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Soneto XIII 

Olavo Bilac, do livro V


​ ia Láctea 
 
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo 
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, 
Que, para ouvi-las, muita vez desperto 
E ​abro as janelas​, pálido de espanto… 
 
E conversamos toda a noite, enquanto 
A ​via-láctea​, como um ​pálio aberto​, 
Cintila​. E, ao v
​ ir do sol​, saudoso e em pranto, 
Inda as procuro pelo c​ éu deserto​. 
 
Direis agora: "Tresloucado amigo! 
Que conversas com elas? Que sentido 
Tem o que dizem, quando estão contigo?" 
 
E eu vos direi: "Amai para entendê-las! 
Pois só quem ama pode ter ouvido 
Capaz de ouvir e de entender estrelas." 
 
Espera-se  que  os  alunos  percebam  que,  além  da  aliteração  (cintila/sol/saudoso/céu) 
presente  nos  versos,  o  que  para  o  eu  lírico  é  o  som  das  estrelas,  o  soneto  também 
trabalha  com  ideias  relacionadas  a  imagens:  “via-láctea  cintila”;  “pálio  [manto,  capa] 
aberto”; “céu deserto”, “vir do sol” (amanhecer). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Soneto XII 
William Shakespeare  
Tradução de Ivo Barroso 
 
Quando a ​hora dobra em triste e tardo toque 
E em n​ oite horrenda vejo escoar-se o dia​, 
Quando vejo ​esvair-se a violeta​, ou que 
A prata a preta têmpora assedia​; 
 
Quando vejo ​sem folha o tronco antigo 
Que ao rebanho estendia a sombra franca 
E ​em feixe atado agora o verde trigo 
Seguir no carro, a b​ arba hirsuta e branca​; 
 
Sobre tua ​beleza​ então questiono 
Que há de sofrer do Tempo a dura prova​, 
Pois as graças do mundo em abandono 
Morrem ao ver nascendo a graça nova. 
 
Contra a foice do Tempo é vão combate​, 
Salvo a prole, que o enfrenta se te abate. 

 
Espera-se  que  os  alunos percebam o passar do tempo, ideia reforçada no verso “Contra 
a  foice  do  Tempo  é  vão  combate”.  Para  construir  o  sentido  do  soneto,  é  usado  um 
conjunto  de  palavras  que  contribuem  para  que  o  leitor  visualize  o  passar  do  tempo: “A 
prata  a  preta  têmpora  assedia”  -  cabelos  ficando  grisalhos;  “barba  hirsuta  e  branca” - a 
barba  agora  farta  e  completamente  branca;  “sem  folha  o  antigo  tronco”  -  a  árvore  que 
antes  tinha  uma  sombra  que  abrigava  o  rebanho,  não  tem  mais  folhas;  O  trigo,  antes 
verde  no  campo,  já  se  encontra  colhido  e  amarrado  em  feixes.  Da  mesma  forma  o 
tempo  atua  sobre  a  beleza  da  amada  e  a  perpetuação  desta  acontece  nos  filhos,  que 
são uma continuação, enfrentando assim “a foice do Tempo”.   
Rio verde 
Lenilde Freitas, do livro A
​ Corça no Campo​ (2010)  
 
 
Para melhor compor as m ​ adrugadas  
também os ​galos acordavam​ cedo.  
Ov​ ento a​ o passar pela varanda 
contava à folhagem um segredo​.  
A hora era imensa e tão pouca  
ó rastro da manhã que já desanda  
no tempo, despetalando sim cada  
palavra frágil flor de nossa boca. 
Os ​colibris voavam ​bailarinos  
sobre as sépalas verdes do futuro. 
A brisa prenuncia assim os ​finos  
dedos da chuva fria​ sobre o muro.  
Então ​o relógio para, a vida zera​. 
Desfaz-se a neblina de quimera. 
 
 
Espera-se  que  os  alunos  percebam  que  o  poema  constrói  gradativamente  o  evoluir  da 
madrugada  para  o  amanhecer  (“A  hora  era  imensa  e  tão  pouca”).  Lenilde  inclui  vários 
elementos  para  compor  sua  imagem  poética  da  madrugada:  galos,  vento,  colibris, 
sépalas, chuva. 

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