termos da música, da cultura, e das tornou a principal via de comércio e serviços da
ideias (Alencastro, 1997). cidade, passando a concentrar as lojas mais
É grande nesse período o aumento das sofisticadas como a Casa Alemã (posteriormente,
importações de pianos e de papel de parede que se Galeria Paulista de Modas), o Mappin Stores, a Casa
tornaram uma verdadeira coqueluche entre a Au Bon Marché e a Casa Sloper. (Oliveira, 2006).
aristocracia, sendo vendidos em lojas especializadas O processo de industrialização no Brasil foi
na cidade do Rio de Janeiro. Também é dessa época acompanhado pela crescente urbanização,
o surgimento das primeiras sorveterias que vendiam especialmente de cidades como São Paulo. Em 1928,
raspadinha de diversos sabores, recebendo gelo São Paulo já contava com cerca de 6.923 industrias
diretamente do inverno nova-iorquino para o verão e cerca de 150 mil operários (Belanga, 2011). Com
carioca. Em Porto Alegre surge a Casa Masson, o grande afluxo de imigrantes e o aumento da
estabelecida em 1871, e que era sinônimo de luxo e população nas cidades, o maior problema do varejo
bom gosto entre a alta classe da época (Alencastro, brasileiro no início do século vinte era o do
1997). abastecimento alimentar. A ausência de mercados
Nessa mesma época o café já havia se formadores de preços e a quase inexistente
transformado no principal produto de exportação do infraestrutura para o escoamento da produção
país, e a expansão das plantações pela Província de agrícola do interior fomentavam a inquietação
São Paulo, foi o motor de inúmeras transformações popular e a revolta contra os varejistas de alimentos
da sociedade brasileira, com destaque na e suas práticas obsoletas para a nova realidade. Com
substituição do trabalho escravo pelo assalariado. O a eclosão da primeira guerra mundial, e a
deslocamento das plantações de café do Vale do consequente escassez de gêneros alimentícios
Paraíba para o Oeste Paulista, que teve como importados a situação se agravou (Belik, 1999).
inovação um modelo capitalista baseado em trabalho Em 1917 houve uma greve geral em São
assalariado e imigrante, prosperou em contraposição Paulo em que cerca de 45 mil trabalhadores
àquele modelo escravista anterior. Os capitais cruzaram os braços reivindicando melhores
gerados foram aplicados na construção de estradas condições de vida, o controle de preços e a punição
de ferro, na criação de sistemas financeiros e de varejistas e atacadistas. Como resultado dessas
comerciais compostos por casas exportadoras e reivindicações foi estabelecido o controle de preços
bancárias, e em empreendimentos industriais. Esse e instituído o primeiro instrumento estatal de
processo de industrialização se intensificou a partir intervenção no varejo, com a criação em 1918 do
de 1880 e se concentrou no atual estado de São Paulo Comissariado de Alimentação Pública, que tinha por
e na cidade do Rio de Janeiro, centros produtores de objetivo intervir e controlar o abastecimento, a fim
café e do comércio exportador e importador do de evitar o conflito social. O comissariado era
Brasil (Fausto, 1998). responsável por preparar tabelas, fixar preços de
Na cidade de São Paulo, o comércio se alimentos, e definir isenções para alimentos de
concentrava na rua da Quitanda, com a venda de consumo popular (arroz, feijão, charque).
legumes, verduras e produtos de consumo imediato, Posteriormente o Comissariado se transformaria na
e na rua das Casinhas (atual Largo do Tesouro) Superintendência do Abastecimento, passando
aonde se vendia toucinho, milho, arroz, farinha e também a comprar e distribuir alimentos para a
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população carente, promover a criação de durante a guerra, no caso de alimentos, os primeiros


cooperativas agrícolas e a montagem de feiras livres enlatados. É também neste período que ocorre a
nas principais capitais do país. As feiras livres foram popularização do rádio e a diversificação da
uma inovação na época, e era estrutura de imprensa escrita, o que entre outras consequências
distribuição que permitia o acesso mais barato aos contribui para o surgimento das primeiras agências
gêneros de primeira necessidade, uma vez que de propaganda como a N.W.Ayerland Son,
reduzia o número de intermediários (Belik, 1999). J.W.Thompson e a McCann Ericksson. (Fundação
É também dessa época o surgimento de Abras, 2002)
importantes varejistas como a Casas
Pernambucanas, fundada em 1908 e que já contava O início da Modernização no Varejo
no final da década de 1920 com mais de 200 lojas
espalhadas pelo país, a Établissements Mestre et Ao fim da Segunda Guerra, o varejo de
Blatgé – Mesbla (1912) e o Mappin Stores (1913), alimentos no Brasil era composto basicamente por
que foi a primeira grande loja de departamentos de armazéns, empórios e mercearias. Havia também os
São Paulo (Varotto, 2006). O Mappin, em sua açougues e vendedores ambulantes de verduras,
fundação, concorria com a casa Alemã, instalada ao batatas e peixes, dentre outras mercadorias que eram
seu lado, na rua Direita. Em 1939 o Mappin se vendidas porta a porta. O sistema de crédito era
mudou para o outro lado do Viaduto do Chá, em um pouco desenvolvido, de forma que a maioria das
edifício na Praça Ramos de Azevedo, em frente ao compras eram feitas à vista, ou então na tradicional
Teatro Municipal. Com o início da Segunda Guerra “caderneta”. O cheque, embora já existisse no Brasil
Mundial a casa Alemã fechou suas portas. O Mappin desde 1912, passou a ser usado com grande
foi um exemplo de varejo bastante inovador em sua regularidade no comércio só muitos anos depois
época. Na década de 1920 esse varejista já fazia (Varotto, 2006).
vendas por catálogo e realizava liquidações com Um importante varejista que se instalou na
intensa divulgação nos jornais (Branco, 2002). década de 1930, na Rua Direita, em São Paulo, foi a
As lojas de departamento, como o Mappin Lojas Americanas, que inaugurou um novo estilo de
e a Mesbla, foram fruto do processo de comércio para os padrões então vigentes. Focada na
industrialização e da urbanização do país. O grande nascente classe média, era conhecida como a “Casa
afluxo de pessoas do campo para a cidade, assim dos Dois Mil Réis”, com ampla variedade de
como a intensa imigração, mudou os hábitos e o produtos a baixos preços, em que nada custava mais
perfil do consumidor. Esses empreendimentos do que dois mil-réis (Oliveira, 2006).
nascem como um canal de escoamento da produção Em meados da década de 1940 surgem as
de vestuário, cama-mesa-banho, eletrodomésticos e lojas especializadas em roupas que começam a expor
decoração, atendendo a necessidade de uma seus produtos em vitrines, a fazer propagandas em
população que já não tem mais tempo disponível rádios e jornais, e o lançamento das primeiras
para costurar suas próprias roupas, com mulheres promoções tendo como mote datas festivas como
que aos poucos vão se incorporando ao mercado de Natal, Carnaval e Festas Juninas. Em 1948 é lançado
trabalho e a um ritmo de vida muito mais veloz. o Dia das Mães que viria a se tornar, depois do Natal,
Esses grandes magazines vão trazer como benefício a principal data para compras no varejo. É nessa
ao consumidor mercadorias mais baratas, acessíveis época que nasce o crediário, que passa a ser
e com grande variedade. São as pioneiras em exibir amplamente utilizado por todo o comércio.
as peças com preços nas vitrines. São as pioneiras Expoentes dessa época são lojas como Exposição, O
também na instituição do crediário, o que facilitou o Camiseiro, Esplanada, Casa Tavares e Segadaes no
acesso do consumidor a este universo de consumo, e Rio de Janeiro, e Mappin, Garbo, Casa José Silva,
que acabou incorporado como parte da cultura de Everest, Colombo e Ducal em São Paulo e Renner
consumo no Brasil (Varotto, 2014). em Porto Alegre. (Varotto, 2006).
Com o avanço do processo industrial e a Na virada da década, em 1949, a Sears é
crescente urbanização, a década de 1930 traz a inaugurada em São Paulo, trazendo novidades como
admiração pelo american way of life, que se lanchonete e estacionamento. Posteriormente foram
intensificou no período que antecedeu a Segunda inauguradas mais uma loja em São Paulo e outra no
Grande Guerra. Com a emergência dos Estados Rio de Janeiro (Gouvêa de Souza, 1991). A Sears foi
Unidos como a nova potência hegemônica, há uma a pioneira na utilização do self-selection e
alteração nos padrões vigentes e a substituição das apresentava um leiaute revolucionário para a época,
referências francesas e dos produtos importados da com gondolas e separação das mercadorias por
Europa pelos de origem norte-americana, alguns seções, que eram bem delimitadas e sinalizadas
deles já sendo fabricados no país por filiais de dentro das lojas. A loja oferecia ainda caixas
empresas dos Estados Unidos. Surgem novos registradoras modernas e assistência técnica da
utensílios que utilizavam a tecnologia desenvolvida própria loja para os eletrodomésticos
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comercializados. Localizada a mais de 4 km do produtos. Poucos produtos eram expostos e os


centro da cidade, além do estacionamento, a loja clientes tinham que solicitar ao varejista as
contava também com um centro automotivo, mercadorias, que normalmente eram estocadas em
preconizando o advento da clientela motorizada. A um depósito e só apresentadas mediante a
Sears foi também inovadora na comunicação com a solicitação. Nesta fase do varejo, o elemento mais
clientela. Fazia promoções e anúncios de forma importante para a realização da venda era o poder de
diferenciada, e foi a pioneira no Brasil a enviar com convencimento do varejista em relação ao cliente. A
regularidade malas-diretas e catálogos para seus primeira evolução em direção ao que se conhece hoje
clientes. Oferecia atendimento personalizado e como merchandising no varejo ocorre quando
preços bastante competitivos em relação à pequenas lojas começam a expor abertamente ao
concorrência (Belik, 1999). São também desse público os seus produtos. Nessa fase as lojas
período lojas muito conhecidas como Pirani e começam a deixar de ser virtuais depósitos de
Eletroradiobraz (Gouvêa de Souza, 1991). fábricas, desorganizados e sem atrativos, para se
tornarem mundos em miniatura, voltados para o
O Merchandising consumo, em um ambiente decorado e atrativo para
o público, em que a exposição de produtos torna-se
No contexto da modernização do varejo, o uma ferramenta de venda para o varejista, iniciando
ambiente físico ou a atmosfera da loja passa a ser uma revolução no processo de compra, tornando-o
reconhecido como uma variável fundamental para a uma experiência sensorial. A segunda evolução do
imagem que o varejista busca criar para o seu design de lojas foi o desenvolvimento das arcadas ou
negócio. Mehrabian e Russel (1974) em seus estudos passagens durante o início do século dezenove,
mostram que elementos ambientais no ponto de principalmente na Europa. (Parker, 2003).
venda são capazes de provocar reações emocionais As arcadas eram ruas ou boulevards
não totalmente explicáveis sob o ponto de vista cobertos que tinham como antepassados os antigos e
cognitivo. Por este motivo os varejistas fazem uso do exóticos bazares da Ásia Menor e da Península
merchandising, ou seja, a técnica de adequar a Arábica, e trouxeram como inovação para o
apresentação do ambiente de loja e a exposição de ambiente interno de loja as experiências de
produtos de forma a favorecer a atividade de compra. construção utilizando o vidro, o aço e o ferro, o que
Essa atmosfera propícia à atividade de compra no provocou uma sensível melhora na qualidade
varejo é criada por meio da apresentação interna e estética das lojas. A principal característica das
externa da loja, pelas soluções arquitetônicas arcadas eram as suas grandes claraboias de vidro que
empregadas, pela forma de exposição dos produtos, criavam um ambiente de compras visualmente
bem como pelo seu portfólio de produtos, preços e estimulante. Embora muito atrativas, as arcadas
mesmo pessoal de atendimento. Assim, elementos eram muito caras e de difícil manutenção, além
como cor, iluminação, estilo, disposição dos móveis, disso, a experiência visual experimentada de fora do
balcões e prateleiras, limpeza, e demais estímulos ambiente não se refletia da mesma forma no interior
visuais causam grande impacto na percepção do das lojas. O terceiro avanço no merchandising de
consumidor e influenciam o seu comportamento de lojas ocorre na esteira das Grandes Exposições,
compra dentro de uma loja. Mas não só elementos notadamente a exposição do Palácio de Cristal em
visuais são utilizados. Outros estímulos como sons, Londres, no ano de 1851. Originalmente concebidas
aromas e estímulos ao paladar e ao tato são utilizados para a demonstração de novas tecnologias,
de forma a montar um cenário que incentive e torne rapidamente as exposições se tornaram grandes
agradável a experiência de compra. feiras, em que as mercadorias eram exibidas em
O uso do merchandising no varejo não é ambientes elaborados e muitas vezes exóticos,
recente, mas a sua utilização tornou-se mais buscando estabelecer uma experiência sensorial com
intensiva com o surgimento do autosserviço na o público. Uma das principais lições que os
década de 1930, nos Estados Unidos (Silva & varejistas participantes dessas feiras aprenderam foi
Pinheiro, 2006). Com o autosserviço as mercadorias a importância de que seus produtos fossem abertos e
começaram a ser trabalhadas no interior das lojas de estrategicamente expostos ao público (Benjamin &
maneira a facilitar e tornar mais próximo o contato Tiedemann, 1999).
com a mercadoria, melhorando a experiência de A ideia de expor os produtos em locais em
compra e aumentando o volume de vendas. Um dos que as pessoas podiam vê-los com facilidade foi
mais trabalhados elementos no merchandising foi o bastante inovadora, e ao colocá-los em expositores
aspecto visual, sendo as vitrines as primeiras exóticos e atrativos, aumentava o apelo pelos
experiências nessa direção. produtos, fazendo também com que o consumidor
Até por volta do século dezoito, os passasse a esperar em suas visitas às lojas por
varejistas tinham pouca preocupação com a elementos que o excitassem e tornasse mais
aparência das lojas ou com a apresentação dos agradável a experiência de compra.
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No Brasil, na época do Império, as feiras O conceito de autosserviço ou self-service


mundiais tornaram-se questão de Estado, ao que o surge nos Estados Unidos por volta de 1912, e se
historiador Paulo Roberto de Almeida chama de consolidou após a Grande Depressão de 1929, em
“diplomacia das exposições”, ensejando a função de sua capacidade de redução de custos fixos,
participação de políticos, diplomatas, industriais e do menor utilização de mão-de-obra e capacidade de
próprio imperador, como na Centennial ofertar melhores preços e mais variedade para o
International Exhibition de Filadélfia, em 1876, em público.
que ocorreu a célebre conversa telefônica entre Dom No Brasil, entretanto, esse modelo demorou
Pedro II e Alexander Graham Bell, cuja invenção – alguns anos para se popularizar. Até o fim da década
o telefone - foi patenteada posteriormente no Brasil de 1950 no Brasil, o comércio de alimentos possuía
(Almeida, 2001). As inovações no ambiente de loja uma regulamentação que exigia que as lojas de secos
e na exposição de produtos não tardaram a chegar ao e molhados e as padarias fossem obrigadas a
Brasil, porém ficaram mais restritas a algumas trabalhar aos sábados e domingos até as 20h00. Em
poucas lojas mais elitizadas, como a Casa Masson, geral esses empreendimentos eram familiares e cerca
estabelecida em Porto Alegre em 1871, e a Casa de 50% do movimento desses varejistas ocorria
Garraux, estabelecida em São Paulo em 1860, e efetivamente durante os finais de semana. Esse tipo
posteriormente, no início do século vinte, a lojas de regulamentação dificultava e tornava muito
como o Mappin Stores e a Mesbla. onerosa a instalação de varejos alimentícios fora
As primeiras lojas de departamento no desses moldes (Belik, 1999).
século dezenove inovaram no design e na forma de As primeiras experiências com
utilização do merchandising. Essas lojas acolheram supermercados surgiram em 1947 com o Frigorífico
o conceito de exibir as mercadorias em ambientes Wilson, em São Paulo, que vendia produtos de
luxuosos e incorporaram elementos experimentados mercearia através do sistema de autosserviço e as
originalmente nas pequenas lojas de armarinhos, carnes em um balcão frigorífico fechado e com
exposições e arcadas, fazendo da exposição de atendimento pessoal, e em 1949, quando surge o
produtos um dos aspectos centrais da experiência de Depósito Popular. Nenhum deles teve sucesso, mas
compra. contribuíram para lançar as bases do novo modelo
Essas lojas, nas palavras de Ken W. Parker varejista no país (Fundação Abras, 2002).
(2003) transformaram o conceito de merchandising Houve outras experiências, como o
de quatro maneiras significativas. Primeiro por Supermercado Americano, que ocupava 800 metros
incorporarem ao dia-a-dia do varejo a experiência de quadrados e oferecia 3000 itens, inclusive pescados,
compra que então só era possível vivenciar nas padaria e seção de carnes, instalado estrategicamente
grandes feiras, a maioria delas restritas às grandes em frente à Sears na Rua Treze de maio, em São
cidades da Europa e Estados Unidos. Segundo, foi a Paulo e a Cooperativa dos Empregados da
construção de lojas com amplos e luxuosos espaços Tecelagem Parahyba, em São José dos Campos. O
internos que excediam até mesmo as mais pródigas efetivamente considerado primeiro supermercado do
arcadas, fazendo uso intensivo do vidro e do aço, e Brasil foi instalado em 1953 na Rua da Consolação,
convidando os consumidores a transitarem pela loja. entre a Avenida Paulista e a Alameda Santos. Os
Terceiro, essas lojas aperfeiçoaram a técnica de Supermercados Sirva-se S.A., que pertencia à Cia.
expor grande quantidade de produtos, muitas vezes Souza Cruz, foi o primeiro a utilizar leiaute e
de forma caótica e desorganizada, de maneira a levar equipamentos similares aos norte-americanos. Com
o consumidor a procurar os seus objetos de desejo 800 metros quadrados de área de vendas,
pelos vários departamentos da loja e, nesse processo, apresentava as características dos supermercados
encontrando e comprando outros artigos de seu modernos, como as divisões por seções, espaços para
interesse. Essa atmosfera permitia além da diversão, propagandas de produtos e utilização das pontas de
que o consumidor experimentasse uma sensação de gôndolas para promoção de produtos. Foi o pioneiro
opulência e fartura, dado o luxo das instalações e a a vender no mesmo local carne, frutas e verduras,
riqueza das vitrines e mostruários, além da imensa além da linha de mercearia. A partir do Sirva-se,
quantidade de produtos à venda. Finalmente, a loja surgem outras lojas, como o Peg-Pag em 1954, que
de departamentos do século dezenove utilizou em veio a se tornar o padrão dos supermercados em
profusão as vitrines temáticas, mostrando os termos de formatação de loja, atendimento e
produtos à venda em cenários exóticos e refinados, treinamento de funcionários (Fundação Abras,
ou mesmo em um cenário representativo da vida 2002).
cotidiana, mostrando o objeto de desejo em um Nos anos seguintes abriram-se várias lojas
contexto familiar ao do cliente. de supermercados em São Paulo como o Mapps em
1957, pertencente ao Mappin e o Pão de Açúcar em
O advento dos Supermercados 1959, originado de uma doceria fundada onze anos
antes, que viria a se tornar nos anos seguintes a
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principal rede supermercadista do país. Ao final da – PMRC, que oferecia recursos oficiais a taxas de
década de 1960 o Pão de Açúcar já contava com mais juros reduzidas e prazos longos para pagamento.
de 50 lojas em 17 cidades do estado de São Paulo, Esse programa, entretanto, beneficiava somente
inaugurando em 1970 uma loja em Lisboa, Portugal. grandes empreendimentos uma vez que a garantia
Durante a década de 1970 a rede se expande ainda exigida para os empréstimos era bastante elevada
mais, lançando em 1971 a marca Jumbo e (Belik, 1999).
introduzindo o conceito de hipermercado no varejo Nessa época surgem os primeiros
brasileiro, com a abertura de uma loja na região do supermercados com áreas superiores a três mil
ABC em São Paulo, e começa a diversificar a sua metros quadrados, comercializando alimentos,
atuação, adquirindo em 1976 a Eletroradiobraz, eletrodomésticos, roupas, artigos para presentes, e
então a maior rede de eletrodomésticos e incorporando serviços como restaurantes e
eletroeletrônicos do país. A expansão continua por lanchonetes, amplos estacionamentos, instalações
setores diversos como restaurantes (Well´s), sofisticadas e grande variedade e sortimento de
turismo, lanchonetes, pesca, veículos, continuando produtos. Surge também em 1973 o primeiro atacado
ainda as aquisições no setor de supermercados em de autosserviço, o Makro, pioneiro de um dos
diferentes estados brasileiros. O Pão de Açúcar segmentos de maior crescimento atualmente no
lançou modelos inovadores para a época como o varejo alimentício, e conhecido informalmente por
Minibox, mercearias de desconto, o Superbox, loja “atacarejo” (Varotto, 2014). Ainda em 1975, instala-
depósito e o Peg & Faça, especializado em se em São Paulo o Carrefour, pertencente à maior
bricolagem. Em 1981 o grupo fundiu toda a sua cadeia de supermercados da França, e implanta o que
operação de varejo na Companhia Brasileira de viria a ser denominado de hipermercado - um novo
Distribuição – CBD (Varotto, 2014). modelo no setor supermercadista brasileiro
Em outras capitais o modelo configurado por megalojas, com amplas áreas de
supermercadista também se expandiu como o consumo, grande variedade de produtos e preços
Supermercados Real, de Joaquim Oliveira, em Porto competitivos. Em 1976 foi instalada a segunda
Alegre, o Merci, em Belo Horizonte, o Tudo Tem, unidade na cidade do Rio de Janeiro, sendo abertas
no Recife, Paes Mendonça, em Salvador e na sequencia novas unidades em várias outras partes
Supermercados Copacabana e Supermercados Disco do país. Este modelo prosperou fortalecido também
no Rio de Janeiro. pela conjuntura econômica da época.
Este modelo de varejo concentrou-se Naquela fase, início do processo
primeiramente nas regiões Sul e Sudeste do país, inflacionário que na década seguinte levaria
regiões que em função da maior disponibilidade de praticamente à bancarrota a economia nacional, lojas
renda da população, possibilitaram com maior como a do Carrefour que associavam preços
sucesso a substituição do hábito e da necessidade de competitivos, ampla variedade de itens e localização
compras através das tradicionais cadernetas (Belik, em grandes centros, foram favorecidas e
1999). O modelo se expandiu por todo o país. Para apresentaram taxas de crescimento expressivas. O
se ter uma ideia do sucesso do autosserviço, em 1966 final do regime militar e a volta da democracia com
existiam 997 supermercados no país. Já em 1973, o governo Sarney, foi o palco de experiências
esse número passava de 5000. Alguns fatos traumáticas e mesmo desastrosas para a economia
contribuíram para este grande crescimento, entre brasileira. A inflação em alta e sem controle levou o
eles a substituição do IVC (Imposto sobre Vendas e governo a anunciar planos econômicos como o
Consignações) pelo ICM (Imposto sobre Circulação Cruzado, em 1986, baseado no congelamento geral
de Mercadorias) que reduziu pela metade a carga de preços e que conteve artificialmente a inflação por
tributária dos Supermercados e o reconhecimento determinado período. O congelamento de preços
legal do ramo supermercadista, ordenando e acabou por provocar o desabastecimento de vários
classificando a atividade (Belik, 1999). Em 1968 é produtos e a cobrança de ágio passou a ser regra no
promulgada a Lei Federal n. 7.208, que comércio. Nesse período surgiram os “fiscais do
regulamentou a atividade de supermercados e Sarney”, uma alusão aos consumidores que
autosserviço, e no mesmo ano é criada em São Paulo monitoravam de forma espontânea as gôndolas dos
a ABRAS – Associação Brasileira dos supermercados. Não foi incomum nessa época legião
Supermercados, contribuindo para a consolidação do de consumidores enfurecidos fecharem as portas de
ramo (Fundação Abras, 2002). estabelecimentos comerciais que remarcavam as
O início dos anos 1970 marca o período do mercadorias, em defesa daquela política de controle
chamado milagre econômico e novos formatos de de preços. O plano cruzado fracassou, assim como
loja se estabelecem nesse segmento. Em 1971 foi seus sucessores – Plano Bresser e Plano Verão -
lançado pelo BNDE (Banco Nacional de ainda sob o governo Sarney.
Desenvolvimento Econômico) o Programa de O final dos anos 1980 e início dos anos
Modernização e Reorganização da Comercialização 1990 foi caracterizado pela volta galopante da
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inflação que alcançou a estratosférica marca de Os primeiros shoppings se estabeleceram


1.973% ao ano em 1989. Nessa situação, os preços em regiões com alto índice de urbanização e com
eram remarcados diariamente, e a lucratividade do poder aquisitivo privilegiado, mas num segundo
comércio estava baseada mais nas aplicações momento começaram a se espalhar por outras
financeiras do que na própria operação do negócio. regiões. De fato, na época em que foram implantados
A correção monetária era institucionalizada, e tanto os primeiros shoppings, o modelo era sinônimo de
preços quanto salários eram reajustados varejo de luxo, porém, com o aumento no número de
automaticamente com base na taxa de inflação do estabelecimentos e a popularização do modelo, os
mês anterior. Esta situação, que acabava por shoppings passaram a ser acessíveis às várias classes
retroalimentar a inflação, só seria eliminada em sociais. Em períodos mais recentes, inclusive, o
1994, com o Plano Real. consumidor de baixa renda passa a ser foco de
As décadas de 1980, e principalmente a de atenção desse tipo de empreendimento, com a
1990, são marcadas pela reestruturação e abertura de unidades em regiões mais periféricas.
concentração no mercado supermercadista. O grupo Atualmente, segundo dados da Associação
Pão de Açúcar volta a liderar o setor depois de Brasileira de Shopping Centers (ABRASCE) - o
profunda crise. Grupos tradicionais como Paes setor conta com 559 shopping centers em
Mendonça e Eldorado são incorporados por outros, e funcionamento, que abrangem 15,237 milhões de m2
novas bandeiras internacionais passam atuar no país, de ABL (área bruta locável). Outros 22
como os grupos Ahold que adquire o Bom Preço, o empreendimentos devem ser inaugurados até o final
grupo Casino que se associa ao Pão de Açúcar, e a de 2017, em um setor que faturou R$ 157,9 bilhões
vinda do gigante Wal Mart em 1995. e empregou mais de 1 milhão de pessoas no Brasil
A década de 1990 marca o surgimento do em 2016 (Associação Brasileira de Shopping
EDI (Electronic Data Interchange), do ECR Centers [ABRASCE], 2017). Em seu início, esses
(Efficient Consumer Response), e dos códigos de empreendimentos concentravam-se principalmente
barra, além de novas categorias de produtos nas capitais brasileiras, porém atualmente observa-
ganharem espaço nas gôndolas como se uma maior interiorização do setor, com a
hortifrutigranjeiros, flores, plantas, pratos prontos, expansão desse modelo se estendendo
material fotográfico, CDs e perfumaria. Surge a principalmente para cidades com menos de 500 mil
internet e o comércio eletrônico, com o surgimento habitantes, refletindo o processo de descentralização
das primeiras lojas virtuais. da economia brasileira. Hoje, cerca de 50% dos
empreendimentos estão concentrados no interior do
Shopping Centers país (ABRASCE, 2017).

O primeiro Shopping Center do Brasil, o O Varejo de Livros


Iguatemi, foi instalado na cidade de São Paulo no
ano de 1966. O surgimento dos shopping centers O comércio de livros no Brasil remonta sua
marca um processo de crescente urbanização da origem aos jesuítas. No Rio de Janeiro, entre os
sociedade brasileira e da entrada da mulher no séculos XVII e XVIII, o Collegio dos Jesuítas,
mercado de trabalho. O seu início foi marcado pela localizado no Morro do Castelo, foi o primeiro local
desconfiança dos consumidores e por dificuldades a comercializar livros no país. Em sua livraria eram
para os lojistas em função dos baixos volumes de vendidos bíblias e livros religiosos católicos, porém
vendas, tendo inclusive, no caso do Shopping outros tipos de livros só eram acessíveis por
Iguatemi, vários quotistas originais vendido suas encomenda, que podiam demorar meses para chegar.
participações no empreendimento a valores muito Marinheiros portugueses também chegaram a
baixos. Naquela época o comércio de rua era muito desenvolver um mercado paralelo de livros, que
forte nas regiões centrais, e o hábito de comprar traziam de suas viagens à Europa e comercializavam
tecidos e costurar as próprias roupas em lojas como na cidade. Posteriormente surgiu na Rua do Ouvidor,
Casas Pernambucanas, Buri e Riachuelo – entre também no Rio de Janeiro, por iniciativa do francês
outras ainda era comum. A Singer possuía 59 lojas Baptiste-Louis Garnier, a livraria Garnier, que foi
onde vendia suas máquinas de costura espalhadas uma das grandes responsáveis pela difusão da obra
pelo país, além do Mappin, Pirani, Eletroradiobraz e de Machado de Assis (Garcia, 2010).
Isnard, e lojas especializadas em roupas femininas Em São Paulo o comércio de livros tem seu
como a Marcel Modas e a Sensação Modas que ainda início no século XIX, impulsionado pela
eram ativas. Entretanto, características como inauguração da Faculdade de Direito do Largo São
comodidade, segurança, facilidade de Francisco em 1827. A partir dessa época várias
estacionamento acabaram por conquistar o livrarias fizeram história na cidade. Uma das
consumidor, favorecendo o desenvolvimento dos pioneiras foi a Livraria e Tipografia Correio
shopping centers (Varotto, 2006). Paulistano. O Correio Paulistano, primeiro jornal
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periódico de São Paulo e o terceiro do Brasil, foi de produtos (livros, CDs, DVDs, eletroeletrônicos) e
fundado em 1854 por Azevedo Marques, que dentre amplo uso da tecnologia, ao lazer e a cultura, uma
outras iniciativas foi também o incentivador e vez que oferecem espaços para cafés, refeições,
patrocinador oficial da Semana de Arte Moderna de eventos culturais, apresentações de música e teatro,
1922. Seis anos mais tarde, na rua do Rosário, 49 é abrangendo vários tipos de público, do infantil ao
aberta a primeira livraria do Correio Paulistano. adulto. (Varotto, 2014).
Outra importante referência histórica nesse
segmento foi a Livraria Garraux, inaugurada em As Farmácias
1860. Iniciativa do francês Anatole Louis Garraux, a
Casa Garraux, e posteriormente Livraria Garraux, O modelo de farmácia ou drogaria tal como
era bastante refinada e inspirada no requinte é conhecido hoje, como um local ou varejo em que
parisiense. Estabelecida inicialmente na Rua do se comercializam medicamentos prontos para o uso,
Rosário e posteriormente na Rua da Imperatriz, além de outros produtos relacionados à saúde é
possuía tipografia e vendia itens de papelaria, relativamente recente, e no caso brasileiro, começa a
vinhos, licores, caixas de biscoitos importados e era se desenvolver a partir da década de 1930, quando
fornecedora oficial de artigos para o Governo de São ocorre a expansão dos laboratórios nacionais e
Paulo, tendo sido ainda a responsável pela estrangeiros no país.
introdução do envelope de correspondência na Flávio Coelho Edler em sua obra “Boticas
cidade de São Paulo. Outras importantes livrarias e Pharmácias – Uma História Ilustrada da
que se estabeleceram na cidade de São Paulo foram Farmácia no Brasil mostra que até então eram
Teixeira e Irmão (1876) - que teve entre seus clientes comuns as Boticas, e antes ainda, no início da
ilustres Rui Barbosa, Washington Luís, Prestes colônia, as “caixas de botica” (arcas de madeira com
Maia, Érico Veríssimo e Mario Lago -, Gazeau algumas variedades de drogas). Essas caixas de
(1893), Italiana (1894), Magalhães - que botica eram manipuladas pelos cirurgiões-barbeiros,
revolucionou o comércio livreiro no início do século jesuítas e aprendizes de boticário que aportaram por
XX ao estabelecer descontos tabelados e o envio de aqui em companhia dos primeiros colonizadores. De
livros pelo correio -, Brasiliense (1943) e algumas fato, as antigas caixas de botica eram companhia
que ainda permanecem ativas até hoje, como a obrigatória em qualquer expedição pelos sertões, e
Saraiva (1917), Siciliano (1942), Nobel (1943) e presença certa em qualquer engenho, fazenda ou vila
Cultura (1947) (Garcia, 2010). da colônia, servindo para tratar os casos mais
O varejo de livros é um dos segmentos que urgentes (Edler, 2006).
se reinventou no Brasil, principalmente nas últimas A manipulação e a comercialização de
duas décadas. Do conceito de livraria tradicional medicamentos, praticamente desde o descobrimento
com foco exclusivo em livros, passou-se para o e até o princípio do Império, eram feitos
conceito de megastores, com amplo sortimento de regularmente pelos barbeiros. Estes possuíam
produtos, e inspiração no modelo existente na pequenas lojas em que comercializavam “mezinhas”
Europa e Estados Unidos, cujos nomes mais - remédios caseiros -, manipulavam receitas e
conhecidos são a francesa FNAC e a americana aplicavam, alugavam e vendiam sanguessugas - ou
Barnes and Noble. A inauguração da Livraria bichas, como eram conhecidas – para as tradicionais
Saraiva no Shopping Eldorado em São Paulo, em sangrias que eram utilizadas como tratamento para
1996, foi a largada para um novo modelo de varejo diversos tipos de doenças no passado. A atividade e
livreiro no país. A loja trazia além de livros e CDs, as práticas de cura eram controladas na colônia por
toda uma ambientação, além de terminais de meio da regulamentação sanitária de Portugal,
consulta e atendimento especializado. No ano datada de um Regimento de 1521, que atribuía ao
seguinte foi inaugurada a Ática Shopping Cultural, físico-mor e aos seus delegados ou juízes-
uma iniciativa das editoras Ática e Scipione, que comissários a responsabilidade pela fiscalização da
seria a maior livraria do Brasil, com uma oferta de medicina e das artes de cura na colônia.
250.000 livros e mais de 100.000 Cds, e que seria Fiscalizavam as atividades de físicos, cirurgiões,
referência em toda a América Latina. O barbeiros, sangradores e parteiras, assim como das
empreendimento foi adquirido em 1998 pelo grupo boticas e do comércio de drogas, inspecionando
francês Pinault-Printemps-Redoute, proprietário da periodicamente o estado de conservação dos locais e
rede de lojas Fnac, principal distribuidora de dos medicamentos comercializados, e também os
produtos culturais e de lazer da França, marcando o preços praticados. Entretanto, nos tempos coloniais
ingresso desse importante grupo no país. (Sá, 2009) existiram poucas boticas, de forma que os jesuítas e
O surgimento das megastores marca uma os hospitais militares, muitas vezes, eram as únicas
importante evolução no varejo de livros, provocando alternativas com que vilas e cidades podiam contar
mudanças no mercado editorial e nos hábitos de (Pires, 1988).
consumo. Este modelo passa a agregar à diversidade
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No final do século XVII as boticas da médicos, fazem com que estes, por meio de seus
colônia começaram a se assemelhar às boticas receituários e prescrições, passem a atuar como
encontradas na metrópole. Estabelecidas nas ruas mediadores entre os consumidores e os
principais das vilas e cidades, em geral serviam medicamentos fabricados pelos laboratórios,
como moradia e comércio. Os fundos do diminuindo fortemente o espaço para a manipulação
estabelecimento normalmente serviam de moradia de fórmulas.
para o boticário e sua família, enquanto o comércio Esta nova realidade abriu espaço para um
propriamente dito ocupava outros dois outro perfil de farmácia, que passará a trabalhar mais
compartimentos; O primeiro – a loja – exibia as intensamente com a comercialização do que com a
drogas à venda para o público. Nesse espaço havia manipulação de medicamentos, nicho específico de
invariavelmente prateleiras repletas de boiões de mercado que tenderá a se restringir às farmácias de
louça (frascos de boca larga), potes decorados com manipulação. Começam então a surgir as primeiras
pomadas e unguentos, frascos e jarros de vidro com redes de farmácias, muitas atuantes até hoje no
xaropes e soluções. O outro espaço era ocupado pelo mercado, como a Drogasil, que surgiu da fusão da
laboratório da botica, repleto de mesas, potes, Drogaria Bráulio e da Drogaria Brasil em 1935, a
frascos, balança, medidas de peso, copos graduados, Droga Raia que inaugurou a sua primeira loja em
cálices, bastões de louça, almofarizes (pequenos 1905, a Drogaria São Paulo que nasceu na Praça da
vasos para amassar ou triturar substâncias), Sé em São Paulo em 1943, a Drogaria Pacheco, que
alambiques, destiladores e cadinhos. Não deveria teve sua primeira unidade aberta por José Magalhães
faltar também um exemplar da Polyanthea Pacheco em 1892, no Rio de Janeiro e a Pharmacia
Medicinal de João Curvo Semedo, para a consulta e Onofre (atual Drogaria Onofre) que abriu sua
o auxílio na preparação das receitas caseiras primeira loja em 1925 em Nilópolis, na Baixada
indicadas pelos físicos, cirurgiões, padres ou Fluminense.
curandeiros (Edler, 2006). O ambiente de loja também se altera
No período do Império se iniciou o processo profundamente. Diminui a predominância dos
de diferenciação entre os boticários e os balcões e prateleiras que separam o público dos
farmacêuticos. Aos boticários acabou ficando a medicamentos e se intensifica a presença de
designação do prático ou de “curador”, ou ainda gôndolas que fortalecem o autosserviço,
daquele que comercializava remédios “a retalho” principalmente pela oferta de medicamentos isentos
sem direito para tal, entendendo-se direito nesse de receita médica e pela infinidade de itens de beleza
caso, como formação regular em curso de farmácia. e higiene que passam cada vez mais a fazer parte do
A designação boticário, entretanto, continuou a ser sortimento das farmácias e drogarias, acentuando a
utilizada regularmente pela população para designar característica de conveniência desses
os farmacêuticos diplomados, sendo bastante estabelecimentos comerciais, reforçados por
comuns os antigos proprietários de boticas pagarem facilidades como atendimento 24 horas, amplo
a farmacêuticos diplomados pelo uso de seus nomes sortimento de medicamentos com e sem receituário,
nos estabelecimentos, prática, aliás, bastante produtos de beleza e higiene pessoal, além de
utilizada até recentemente no país. Durante esse agregar em alguns casos serviços como o de
período as boticas ou farmácias funcionavam pagamento de contas e correspondente bancário
também como locais de assistência médica e (Varotto, 2014).
farmacêutica, prescrevendo, manipulando e mesmo Outra onda de mudanças foi desencadeada
aplicando procedimentos terapêuticos como recentemente pela fusão de algumas das maiores
sangrias, ventosas, lancetas e sanguessugas. Uma redes nacionais de farmácias. Um setor de varejo que
sobrevivente desse período é a Casa Granado, ainda era bastante pulverizado no Brasil começa a
fundada em 1870 pelo português José Antônio trilhar um caminho rumo à concentração. Em 2010 a
Coxito Granado. A farmácia era uma das Drogaria São Paulo adquiriu a rede Drogão, e em
fornecedoras oficiais da Corte e desenvolveu 2011 o mesmo grupo se fundiu com a Drogaria
produtos que existem até os dias atuais, como o Pacheco, formando um dos maiores grupos do setor.
Polvilho Antisséptico Granado. Também em 2011 a Drogasil se uniu à Droga Raia,
Com o início da industrialização, o formando o maior grupo de varejo de medicamentos
surgimento de importantes laboratórios nacionais e a do Brasil, e em 2013 o grupo norte-americano CVS,
chegada de laboratórios estrangeiros no Brasil há maior varejista de medicamentos dos Estados
uma revolução no segmento farmacêutico. A partir Unidos, adquiriu o controle da Drogaria Onofre,
dessa época os medicamentos prontos passam a fincando pela primeira vez a bandeira de varejistas
dominar o mercado e os médicos passam a ser os estrangeiros no segmento de farmácias brasileiro
principais responsáveis pela ampliação do consumo (Varotto, 2014).
de produtos farmacêuticos. Os laboratórios, por meio
da propaganda de seus produtos diretamente para os
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O Comércio Eletrônico sua organização tradicional (Pantano, 2014). Foi


assim quando da passagem da venda a balcão para o
O termo “internet” é a junção de autosserviço, por exemplo. Um importante desafio
“interconnected” e “network”, que significam rede atual para o setor relaciona-se ao uso cada vez mais
interconectada e que dão nome à rede mundial de intenso da tecnologia no ambiente de venda, e as
computadores. A internet surge em 1957 no contexto suas consequências no âmbito operacional e nos
da Guerra Fria, com a criação nos Estados Unidos da hábitos de compra dos consumidores (Parente,
Advanced Research Projects Agency – ARPA. 2014).
Dentre os vários projetos empreendidos por essa As inovações tecnológicas se expandem
agência, destacou-se o ARPANET de 1969, que com grande rapidez no varejo, principalmente por
interligou os computadores de quatro importantes meio de tecnologias que aumentam a interatividade
universidades norte-americanas (UCLA, Stanford, e que facilitam por um lado o processo de compra
UCSB e Utah). A partir daí o sistema foi se pelo consumidor, e por outro lado viabilizam a coleta
aprimorando e se expandindo para outras de dados e informações de mercado em tempo real
universidades e órgãos públicos, até que em 1989 a por parte dos varejistas (Pantano, 2014; Walter,
ARPANET foi substituída pela NSFNET que Battiston, Yildirim, & Schweitzer, 2012). Sob a ótica
começou a incluir outras redes não acadêmicas operacional o uso de tecnologias da informação e de
espalhadas ao redor do mundo, ampliando o uso e as artefatos para coleta de dados (ex. etiquetas
finalidades da rede, incluindo a atividade comercial eletrônicas, gondolas informatizadas, Rádio
(Limeira, 2007). No Brasil a internet surge Frequência Identificada – RFID, entre outros) já não
efetivamente no ano de 1989 com a criação da Rede são novidade, porém o uso sistemático dessas
Nacional de Pesquisa – RNP, vinculada ao informações para a tomada de decisão e geração de
Ministério da Ciência e Tecnologia, e em 1995 teve conhecimento tem potencial para alterar de forma
início o uso comercial da rede no país. O uso dramática o cenário varejista (Pantano, 2016).
comercial da internet, ou e-commerce, vem se O uso de dispositivos eletrônicos pessoais
expandindo com rapidez desde o ano 2000 (mobile) tem possibilitado a convergência entre o
(Carvalho, 2006). varejo físico e o virtual, levando à mudança de um
O varejo virtual no Brasil surge em meados modelo multichannel para o omni-channel
da década de 1990. Em 1996 é criada a Booknet, uma (Piotrowicz & Cuthbertson, 2014). O conceito de
das primeiras lojas virtuais do país, que se propunha omnichannel está relacionado à livre movimentação
a comercializar 120 mil títulos de livros brasileiros e dos consumidores do varejo online para a loja física
mais de 4 milhões de títulos estrangeiros, além de dentro de um único processo de transação, sendo
CDs e vídeos. A empresa recebeu aportes de vários percebido como uma evolução do modelo
grupos de investidores e, em 1999, acabou sendo multichannel (Piotrowicz & Cuthbertson, 2014), e
adquirida pela também virtual Submarino.com. Uma marca o surgimento de um consumidor que realiza
peculiaridade da Submarino, assim como da suas compras em diversos canais, mas que exige
Booknet, é que se tratavam de empresas totalmente conectividade e convergência entre eles, ampliando
virtuais, ou seja, existiam somente na internet, sem suas opções e a sua experiência de consumo
qualquer loja física. Naquela mesma época, no ano (Ribeiro, 2017; Santos, 2016). De fato, os gastos
2000, surge outro importante varejista virtual no com a implantação de soluções mobile no mundo
Brasil, a Americanas.com, que diferente do passaram de US$ 4,0 bi em 2009 para US$ 36,0 Bi
Submarino, possuía uma marca tradicional e quase em 2015(Statista, 2015), e no Brasil, até o final de
centenária, muito bem estabelecida no varejo 2018, 45% do trafego via internet deve ser feito via
brasileiro. Criada como uma controlada da varejista smartphones(Adobe, 2017).
Lojas Americanas, a Americanas.com tornou-se na No ambiente de loja física a adoção de
época a maior loja virtual brasileira, e adotava uma novas tecnologias tem sido utilizada para a atração
estratégia multicanal, ou seja, realizava vendas tanto de consumidores e também na criação de processos
pelas lojas físicas quanto pela loja virtual. Em 2006 e atendimento mais eficientes. Por meio da
a Americanas.com viria a se fundir com a integração de tecnologias “self-service” (SSTs), –
Submarino.com formando a B2W, a maior varejista como por exemplo self-scanning e self-checkout – os
virtual do Brasil, e uma das maiores do mundo. No processos no varejo tem se tornado mais eficientes,
final de 2006 a B2W já alcançava a expressiva marca e contribuído para a redução de filas e reclamações
de R$ 1,6 bilhão de faturamento (Felipini, 2009). dos clientes, melhorando a experiência de compra
(Moorhouse, tom Dieck, & Jung, 2017).
Tendências A aplicação de tecnologias de caráter
disruptivo como a Realidade Virtual por meio dos
O varejo é frequentemente alvo de Head Mounted Displays (HMDs), como Oculus Rift,
processos disruptivos de inovação que modificam a HTC Vive, and Samsung GearVR (Rosedale, 2017),
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que inicialmente desenvolvidos para aplicações em pesquisadores no estudo histórico das organizações
aeronaves militares(D’Angelo, 2015), surgem como e sua gestão (Sauerbronn & Faria, 2006), e descreve
uma nova possibilidade de comunicação em nível com base na historiografia tradicional brasileira a
mundial, impactando significativamente setores evolução do varejo no Brasil, tendo como espelho a
como o de educação, varejo e turismo (Rosedale, própria evolução histórica do país.
2017). No Brasil a Via Varejo foi o primeiro Além disso, lança luzes sobre aspectos
varejista a utilizar a Realidade Virtual, com a pouco conhecidos do varejo no Brasil, evidenciando
implantação do modelo em uma loja da marca Ponto a evolução de alguns setores varejistas muito
Frio em janeiro de 2018, e previsão de instalação de relevantes, como o de supermercados, shopping
outras 70 lojas no mesmo formato até o final do ano centers, livrarias e farmácias, trazendo ainda
(Vaz, 2018). importantes informações sobre a ambientação de
Outra tecnologia emergente e que vem loja, merchandising e o advento do comércio
aprofundando a experiência de compra e eletrônico. Finalmente, mostra o impacto disruptivo
aumentando a interatividade dos consumidores com da aplicação das novas tecnologias no varejo
produtos e marcas é a realidade aumentada. A brasileiro e mundial, e as consequências dessa
realidade aumentada permite que os consumidores, revolução para a sobrevivência e reinvenção das
predominantemente por meio do mobile, ampliem as lojas físicas.
possibilidades de interação dentro da loja para além Como se trata de um estudo de caráter
da já corriqueira leitura de códigos de barra e histórico, baseado em dados exclusivamente
consultas à internet para comparação de preços e bibliográficos, há o risco de que a escolha das fontes
produtos durante o processo de compra. Ela permite traga algum tipo de viés sobre os acontecimentos
o aprimoramento da experiência de compra com a narrados, tendo em vista, principalmente, o grande
inserção de objetos virtuais no ambiente físico, espaço temporal abrangido pelo estudo, e que
possibilitando ao cliente o acesso a mais e melhores comporta, evidentemente, interpretações de matizes
informações, de maneira simples e de um modo não diversas. Ainda, pelo caráter descritivo e pela
disponível nas lojas tradicionais e mesmo na internet relativa escassez de literatura sobre o tema no Brasil,
(Moorhouse et al., 2017). novos estudos que avaliem em profundidade causas
O impacto das novas tecnologias no hábito e consequências de eventos específicos descritos
de consumo do consumidor brasileiro, em especial neste artigo mereceriam no futuro maior atenção dos
para as lojas físicas, é bastante grande. No Brasil, pesquisadores da área.
assim como na maior parte do mundo, os Fundamentalmente, fica evidente no
consumidores querem ter a liberdade de transitar por estudo, que o varejo é um dos setores mais dinâmicos
diferentes canais, mas ainda querem continuar a ver, da economia brasileira e que reflete as mudanças
sentir, tocar e testar os produtos, bem como sentir a econômicas, sociais e de comportamento por que
atmosfera da loja. A configuração da loja do futuro passou a sociedade brasileira ao longo dos anos. Na
ainda não está bem claro, mas percebe-se a tendência retrospectiva da evolução do varejo no Brasil,
do varejo físico se transformar em um tipo de ‘hub’ evidencia-se que o momento atual é especialmente
que integrará todas as tecnologias e canais de vendas desafiador para o setor, demandando um grande
(Piotrowicz & Cuthbertson, 2014). esforço de reflexão por parte dos pesquisadores e
gestores da área.
Considerações Finais

Este artigo faz uma série de contribuições. REFERÊNCIAS


Primeiro, preenche uma lacuna na literatura de
marketing sobre a história do varejo no Brasil, Associação Brasileira de Shopping Centers. (2017).
fazendo um resgate de sua evolução sob uma Evolução do Setor. Recuperado em 30 de abril de
perspectiva histórica. Na descrição dessa evolução, 2017, de
ressalta os momentos mais relevantes e evidencia http://abrasce.com.br/monitoramento/evolucao-do-
como as mudanças que impactaram o varejo refletem setor
as mudanças da sociedade brasileira em seus hábitos,
questões sociais, políticas e econômicas. Em Adobe. (2017). Mobile World Congress - Adobe
segundo lugar, amplia o repertório de estudos de Digital Insights. WD info.
caráter histórico na literatura brasileira em
marketing, corroborando e contribuindo para o Alencastro, L. F. de. (1997). Vida privada e ordem
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