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"Eros/Beleza" e "Razão/Verdade"

Na obra O Banquete Platão estabelece uma discussão sobre o deus Eros,


considerado o deus do amor, para tanto, alguns personagens discursam, como: Fedro,
Pausânias, Erixímaco, Aristófanes, Agatão, Sócrates e Alcibíades. Dessa forma, foi feito
um discurso em homenagem a Eros.
Segundo Fedro que inicia a discussão, bom seria se tivéssemos um exército
composto só de amantes e amados, no que resultaria numa Constituição política
insuperável, “pois ninguém faria o que fosse desonesto e todos, se estimulariam para a
prática de coisas boas. Na luta, um desses exércitos, mesmo reduzido, obteria vitórias
sobre os inimigos...”
Assim, haveria uma relação baseada na virtude capaz de produzir boas ações,
tanto para o Estado quanto para os cidadãos. Uma relação resultante do Bem e do
Belo, também inspirada pela coragem que Eros provoca naqueles que amam
verdadeiramente, sendo, pois, o amante o mais Divino. Fedro encerra, afirmando que
de todos os “deuses, o amor é o mais antigo, o mais virtuoso e feliz durante a vida e a
morte”.
Pausânias ressalta que as ações “não são nem boas nem más, portanto bela é a
ação correta e boa; feia, aquela que é incorreta, e o mesmo podemos estender ao
amor, dizendo que nem todo Eros é em si, belo e louvável”. Por causa da sua origem,
que participa tanto do masculino como do feminino, o Eros Vulgar ama mais o corpo do
que o espírito.
Pausanias termina o seu discurso com a seguinte afirmação: “que honroso é
entregar-se em nome da virtude. Este é o Eros da Afrodite Celeste. É Celeste porque
causa benefícios tanto para os homens como para o próprio Estado. Levando ao
mesmo tempo o Amante e o Amado a buscarem a virtude e a sabedoria. Todos os
outros amores nascem da outra deusa, a Afrodite Popular.
Para Erixímaco “a natureza dos corpos, com efeito, possui dois Eros, pois é
evidente que o que é são nos corpos e, o que é doente apresentam diferenças entre si
e são dessemelhantes, e que os dessemelhantes desejam e amam a objetos
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dessemelhantes. Portanto, Eros reina sobre o que é são; outro sobre o que é doente”.
Respaldado em Heráclito, ele defende que amor funciona como a harmonia dos
contrários tanto o Eros Celeste quanto o Eros Vulgar devem ser cultivados. O segundo
com mais cautela para que não cause danos.
Para Aristófanes, a natureza humana sofreu grandes transformações e
antigamente era muito “diferente do que é hoje. Havia três sexos humanos e não
apenas, como hoje, dois: o masculino e o feminino – mas acrescentava-se mais um que
era composto ao mesmo tempo dos dois primeiros, e que mais tarde veio a
desaparecer, deixando apenas o nome: andrógino”. De acordo com esse discurso,Eros
é caracterizado pela ausência, pela carência que a todo o momento tenta suprimir
“Aqueles, porém, que são uma secção de homem liga-se a homens, e enquanto são
jovens, amam os homens e sentem grande prazer em deitar-se e serem abraçados por
eles”.Embora diga que eles não têm vergonha e pudor, isso não é verdade, ao contrario
o fazem por audácia, coragem e virilidade. “Que eles assim procedem, amando o que
lhes é semelhante”. A relação amante/amado proporciona a criação de leis e ajuda a
governar o Estado.
Já Agatão, considera Eros o Deus mais jovem, mais belo e feliz e que sua
juventude é eterna. Para ele, Eros é amor e possui dons que tornam os homens mais
felizes, mais belos e melhor . Quando diz que Eros é melhor, tem a ver com as virtudes
do deus, a saber: A justiça, (diké), a temperança, (sophrosine) a coragem ( andréa) e a
sabedoria(sophia). Afirma que Eros é excelente poeta, um sábio, para ele, aquele que
faz poesia.
Por fim, Sócrates recorre à dialética aporética, contrariar tudo que Agatão e os
outros disseram sobre Eros, para tanto, ele reproduz um discurso que ouvira dos de
uma sacerdotisa: Diotima, a saber, Eros não é nem belo/feio, nem bom/mau, nem
Ser/Não Ser, nem sábio/ignorante, imortal/mortal, também não é uma Divindade.
Segundo Diotima, Eros é um Daimon, um gênio, a ele cabe: “interpretar e transmitir aos
deuses o que vem dos homens, e aos homens o que o que vem dos deuses”.
Para explicar a origem desse gênio, conta-nos sobre O Mito do Nascimento:
Eros nasceu de uma relação entre Poros (O Esperto) e Penia (A Pobreza), por ocasião
do aniversario de Afrodite. Sendo Penia a carência, deseja ter um filho de Poros.
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Encontrando o mesmo dominado pela embriaguez, deita-se ao seu lado e concebe


Eros. Por ser concebido no dia do nascimento de Afrodite, Eros torna-se companheiro
e servidor da mesma. E devido a sua natureza, ama o que é belo. Portanto, pela sua
origem, Eros deseja o que não possui. Faz uma comparação entre Eros e o filósofo, diz
que os dois estão na mediação do que se tem e daquilo que se deseja ter, porquanto
se passa de um conhecimento a outro pela busca da criação. Essa criação acontece
naquilo que é belo e bom, do que resultaram as belas palavras, os belos discursos, as
belas leis, consideradas como objetivos maiores dos homens e do Estado.
Portanto, Sócrates garante que Diotima o convenceu sobre o fato de Eros é
aquele que auxilia a natureza humana a alcançar o bem. Nesse sentido, o homem se
eleva até alcançar o Belo Supremo, a única e absoluta ideia de beleza, tal elevação
resulta da intermediação de Eros junto aos deuses. Além disso, ele é filho do esperto, e
da Pobreza, por isso, herdou do pai capacidades positivas, como por exemplo, a
sabedoria. Entretanto, devido ao fato de ser filho também da pobreza, vive por assim
dizer a “mendigar” essa sabedoria, buscando-a em todos os lugares, quer dizer, Eros
deseja e é amante do belo e sendo filósofo amante do saber. Então, do mesmo modo
que Eros busca e ama o belo, também deseja a sabedoria que não possui por conta da
sua origem e assim busca a verdade, afinal ele é um filósofo. Em outras palavras, Eros
se realiza ao buscar aquilo que não possui: beleza e sabedoria.

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