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ARTIGO

EMPREGABILIDADE
DOS PSICÓLOGOS:
FACTOS E MITOS
VÍTOR COELHO E ANA AMARO | OBSERVATÓRIO DE EMPREGABILIDADE DA OPP

Durante os últimos anos, periodicamente, têm sido apresentados dados


contrastantes sobre os índices de empregabilidade e de desemprego en-
tre os psicólogos. Alguns destes dados eram bastante alarmantes, outros
apontavam para altos níveis de empregabilidade entre os psicólogos. De
forma a esclarecer a confusão inerente aos diferentes resultados apresen-
tados, a Ordem dos Psicólogos Portugueses sentiu a necessidade de colec-
tar, analisar e apresentar os dados relativamente à situação de empregabi-
lidade e da situação de desemprego entre os psicólogos.
PSIS21 Efectivamente, os dados mais recentes
fornecidos pelo Instituto de Emprego e
casse a percentagem de indivíduos que,
tendo obtido formação académica em
Formação Profissional apontam para um Psicologia, estão a exercer Psicologia em
forte crescimento do desemprego entre Portugal enquadrados na Lei 57/2008;
os formados em Psicologia. De Setem- por outro, a percentagem de indivíduos
bro de 2009 a Janeiro de 2011, o número que, tendo recebido formação académica
de desempregados entre os formandos em Psicologia em Portugal, estão inscri-
em Psicologia aumentou 26,8% (de 2353 tos como desempregados no Instituto de
a 2985). Em Janeiro de 2011, entre os Emprego e Formação Profissional.
48522 desempregados com o ensino su-
perior completo, existiam 2985 formados
em Psicologia.
1) RÁCIO DE PSICÓLOGOS
De acordo com o 8º Relatório do Gabinete COM CÉDULAS
de Planeamento, Estratégia, Avaliação e PROFISSIONAIS ACTIVAS
Relações Internacionais (GPEARI) sobre
procura de emprego dos diplomados com Este índice reflecte o rácio de psicólogos
habilitação superior (publicado em Mar- a exercer através das Cédulas Profissio-
ço de 2011), a área de estudo na qual os nais activas (conforme o estabelecido na
psicólogos estão inseridos (“Ciências so- Lei 57/2008) face ao número de licencia-
ciais e do comportamento”) era a 2ª área dos formados em cada estabelecimento
com maior número de registos de de- de ensino que ministrou a licenciatura
sempregados com habilitação superior, de Psicologia. De forma a evitar as dis-
registando 13% de desempregados (um torções provocadas pelo artigo 84º da Lei
total de 5 585 registos), sendo ultrapas- 57/2008 (que estabelece o regime tran-
sada unicamente pela área de “Ciências sitório de dispensa de realização de es-
empresariais” que registava um nível de tágio profissional da OPP), apenas foram
desemprego de 20% (um total de 8 562 contabilizados os formados até Junho de
registos). A área de “Ciências sociais e 2007. A identificação de cédulas activas
do comportamento” era, à mesma data, foi realizada em final de Outubro de 2011.
a área com mais inscritos na situação
de procura de 1.º emprego, à frente de Para apresentar os dados com maior cla-
“Ciências empresariais”, “Arquitectura e reza, optámos por realizar tabelas inde-
construção”. Esta era, de resto, uma si- pendentes para cursos de Licenciatura
tuação que já se prolongava desde Junho em Psicologia (ou Psicologia Aplicada) e
de 2009. para cursos de Licenciatura específicos
(Psicologia Clínica ou Psicologia Organi-
Para a análise que realizámos, optámos zacional). Os cursos estão organizados
por considerar índices de natureza diver- de forma decrescente em função do nú-
sa: por um lado, um índice que identifi- mero de licenciados até Junho de 2007.
Não foram analisados os cursos do Ins-
tituto Superior de Psicologia Aplicada
(Beja), da Universidade Independente e
FORMADOS da Universidade Internacional da Figuei-
LICENCIATURAS GERAIS EFECTIVOS RÁCIO
ATÉ 7/2007
ra da Foz, visto estes cursos já terem sido
Instituto Superior de Psicologia Aplicada 2259 4334 52,1
encerrados. Não foram também incluí-
Faculdade de Psicologia – Universidade de Lisboa 1430 2392 59,8
dos um conjunto de cursos por não terem
Universidade Lusófona 1180 2286 51,6 chegado a formar licenciados em Psico-
Faculdade de Psicologia e C.E. – Universidade de Coimbra 1318 1975 66,7 logia, no formato Pré-Bolonha, nas datas
Faculdade de Psicologia e C.E. – Universidade do Porto 1239 1816 68,2 consideradas para a análise. Nesta situa-
Instituto Superior da Maia 645 1216 53,0 ção incluem-se os cursos da Universida-
Instituto de Educação e Psicologia - Universidade do Minho 600 850 70,6 de da Madeira, de Trás-os-Montes e Alto
Universidade Lusíada (Porto) 124 677 18,3 Douro e do Instituto Superior de Ciências
Universidade Fernando Pessoa 251 446 56,3 da Saúde – Egas Moniz.
Instituto Piaget – Viseu 127 276 46,0
Universidade do Algarve 92 181 50,8
Universidade Lusíada (Lisboa) 52 161 32,3 TABELA 1.1 › Licenciados em Psicologia pré-Bolonha
Universidade de Évora 102 152 67,1 a exercer como psicólogos em Outubro de 2011, por
instituição
Instituto Piaget – Almada 39 105 37,1
Universidade da Beira Interior 29 64 45,3
Instituto Miguel Torga 18 64 28,1
Universidade Autónoma de Lisboa 18 55 32,7
TOTAL 9523 17070 55,8
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Entre os cursos gerais, 55,8% dos forma- FORMADOS


LICENCIATURAS ESPECÍFICAS EFECTIVOS RÁCIO
dos encontram-se com cédula profissio- ATÉ 7/2007

nal activa. Não se encontram entre estes: 0697 – Psicologia Social e das Organizações ou 0704 – Psicologia Organizacional
os que não estão a exercer Psicologia; os
que a estão exercer, mas no estrangeiro; ISCTE (0697) 91 360 25,3
os que têm a cédula profissional inactiva. Inst. Superior de Línguas e Administração (Leiria) (0697) 62 180 34,4
Inst. Superior de Línguas e Administração (Bragança) (0704) 57 163 35,0
Os dados parecem salientar um padrão Inst. Superior de Línguas e Administração (Gaia) (0704) 12 65 18,5
persistente em que as instituições que
0701 - Psicologia Clínica
têm o curso de Psicologia há mais tem-
po (independentemente do Ensino ser Instituto Superior de Ciências da Saúde – Norte 254 389 65,3
Público ou Privado ou Cooperativo), são Instituto Superior D. Afonso III 141 242 58,3
as que apresentam os melhores resulta- Instituto Superior de Ciências da Saúde – Sul 102 190 53,7
dos. Entre os cursos do Ensino Público, TOTAL 719 1589 45,4
destacam-se as Faculdade de Psicolo-
TABELA 1.2 › Licenciados em licenciaturas específicas pré-Bolonha a exercer como psicólogos em Outubro de 2011, por instituição
gia e de Ciências da Educação; entre os
cursos do Ensino Privado ou Cooperativo,
também os que existem há mais tempo
(como o ISPA) apresentam as maiores
INSCRITOS FORMADOS
performances. No entanto, existe uma INSTITUIÇÃO DE ENSINO RÁCIO
NO IEFP ATÉ 2009
diferença consoante o regime de Ensino, ISPA 176 4649 3,8
com os licenciados em cursos do Ensino FP – UL 90 2525 3,6
Público a apresentarem 64,7% de Cédu- Universidade Lusófona 2321
166 7,0
las Profissionais activas contra os 48,9%
FPCE – UC 61 1934 3,2
dos licenciados de Cursos do Ensino Pri-
FPCE – UP 80 1874 4,3
vado ou Cooperativo.
ISMAI 107 1307 8,2

De uma forma geral os licenciados em Universidade do Minho 48 993 4,8

Psicologia e Psicologia Aplicada apresen- Universidade Lusíada – Porto 83 777 10,7


tam um nível mais alto de Cédulas Pro- Universidade Fernando Pessoa 42 369 11,4
fissionais activas (55,8% contra 45,4%). Instituto Piaget – Viseu 36 328 11,0
No entanto, as licenciaturas específicas Universidade do Algarve 30 307 9,8
apresentam resultados muito diferen- Universidade de Évora 23 232 9,9
ciados consoante a área da licenciatura: Universidade Lusíada – Lisboa 22 194 11,3
28,9% para as licenciaturas da área de Instituto Piaget – Almada 10 157 6,4
Organizacional e 60,5% para as licencia- Universidade da Beira Interior 139
14 10,1
turas da área Clínica.
Instituto Miguel Torga 15 98 15,3
Universidade Autónoma 14 54 25,9
TOTAL 1017 18258 5,5

TABELA 2.1 › Licenciados em Psicologia pré-Bolonha Inscritos como desempregados no IEFP em Julho de 2010, por instituição
2) NÚMERO DE FORMADOS
EM PSICOLOGIA INSCRITOS
COMO DESEMPREGADOS NO
CENTRO DE EMPREGO

Este índice reflecte o número de forma- de análise sobre os cursos terminados Podemos concluir que o rácio de pes-
dos em Psicologia inscritos como de- pós-Bolonha. soas que, detendo uma licenciatura em
sempregados no Instituto de Emprego Psicologia (ou Psicologia Aplicada), se
e Formação Profissional, em Julho de Para apresentar os dados com maior cla- encontra inscrita como desempregada
2010 (conforme o publicado pelo GPEARI reza optámos por realizar tabelas inde- num Centro de Emprego, não é muito
no seu relatório de Março de 2011), face pendentes para cursos de Licenciatura elevado (5,5). No entanto, será necessá-
ao número de licenciados formados em Pré-Bolonha em Psicologia (ou Psicologia rio contemplar três factores que podem
cada estabelecimento de ensino até ao Aplicada) na tabela 2.1 e para cursos de enquadrar estes resultados: 1) Um pro-
final de Março de 2010. A data de corte foi Licenciatura específicos (Psicologia Clíni- blema que afecta muitos psicólogos é o
escolhida em função do tempo necessá- ca ou Psicologia Organizacional) na tabela subemprego e não o desemprego; 2) Os
rio para a realização do Estágio Profissio- 2.2. No caso dos Mestrados pós-Bolonha cursos que apresentam os melhores ín-
nal da Ordem dos Psicólogos Portugue- foram separados os Mestrados Integrados dices são cursos estabelecidos há mais
ses e apenas tem relevância nas tabelas (tabela 3.1) dos Mestrados de 2º ciclo. tempo, logo os seus formados tiveram
PSIS21

mais tempo para encontrar trabalho, INSCRITOS FORMADOS


INSTITUIÇÃO DE ENSINO RÁCIO
mas também potencialmente mais tem- NO IEFP ATÉ 2009

po para deixar a profissão; e 3) face aos 0697 – Psicologia Social e das Organizações;
dados reportados na tabela 1 podemos 0696 – Psicologia Social e do Trabalho ou 0704 – Psicologia Organizacional
concluir que isso se deve, essencialmen-
ISCTE (0697) 13 381 3,4
te, a um número elevado de pessoas que
ISLA – Leiria (0697) 27 230 11,7
obtém formação superior em Psicologia
ISLA – Bragança (0704) 23 188 12,2
e não chega a entrar na profissão de psi-
cólogo. ISLA – Gaia (0704) 6 76 7,9
Universidade Fernando Pessoa (0696) 24 229 10,5
É também de salientar que existe uma 0701 – Psicologia Clínica
diferença (mas não muito grande) entre
as percentagens de formados em cursos ISCS – N 29 429 6,8

do Ensino Público e os formados em cur- Instituto D. Afonso III 23 314 7,3


sos do Ensino Privado ou Cooperativo (4,3 ISCS – S 8 96 8,3
versus 6,5). No entanto, não é possível TOTAL 153 1943 7,8
determinar se essa diferença não pode TABELA 2.2 › Licenciados em Psicologia em licenciaturas específicas pré-Bolonha Inscritos como desempregados no IEFP
ser explicada pelo facto dos Cursos do em Julho de 2010, por instituição
Ensino Público serem, em média, mais
antigos do que os do Ensino Privado ou
Cooperativo.
INSCRITOS FORMADOS
INSTITUIÇÃO DE ENSINO / FORMAÇÃO GERAL RÁCIO
NO IEFP ATÉ 3/2010
As licenciaturas específicas apresentam
uma maior percentagem de licenciados 9555 – Mestrado Integrado
inscritos como desempregados no IEFP
FP – UL 33 215 15,3
(7,8% contra 5,5%). Dentro das licenciatu-
ras específicas, as da área de Psicologia FPCE – UC 46 362 12,7

Organizacional apresentam uma percen- FPCE – UP 31 206 15,0


tagem superior de inscritos (8,4%) face às Universidade do Minho 20 186 10,8
licenciaturas de Psicologia Clínica (7,1%). ISPA 58 405 14,3
Paradoxalmente, é uma licenciatura de
9463 – 2º Ciclo em Psicologia
Psicologia Social e Organizacional (ISCTE)
que se destaca com a percentagem mais Universidade da Beira Interior 10 30 33,3
baixa (3,4%) de inscritos. Universidade Católica – Porto 17 52 32,7
Fernando Pessoa 9 34 26,4
TOTAL 224 1490 15,0

2.1) NÚMERO DE MESTRES


EM PSICOLOGIA INSCRITOS
COMO DESEMPREGADOS NO
CENTRO DE EMPREGO

Uma outra perspectiva é-nos dada pela Relativamente à formação geral, identi-
análise dos graduados Pós-Bolonha, que ficamos que 15% dos formados estavam
permite uma indicação mais recente so- inscritos como desempregados no IEFP,
bre os inscritos como desempregados. em Julho de 2010. É de salientar, no en-
Nos Mestrados Integrados foram retira- tanto, que existe uma diferença muito
dos os alunos que já foram anteriormen- saliente entre os 13,7% de formados pro-
te considerados (na análise das licencia- venientes de um Mestrado Integrado e os
turas), ou seja, os alunos que tendo uma 31% de desempregados provenientes de
licenciatura pré-Bolonha, obtiveram pos- uma formação de 2º ciclo geral em Psi-
teriormente um Mestrado Integrado pós- cologia.
-Bolonha. Não foram consideradas para
análise instituições que só começaram
a ter alunos formados em 2010 ou que
tivessem formado menos de 10 mestres.
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Perante os dados disponíveis podemos FORMADOS


FORMAÇÃO COM UM 2º CICLO ESPECÍFICO EFECTIVOS RÁCIO
concluir que uma formação de 2º ciclo ATÉ 3/2010
específico se traduz numa maior per-
9622 – Psicologia Clínica; 6386 – Psicologia Clínica e da Saúde; 9541 – Psicoterapias
centagem de formados inscritos como
desempregados no IEFP: 20,8% contra Universidade Lusófona (9541) 12 71 16,9
15% dos Cursos de Formação Geral. No ISMAI (6386) 12 53 22,6
entanto, as formações específicas apre- ISCS – N (6386) 5 13 38,5
sentam desempenhos muito diferentes D. Afonso III (9622) 2 7 28,5
consoante a área de pré-especialização Instituto Miguel Torga (9622) 16 41 39,0
do 2º ciclo de estudo (22% nos cursos da
6409 – Psicologia da Justiça; M067 – Psicologia Forense e Criminal;
área de Psicologia da Justiça ou Forense,
9377-Psicologia Forense e da Exclusão Social
25,4% nos cursos de Psicologia Clínica).
Universidade Lusófona (9377) 6 40 15,0
É de realçar que o curso do ISCTE apre- ISMAI (6409) 5 17 38,4
senta neste índice um resultado que con- ISCS – Egas Moniz (M067) 4 11 36,4
trasta com os outros 2º ciclos específicos.
9325 – Psicologia Social e das Organizações
Este desempenho pode ser específico da
instituição ou traduzir um menor nível de ISCTE 5 81 6,2
inscritos como desempregados no IEFP TOTAL 67 324 20,8
entre os formados nos 2º ciclos de Psico-
logia Social e Organizacional. No entanto,
para podermos aprofundar esta análise
precisaríamos de analisar o desempenho
de outros cursos na mesma área, e esses
dados apenas estarão disponíveis no final
deste ano.

“Perante este cenário temos de questionar a pertinência da existência


de um número tão elevado de instituições de formação universitária em
Psicologia em Portugal.”

ANÁLISE GLOBAL

Relativamente aos níveis de empregabi- Entre as licenciaturas pré-Bolonha, as li- No entanto, entre os formandos mais re-
lidade parece existir uma vantagem dos cenciaturas em Psicologia (ou Psicologia centes, o nível de inscritos como desem-
cursos com mais tempo de existência. Aplicada) apresentam melhores níveis de pregados é equivalente (mesmo um pou-
Isto traduz não só o maior tempo que empregabilidade e mais baixos índices de co superior) à média nacional. Ou seja,
tiveram para a obtenção de postos de inscritos como desempregados no IEFP não parece existir uma vantagem compe-
trabalho, mas também a criação de re- relativamente às licenciaturas específi- titiva de uma pessoa habilitada com um
des que tendem a favorecer os formados cas (a excepção é o ISCTE relativamente Mestrado em Psicologia para a obtenção
mais recentemente nestas instituições. ao nível de inscritos como desemprega- de emprego face à população geral. Pe-
dos no IEFP). Também os Mestrados In- rante este cenário temos de questionar a
tegrados apresentam menores percenta- pertinência da existência de um número
gens de inscritos como desempregados tão elevado de instituições de formação
no IEFP do que os mestrados de 2º ciclo universitária em Psicologia em Portugal.
ou específicos.

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