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DIVERSIDADE E DEMOCRACIA NO ACESSO À TECNOLOGIA:

As atividades produtivas tem desenvolvido e aplicado novos processos tecnológicos


buscando o aumento de produtividade. Infelizmente notamos um viés de segregação ao
real acesso das mesmas em função de fatores geopolíticos e sociais.

Os fatores geopolíticos estão associados a aptidão geográfica da região para a atividade


econômica em questão e a políticas públicas ou interesses de grupos políticos no
desenvolvimento de atividades em determina região.

Assim, nas regiões Sul e Sudeste, verificamos uma predominância das tecnologias de
produção em massa de bens e serviços. A filosofia por trás destas tecnologias é
diferenciar o produto ou serviço (uma tendência do mercado consumidor atualmente)
porém com custos de produção em massa, ou seja, ter um produto exclusivo com custo
de produção em série.

Na região Centro-Oeste e parte da região Nordeste notamos o predomínio de


tecnologias voltadas à produção agropecuária e extrativismo vegetal e mineral. A
filosofia que norteia estas tecnologias é o máximo aproveitamento dos recursos naturais,
ou seja, tirar o máximo em recursos da terra e dos animais com “mínimo prejuízo” ao
ambiente.

Na região Norte e grande parte da região Nordeste, embora não tenhamos evidenciado
tendencias tecnológicas difundidas, notamos alguns “clusters” tecnológicos voltados
para a manufatura (Zona Franca de Manaus) e extrativismo mineral nos grandes
projetos voltados ao minério de ferro e alumínio.

Assumindo como critério de estratificação a operacionalização do processo, as


tecnologias, independentemente do setor de aplicação, podem ser divididas em dois
grandes grupos:

- TECNOLOGIAS DE EXECUÇÃO: basicamente são algoritmos e equipamentos para


repetição de atividades que podem ser reprogramados radicalmente em pouco tempo e
com relativa facilidade. Desta forma, podemos produzir um certo número de produtos e
serviços e rapidamente passar a produzir outros produtos e serviços com os mesmos
equipamentos e algoritmos. Esta lógica de execução permite atender os requisitos de
diferenciação dos produtos e serviços (já que posso “mudar a produção” com pouco
tempo) e ter baixos custos neste processo pois os equipamentos são os mesmos e a
interrupção do processo para troca tem custos cada vez menores.

Estas tecnologias são as mais visíveis ao público. As vemos na prática nos robôs da
indústria automobilística, nas colheitadeiras automatizadas nas plantações de grãos, nas
ordenhadeiras automáticas de gado e nos caminhões autônomos para transporte de
minério de ferro nas minas para citar algumas aplicações.

- TECNOLOGIAS DE GESTÃO E DESENVOLVIMENTO: a padronização de


produtos e serviços decorrente das tecnologias de execução, gera uma base de dados
extremamente rica para o seu aperfeiçoamento. Esta é a lógica por traz das tecnologias
de gestão e desenvolvimento: analisar os resultados das tecnologias de execução e
modificar seus algoritmos para aumentar a produtividade ou criar novos equipamentos e
algoritmos que executem as tarefas mais eficientemente. Acreditamos que a diminuição
do ciclo de vida das tecnologias de execução seja causada basicamente pelo rápido
desenvolvimento das tecnologias de gestão e desenvolvimento. Estas tecnologias são
relativamente desconhecidas do público pois são trabalhadas basicamente em centros
dedicados a este objetivo.

Avaliando os dados sociodemográficos do IBGE, depreendemos que menos de 2% da


força de trabalho no Brasil trabalha com tecnologias de gestão e desenvolvimento. Esta
força de trabalho está basicamente concentrada na região Sudeste (71% do total). É
exercida por profissionais que se autodeclaram brancos (89% do total) e com curso
superior (92% do total).

Na mesma base de dados, depreendemos que menos de 5% da força de trabalho do país


trabalha com tecnologias de execução. Esta força de trabalho está distribuída
basicamente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste (66% do total). Se autodeclaram
brancos 34% e declaram curso superior 79% do total.

Considerando a geração e acesso a novas tecnologias fundamental para a construção de


um país justo e democráticos, destacamos algumas oportunidades de melhoria em
função dos dados apresentados:

1 – O percentual da força de trabalho alocado em atividades ligadas a geração e


execução de tecnologia é baixo comparado com a força de trabalho total (7%). Isto
ajuda a explicar o chamado “apagão de profissões tecnológicas” que enfrentamos em
nosso país. Países americanos considerados como referência em desenvolvimento
tecnológico tem valores superiores da força de trabalho alocadas neste setor (EUA 14%,
Canadá 17%). Políticas públicas de incentivo as carreiras técnicas seriam uma forma de
aumentar a participação de nossa força de trabalho neste segmento.

2 – Apenas 2% da força de trabalho do país dedica-se a tecnologias de gestão e


desenvolvimento. Esta configuração nos levará à dependência da importação de
tecnologias nos colocando em segundo plano no cenário mundial, embora tenhamos
abundantes recursos naturais e volume de força de trabalho. Faz-se, portanto, necessária
uma política de incentivo as carreiras técnicas de pesquisa (basicamente pós-graduações
“stricto sensu”) a fim de aumentar a geração de novas tecnologias. Considerando que
temos 5% da força de trabalho alocado em tecnologias de execução, há informação
suficiente sendo gerada para funcionar como matéria-prima para este grupo de
pesquisadores. Dado alarmante é o percentual de pessoas brancas neste segmento (89%
do total). Entende-se que o acesso a formação “stricto sensu” neste segmento é de alto
investimento e, portanto, as políticas de cotas são fundamentais para reduzir esta grave
distorção.

3 – Como consequência de termos 5% da força de trabalho alocada em tecnologias de


execução, diminuímos o acesso a pequenos e médios negócios as tecnologias de ponta.
Com isso a produtividade nacional fica abaixo de seu potencial. Segundo reportagem
Folha de São Paulo, um profissional americano equivale a seis profissionais brasileiros
na indústria da construção civil. Uma solução seria um incentivo a políticas de formação
técnica (basicamente graduação a nível superior) a fim de suprir esta demanda.

4 – A concentração de tecnologias de gestão e desenvolvimento na região Sudeste traz


como consequência um maior tempo entre a geração e a consolidação de uma nova
tecnologia pela distância entre o local de execução e o local de gestão e
desenvolvimento. Uma iniciativa neste sentido seria a descentralização de núcleos de
desenvolvimento, fomentando sua formação o mais próximo possível dos pontos de
aplicação. Nesta configuração o tempo entre a análise de dados, interpretação e
modificação seria reduzido pois poderia ser feito por uma equipe multidisciplinar.

5 – Tecnologicamente a região Norte e boa parte da região Nordeste tem baixo acesso
às tecnologias de execução e de gestão e desenvolvimento. Estas regiões são carentes de
aproveitamento racional de seus recursos (inclusive os ambientais) e hoje conforme
divulgado pela mídia são vítimas de uma exploração não racional de suas riquezas e
prisioneiras de grupos políticos que priorizam a pobreza e a ignorância de sua
população local.

Incentivar a geração e aplicação de tecnologias de execução e desenvolvimento nestas


regiões, ajudaria a melhorar a qualidade socio cultural dos habitantes e promover um
uso racional dos recursos disponíveis.

Não queremos com este artigo esgotar todos os aspectos sobre democratização e
diversidade no que diz respeito a acesso a tecnologia. Queremos apenas deixar ideias
para julgamento dos leitores pois, como disse Einstein “A personalidade criadora deve
pensar e julgar por si mesma, porque o progresso moral da sociedade depende
exclusivamente da sua independência”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CALDEIRA, Jorge – História da Riqueza no Brasil – 2º Edição – São Paulo - Ed.


Estação Brasil – 2017

ACEMOGLU, Daron e ROBINSON, James A. - Why Nations Fail: The Origins of


Power, Prosperity, and Poverty – 4º Edição – Ed. Currency – EUA – 2012

Dados População – IBGE – 2022 - Disponível no site População | IBGE – acesso em


14/04/2022

Dados Econômicos – IBGE – 2022 - Disponível no site Agricultura, pecuária e outros |


IBGE – acesso em 14/04/2022

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