Você está na página 1de 116

Unimedciência

ISSN impresso: 2525-7331 PUBLICAÇÃO ANUAL DA UNIMED DO BRASIL Out/2017

Ciência (do latim scientia, tra-


duzido por “conhecimento”)
refere-se a qualquer conheci-
mento ou prática sistemáticos.
Em sentido estrito, ciência re-
fere-se ao sistema de adquirir
DESTAQUES DE EXPERIÊNCIAS
conhecimento baseado no
método científico bem como
ao corpo organizado de conhe-
DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE
cimento conseguido através
de tais pesquisas.

n.2 Trabalhos científicos sobre a


vol. 1 p. 189-304
implementação do modelo
no Sistema Unimed
Sistema Unimed
Há 50 anos cooperativo e presente,
construindo o futuro
com a tradição do passado

Meio século de conquistas


para o Sistema e para os nossos clientes.
Nossa vocação para cuidar tem base em nosso
modelo cooperativista. Juntos somos mais fortes e
juntos podemos muito mais. Que venham mais
cinquenta e tantos outros anos para comemorar.
Expediente

Unimed do Brasil
Orestes Pullin
Presidente
Alberto Gugelmin Neto
Vice-Presidente
Viviane Vieira Malta
Diretora de Administração e Finanças
Darival Bringel de Olinda
Diretor de Desenvolvimento de Mercado
Orlando Fittipaldi Junior
Diretor de Gestão de Saúde
Marcelo Mergh Monteiro
Diretor de Intercâmbio
Paulo Roberto de Oliveira Webster
Diretor de Regulação, Monitoramento e Serviços

Unimed Ciência
Publicação Anual da Unimed do Brasil
Out/2017 - n.2 - vol. 1 - p. 189-304
ISSN impresso: 2525-7331
Tiragem: 2.000 exemplares

Conselho Editorial: André Lúcio de Cassias, Ary Célio


de Oliveira, Cloer Vescia Alves, Debora de Menezes
Tanabe, Fernanda Tamy Uehara Pontes, Lilian Carla
Bueno de Magalhais, Luiz Gustavo Escada Ferreira,
Maike Rotherburg Mohr, Orlando Fittipaldi Junior, Sara
Dall Agnol, Sheila Mittelstaedt, Silvia Esposito e Tarcisio
Crocomo
Revisão: Comitê de Atenção Integral à Saúde - CAS e
departamento de Comunicação da Unimed do Brasil
Projeto Gráfico e diagramação: Departamento de
Marketing da Unimed do Brasil

Unimed do Brasil
Confederação Nacional das Cooperativas Médicas
Alameda Santos, 1.827 – 10º Andar
São Paulo/SP – Brasil – CEP 01419-909
Telefone: 55 11 3265-4000
www.unimed.coop.br – cas@unimed.coop.br
índice
APRESENTAÇÃO

Um chamado irrefutável
194
Orestes Pullin

A Unimed como protagonista


194
Orlando Fittipaldi Junior

Carta ao Leitor
195
Cloer Vescia Alves

A perspectiva frente à implementação da Atenção da Integral à Saúde em reforço e valorização


196 da Medicina de Família e Comunidade, no âmbito da saúde suplementar brasileira
Daniel Knupp Augusto

A campanha Choosing Wisely e a saúde suplementar brasileira


203
Rodrigo Diaz Olmos

A metamorfose do gigante
207
Cloer Vescia Alves, Sheila Mittelstaedt e Silvia Esposito Egidio

211 Quando menos é mais

ARTIGOS ORIGINAIS PREMIADOS 2017

Impacto do Matriciamento em Saúde Mental para Profissionais


213 da Atenção Primária à Saúde da Unimed Vitória
Paulo Magno do Bem Filho, Paula Athayde Braga Machado e Kamilla Duarte Siqueira

Inovação nas condutas da Atenção Integral à Saúde prestadas às gestantes - Unimed Vitória
217
Emilly Sampaio Favaro Colombi, Esvana Quinelato Cipriano e Fernanda Souza Miranda

Impacto da Prevenção Quaternária na utilização do plano de saúde por


223 idosos acompanhados no Programa Viver Bem da Unimed Belém
Jessica S. Martinho, Thais A. de A. Salim e Yuji M. Ikuta

Disseminar e qualificar o Modelo de APS nas Singulares do Estado


228
Angela da Conceição Mendes e Priscila Muller Franqui
índice
ARTIGOS ORIGINAIS 2017

O desenvolvimento de módulo para registro eletrônico como ferramenta de gestão na Atenção


233 Integral à Saúde da Unimed Paraná
Everton Bizuko, Letícia M. dos Santos e Priscila M. Franqui

Plano Viver Mais: modelo pioneiro de Atenção Integral à Saúde na Unimed João Pessoa-PB
237
Andréa Gondim Mendonça, Marcelo Eduardo O. Ugulino de Araújo e Alexandre A. Ramalho Araruna

O Registro Eletrônico em Saúde como ferramenta de gestão e coordenação do cuidado


241
Cintia Bossle, Debora Chicon Sisti e Marinês Ana Petri

O papel da Atenção Primária à Saúde no resgate da qualidade de vida do idoso


247
Albertina de Lourdes Cunha, Kelline Paiva Bringel e Kelly Araújo Fontenele

Implantação do cuidado perfeito no gerenciamento dos clientes portadores de condição


251 crônica da Unimed Vitória
Rafaeli Hoffmeister, Renata Loureiro Moretto e Simone Januario Barbosa

Avaliação da assistência prestada em domicílio a pacientes inseridos em programa


258 de Atenção Domiciliar e internados por doenças sensíveis à Atenção Primária
Graziela Loyola Ribas e Annemarie Dusanek

Programa Saúde em Dia


264
Célia Regina Malvezi Mugayar, Vivian Cristina Barbon Perassi e Maria Luiza Camuri Machado

Fortalecimento da coordenação do cuidado para os pacientes crônicos atendidos


269 no Centro de Atenção Personalizada à Saúde da Unimed Paraná
Letícia Motta dos Santos, Marcelo Amaro dos Santos e Priscila M. Franqui

Indicadores no controle da Gestão de Saúde Integral de um Serviço


273 de Atenção Personalizada à Saúde
Daniela Maura Frazili de Godoi

Cuidado perfeito aos portadores de moléstias cardiovasculares


276 da Medicina Preventiva da Unimed de Ourinhos
Cecília Sá Rodrigues Alves, Ana Carolina Fernandes e Karla Daiane Gianetti

Unimed Joinville: implantação da Atenção Primária à Saúde no Porto de Itapoá


286
Aline Gabrielle de Souza, Márcia Valéria Vianna Liell e Maria Zulma Sancho Moreira

O papel do enfermeiro na Atenção Personalizada à Saúde


290
Aline Gabrielle de Souza, Márcia Valéria Vianna Liell e Maria Zulma Sancho Moreira

Transição de cuidado, modelo de continuidade e coordenação do cuidado para


o paciente hospitalizado participante de um programa de assistência domiciliar
295 da Unimed Vale do São Francisco
Maria Luiza Barros F. Bezerra, Luciana A. Mendonça Machado Coelho e Yanna Paola Muniz
apresentação
Um chamado irrefutável
Orestes Pullin
Presidente da Unimed do Brasil

Para que possa ser considerada eficiente e hu- A inserção da Atenção Integral à Saúde (AIS) é
manizada, a prática médica deve ser sustentável do extremamente necessária. Felizmente, o Sistema
ponto de vista econômico-financeiro e zelar pela Unimed tem correspondido ao irrefutável chama-
qualidade de vida do paciente. Aqui, é importante do e, com a liderança da Unimed do Brasil, imple-
notar que não estamos falando de administração mentado iniciativas que já trazem resultados tanto
de uma doença ou condição pré-existente, mas da no perfil epidemiológico de certas regiões quanto
manutenção da saúde durante toda a vida. na capacidade de as operadoras continuarem a
A perspectiva de envelhecimento populacional existir com solidez em seus respectivos mercados.
nos avisa que os idosos serão uma parte considerá- Neste momento, temos muito a aprender com
vel de nossos beneficiários em um futuro próximo. os exemplos presentes nas páginas a seguir. Que
Cabe a nós, então, ajudá-los a estarem nas melhores eles nos inspirem e sejam a pedra angular de um
condições físicas e psicológicas possíveis, em uma movimento nacional capitaneado por quem, há
troca benéfica a todos e que está totalmente alinha- 50 anos, está na vanguarda da saúde brasileira:
da à vocação da Unimed, que é cuidar de pessoas. a Unimed.

A Unimed como protagonista


Orlando Fittipaldi Junior
Diretor de Gestão de Saúde da Unimed do Brasil

A Unimed Ciência cumpre um papel primordial prol dela há bastante tempo.


para que a inserção do modelo de Atenção Inte- Se o Sistema Unimed pode e deve assumir li-
gral à Saúde (AIS) seja bem-sucedida no Sistema derança, a Unimed do Brasil está apta a conduzir
Unimed: o compartilhamento de bons exemplos, nossas cooperativas por meio do trabalho do Co-
técnicas, pensamentos e resultados que eviden- mitê de Atenção Integral à Saúde (CAS).
ciem tanto sua efetividade quanto necessidade. Somente um alinhamento nacional, com fir-
Os trabalhos expostos aqui motivaram os meza técnica e de olhos e ouvidos abertos às rea-
participantes do Congresso Nacional Unimed lidades regionais, poderá nos levar adiante.
de Atenção Integral à Saúde. Mais do que isso, Como médicos, temos de estar abertos a ino-
trouxeram um norte para que consigamos não vações e às necessidades que se apresentam. Al-
somente atingir nossos objetivos, mas fazer da cançar a sustentabilidade com o apoio da AIS é
Unimed protagonista dessa mudança, uma vez uma delas. Precisamos do engajamento de todos
que nossos especialistas já vêm trabalhando em e estamos prontos para orientá-los.

194 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 194


apresentação

Carta ao Leitor
Cloer Vescia Alves
Coordenador do Comitê de Atenção Integral à Saúde da Unimed do Brasil

O movimento de inserção da estratégia da trabalhos científicos pelas equipes para adequada


Atenção Integral à Saúde (AIS) no Sistema Uni- divulgação, no sentido de difundir a informação e
med chega ao seu quinto ano e reafirma-se, im- possibilitar que ela se transforme em conhecimen-
pulsionado principalmente pelo protagonismo to à disposição da Unimed, de modo a alcançar a
das ações da Unimed do Brasil em sinergia com sua ampla capilaridade.
Federações e Singulares, a partir do norteamento Neste segundo número da revista Unimed Ci-
técnico-científico proposto pelo Comitê de Aten- ência aprofundaram-se questões centrais da AIS
ção Integral à Saúde (CAS) da Unimed do Brasil. com os trabalhos selecionados no 4º Congresso
Reforçam-se a necessidade e o compromisso com Nacional Unimed de Atenção Integral à Saúde, re-
a constante renovação das práticas adotadas, es- alizado em junho de 2017, em Gramado (RS). Evi-
pecialmente com base na geração de oportuni- dencia-se que há ênfase à prevenção quaternária,
dades que vêm permitindo o compartilhamento registro eletrônico de saúde, gestão em saúde com
de experiências e resultados obtidos por meio das foco na atenção primária e reforço ao desenvolvi-
diversas iniciativas em avanço. mento da Rede de Atenção à Saúde.
O estudo e a pesquisa na busca da inovação O leitor perceberá que houve significativo in-
em saúde são decisivos e abrem novos caminhos cremento tanto na formatação quanto no teor dos
para que as melhores referências e as mais fortes trabalhos, em alinhamento à proposta de melhoria
evidências possam ser debatidas e exploradas de gradativa no conteúdo desta publicação, a fim de
modo construtivo. Para tanto, o CAS vem realizan- permitir o avanço e o aperfeiçoamento conjunto –
do reuniões plenárias, eventos, cursos, congressos compartilhado – em alinhamento ao melhor pro-
e, sobretudo, incentivando que haja produção de pósito cooperativo. Boa leitura!

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 195 195


apresentação

A perspectiva frente à implementação da Atenção


da Integral à Saúde em reforço e valorização da
Medicina de Família e Comunidade, no âmbito da
saúde suplementar brasileira
Daniel Knupp Augusto
Secretário Geral da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade
Médico cooperado da Unimed Belo Horizonte

Há algumas décadas, se acumulam evidências é o estudo realizado pelo Commonwealth Fund,


dos resultados positivos associados à atenção pri- comparando o desempenho de países membros ao
mária à saúde, ou Atenção Integral à Saúde (AIS), longo da última década, que encontrou resultados
nomenclatura que adotaremos predominante- bastante semelhantes aos dos estudos de Starfield.
mente nesse texto. Os estudos da pesquisadora Um destaque nessa pesquisa é a evolução dos gas-
norte-americana Barbara Starfield, da Universida- tos em saúde, em termos percentuais do produto in-
de Johns Hopkins, são os pioneiros nesse sentido. terno bruto. Em todos os países, houve um leve au-
Sob diversas perspectivas, ela comparou sistemas mento dos gastos, com poucas diferenças entre eles.
de saúde de diferentes países e demonstrou rei- A única exceção foi os Estados Unidos, sabidamente
teradamente que aqueles com serviços de AIS ro- caracterizado por um sistema de saúde fortemen-
bustos, se constituindo como elemento central do te liberal e sem centralidade nos serviços de AIS,
sistema de saúde, encontram-se melhores desfe- onde a evolução dos gastos em saúde claramente
chos. Além disso, a estudiosa também demonstrou foi maior do que a dos demais.
que existe uma correlação inversa entre os gastos Diante de toda essa evidência, é natural e dese-
com saúde e a presença da AIS, demonstrando que jável que no Sistema Unimed esteja havendo um
países que não têm serviços de AIS bem estrutu- interesse por mudança no modelo de atenção à
rados gastam mais com os seus serviços de saúde. saúde. O modelo predominante atual prima pela
Encontram-se estudos atestando o desempenho liberdade na utilização dos produtos, com livre
dos serviços de AIS em uma ampla gama de con- acesso a qualquer especialidade ou serviço, em de-
dições de saúde, desde a melhora do cuidado a pa- trimento da coordenação de cuidados, do vínculo
cientes portadores de doenças crônicas até a redu- e caráter longitudinal da relação médico-pacien-
ção em taxas de internação por condições evitáveis. te. Somando-se ao fato de que a força motriz desse
Há também pesquisas que se utilizam de instru- modelo tem sido a remuneração por procedimen-
mentos balizados para avaliar a qualidade dos ser- to, tem-se como resultado uma escalada de custos
viços de saúde sob a ótica do paciente e demons- que leva a sinistralidade a níveis difíceis de se sus-
tram resultados favoráveis à AIS. Em geral, análises tentar. Portanto, a mudança no modelo de atenção
com diferentes metodologias vêm encontrando re- é realmente salutar e as experiências desenvolvi-
sultados parecidos, demonstrando os benefícios de das em algumas Unimeds até o momento tem de-
se adotar um modelo de atenção à saúde com cen- monstrado que parece ser mesmo possível obter os
tralidade nos serviços de AIS. Um exemplo recente resultados esperados.

196 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 196


apresentação

A mudança do modelo de atenção predominan- Sistema Unimed a fragmentação do processo de


te no Sistema Unimed, entretanto, não é algo sim- cuidado e a inexistência de um serviço que seja
ples de se executar. Ainda que esse seja o desejo de responsável pelo processo de coordenação de cui-
grande parte das lideranças e que tenha se tornado dados. Também é uma característica o amplo grau
uma diretriz para o Sistema, é preciso reconhecer de liberdade concedido ao cliente na definição de
que existem dificuldades inerentes a essa trans- seu percurso assistencial. A escolha de quando e
formação, tal qual sempre se espera que aconteça onde buscar assistência é uma prerrogativa única e
com qualquer transição dessa magnitude. De tal exclusiva do cliente, cabendo à cooperativa mera-
modo que se torna fundamental o debate a respei- mente garantir a existência de um prestador para
to de possíveis obstáculos à inserção do modelo, o os serviços buscados. Tal característica, como ve-
compartilhamento de informações e experiências remos a diante, embora não desejável do ponto de
entre Unimeds e a reflexão e análise permanente vista da busca pela qualidade assistencial e da efi-
do processo de mudança em geral. É nesse sentido ciência, é razoavelmente valorizada na perspectiva
que este artigo pretende abordar algumas dessas do cliente. Há evidências que apontam que a ine-
dificuldades, ressaltando que se trata apenas de xistência de uma rede de atenção à saúde funcio-
uma determinada perspectiva da questão, o pon- nal está associada a um maior grau de iatrogenia, à
to de vista do autor, que deve ser complementada escalada de custos assistenciais e à baixa continui-
e debatida em outros níveis e contextos para que dade dos cuidados prestados.
seja desenvolvida uma percepção mais clara des- A AIS, ao ser introduzida no Sistema Unimed,
sas dificuldades. induz a necessidade de transformação do rol de
serviços em uma rede de atenção à saúde de fato.
Rede de atenção à saúde Essa indução ocorre devido às características in-
Uma rede de atenção à saúde deve ser enten- trínsecas aos serviços de AIS, em particular ao fato
dida como um conjunto de unidades ou serviços de ser uma porta de entrada principal ao sistema
de saúde, de diferentes características e propósi- de saúde, responsável por exercer um papel de fil-
tos – hospitais, ambulatórios, serviços de urgência, tro das demandas, e ao fato de assumir, também,
consultórios, entre outros – que atuam de forma um papel de coordenação de cuidados, ficando
complementar e sinérgica com o objetivo de obter responsável por gerir e acompanhar o percurso as-
ganho de eficiência e qualidade assistencial. Esse sistencial do cliente em outros serviços de saúde
não é exatamente o modelo que predomina dentro na rede. Uma imagem que auxilia a compreensão
do Sistema Unimed. É muito prevalente o enten- desse processo de indução é a de um punhado de
dimento de que rede é o mero rol de prestadores limalha de ferro sobre uma superfície. Ao se apro-
contratualizados no intuito de garantir a confor- ximar dessa limalha de ferro um ímã, uma analo-
midade dos produtos às exigências regulatórias gia à AIS, a limalha imediatamente se alinha se-
da saúde suplementar, sem qualquer grau de coor- guindo o campo magnético criado. A AIS, portanto,
denação entre eles. Não é raro que a preocupação assume uma posição de centralidade na rede de
com a rede só se concretize nos momentos em que atenção à saúde.
há dificuldade para se localizar um prestador para Se, por um lado, tal indução traz o benefício de
determinado procedimento incluído na cobertura se organizar a rede, por outro, é capaz de gerar re-
de um produto. sistências. Em sua maioria, essas resistências não
São elementos que caracterizam esse mode- ocorrem de forma intencional, como uma oposi-
lo de rede de atenção à saúde predominante no ção ou negação à introdução da AIS no Sistema.

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 197 197


apresentação

Normalmente, as resistências ocorrem, pois, certas nos serviços de AIS é o pagamento por capitação,
práticas, contrárias ao funcionamento do siste- no qual o médico cooperado recebe pela carteira
ma como uma rede organizada com centralidade de clientes vinculados a ele e não pelas consultas
na AIS, são costumeiras e consolidadas nas redes ou procedimentos que realiza.
onde inexiste a AIS. Assim, não é raro que, após re- Em geral, todos os modelos de remuneração
ceber alta de uma internação decorrente de uma têm suas vantagens e desvantagens e o usual é que
crise de asma, o cliente seja encaminhado a um se adote um mix deles como forma de estímulo à
pneumologista, ou que, após procurar um cirurgião formação de uma rede de atenção com desenho
para a realização de uma colecistectomia eletiva, desejado. A adoção dessa fusão de modelos pode
seja solicitado que o cliente procure um cardiolo- se dar tanto no âmbito geral, considerando todos
gista para a realização de uma avaliação pré-ope- os serviços de saúde da cooperativa, como no âm-
ratória. Em ambos os casos, em um sistema orga- bito individual. Assim, um cooperado atuando no
nizado com a presença da AIS, o cliente deveria serviço de AIS pode, por exemplo, ter sua remu-
ser direcionado a esse serviço e não diretamente neração determinada predominantemente per
a outros serviços da rede, pois tratam-se de ações capita, mas acrescida de uma proporção menor
naturalmente contempladas no escopo de atuação de pagamento por procedimentos, enquanto que
da AIS. A experiência nas cooperativas que já de- um cooperado atuando em um serviço de prope-
senvolvem produtos organizados com centralida- dêutica por imagem ou no setor de internação de
de na AIS é de que exemplos como esses ocorrem um hospital pode ter seu rendimento determinado
com frequência, em geral por desconhecimento do predominantemente por produção.
modo como o produto deve funcionar ou por se- A sensibilização dos médicos cooperados quan-
rem práticas enraizadas. to à importância da AIS para a cooperativa e as ca-
Algumas estratégias podem facilitar a forma- racterísticas das redes de atenção centradas na AIS
ção de uma rede de atenção na estruturação da também são estratégias interessantes. Isso pode
AIS. Modelos de remuneração variável, com va- se dar em assembleias, cursos, seminários, mídias
loração de consultas e procedimentos realizados e espaços voltados aos cooperados em geral. Da
com clientes encaminhados pelo serviço de AIS, mesma forma, é conveniente incentivar a comu-
é uma dessas estratégias. A valoração de proce- nicação e o intercâmbio de conhecimentos entre
dimentos e cuidado a doenças mais específicas os serviços de AIS e o restante da rede de serviços,
de determinada especialidade em detrimento ao seja por meio de atividade de educação continua-
cuidado de condições de escopo mais generalista da, seja com o auxílio de sistemas de informação
também pode ser interessante. Nesse modelo de que facilitem a referência e a contra-referência de
remuneração, deveria tornar-se mais interessan- paciente ou por outras medidas similares.
te a um cardiologista, por exemplo, acompanhar
uma carteira de pacientes com cardiopatias mais O quantitativo de médicos de família
complexas, encaminhados a ele pelo médico de Segundo a diretora-geral da Organização Mun-
família, do que manter uma carteira de pacientes dial de Saúde entre 2007 e 1º de julho de 2017,
com hipertensão arterial leve e sem complicações, Margaret Chan, “a oferta e a sustentação de cui-
que poderiam manter seu acompanhamento no dados de atenção primária à saúde exigem vários
serviço de AIS sem nenhum prejuízo à saúde. Uma elementos principais, tais como, boa governança,
alternativa à remuneração por procedimento par- financiamento adequado e sustentável e uma for-
ticularmente apropriada para cooperados atuando ça de trabalho capaz e motivada. Um componente

198 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 198


apresentação

importante desse último item é a medicina de fa- necessários 25 mil médicos de família. E, nesse
mília”. De fato, a formação generalista, com forte ponto, é interessante destacar que a busca pela
direcionamento para as características epidemio- transformação do modelo de atenção e pelo de-
lógicas e organizacionais peculiares dos serviços senvolvimento de serviços de AIS é uma tendência
de atenção primária, faz do médico de família e co- geral na saúde suplementar, não um fenômeno que
munidade o especialista apropriado para atuar na vem ocorrendo apenas dentro do Sistema Unimed.
AIS. Entretanto, o quantitativo de médicos de fa- Em países como Canadá, Espanha e Portugal,
mília no País pode não ser suficiente para atender onde ocorreram reformas do sistema de saúde
à demanda pelas mudanças de modelo de atenção para se criar uma estrutura com centralidade na
no Sistema Unimed. atenção primária à saúde, em um período relativa-
A formação de médicos de família no Brasil mente curto de tempo, também houve uma escas-
vem se desenvolvendo significativamente nos úl- sez relativa de médicos de família. Cenários desse
timos anos. O número de vagas em programas de tipo são facilmente compreensíveis, pois, enquan-
residência em medicina de família e comunidade to as mudanças estruturais nos sistemas de saúde
passou de pouco mais de 500 por ano para mais podem ser conduzidas de forma relativamente
de 2.500 por ano, ao longo da última década. É rápida, o processo de formação de médicos espe-
um crescimento substancial, mas que, em termos cialistas é bastante longo e qualquer mudança que
proporcionais, ainda não é representativo, pois o se faz necessária nesse processo só terá resultados
número de vagas de residência nessa área ainda é observáveis após alguns anos. A solução à qual
de pouco mais de 10% do total. Além disso, o nú- muito frequentemente se recorre nessas situações
mero de vagas que permanecem ociosas é alto, tor- – a mesma adotada nos países citados – é desen-
nando baixo o número de especialistas formados, volver processos temporários de reconversão de
de tal modo que a quantidade de brasileiros com especialistas, oferecendo, usualmente a pediatras
essa especialidade ainda é pequena. Dados do es- e a clínicos gerais, formações que os habilitem a
tudo Demografia Médica, do Conselho Federal de uma prática plena e à titulação como médicos de
Medicina, apontam que os médicos de família re- família. Essa é uma alternativa possível dentro do
presentam apenas 1,2% do total de especialistas no Sistema Unimed, caso a estruturação de serviços
Brasil, somando pouco mais de 4 mil médicos. A de AIS esteja de fato prejudicada pela falta de es-
título de comparação, em países com um sistema pecialistas com as competências necessárias para
de saúde robusto e estruturado com centralidade esses serviços. A Unimed Belo Horizonte e a Uni-
na atenção primária, como Inglaterra, Holanda ou med Vitória, bem como outras cooperativas que já
Canadá, a proporção de médicos de família entre desenvolveram produtos estruturados na AIS, têm
todos os especialistas é da ordem de 40% ou mais. realizado cursos e treinamentos introdutórios para
Naturalmente, proporções muito semelhantes são os cooperados que atuarão em seus serviços de
encontradas entre as vagas de residência médica. AIS. Por hora, essa capacitação não tem o objetivo
Estudos da Organização para Cooperação e de promover reconversão de especialistas e nem
Desenvolvimento Econômico apontam que, em seria suficiente para tal.
países com sistemas de saúde centrados na aten- Uma alternativa razoável para fomentar a for-
ção primária existe, em média, aproximadamen- mação de médicos de família é a aproximação com
te um médico de família para cada 2 mil pessoas. os programas de residência médica na especialida-
Se utilizarmos essa razão aproximada como refe- de. A participação nas atividades didáticas do pro-
rência, apenas para a saúde suplementar seriam grama de residência para tratar de temas como o

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 199 199


apresentação

cooperativismo seria interessante nesse sentido. à remodelação nas proporções de especialistas,


Propostas de campos de estágio para residentes que passa a ocorrer a partir da introdução de ser-
em unidades dos serviços próprios da cooperativa viços de AIS. Tratam-se de modelos divergentes.
também são formas interessantes de aproximação. Isso porque, no modelo predominante atualmente,
Além disso, algumas Unimeds de maior porte já na medida em que vão se saturando os nichos de
desenvolvem seus próprios programas de residên- atuação dos especialistas mais generalistas, como
cia, não apenas em medicina de família mas tam- o pediatra geral, por exemplo, a tendência natural é
bém em outras especialidades, o que certamente é de que novos cooperados busquem os nichos me-
a maneira mais efetiva de participar da formação nos saturados, que são os das subespecialidades,
de especialistas com vistas a atender às necessida- como a neurologia pediátrica ou a gastroentero-
des da cooperativa. logia pediátrica, de acordo com o exemplo citado.
Portanto, as características intrínsecas ao modelo
O contingente de outros especialistas que pauta a organização das cooperativas no Sis-
Outro fator que pode se tornar um limitador ao tema Unimed atualmente geram uma necessidade
desenvolvimento da AIS no Sistema Unimed é o de diferenciação que vai no sentido oposto ao das
número e a proporção de especialistas focais entre mudanças que ocorrem com a introdução da AIS.
seus médicos cooperados. Embora uma mudança Há naturalmente um dilema, um conflito de in-
de modelo de atenção com organização de uma teresses, nesse processo de transição de modelos
rede centrada na AIS seja produtiva para a coopera- de atenção. Esse dilema não deve ficar oculto ou
tiva e, consequentemente, para os seus cooperados velado. É preciso debatê-lo na intenção de buscar
individualmente, para médicos de determinadas alternativas para tornar as cooperativas mais sus-
especialidades focais, que não atuarão diretamen- tentáveis economicamente por meio da introdu-
te nos serviços de AIS, a mudança pode ser vista ção da AIS, sem que, entretanto, isso se constitua
de forma negativa, como uma perda. Isso porque o em algo deletério individualmente ao médico coo-
acesso direto do paciente ao especialista, que deixa perado de determinadas especialidades. A solução
de existir com a inserção da AIS, é visto como algo natural desse dilema passa pela transição gradual
positivo, uma vez que o modelo de remuneração do modelo de atenção adotado pela cooperativa,
predominante é o pagamento por procedimentos. com moderação no crescimento dos produtos cen-
De fato, dependendo da proporção que os produ- trados na AIS acompanhando a transição de gera-
tos organizados a partir da AIS adquirirem no rol de ções dos médicos cooperados. Nesse processo de
produtos da cooperativa, a tendência é de que ocor- transição gradual do modelo de atenção, é preciso
ra uma remodelação da demanda por especialistas, cuidado para que a entrada de novos cooperados
que poderia gerar uma diminuição na produção de se dê respeitando as proporções de especialistas
médicos cooperados de determinadas especiali- adequadas à mudança que se pretende. Não se tra-
dades focais. Essa remodelação da demanda nada ta de uma tarefa simples, como pode parecer, pois é
mais é do que a adequação das proporções de espe- preciso lembrar que, no modelo de atenção predo-
cialistas à mudança de modelo de atenção. minante atualmente, há tendência à subespeciali-
Além disso, no modelo de atenção predominan- zação e, portanto, para atender à demanda e se ade-
te atualmente, alimentado pela remuneração por quar às normas que determinam o funcionamento
procedimentos e não organizado a partir da AIS, das operadoras no setor, na entrada de novos coo-
existe uma tendência de fragmentação e subespe- perados podem ser necessárias proporções de es-
cialização, que vai na direção exatamente contrária pecialistas que não são as mais apropriadas a um

200 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 200


apresentação

modelo de atenção centrado na AIS. Dessa forma, a características do modelo de atenção predomi-
solução passa por encontrar o equilíbrio exato en- nante na saúde suplementar, como o livre acesso
tre o crescimento dos produtos centrados na AIS e a diferentes especialidades e serviços, sejam forte-
a transição de gerações dos médicos cooperados. mente valorizadas no nicho de mercado da saúde
As estratégias de reconversão de especialistas suplementar.
e, principalmente, as estratégias de reformulação Historicamente, o modelo de produto comer-
do modelo de remuneração citadas anteriormente cializado tem sido aquele fundamentado no cader-
podem facilitar esse processo de transição de ge- no com a rede de profissionais e serviços disponí-
rações e deveriam ocorrer de forma concomitante. veis ao cliente. No Sistema Unimed, esse fenômeno
No que se refere à remuneração, devem ser agrega- é amplamente conhecido e frequentemente ex-
dos fatores que estimulem a qualidade da atenção, plorado em campanhas publicitárias. Diante disso,
a resolutividade e a indução da rede com coorde- é esperado que produtos pautados na mudança do
nação de cuidados nos serviços de AIS em detri- modelo de atenção, com centralidade na AIS, sejam
mento meramente do volume de produção. pouco atrativos ao nicho de mercado da saúde su-
plementar. As vendas de produtos de AIS também
O mercado assumem características próprias. As equipes de
Atualmente, cerca de 50 milhões de brasileiros vendas estão habituadas com o modelo de produ-
têm acesso a planos de saúde, número que repre- to predominante na saúde suplementar, e é menos
senta a grosso modo um quarto da população do dispendioso ao vendedor apresentar um produto
País. Após um período de crescimento na última que se pauta meramente no caderno com a relação
década, notou-se uma leve redução nesse número de profissionais e serviços aos quais o cliente terá
nos anos mais recentes, o que podemos entender acesso do que discorrer sobre o conceito do cuida-
como um sinal de que, dada a situação econômica do à saúde e a ciência por trás do modelo de aten-
atual do Brasil, este deve ser o patamar que deter- ção centrado na AIS.
mina o nicho para a saúde suplementar. É funda- Essa peculiaridade do nicho de mercado da
mental compreendermos as características desse saúde suplementar deve ser vista como um dos
mercado para planejarmos adequadamente as mu- principais entraves à expansão dos produtos de
danças pretendidas no modelo de atenção à saúde. AIS no Sistema Unimed. Certamente é possível
Ao contrário do que se vê na saúde suplementar, mudar essa característica do mercado, mas, para
o modelo de atenção predominantemente adotado isso, é necessário que os produtos de AIS se tornem
nos serviços públicos de saúde brasileiros é forte- o padrão para os produtos comercializados. Natu-
mente centrado na atenção primária. O modelo de ralmente que, para isso, serão necessárias mudan-
atenção primária adotado no País, a Estratégia de ças substanciais na estrutura e nas características
Saúde da Família, e a sua expansão na última dé- das cooperativas, como a mudança nas proporções
cada têm considerável destaque internacional pe- de especialistas citadas anteriormente. Especifica-
los resultados positivos obtidos frente aos poucos mente na questão das vendas, são de extrema im-
recursos disponíveis. Devemos assumir, portanto, portância os treinamentos e o suporte permanente
que é notório às pessoas que possuem um plano às equipes, além de reestruturação dos modelos de
de saúde o fato de que isso significa ter acesso a bonificação e remuneração a essas equipes.
um produto que adota um modelo de atenção à Enfim, é preciso reconhecer que o modelo de
saúde distinto do que elas reconhecem nos servi- atenção predominante atualmente no Sistema
ços públicos. Assim, é esperado que determinadas Unimed e o modelo de atenção centrado na AIS

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 201 201


apresentação

são contraditórios e a coexistência de produtos Essas mesmas experiências pioneiras, porém,


com os dois modelos de atenção sempre será mar- também têm demonstrado que a estruturação de
cada por essas dificuldades no campo do mercado. serviços de AIS possui peculiaridades, característi-
Dessa forma, a expansão da AIS no Sistema Uni- cas e situações do cotidiano dos serviços de saúde,
med deveria ser pensada no sentido de realizar a da operação dos produtos e do próprio mercado da
substituição completa, de forma progressiva. saúde suplementar, que criam dificuldades para a
implementação desse objetivo comum. A transposi-
Conclusão ção dessas dificuldades certamente é possível e será
Seja no campo da qualidade assistencial, seja alcançada por meio do debate, do compartilhamen-
no campo da economia em saúde, os benefícios to de experiências entre as Unimeds e da abertura
dos serviços de AIS para os sistemas de saúde são para a transformação de características das coope-
amplamente conhecidos. Os resultados que vêm rativas, como o modelo de remuneração e as propor-
sendo obtidos nas primeiras experiências com ções de especialistas entre os médicos cooperados.
produtos centrados na AIS em algumas Unimeds Por fim, diante do cenário atual de elevação
demonstram que é provável que esses benefícios marcante dos custos assistenciais e da situação
também se apliquem no contexto do Sistema Uni- econômica do País, levando a uma tendência de
med. É desejável e esperado, portanto, que o desen- redução das carteiras, o investimento em AIS re-
volvimento de produtos centrados na AIS torne-se presenta uma vantagem competitiva e uma pers-
um objetivo comum. pectiva de futuro para o cooperativismo de saúde.

Referências
KIDD, M. A Contribuição da Medicina de Família e Comunidade para os Sistemas de Saúde. 2a. ed. Porto Alegre, 2016.
KLEINERT, S.; HORTON, R. Brazil: towards sustainability and equity in health. The Lancet, 2011; 377(9779):1721–2. DOI:
10.1016/S0140-6736(11)60433-9
MACINKO, J; HARRIS, M.J. Brazil's Family Health Strategy - Delivering Community-Based Primary Care in a Universal
Health System. N Engl J Med, 2015; 372:2177-81. DOI: 10.1056/NEJMp1501140
MENDES, E.V. As redes de atenção à saúde. Brasil. OPAS, 2011.
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Health at a Glance 2015: OECD Indicators. OECD Pu-
blishing, Paris, 2015. DOI: 10.1787/health_glance-2015-en
PISCO, L; SORANZ, D. Formas de remuneração e pagamento por desempenho. Em: GUSSO, G; LOPES, J.M.C. Tratado de
Medicina de Família e Comunidade. Artmed. Porto Alegre, 2012.
SCHEFFER, M. et al, Demografia Médica no Brasil 2015. Departamento de Medicina Preventiva, FMUSP/Cremesp/
CFM. São Paulo, 2015.
SCHNEIDER, E.; SARNAK, D.; SQUIRES, D.; SHAH, A.; DOTY, M.; Mirror, Mirror 2017: International Comparison Reflects
Flaws and Opportunities for Better U.S. Health Care. The Commonwealth Fund, 2017.
STARFIELD, B. Atenção Primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: UNESCO, Mi-
nistério da Saúde, 2002.

202 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 202


apresentação

A campanha Choosing Wisely


e a saúde suplementar brasileira
Rodrigo Diaz Olmos
Professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

A campanha Choosing Wisely (CW), em tradução reduzirão o sofrimento (e as mortes preveníveis)


livre “escolhendo com sabedoria”, iniciou-se formal- e melhorarão a qualidade de vida. Entretanto, tais
mente em abril de 2012 com a publicação de Five promessas muitas vezes não são cumpridas. Em
Things (“as cinco coisas” - intervenções, exames e/ geral, os serviços de saúde capturam pessoas que
ou tratamentos que seriam superutilizados nas res- não precisam de intervenções, sujeitam-nas a tes-
pectivas especialidades e que não forneceriam be- tes diagnósticos, rotulam-nas de doentes ou sob
nefícios significativos aos pacientes) de nove socie- risco, fornecem tratamentos desnecessários, dizem
dades de especialistas dos Estados Unidos, por meio para elas viverem de forma diferente e insistem
da American Board of Internal Medicine (Fundação que elas sejam monitoradas regularmente. Estas
Abim) e da Consumer Reports (entidade de defesa intervenções, na grande maioria dos casos, não
do consumidor). Entretanto, sua origem remonta a, melhoram as condições das pessoas – elas produ-
pelo menos, uma década antes, com o lançamento, zem complicações e sofrimento, reduzem a qua-
em 2002, do texto Medical Professionalism in the lidade de vida e podem, até mesmo, causar mor-
New Millenium: A Physician Charter (“profissiona- te prematura. Além deste malefício individual, há
lismo médico no novo milênio: um estatuto médi- um potencial malefício coletivo e social, uma vez
co”), publicado em conjunto pela Fundação Abim, que recursos de saúde preciosos são desperdiça-
American College of Physicians (Fundação ACP) e dos com intervenções desnecessárias, podendo le-
Federação Europeia de Medicina Interna1. var à falta de recursos para intervenções necessá-
A questão dos excessos na prática clínica tem rias. Este tipo de situação foi descrita há quase 50
sido apontada desde os primórdios da medicina anos pelo médico de família britânico Julian Tu-
(Primum Non Nocere, de Hipócrates), mas tem sido dor Hart2, quando enunciou sua Lei dos Cuidados
discutida mais incisivamente nas últimas duas ou Inversos, demonstrando que as pessoas que mais
três décadas. Há uma percepção crescente de que precisam têm menos acesso à saúde, e as que me-
pessoas saudáveis têm sido prejudicadas por inter- nos precisam têm mais acesso (só que este maior
venções sanitárias (e mesmo pessoas doentes, que acesso, atualmente, também causa dano).
muitas vezes recebem intervenções que produzem As causas dos excessos de intervenções sani-
pouco ou nenhum benefício e podem desencadear tárias são multifatoriais. Questões culturais, cren-
malefícios). Este cenário se associa a um aumento ças e propagandas enviesadas levam pacientes a
progressivo dos custos com saúde, uma vez que a solicitarem exames, tratamentos e procedimen-
incorporação tecnológica ocorre de forma rápida tos dos quais eles não precisam; formação médica
e, muitas vezes, sem uma avaliação apropriada da inadequada produz profissionais com deficiências
relação custo-efetividade. (raciocínio clínico inadequado, desconhecimento
Há, na medicina, um contrato social tácito de de conceitos como valor preditivo e probabilida-
que os cuidados (prestação de serviços de saúde) de pré-teste, dificuldade de lidar com incertezas,

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 203 203


apresentação

pensamento crítico deficiente, falta de profissiona- se fazer check-ups. Estas considerações não têm
lismo, prática centrada na doença e não na pessoa); nada a ver com redução de custos ou racionamen-
diretrizes clínicas são produzidas com conflitos de to de cuidados em saúde, mas com o fato de que
interesse e descontextualizadas; o sistema de saú- até mesmo intervenções preventivas podem cau-
de gira em torno de especialistas focais, o que leva sar danos. É muito mais fácil de compreender que
a cuidados descoordenados e pouco resolutivos, uma medicação prescrita de forma inadequada ou
tanto na atenção primária, como nos cuidados hos- uma cirurgia desnecessária podem causar danos,
pitalares, levando a excessos; a medicina defensi- mas é contraintuitivo dizer (e difícil de entender)
va leva os profissionais a realizarem intervenções que uma singela intervenção para prevenir alguma
desnecessárias com a falsa ilusão de que, desta coisa possa causar mal4. O fato é que estas inter-
forma, estarão imunes a erros e, por conseguinte, venções podem e causam prejuízo às pessoas. Em
processos legais; por fim, a forma de pagamento, geral, o que acontece é que um achado alterado
muitas vezes, estimula os excessos. em um exame qualquer tem o potencial de gerar
Os excessos de intervenções médicas desneces- uma série de consequências, incluindo ansiedade
sárias ocorrem em todos os âmbitos da assistência do paciente pela alteração encontrada, o fenômeno
à saúde, desde a atenção primária até as unidades da rotulação (labelling em inglês, com todas as suas
de terapia intensiva. Entretanto, são particular- consequências deletérias para a qualidade de vida),
mente comuns, e possivelmente mais graves, no o desencadeamento de uma cascata diagnóstica
contexto das atividades preventivas. A maioria das cada vez mais invasiva que por si só pode causar
atividades preventivas relacionadas a intervenções dano, o achado de resultados falso-positivos que
biomédicas, estimuladas pelos sistemas de saúde mantêm e intensificam a cascata diagnóstica, o
e pelos profissionais da saúde, carece de boas evi- achado de incidentalomas, que também levarão
dências científicas que sustentem sua execução. a outras cascatas diagnósticas e, por fim, o achado
Nos últimos tempos, prevenção em saúde tem se de sobrediagnósticos5 (“doenças reais” do ponto de
reduzido à realização de uma série de exames com- vista da definição patológica ou laboratorial, mas
plementares, comumente chamados de check-up, com comportamento não evolutivo, não patológi-
utilizados com a finalidade teórica de encontrar co – em outras palavras, encontra-se uma condição
alguma alteração assintomática (subclínica, laten- que nunca teria se manifestado se não tivesse sido
te, não manifesta) que leve ao diagnóstico precoce descoberta). Todas estas considerações podem
de alguma condição mórbida (doença) que, por sua ocorrer num cenário em que o benefício potencial
vez, seria passível de tratamento, de forma a alterar do achado precoce de uma doença grave (condi-
sua história natural e melhorar o prognóstico do ção evolutiva grave) tampouco está comprovado
paciente (tanto em termos de reduzir a mortalida- (há mais evidências mostrando que a maioria des-
de como em termos de reduzir morbidade e me- tas intervenções não melhora nenhum desfecho
lhorar qualidade de vida). É o que se chama de pre- de saúde do que evidências de que algumas delas
venção secundária, de acordo com Leavell e Clark3. produzem um modesto benefício).
O problema é que esta hipótese, embora plausível A percepção de que intervenções sanitárias po-
e muito apreciada por todos, também deveria ser dem causar mais danos que benefícios vem pro-
comprovada mediante bons ensaios clínicos para duzindo inúmeras iniciativas ao redor do mun-
sabermos se, de fato, funciona e vale a pena imple- do. Algumas em periódicos científicos, como a
mentá-la, e a maior parte dos estudos que abordou Too Much Medicine, do British Medical Journal; o
esta questão mostrou que não há benefício em Less is More, do Journal of the American Medical

204 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 204


apresentação

Association (Jama); e o Teachable Moment, do Jama “de não fazer” ou “evitar”. Estas orientações de-
Internal Medicine; outras associadas a sistemas de vem, necessariamente, partir dos profissionais que
saúde universais como o National Institute for He- executam as intervenções ou procedimentos em
alth and Care Excellence (Nice), o National Health questão, quase como uma autocrítica da prática
Service (NHS) Britânico, que já tem mil recomen- excessiva. As recomendações devem focar em in-
dações Do Not Do, o Recomendaciones No Hacer, tervenções/procedimentos/tratamentos popular-
da Espanha, as Forças-Tarefas de Serviços Preven- mente realizados ou prescritos, mas cujo benefício
tivos Canadenses e Norte-americanas (Canadian ou custo-efetividade sejam duvidosos. Em outras
Task Force on Preventive Health Care e US Pre- palavras, intervenções comumente utilizadas, mas
ventive Services Task Force); além de outras ini- provavelmente desnecessárias, à luz das melho-
ciativas independentes ou vinculadas a fundações res evidências científicas. Para iniciar uma lista
e universidades como a prevenção quaternária, o CW, geralmente se estabelece um pequeno grupo
movimento Slow Medicine italiano, várias confe- (uma força-tarefa) dentro da sociedade médica
rências internacionais (preventing overdiagnosis, em questão. Este grupo comumente realiza uma
disease mongering, avoiding avoidable care, selling revisão da literatura e produz uma lista ampla de
sickness), blogs independentes (Show More Spine, procedimentos/intervenções que deveriam ser
Less is More Medicine) e, por fim, o Choosing Wisely. evitados, embasados em boas evidências, acei-
A ideia central do Choosing Wisely é iniciar con- tas de forma geral. Esta lista é, então, submetida
versas entre médicos e pacientes sobre atividades ao conjunto dos membros da sociedade de espe-
sanitárias de baixo valor, o que inclui exames, pro- cialistas para votação nas cinco ou dez recomen-
cedimentos, intervenções e tratamentos que são dações principais. Elas são, então, publicadas ofi-
comumente utilizados, mas que possivelmente cialmente pela sociedade médica e passam a ser
trazem pouco ou nenhum benefício ao paciente. uma orientação geral a todos os especialistas. O
O mote do CW é Things that doctors and patients processo de escolha das recomendações deve ser
should question (“coisas que médicos e pacientes completamente documentado e disponibilizado
devem questionar”). A ideia é promover uma dis- publicamente. Atualmente, mais de 70 sociedades
cussão sobre fazer a coisa certa no momento certo de especialistas em 18 países já lançaram reco-
para o paciente certo, evitando a prestação de cui- mendações Choosing Wisely.
dados de saúde desnecessários, e potencialmente O sistema de saúde no Brasil tem grande poten-
prejudiciais. Para que esta discussão seja frutífera e cial de se beneficiar das recomendações CW, par-
produza os efeitos desejados, médicos e pacientes ticularmente o sistema de saúde suplementar. Sa-
precisam ter conversas francas sobre que cuidados bemos que há um grande excesso de intervenções
são necessários e apropriados, e estas conversas médicas desnecessárias e isso se perpetua, em par-
precisam estar embasadas em boas evidências e te, pela falsa ideia de que, no sistema suplementar,
ter a chancela das sociedades médicas que, por sua por não haver restrição financeira, os exames po-
vez, têm papel fundamental sobre a atuação dos deriam ser solicitados de forma indiscriminada e
médicos6. Entidades da sociedade civil também sem restrições; e qualquer tentativa de racionalizar
devem participar desta conversa, por meio de boas a utilização de intervenções médicas teria como
informações na mídia numa tentativa de modifi- objetivo primordial a redução de custo. Parte-se
car a cultura do “mais é melhor”. Para embasar as do pressuposto equivocado de que a tecnologia
conversas, a campanha CW estimula as sociedades médica é inequívoca e sempre benéfica, de forma
médicas a produzirem listas de recomendações que sua restrição estaria sempre ligada a algum

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 205 205


apresentação

tipo de racionamento. Esta crença é muitas vezes complexos e multifatoriais. O CW deve ser com-
compartilhada por profissionais e gestores de saú- preendido como uma ferramenta para auxiliar na
de, o que torna a mudança da cultura do “mais é comunicação entre médicos e pacientes sobre ser-
melhor” ainda mais difícil. Para piorar a situação, viços adequados e necessários. Ele deve partir dos
em geral, a população tem a falsa crença de que o profissionais de saúde e suas sociedades médicas,
sistema suplementar é o ideal de saúde e o Siste- além dos pacientes e suas entidades representa-
ma Único de Saúde (SUS) seria apenas um sistema tivas da sociedade civil. Não é, e não deveria ser,
ruim para pessoas de baixa renda, fazendo que, uma iniciativa de agências reguladoras, ou de ins-
muitas vezes, as demandas para o SUS, por parte tituições ou seguradoras de saúde. O CW não deve
dos conselhos gestores e da população, sejam para ser entendido como diretrizes, mas, sim, como um
mais exames e mais intervenções, à semelhança movimento de autocrítica, baseado em boas evi-
do que ocorre, de forma equivocada, no sistema dências e compartilhado com os pacientes. Tam-
suplementar. É interessante notar que, paradoxal- bém não deve ser entendido como um instrumen-
mente, o SUS, em virtude de seu subfinanciamen- to de gestão para reduzir os custos com a saúde,
to crônico, muitas vezes protege seus usuários dos muito embora, possivelmente, serviços de saúde
danos causados pelos excessos de intervenções coordenados, longitudinais, integrais, de melhor
médicas desnecessárias. qualidade, centrados na pessoa e racionais sejam
A campanha CW não deve ser entendida como mais baratos que os atualmente prestados no Bra-
uma panaceia para os excessos da medicina. Não sil, onde imperam a descoordenação, a falta de lon-
há soluções simples e únicas para problemas gitudinalidade e os excessos.

Referências
Project of the Abim Foundation, ACP–ASIM Foundation, and European Federation of Internal Medicine. Medical Pro-
fessionalism in the New Millennium: A Physician Charter. Ann Intern Med. 2002; 136:243-246.
HART, J.T. The Inverse Care Law. Lancet. 1971; 1(7696):405-12.
LEAVELL & CLARK. Preventive Medicine for the Doctor in his Community. 3rd Ed. New York, McGraw-Hill, 1965.
OLMOS, R.D. Entrevista para Proqualis, Fiocruz. Acessível em https://proqualis.net/entrevista/
entrevista-com-o-m%C3%A9dico-rodrigo-olmos-da-academia-brasileira-de-medicina-hospitalar.
WELCH, H.G.; BLACK, W.C. Overdiagnosis in cancer. J Natl Cancer Inst. 2010; 102(9):605-13.
WINTEMUTE, K.; MCDONALD, K.; HUYNH, T.; PENDRITH, C.; WILSON, L. Addressing overuse starts with physicians:
Choosing Wisely Canada. Can Fam Physician. 2016; 62(3):199-200.

206 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 206


apresentação

A metamorfose do gigante
Cloer Vescia Alves
Coordenador do Comitê de Atenção Integral à Saúde da Unimed do Brasil

Sheila Mittelstaedt
Gerente de Gestão de Saúde da Unimed do Brasil

Silvia Esposito Egidio


Coordenadora da área de Atenção à Saúde da Unimed do Brasil

O Sistema Unimed avançou de modo marcante A Unimed tornou-se a maior cooperativa de saú-
e surpreendente ao longo de cinco décadas desde de do mundo, diversificou suas atividades e criou
a fundação da Unimed Santos, em São Paulo, no complexos cooperativos empresarias com atuação
ano de 1967. Figura como Top of Mind na saúde há em diferentes nichos, da saúde aos seguros, além de
mais de 20 anos e se mantém entre as marcas mais fomentar o desdobramento de organizações voltadas
valiosas do Brasil, chamando a atenção também ao crédito no setor financeiro. Originariamente, orga-
por ter conseguido gerar cooperação entre médi- nizou-se a partir de cooperativas Singulares de médi-
cos, cuja formação se alinha mais à atuação isolada cos cooperados, Federações e Confederação, aumen-
e individual. tando a complexidade ao longo do tempo (figura 1).

Figura 1. Sistema Unimed (organização atual)

O Sistema Unimed

1
94 mil
Confederação
Nacional

empregos diretos 1 15
Presente em
Confederação Federações
293
84%
Regional Institucionais
Unimeds como

348
Operadora*
114 mil do território 1 18
Nacional Central Federações
cooperados
31%
Nacional Operadoras
Cooperativas

4.686 33 274 das operadoras


do setor
18 milhões
Municípios atendidos Singulares
Federações
Operadoras

de beneficiários
312 38
Singulares
Singulares
Prestadoras

(*) Incluindo Federações e Singulares

Fonte: Panorama Saúde em Números, Unimed do Brasil, 2017

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 207 207


apresentação

Figura 2. Rede assistencial do Sistema Unimed

Recursos Próprios e Força das Cooperativas Unimeds no Brasil

A rede de Hospitais Unimed


Recursos próprios Credenciados Força das Cooperativas Unimed no Brasil é a segunda maior rede hospitalar
no país, com a mesma marca,
Investimentos em hospitais próprios pois a primeira é a rede
113 Hospitais Geral 2.719 das Santas Casas.

19
Hospitais
Hospitais-Dia

199 Prontos Atendimentos (P. A.)


37 Previsão para 2017
3 novos e 376 leitos novos
Prontos Atendimentos (P.A.)

94 Laboratórios
5.628 Previsão para 2018
118 Centros de Diagnósticos
Laboratórios
3 novos e 586 leitos novos
93 Farmácias 2.030
8.561 Leitos
Centros de Diagnósticos Sem previsão de finalização

2 novos e 270 leitos novos


172 Leitos Hospital-Dia
112.926
Leitos

Fonte: Panorama Saúde em Números, Unimed do Brasil, 2017

Ainda que atuante em outras áreas, o Sistema vista financeiro, essas transações representaram,
Unimed desenvolveu-se fortemente no segmento em 2016, cerca de R$ 14,8 bilhões, conforme dados
de saúde suplementar, e responde atualmente por publicados pela Unimed do Brasil.
cerca de 40% desse mercado, pois conta com uma No entanto, ainda que essas transações sejam
carteira que chega a 18 milhões de beneficiários, de grande porte, isso não significa dizer que a pu-
com predomínio de planos empresariais. Há um jança desse Sistema se reflita em termos de susten-
portfólio variado de serviços ofertados e supor- tabilidade. Nesse sentido, o que chama a atenção
te de cerca de 114 mil médicos cooperados, com é justamente a elevada sinistralidade média (85%)
presença em 84% do território nacional, segun- nas carteiras de beneficiários, cujo aumento cres-
do dados da Confederação, a Unimed do Brasil. A cente pode inviabilizar muitas operadoras e acele-
magnitude da estrutura disponível para sustenta- rar o processo de fusão entre elas, para melhor sal-
ção dos planos de saúde é gigantesca e contempla vaguardar as garantias estabelecidas pela Agência
a segunda maior rede hospitalar privada do País Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
(figura 2). Cabe, portanto, a pergunta: por que a sustenta-
Dentre os maiores destaques da Unimed estão bilidade está ameaçada? Trata-se de uma questão
a capilaridade e a capacidade de a rede de serviços complexa, sendo que se identifica que há, de ma-
operar sob o modo de Intercâmbio, no qual o clien- neira geral, uma dissintonia entre o cenário que se
te de uma cooperativa pode ser atendido por outra, apresenta à saúde no século 21 e o modelo de aten-
de acordo com as premissas contratuais. Os núme- ção praticado pelas operadoras, cujo desenho foi
ros decorrentes dessas operações entre as opera- concebido em meados do século passado, quando
doras da rede assistencial Unimed são igualmente diversos panoramas – seja demográfico, epidemio-
gigantescos: 857 mil internações, 44,3 milhões de lógico, tecnológico, econômico ou social – eram
exames e 22,7 milhões de consultas. Do ponto de bastante diferentes dos atuais.

208 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 208


apresentação

As demandas se transformaram e exigiram planejamento estratégico voltado às necessidades


novas respostas e soluções das operadoras, cujos do atual cenário, o CAS vem promovendo ações e
modelos de atenção não se adequaram simulta- fortalecendo iniciativas transformadoras, tendo a
neamente. Tal situação gerou uma incoerência AIS como orientação sistêmica, com base numa
entre a atual oferta de serviços de saúde, que se- estratégia estudada e alicerçada nas melhores re-
gue baseada num cenário que se modificou. As ferências mundiais, inserindo a APS na porta de
necessidades de saúde nos anos 2000 são outras entrada e como elemento central de comunicação
e, portanto, já não basta se oferecer mais do mes- e regulação na rede.
mo, especialmente pelo aumento de oferta indis- As discussões técnicas nas plenárias do Comi-
criminado, o que somente eleva o custo e estimula tê têm construído soluções e propostas voltadas
a hiperutilização, além de fragilizar a segurança e à sustentabilidade das operadoras Unimed. Den-
comprometer ainda mais a qualidade dos serviços. tre as ações do CAS, destacam-se: publicação de
A sinistralidade tende a aumentar, visto que pre- manuais, diretrizes, protocolos, guias, promoção
pondera nesse sistema a modalidade de pagamen- de cursos, eventos e, com maior ênfase, a criação
to por produção (fee for service). e a realização do Congresso Nacional Unimed de
O século 21 trouxe grandes avanços científicos Atenção Integral à Saúde.
para enfrentamento de muitas enfermidades, po- Num processo de incremento constante, o
rém, ainda não se conseguiu alcançar um adequado planejamento do CAS vem sendo revisitado e re-
controle de problemas que permanecem afetando a alinhado às novas tendências, viabilizando o sur-
maior parte dos indivíduos, como as doenças crô- gimento de projetos inovadores e que reforçam o
nicas não transmissíveis (DCNT), que representarão compromisso da Unimed do Brasil com a susten-
cerca de 80% da carga total de doença na população, tabilidade das operadoras e do Sistema Unimed
em 2020, segundo a Organização Mundial da Saúde como um todo. Assim, o CAS concebeu em 2016
(OMS). Este órgão vem sinalizando enfaticamente a revista Unimed Ciência, cujo conteúdo consis-
a necessidade de reforma dos sistemas de saúde te na publicação de trabalhos técnico-científicos
mundo afora, a fim de que melhor acompanhem a apresentados e selecionados nos congressos. Ao
velocidade de transformação do cenário, empreen- mesmo tempo em que valoriza o alinhamento às
dendo as adaptações requeridas. melhores evidências, a Unimed Ciência divulga ex-
Atualmente, tornou-se inequívoca a valoriza- periências e resultados obtidos, especialmente a
ção da Atenção Integral à Saúde (AIS) com base partir da inserção da APS e do desenvolvimento da
numa ótica voltada, principalmente, à orientação estratégia da AIS no Sistema Unimed.
dada pela Atenção Primária à Saúde (APS), identi- Desta forma, renovam-se constantemente as
ficada mundialmente como Primary Health Care. A ações e o gigante da saúde suplementar brasileira
AIS reforça a promoção da saúde, a vigilância e a reinventa-se não somente para permanecer sus-
prevenção de riscos e doenças, como preconizado tentável, mas, sobretudo, para fortalecer a lideran-
pela OMS, a partir de uma APS que ofereça acesso, ça e o protagonismo em prol de avanços da saúde
seja resolutiva, garanta a continuidade, a integrali- no País, com foco no cuidado integral.
dade e a coordenação do cuidado. Há sinais de profundas transformações sistêmi-
A mudança está em curso e a Unimed do Brasil cas e avanços sinérgicos nos diferentes níveis da
impulsionou esse movimento na saúde suplemen- gestão das Singulares, das Federações e da Confe-
tar, com a criação do Comitê de Atenção Integral deração, sendo que a criação da Diretoria de Gestão
à Saúde (CAS), em março de 2012. A partir de um de Saúde da Unimed do Brasil reforça ainda mais

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 209 209


apresentação

Figura 3. Projetos em avanço para inserção da AIS

Distribuição dos projetos em avanço voltados à inserção


da Estratégia da Atenção Integral à Saúde

Região Norte Região Sudeste


Belém (PA) Amparo (SP)
Araraquara (SP)
Bauru (SP)
Região Nordeste Bebedouro (SP)
Ceará (CE) Caçapava (SP)
Campinas (SP)
Região Sul Guarulhos (SP)
Federação PR Jaboticabal (SP)
Cascavel (PR) Jundiaí (SP)
Londrina (PR) Itapetininga (SP)
Maringá (PR) Ourinhos (SP)
Noroeste do Paraná (PR) Penápolis (SP)
Oeste do Paraná (PR) Presidente Prudente (SP)
Blumenau (SC) Piracicaba (SP)
Grande Florianópolis (SC) Regional Baixa Mogiana (SP)
Chapecó (SC) Rio Claro (SP)
Jaraguá do Sul (SC) Salto Itu (SP)
Litoral (SC) Santa Bárbara e Americana (SP)
Joinville (SC) São José dos Campos (SP)
Noroeste (RS) São José do Rio Preto (SP)
Planalto Central (RS) Santos (SP)
Porto Alegre (RS) Sorocaba (SP)
Vale do Sinos (RS) Belo Horizonte (MG)
VTRP (RS) Produto (22) Juiz de Fora (MG)
Benefício (11) Uberlândia (MG)
Programa (3) Sul Capixaba (ES)
Em estudo (9) Vitória (ES)
Volta Redonda (RJ)

Fonte: Panorama Saúde em Números, Unimed do Brasil, 2017

essa percepção. Daí já decorre um realinhamento encontra-se respaldada fortemente pela liderança
estratégico que propõe a aproximação das diversas política e, sobretudo, alicerçada na representação
áreas internas relacionadas à saúde, refletindo no institucional da Unimed do Brasil.
modelo de governança a mesma estratégia adotada Há um longo caminho a se percorrer, mantendo-
pela Atenção Integral à Saúde, o que significa tam- se as conquistas de 50 anos de história, reafirman-
bém forte convergência e sinergia de propósitos. do-se a melhoria contínua, sob a ótica do Institute
Da mesma forma, a recente ativação da gerência for Healthcare Improvement (IHI), pelo triplo cuida-
de Gestão de Saúde demonstra inequivocamente a do: melhor experiência do cuidado aos indivíduos,
declaração positiva da Diretoria Executiva da Con- melhoria da saúde da população e custo sustentável
federação ao priorizar as ações voltadas à AIS. para a saúde. A Unimed se transforma – metaforica-
Os desafios são imensos e proporcionais à mag- mente – utilizando as melhores práticas adaptativas,
nitude da Unimed, sendo que os avanços – em apostando que “não é o mais forte da espécie que
diferentes estágios – são promissores (figura 3) e sobrevive, nem o mais inteligente; é aquele que me-
que a base técnica e científica desse movimento lhor se adapta às mudanças” (Charles Darwin, 1838).

210 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 210


apresentação

Quando menos é mais


Prevenção quaternária mostra a importância da relação de confiança entre médico e paciente e da
inserção da Atenção Integral à Saúde em reforço à qualidade e segurança dos cuidados prestados

Quem nunca saiu de uma consulta com uma lis- medicalização, seja diagnóstica ou terapêutica. Em
ta interminável de exames a serem realizados? Às reforço a essa abordagem, o médico generalista
vezes, esse pode até ser o resultado de uma visita de espanhol, Juan Gérvas, enfatizou a importância de
rotina ao médico, sem que haja qualquer menção a se atenuar ou evitar as consequências do interven-
algum sintoma. Por outro lado, existe a preocupação, cionismo médico excessivo que implica atividades
tanto do profissional de saúde quanto do paciente, médicas desnecessárias. De forma contínua, direta
de poder prevenir um possível quadro crônico ou, e simples, a prevenção quaternária busca detectar
quem sabe, uma doença que esteja “escondida”. indivíduos em risco de tratamento excessivo, de
Outro acontecimento comum nos tempos atu- forma a protegê-los de intervenções inapropria-
ais é o surgimento de patologias relacionadas ao das, a partir de abordagens que sejam eticamente
uso excessivo de medicamentos – prescritos ou aceitáveis. Sob esse enfoque, menos intervenção
por meio de automedicação. significa mais saúde.
Ambos os cenários são reconhecidos hoje pelo O conceito foi adotado, em 2003, pela Organi-
que os especialistas chamam de sobrediagnóstico zação Mundial de Colégios Nacionais, Academias
e hipermedicalização (originários dos termos em e Associações Acadêmicas de Médicos Gerais/Mé-
inglês overdiagnosis e overmedicalization) e po- dicos de Família (Wonca) e amplamente discutido
dem acabar provocando iatrogenia – doença com durante o 4º Congresso Nacional Unimed de Aten-
efeitos e complicações causadas como resultado ção Integral à Saúde, realizado em junho de 2017,
de um tratamento médico, afetando tanto a quali- em Gramado (RS).
dade quanto a segurança do cuidado. Especialista no assunto, a médica de família e
O argumento de tratar as pessoas da melhor ex-presidente do Royal College of General Prac-
forma possível parece não justificar o uso indiscri- titioners, a escocesa Maureen Baker, fez uma pa-
minado de remédios e exames. Para entender esse lestra sobre a prevenção quaternária no evento e
problema, que afeta a sociedade como um todo, a destacou a importância da participação do próprio
Organização das Nações Unidas divulgou que, em paciente nas definições do que é realmente im-
2016, o consumo abusivo de medicações controla- portante em seu tratamento. “O paciente ou sua
das superou o de heroína, ecstasy e cocaína juntos. família é quem deve decidir se vai aceitar, ou não,
Em um movimento contrário a esses excessos, determinado tratamento. Para fazer essa escolha,
está a prevenção quaternária, que visa proteger os ele precisa ter o suporte de profissionais de saúde
pacientes da intervenção médica desnecessária e e informações baseadas em evidências. Os profis-
prevenir iatrogenias. O conceito nasceu em 1999, sionais, por sua vez, devem usar técnicas de deci-
com a contribuição do belga Marc Jamoulle, mé- são compartilhada para explicar os benefícios e
dico de família e comunidade que apontou a ne- os malefícios dos procedimentos que estão sendo
cessidade de melhor se definir os vários critérios e indicados”, esclarece ela, acrescentando que é pre-
propostas para manejar o excesso de intervenção e ciso haver uma relação de confiança entre médico

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 211 211


apresentação

e paciente, para que este saiba que o profissional holística. E um jeito de se colocar isso em prática é
está agindo a favor dele. tendo clínicos gerais focados justamente na obser-
De acordo com a especialista, muitos dos siste- vação do indivíduo como um todo.”
mas de saúde existentes hoje mundo afora foram No Sistema Unimed, cerca de 50 cooperativas
desenvolvidos para tratar doenças isoladamente, o já têm atendimentos voltados à prática da atenção
que, em muitos casos, acarreta sobrediagnósticos e à saúde. A Agência Nacional de Saúde Suplementar
uso excessivo de remédios. Para ela, além do em- (ANS) também possui uma iniciativa com o objetivo
poderamento do próprio paciente, a inserção do de estimular uma participação mais proativa de pa-
modelo de Atenção Integral à Saúde, com o aten- cientes e usuários desse sistema em relação à tomada
dimento de clínicos gerais na porta de entrada, é a de decisão em saúde. O projeto Sua Saúde tem foco
solução prática para essa questão. “Os sistemas de na informação de qualidade compartilhada com os
saúde devem ter uma aproximação mais genera- outros responsáveis pelo cuidado do paciente, como
lizada, na qual as pessoas sejam tratadas de forma médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde.

212 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 212


artigos originais
premiados2017
Impacto do matriciamento em Saúde Mental
para profissionais da Atenção Primária à Saúde
da Unimed Vitória

Paulo Magno do Bem Filho1, Paula Athayde Braga Machado2 e Kamilla Duarte Siqueira3
UNIMED VITÓRIA

RESUMO
Os profissionais de saúde da atenção primária precisam estar capacitados para acompanhamento e condu-
ção dos casos de transtornos mentais, devido à alta prevalência deles na população em geral. Esse tipo de
serviço tem potencial para detectar e tratar seus clientes de forma resolutiva e, consequentemente, evitar
internações psiquiátricas e encaminhamentos à especialidade focal sem real necessidade. Essa resoluti-
vidade é possível, em razão de a atenção primária atuar como porta de entrada do sistema de saúde e do
princípio da longitudinalidade, que permite maior contato e estabelecimento de vínculo entre profissional
e cliente. Dessa forma, enfermeiros, médicos e psicólogos da equipe do produto Unimed Personal foram
capacitados e contaram com apoio matricial em saúde mental de profissional qualificado por seis meses.
Com base em um estudo prévio do processo de trabalho e nos recursos disponíveis, foram feitos workshops
com temas prevalentes, discussões de casos em grupos, consultas compartilhadas e discussões por tele-
medicina. Após esse período, foram comparados dados sobre número de internações psiquiátricas e enca-
minhamentos à psiquiatria, antes e depois do programa. A conclusão deste estudo foi que o treinamento e
o apoio matricial colaboraram para a redução do número de internações psiquiátricas e encaminhamentos
à especialidade focal. Com o resultado obtido, podemos concluir que houve aumento de resolutividade dos
casos de saúde mental no nível de atenção primária à saúde após capacitação da equipe e apoio matricial.

Palavras-chave: Matriciamento. Saúde mental. Atenção Primária à Saúde. Capacitação. Encaminhamento.


Internação.

1. Médico graduado pela UFMG, cooperado e Gestor Médico Unimed Personal. E-mail: pmfilho@unimedvitoria.com.br
2. Médica graduada pela UFMG, Médica de Família e Comunidade, cooperada e de referência Unimed Personal Vitória. E-mail:
pmachado@unimedvx.com.br
3. Enfermeira graduada pela Faculdade Multivix, Coordenadora de unidade Unimed Personal. E-mail: ksiqueira@unimedvx.com.br

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 213 -216 213


Paulo Magno do Bem Filho, Paula Athayde Braga Machado e Kamilla Duarte Siqueira

artigos originais premiados2017

1. Introdução atenção primária a partir de orientação adequada


Transtornos mentais e por abuso de substân- (FIGUEIREDO; CAMPOS, 2009).
cias são comuns em todas as regiões do planeta O intuito do apoio matricial é oferecer suporte
e afetam todas as comunidades e todos os grupos assistencial e pedagógico pelo especialista focal
etários. Indivíduos com esses transtornos apresen- para equipes multidisciplinares que atuam como
tam declínio da capacidade funcional e aumento referência e possuam clientela definida. Essas
da mortalidade. A título de exemplo, pessoas com equipes ampliam a possibilidade de construção de
depressão e esquizofrenia apresentam, respectiva- vínculo entre profissionais e clientes e reforçam o
mente, 40% e 60% maiores chances de morrer pre- potencial para gerenciamento da carteira (CAM-
maturamente em relação à população geral. Isso POS; DOMITTI, 2007).
decorre principalmente de outros problemas mé-
dicos que não são cuidados apropriadamente e do 2. Objetivo
suicídio, segunda maior causa de morte em jovens Compreender se as ações de capacitação e ma-
no mundo (WHO, 2016). triciamento implantadas nas unidades Unimed
A saúde mental é uma parte da saúde geral e Personal colaboraram com a redução de indicado-
do bem-estar. Entretanto, o sistema de saúde ainda res de internações e encaminhamentos psiquiátri-
não tem respondido adequadamente às necessida- cos de crianças e adultos no produto.
des das pessoas com transtornos mentais. Mesmo
em países desenvolvidos, de 35% a 50% das pesso- 3. Metodologia
as com transtornos mentais graves não têm aces- O Unimed Personal é um produto pioneiro de
so ao tratamento adequado. Essas taxas chegam a Atenção Primária à Saúde na assistência suple-
85% em países pobres e em desenvolvimento. Glo- mentar. É um modelo baseado no atendimento in-
balmente, a maioria dos serviços de saúde mental tegral, personalizado e humanizado feito por uma
é de base hospitalar, com poucos recursos alocados equipe multidisciplinar de saúde.
para serviços de promoção, prevenção, tratamento Foi selecionado médico psiquiatra com perfil
e reabilitação de base ambulatorial e comunitária e experiência em integração de saúde mental na
(WHO, 2016). atenção primária. O especialista avaliou o modelo
Sabe-se que até 60% dos pacientes em acom- existente de atenção primária à saúde, da cultura
panhamento na atenção primária apresentam médica local, no que diz respeito ao fluxo de pa-
pelo menos um transtorno mental, que rara- cientes, aos instrumentos de detecção, aos proto-
mente é diagnosticado, e é tratado corretamente colos de tratamento e aos instrumentos de monito-
com frequência menor ainda. Para garantir que ramento de resultados. Com base nesses dados, foi
as pessoas recebam os cuidados de saúde men- criado um cronograma com temas relacionados. A
tal de que precisam é necessária a integração de partir de outubro de 2016, os profissionais médi-
serviços de saúde mental nos cuidados primários cos, clínicos e pediatras, e enfermeiros do Unimed
de forma a cobrir o déficit de tratamento (WHO, Personal participaram de workshops mensais (oito
2016). A maioria dos usuários referenciados à as- horas/mês), consultas compartilhadas (médico de
sistência secundária não possui uma demanda referência, psiquiatra e cliente), estudo de casos
específica que justifique atenção especializada. em grupo (média de 16 casos/mês) e discussão
Dessa forma, pacientes com transtornos mentais por telemedicina. Para avaliar os resultados dessa
leves podem ser cuidados e acompanhados na intervenção, foram escolhidos os indicadores de

214 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 213 -216


Impacto do matriciamento em saúde mental para profissionais da Atenção à Saúde da Unimed Vitória

artigos originais premiados2017

número de internações psiquiátricas e encaminha- Gráfico 2. Número de encaminhamentos à


mentos à psiquiatria. psiquiatria de maio/2016 a fevereiro/2017
Os indicadores de internações psiquiátricas e
Número de vidas X Encaminhamentos
encaminhamentos, adultos e pediátricos, à espe-
cialidade focal são extraídos, respectivamente,

42571

41251

42131
35379
36
semanal e mensalmente, por meio do Portal SAS 50000 40

29044
28673
28
Unimed Vitória, ferramenta usada para gerar rela-

25043
25043
40000 25 30

tórios. Foram analisados dados referentes aos cin- 30000


23 23
27 27
20
22

27858
co meses anteriores e cinco meses posteriores ao 20000 19

25043
18
10
início da capacitação (outubro 2106). 10000

0 0

mai/16

jun/16

jul/16

ago/16

set/16

out/16

nov/16

dez/16

jan/17

fev/17
4. Resultados e discussão
Conforme mostra o Gráfico 1, a partir de no- Vidas Encaminhamentos
vembro de 2016, segundo mês de apoio matricial,
apesar de aumento do número total de vidas, hou- Fonte: Portal SAS/Intramed Unimed Vitória.
ve queda do número total de internações psiquiá-
tricas do produto. 5. Conclusão
O estudo evidenciou que o apoio matricial pode
Gráfico 1. Internações psiquiátricas nos meses de ser uma ferramenta facilitadora da interação entre
maio/2016 a fevereiro/2017 os níveis de atenção e contribuir para a diminuição
do número de internações psiquiátricas e encami-
Número de vidas X Internações psiquiátricas
nhamentos à especialidade focal.
Apesar de os autores considerarem o número
35379

42571

42131
41251

50000 10
de internações e de encaminhamentos à psiquia-
29044
25043

27858

28673
25043

25043

40000 8
tria bons indicadores para avaliação da eficácia do
30000 7 9 6
6 6
7
7 7
programa implementado, considera-se uma limi-
20000 5 4
4 tação do estudo não ter sido avaliada a efetividade
3
10000 2
do tratamento realizado pelo médico generalista.
0 0
Como proposta futura, os autores pretendem
mai/16

jun/16

jul/16

ago/16

set/16

out/16

nov/16

dez/16

jan/17

fev/17

avaliar a efetividade do tratamento feito pelo mé-


Vidas Internações dico generalista e a satisfação de profissionais de
saúde e clientes participantes após capacitação e
Fonte: Portal SAS/Intramed Unimed Vitória. apoio matricial em saúde mental.

Referências
CAMPINAS. Secretaria Municipal de Saúde. Projeto Paideia Saúde da Família. 2001. Disponível em: <http://www.
campinas.sp.gov.br/saude/programas/protocolos/protocolos_mental>. Acesso em: 11 abr. 2017.
CAMPOS, G. W. S.; DOMITTI, A. C. Apoio matricial e equipe de referência: uma metodologia para gestão do trabalho
interdisciplinar em saúde. Cad. Saúde Pública, v. 23, n. 2, p. 399-407, 2007.

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 213 -216 215


Paulo Magno do Bem Filho, Paula Athayde Braga Machado e Kamilla Duarte Siqueira

artigos originais premiados2017

FIGUEIREDO, M. D.; CAMPOS, O. R. Saúde Mental na atenção básica à saúde de Campinas, SP: uma rede ou um ema-
ranhado? Ciência & Saúde Coletiva, v. 14, n. 1, p. 129-138, 2009.
QUINDERÉ, P. H. D. et al. Acessibilidade e resolubilidade da assistência em saúde mental: a experiência do apoio ma-
tricial. Ciênc Saúde Coletiva. v. 18, n. 7, p. 2157-2166, 2013.
SOUSA, F. S. P. et al. Tecendo a rede assistencial em saúde mental com a ferramenta matricial. Physis Revista de Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, v. 21, n. 4, p. 1579-1599, 2011.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO Mental Health Gap Action Programme. 2016. Disponível em: <http://www.
who.int/mental_health/mhgap/en/>: Acesso em: 10 jul. 2017.

216 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 213 -216


Inovação nas condutas da Atenção Integral à Saúde prestadas às gestantes

artigos originais premiados2017

Inovação nas condutas da Atenção Integral à Saúde


prestadas às gestantes

Emilly Sampaio Favaro Colombi1; Esvana Quinelato Cipriano2 e Fernanda Souza Miranda3
UNIMED VITÓRIA

RESUMO
O objetivo deste trabalho é avaliar como a inovação implantada na atenção integral à saúde de gestantes
da Unimed Vitória, por meio de central de telessaúde e plataforma digital de gestão de cuidado, contribuiu
para o cumprimento do plano de ação proposto pelo Ministério da Saúde, visando ao melhor prognóstico
obstétrico e ao bem-estar para o binômio mãe-filho. Foram avaliadas retrospectivamente 2.599 gestantes.
Destas, 1.097 foram acompanhadas de janeiro a dezembro de 2016 e 1.502 não participaram do programa,
tornando-se o grupo controle. Com esse resultado podemos observar que as gestantes acompanhadas pelo
Viver Bem tiveram 74,1% do cumprimento do cuidado perfeito preconizado pelo Ministério da Saúde, en-
quanto as não acompanhadas tiveram 52,5%.

Palavras-chave: Gestão em Saúde. Gestação. Prontuário Eletrônico.

1. Enfermeira. Graduação em Enfermagem. ecipriano@unimedvx.com.br


2. Enfermeira. Pós-graduação em Saúde Coletiva e Gerontologia. efavaro@unimedvx.com.br
3. Fisioterapeuta. Coordenadora da Medicina Preventiva. Pós-graduação em Uroginecologia e Obstetrícia, Gestão Empresarial e
Atenção Primária. fsmiranda@unimedvx.com.br

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 217-222 217


Emilly Sampaio Favaro Colombi, Esvana Quinelato Cipriano e Fernanda Souza Miranda

artigos originais premiados2017

1. Introdução eletrônicos em saúde (RES) vêm sendo utilizados


O período pré-natal é um momento de grande com crescente frequência, tendo resolução do
expectativa e de preparação biológica e psicológi- Conselho Federal de Medicina para regulamentar
ca para o parto e para a maternidade. Todavia, é um o seu uso. As TICS associadas ao RES constituem
período de constante aprendizado, fundamental um repertório de informação a respeito da saúde,
para o bom desenvolvimento do binômio mãe-fi- permitindo armazenamento, compartilhamento
lho. A fim de reduzir a chance de maus desfechos, de informações e tomada de decisões (FEITOSA;
gestantes devem ter acompanhamento multidis- ÁVILA, 2016).
ciplinar, que desempenha um papel estratégico no Nesse contexto, a Unimed Vitória implementou
processo educativo, como dimensão do processo um novo modelo de atenção integral à saúde das
de cuidar e de conhecimento sobre alterações fi- gestantes, inovando por meio de uma central de
siológicas oriundas da gravidez, por meio de in- telessaúde, de sistema de gestão do cuidado, health
tervenções dietéticas, mudanças no estilo de vida, coach e integração com dispositivos médicos mó-
monitoramento das glicemias e da pressão arterial, veis (Hihub) na plataforma digital Healthmap, es-
gerenciamento rigoroso dos riscos e vigilância do truturada por meio de formulários eletrônicos que
controle de peso, indispensáveis para otimizar as padronizam a coleta de informações na gestação
metas de tratamento e os desfechos materno-fe- seguindo o protocolo preconizado pelo Ministério
tais (CAMILLO et al., 2016; FEITOSA; ÁVILA, 2016). da Saúde. Essa inovação é capaz de combinar o ma-
O Ministério da Saúde estabeleceu a portaria peamento do risco em saúde com a personalização
nº 569, de 1º de julho de 2000, sobre o Programa de planos de cuidados e longitudinalidade da assis-
de Humanização no Pré-natal e Nascimento, nor- tência até o pós-parto, resultando em mais acessi-
matizando que no acompanhamento da gestação bilidade e eficiência. Quanto mais estruturada for a
devem-se realizar as seguintes atividades: seis coleta de informações, mais próximos da realidade
consultas pré-natais, sendo a primeira até o 4º mês estarão os dados, proporcionando subsídios para
de gestação; atividades educativas; os exames la- apoio à decisão terapêutica e intervenção no geren-
boratoriais hemoglobina/hematócrito, ABO-Rh e ciamento do cuidado (ALEXANDRIA, 2012).
coombs indireto (se for negativo) na primeira con- Para uma melhor interface com o cliente, o health
sulta; os exames VDRL, anti-HIV, urina de rotina/ coach, gestor em saúde, é responsável por aplicar os
urocultura e glicemia de jejum na primeira consul- processos de coaching na área da saúde tendo a ca-
ta e na 30ª semana da gestação; garantia às gestan- pacidade de ouvir, discutir, questionar e intervir nas
tes classificadas como de risco de atendimento ou tomadas de decisões, visando ao melhor bem-estar
acesso à unidade de referência ambulatorial e/ou para o binômio mãe-filho e atuando como supor-
hospitalar (BRASIL, 2000). te ao cuidado médico prestado, priorizando a edu-
Nos últimos anos tem havido especial interes- cação em saúde e a prevenção de riscos e doenças
se e investimento em serviços de telessaúde uti- (DONNER, WHEELER, 2009; ROCHA, 2014).
lizando tecnologias de informação e comunicação
em saúde (TICS) em várias partes do mundo, com 2. Objetivo
o intuito de gerenciar, monitorar, avaliar e intervir Avaliar como a inovação implantada na atenção
nos serviços de atenção primária à saúde, qualifi- integral às gestantes da Unimed Vitória, por meio
cando suas ações assistenciais e ampliando a capa- da central de telessaúde e da plataforma digital de
cidade de identificação e resolução das necessida- gestão de cuidados, contribui para o cumprimen-
des em saúde da população. No Brasil, os registros to do plano de ação proposto e o fornecimento de

218 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 217-222


Inovação nas condutas da Atenção Integral à Saúde prestadas às gestantes

artigos originais premiados2017

dados clínicos relevantes para melhor coordena- aparelhos esfignomanômetro e glicosímetro para
ção do cuidado e intervenção nas tomadas de deci- monitorização da pressão arterial e glicemia, res-
sões, visando a um melhor prognóstico obstétrico pectivamente, de forma integrada à plataforma di-
e ao bem-estar para o binômio mãe-filho. gital por meio de dispositivos médicos móveis, en-
tendendo ser esse um cuidado fundamental para
3. Metodologia o melhor prognóstico obstétrico. Diante de alte-
Foram avaliadas retrospectivamente 2.599 ges- rações nos parâmetros de normalidade, o sistema
tantes identificadas na carteira da Unimed Vitória; dispara alertas clínicos para que imediatamente
destas, 1.097 foram captadas de janeiro a dezem- seja realizado contato de teleorientação e, quando
bro de 2016 e 1.502 não participaram do programa, necessário, encaminhamento para o médico de re-
compondo o grupo controle. Os dados do presen- ferência ou para o pronto-atendimento.
te estudo foram retirados da análise de utilização Os indicadores de monitoramento definidos fo-
da carteira e da plataforma de gestão do cuidado ram avaliados mensalmente durante a gestação e
implementada. Para análise dos resultados foi cal- no período pós-parto, para mensuração de resulta-
culado o P-valor a partir do teste qui-quadrado, dos e da qualidade do serviço oferecido.
considerando um nível de significância de 5%. As
gestantes foram cuidadas por uma equipe multi- 4. Resultados/Discussão
profissional e por coach em saúde. Das 1.502 gestantes que não participaram do
A captação foi realizada por meio de uma cen- programa Viver Bem, 87,5% realizaram o exame
tral de telessaúde, na qual as clientes inseridas de glicose em jejum, 91,1% realizaram hemograma,
na plataforma digital Healthmap foram avaliadas 63,2% realizaram o ABO-RH e 11,3%, coombs indi-
quanto ao risco, com elaboração de plano de ação reto. Em relação aos exames laboratoriais, 87% rea-
personalizado, teleorientação mensal/trimestral lizaram o de sífilis, 84,9% o de HIV, 85,4%, o de EAS
de acordo com o risco e período gestacional, dicas e 10,5%, a urocultura. Quanto às ultrassonografias,
de saúde específicas, alertas clínicos e gerencia- 81,4% realizaram a translucência nucal e 85,1%, a
mento da execução das ações. O sistema também morfológica. Em relação às consultas, 70,4% tive-
permite empoderamento das gestantes no cuida- ram menos de seis consultas obstétricas e 29,6%
do ofertado, por meio de interface on-line por chat compareceram a seis ou mais. Os partos tiveram
com a coach em saúde e de acesso às funcionali- proporção de 9,8% de partos normais e 90,2% ce-
dades voltadas para gestão do cuidado oferecidas, sáreas. Dos recém-nascidos, 0,67% teve internação
por meio da web e de aplicativos mobile. em UTIN, com motivos desconhecidos (Tabela 1).
As ações oferecidas para as gestantes acompa- Das 1.097 gestantes participantes do Viver Bem,
nhadas foram: Curso de Gestantes e avós; Oficina 94,3% realizaram o exame de glicose em jejum,
de Parto; Cuidados com o Bebê; Grupo de Gestan- 95,1% realizaram hemograma, 68,3% realizaram
tes; Consultas Individuais de Nutrição, Enferma- ABO-RH e 12,2% realizaram coombs indireto. Em
gem, Psicologia e Fisioterapia; visita de enferma- relação aos exames laboratoriais, 94% realizaram
gem domiciliar pós-parto (Baby Care) e avaliação o de sífilis, 94,3%, o de HIV e EAS, e 89,3% reali-
da satisfação do cliente com os serviços prestados zaram urocultura. Quanto às ultrassonografias,
(metodologia Net Promoter Score). Além disso, a 87,6% realizaram a translucência nucal e 92,9%, a
Unimed Vitória propicia um acompanhamento morfológica. Em relação às consultas, 64,2% com-
diferenciado às gestantes classificadas como de pareceram a menos de seis consultas obstétricas
risco, diabéticas e hipertensas, disponibilizando os e 35,8% compareceram a seis ou mais. Com esse

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 217-222 219


Emilly Sampaio Favaro Colombi, Esvana Quinelato Cipriano e Fernanda Souza Miranda

artigos originais premiados2017

resultado podemos observar que as gestantes tiveram proporção de 22,6% de partos normais e
acompanhadas pelo programa tiveram 74,1% do 76,4% de partos cesárea. Um total de 0,64% dos
cumprimento do cuidado perfeito preconizado recém-nascidos tiveram internação em UTIN de-
pelo Ministério da Saúde, enquanto as gestan- vido a prematuridade, insuficiência respiratória,
tes não acompanhadas tiveram 52,5%. Os partos hipoglicemia ou icterícia intensa (Tabela 1).

Tabela 1. Percentual do comparativo de cumprimento do protocolo do Ministério da Saúde entre as


gestantes participantes e não participantes do Viver Bem

GESTANTES GESTANTES
PROTOCOLO PRECONIZADO PELO Qui-Quadrado
PARTICIPANTES NÃO PARTICIPANTES
MINISTÉRIO DA SAÚDE (P-Valor)
VIVER BEM (%) VIVER BEM (%)
Glicemia de Jejum 94,3 87,5 0,0000*
Hemograma (Hemoglobina/Hematócrito) 95,1 91,1 0,0001*
ABO-RH 68,3 63,2 0,0070*
Coombs indireto 12,2 11,3 0,4497
Sífilis 94 87 0,0000*
HIV 94,3 84,9 0,0000*
EAS 94,3 85,4 0,0000*
Cultura 89,3 10,5 0,0000*
US Translucência Nucal 87,6 81,4 0,0000*
US Morfológica 92,9 85,1 0,0000*
Parto Normal 22,6 9,8 0,0000*
Consultas Obstétricas ≥ 6 35,8 29,6 0,0007*

Fonte: BI/SAS Unimed Vitória e Sistema Healthmap


Tabela com informação de P-valor calculado a partir do Teste Qui-quadrado e considerando um nível de significância de 5%
Não há diferença significativa quanto à Coobs indireto, nos demais itens do protocolo as diferenças são significativas (*).

Além disso, pode-se observar melhor coordena- digital por meio de glicosímetro oferecido, forne-
ção do cuidado entre as gestantes acompanhadas, cendo uma média de quatro aferições diárias. Os re-
pois todas foram classificadas quanto ao risco e ge- sultados alcançados com o monitoramento das dia-
renciadas quanto ao controle da doença por meio béticas foram: 81,1% permaneceram controladas e
de questionário de estratificação e monitoramento 18,9% não foram controladas. Em relação a infecção
específico: 72,4% foram consideradas habituais e urinária, 18,5% apresentaram na gestação, e 100%
27,6%, de risco. Destas, 5,3% eram hipertensas (20,7% dos casos foram tratados.
não foram controladas e 79,3% obtiveram o controle A longitudinalidade do cuidado pela platafor-
da pressão arterial); e 22,3% tinham diabetes, sendo ma digital permitiu em relação ao grupo controle
5,5% de diabetes mellitus (DM) e 16,8% de diabe- melhor avaliação da assistência prestada, tendo
tes gestacional (DG), sendo que 15,5% das gestantes sido obtidos 75% de cumprimento do plano de
com maior descompensação clínica tiveram a gli- cuidado traçado de acordo com o risco encontra-
cemia acompanhada pelo uso de dispositivos mé- do; 69,6% foram avaliadas no puerpério, sendo que
dicos móveis que se integravam com a plataforma 4,5% apresentaram alterações na ferida operatória;

220 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 217-222


Inovação nas condutas da Atenção Integral à Saúde prestadas às gestantes

artigos originais premiados2017

86% dos RNs estão em amamentação exclusiva, desenvolvem DG; de acordo Iser et al. (2015), a po-
11,8%, em amamentação complementar e 1,4%, em pulação feminina apresenta 7% de DM.
amamentação artificial; 40% das gestantes realiza- O gerenciamento do DM/DG e de HAS con-
ram contatos orientativos com a coach em saúde siste principalmente em orientação para mudan-
por meio do chat, o que demonstra bom nível de ças de hábitos de vida, permitindo ganho de peso
engajamento; 98% relataram satisfação quanto à adequado e controle metabólico e pressórico, de
assistência prestada pelo programa (Tabela 2). modo a reduzir as morbidades decorrentes de
complicações agudas e crônicas e a alta taxa de
hospitalizações e de mortalidade, que gera signi-
Tabela 2. Resultados clínicos avaliados no ficativos danos econômicos e sociais. Dessa forma,
sistema de gestão do cuidado das gestantes recomenda-se o monitoramento das glicemias
acompanhadas pelo Viver Bem capilares de quatro a sete vezes por dia, pré e pós-
Percentual encontrado -prandial, especialmente nas gestantes que usam
Resultados Clínicos
( %) insulina, e aferição de pressão arterial três vezes ao
Classificação de Risco 100 dia (SBD, 2015).
Habitual 72,4 Para o sucesso na implementação de um acom-
Controle 27,6 panhamento durante o período gestacional é im-
Hipertensas 5,3 portante a gestante ser informada e orientada du-
Controladas 79,3 rante as consultas de pré-natal quanto à realização
Não Controladas 20,7 dos exames laboratoriais e de imagem e o esquema
Diabéticas 22,3 vacinal, de forma a evitar a transmissão vertical,
Controladas 81,1 identificar fatores de risco ou realizar o diagnóstico
Não Controladas 18,9 de doenças que possam alterar a evolução normal
Infecção Urinária 18,5 da gravidez, constituindo-se um instrumento es-
Controladas 100 sencial para a melhoria dos índices de morbimorta-
Cumprimento do plano de ação 75 lidade e das complicações materno-fetais.
Avaliação Puerpério 69,6 Refletindo a eficiência das intervenções realiza-
Ferida Operatória 4,5 das a partir da plataforma de gestão de cuidados, os
Amentação exclusiva 86 resultados expostos foram possíveis devido à facili-
Amamentação complementar 11,8 dade de exportação dos dados, evidenciando a qua-
Amamentação Artificial 1,4 lidade dos RES; conforme comprovado pelo estudo
Uso da interface com o Coach 40 de Kern et al. (2015), as benfeitorias na documenta-
Satisfação com o serviço prestado 98 ção têm relevância clínica e na tomada de decisão.
Fonte: Sistema Healthmap
5. Conclusão
Baseando-se na necessidade de dados clínicos
Concordando com os resultados encontra- para melhor gerenciamento da saúde das clientes,
dos no presente estudo, a pesquisa de Rodrigues fez-se necessário inovar e investir em tecnologias
(2016) salienta que a hipertensão arterial (HAS) que visem às premissas da atenção integral, como
está presente em aproximadamente 7,5% das ges- coordenação do cuidado, longitudinalidade, inte-
tações. E, segundo as diretrizes da Sociedade Bra- gralidade e acessibilidade. A nova forma de cui-
sileira de Diabetes (2015), de 3 a 25% das gestantes dar da saúde da gestante da Unimed Vitória busca

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 217-222 221


Emilly Sampaio Favaro Colombi, Esvana Quinelato Cipriano e Fernanda Souza Miranda

artigos originais premiados2017

satisfação das clientes por meio de atendimento saúde das gestantes, contribuindo para uma relação
personalizado e de qualidade. personalizada entre o coach em saúde e a coachee,
A remodelação da atenção integral prestada às gerando corresponsabilidade do cuidado, incentivan-
gestantes com as ferramentas de inovação que rela- do o cumprimento das ações e ajudando a reduzir as
cionam a Central de Telessaúde com o uso da plata- ineficiências na prestação de cuidados, a melhorar o
forma digital de gestão de cuidados permitiu melhor acesso, a aumentar a qualidade e a tornar a abordagem
mapeamento de risco individual e da assistência à da medicina preventiva mais acessível e eficiente.

Referências
ALEXANDRIA, V. A. Primary Care 2025: A Scenario Exploration. Janeiro de 2012. Disponível em <http://www.altfutu-
res.org/pubs/pc2025/IAFPrimaryCare2025Scenarios.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual do Pré-Natal e Puerpério: Atenção Qualificada e Humanizada. Brasília: Minis-
tério da Saúde, 2006.
CAMILLO B. S. et al. Health education actions in primary attention to pregnant and puerperal women: integrative re-
view. Rev enferm UFPE on-line, Recife, v. 10 (Supl. 6), p. 4894-4901, dez. 2016.
DONNER, G; WHEELER, M. Coaching in nursing: an introduction. Indianapolis: International Council of Nurses and
The Honor Society of Nursing, Sigma Theta Tau International, 2009. 36 p.
FEITOSA, A. C. R.; ÁVILA, A. N. Electronic Medical Record for Prenatal Care of Diabetic Women. RBGO Gynecology and
Obstetrics, v. 38, n. 1, 2016. DOI http://dx.doi.org/10.1055/s-0035-1570109.
ISER, B. P. M. Prevalência de diabetes autorreferido no Brasil: resultados da Pesquisa Nacional de Saúde 2013. Epide-
miol. Serv. Saúde, Brasília, v. 24, n. 2, p. 305-314, abr./jun. 2015. doi: 10.5123/S1679-49742015000200013.
KERN, L. M. et al. Electronic health records and health care quality over time in a federally qualified health center. J
Am Med Inform Assoc, v. 22, p. 453-458, 2015. doi:10.1093/jamia/ocu049.
ROCHA, B. S. Desenvolvimento de liderança para enfermeiros da saúde da família com o uso da estratégia coaching
em grupo. 2014. 153 f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Goiás, Goiás. 2014.
RODRIGUES, C. I. S. Chronic Hypertension: so much to learn. J Bras Nefrol, v. 38, n. 2, p. 143-144, 2016. DOI:
10.5935/0101-2800.20160021.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Diabetes mellitus gestacional: diagnóstico, tratamento e acompanhamento
pós-gestação. Diretrizes SBD. São Paulo: SBD, 2015.
UNIMED VITÓRIA. Viver Gestante Healthmap. Disponível em: <http://vivergestante.healthmap. com.br>. Acesso em:
18 abr. 2017.

222 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 217-222


Impacto da Prevenção Quaternária na utilização do plano de saúde
por idosos acompanhados no Programa Viver Bem da Unimed Belém

artigos originais premiados2017

Impacto da Prevenção Quaternária na utilização


do plano de saúde por idosos acompanhados no
Programa Viver Bem da Unimed Belém

Jessica S. Martinho1; Thais A. de A. Salim2 e Yuji M. Ikuta3


UNIMED BELÉM

RESUMO
A prevenção quaternária é um conjunto de medidas tomadas para prevenir, diminuir e/ou eliminar os
danos causados pelas atividades médicas excessivas, desnecessárias ou inapropriadas, considerando que
além de nocivas à saúde elas levam ao uso indevido dos planos de saúde e ao aumento dos custos assis-
tenciais. O objetivo deste estudo foi verificar o impacto da prevenção quaternária na utilização do plano de
saúde por idosos acompanhados no Programa de Atenção Integral à Saúde Viver Bem da Unimed Belém.
A população estudada foi constituída por 21 clientes idosos assistidos pela equipe multiprofissional, con-
siderando o período que compreende o início do acompanhamento em comparação com o último mês
anterior à pesquisa. A comparação realizada entre os indicadores de monitoramento no período estuda-
do demonstra os resultados obtidos como impacto da prevenção quaternária: redução de consultas com
médicos generalistas fora do programa, diminuição de consultas realizadas com diversas especialidades
médicas, diminuição da frequência de idas à emergência e uma constante nula de internações hospitala-
res. Por se tratar de resultados iniciais, em um período de apenas seis meses, conclui-se que o impacto da
adoção do conceito de prevenção quaternária já apresenta bons resultados para a cooperativa médica e
para os beneficiários em estudo, na medida em que houve melhora na qualidade da assistência prestada,
mudança de hábitos e racionalização da utilização do plano. Torna-se evidente que esse modelo preventi-
vo pode trazer muitos resultados positivos a longo prazo, possibilitando a mensuração do impacto no cerne
da prevenção quaternária: no manejo adequado dos excessos de intervenções e na medicalização.

Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde; Idoso; Prevenção quaternária

1. ENFERMEIRA, Programa Viver Bem da Unimed Belém. Especialista em Enfermagem do Trabalho e Saúde Mental. Mestre em
Saúde na Amazônia. E-mail: jessica.martinho@unimedbelem.com.br
2. ADMINISTRADORA, Líder Administrativa do Programa Viver Bem da Unimed Belém. E-mail: thais.almeida@unimedbelem.
com.br
3. MÉDICO, Coordenador do Programa Viver Bem da Unimed Belém. Especialista em Medicina de Família e Comunidade, Geriatria
e Gerontologia, Fisiologia do Exercício e Saúde Coletiva. Mestre em Clínica Médica. Doutor em Doenças Tropicais. E-mail: yuji.
ikuta@unimedbelem.com.br

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 223-227 223


Jessica S. Martinho; Thais A. de A. Salim e Yuji M. Ikuta

artigos originais premiados2017

1. Introdução da última década, a população brasileira com ida-


O conceito de prevenção quaternária foi propos- de igual ou superior a 60 anos aumentou de 14,5
to no contexto clássico dos três níveis de preven- milhões para 20,6 milhões. À medida que a idade
ção de Leavel e Clark, que classificavam a preven- avança, as pessoas vão se tornando mais vulne-
ção em primária, secundária e terciária. O conceito, ráveis e, consequentemente, passam a demandar
proposto por Jamoulle, um médico de família e mais serviços de saúde. Por um lado, os idosos
comunidade belga, em 1986, almejou sintetizar de apresentam maior carga de doenças e incapacida-
forma operacional vários critérios e propostas para des e usam mais os serviços de saúde; por outro,
o manejo do excesso de intervenções e medicali- os modelos vigentes de atenção à saúde do idoso
zação, sendo aceito pela World Organization of Na- se mostram ineficientes e de alto custo, o que pede
tional Colleges (WONCA) em 1999 e oficializado em por estruturas criativas e inovadoras (ANS, 2016).
2003 (LEAVELL; CLARK, 1976; JAMOULLE, 1999; Nessa população, devido à redução fisiológica
BENTZEN, 2003). das reservas funcionais, há um maior risco de iatro-
Esse novo conceito de prevenção consiste na de- genias, reações adversas e interações medicamen-
tecção de indivíduos em risco de tratamento exces- tosas, sobretudo na nossa sociedade altamente me-
sivo, a fim de protegê-los de intervenções médicas dicalizante. Porém, quando se vive mais – e temos
desnecessárias ou inapropriadas, sugerindo-lhes vivido muito mais, como percebido nas últimas
alternativas eticamente aceitáveis. Para sua incor- décadas com o envelhecimento populacional –, de-
poração à prática médica são necessários amplo seja-se uma melhor qualidade de vida e não apenas
conhecimento e experiências éticas, filosóficas, epi- um leque de opções de meios diagnósticos e trata-
demiológicas e técnicas, sobretudo no que se refe- mentos para as inúmeras morbidades que surgem
re às relações médico-paciente. Por esse motivo, o
ou podem surgir (NORMAN; TESSER, 2009).
conceito foi criado e desenvolvido pelos médicos
A prevenção quaternária teve a propriedade do
contemporâneos que se especializaram em cuidar
seu conceito estendida, com as devidas adaptações,
de pessoas ao longo da vida – os médicos de família
às demais categorias profissionais da área da saúde,
e comunidade (NORMAN; TESSER, 2009).
devido à necessidade do trabalho interdisciplinar. O
Aliados a esse conceito estão os princípios da
Programa de Atenção Integral à Saúde Viver Bem da
Atenção Primária à Saúde (APS) – acesso, longitu-
Unimed Belém, por meio do trabalho com equipe
dinalidade, integralidade e coordenação do cuida-
multiprofissional, descentraliza o cuidado da inter-
do –, e um dos métodos mais eficazes para avaliar
venção médica – notoriamente medicalizante. Após
processos médicos desnecessários é a Medicina
Baseada em Evidências. O conhecimento das pro- a mudança ocorrida no modelo de atenção à saúde
babilidades e da dimensão dos efeitos benéficos da cooperativa e a implementação de projetos que
e nocivos a partir de estudos clínicos é capaz de propõem mudanças mais amplas, como o Idoso
orientar a conduta médica, com a concordância de Bem Cuidado da Agência Nacional de Saúde Suple-
seus pacientes, que desenvolvem sua autonomia e mentar (ANS), a adoção do conceito de prevenção
devem ser incluídos na tomada de decisão. quaternária se tornou mais necessária.
É importante ressaltar a importância da popu-
lação idosa nesse contexto. O número de idosos 2. Objetivo
vem crescendo de maneira acelerada no Brasil e Verificar o impacto da prevenção quaternária
no mundo. Nos países em desenvolvimento, como na utilização do plano de saúde por idosos acom-
o Brasil, são considerados idosos os indivíduos panhados no Programa de Atenção Integral à Saú-
com idade igual ou superior a 60 anos. Ao longo de Viver Bem da Unimed Belém.

224 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 223-227


Impacto da Prevenção Quaternária na utilização do plano de saúde
por idosos acompanhados no Programa Viver Bem da Unimed Belém

artigos originais premiados2017

3. Metodologia idas à emergência em 30 dias. Os dados foram or-


Trata-se de um estudo longitudinal, descritivo, ganizados e processados em planilha no software
com abordagem quantitativa. A amostra foi consti- Microsoft Excel 2010, analisados estatisticamente
tuída por 21 sujeitos com idade igual ou superior a em porcentagem.
60 anos. O estudo compreende o mês em que ocor-
reu a implementação do Projeto Idoso Bem Cuida- 4. Resultados/Discussão
do – que, por sua vez, definiu o número da amostra, Os resultados encontrados neste estudo demons-
limitada aos participantes no mês em questão – e o tram o impacto da prevenção quaternária na utiliza-
mês anterior à coleta de dados (setembro de 2016 ção do plano de saúde por idosos acompanhados no
e fevereiro de 2017). A coleta de dados foi realizada Programa Viver Bem após a implementação do Pro-
no mês de março de 2017, a partir dos indicadores jeto Idoso Bem Cuidado. O período estudado com-
de monitoramento do Projeto, por meio do Form- preende desde o mês de setembro de 2016, quando
SUS, instrumento utilizado neste projeto. Os indi- iniciou o atendimento ao público-alvo do projeto
cadores considerados foram: número de consultas pautado nos conceitos abordados – 21 clientes que
em idosos com médico generalista em 30 dias, nú- se inscreveram e passaram a fazer o acompanha-
mero de consultas em idosos com médico especia- mento com a equipe –, até o último mês anterior ao
lista em 30 dias, número de consultas em idosos estudo. Os indicadores dos 23 clientes sujeitos deste
com equipe interdisciplinar em 30 dias, razão de estudo foram analisados mês a mês para obtenção
internação de idosos em 30 dias e frequência de dos resultados apresentados (Gráfico 1):

Gráfico 1. Mudança no perfil de utilização do plano por idosos acompanhados no Programa Viver Bem,
no período de setembro de 2016 a fevereiro de 2017

252,30%

177,90%
166,60%

97,40%

23,80% 23,30% 14,20%


9,50% 0% 0%

Nº de consultas Nº de consultas Nº de consultas com Nº de idas a Nº de internações


com generalista com especialista equipe interdisciplinar emergência hospitalares

Set/16 Fev/17

Fonte: Elaboração própria com base nos indicadores monitorados eletronicamente via FormSUS.

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 223-227 225


Jessica S. Martinho; Thais A. de A. Salim e Yuji M. Ikuta

artigos originais premiados2017

Como demonstrado no Gráfico 1, é possível responsável pela coordenação do cuidado ao


observar uma redução de 0,5% nas consultas rea- longo da vida. É muito mais fácil manter as ações
lizadas com médicos generalistas. A redução, nes- de prevenção quaternária quando o paciente se
se caso, é positiva, pois refere-se a consultas com refere apenas ao “seu” médico. Isso também se
médicos generalistas que não atendem no Pro- estende à equipe interdisciplinar (enfermeiros,
grama Viver Bem. Sendo assim, entende-se, pelo nutricionistas, psicólogo, assistente social e pro-
retorno do paciente, vinculação com os profissio- fessor de educação física) do Programa Viver
nais que o atenderam e satisfação com o serviço Bem, pois as orientações e devidas prescrições
prestado, que o fizeram continuar a ser atendido que cabem a cada categoria devem seguir a mes-
em uma mesma unidade e frequentar menos os ma linha de pensamento.Quanto à diminuição
consultórios em momentos pontuais, tendo a das consultas com equipe interdisciplinar de
oportunidade de receber acompanhamento ao 74,4%, deve-se à redução de tratamentos realiza-
longo do tempo. A diminuição nesse indicador dos em clínicas conveniadas que atendem espe-
é relativamente baixa, pois há um incentivo em cialidades não contempladas no Programa Viver
manter o acompanhamento com o médico as- Bem, como sessões de fisioterapia, por exemplo,
sistente do paciente, se houver, já que se trata de cuja forma de remuneração é o pay for service.
uma pessoa idosa. Nesse sentido, a redução desse indicador de-
Pode-se observar também uma redução das monstra mais um resultado positivo e de impac-
consultas com médicos especialistas de 69,2%. to na utilização do plano decorrente das ações
Essa diminuição demonstra a mudança no perfil em prevenção quaternária.
de utilização do plano à medida que se nota a mu- O número de idas a unidades de emergência
dança de hábitos e da cultura dos sujeitos, que an- também apresentou uma queda, de 4,7%. Esse
tes buscavam por ações de saúde em excesso e de dado se torna ainda mais relevante consideran-
forma inapropriada, sem coordenação do cuidado. do os sujeitos estudados, pois sabe-se que essa
A solução para contrariar a tendência exage- população tende a adoecer mais, tem mais medo
rada de procura por diversas especialidades mé- de adoecer e está mais propensa a quedas e suas
dicas e de busca desenfreada por diagnósticos e complicações, entre outras razões que os levam
tratamentos desnecessários está na mudança da a frequentar mais os pronto-atendimentos. Para
prática clínica. A abordagem centrada na pes- a longitudinalidade funcionar, é necessária a ga-
soa, a longitudinalidade e a Medicina Baseada rantia do acesso ao serviço de saúde, ou seja, a
em Evidências são alguns caminhos que condu- possibilidade de o paciente voltar à unidade e ser
zem os profissionais a repensar criticamente suas atendido de imediato para dizer se piorou ou me-
ações, independentemente do nível de atenção lhorou e, assim, mudar de estratégia. Isso signifi-
em que atuam. Essas mudanças na prática impli- ca monitorar os indivíduos, o que é fundamental
cam diretamente a relação do profissional com o para que a prevenção quaternária seja mantida
paciente e se tornam um desafio a ser vencido por com confiança.
meio da comunicação, prezando pela autonomia Por fim, o número de internações hospitalares
do paciente e fornecendo informações confiáveis permaneceu em 0,0%, mais uma vez demonstran-
para uma tomada de decisão. do o impacto da adoção do conceito de prevenção
Durante esse processo de mudança, o tempo quaternária na utilização do plano pelos idosos
é um grande aliado e consiste numa das vanta- em acompanhamento no Programa Viver Bem da
gens do acompanhamento por um único médico, Unimed Belém.

226 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 223-227


Impacto da Prevenção Quaternária na utilização do plano de saúde
por idosos acompanhados no Programa Viver Bem da Unimed Belém

artigos originais premiados2017

5. Conclusão prestada, mudança de hábitos e racionalização da


Por se tratar de resultados iniciais, em um cur- utilização do plano.
to período de seis meses, conclui-se que o impacto Torna-se evidente que esse modelo preventivo
da adoção do conceito de prevenção quaternária já pode trazer muitos resultados positivos a longo prazo,
apresenta bons resultados para a cooperativa mé- possibilitando posterior mensuração do impacto no
dica e para os beneficiários em estudo, na medida cerne da prevenção quaternária: o manejo adequado
em que houve melhora na qualidade da assistência dos excessos de intervenções e de medicalização.

Referências
AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR (Brasil). Idoso na saúde suplementar: uma urgência para a saúde da
sociedade e para a sustentabilidade do setor. Rio de Janeiro: ANS, 2016.
BENTZEN, N. WONCA dictionary of general/family practice. Copenhagen: Maanedskift Lager, 2003.
JAMOULLE, M. Quaternary prevention: prevention as you never heard before (definitions for the four prevention
fields as quoted in the WONCA international dictionary for general/family practice). 1999. Disponível em: <http://
www.ulb.ac.be/esp/mfsp/quat-en.html>. Acesso em: 5 abr. 2017.
LEAVELL, H.; CLARK, E. G. Medicina preventiva. São Paulo: McGrawHill do Brasil, 1976.
NORMAN, A. H.; TESSER, C. D. Prevenção quaternária na atenção primária à saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro,
v. 25, n. 9, p. 2012-2020, 2009.

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 223-227 227


Angela da Conceição Mendes e Priscila Muller Franqui

artigos originais premiados2017

Disseminar e qualificar o modelo de APS


nas Singulares do Estado

Angela da Conceição Mendes1 e Priscila Muller Franqui2


UNIMED PARANÁ

RESUMO
O Programa APS - Disseminação e Qualificação do Modelo APS do estado do Paraná foi apresentado como
uma forma de apoio da Unimed Federação Paraná às Singulares aderentes, na implantação e qualificação
de centros de Atenção Primária à Saúde, desde um estudo de viabilidade até a execução do projeto, ofe-
recendo uma equipe de apoio multissetorial que acompanha todas as etapas e disponibiliza profissionais
que capacitam as diversas áreas da Singular que irão desenvolver o projeto nesse novo modelo assisten-
cial. O programa teve início em 2015 e desenvolveu uma metodologia de implantação e qualificação que
possibilita a todas as Singulares uma modelagem de processos que atenda às demandas necessárias para
a implantação de centros APS, oferecendo consultorias planejadas que orientam as Singulares aderentes
com relação a estrutura física, equipamentos, habilitações, plano de comunicação, desenvolvimento de
competências em recursos humanos, gestão de rede, mercado – na definição de público-alvo, na forma-
ção de produtos e sua comercialização e na sensibilização dos envolvidos –, colaboradores e cooperados.
A metodologia possibilita um acompanhamento da Federação às suas Federadas, facilitando a troca de
experiências e uma padronização desse modelo de atendimento por meio de protocolos sistematizados e
disseminados para toda a equipe que realiza o atendimento nos centros APS. O programa é composto por
seis projetos, que envolvem áreas distintas; cada projeto é patrocinado por um diretor da Unimed Paraná,
tendo como patrocinador do projeto maior o presidente da cooperativa, Dr. Paulo Roberto Fernandes Faria.
Os demais projetos são descritos a seguir com os respectivos patrocinadores:

1. Profissional com graduação em Enfermagem e especialização em Gestão de Instituições de Saúde, Administração Hospitalar,
Mapeamento e Gestão de Processos. Responsável técnica da área de Gestão de Atenção à Saúde Serviços da Unimed Federação Paraná.
Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Medicina Preventiva, Gestão de Projetos em Saúde, Gestão de Promoção
e Prevenção – com consultoria para Singulares e Implantação da metodologia MAS e APAS no estado. Coautora da Metodologia da
Atenção à Saúde das Unimeds do PR. Membro do GT1 – Grupo Técnico eixo 4 do Comitê de Atenção Integral à Saúde da Unimed
Brasil. E-mail: amendes@unimedpr.coop.br
2. Profissional com formação em Enfermagem e especialização em Gestão Empresarial da Saúde. Gerente da Atenção à Saúde na Unimed
Federação do Paraná. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Medicina Preventiva, Gestão de Projetos em Saúde,
Gestão de Promoção e Prevenção, Gerenciamento de Doenças Crônicas e Gestão de Serviço de Atenção Domiciliar. Coautora da
Metodologia da Atenção à Saúde das Unimeds do PR. Membro do GT1 – Grupo Técnico eixo 1 do Comitê de Atenção Integral à Saúde da
Unimed Brasil. Coautora do Manual de Atenção Integral à Saúde da Unimed do Brasil, 2013, v. 1. E-mail: pfranqui@unimedpr.coop.br

228 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 228-232


Disseminar e qualificar o modelo APS nas Singulares dos Estados

artigos originais premiados2017

1. Projeto 1 - Qualificar o Centro APS patrocinado pelo Dr. Faustino Garcia Alferez;
2. Projeto 2 - Gestão do Conhecimento APS patrocinado pelo Dr. Willian Procópio;
3. Projeto 3 - Assessorar e apoiar as Singulares do estado frene ao modelo APS patrocinado pelo pre-
sidente Dr. Paulo Roberto Fernandes Faria;
4. Projeto 4 – Estruturação e operação de rede de referência para APS patrocinado pelo Dr. Faustino
Garcia Alferez
5. Projeto 5 – Comercializar novo produto com base no modelo APS patrocinado pelo Dr. Sergio O.
Ioshii;
6. Projeto 6 – Apoiar a implantação e qualificação da APS nas Singulares patrocinado pelo Dr. Luis
Francisco Costa.

1. Introdução no sistema Unimediano do estado. Esse programa


O modelo atual de saúde, com sua forma frag- tem em seu cerne o apoio por meio de consultorias
mentada de atendimento, leva o beneficiário a ser planejadas para o desenvolvimento de projetos de
coordenador dos processos relacionados a sua saú- qualificação e implantação do modelo APS nas Sin-
de, possibilitando a escolha dos cuidados, o que gulares do Paraná.
nem sempre é favorável a ele. Com isso, o benefici-
ário está suscetível a um risco maior de iatrogenias, 2. Objetivos
e seus custos assistenciais tornam-se mais elevados.
Diante desse cenário, justifica-se a necessidade 2.1. Gerais
crescente de uma mudança no foco assistencial, Alinhar as ações das Singulares com a metodo-
de modo que o indivíduo seja o centro do atendi- logia que será estabelecida para a implantação do
mento e as propostas de coordenação do cuidado modelo APS, por meio de consultorias planejadas
estejam nas mãos de uma equipe habilitada, para com equipe de apoio para o desenvolvimento do
que sejam evitadas as repetições de tarefas, os des- projeto, desde o seu estudo de viabilidade até a
perdícios e as iatrogenias. operacionalização das ações inerentes ao estabele-
O processo de informatização adequado às ne- cimento dos atendimentos aos beneficiários, con-
cessidades do setor, suportado sobretudo pelos sis- forme a demanda da Singular.
temas de informação, auxilia no planejamento, na
organização, na coordenação e no controle desse 2.2. Específicos
serviço. Além de trazer vantagens a médio e longo • Promover o protagonismo das Singulares dian-
prazos, seja em relação a custos, seja quanto à me- te do novo modelo assistencial no estado;
lhoria do nível da qualidade de atendimento aos • Apoiar a implantação do modelo APS nas Sin-
pacientes, possibilita uma gestão das informações gulares solicitantes;
de saúde do beneficiário e, consequentemente, a • Analisar e qualificar os modelos já implantados
melhoria na tomada de decisões. no estado e, quando necessário, buscar adequa-
Percebendo a crescente necessidade de mudan- ções para eles;
ças nesse modelo assistencial, a Unimed Federação • Compor núcleo multiprofissional na Unimed
Paraná desenvolveu um programa que possibili- Paraná para consultoria e apoio às etapas do
ta a integração e disseminação do conceito APS projeto de implantação da APS nas Singulares;

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 228-232 229


Angela da Conceição Mendes e Priscila Muller Franqui

artigos originais premiados2017

• Propor metodologia de implantação e desenvol- 3. Planejamento – aprovação do Plano de Projeto


vimento da APS, respeitando a Singularidade; com a Diretoria da Singular.
• Oferecer consultoria especializada para o pro- 4. Apresentação de Plano de Projeto para a Dire-
cesso de implantação ou adequação da APS toria da Federação.
nas Singulares participantes; 5. Definição de núcleo de APS na Singular.
• Aumentar o índice de assertividade da implan- 6. Definição de público-alvo, produto, documen-
tação da APS regionalmente e no estado; tação necessária, espaço físico, estrutura de RH,
• Oferecer treinamentos técnicos específicos dos con- rede, processo de liberação, plano de comuni-
ceitos primordiais para o funcionamento da APS. cação, recursos e processos operacionais, re-
cursos de TI, processos de integração MAS/PR
3. Metodologia e orçamento.
1. Recebimento do Termo de Adesão Assinado. 7. Aprovação das definições com a Diretoria da
2. Iniciação – Termo de abertura de projeto (TAP). Singular.

Figura 1. Estrutura Analítica do Projeto (EAP)

Patrocinador
Dr. Paulo Faria
Programa Disseminar e qualificar o modelo de APS

1 2 3 Assessorar e apoiar 4 5 6
Ciência da melhoria Apoiar a
Gestão do operacionalmente Estruturaçào e Comercializar novo
na prática - implantação e
Conhecimento - as Singulares do operação de rede de produto com base
Qualificar Centro qualificação da APS
APS estado frente ao referência para APS no modelo APS
APS FDPR nas Singulares
modelo APS

Patrocinador Patrocinador Patrocinador Patrocinador Patrocinador Patrocinador


Dr. Faustino Alferez Dr. William Procópio Dr. Paulo Faria Dr. Faustino Alferez Dr. Sérgio Ioshii Dr. Luís Francisco

Gerente Gerente Gerente Gerente Gerente Gerente


Priscila Franqui Dr. Marlus Morais Priscila Franqui Willian Stocco José Gouvea (Bill) A. Maurício Ribeiro

Responsável Responsável Responsável Responsável Responsável Responsável


Lorena Dantas Diva Monte Serrat Ângela Mendes Francisco dos Santos Paulo Carvalho Mauro Abati

Responsável
Construir Fabiano Pereira
Implantar e
metodologia
qualificar o Responsável
multisetorial de Oclair Custódio
modelo de APS
consultoria APS
nas Singulares do
padronizada no Responsável
estado
estado Bruna Gamas

Responsável
Adilson da Silva
Noroeste do Campo
Paraná Mourão Responsável
Josiany Rolo

Responsável
Cristina Castro

Responsável
Liége Mazanek

Responsável
Mônica Garanhani

Fonte: Escritório de Projeto Unimed Paraná - Software Expert

230 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 228-232


Disseminar e qualificar o modelo APS nas Singulares dos Estados

artigos originais premiados2017

Figura 2. Status de implantação APS no Estado

Status de implantação APS no Estado


Região 1 Região 2 Região 3 Região 4

FOZ DO IGUAÇU
NOROESTE DO
APUCARANA
RIO MAFRA

LONDRINA
APS

CASCAVEL

OESTE DO
MARINGÁ
PIONEIRO
CURITIBA

MOURÃO

PARANÁ

PARANÁ
CAMPO
NORTE
Implantada O X X O X X X
Pré projeto O O
Sensibilização O O
Qualificação O

X Não aderente ao programa O Aderente ao programa

Fonte: Gestão da Atenção à Saúde Serviços

8. Acompanhamento das execuções operacio- de doenças e que, por fim, após a implantação e utili-
nais e diretivas, etapa a etapa. zação do serviço, é positiva a surpresa dos usuários e
9. Construção de programa de inauguração. da gestão quanto ao verdadeiro impacto do modelo
10. Acompanhamento operativo. no atendimento dos beneficiários e nas perspectivas
11. Validação dos processos implantados. de resultados da coordenação do cuidado.
12. Acompanhamento de gestão e indicadores. Dentre as Singulares do estado, cinco realizaram
13. Encerramento. implantação sem apoio do Programa APS. Uma
evoluiu para a adesão em busca de qualificação.
4. Discussão e resultados Sete Singulares aderiram ao programa APS, das
O Programa APS mostrou na sua evolução a real quais duas já possuem unidade implantadas e atu-
importância do papel Federativo da Unimed Paraná antes; outras cinco estão em fase de planejamento.
diante de suas Federadas para a viabilização e o su-
porte de implantação de unidades APS no estado. 5. Conclusão
Diante da novidade, desde a sua fase de sensibi- Com a disseminação do projeto, verificou-se que:
lização diretiva até a implantação da unidade APS, • Houve sensibilização das diretorias das Singu-
percebeu-se que há receio quanto ao investimento; lares, facilitando a adesão ao programa;
que há rompimentos de paradigmas que atingem vá- • Avançou em todo o estado o número de cursos
rios níveis das Operadoras; que o serviço precisa ter e capacitações de colaboradores e cooperados
gestão e acompanhamento diferenciado pela fragi- quanto ao conceito da APS;
lidade de ser corrompido e visto como ambulatório; • Singulares aderentes ao programa recebem
que há necessidade de alinhamento com as áreas já informações que proporcionam uma maior as-
atuantes de promoção, prevenção e gerenciamento sertividade na sua implantação;

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 228-232 231


Angela da Conceição Mendes e Priscila Muller Franqui

artigos originais premiados2017

• Possibilitou-se a troca de experiências entre as Singulares;


• Facilitaram-se a organização e a descrição de metodologia e protocolos de atendimento;
• Melhoraram o levantamento e a análise de indicadores de saúde sensíveis à APS;
• Possibilitaram-se o alinhamento e a integração das ações da metodologia MAS (Mais Atenção à Saúde)
com a APS.

Referências
ORGANIZAÇÃO PAN–AMERICANA DA SAÚDE. Renovação da Atenção Primária à Saúde nas Américas. Brasília:
OPAS/OMS, 2008.
SHIMMAZAKI, M. E. A Atenção Primária à Saúde. Belo Horizonte: ESPMG, 2009.
STARFIELD B. Atenção Primária à Saúde. Brasília: Unesco/Ministério da Saúde, 2002.

232 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 228-232


artigos originais
2017
O desenvolvimento de módulo para registro
eletrônico como ferramenta de gestão na Atenção
Integral à Saúde da Unimed Paraná

Everton Bizuko1, Letícia M. dos Santos2 e Priscila M. Franqui3


UNIMED PARANÁ

RESUMO
Um dos grandes desafios para as operadoras de saúde é a centralização e unificação das informações ad-
ministrativas e médicas. Como uma oportunidade de melhoria para o desencontro de informações e a
fragmentação dos dados e registros, foi desenvolvido um módulo para registro eletrônico na Atenção Per-
sonalizada à Saúde da Unimed Paraná. Trata-se de uma solução que permite aos profissionais e gestores
realizar o acompanhamento e a classificação de seus pacientes, o levantamento de dados para indicadores,
além de monitoramento e avaliação das atividades realizadas pelas equipes. É um recurso capaz de poten-
cializar a busca de conhecimento. O objetivo deste trabalho é descrever as principais funções do modelo
de registro eletrônico desenvolvido e implantado na APS com foco na integração dos dados e na melhoria
da experiência do cuidado. O método de desenvolvimento utilizado foi a programação em orientação a
objetos, realizada por meio da estruturação em camadas Model-View-Controller (MVC). A principal contri-
buição dessa ferramenta foi oportunizar a integração dos processos da APS com os Programas da Atenção
à Saúde, fortalecendo a coordenação do cuidado dos pacientes assistidos por meio de dados integrados
e personalizados, o que permite a análise da gestão para tomada de decisões dos profissionais da saúde.

Palavras-chave: Atenção à Saúde. Informações. Registro Eletrônico.

1. Profissional com Bacharelado em Sistemas de Informação. Analista de Tecnologia da Informação responsável pelo Suporte do
Sistema na Atenção à Saúde da Unimed Federação do Paraná. E-mail: erodrigo@unimedpr.coop.br
2. Profissional com formação em Enfermagem e especialização em Estomaterapia. Analista Sênior responsável pela Gestão da
Atenção à Saúde Operadora da Unimed Federação do Paraná. Membro do GT1 – Grupo Técnico eixo 1 do Comitê de Atenção
Integral à Saúde e Membro do Subcomitê da Atenção Domiciliar da Unimed Brasil. E-mail: lsantos@unimedpr.coop.br
3. Profissional com formação em Enfermagem e especialização em Gestão Empresarial da Saúde. Gerente da Atenção à Saúde
na Unimed Federação do Paraná. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Medicina Preventiva, Gestão de
Projetos em Saúde, Gestão de Promoção e Prevenção, Gerenciamento de Doenças Crônicas e Gestão de Serviço de Atenção
Domiciliar. Coautora da Metodologia da Atenção à Saúde das Unimeds do PR. Membro do GT1 – Grupo Técnico eixo 1 do Comitê
de Atenção Integral à Saúde da Unimed Brasil. Coautora do Manual de Atenção Integral à Saúde da Unimed do Brasil, 2013, v. 1.
E-mail: pfranqui@unimedpr.coop.br

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 233-236 233


Everton Bizuko, Letícia M. dos Santos e Priscila M. Franqui

artigos originais2017

1. Introdução • Camada de dados, na qual é realizada a comu-


Historicamente, os serviços de saúde desen- nicação do software com a base de dados;
volvem sistemas para resolver os problemas de • Camada de negócios, na qual são definidas e
gestão de custos e liberações; dessa maneira, a desenvolvidas as regras do negócio com suas
parte assistencial é normalmente arquivada em propriedades e métodos; esta se comunica com
registros informatizados isolados que não geram a camada de dados;
conhecimento. O registro eletrônico para os ser- • Camada de interface, na qual são desenvolvi-
viços de saúde é um meio de armazenamento, em dos todo o layout e a estrutura do software; esta
uma forma processável eletronicamente, com um se comunica com a camada de negócios.
repositório de todas as informações de saúde, clí- A ferramenta utilizada para o desenvolvimen-
nicas e administrativas, ao longo do cuidado pres- to e a construção do sistema foi o Visual Studio
tado ao paciente. Os processos de gestão da Aten- 2013. A linguagem utilizada foi a C# (CSharp), que
ção Integral à Saúde estão intimamente ligados à é uma linguagem de programação orientada a ob-
informação e à comunicação, cujos mecanismos jetos criada pela Microsoft e que faz parte da sua
dependem de conhecimento e tecnologia para plataforma .Net. A base proposta foi o banco de
viabilizar ferramentas inovadoras e eficientes que dados já utilizado pela empresa para outras apli-
melhoram a coordenação do cuidado e a resolu- cações, o Oracle.
bilidade do serviço. Para o desenvolvimento do módulo APS, fe-
As informações produzidas por meio dos dados z-se necessário o mapeamento dos processos da
coletados pelos Programas da Atenção à Saúde são clínica. Foram avaliados os processos de recepção,
de suma importância para guiar as ações da equipe triagem, enfermagem e também dos profissionais
da APS. A ferramenta permite que tanto a equipe de apoio, como fisioterapeuta, nutricionista e psi-
que faz o gerenciamento como a que realiza a as- cólogo. Com o intuito de manter uma integração
sistência direta acompanhem as reais necessida- entre os diferentes profissionais, foram desenvol-
des dos pacientes, e que seja feita sinalização dos vidos fluxos de trabalho (workflow) automatizados
casos com perfil para ações dos programas de pro- dentro do sistema.
moção e prevenção. Também possibilita alinhar os Durante o mapeamento dos processos, foram
cuidados e as orientações que devem ser imple- desenvolvidas melhorias no sistema a afim de fa-
mentadas, aprimoradas, mantidas ou substituídas. cilitar o uso pelo profissional e a coleta do maior
número de informações relevantes sobre qualquer
2. Objetivo atendimento. O número de telas, o número de cli-
Descrever as principais funções do modelo de ques e os campos a serem preenchidos foram leva-
registro eletrônico desenvolvido e implantado na dos em consideração para o desenvolvimento.
APS da Unimed Paraná com foco na integração O módulo APS foi desenvolvido dentro da fer-
dos dados, melhorando a experiência do cuidado. ramenta Infomed AAS (nomeada internamente
como Sistema MAS), pois ela permite a criação de
3. Metodologia perfis de acesso com funcionalidades específicas
O método de desenvolvimento utilizado foi e a criação de formulários customizados. Dentro
a programação em orientação a objetos, que tem desses formulários foram atreladas as chamadas
como conceito principal o desenvolvimento em “funções especiais”, as quais nos permitem inse-
camadas Model-View-Controller (MVC) com as se- rir via programação as regras de negócios para
guintes camadas: cada processo.

234 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 233-236


O desenvolvimento de módulo para registro eletrônico como ferramenta de gestão na Atenção Integral à Saúde da Unimed Paraná

artigos originais2017

4. Discussão e resultados cliente participa, com permissão de acesso às in-


Com um prontuário eletrônico desenvolvido es- formações que a equipe de enfermagem registra
pecialmente para os médicos de família, que poste- durante o programa (Figuras 1 e 2). A integração de
riormente foi atrelado ao sistema de gestão de aten- informações e das equipes por meio de registros de
ção à saúde, oportunizou-se a utilização de uma saúde em um único ambiente viabilizou assertivi-
única ferramenta de trabalho com funcionalidades dade no plano de cuidados, facilitou a comunicação
de indicação para programas de atenção à saúde, para as discussões de casos e fortaleceu a coorde-
pela qual o médico, durante a consulta, identifica se nação do cuidado.
o paciente é portador de alguma doença crônica ou
se possui fatores de risco. Com apenas dois cliques, 5. Conclusão
consegue indicar esse paciente aos programas de A ferramenta permitiu otimizar o tempo do
atenção à saúde ou ainda visualizar se o paciente profissional, aumentar a precisão dos registros e
já é acompanhado por algum programa, se já está minimizar a falta de integração de informações do
ativo em algum dos módulos, a tela do prontuário paciente enfrentadas pelos profissionais que atu-
altera a cor de acordo com o programa do qual o am diretamente na assistência.

Figura 1. Tela Prontuário do Paciente - Visão geral

Fonte: Elaboração própria

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 233-236 235


Everton Bizuko, Letícia M. dos Santos e Priscila M. Franqui

artigos originais2017

Figura 2. Tela Prontuário do Paciente Integrado aos Programas de Gerenciamento

Fonte: Elaboração própria

Referências
ROSSETTI, A. G.; MORALES, A. B. T. O papel da tecnologia da informação na gestão do conhecimento. Ci. Inf., Brasília,
v. 36, n. 1, p. 124-135, jan./abr. 2007.
JUNIOR, A. P. O papel do Registro Eletrônico em Saúde RES para instituições de saúde. Anais do XV Congresso Brasi-
leiro de Informática em Saúde P. 173, nov. 2016;

236 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 233-236


artigos originais2017

Plano Viver Mais: modelo pioneiro de Atenção


Integral à Saúde na Unimed João Pessoa-PB

Andréa Gondim Mendonça1, Marcelo Eduardo Oliveira Ugulino de Araújo2 e


Alexandre Augusto Ramalho Araruna3
UNIMED JOÃO PESSOA

RESUMO
Os maiores atributos da Atenção Primária à Saúde (APS) são os conceitos da acessibilidade, integralidade,
coordenação do cuidado e longitudinalidade. Esse nível de sistema de serviço de saúde, que se estrutura
na atenção centrada na pessoa ao longo do tempo e que está voltado para as necessidades e os problemas
mais comuns, tem características como responsabilidade do acesso, qualidade e custos, além da atenção à
prevenção, ao tratamento e à reabilitação. Por isso, a atenção primária é vista como solução e perspectiva
para equilibrar e tornar possível a perenidade da cooperativa médica no Brasil diante do contexto atual.
Essa estratégia associa qualidade e efetividade na promoção da saúde. Assim, o Plano Viver Mais da Uni-
med João Pessoa incorpora esse padrão de atenção integral à saúde e impulsiona mudanças na forma de
prover a saúde, inicialmente para os seus colaboradores e dependentes. Com o objetivo de apresentar e
aprimorar os resultados obtidos nesse plano, este relato descritivo apresenta indicadores do período de
setembro de 2016 a março de 2017, como também expõe as dificuldades apresentadas até o momento.

Palavras-chave: Atenção primária, Colaboradores, Cooperativa.

1. Coordenadora e pediatra do Plano Viver Mais da Unimed João Pessoa - PB. Especialista em Gastroenterologia infantil. Pós-
graduanda em Gestão de Cooperativas de Saúde (MBA). E-mail: andrea.gondim@unimedjp.com.br
2. Gerente de Provimento e Serviço de Saúde da Unimed João Pessoa - PB. Fisioterapeuta. Pós-graduando em Gestão de Cooperativas
de Saúde (MBA). E-mail: marcelo.araujo@unimedjp.com.br
3. Gestor de Provimento e Serviço de Saúde da Unimed João Pessoa - PB. Especialista em Pneumologia. E-mail: alexandre.araruna@
unimedjp.com.br

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 237-240 237


Andréa Gondim Mendonça, Marcelo Eduardo Oliveira Ugulino de Araújo e Alexandre Augusto Ramalho Araruna

artigos originais2017

1. Introdução 3. Metodologia
Os maiores atributos da Atenção Primária à Trata-se de um texto descritivo de relato da
Saúde (APS) se estruturam nos conceitos da aces- experiência na implantação do modelo de saúde
sibilidade, integralidade, coordenação do cuidado assistencial de Atenção Integral na Unimed João
e longitudinalidade. A associação desses atributos Pessoa, implementado em setembro de 2016 para
com os resultados – a efetividade – da atenção so- aproximadamente 5.000 beneficiários, todos eles
bre a saúde da população repercute na crescente colaboradores ou seus dependentes. A captação foi
associação entre melhores desfechos de saúde e feita de maneira automática com migração plena
maior presença e extensão dos atributos da Aten- de todos os clientes, os quais foram convidados a
ção Primária à Saúde (BRASIL, 2010). A APS, nível conhecer a equipe do Viver Mais e ter sua saúde
de sistema de serviço de saúde que se estrutura coordenada por ela, por meio de palestras, da in-
na atenção centrada na pessoa ao longo do tempo tranet, do hotsite, de cartazes e de SMS.
e que está voltada para as necessidades e os pro- A equipe na unidade é composta por cinco
blemas mais comuns, tem características como médicos com carga horária de 20 horas semanais
responsabilidade do acesso, qualidade e custos, cada, sendo três com formação em Clínica Médica
além da atenção à prevenção, ao tratamento e à e dois com formação em Pediatria; duas enfermei-
reabilitação (STARFIELD, 2002). Por isso, a atenção ras com 44 horas semanais; duas recepcionistas e
primária é vista como solução e perspectiva para uma supervisora administrativa. Os médicos rece-
equilibrar e tornar possível a perenidade da coo- bem R$ 8,00 por vida da carteira de beneficiários,
perativa médica no Brasil diante do contexto atual sendo fixada a quantidade empírica de 1.000 vidas
(UNIMED DO BRASIL, 2013). Essa estratégia asso- por médico (remuneração fixa) independentemen-
cia qualidade e efetividade na promoção da saúde. te de ter havido captação plena ou de o número da
Assim, o Plano Viver Mais incorpora esse padrão carteira ser superior ou inferior a esse número, e há
de atenção integral à saúde e impulsiona mudan- variável de até 50% desse valor de acordo com o
ças na forma de prover a saúde, inicialmente a seus alcance de indicadores pré-definidos, o que seria a
colaboradores e dependentes mas com pretensões remuneração variável.
de expansão e comercialização do plano. O prontuário eletrônico usado é o MedicineO-
ne, que auxilia inclusive no controle dos indicado-
2. Objetivo res que são considerados no controle do produto
Este relato tem como objetivo apresentar o mo- e na remuneração da equipe médica. Os indicado-
delo de atenção integral à saúde que, por meio de res são o adequado preenchimento do item “S” do
princípios como acessibilidade, integralidade, lon- SOAP/CIAP 2, a porcentagem de encaminhamen-
gitudinalidade e coordenação do cuidado, foi im- tos para médicos especialistas (exceto oftalmolo-
plementado na Unimed João Pessoa, incorporan- gistas, que são liberados dessa via), a porcentagem
do gradativamente novas formas de prestação de de consultas no pronto-atendimento do hospital
serviços e metodologias inovadoras de pagamento da rede, o acesso a consulta médica em 48 horas,
aos prestadores e médicos cooperados. Trata-se de o acompanhamento do desenvolvimento infantil
um modelo de atenção à saúde racional e sustentá- em crianças menores de um ano (exclusivo para
vel, que viabiliza a ampliação do portfólio de pro- a Pediatria – considera peso, estatura e perímetro
dutos da cooperativa de acordo com as exigências cefálico) e o preenchimento do VES 13 (exclusivo
atuais do mercado. para a Clínica Médica).

238 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 237-240


Plano Viver Mais: modelo pioneiro de Atenção Integral à Saúde na Unimed João Pessoa-PB

artigos originais2017

Os encaminhamentos para especialidades são Gráfico 2. Percentual de pacientes atendidos no


feitos de acordo com a livre escolha do beneficiá- PA do HAUW
rio, que tem como opções clínicas e médicos espe-
14%
cialistas credenciados à Unimed e pode considerar 13%

a sugestão do médico que coordena o cuidado, es- 12%

tando a rede própria em formação. 10%

4. Resultados/Discussão 8%
7% 7% 7%
6% 6% 6%
Durante o período de setembro de 2016 a março 6%
5% 5% 5% 5% 5%
de 2017, foram realizados 7.929 atendimentos aos 4%
beneficiários, o que corresponde a uma cobertura
2%
de aproximadamente 77,35% da carteira em sua to-
talidade (Gráfico 1). O percentual médio de absen- 0%
Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março
teísmo nesse período foi de 21%. Deve-se enfatizar
que, para o cálculo de absenteísmo, foram consi- Pediatria Clínica Médica

deradas as faltas às consultas e não as desistências.


Fonte: Elaboração própria

Gráfico 1. Quantitativo de consultas agendadas e


realizadas Quanto aos encaminhamentos para especialis-
tas, houve diminuição das referências, contudo o
1800 1704 percentual mensal por médico ainda é elevado e
1685
1643
1600 1515 1517 geralmente não se alcança o indicador associado
1400 1324 1499
à remuneração variável, cuja meta é de 25% de en-
1409
1200 1371 1164 caminhamentos (Gráfico 3). Algumas dificuldades
1000
1104 1095
800
600
947 924 Gráfico 3. Percentual de encaminhamentos para
400 especialistas
200
0 140%
122%
120%
set/16 out/16 nov/16 dez/16 jan/17 fev/17 mar/17

100%
Consultas agendadas Consultas realizadas
83%
80% 75% 71,89% 73%

Fonte: Elaboração própria 60% 58%


60%

Houve diminuição no número de pacientes 40% 33%


29,06% 31%
atendidos no pronto-atendimento do Hospital Al- 20%
23% 23%

berto Urquiza Wanderley (HAUW), por existir na


0%
Clínica Viver Mais uma estrutura de suporte para Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março

as demandas agudas de menor complexidade. O


Pediatria Clínica Médica
Gráfico 2 demonstra essa redução comparando a
Clínica Médica com a Pediatria.
Fonte: Elaboração própria

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 237-240 239


Andréa Gondim Mendonça, Marcelo Eduardo Oliveira Ugulino de Araújo e Alexandre Augusto Ramalho Araruna

artigos originais2017

inerentes ao projeto devem ser descritas, como a horário comercial, estando em discussão a viabi-
resistência dos beneficiários quanto à aceitação lidade de determinar horário para atender a essas
de novo modelo de atenção à saúde mesmo com a demandas dentro da agenda médica.
divulgação e as palestras esclarecedoras, pois ain-
da persiste a cultura de consultas de corredor no 5. Conclusão
hospital da rede, que descaracterizam a visão do A implantação de programas de Atenção Primá-
paciente em sua integralidade. Também pode ser ria nas operadoras de saúde surge como uma alter-
ressaltado o desinteresse e desconhecimento do nativa viável que as torna mais competitivas na atual
plano por parte dos próprios cooperados. conjuntura econômica e financeira, além de permitir
Alguns outros problemas diagnosticados foram um cuidado integral e coordenado ao beneficiário, o
a dificuldade de acesso por meio de transportes que se traduz em qualidade do serviço prestado e
coletivos à unidade de Atenção Primária à Saúde sustentabilidade. Assim, a Unimed João Pessoa ade-
(APS), o tempo prolongado para o agendamento de re a esse programa e, apesar das dificuldades iniciais
consulta eletiva – que ainda é superior a 15 dias – e operacionais, apresenta resultados que permitem
a demanda excessiva dos beneficiários pelos mé- perspectivas positivas para a projeção do Plano Vi-
dicos no celular coorporativo por meio de aplica- ver Mais. Desse modo, é possível prever expansão e
tivo de mensagens (WhatsApp) ou ligações fora do comercialização desse produto no mercado.

Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção em Saúde. Departamento de Atenção Básica. Manual do instru-
mento de avaliação da atenção primária à saúde: primary care assessment tool pcatool. Brasília: Ministério da Saúde,
2010. 80 p.: il. (Série A. Normas e Manuais Técnicos).
UNIMED DO BRASIL. Comitê de Atenção Integral à Saúde (Org.). Manual de Atenção Integral à Saúde do Sistema
Unimed. v. 1. São Paulo: Unimed, 2013.
STARFIELD, B. Atenção primária: Equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, 2002.

240 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 237-240


artigos originais2017

O Registro Eletrônico em Saúde como ferramenta


de gestão e coordenação do cuidado

Cintia Bossle1, Debora Chicon Sisti2 e Marinês Ana Petri3


UNIMED GRANDE FLORIANÓPOLIS

RESUMO
Este projeto tem como objetivo realizar o monitoramento dos beneficiários atendidos em um modelo de
Atenção Primária, com cuidado integral e coordenado. Por meio de um painel de indicadores é possível
realizar o monitoramento das condições clínicas dos beneficiários e o rastreamento das condições clínicas
e dar suporte ao médico para condução do atendimento, pautado na coordenação do cuidado e na longi-
tudinalidade, características centrais do modelo de atenção integral à saúde.

Palavras-chave: Indicadores, Monitoramento; Registro Eletrônico em Saúde.

1. Médica especialista em medicina da família e comunidade e acupuntura, que atua como médica de família no Programa de
Atenção Integral à Saúde na Unimed Grande Florianópolis.
2. Gestora de Pessoas, Coordenadora de Promoção à Saúde na Unimed Grande Florianópolis.
3. Administradora, Gerente de Atenção à Saúde da Unimed Grande Florianópolis.

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 241-246 241


Cintia Bossle, Debora Chicon Sisti e Marinês Ana Petri

artigos originais2017

1. Introdução • Atualização das informações: o painel de clien-


O Programa de Atenção Integral à Saúde teve tes utiliza o Excel como ferramenta de registro
início em 2013, porém foi reestruturado e aprovado e é atualizado diariamente, assim como o con-
na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) trole de planejamento diário dos atendimentos.
como um Programa de Promoção à Saúde em maio A certificação periódica de entradas ou saídas
de 2016. Conta com três médicos de família e uma de clientes das faixas etárias preconizadas para
técnica de enfermagem. Tem dois pontos de aten- rastreamentos é realizada mensalmente.
dimento, localizados nos municípios de Florianó- • Alertas: criados para auxiliar a equipe duran-
polis e São José. te o planejamento diário, servem como ferra-
menta para pontuar situações individuais que
2. Objetivo devem ser observadas, mesmo que não moni-
Registrar informações relativas à atenção ao be- toradas. Exemplos: histórico familiar de cânce-
neficiário por meio de meios eletrônicos, buscan- res que pode alterar solicitação de exames de
do a gestão do atendimento de forma contínua e protocolos clínicos, paciente em tratamento de
coordenada. câncer, paciente asilado etc.
Os sistemas de informação na atenção primá-
ria têm três objetivos principais: administrativo, de 4.1 Monitoramentos
atenção clínica nos níveis individual e populacional
e de geração de conhecimento (STARFIELD, 2002). 4.1.1 Monitoramento das condições clínicas por
meio do painel
3. Público-alvo O painel de clientes tem como objetivo opera-
Clientes da Unimed Grande Florianópolis por- cionalizar o monitoramento de condições clínicas
tadores do Plano Unimed Fácil. passíveis de ação da equipe na prevenção de com-
plicações ou agravos.
4. Metodologia Para a operacionalização foram elencados al-
O painel de indicadores visa ao monitoramento guns itens que são checados e que subsidiam a
e rastreamento dos beneficiários, pautado nos pi- avaliação de indicadores e metas. No planejamen-
lares da atenção integral à saúde, seguindo as se- to diário realizado pela equipe de enfermagem são
guintes premissas: esses dados que compõem o plano suporte, que é
• Formação de painel de pacientes (empanel- disponibilizado ao médico da equipe para auxiliar
ment): por meio de consulta com médico de durante as consultas médicas e tomadas de decisão.
família, o cliente é incluso no painel de indica-
dores, vinculando-se a uma equipe de atendi- 4.1.2 Planejamento diário de atendimentos
mento que será responsável por seu acompa- O cuidado organizado e baseado em evidências é
nhamento ao longo do tempo. O cliente recebe uma forma de aplicar ao painel de pacientes condu-
contato direto da equipe por telefone e e-mail tas terapêuticas baseadas nas principais evidências
exclusivos para o atendimento, facilitando científicas de forma coordenada e garantir que a saú-
acesso quando necessário. de de todos seja otimizada. Esse modelo de cuidado
• Pontuação: sistema que auxilia na previsão consiste em planejar cada consulta com a equipe de
do número de clientes que podem ser acom- saúde previamente, de forma que as ações preventi-
panhados por equipe, na tentativa de garantir vas e de controle de condições crônicas nunca sejam
acesso satisfatório e qualidade na assistência. negligenciadas (UNIMED DO BRASIL, 2014).

242 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 241-246


O Registro Eletrônico em Saúde como ferramenta de gestão e coordenação do cuidado

artigos originais2017

4.1.3 Uso de instrumento de planejamento Por meio desse instrumento, a equipe realiza a
A equipe de Saúde Integral da Unimed Gran- comunicação sobre informações e dados prioritários
de Florianópolis utiliza um instrumento impresso, que auxiliarão e subsidiarão o planejamento de ações
elaborado em conjunto pelos membros da equipe, durante a consulta, fornecendo posteriormente os
para organizar o planejamento do atendimento dia dados de atualização de informações para o painel.
a dia, priorizando informações de alerta e protoco- Por meio do prontuário eletrônico, a equipe uti-
los clínicos estabelecidos. liza informações que serão preenchidas no painel.

Figura 1. Modelo de formulário de utilização para planejamento diário


PLANEJAMENTO DIÁRIO - ATENÇÃO INTEGRAL

Data: / / Médico:

PROBLEMAS: EXAMES:
( ) Laboratoriais __________ ( ) Av. Cardio ______________
CONTROLES
( ) Mamografia ___________ ( ) Eco ___________________
HAS ( ) bom ( ) ruim ____________ mmHg
( ) Dens. Óssea ___________ ( ) TE ____________________
DM ( ) Hemoglicada data _________
( ) Preventivo ____________ ( ) ECG ___________________
Dislipidemia ( ) CTT ______ HDL ______ data _________
( ) Colono _______________ ( ) Exame dos pés ___________
( ) Creatinina _______________
Consulta com oftalmo no ano ( ) _________________________
Medicação controlada (tipo): ______________________________

OBS: ________________________________________ PREV RETORNO: _______________________________________

Indicação aos Programas de Promoção à Saúde:


( ) Prog. Desenvolvimento Infantil ( ) Programa Controle do Tabagismo
( ) Unimed em Movimento ( ) Reeducação Alimentar

Fonte: Unimed Grande Florianópolis, 2016

4.1.4 Operacionalização do instrumento do painel de indicadores, ou seja, 55% do total


Ao fim de cada dia de trabalho, a equipe de en- de vidas.
fermagem checa a agenda médica do dia posterior Desde a implantação do programa, em maio de
e prepara o planejamento, inserindo os dados refe- 2016, até abril de 2017, foram realizadas 523 consul-
rentes aos clientes que serão atendidos. tas pelos médicos de família e 424 atendimentos re-
motos, por e-mail e/ou telefone, pela equipe de apoio.
4.2 Rastreamentos O rastreamento de doenças por meio do painel
Os protocolos clínicos estão presentes nas roti- de indicadores permite um maior controle dos
nas diárias das equipes de saúde e são compartilha- pacientes, possibilitando a prevenção de doen-
dos com os pacientes (UNIMED DO BRASIL, 2014). ças e evitando o aumento de custo da operadora.

5. Resultados 5.1 Resultados comparativos


A carteira do Plano Unimed Fácil possui 1.374 Conforme demonstrado por meio dos gráficos
vidas e 754 clientes são gerenciados por meio a seguir, observa-se que os pacientes monitorados

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 241-246 243


Cintia Bossle, Debora Chicon Sisti e Marinês Ana Petri

artigos originais2017

Quadro 1. Rastreamentos utilizados no painel

TIPO DE
RASTREAMENTO POPULAÇÃO ALVO PERIODICIDADE MÉTODO
RASTREAMENTO

Homens e mulheres
Colorretal com 50 anos ou mais, A cada 10 anos Colonoscopia
até 75 anos

Mulheres entre 50 a
CÂNCER Mama Bianual Mamografia
74 anos

Mulheres sexualmente
Exame citopatológico
ativas com cérvice
Colo de útero Bianual do colo do útero
(priorizar faixa etária
(Papanicolau)
entre 25 a 59 anos)

Mulheres acima de 65 Pelo menos um exame


Osteoporose Densitometria óssea
anos realizado

Pessoas acima de 18
CONDIÇÃO DE RISCO Tabagismo Não definida Questionamento
anos

Pessoas acima de 18
Sedentarismo Não definida Questionamento
anos

Rastreamento da
Exame de colesterol e
Dislipidemia em Pacientes hipertensos Anual
frações
Hipertensos

Rastreamento
Cardiológico em Pacientes hipertensos Teste ergométrico ou
Anual
Hipertensos e e/ou diabéticos Eletrocardiograma
Diabéticos

Rastreamento
AGRAVOS EM PACIENTES da Função Renal Pacientes hipertensos
Anual Exame de creatinina
CRÔNICOS em Hipertensos e e/ou diabéticos
Diabéticos

Rastreamento de
Exame de sensibilidade
Neuropatia Periférica Pacientes diabéticos Anual
dos pés
em Diabéticos

Consulta oftalmológica
Rastreamento de
Pacientes diabéticos Anual para exame de
Retinopatia Diabética
fundoscopia

Aferição de pressão
Controle Pressórico
Pacientes hipertensos arterial em consultório
em Hipertensos e Definida pelo médico
ACOMPANHAMENTO DE e/ou diabéticos ou MAPA ou controle
Diabéticos
CONTROLE DE DOENÇAS domiciliar
EM PACIENTES CRÔNICOS Definida pelo médico,
Controle Glicêmico em Exame de hemoglobina
Pacientes diabéticos com mínimo de 12
Diabéticos glicada
meses

Fonte: Painel de indicadores do Programa de Atenção Integral à Saúde, Unimed Grande Florianópolis, 2016.

244 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 241-246


O Registro Eletrônico em Saúde como ferramenta de gestão e coordenação do cuidado

artigos originais2017

em painel possuem maior adesão à realização de Análise: comparativo entre mulheres elegíveis
exames preventivos, como exemplo os exames de monitoradas e não monitoradas pelo Programa de
mamografia e colpocitológico. Atenção Integral que realizaram exame de mamo-
grafia nos últimos dois 2 anos (04/2015 a 03/2017).
Gráfico 1. Rastreamento de câncer de mama
em mulheres na faixa etária de 50 a 69 anos, Gráfico 3. Rastreamento de câncer de colo de
monitoradas no painel de indicadores útero em mulheres na faixa etária de 20 a 59
anos, com cérvice uterina, monitoradas no painel
72
de indicadores
211
49
68% realizaram
o exame

50% realizaram 106


o exame

Total de mulheres Total de mulheres


elegíveis elegíveis que
realizaram o exame

Total de mulheres Total de mulheres


Fontes: Business Intelligence, Sistema de Gestão Unimed Grande elegíveis elegíveis que
realizaram o exame
Florianópolis e painel de indicadores, 2017.
Fontes: Business Intelligence, Sistema de Gestão Unimed Grande
Gráfico 2. Rastreamento de câncer de mama em Florianópolis e painel de indicadores, 2017.
mulheres na faixa etária de 50 a 69 anos, não
monitoradas no painel de indicadores Gráfico 4. Rastreamento de câncer de colo de
útero em mulheres na faixa etária de 20 a 59
25
anos, com cérvice uterina, não monitoradas no
painel de indicadores

98
12% realizaram
o exame

3 12% realizaram
o exame

Total de mulheres Total de mulheres 12


elegíveis elegíveis que
realizaram o exame

Fontes: Business Intelligence, Sistema de Gestão Unimed Grande Total de mulheres Total de mulheres
Florianópolis e painel de indicadores, 2017. elegíveis elegíveis que
realizaram o exame

Gráficos 1 e 2 Fontes: Business Intelligence, Sistema de Gestão Unimed Grande


Florianópolis e painel de indicadores, 2017.
Meta: rastreamento de câncer de mama.
Tipo: processo. Gráficos 3 e 4
Elegíveis: mulheres na faixa etária de 50 a 69 anos, Meta: rastreamento de câncer de colo de útero.
beneficiárias do Plano Unimed Fácil. Tipo: processo.

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 241-246 245


Cintia Bossle, Debora Chicon Sisti e Marinês Ana Petri

artigos originais2017

Elegíveis: mulheres, na faixa etária de 20 a 59 anos, com Gráfico 5


cérvice uterina, beneficiárias do Plano Unimed Fácil. Meta: 80% de rastreamento de condições de risco.
Análise: comparativo entre mulheres monitoradas Tipo: processo.
e não monitoradas pelo Programa de Atenção In- Elegíveis: mulheres na faixa etária acima de 65
tegral que realizaram exame colpocitológico nos anos, beneficiárias do plano Unimed Fácil.
últimos dois anos (04/2015 a 03/2017). Análise: quantidade de densitometrias ósseas rea-
lizadas em beneficiárias elegíveis do painel no úl-
5.2 Resultados demonstrativos de timo ano.
indicadores do painel
Por meio do painel de indicadores é possível rea- 6. Conclusão
lizar o controle e rastreamento de condições de risco. O empanelment é a principal ferramenta de ges-
Demonstramos a seguir o exemplo de um exa- tão eletrônica dos pacientes, possibilitando o mo-
me utilizado para monitoramento. nitoramento de clientes a longo prazo e a continui-
dade do cuidado.
Gráfico 5. Rastreamento de condições de risco-
Além disso, a criação de vínculo do paciente
realização de densitometria óssea em mulheres
acima de 65 anos monitoradas no painel de com um médico e uma equipe torna possível que o
indicadores cliente receba um cuidado personalizado e integral.
A formação de um painel de pacientes é um
90
meio eficaz de garantir os três principais pilares do
81% realizaram 73
o exame modelo de atenção primária:
• Longitudinalidade: manter vínculo com o pa-
ciente ao longo do tempo;
• Integralidade: oferecer atendimento integral
Total de beneficiárias Total de beneficiárias elegíveis às necessidades de saúde, considerando aspec-
elegíveis no Painel no Painel que realizaram o
exame no último ano
tos sociais, psicológicos e biológicos;
Fontes: Business Intelligence, Sistema de Gestão Unimed Grande
• Coordenação do cuidado: organizar e geren-
Florianópolis e painel de indicadores, 2017. ciar os cuidados de saúde.

Referências
STARFIELD, B. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: UNESCO/
Ministério da Saúde, 2002.
UNIMED DO BRASIL. Comitê de Atenção Integral à Saúde. Manual de Atenção Integral à Saúde do Sistema Unimed.
[s.l.]: [s.n.], 2013.

246 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 241-246


artigos originais2017

O papel da Atenção Primária à Saúde no


resgate da qualidade de vida do idoso

Albertina de Lourdes Cunha1, Kelline Paiva Bringel2 e Kelly Araújo Fontenele3


UNIMED CEARÁ

RESUMO
Com as mudanças sociodemográficas e a inversão da pirâmide populacional brasileira, percebe–se a ne-
cessidade de realizar mudanças na estratégia do atendimento aos idosos, pautadas na coordenação do
cuidado de forma efetiva. O cuidado ao idoso passa a ser realizado de forma contínua e integral, com maior
acesso, e a ser coordenado pelo médico de família e comunidade, o qual não atua apenas de forma curativa,
mas também, e principalmente, de forma preventiva. O objetivo deste estudo é proporcionar um cuidado
continuado, com redução de procura por múltiplas especialidades, idas ao PA, internações e reinternações.
Acredita-se que o papel do coordenador e da equipe multiprofissional seja imprescindível na execução, na
continuidade e na garantia de qualidade assistencial para a população idosa.

Palavras-chave: Coordenação; Continuidade; Cuidado; Idoso; Qualidade.

1. Médica, formada pela Faculdade de Medicina de Barbacena, gerente de Provimento de Saúde. E-mail: albertinacunha@
unimedceara.com.br
2. Médica, formada pela Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte, especialista em Medicina de Família e Comunidade,
coordenadora do Provimento de Saúde. E-mail: kellinebringel@unimedceara.com.br
3. Enfermeira, formada pela Universidade de Fortaleza, pós-graduanda em Saúde do Idoso, responsável técnica de Enfermagem.
E-mail: kellyaraujo@unimedceara.com.br

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 247-250 247


Albertina de Lourdes Cunha, Kelline Paiva Bringel e Kelly Araújo Fontenele

artigos originais2017

1. Introdução orientadores do percurso terapêutico segundo a


As mudanças sociodemográficas que têm se necessidade de cada pessoa, respeitando a evolu-
verificado – substancial aumento dos terços médio ção natural da doença, o momento de vida e a ne-
e apical da pirâmide populacional brasileira – exi- cessidade exigida pela condição apresentada.
gem que as estratégias de atenção aos idosos sejam A atenção à saúde do idoso é multidimensional
renovadas e pautadas por uma coordenação efeti- e vai ao encontro de princípios descritos acima,
va de cuidados. acrescidos da forte vocação para o uso da preven-
O modelo atual de Atenção à Saúde, predomi- ção quaternária (“primum non no cere”) para evitar
ações de saúde redundantes e desnecessárias.
nantemente reativo e hospitalocêntrico, calcado
A partir do descrito anteriormente foi desen-
em intervenções de caráter curativo e no modelo
volvido um projeto-piloto, em parceria com o
de pagamento por produção (fee for service), exau-
Escritório de Projetos da Unimed Ceará, utilizan-
riu-se diante da nova realidade epidemiológica e
do a metodologia e as boas práticas do Project
do rápido processo de transição demográfica, que é
Management Body of Knowledge (PMBOK) para
pressionado cada vez mais pela avassaladora inser-
a instalação da Atenção Personalizada à Saúde
ção tecnológica que vem acontecendo de maneira
(APS), com foco na ideia do Idoso Bem Cuidado,
não substitutiva e acrítica, em ritmo frenético. Mas
segundo a qual o médico de família e comunida-
a vida longa traz consigo, também, algumas exigên-
de é o responsável por coordenar o cuidado dessa
cias, como os desafios do aumento da longevidade
população. Para tal, selecionamos os idosos que
e a atenção à saúde. Programas de atenção à saúde
tiveram mais passagens pelo pronto-atendimen-
são imprescindíveis para uma vida saudável. Hoje,
to, mais internações e mais busca por múltiplas
em referências ao ônus apresentado pelos idosos,
especialidades médicas nos anos de 2014 e 2015,
geralmente se mencionam os gastos com sua saúde.
considerando que esses seriam os idosos mais
As vagas hospitalares são ocupadas, na sua maioria,
vulneráveis e com maior urgência de coordena-
por velhos, porque o precário atendimento à saúde
ção do cuidado.
acarreta a necessidade de hospitalização. O plano de cuidado do idoso é iniciado com a
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta classificação real de sua vulnerabilidade, por meio
para o fato de que em 2020 cerca de 80% da carga da ferramenta Índice de Vulnerabilidade Clínico-
total de doenças serão doenças crônicas não trans- Funcional (IVCF-20). A partir da classificação da
missíveis (DCNT), o que aumenta mais ainda a defa- vulnerabilidade e das consultas médicas e de en-
sagem do atual modelo em virtude da sua incapa- fermagem, o cuidado ao idoso é estendido para
cidade de prestar adequado cuidado aos pacientes. hidroginástica, grupo terapêutico com psicóloga e
Nesse prisma, a Atenção Primária à Saúde, ca- oficinas de terapia ocupacional, o que pode possi-
racterizada por seus princípios de primeiro contato, bilitar a redução do seu grau de vulnerabilidade.
longitudinalidade, integralidade e coordenação do A população-alvo do estudo foi selecionada
cuidado, possibilita uma resolutividade de até 90% a partir dos seguintes critérios: clientes Unimed
dos problemas de saúde da população em geral. Ceará com faixa etária de 54 anos ou mais, que
A coordenação do cuidado tem como essência residam dentro de um raio de até 30 km da cida-
a disponibilidade de informações a respeito dos de de Fortaleza.
problemas de saúde e dos serviços prestados, além A captação foi feita por meio do estudo do per-
do acesso aos profissionais que compõem a equipe curso assistencial dessa carteira de clientes (procu-
da Atenção Primária à Saúde, no sentido de serem ra por PA, internações sensíveis à atenção primária

248 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 247-250


O papel da Atenção Primária à Saúde no resgate da qualidade de vida do idoso

artigos originais2017

e procura de mais de um especialista referenciado reinternações e redução de 33% de exames de


para doenças crônicas) nos anos de 2014 e 2015. alta complexidade.

2. Objetivo 5. Conclusão
Proporcionar um cuidado integral e coorde- Vários estudos e a prática médica têm demons-
nado, com redução da procura por múltiplas es- trado que o atual modelo assistencial é fragmenta-
pecialidades, de idas ao PA, de internações e rein- do e que com ele não se tem observado melhoras
ternações; promover o autocuidado e, por vezes, nos indicadores em saúde; pelo contrário, as esta-
diminuir o índice de vulnerabilidade do idoso. tísticas mostram piora nos indicadores, especial-
mente nos de doenças ou mortes evitáveis. Há ele-
3. Metodologia vação contínua de custos assistenciais, ao mesmo
Como procedimento metodológico foi realiza- tempo em que aumenta a insatisfação dos benefi-
da uma pesquisa de abordagem qualitativa quan- ciários, principalmente pela dificuldade de acesso.
titativa. Foram selecionados os 137 clientes que Para resolver a complicada equação que pos-
apresentaram maior índice de vulnerabilidade da sibilite acessibilidade, qualidade de atendimento,
carteira atualmente atendida na clínica. resultados eficientes e eficazes e custos compa-
tíveis, que não onerem beneficiários nem amea-
4. Resultados cem a sustentabilidade de prestadores e de ope-
radoras, a alternativa que tem sido encontrada é
Quadro 1. Comparativo dos indicadores de o resgate da Atenção Primária à Saúde (APS). Ela
Qualidade* responde aos problemas comuns e inespecíficos
responsáveis pela grande maioria das necessida-
Indicadores de Ago. a dez. Ago. a dez.
Comparativo
qualidade 2015 2016 des de saúde da população.
Consultas com
327 335
Aumento de Ao servir de porta de entrada, alivia a atenção
especialistas 2,44%
secundária (conhecimento médico mais especia-
Diminuição de
Procura por PA 78 66 lizado) e a atenção terciária (os casos mais raros
15,38%

Internações 70 22
Diminuição de e complexos), colaborando para o resultado final
68,57%
nessas três dimensões de atenção. Os sistemas de
Índice de
satisfação
- 90% - atenção à saúde, com forte orientação para a APS,
Fonte: Elaboração própria.
apresentam índices que demonstram os bons re-
* Filtro realizado com os mesmos clientes no mesmo período. sultados desse modelo assistencial.
Avaliações produzidas por numerosos estudos
O quadro acima mostra os primeiros resulta- realizados em grande número de países e regiões
dos da Clínica APS, que mantêm consonância permitem concluir que há evidências robustas, na
com o benchamark com modelos nacionais e in- literatura internacional, sobre os resultados positi-
ternacionais, consolidando o modelo assistencial vos da APS nos sistemas de atenção à saúde. Ela
proposto. O número de consultas eletivas sofreu é mais efetiva por ser a única forma de enfrentar
um aumento, devido processo de mudança cultu- a situação epidemiológica de hegemonia das con-
ral dos clientes. dições crônicas e por impactar significativamente
O UnitedHealth Group (MINNETONKA, 2016) os níveis de saúde da população. Além disso, apre-
publicou um estudo que mostrou uma diminui- senta menores custos e reduz procedimentos mais
ção de 6% de procura por PS, redução de 22% de caros. Tem maior qualidade porque coloca ênfase

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 247-250 249


Albertina de Lourdes Cunha, Kelline Paiva Bringel e Kelly Araújo Fontenele

artigos originais2017

na promoção da saúde e na prevenção das doenças baseadas em evidências científicas, sempre ampara-
e porque oferta tecnologias mais seguras para os do pelo trabalho de equipe multiprofissional.
usuários e para os profissionais de saúde. É notória a repercussão positiva do modelo de
Com o entendimento de que o modelo assis- assistência que vem sendo ofertado. O desafio se
tencial baseado em atenção primária à saúde traz torna maior por se tratar de um benefício e não
diversas vantagens, a Unimed Ceará decidiu ofere- uma obrigatoriedade, mas com o serviço de qua-
cer esse modelo assistencial aos seus clientes. Para lidade da clínica, o plano de cuidado individuali-
isso foi necessário projetar uma estrutura física in- zado e o acesso facilitado tem sido possível que
tegradora e multidisciplinar que pudesse compor- os pacientes por livre escolha tenham a clínica de
tar todos os elementos indispensáveis a um atendi- atenção personalizada à saúde como sua porta de
mento baseado em APS. entrada no sistema.
Passou a ser oferecido um serviço de promoção, A experiência da implantação aqui relatada
prevenção, assistência e reabilitação na área de saú- mostra que o trabalho conjunto, com uma base só-
de, com garantia de acesso à demanda agendada e/ou lida de conhecimento e um projeto bem elaborado,
espontânea, seguindo protocolos clínicos e diretrizes produz resultados surpreendentes e gratificantes.

Referências
ALBUQUERQUE, S. M. R. L. Qualidade de Vida do Idoso: a assistência domiciliar faz a diferença? São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2003.
AYRES, J. R. C. M. O cuidado, os modos de ser (do) humano e as práticas de saúde. Saúde e Sociedade, v. 13, n. 3, p. 16-29,
set./dez. 2004.
AZEVEDO, R. et al. Atividade física e doença de Parkinson. Efdeportes - Revista Digital, Buenos Aires, v. 11, n. 101, Oct.
2006. Disponível em: < www.efdeportes.com/efd156/atividade-fisica-e-doenca-de-parkinson.htm >. Acesso em: 24
abr. 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Envelhecimento e
saúde da pessoa idosa. (Cadernos de Atenção Básica, n. 19). Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 192 p. il.
   . Portal do Departamento de Atenção Básica. Disponível em: <http://dab.saude.gov.br/publicacoes.php>. Acesso
em: 24 abr. 2017.
MINNETONKA, M. Infographic: leading the transition to value-based care. UnitedHealth Group. 4 maio 2016. Dispo-
nível em: <http://www.unitedhealthgroup.com/newsroom/articles/feed/unitedhealth%20group/2016/0504infogra-
phicvaluebasedcare.aspx>. Acesso em: 24 abr. 2017.
MORAIS, M. APS do conceito à implantação. [s.l.]: [s.n.], 2014.
PARKER, J. Redesigning health care to improve patient health. Better Medicare Alliance. 1 set. 2015. Disponível em:
<http://www.bettermedicarealliance.org/perspectives/redesigning-health-care-improve-patient-health>. Acesso em:
24 abr. 2017.
RODRIGUES, N.; RAUTH, J. Os desafios do envelhecimento no Brasil. In: FREITAS, E. et al. Tratado de Geriatria e Geron-
tologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
STARFIELD, B. Atenção primária: equilíbrio entre necessidade de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: UNESCO: Mi-
nistério da Saúde, 2004. 726 p.

250 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 247-250


artigos originais2017

Implantação do cuidado perfeito no gerenciamento


dos clientes portadores de condição crônica da
Unimed Vitória

Rafaeli Hoffmeister1, Renata Loureiro Moretto2 e Simone Januario Barbosa3


UNIMED VITÓRIA

RESUMO
Este trabalho tem como objetivo avaliar o gerenciamento do cuidado prestado aos clientes portadores de
condição crônica não transmissível da Unimed Vitória, realizando comparativo entre os resultados dos
indicadores de qualidade dos clientes assistidos pela plataforma digital implantada no novo modelo do
cuidado perfeito e os assistidos no prontuário convencional. Foram analisados retrospectivamente 1.280
pacientes inseridos no novo sistema de gestão do cuidado, no período de dezembro/2016 a março/2017,
900 do sexo feminino e 380 do sexo masculino. Comparou-se também a quantidade de internações e idas
ao pronto-socorro desses clientes em relação aos clientes assistidos no prontuário eletrônico utilizado
anteriormente, os quais totalizam 4.434 pacientes. Foi apresentada uma redução de 6% na utilização do
PS e de 10% nas internações, e uma média de 81% na resolutividade dos atendimentos de intercorrência e
de 87% na efetividade do tratamento de feridas no domicilio, evitando assim internações, idas ao pronto-
socorro desnecessárias e agravamento do quadro clínico no grupo assistido pelo novo modelo, devido à
funcionalidade de alertas clínicos e à efetividade da nova ferramenta de inovação no gerenciamento do
plano de cuidados. Dessa forma, houve uma economia de 34,16% dos clientes assistidos pelo programa na
utilização da operadora. Além disso, a satisfação dos clientes com os atendimentos do PGC foi de 94,5%.

Palavras-chave: Gerenciamento. Pacientes Crônicos. Inovação. Prontuário Eletrônico.

1. Enfermeira. Graduada em Enfermagem. Enfermeira da Medicina Preventiva. E-mail: rafaelihoffmeister@unimedvx.com.br


2. Médica. Residência em Endocrinologia. Coordenadora Médica da Medicina Preventiva. E-mail: rmoretto@unimedvx.com.br
3. Assistente Social. Pós-Graduada em Políticas Sociais e MBA em Gestão de Pessoas. Analista Sênior da Medicina Preventiva.
E-mail: sjbarbosa@unimedvx.com.br

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 251-257 251


Rafaeli Hoffmeister, Renata Loureiro Moretto e Simone Januario Barbosa

artigos originais2017

1. Introdução da assistência primária à saúde, por meio das orien-


De acordo com a Agência Nacional de Saúde tações repassadas aos clientes, a fim de intervir na
Suplementar (ANS, 2016), as doenças crônicas não prevenção e melhorar o gerenciamento do cuidado,
transmissíveis (DCNT) são as principais causas de e consequentemente a qualidade do atendimento.
mortalidade e morbidade em idosos, apresentando De acordo com Donner e Wheeler (2009), coach-
efeitos de longo prazo difíceis de prever. Correspon- ing é uma interação entre um treinador e um indiví-
dem a 60% das doenças no mundo, sendo responsá- duo disposto, o cliente, na qual o tempo é limitado,
veis por um elevado número de internações e envol- com o foco em conversas para atingir seus objetivos.
vendo queda significativa da qualidade de vida, que O coach possui o papel de apoiar, incentivar e auxiliar
se dá à medida que a doença se agrava e correspon- o cliente por meio da experiência, tendo a capacida-
de a 72% das causas de morte da população em geral de de ouvir, discutir e questionar, e esclarecendo va-
(BRASIL, 2013). Diante dessa realidade, a Unimed Vi- lores fundamentais, crenças e sentido de propósito.
tória criou o Programa de Gerenciamento de Crôni-
cos (PGC), visando a promover educação em saúde, a 2. Objetivo
incentivar a independência e o autocuidado de seus Avaliar o gerenciamento do cuidado presta-
pacientes, a desacelerar a progressão da doença, a do aos clientes portadores de condição crônica
prevenir internações sensíveis por atenção primária não transmissível da Unimed Vitória, realizando
e idas desnecessárias ao pronto-socorro (PS), a pro- comparativo entre os resultados dos indicado-
porcionar melhora da qualidade de vida e a reduzir res de qualidade dos clientes assistidos pela pla-
os custos assistenciais por meio de uma gestão do taforma digital implantada no novo modelo do
cuidado mais assertiva e eficaz. cuidado perfeito e os dos clientes assistidos no
A ANS define que a atenção domiciliar inclui prontuário convencional.
ações em conjunto de uma equipe interdisciplinar,
que atua no domicilio do usuário/da família pro- 3. Metodologia
movendo a prevenção, a promoção, o diagnóstico, Foram analisados retrospectivamente 1.280
o tratamento e a reabilitação do idoso e auxiliando pacientes que foram inseridos no novo sistema de
no controle das incapacidades, no desenvolvimen- gestão do cuidado, no período de dezembro/2016
to e na adaptação de suas funções de vida diária, a março/2017; destes, 900 são do sexo feminino e
com o objetivo de retomar sua independência e 380 do sexo masculino. Comparou-se, também, a
preservar sua autonomia (ANS, 2009). quantidade de internações e idas ao pronto-socor-
Para otimizar o gerenciamento de cuidados, foi ro desses clientes com a dos clientes assistidos no
utilizada uma plataforma digital, associada à Central prontuário eletrônico convencional utilizado an-
de Telessaúde (CTS), a qual é uma solução inovado- teriormente, que são 4.434 pacientes. Os critérios
ra capaz de combinar personalização de planos de de inclusão foram: clientes Unimed Vitória porta-
cuidados por meio do gestor em saúde – coach – e dores de doenças crônicas não transmissíveis com
uso de dispositivos como smartphone e outros, re- idade a partir de 60 anos.
sultando em uma assistência à saúde mais acessível Os pacientes do PGC são identificados na carteira
e eficiente. Segundo Lopes, Pisa e Sigulem (2005), da Unimed Vitória de acordo com custos assisten-
o termo telessaúde representa o uso de tecnologias ciais, identificação de CID relacionado às condições
de informação e comunicação para fornecer servi- crônicas, registros de internações, idade acima de 60
ços e cuidados em saúde à distância, por meio de anos e encaminhamentos médicos e pelas unidades
profissionais da área. Tem como objetivo melhoria próprias. Esses pacientes são captados pela CTS por

252 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 251-257


Implantação do cuidado perfeito no gerenciamento dos clientes portadores de condição crônica da Unimed Vitória

artigos originais2017

meio de uma plataforma digital de gestão do cuida- intercorrências no período de até 48 horas; inter-
do, na qual foi implementada a captação e avaliação nações e idas ao pronto-socorro; eficácia no trata-
de risco em saúde com o objetivo de identificar a mento de feridas no domicilio; economia gerada
necessidade de atendimento ambulatorial ou domi- com custo anterior e superior acima de R$ 1.200,00
ciliar. Após a identificação do perfil clínico, os clien- – seis meses antes e depois da entrada no PGC.
tes são avaliados pelo enfermeiro do programa, de Também é feita pesquisa de satisfação trimestral
forma presencial, em uma consulta domiciliar, para dos atendimentos do PGC no modelo NPS.
confirmação dos critérios de elegibilidade, orienta-
ções em saúde e direcionamento para atividades. O 4. Resultados/Discussão
questionário de avaliação inicial é composto pelo Foram gerenciados 1.280 portadores de doenças
Índice de Vulnerabilidade Clínico Funcional (IVCF crônicas, dos quais 32,3% apresentaram risco am-
20) – que classifica o idoso em robusto, com risco bulatorial e 67,7%, risco domiciliar. Na classificação
de fragilização e frágil –, do teste Timed Up and Go do IVCF, 14,9% foram classificados como robustos,
(TUG) e da mensuração da circunferência da pantur- 31,4%, com risco de fragilização e 38%, como frá-
rilha, para avaliação do risco de queda. geis. Foi medida a circunferência da panturrilha:
De acordo com a classificação de risco é traçado 76,8% apresentaram eutrofia e 23,2%, risco de queda.
o plano de cuidado centrado no paciente, persona- Além disso, foi realizado o TUG apenas com os 458
lizado, a fim de definir o cronograma das ativida- pacientes elegíveis ao teste, excluídos os acamados
des. O idoso robusto é atendido no ambulatório e semiacamados, dos quais 16,9% apresentaram-se
pela equipe multidisciplinar e pelo médico assis- como indivíduos adultos independentes e sem alte-
tente, e os com risco de fragilização e frágeis rece- ração no equilíbrio, 44,5%, como idosos frágeis/de-
bem a visita de enfermagem com frequência que pendentes em transferências básicas e 38,6%, como
varia de mensal a trimestral. Todos os pacientes de idosos dependentes em muitas atividades da vida di-
alto risco recebem visitas bimestrais de médicos e, ária, mobilidade diminuída e grande risco de quedas.
quando necessário, atendimentos de intercorrên- Foi realizado um comparativo entre os clientes
cias. As consultas de nutrição são realizadas por assistidos pela gestão de cuidados com a plataforma
demanda mediante solicitação dos enfermeiros/ digital e os inseridos apenas no prontuário eletrô-
médicos conforme a necessidade do cliente. nico convencional. Apresentou-se uma redução de
Com esse novo modelo de gestão do cuidado 6% na utilização do PS e de 10% nas internações, ou
por meio da plataforma digital, é possível realizar seja, um total de 1.797 internações e 8.477 idas ao PS
a extração de dados clínicos em tempo real, e as- nos clientes do novo modelo de cuidado perfeito em
sim ter um melhor gerenciamento dos dados para comparação com 7.984 internações e 36.204 idas
tomada de decisão referente a condutas clínicas e ao PS no grupo da antiga forma de gerenciamento.
a adequação de plano de ação. Também é realizado Além disso, obteve-se uma média de 81% na resolu-
pelo enfermeiro o gerenciamento dos alertas clíni- tividade dos atendimentos domiciliares de intercor-
cos e da execução das ações propostas. Além disso, rências (Tabela 1) e de 87% na eficácia no tratamento
por meio de acesso individual é realizada interface de feridas (Tabela 2), sem a necessidade de encami-
on-line para empoderamento do paciente no cui- nhamento para assistência domiciliar, nos clientes
dado, por meio de chat com o coach em saúde, para assistidos no novo modelo de gestão. Dessa forma,
esclarecimentos, sempre que solicitado. houve uma redução de custo dos clientes assistidos
Os indicadores avaliados mensalmente são: pelo programa, gerando uma economia de 34,16%
resolutividade nos atendimentos domiciliares de que correspondeu ao valor de R$ 6.790.745,96 após

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 251-257 253


Rafaeli Hoffmeister, Renata Loureiro Moretto e Simone Januario Barbosa

artigos originais2017

Tabela 1. Porcentagem de Resolutividade de Idas ao P.S frente aos atendimentos de intercorrências


no Domicílio
QUANT. DE % DE
QUANT. DE QUANT. IDAS
MÊS RESOLUTIVIDADE RESOLUTIVIDADE META
INTERCORRÊNCIAS AO P.S
NO DOMICÍLIO NO DOMICÍLIO
dez/16 46 9 37 80% 80%
jan/17 29 5 24 83% 80%
fev/17 14 2 12 86% 80%
mar/17 33 7 26 79% 80%
Total 122 23 99 81% 80%
Fonte: Sistema Incoway e plataforma Healthmap

Tabela 2. Porcentagem de Resolutividade de Acompanhamentos de Feridas no Domicílio - PGC


QUANT. DE % DE
QUANT. DE QUANT. ENC.
MÊS RESOLUTIVIDADE RESOLUTIVIDADE META
AVALIAÇÕES FERIDA ADUVI
NO DOMICÍLIO NO DOMICÍLIO
dez/16 17 1 16 94% 80%
jan/17 7 3 4 57% 80%
fev/17 9 1 8 89% 80%
mar/17 19 2 17 89% 80%
Total 52 7 45 87% 80%
Fonte: Sistema Incoway e plataforma Healthmap

o início da participação no programa (Gráfico 1). A de 14 vezes na probabilidade de sofrer alguma que-
satisfação dos clientes com os atendimentos do PGC da nos idosos com idade entre 75 e 84 anos, devido
foi de 94,5% (Gráfico 2). à necessidade de auxílio em algumas atividades de
Percebe-se que o envelhecimento está associado vida diária. Além disso, segundo Gawryszewsk et al.
ao processo de fragilização. Entretanto, é inadequa- (2004), o fator queda está entre os primeiros lugares
do utilizar apenas a idade como um preditor de fra- nas causas de internações em idosos acima de 60
gilidade, uma vez que o processo de envelhecimento anos. Com isso, nota-se a importância de a enferma-
segue padrão heterogêneo. O termo fragilidade é co- gem atuar com medidas preventivas para detectar
mumente utilizado para representar o grau de vul- os fatores de risco físicos e ambientais por meio da
nerabilidade do idoso a desfechos adversos, como consulta domiciliar e da realização do teste de IVCF-
declínio funcional, quedas, internação hospitalar, 20 como um instrumento de triagem da fragilidade,
institucionalização e óbito (MORAES et al., 2016). Na do teste de TUG e da circunferência da panturrilha, a
população acima de 60 anos, as quedas são mais fre- fim de identificar o risco de queda nos idosos e ava-
quentes e há muito tempo são aceitas como decor- liar a capacidade de transferência inter-relacionada
rências “naturais” do envelhecimento. No Brasil, pelo com o equilíbrio dinâmico. O objetivo é intervir pre-
menos 30% dos idosos sofrem um episódio de que- cocemente por meio de orientações, modificações/
da por ano, em frequência um pouco maior nas mu- adaptações dos espaços e fisioterapia dirigida, para
lheres se comparadas aos homens da mesma faixa que assim haja diminuição do grau de suscetibilida-
etária. Segundo Pereira et al. (2001), há um aumento de de quedas na população idosa.

254 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 251-257


Implantação do cuidado perfeito no gerenciamento dos clientes portadores de condição crônica da Unimed Vitória

artigos originais2017

Gráfico 1. Economia gerada com custo anterior e superior a R$ 1.200,00 - 6 meses antes e após entrada
no PGC

Custo total dos clientes 6 meses antes e 6 meses depois de serem inseridos no Programa de Gerenciamento de Crônicos

R$ 5,0

R$ 4,5

R$ 4,0

R$ 3,5

R$ 3,0

R$ 2,5

R$ 2,0

R$ 1,5

R$ 1,0
Custo 6 meses antes Custo 6 meses depois
R$ 0,5 R$ 19.879.088,11 R$ 13.088.342,15

R$ 0,0
6 meses 5 meses 4 meses 3 meses 2 meses 1 mês Mês de 1 mês 2 meses 3 meses 4 meses 5 meses 6 meses
antes antes antes antes antes antes entrada depois depois depois depois depois depois

Fonte: Sistema SAS/BI Unimed Vitória

Gráfico 2. Pesquisa de Satisfação Trimestral dos pois implica riscos de imobilidade, infecções hos-
Atendimentos do PGC no modelo NPS pitalares, incontinência, desnutrição, depressão, de-
100 94,5 senvolvimento de comorbidades, declínio cognitivo,
90 deterioração da capacidade funcional e até mesmo
80
óbito (WERNER; KUNTSCHE, 2000). Com isso, nota-
70
60 se a importância da resolutividade das intercorrên-
50 cias e dos tratamentos de lesões no domicilio para
40
30
que sejam evitados esses agravamentos.
20 De acordo com Vieira (2013), destacam-se
10
como vantagens do registro eletrônico em saú-
0
Março Junho Setembro Dezembro de a possibilidade de padronização e completude
Grau de recomendação Meta dos dados registrados; a diminuição do risco de
Fonte: Sistema Incoway e plataforma Healthmap
perda das informações; a redução da ilegibilidade
e de extravios e a ampliação das possibilidades
O idoso é mais suscetível a adquirir infecções, de cruzamentos de informações para a tomada
devido às alterações fisiológicas do envelhecimento, de decisão clínica. Com o presente trabalho, veri-
ao declínio da resposta imunológica e à realização fica-se que há uma facilidade no acesso, no arma-
de procedimentos invasivos. A hospitalização acima zenamento e na análise dos dados clínicos que
de 60 anos, embora necessária, em muitos casos re- foram registrados eletronicamente. A parametri-
presenta alto risco para a saúde dos idosos, podendo zação realizada nos campos dos dados das con-
gerar agravamento do quadro clínico do paciente, sultas domiciliares mostrou-se nítida e prática,

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 251-257 255


Rafaeli Hoffmeister, Renata Loureiro Moretto e Simone Januario Barbosa

artigos originais2017

uma vez que os riscos de saúde realizados auto- Dessa forma, percebe-se que houve uma redu-
maticamente, conforme as respostas registradas ção na utilização do PS e na internação quando
dos protocolos, provavelmente auxiliam na orga- comparados o grupo de clientes gerenciados na
nização do atendimento e do plano de ação tra- plataforma digital e o que permanece no prontuá-
çado para cada cliente. Os resultados do estudo rio eletrônico antigo, mostrando assim a efetivida-
demonstram a utilidade do registro eletrônico de da nova ferramenta de inovação na coordenação
com o objetivo de melhorar a qualidade do regis- do cuidado por abordar de forma prévia os riscos e
tro clínico e provavelmente melhorar a qualidade intercorrências, incentivando melhor acesso; redu-
da assistência prestada ao usuário. ção de custos, internações e idas ao pronto-socorro
desnecessárias; aumentando a qualidade do servi-
5. Conclusão ço prestado e tornando a medicina preventiva um
A abordagem integral e coordenada pela equipe suporte indispensável para o alcance dos princípios
interdisciplinar, incluindo a promoção da saúde, a da atenção primária. Além disso, mostrou efetivida-
prevenção dos fatores de risco, as complicações e o de no acompanhamento das feridas em domicílio
tratamento das enfermidades crônicas, são os prin- pela própria equipe do Viver Bem, evitando agrava-
cipais pontos para o gerenciamento da saúde de mento no quadro clínico do cliente e o direciona-
pacientes idosos. Esses indivíduos são os que mais mento dele para o serviço de assistência domiciliar.
sofrem os efeitos de sua própria fragilidade e, por Nota-se, ainda, alta satisfação com o serviço presta-
conseguinte, os que mais desejam serviços de quali- do pela operadora, mostrando que a sua ampliação
dade e necessitam de eficiência no setor saúde. ajudará na sustentabilidade da cooperativa.

Figura 1. Etapas da Gestão de Cuidados do PGC na Unimed Vitória

FASE 1 FASE 2 FASE 3 FASE 4 FASE 5

Identificação dos Captação e Desenvolver Plano Monitoramento Análise de


Clientes Elegíveis Estratificação Risco de Cuidado Ações, alertas Resultados e
Perfil de Saúde Personalizado clínicos Tomada de
Interação com Decisão
Cliente (Coach em
Saúde)

ANÁLISE ESTATÍSTICA CENTRAL DE TELESSAÚDE + PLATAFORMA DIGITAL GESTÃO DE CUIDADO

Fonte: Elaboração própria

256 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 251-257


Implantação do cuidado perfeito no gerenciamento dos clientes portadores de condição crônica da Unimed Vitória

artigos originais2017

Referências
AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR. Idoso na saúde suplementar: uma urgência para a saúde da socie-
dade e para a sustentabilidade do setor. Rio de Janeiro: ANS, 2016.
   . Manual técnico de promoção da saúde e prevenção de riscos e doenças na saúde suplementar 3. ed. rev. e
atual. Rio de Janeiro: ANS, 2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Diretrizes para o cuidado das pessoas com doenças crô-
nicas nas redes de atenção à saúde e nas linhas de cuidado prioritárias. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
DONNER, G.; WHEELER, M. Coaching in nursing: an introduction. Indianapolis: International Council of Nurses and
The Honor Society of Nursing, Sigma Theta Tau International, 2009, 36 p.
GAWRYSZEWSKI, V. P.; JORGE, M. H. P. M.; KOIZUM, M. S. Mortes e internações por causas externas entre os idosos
no brasil: o desafio de integrar a saúde coletiva e atenção individual. Rev Assoc Med Bras, v. 50, n. 1, p. 97-103, 2004.
LOPES, P.R.L; PISA, I.T.; SIGULEM, D. Desafios em Telemedicina. p. 367-386, 2005. Disponível em: <http://telemedicina.
unifesp.br/pub/document/Article/2005-06-ParceriasEstrat%C3%A9gicas-p_20_1.pdf> Acesso em: 18 abr. 2017.
PEREIRA, S. R. M. et al. Projeto Diretrizes: Quedas em Idosos. São Paulo: Sociedade Brasileira de Geriatria e Geronto-
logia. 2001. 9p.
VIEIRA, E. T. R. C. Registro eletrônico em saúde-RES como suporte à pesquisa. Dissertação [Mestrado] – Rio de Janeiro,
Fundação Oswaldo Cruz/FIOCRUZ; 2013.
WERNER, H.; KUNTSCHE, J. Infection in the elderly: what is different? Z Gerontol Geriatr, v. 33, p. 350-358, 2000.

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 251-257 257


Graziela Loyola Ribas e Annemarie Dusanek

artigos originais2017

Avaliação da assistência prestada em domicílio


a pacientes inseridos em programa de Atenção
Domiciliar e internados por doenças sensíveis à
Atenção Primária

Graziela Loyola Ribas1 e Annemarie Dusanek2


UNIMED BELO HORIZONTE

RESUMO
O presente trabalho foi desenvolvido com a finalidade de avaliar o perfil de clientes internados em 2015
com patologias sensíveis à intervenção específica em domicílio, assim como o perfil dos cuidadores e a
relação destes com as equipes assistenciais. Para chegar à população elegível para o estudo, foram utiliza-
das as informações dos bancos de dados da Unimed Belo Horizonte. No período de avaliação havia 7.822
clientes inscritos em atendimento domiciliar; entre eles, 667 clientes foram responsáveis por 779 hospita-
lizações. Optou-se por trabalhar com pacientes cujas patologias tinham maior incidência e que eram pas-
síveis de tratamento e acompanhamento domiciliar: infecção do trato urinário e pneumonia. Assim, 236
clientes eram elegíveis ao estudo e foram avaliados 167 pacientes, o que corresponde a 71% da amostra.
Dos 29% não avaliados, 14% evoluíram a óbito, 11% não foram avaliados por dificuldade de agendamento
para visita do auditor na residência, 2% receberam alta do programa e os outros 2% estavam hospitalizados
no período da coleta de dados. Nos pacientes avaliados, observou-se uma prevalência do sexo feminino
(71,6%) e de idade igual ou superior a 71 anos (90%); 61% apresentavam dificuldade para se locomover ne-
cessitando de auxílio humano ou de dispositivo (bengala ou andador) e os outros 39% eram acamados. Em
relação à classificação por nível assistencial, 72% dos pacientes estavam classificados em nível interme-
diário; os demais 28% estavam classificados no nível avançado do programa. Verificou-se que 68% foram
hospitalizados por infecção do trato urinário (ITU) e 32% foram hospitalizadas por pneumonia (PNM). O
atendimento domiciliar mostrou-se efetivo para a maioria das condições sensíveis à atenção primária. As
hospitalizações (relacionadas a ITU e PNM e sensíveis à intervenção específica em domicílio) foram ne-
cessárias por se tratar de pacientes com doenças de base e idade avançada, o que agravou o seu quadro e
tornou necessário o encaminhamento à unidade hospitalar para tratamento.

Palavras–chave: Perfil Clientes. Internação Domiciliar. Atenção Primária à Saúde.

1. Enfermeira, Bacharel em Enfermagem, Supervisora da Coordenação da Auditoria Assistencial da Unimed Belo Horizonte. E-mail:
graziela.ribas@unimedbh.com.br
2. Médica, Coordenadora da Auditoria Assistencial, Gestão de Relacionamento com Serviços de Saúde da Unimed Belo Horizonte.
E-mail: annemarie@unimedbh.com.br

258 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 258-263


Avaliação da assistência prestada em domicílio a pacientes inseridos em programa
de Atenção Domiciliar e internados por doenças sensíveis à Atenção Primária

artigos originais2017

1. Introdução 3. Justificativa
A difusão da Atenção Domiciliar (AD) ocorre Este estudo se justifica por poder contribuir
tanto no setor privado quanto no setor público, fa- com a mensuração da efetividade e dos impactos
zendo parte da pauta de discussão das políticas de positivos do tratamento com AD de pacientes com
saúde; a pressão dos altos custos das internações duas patologias descritas na lista de internações
hospitalares motiva que se busquem saídas para por condições sensíveis à atenção primária (ICSAP)
uma melhor utilização dos recursos financeiros – pneumonias e infecções do trato urinário –, en-
(ALBUQUERQUE, 2016). riquecendo assim os estudos referentes à atuação
Para o tratamento das infecções agudas no âm- da atenção primária à saúde na redução da hospi-
bito domiciliar foi criado o programa de interven- talização e no acompanhamento dos clientes em
ção específica, que contempla a administração de atendimento domiciliar.
medicação injetável (antibióticos e soroterapia)
com duração predeterminada. A indicação para 4. Metodologia
realização dessas intervenções específicas pode Trata-se de um estudo com abordagem quanti-
ser a desospitalização, para dar continuidade ao qualitativa, uma vez que essas abordagens, não ex-
tratamento no ambiente domiciliar ou para evi- cludentes e sim complementares, permitem uma
tar internação hospitalar nos pacientes que já são análise mais extensa e profunda do conteúdo a ser
acompanhados no domicílio. analisado.
Este trabalho visa a avaliar os casos de interna- O estudo foi realizado levando-se em conta os
ções hospitalares por dois grupos de doenças pas- clientes que receberam atendimento domiciliar
síveis de tratamento domiciliar (pneumonia e in- da Unimed BH durante o ano de 2015, residem na
fecção urinária) e a traçar o perfil epidemiológico Região Metropolitana de Belo Horizonte e foram
desses pacientes. hospitalizados nesse período.
Em 2015, 7.822 clientes da Unimed BH estavam
inseridos no atendimento domiciliar nos seguintes
2. Objetivos
programas: Gerenciamento de Casos Adulto, Geren-
ciamento de Casos Pediátrico, Ventilação Mecânica,
2.1. Objetivo geral Cuidados Paliativos, Reabilitação, Intervenção Es-
Avaliar o perfil de pacientes internados em 2015 pecífica, Acordo, Liminar Judicial e Curativo. Nesse
com CID (Classificação Internacional de Doenças) universo, foram registradas 779 hospitalizações por
sensível à intervenção específica em domicílio (in- CID sensível à intervenção primária de 667 clientes
fecção do trato urinário e pneumonia). em atendimento domiciliar, uma vez que 20 desses
clientes tiveram duas ou mais internações.
2.2. Objetivos específicos A amostra do estudo foi extraída dos Indicado-
• Avaliar o perfil dos cuidadores dos clientes em res Globais e Estratégicos da Unimed BH, medidos
atendimento domiciliar; pela Gestão de Avaliação Estratégica e Desenvol-
• Avaliar a relação entre a equipe assistencial, o vimento (GAED) e monitorados pela Gestão de
cuidador/a família e o paciente; Atenção à Saúde (GEAS) para que se chegasse aos
• Mensurar a efetividade do programa de ge- números citados a seguir.
renciamento de casos na prevenção e no trata- Das 779 internações optou-se por trabalhar com
mento das duas patologias selecionadas. dois principais grupos, por ser tratar de condições

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 258-263 259


Graziela Loyola Ribas e Annemarie Dusanek

artigos originais2017

sensíveis à intervenção específica: infecção do tra- Em relação ao grupo de doenças elegíveis para
to urinário (190 hospitalizações) e pneumonia (91 o estudo, 68% foram hospitalizadas por infecção
hospitalizações), totalizando 281 hospitalizações. do trato urinário e 32%, por pneumonia.
Essas 281 hospitalizações ocorreram em 256 clien- Observou-se que 64% dos clientes hospitalizados
tes: 20 clientes tiveram duas hospitalizações, e dois eram hipertensos, 15% estavam em tratamento para
clientes tiveram três hospitalizações no período; os insuficiência cardíaca, 14% eram portadores de do-
demais tiveram uma hospitalização. ença pulmonar obstrutiva crônica, 6% eram diabéti-
Dos 256 clientes elegíveis ao estudo, 20 evolu- cos e 40% eram portadores de doenças neurológicas.
íram para óbito ou receberam alta do programa.
Dessa forma, o número final de pacientes do es- Gráfico 1. ICSAP
tudo foi de 236, os quais estão concentrados nos
Condições sensíveis a Atenção Primária
programas de Gerenciamento de Casos Adulto e com atendimento hospitalar
Ventilação Mecânica Adulto.
Dos 236 clientes elegíveis para o estudo, 71% fo-
ram avaliados, o que corresponde a 167 pacientes.
32%
Os demais 14% evoluíram a óbito, 11% não foram
avaliados por dificuldade de agendamento da vi-
sita do auditor na residência, 2% receberam alta do 68%

programa e os outros 2% estavam hospitalizados


no período da coleta de dados.
Para a coleta de dados foi criado um instru-
ITU PNM
mento exclusivo para avaliação da qualidade as-
sistencial, aplicado durante as visitas domiciliares Fonte: Elaboração própria.
realizadas pela equipe da Auditoria Domiciliar da
Unimed BH. (Anexo 1). O instrumento de avaliação 5.2. Análise das internações e perfil do
da qualidade assistencial foi aplicado a 167 clien- cuidador
tes, no período de 1º de junho de 2016 a 30 de julho Para a análise das internações elas foram dividi-
de 2016. das segundo o dia da semana: internações durante
a semana (segunda, terça, quarta e quinta-feira) e
5. Resultados internações nos finais de semana (sexta-feira, sába-
do e domingo). Observou-se que 48% delas tiveram
5.1. Perfil epidemiológico dos clientes início durante a semana e 52%, nos finais de semana.
Nos pacientes avaliados observou-se uma pre- Foi observado que 61% dos cuidadores são con-
valência do sexo feminino (71,6%) em relação ao siderados formais, ou seja, possuem um vínculo
sexo masculino (28,4%); 90% dos pacientes tinham empregatício, e 39% são informais: familiares que
idade igual ou superior a 71 anos (67% tinham ida- exercem a atividade do cuidado. Da totalidade de
de entre 71 a 90 anos e 23%, idade superior a 91 cuidadores avaliados, 51% declararam possuir co-
anos) e os outros 10% tinham entre 40 a 70 anos. nhecimento técnico para desempenhar o cuidado.
Quanto à capacidade de locomoção dos clien- Em relação à escolaridade, 6% são analfabetos.
tes, 61% apresentavam dificuldade para se locomo- Do total de clientes cuidadores, 91% sabem quais
ver, necessitando de auxílio humano ou de dispo- são os telefones de contato da equipe/do plantão para
sitivo (bengala ou andador); 39% eram acamados. acionamento em caso de dúvidas ou intercorrências.

260 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 258-263


Avaliação da assistência prestada em domicílio a pacientes inseridos em programa
de Atenção Domiciliar e internados por doenças sensíveis à Atenção Primária

artigos originais2017

O principal motivo identificado para a procura em domicílio foram necessárias por estarem asso-
do serviço de pronto-atendimento (PA) foi o enca- ciadas a patologias de base em paciente com idade
minhamento pelo próprio prestador de AD, repre- avançada, o que agravou os quadros e tornou ne-
sentando 45% da amostra. Os encaminhamentos cessário o encaminhamento à unidade hospitalar
foram realizados por telefone (26%) ou presencial- para a devida propedêutica.
mente (74%). Do total de clientes, 41% declararam Observou-se neste estudo que a AD favorece a
não ter realizado contato com o prestador, procu- estabilidade clínica do paciente no domicílio, sen-
rando o PA por conta própria. A ausência e/ou de- do um fator que contribui para a redução de hos-
mora no retorno do prestador foi relatada por 9% pitalizações. Além disso, possibilita maior giro de
dos clientes avaliados. E 5% informaram dificulda- leitos hospitalares por meio da continuidade do
de em estabelecer contato com a equipe. tratamento em programa de intervenção específi-
ca, reduzindo consequentemente os riscos para o
Gráfico2. Justificativa de ida ao PA
paciente e os custos para a operadora.
O estudo constatou que alguns cuidadores não
5%
Dificuldade de contato possuem autonomia para a tomada de decisão, ape-
9%
Ausência/demora no sar de estarem presentes e inseridos nos cuidados
retorno do prestador com o paciente, ficando a cargo da família a decisão
45%
Não realizado contato de encaminhar ou não o cliente à unidade hospitalar.
41% com o prestador
Foi identificada também a necessidade de uma
Encaminhamento do
prestador abordagem mais efetiva da equipe assistencial da
AD a fim de suprir as necessidades e demandas do
Fonte: Elaboração própria.
cuidador/da família em relação ao paciente. Faz-
se necessária a intensificação de esforços no senti-
6. Conclusão do de amparar e integrar a família no processo do
O atendimento domiciliar mostrou-se efetivo cuidado e aumentar o vínculo com a equipe mul-
no tratamento da maioria das condições sensíveis tiprofissional da AD, além de reforçar com a equipe
à atenção primária. As hospitalizações relaciona- assistencial a importância do seu papel como refe-
das a ITU e PNM sensíveis à intervenção específica rência no atendimento ao cliente/à família.

Referências
ALBUQUERQUE; S. M. R. L. Assistência domiciliar: diferencial na qualidade de vida do idoso portador de doença crô-
nica. Qualidade de Vida, v. 4, n. 35, abr. 2002. Disponível em: <http://cepea.esalq.usp.br>. Acesso em: 03 jul. 2016.
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução Diretoria Colegiada RDC 11, de 26 de janeiro de 2006.
Dispõe sobre o Regulamento Técnico de Funcionamento de Serviços que prestam Assistência Domiciliar [legislação
na Internet]. Brasília: Anvisa, 2006. Disponível em: <http://www.saude.mg.gov.br/atos_normativos/legislacao-sanita-
ria/estabelecimentos-de-saude/atencao-domiciliar/ANVISA11.pdf>. Acesso em: 02 jul. 2016.
VERAS, R. The quest for adequate health care for the elderly: literature review and the application of an instrument
for early detection and prediction of diseases. Cad. Saúde Pública, v. 19, p. 705-715, 2003. Disponível em: <http://www.
scielo.br/pdf/csp/v19n3/15874.pdf>. Acesso em: 07 jul. 2016.

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 258-263 261


Graziela Loyola Ribas e Annemarie Dusanek

artigos originais2017

Anexo 1
QUESTIONÁRIO PARA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE ASSISTENCIAL

Data da visita: / /

PACIENTE:
Masculino Feminino
GEAD
Data de nascimento: / / Idade:
CAPTAMED

CARTEIRA: HOSPITAL DOMICILIAR

NUTRICE
RESPONDENTE: Cuidador Familiar Paciente

AVALIAÇÃO DO PERFIL DO CUIDADOR


Cliente possui cuidador? Sim Não

O cuidador é: Informal Contratado

Nível de escolaridade:
Analfabeto Auxiliar de Enfermagem Técnico de Enfermagem
Alfabetizado Curso de Cuidador
Possui experiência na área? Sim Não

Possui facilidade de entender orientações e explicações necessárias? Sim Não

1. Tem conhecimento do telefone do plantão? Sim Não

2. Motivo de procura ao pronto-atendimento:


Dificuldade de contato com prestador
Ausência/demora no retorno do prestador
Não realizado contato com o prestador
Encaminhamento ao prestador
3. Encaminhamento para ambiente hospitalar: Presencial Por telefone

262 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 258-263


Avaliação da assistência prestada em domicílio a pacientes inseridos em programa
de Atenção Domiciliar e internados por doenças sensíveis à Atenção Primária

artigos originais2017

CONDIÇÕES SENSÍVEIS À ATENÇÃO PRIMÁRIA EM DOMICÍLIO


COM ATENDIMENTO EM UNIDADE HOSPITALAR

4. INFECÇÃO DE TRATO URINÁRIO

4.1 Cuidador orientado quanto aos cuidados e fatores que predispõem a uma ITU? Sim Não

4.2 Cuidados
Hidratação
Troca de fraldas
Higiene íntima

4.3 Fatores
Sinais de alerta (febre, odor, coloração, confusão mental, prostração, disúria)
Sondagem vesical
Incontinência urinária
Uso de fraldas
Insuficiência renal

5. PNEUMONIA

5.1 Cuidador orientado quanto aos cuidados e fatores que predispõem a uma PNM? Sim Não

5.2 Cuidados
Cabeceira elevada e/ou paciente assentado durante e após alimentação
Consistência adequada dos alimentos
Uso de espessante
Higiene oral adequada
Instituição de longa permanência

5.3 Fatores
Sinais de alerta (tosse persistente durante alimentação, engasgos e febre)
Rapidez na administração da dieta oral e enteral
Paciente acamado
Tabagismo
DPOC
Utilização de sonda nasoentérica ou gastrostomia

6. SOLUÇÃO DO ATENDIMENTO NO PRONTO-ATENDIMENTO (PA):


Internação
Intervenção específica
Antibiótico oral
Alta melhorada

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 258-263 263


Célia Regina Malvezi Mugayar, Vivian Cristina Barbon Perassi e Maria Luiza Camuri Machado

artigos originais2017

Programa Saúde em Dia

Célia Regina Malvezi Mugayar1, Vivian Cristina Barbon Perassi2 e Maria Luiza Camuri Machado3
UNIMED SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

RESUMO
Este trabalho apresenta a implantação de um programa de Gestão da Atenção em Saúde, por meio do tele-
monitoramento de pacientes com doença crônica e de alta frequência de utilização, objetivando a amplia-
ção da cobertura da massa de clientes da operadora em programas preventivos, a capacitação da equipe
para resultados e a redução da sinistralidade. A metodologia utilizada para a implantação do programa foi
o desenvolvimento de um projeto estratégico, em parceria com empresa referência do setor, para aquisição
de know-how na gestão preventiva e monitorada, na implementação do sistema de gestão já utilizado pela
empresa, assim como na internalização de todo o conhecimento de gestão da equipe própria multidisci-
plinar. Para a seleção dos clientes foi utilizada uma ferramenta de business intelligence (BI) com metodo-
logias de gestão de saúde populacional a partir dos critérios risco de saúde, alta frequência de utilização e
alta sinistralidade. Utilizando o conceito estatístico de análise de regressão desenvolvido pela instituição
americana Population Health Alliance (PHA), com o monitoramento de 3.421 vidas pelo período médio
de sete meses, foi evidenciado como resultado uma economia líquida de R$ 6,85 milhões, retorno sobre
investimento (ROI) de 6,18 e queda de frequências da maioria dos eventos no período posterior. Constatou-
se ainda que a tendência de crescimento de custos apresentou forte redução; quando comparado o custo
real com o custo projetado, demonstrou-se que o programa teve papel importante na melhora de saúde
dessa população e, por consequência, no controle de custos, contribuindo para a melhora da sinistralidade
do ano seguinte.

Palavras-chave: Promoção da Saúde; Controle de Custos; Avaliação de Programas e Projetos de Saúde.

1. Economista, Gerente de Provimento de Saúde. E-mail: celiamugayar@unimedriopreto.com.br


2. Administradora, Gestora Administrativa Assistencial. E-mail: vbarbon@unimedriopreto.com.br
3. Enfermeira, Coordenadora de Medicina Preventiva. E-mail: mmachado@unimedriopreto.com.br

264 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 264-268


Programa Saúde em Dia

artigos originais2017

1. Introdução o monitoramento e os resultados mensuráveis no


Considerando um cenário de progressivo enve- controle de doenças e seus custos. Surgiu assim a
lhecimento populacional, predomínio de doenças parceria Unimed Rio Preto e AxisMed/Telefônica,
crônicas degenerativas e alta sinistralidade (2015 = a qual resultou na criação interna do Projeto Know-
88,83%), a Unimed Rio Preto adotou como uma -how e na instituição do Programa Saúde em Dia,
de suas estratégias “ofertar soluções de saúde que que teve a seguinte metodologia implantada:
mitiguem o risco (sinistralidade da carteira) e prio- • Implementação do Sistema de Gestão
rizem o valor da ação preventiva e monitorada” AxisMed/Telefônica;
(Mapa Estratégico Unimed São José do Rio Preto). • Transferência de know-how (conjunto de solu-
A identidade organizacional da Unimed São ções/serviços oriundos do seu conhecimento e
José do Rio Preto tem como base: experiência no gerenciamento/monitoramen-
• Missão: garantir soluções sustentáveis em pro- to de participantes), com operação nas depen-
moção, prevenção e assistência segura à saúde, dências da Unimed São José do Rio Preto;
valorizando o trabalho médico e otimizando a • Internalização do conhecimento na equipe
rede prestadora; própria multidisciplinar: traçar o perfil ne-
• Visão: ser reconhecida como a melhor op- cessário dos profissionais envolvidos na área
ção de saúde e referência em governança e capacitá-los; aplicar o modelo de gestão de
cooperativista; saúde populacional praticado e integrar com
• Crenças e valores: respeito ao ser humano, cre- os demais programas da Medicina Preventiva;
dibilidade, ética e excelência. aplicar metodologia específica para mensu-
ração de resultados, e com isso garantir que a
2. Objetivos Operadora, de forma clara, mensure o retorno
Ampliar a cobertura da carteira da operadora, sobre investimento (ROI) quanto às ações pre-
monitorada pela Medicina Preventiva, com acele- ventivas realizadas;
ração dos resultados; capacitar a equipe da Unimed • Para seleção de clientes foi utilizada ferra-
São José do Rio Preto para acompanhar o maior nú- menta de business intelligence (BI) com meto-
mero de clientes com patologia crônica, alto custo dologias de gestão de saúde populacional. Os
e alta utilização de serviços; desenvolver conheci- critérios de elegibilidade são: risco de saúde
mento para promover a mudança de comporta- apresentado, como presença de hipertensão,
mento dos beneficiários, o autocontrole de sua do- diabetes, síndrome metabólica, dislipidemia,
ença e o empoderamento de sua saúde. Reduzir a obesidade, doença arterial coronariana, insufi-
sinistralidade mensal dos participantes do progra- ciência cardíaca congestiva, doença pulmonar
ma e na carteira como um todo, contribuindo para obstrutiva crônica, asma, depressão e altera-
a sustentabilidade da empresa e a melhoria da ima- ções na coluna; alta frequência de utilização
gem da Unimed como empresa comprometida com do plano; alta sinistralidade.
sua missão de melhorar o perfil de saúde. Foi seguido o seguinte método do telemonito-
ramento:
3. Metodologia • Orientações personalizadas de saúde: ajudar
Buscou-se no mercado empresa referência o paciente a estabelecer uma rotina de cuida-
no setor para aquisição de expertise e know-how dos visando à manutenção da saúde, à dimi-
na gestão preventiva dos pacientes crônicos e de nuição dos efeitos de certas doenças, à desa-
alta frequência de utilização, focando a captação, celeração de sua progressão, à prevenção de

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 264-268 265


Célia Regina Malvezi Mugayar, Vivian Cristina Barbon Perassi e Maria Luiza Camuri Machado

artigos originais2017

hospitalizações e à redução de complicações a Tabela 1. Metodologia para apuração de resultados


longo prazo, bem como prestar suporte/apoio Metodologia Linha de tendência
à conduta terapêutica indicada pelo médico. Descrição geral do método Comparação da tendência da
população antes e depois do início
Orientações incluem: mudanças de hábitos ali- da intervenção, com relação a uma
mentares, incentivo à prática de atividades físi- tendência esperada. A diferença
entre o observado e o esperado é
cas, suporte à conduta médica, administração creditada à intervenção
correta de medicamentos prescritos pelo mé- Viés de seleção Nenhum

dico assistente, utilização consciente do plano, Impacto de regressão à média Baixo

entre outras; Resistência do patrocinador Baixa

• Equipe especializada formada por enfermei- Facilidade de implementação Moderado

ros, técnicos em enfermagem e farmacêuticos, Fonte: AxisMed/Telefônica


com disponibilidade de equipe de nutricionis-
Figura 1. Metodologia
tas, psicólogos e assistente social para apoio
FIGURE 7 - PROGRAM IMPACT OVER TIME
necessário por meio de contatos telefônicos; As effective program interventions are applied, cost trajectory (trend) is impacted.
• Clientes elegíveis e que se recusam a partici- Impact levels out, and to make further incremental impact, additional interventions
are needed.
par são convidados a atendimentos presen-
Trajectory After
ciais e são inseridos em grupo controle de Intervention #1
Medical Costs $$

acompanhamento;
Original Cost
• As análises para possíveis altas iniciam-se a Trajectory

partir de 12 meses. Trajectory After


Intervention #2
Intervention #2
Intervention #1
4. Resultados/Discussão Time
Utilizando o conceito estatístico de análise de Each effective intervention impacts the trend, though the impact levels off. Continued sav-
ings are realized as the ongoing "impacted" trend is lower than it would have been, absent
regressão, desenvolvido pela instituição ameri- the intervention. Stopping the intervention results in an eventual return to the baseline.

cana Population Health Alliance (PHA), pioneira Fonte: Population Health Alliance Outcomes, v. 5, p. 87, 2010

Tabela 2. Base analisada


Anos anteriores
Mês 2012 2013 2014 2015 2016
a 2012
Janeiro 8.760,64 19.891.146,67 22.534.148,67 24.637.102,48 29.061.960,82
Fevereiro 16.187,78 18.538.192,32 22.042.555,23 23.583.133,66 28.301.293,89
Março 19.825,03 19.627.047,15 21.308.135,23 27.098.285,47 33.223.708,53
Abril 39.479,11 23.113.229,93 23.459.833,83 26.590.518,08 30.446.128,28
Maio 79.376,70 22.095.647,08 24.104.529,68 28.303.113,70 29.937.817,43
Junho 198.362,01 21.099.401,20 22.976.089,23 27.546.964,33 30.606.990,38
Julho 347.946,49 23.862.818,76 24.798.351,78 28.486.106,11 31.117.558,42
Agosto 1.646.630,11 22.873.044,19 24.079.455,46 27.765.525,35 33.370.468,08
Setembro 7.271.188,81 22.978.784,47 24.909.978,27 26.546.509,03 31.735.999,80
Outubro 19.516.259,67 23.724.639,38 26.219.160,24 27.482.834,50 29.474.702,26
Novembro 17.919.915,05 21.867.810,38 22.788.233,46 27.166.973,76 20.164.183,64
Dezembro 146.291,22 14.713.450,20 18.434.630,83 21.394.024,93 25.008.999,22 135.685,25
Total geral 146.291 61.777.382 258.106.392 280.614.496 320.216.066 327.576.497

Fonte: Base de dados Unimed SJRP.

266 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 264-268


Programa Saúde em Dia

artigos originais2017

Gráfico 1. Custo médio anual (R$) – Projeção apurou um ROI de 6,18, com economia líquida
regressão vs. realizado de R$ 6,85 milhões. As frequências dos eventos
R$ Médio anual - Projeção regressão vs. realizado
de saúde apresentaram quedas significativas. A
sinistralidade da operadora em 2016 reduziu-se
1000 em 6,25% pontos percentuais em relação ao ano
+10%
+12%
800 +13% 686,31 de 2015, fechando o ano em 82,58% em relação ao
619,54
C
u 600 485,55
551,88
ano anterior.
s
t
o 400
439,66
s
200
5. Conclusão
A análise identificou uma queda de frequência
0
Ano-3 Ano-2 Ano-1 Ano1 em todos os tipos de eventos no período posterior,
Custo projetado Custo real exceto as internações obstétricas, resultado do
Fonte: Base de dados Unimed SJRP. acompanhamento e da conscientização dos par-
ticipantes de como utilizar de forma adequada os
Tabela 3. Resultado serviços do plano de saúde. Observa-se que a ten-
Resultado (3.421 Participantes) Ano1
dência de crescimento dos custos apresentou forte
PMPM Total
redução quando comparou-se o custo real com o
Custo Projetado R$ 686,31 R$ 22.775.225,15 custo projetado pela regressão linear, conforme a
(-) Custo Real R$ 439,66 R$ 14.589.952,38 metodologia apresentada. A economia líquida esti-
= Economia R$ 246,66 R$ 8.185.272,77 mada nessa mediação, com 11 meses de programa
(-) Custo Operacional R$ 39,94 R$ 1.325.331,00 implantado, foi de mais de R$ 6,85 milhões e ROI
= Economa Líquida Transição R$ 206,72 R$ 6.859.941,77 de 6,18. Isso demonstra que programa tem papel
ROI (Econ. / Invest) Transição 6,18 importante na melhora de saúde dessa população
Fonte: Base de dados Unimed SJRP. e, por consequência, no controle dos custos, contri-
buindo para a melhora da sinistralidade de 2016.
mundial em Gestão de Saúde Populacional, pode-
mos projetar por meio de uma linha de tendência Gráfico 2. Sinistralidade
o custo assistencial da população acompanhada
Sinistralidade 2016
com boa precisão, e com isso mensurar o retorno
100%
sobre investimento (ROI) do programa.
90%
Para apuração dos resultados foi realizada aná-
80%
lise de contas médicas no período de setembro de
70%
2013 até novembro de 2016. Toda a análise foi con- 60%
siderada pela data de atendimento. 50%
Foram monitoradas 3.421 vidas, com tempo 40%
médio de monitoramento de sete meses, no perí- 30%
odo de fevereiro a novembro de 2016. 20%

O tempo médio analisado pré-programa foi de 10%

30 meses, no período de setembro de 2013 a janei- 0%

ro de 2016.
16

16
6

16

16

16

16

16
16

16

l/1
/1

r/1

/1

z/

20
n/

o/

t/

t/

v/
n/

v/

ar

ai

ju
ab

se

ou

no
fe

de
ju
ja

ag
m
m

Os resultados apurados após dez meses de pro-


grama superaram as expectativas. A cooperativa Fonte: Base de dados Unimed SJRP.

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 264-268 267


Célia Regina Malvezi Mugayar, Vivian Cristina Barbon Perassi e Maria Luiza Camuri Machado

artigos originais2017

Referências
AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR (ANS). Caderno de Informação da Saúde Suplementar: beneficiá-
rios, operadoras e planos. Rio de Janeiro: ANS, 2011.
CARE CONTINUUM ALLIANCE. Population health improvement: a market research survey. Washington: Care Conti-
nuum Alliance, 2010.
PORTER, M. E.; TEISBERG, E. O. Repensando a saúde: estratégias para melhorar a qualidade e reduzir os custos. Porto
Alegre: Artmed, 2009.
VERAS, R. P. Envelhecimento populacional contemporâneo: demandas, desafios e inovações. Rev Saúde Publica, v. 43,
n. 3, p. 548-554, 2009.

268 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 264-268


artigos originais2017

Fortalecimento da coordenação do cuidado para os


pacientes crônicos atendidos no Centro de Atenção
Personalizada à Saúde da Unimed Paraná

Letícia Motta dos Santos1, Marcelo Amaro dos Santos2 e Priscila M. Franqui3
UNIMED PARANÁ

RESUMO
Um dos princípios do modelo assistencial de atenção primária à saúde é a coordenação do cuidado. No
Centro de Atenção Personalizada à Saúde (APS), o serviço apresentava em 2015 o índice de 15% dos pa-
cientes crônicos com coordenação do cuidado efetiva. Com o projeto de melhoria na prática do Institute
for Healthcare Improvement, obteve-se a coordenação do cuidado aos pacientes crônicos com registros
de plano de cuidados em prontuário com foco no paciente, melhorando a experiência do cuidado e opor-
tunizando a gestão do custo.

Palavras-chave: Atenção Primária. Doente crônico. Coordenação do cuidado. Ciência da Melhoria da Prática.

1. Profissional com Bacharelado em Enfermagem e especialização Lato Sensu em Estomaterapia. Responsável técnica da área de
Gestão de Atenção à Saúde Operadora da Unimed Federação Paraná. E-mail: lsantos@unimedpr.coop.br
2. Profissional com bacharelado e licenciatura em Enfermagem e especialização Lato Sensu em Enfermagem do Trabalho,
responsável técnico pela unidade APS da Unimed Paraná. E-mail: mamaro@unimedpr.coop.br
3. Profissional com Bacharelado em Enfermagem e especialização Lato Sensu em Gestão Empresarial da Saúde. Gerente da Atenção
à Saúde na Unimed Federação do Paraná. E-mail: pfranqui@unimedpr.coop.br

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 269-272 269


Letícia Motta dos Santos, Marcelo Amaro dos Santos e Priscila M. Franqui

artigos originais2017

1. Introdução Melhoria da Prática do Institute for Healthca-


Um dos princípios do modelo assistencial de re Improvement (IHI), do projeto de melhoria, o
atenção primária à saúde é a coordenação do cui- qual tinha por objetivo aumentar de 24% para
dado. No Centro de Atenção Personalizada à Saúde 50% o percentual na coordenação do cuidado
(APS), apenas 15% dos pacientes crônicos apresen- dos pacientes portadores de doenças crônicas do
tavam registro da coordenação do cuidado. Con- plano de funcionários da Unimed Paraná até ju-
sequentemente, o modelo apresentava fragilidade lho de 2016.
perante o baixo resultado da fidelização do cliente
à equipe de saúde e ainda impacto negativo nos 3. Metodologia
resultados de saúde. Instituiu-se projeto sob a me- Definição do diagrama direcionador (Figura
todologia da Ciência da Melhoria da Prática com 1) com pacotes de mudanças e estudo descritivo
proposição de meta de aumentar o número de pa- e retrospectivo dos pacientes atendidos no Cen-
cientes crônicos com coordenação do cuidado, mi- tro APS elegíveis para abordagem pelo Programa
nimizando assim os resultados identificados quan- de Gerenciamento de Doentes Crônicos acom-
to ao percentual de consultas em pronto-socorro panhados pelos médicos de família com coor-
e maximizando a integração com os processos de denação do cuidado. A coordenação do cuidado
atenção à saúde. foi avaliada considerando duas frentes, cada uma
com peso de 50%:
2. Objetivo 1 - Registro de plano de cuidado em prontuário;
Demonstrar os resultados obtidos após a im- 2 - Gerenciamento pelo Programa de Doentes
plantação, com base no modelo de Ciência da Crônicos.

Figura 1. Diagrama Direcionador


DIAGRAMA DIRECIONADOR

OBJETIVO DIRECIONADORES DIRECIONADORES CONCEITOS DE MUDANÇA


PRIMÁRIOS SECUNDÁRIOS
Defina área principal para
gerenciamento dos crônicos
Rever processos operacionais
e adequação de sistema Elimine gaps de comunicação no
Aumentar os gerenciamento do pte crônico
registros de Plano
Utilizar Protocolo de cuidados Adeque o sistema à
de Cuidados em
mínimos e Indicadores nova realidade
prontuário
Adeque os protocolos de cuidados
Avaliar presença e qualidade mínimos à realidade do serviço
Aumentar o percentual do Plano de Cuidado prescrito
de pacientes com em Prontuário Facilite o uso e a prática
coordenação do cuidado dos protocolos
de 24% para 50% até
julho/2016 Implemente rotina de gestão
Capacitar equipes
dos registros

Dissemine conceito de plano


Aumentar número Empoderar as Enfermeiras da de cuidado e metodologia do
de pacientes APS quanto à gestão da saúde gerenciamento
gerenciados dos seus clientes
Altere as enfermeiras responsáveis
pelo gerenciamento
Melhorar fluxo de trabalho
Adeque o protocolo do
gerenciamento à rotina da APS

Gerir a qualidade da saúde Regule os recursos de saúde


dos pacientes crônicos e acesso à rede

Fonte: Elaboração própria.

270 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 269-272


Fortalecimento da coordenação do cuidado para os pacientes crônicos atendidos
no Centro de Atenção Personalizada à Saúde da Unimed Paraná

artigos originais2017

4. Discussão e resultados 1  - Aumento de 24% para 87% de pacientes crôni-


Após a definição do diagrama direcionador, cos do Centro APS gerenciados e com registros
a aplicação do ciclo de aprendizagem e a imple- de plano de cuidados em prontuário;
mentação dos ciclos de PDSA - Plan, Do, Study, 2 - Aumento de pacientes gerenciados pelo programa
Act; que é um método interativo de gestão de de gerenciamento de crônicos de 10% para 50%;
quatro passos (planejar, executar, estudar os re- 3 - Redução de 30% para 0% das consultas em pron-
sultados obtidos e definir ações) utilizado para o to-socorro por causas sensíveis à atenção primária
controle e melhoria contínua de processos e pro- durante o horário de expediente do Centro APS.
dutos, sendo repetido o ciclo até que o processo Com o aumento do gerenciamento dos doentes
esteja pronto para implementação - foi possível crônicos, constatou-se redução importante no nú-
formular teorias para a causa do evento, testar, mero de atendimentos em pronto-socorro durante
analisar os resultados e aplicar o conhecimento o atendimento na APS, fortalecendo a coordenação
obtido para realizar as mudanças que resultaram do cuidado e promovendo qualidade de vida ao
em melhoria, as quais foram: paciente e sustentabilidade à operadora.

Figura 2. Gráfico da taxa de pacientes com registro de plano de cuidados


Taxa de pacientes com registro de plano de cuidado em prontuário
Goal: 80%
80%

70%

60%
Percentual de pacientes

50%

40%
Início do projeto
30%

20%

10%

0%
5

15

15

15

15

15

15

15

16

16

6
/1

/1

/1

/1

l/1

/1

/1

/1

/1

l/1
v/

n/

o/

t/

t/

v/

z/

v/

n/
n

ar

ai

ar

ai
ju

ju
ab

ab
se

ou
fe

no

fe
de
ja

ju

ja

ju
ag
m

m
m

Mês

Fonte: Elaboração própria

Figura 3. Gráfico da taxa de pacientes ativos no gerenciamento da doença crônica


Taxa de pacientes ativos no gerenciamento da doença crônica
Goal: 50%
50%
Percentual de pacientes ativos

40%

30%

20%

10% Início do projeto

0%
5

15

15

15

15

15

15

16

6
/1

/1

/1

/1

l/1

/1

/1

/1

/1

/1

l/1
v/

n/

o/

t/

t/

v/

z/

v/
n

ar

ai

ar

ai

n
ju

ju
ab

ab
se

ou
fe

no

fe
de
ja

ju

ja

ju
ag
m

m
m

Mês

Fonte: Elaboração própria

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 269-272 271


Letícia Motta dos Santos, Marcelo Amaro dos Santos e Priscila M. Franqui

artigos originais2017

Figura 4. Gráfico percentual de consultas em pronto-socorro por causas sensíveis à Atenção Primária à Saúde
Percentual de consultas em pronto-socorro por causas sensíveis à Atenção Primária da Saúde
durante o horário de atendimento do Centro de Atenção Personalizada à Saúde
80%

70%

60%

50%
Percentual

40%
Início do projeto
30%

20%

10%

0%
or

15

15

15

15

15

15

15

16

16

6
/1

/1

/1

/1

l/1

/1

/1

/1

/1

l/1
ad

v/

n/

o/

t/

t/

v/

z/

v/

n/
n

ar

ai

ar

ai
ju

ju
ab

ab
se

ou
fe

no

fe
de
c

ja

ju

ja

ju
ag
m

m
m

m
di
In

Mês

Fonte: Elaboração própria

5. Conclusão
O presente trabalho resultou em dois aprendi- segundo lugar, o aprendizado da metodologia da
zados e benefícios: o primeiro relaciona-se à coor- Ciência da Melhoria da Prática possibilitou uma
denação do cuidado com benefícios aos pacientes, mudança com impacto duradouro sob a ótica do
que tiveram melhor atenção à sua saúde com base Triple Aim: foco no paciente, melhoria da experi-
nos princípios da Atenção Primária à Saúde. Em ência do cuidado e gestão do custo.

Referências
INSTITUTE FOR HEALTHCARE IMPROVEMENT. Science of Improvement: Testing Changes. Disponível em: <http://
www.ihi.org/resources/Pages/HowtoImprove/ScienceofImprovementTestingChanges.aspx> Acesso em: 17 agosto de
2016.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Renovação da Atenção Primária à Saúde nas Américas. Brasília:
OPAS/OMS, 2008.
SHIMMAZAKI, M. E. A Atenção Primária à Saúde. Belo Horizonte: ESPMG, 2009.
STARFIELD B. Atenção Primária à Saúde. Brasília: Unesco/Ministério da Saúde, 2002.

272 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 269-272


artigos originais2017

Indicadores no controle da Gestão de Saúde Integral


de um Serviço de Atenção Personalizada à Saúde

Daniela Maura Frazili de Godoi1


UNIMED NOROESTE DO PARANÁ

RESUMO
Este artigo objetiva relatar a premissa do uso de indicadores de saúde no desenvolvimento e cuidado da
gestão de um serviço de saúde com modelo de Atenção Personalizada à Saúde, por meio de metodologia
de pesquisa exploratória descritiva, concluindo apela necessidade de se utilizarem instrumentos de coleta
e análise para o desempenho do que é proposto.

Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde; Gestão; Indicadores de Saúde.

1. Enfermeira do Centro de Atenção Personalizada à Saúde da Unimed Noroeste do Paraná, pós-graduanda em Atenção Primária à
Saúde pela Fundação Unimed, residente de Umuarama–PR. E-mail: enfermagemaps@unimedumr.com.br

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 273-275 273


Daniela Maura Frazili de Godoi

artigos originais2017

1. Introdução a partir do resultado. O software ainda permite o


A Atenção Primária à Saúde (APS) é um modelo acompanhamento por gráfico de tendência, fa-
de assistência à saúde embasado no cuidado es- zendo com que se tomem ações preventivas e/ou
sencial que objetiva coordenar a saúde do indiví- corretivas e viabilizando a melhoria dos serviços
duo e de sua família de forma holística por meio de bem como o aumento da produtividade do servi-
uma equipe multiprofissional, tratando as causas ço. Com isso, aumenta-se a satisfação dos usuários
dos problemas e não somente os sintomas que se em ter seu cuidado de saúde integral aprimorado
apresentam. Oferta-se atenção oportuna, em tem- sempre que possível. O uso dessas informações
pos e lugares certos, de maneira segura e efetiva, tem sido uma prática relatada e recomendada por
aliando as evidências disponíveis e contando com diversos autores mundo afora e também no Brasil
custo benefício eficaz, favorecendo a sustentabili- (VIACAVA et al., 2014).
dade econômica da operadora de saúde. É impres- Após o lançamento, uma reunião entre a equipe,
cindível contar com os quatro atributos básicos, a diretoria e a gerência é realizada para que estes
que são: acesso, longitudinalidade, integralidade e possam cumprir seu papel de planejamento, subsi-
coordenação do cuidado (STARFIELD, 2002). diando a tomada de decisão e a busca de soluções
A APS vem ganhando espaço na reorganização para as questões levantadas.
dos sistemas de saúde devido à insatisfação com o
modelo atual, o qual desarticula a morbidade das 2. Objetivo
doenças frequentes, somada ao grande custo as- Objetivou-se relatar a utilização de indicadores
sistencial com baixo contentamento da clientela de saúde como premissa de melhor desenvolvi-
(TAKEDA, 2004). No Brasil, trata-se de um produ- mento de um serviço de saúde voltado para o cui-
to novo na saúde suplementar que vem ganhando dado integral do paciente.
espaço pela melhoria significativa dos indicadores
de saúde, impulsionado pelos resultados dos países 3. Metodologia
que o praticam como dispositivo de organização, Foi utilizada a metodologia de pesquisa explo-
constituição e articulação das redes de atenção à ratória descritiva.
saúde (SAMPAIO, 2008). Muito tem sido dito acer-
ca da necessidade de gestão nos serviços de saúde, 4. Resultados/Discussão
com o argumento do cuidado integral à saúde. No Entende-se a necessidade de construir e utilizar
mesmo sentido, busca-se consolidar o pressuposto indicadores, que são instrumentos de mensuração
por meio da percepção pelos indicadores de saú- para o gerenciamento, a avaliação e o planejamen-
de voltados à gestão implantados em um Centro to das ações em saúde que apontem para a qua-
de Atenção Personalizada à Saúde localizado em lidade, a produção e a gestão do sistema. Quando
Umuarama – PR, pertencente à Unimed Noroeste avaliados adequadamente, os indicadores revelam
do Paraná. um potencial bastante grande para qualificar as
A partir da necessidade de se medir o desem- ações de saúde, além de possibilitar mudanças efe-
penho (MARIN, 2010), os indicadores são lançados tivas nos processos e nos resultados por meio do
em um software de gestão de qualidade no setor estabelecimento de metas e ações prioritárias que
de saúde. Esse lançamento respeita a periodici- garantam a melhoria contínua e gradativa da atu-
dade definida previamente para cada indicador, ação da equipe de saúde, em prol do atendimento
e a cada registro uma análise crítica é formulada integral ao paciente (OLIVEIRA, 2006).

274 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 273-275


Indicadores no controle da Gestão de Saúde Integral de um Serviço de Atenção Personalizada à Saúde

artigos originais2017

Foram utilizados os principais atributos dos in- obter o efeito que se deseja; e por último de efetivi-
dicadores de gestão: dade, definida como a capacidade de transformar
a) Facilidade de apuração: quanto menos com- uma realidade (impacto) a partir do objetivo esta-
plexo for o método de apuração, maior a chan- belecido e sua continuidade ao longo do tempo.
ce de que seja apurado com correção e a tem- Deve-se responder a três perguntas: o modo de
po; além disso, será menos oneroso; execução está correto? Está sendo feita a coisa cer-
b) Confiabilidade: é necessário que a informação ta (atendimento à necessidade do cliente)? Está se
oferecida seja confiável, representando sem- fazendo bem o que deveria ser feito (satisfação do
pre com fidelidade a característica ou o fenô- cliente ao longo do tempo)? (ELIAS; SOUZA, 2006).
meno controlado;
c) Existência de padrões para comparação: com 5. Conclusão
referências externas, ou outras fontes que sir- Ao tratar de um modelo de atenção inovador,
vam de referências; é necessário que haja gestão eficaz do sistema, a
d) Uso efetivo na atividade de gestão: é neces- fim de prevenir falhas e incentivar a melhoria da
sário utilizar plano de ação após a coleta de qualidade para fidelização do modelo, e respeito
dados para o indicador, aliando teoria e prá- aos atributos básicos, a fim de garantir o cuidado
tica, pois, se o uso de indicadores não provocar integral ao paciente. Esse é um atributo essencial
ações, acaba caindo em descrédito. do modelo de atenção, por isso a utilização de in-
Para a escolha dos indicadores também são im- dicadores é uma ferramenta imprescindível para
portantes os conceitos de eficiência, que é a capa- a gestão do sistema, contudo o pequeno volume
cidade de obter o efeito que se deseja ou se espera de literatura a respeito do tema torna necessários
empregando os melhores meios (recursos) possí- mais estudos com aprofundamento das institui-
veis; eficácia, que é definida como a capacidade de ções que já o praticam para contribuições futuras.

Referências
ELIAS, F. S.; SOUZA, L. Indicadores para monitoramento de pesquisa em Saúde no Brasil. CI. Inf., Brasília, v. 35, n. 3, p.
218-226, set./dez. 2006.
MARIN, H. F. Sistemas de informação em saúde: considerações gerais. J Health Inform., v. 2, n. 1, p. 20-24, jan./mar. 2010.
SAMPAIO, L. F. R. Debate sobre o artigo de Conill. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, supl. 1, p. S19-s21, 2008.
STARFIELD B. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: UNESCO/Mi-
nistério da Saúde; 2002.
TAKEDA, S. A organização de Serviços de Atenção Primária à Saúde. In: DUNCAM, B. et al. Medicina Ambulatorial:
Condutas de Atenção Primária Baseadas em Evidência. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
VACAVA, F. et al. Uma metodologia de avaliação do desempenho do sistema de saúde brasileiro. Rev C S Col, v. 9, n. 3,
p. 711-724, 2004.

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 273-275 275


artigos originais2017

Cuidado perfeito aos portadores de moléstias


cardiovasculares da Medicina Preventiva da
Unimed de Ourinhos

Cecília Sá Rodrigues Alves1, Ana Carolina Fernandes2 e Karla Daiane Gianetti3


UNIMED OURINHOS

RESUMO
Segundo o Vigitel 2012, 24,3% da população brasileira possui hipertensão arterial (HA), patologia que é im-
portante fator de risco para doenças cardiovasculares. Na carteira de beneficiários da Unimed de Ourinhos,
com 31.513 vidas, a estimativa é que em torno de 7.500 beneficiários sejam hipertensos com risco cardio-
vascular. O Viver Bem atende beneficiários portadores de moléstias cardiovasculares, porém não havia um
acompanhamento eficaz na realização das ações de cuidado estabelecidas e o número de frequentadores
do projeto era pequeno para a estrutura oferecida. O projeto tem como objetivo incluir 20% dos beneficiá-
rios no programa cardiovascular de uma população de 4.350 indivíduos residentes na cidade de Ourinhos,
aumentando o percentual de realização de todas as ações do protocolo do programa Cardiovascular da
Unimed de Ourinhos de 0% para acima de 40% até dezembro de 2016. O projeto foi iniciado em janeiro
de 2016, com a adoção da metodologia da Ciência da Melhoria na Prática do Institute for Healthcare Im-
provement (IHI). Para as ações estabelecidas foram definidos indicadores a serem acompanhados por meio
de gráficos de tendência. Os resultados preliminares do trabalho demonstraram que o cuidado centrado
nos pacientes possibilitou um aumento no número de beneficiários incluídos no programa cardiovascular,
pelo qual se realizaram todas as ações necessárias para o cuidado perfeito, e um aumento na satisfação dos
beneficiários. Os indicadores puderam ser permanentemente verificados, possibilitando mudanças para
disseminar melhoria.

Palavras-chave: Doença cardiovascular. Assistência centrada no paciente. Segurança do paciente.

1. Coordenadora do Núcleo Viver Bem – Medicina Preventiva e Atenção Domiciliar da Unimed Ourinhos, enfermeira, agente de
melhoria em cuidado de Saúde pelo Institute for Healthcare Improvement (IHI).
2. Enfermeira, Agente de melhoria em cuidado de Saúde pelo Institute for Healthcare Improvement (IHI), supervisora do cuidado
da Medicina Preventiva da Unimed Ourinhos.
3. Enfermeira de Atenção Primária, Agente de melhoria em cuidado de Saúde pelo Institute for Healthcare Improvement (IHI).

276 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 276-285


Cuidado perfeito aos portadores de moléstias cardiovasculares da Medicina Preventiva da Unimed de Ourinhos

artigos originais2017

1. Introdução aumentando o percentual de realização de todas


No Brasil e em diversas partes do mundo, per- as ações do protocolo do programa Cardiovascu-
cebe-se uma mudança nas causas predominan- lar da Unimed de Ourinhos de 0% para acima de
tes de óbitos da população; estão sendo deixados 40% até dezembro de 2016.
para trás anos de história da predominância de
mortes por doenças infecciosas e parasitárias, e 3. Público-alvo
entra-se na era das doenças crônicas não trans- Para atender essa população de maneira mais
missíveis (DCNT). eficaz e segura, o projeto Cuidado Perfeito Cardio-
Segundo o Vigitel (BRASIL, 2012), 24,3% da vascular foi planejado para atender inicialmente
população brasileira possui hipertensão arterial somente a cidade de Ourinhos, onde está localiza-
(HA), patologia que é importante fator de risco do o ambulatório de atendimento do projeto, que
para doenças cardiovasculares, as quais são res- tem aproximadamente 4.350 portadores de hiper-
ponsáveis por 30% dos óbitos no Brasil. tensão e risco cardiovascular.
Segundo dados da literatura, a Unimed de Ou-
rinhos, com 31.513 vidas distribuídas em 13 cida- 4. Metodologia
des da sua área de abrangência, deve ter em torno O projeto foi iniciado em janeiro de 2016 no
de 7.500 indivíduos portadores de hipertensão Viver Bem (Unidade de Promoção à Saúde), com
arterial e, portanto, uma alta incidência de porta- a adoção da metodologia da Ciência da Melhoria
dores de DCV. (BRASIL,2012) na Prática do Institute for Healthcare Improve-
Há vários anos, o Viver Bem da Unimed de Ou- ment (IHI) para a definição e o desenvolvimento
rinhos atende beneficiários portadores de doen- dos melhores meios para a realização das ações
ças crônicas, avaliando o seu risco cardiovascular estabelecidas como essenciais à garantia dos cui-
e oferecendo cuidados específicos de acordo com dados (LANGLEY et al., 2011).
a complexidade identificada. São atendimentos Foram adotadas oito ações de cuidado ide-
em grupo e individuais, porém não há acom- ais para o controle dos portadores de moléstias
panhamento eficaz na realização das ações de cardiovasculares preconizadas pela literatura:
cuidados estabelecidas e o número de frequen- consulta com cardiologista, controle dos exames
tadores do projeto é pequeno para a estrutura laboratoriais, consulta de enfermagem, reconci-
oferecida e a necessidade dos beneficiários. liação de medicamentos, controle da pressão ar-
Diante da oportunidade de iniciar um proje- terial utilizando protocolo definido pela literatu-
to com o conhecimento da Ciência da Melhoria ra, avaliação nutricional, avaliação com educador
e tendo como exemplo um caso de sucesso de físico e verificação da carteira de vacinação.
cuidado perfeito para os portadores de diabetes, Para a implantação do projeto Cuidado Per-
acreditou-se poder melhorar a qualidade da as- feito aos portadores de moléstias cardiovascu-
sistência oferecida aos beneficiários, estendendo lares, foram desenvolvidos o diagrama direcio-
a ação para uma população maior e avaliando nador, pacote de mudanças, aplicação de ciclos
com mais segurança as ações implementadas. de aprendizagem: Planejar- Fazer- Estudar- Agir
(Plan- Do- Study- Act – PDSA), fluxogramas e
2. Objetivo reuniões semanais para o envolvimento de todos
Incluir 20% dos beneficiários no progra- os membros da equipe.
ma cardiovascular de uma população de 4.350 Para acompanhamento das ações estabeleci-
indivíduos residentes na cidade de Ourinhos, das foram definidos indicadores de processo, de

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 276-285 277


Cecília Sá Rodrigues Alves, Ana Carolina Fernandes e Karla Daiane Gianetti

artigos originais2017

resultado e de equilíbrio, que são acompanhados da rotina de feedback com informações sobre
por meio de gráficos de tendência. seus pacientes;
• Adoção de questionário de satisfação sobre o
5. Resultados/Discussão serviço oferecido;
Foram realizadas as seguintes mudanças: • Criação do instrumento para orientação refe-
• Definição do plano de cuidados ideal para o rente às vacinas preconizadas de acordo com
portador de moléstia cardiovascular em equipe; o perfil do indivíduo, contendo os pontos de
• Definição do fluxo e de critérios de captação do be- aplicação.
neficiário com perfil para participar do programa;
• Estabelecimento das portas de entrada para 6. Análise dos indicadores
busca ativa na rede credenciada e no sistema Para o acompanhamento das ações estabeleci-
de informação; das foram definidos indicadores que demonstra-
• Adoção do protocolo para aferição da pressão ram que os cuidados já existentes foram melho-
arterial preconizado pelo Ministério da Saúde rados em relação ao período anterior ao projeto,
(BRASIL, 2013); indicando crescimento na realização das ações
• Comunicação do plano de cuidados aos mé- propostas e aumento no número de beneficiários
dicos cardiologistas cooperados e definição incluídos no programa cardiovascular.

278 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 276-285


0,00
3,00
6,00
9,00
12,00
15,00
18,00
21,00
24,00
27,00
30,00
33,00
36,00
39,00
Semana de 4/1/2016
Semana de 11/1/2016

Meta: 20%
Semana de 18/1/2016

projeto
Início do
Semana de 25/1/2016
Semana de 1/2/2016
Semana de 8/2/2016
Semana de 15/2/2016
Semana de 22/2/2016
Semana de 29/2/2016
Semana de 7/3/2016
Semana de 14/3/2016

Domiciliar
Semana de 21/3/2016
Semana de 28/3/2016

Unimed e Atendimento
Captação na Farmácia da
Semana de 4/4/2016
moléstias cardiovasculares

Semana de 11/4/2016

Tipo de indicador: de resultado


Semana de 18/4/2016
Semana de 25/4/2016

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 276-285


Semana de 2/5/2016
Semana de 9/5/2016
Semana de 16/5/2016
Semana de 23/5/2016
Semana de 30/5/2016
Semana de 6/6/2016
Semana de 13/6/2016
Semana de 20/6/2016
Semana de 27/6/2016

hipertensão arterial
Evento da Semana da
Semana de 4/7/2016

existia. A meta foi alcançada em setembro de 2016.


Semana de 11/7/2016
Semana de 18/7/2016
Semana de 25/7/2016
Semana de 1/8/2016
Semana de 8/8/2016

Linha de base
Semana de 15/8/2016

Semana
Semana de 22/8/2016
Captação ativa

Semana de 29/8/2016

de listas CIDs
através de lista dos
frequentadores do PA

Semana de 5/9/2016

Captação ativa através


Semana de 12/9/2016
Semana de 19/9/2016

Fonte: Elaboração própria


Semana de 26/9/2016
Semana de 3/10/2016

Meta %
Semana de 10/10/2016
Semana de 17/10/2016
Semana de 24/10/2016
Semana de 31/10/2016
Semana de 7/11/2016
de ligação

Semana de 14/11/2016
Semana de 21/11/2016
Instituído protocolo

Semana de 28/11/2016
Semana de 5/12/2016
Semana de 12/12/2016
% de beneficiários incluídos no programa cardiovascular (N=4350)

Semana de 19/12/2016
Semana de 26/12/2016
Semana de 2/1/2017
Semana de 9/1/2017
Semana de 16/1/2017
Semana de 23/1/2017
Semana de 30/1/2017
Semana de 6/2/2017
Semana de 13/2/2017
Semana de 20/2/2017
Semana de 27/2/2017
Semana de 6/3/2017
Semana de 13/3/2017
Gráfico 1. Percentual de beneficiários incluídos no Programa Cuidado Perfeito para portadores de

Semana de 20/3/2017
Semana de 27/3/2017
Semana de 3/4/2017
Semana de 10/4/2017
0,03

Semana de 17/4/2017

279
Análise: Ocorreu um aumento no número de beneficiários incluídos por meio da busca ativa, que anteriormente não
artigos originais2017
Cuidado perfeito aos portadores de moléstias cardiovasculares da Medicina Preventiva da Unimed de Ourinhos
Cecília Sá Rodrigues Alves, Ana Carolina Fernandes e Karla Daiane Gianetti

artigos originais2017

Gráfico 2. Percentual de beneficiários que realizam todos os cuidados recomendados no Programa


Cuidado Perfeito para portadores de moléstias cardiovasculares

120,00
110,00
100,00 Instituído protocolo
90,00 de ligação
Migração de beneficiários
80,00 de outros programas

70,00
60,00
%

59,53
50,00
40,00
30,00 Inclusão de beneficiários
Início do
20,00 projeto
10,00
0,00
P1 - Jan - 2016

P2 - Jan - 2016

P1 - Fev - 2016

P2 - Fev - 2016

P1 - Mar - 2016

P2 - Mar - 2016

P1 - Abr - 2016

P2 - Abr - 2016

P1 - Mai - 2016

P2 - Mai - 2016

P1 - Jun - 2016

P2 - Jun - 2016

P1 - Jul - 2016

P2 - Jul - 2016

P1 - Ago - 2016

P2 - Ago - 2016

P1 - Set - 2016

P2 - Set - 2016

P1 - Out - 2016

P2 - Out - 2016

P1 - Nov - 2016

P2 - Nov - 2016

P1 - Dez - 2016

P2 - Dez - 2016

P1 - Jan - 2017

P2 - Jan - 2017

P1 - Fev - 2017

P2 - Fev - 2017

P1 - Mar - 2017

P2 - Mar - 2017

P1 - Abr - 2017
Período Mensal
Mediana Meta %

Fonte: Elaboração própria


Meta: 40%
Tipo de indicador: de resultado
Análise: Meta atingida. Não existia essa medição; indicador passou de 0% de ações realizadas para mais de 40%. Nova
meta será estabelecida para esse indicador.

Gráfico 3. Percentual de beneficiários que realizam consulta com a enfermeira pelo menos uma vez por ano

110,00

100,00
Início do
90,00 projeto

80,00

70,00
75,76
%

60,00

50,00

40,00
Instituído protocolo
30,00 de ligações

20,00
P1 - Out - 2015
P2 - Out - 2015
P1 - Nov - 2015
P2 - Nov - 2015
P1 - Dez - 2015
P2 - Dez - 2015
P1 - Jan - 2016
P2 - Jan - 2016
P1 - Fev - 2016
P2 - Fev - 2016
P1 - Mar - 2016
P2 - Mar - 2016
P1 - Abr - 2016
P2 - Abr - 2016
P1 - Mai - 2016
P2 - Mai - 2016
P1 - Jun - 2016
P2 - Jun - 2016
P1 - Jul - 2016
P2 - Jul - 2016
P1 - Ago - 2016
P2 - Ago - 2016
P1 - Set - 2016
P2 - Set - 2016
P1 - Out - 2016
P2 - Out - 2016
P1 - Nov - 2016
P2 - Nov - 2016
P1 - Dez - 2016
P2 - Dez - 2016
P1 - Jan - 2017
P2 - Jan - 2017
P1 - Fev - 2017
P2 - Fev - 2017
P1 - Mar - 2017
P2 - Mar - 2017
P1 - Abr - 2017

Período Mensal
Mediana Meta %

Fonte: Elaboração própria


Meta: 40%
Tipo de indicador: de processo
Análise: Houve aumento do percentual de consultas de enfermagem realizadas após a implantação do projeto, de 30%
para 75%. Meta atingida.

280 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 276-285


Cuidado perfeito aos portadores de moléstias cardiovasculares da Medicina Preventiva da Unimed de Ourinhos

artigos originais2017

Gráfico 4. Percentual de beneficiários que realizam consulta com educador físico pelo menos uma vez por ano

110,00
100,00 Mudança no fluxo
Início do de atendimento
90,00 projeto
80,00
70,00
60,00
62,83
%

50,00
40,00
30,00
Iniciado atendimento Férias do
20,00 em grupo profissional

10,00
0,00
P1 - Out - 2015
P2 - Out - 2015
P1 - Nov - 2015
P2 - Nov - 2015
P1 - Dez - 2015
P2 - Dez - 2015
P1 - Jan - 2016
P2 - Jan - 2016
P1 - Fev - 2016
P2 - Fev - 2016
P1 - Mar - 2016
P2 - Mar - 2016
P1 - Abr - 2016
P2 - Abr - 2016
P1 - Mai - 2016
P2 - Mai - 2016
P1 - Jun - 2016
P2 - Jun - 2016
P1 - Jul - 2016
P2 - Jul - 2016
P1 - Ago - 2016
P2 - Ago - 2016
P1 - Set - 2016
P2 - Set - 2016
P1 - Out - 2016
P2 - Out - 2016
P1 - Nov - 2016
P2 - Nov - 2016
P1 - Dez - 2016
P2 - Dez - 2016
P1 - Jan - 2017
P2 - Jan - 2017
P1 - Fev - 2017
P2 - Fev - 2017
P1 - Mar - 2017
P2 - Mar - 2017
P1 - Abr - 2017
Período Mensal
Mediana Meta %

Fonte: Elaboração própria


Meta: 40%
Tipo de indicador: de processo
Análise: Houve aumento do percentual de consultas do educador físico realizadas após a implantação do projeto, de
25% para 62%. Existe um ponto discrepante no gráfico devido às férias do profissional.

Gráfico 5 – Percentual de beneficiários que realizam consulta com o cardiologista pelo menos uma vez por ano

110,00
Início do
100,00
projeto
90,00
80,00
70,00
60,00
55,73
%

50,00
40,00
30,00
P1 - Out - 2015
P2 - Out - 2015
P1 - Nov - 2015
P2 - Nov - 2015
P1 - Dez - 2015
P2 - Dez - 2015
P1 - Jan - 2016
P2 - Jan - 2016
P1 - Fev - 2016
P2 - Fev - 2016
P1 - Mar - 2016
P2 - Mar - 2016
P1 - Abr - 2016
P2 - Abr - 2016
P1 - Mai - 2016
P2 - Mai - 2016
P1 - Jun - 2016
P2 - Jun - 2016
P1 - Jul - 2016
P2 - Jul - 2016
P1 - Ago - 2016
P2 - Ago - 2016
P1 - Set - 2016
P2 - Set - 2016
P1 - Out - 2016
P2 - Out - 2016
P1 - Nov - 2016
P2 - Nov - 2016
P1 - Dez - 2016
P2 - Dez - 2016
P1 - Jan - 2017
P2 - Jan - 2017
P1 - Fev - 2017
P2 - Fev - 2017
P1 - Mar - 2017
P2 - Mar - 2017
P1 - Abr - 2017

Período Mensal
Mediana Meta %

Fonte: Elaboração própria


Meta: 40%
Tipo de indicador: de processo
Análise: Houve aumento do percentual de consultas do educador físico realizadas após a implantação do projeto, de
25% para 62%. Existe um ponto discrepante no gráfico devido às férias do profissional.

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 276-285 281


% %

282
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00
100,00
110,00

0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00
100,00
110,00

Meta: 40%
Meta: 40%
P1 - Out - 2015 P1 - Out - 2015
P2 - Out - 2015 P2 - Out - 2015
P1 - Nov - 2015 P1 - Nov - 2015
P2 - Nov - 2015 P2 - Nov - 2015

projeto
P1 - Dez - 2015 P1 - Dez - 2015

Início do

projeto
Início do
P2 - Dez - 2015 P2 - Dez - 2015
P1 - Jan - 2016 P1 - Jan - 2016

Tipo de indicador: de processo


Tipo de indicador: de processo
artigos originais2017

P2 - Jan - 2016 P2 - Jan - 2016


P1 - Fev - 2016 P1 - Fev - 2016
P2 - Fev - 2016 P2 - Fev - 2016
P1 - Mar - 2016 P1 - Mar - 2016
P2 - Mar - 2016 P2 - Mar - 2016
P1 - Abr - 2016 P1 - Abr - 2016
P2 - Abr - 2016 P2 - Abr - 2016
P1 - Mai - 2016 P1 - Mai - 2016

de atendimento
Mudança no fluxo
P2 - Mai - 2016 P2 - Mai - 2016

Mediana

Mediana
P1 - Jun - 2016 P1 - Jun - 2016
P2 - Jun - 2016 P2 - Jun - 2016
P1 - Jul - 2016 P1 - Jul - 2016

Período Mensal

Período Mensal
Cecília Sá Rodrigues Alves, Ana Carolina Fernandes e Karla Daiane Gianetti

P2 - Jul - 2016 P2 - Jul - 2016

Fonte: Elaboração própria

Fonte: Elaboração própria


P1 - Ago - 2016 P1 - Ago - 2016
Meta %

Meta %
P2 - Ago - 2016 P2 - Ago - 2016

em grupo
P1 - Set - 2016 P1 - Set - 2016

Iniciado atendimento
P2 - Set - 2016 P2 - Set - 2016

para 75%. Há um ponto discrepante no gráfico devido às férias da profissional.


P1 - Out - 2016 P1 - Out - 2016
P2 - Out - 2016 P2 - Out - 2016
P1 - Nov - 2016 P1 - Nov - 2016
P2 - Nov - 2016 P2 - Nov - 2016
P1 - Dez - 2016 P1 - Dez - 2016
P2 - Dez - 2016 P2 - Dez - 2016
Análise: Houve aumento na realização dos exames necessários após a implantação do projeto.

P1 - Jan - 2017 P1 - Jan - 2017


P2 - Jan - 2017 P2 - Jan - 2017
P1 - Fev - 2017 P1 - Fev - 2017
P2 - Fev - 2017 P2 - Fev - 2017

Férias do
profissional
P1 - Mar - 2017 P1 - Mar - 2017
P2 - Mar - 2017 P2 - Mar - 2017
P1 - Abr - 2017 P1 - Abr - 2017
73,33
93,32
Gráfico 6 – Percentual de beneficiários com exames laboratoriais do protocolo cardiovascular realizados

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 276-285


Gráfico 7 – Percentual de beneficiários que realizam consulta com a nutricionista pelo menos uma vez por ano

Análise: Houve aumento do percentual de consultas da nutricionista realizadas após a implantação do projeto, de 8%
Cuidado perfeito aos portadores de moléstias cardiovasculares da Medicina Preventiva da Unimed de Ourinhos

artigos originais2017

Gráfico 8 – Percentual de beneficiários que apresentam carteira de vacinação completa

60,00

50,00
46,30

40,00

Iniciado protocolo de
30,00
%

ligação para carteira


incompleta

20,00 Instituído cartão


de orientação

10,00 Início do
projeto Iniciada
orientação verbal

0,00
P1 - Jan - 2016

P2 - Jan - 2016

P1 - Fev - 2016

P2 - Fev - 2016

P1 - Mar - 2016

P2 - Mar - 2016

P1 - Abr - 2016

P2 - Abr - 2016

P1 - Mai - 2016

P2 - Mai - 2016

P1 - Jun - 2016

P2 - Jun - 2016

P1 - Jul - 2016

P2 - Jul - 2016

P1 - Ago - 2016

P2 - Ago - 2016

P1 - Set - 2016

P2 - Set - 2016

P1 - Out - 2016

P2 - Out - 2016

P1 - Nov - 2016

P2 - Nov - 2016

P1 - Dez - 2016

P2 - Dez - 2016

P1 - Jan - 2017

P2 - Jan - 2017

P1 - Fev - 2017

P2 - Fev - 2017

P1 - Mar - 2017

P2 - Mar - 2017

P1 - Abr - 2017
Período Mensal
Mediana Meta %

Fonte: Elaboração própria


Meta: 40%
Tipo de indicador: de processo
Análise: Esse cuidado não existia e foi implantado no projeto. A meta tem sido atingida mensalmente, mantendo o
beneficiário com a carteira de vacinação controlada.

Gráfico 9 – Beneficiários com pressão arterial menor que 140/90 mmHg

63,00
60,00
57,00
54,00
51,00
Início do
48,00 projeto
46,84
%

45,00
42,00
39,00
36,00
33,00
30,00
27,00
P1 - Out - 2015
P2 - Out - 2015
P1 - Nov - 2015
P2 - Nov - 2015
P1 - Dez - 2015
P2 - Dez - 2015
P1 - Jan - 2016
P2 - Jan - 2016
P1 - Fev - 2016
P2 - Fev - 2016
P1 - Mar - 2016
P2 - Mar - 2016
P1 - Abr - 2016
P2 - Abr - 2016
P1 - Mai - 2016
P2 - Mai - 2016
P1 - Jun - 2016
P2 - Jun - 2016
P1 - Jul - 2016
P2 - Jul - 2016
P1 - Ago - 2016
P2 - Ago - 2016
P1 - Set - 2016
P2 - Set - 2016
P1 - Out - 2016
P2 - Out - 2016
P1 - Nov - 2016
P2 - Nov - 2016
P1 - Dez - 2016
P2 - Dez - 2016
P1 - Jan - 2017
P2 - Jan - 2017
P1 - Fev - 2017
P2 - Fev - 2017
P1 - Mar - 2017
P2 - Mar - 2017
P1 - Abr - 2017

Período Mensal
Mediana Meta %

Fonte: Elaboração própria

Meta: 40%
Tipo de indicador: de resultado
Análise: IIndicador considerado controlado; beneficiários com um ano de controle de pressão arterial. Meta atingida.

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 276-285 283


Cecília Sá Rodrigues Alves, Ana Carolina Fernandes e Karla Daiane Gianetti

artigos originais2017

Gráfico 10 – Satisfação do beneficiário com o programa Cuidado Perfeito para portadores de moléstias
cardiovasculares

102

Início do
99 projeto

96

93,55
93
%

90

87

84 Implantação de
novo questionário

81
01 - 2016

02 - 2016

03 - 2016

04 - 2016

05 - 2016

06 - 2016

07 - 2016

08 - 2016

09 - 2016

10 - 2016

11 - 2016

12 - 2016

01 - 2017

02 - 2017

03 - 2017
Mês
Mediana

Fonte: Elaboração própria


Meta: 40%
Tipo de indicador: de equilíbrio
Análise: Queda da satisfação nos últimos dois meses. Motivos estão sendo analisados.

Gráfico 11– Custo per capita de exames dos beneficiários do programa

130

120

110
per capita

100

90
84,54
80

70 Início do
projeto

60

50
01 - 2016

02 - 2016

03 - 2016

04 - 2016

05 - 2016

06 - 2016

07 - 2016

08 - 2016

09 - 2016

10 - 2016

11 - 2016

12 - 2016

01 - 2017

02 - 2017

Mês
Mediana

Fonte: Elaboração própria


Meta: Acompanhar
Tipo de indicador: de equilíbrio
Análise: Tendência a queda observada.

284 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 276-285


Cuidado perfeito aos portadores de moléstias cardiovasculares da Medicina Preventiva da Unimed de Ourinhos

artigos originais2017

7. Conclusão O cuidado centrado no paciente possibilitou um


A organização do trabalho baseado na Ciência aumento da satisfação dos beneficiários do projeto.
da Melhoria permitiu um aumento no número de Os resultados do projeto cardiovascular pude-
beneficiários incluídos no programa cardiovascular ram ser permanentemente verificados por meio
e demonstrou aumento na realização de todas as dos indicadores, possibilitando mudanças para dis-
ações necessárias para o cuidado perfeito por eles. seminar melhorias.

Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o
cuidado da pessoa com doença crônica: hipertensão arterial sistêmica / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à
Saúde, Departamento de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos
não Transmissíveis e Promoção de Saúde. Vigitel Brasil 2012: Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças
crônicas por inquérito telefônico. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
LANGLEY, G. J. et al. Modelo de melhoria: uma abordagem prática para melhorar o desempenho organizacional. Tra-
dução Ademir Petenate. Campinas: Mercado de letras, 2011.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA; SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO; SOCIEDADE BRASILEI-
RA DE NEFROLOGIA. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol, v. 95, n. 1, supl.1, p. 1-51, 2010.
UNIMED DO BRASIL. Comitê de Atenção Integral à Saúde. Manual de Atenção à Saúde do Sistema Unimed, v. 1. São
Paulo: Unimed, 2013.

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 276-285 285


artigos originais2017

Unimed Joinville: implantação da Atenção Primária


à Saúde no Porto de Itapoá

Aline Gabrielle de Souza1, Márcia Valéria Vianna Liell2 e Maria Zulma Sancho Moreira3
UNIMED JOINVILLE

RESUMO
Visando a um novo modelo de atenção à saúde, este trabalho teve como objetivo propor a implantação
de um serviço de Atenção Primária por meio de um projeto-piloto da Unimed Joinville para a carteira de
beneficiários do Porto de Itapoá, com cerca de 1.500 vidas, denominado de Atenção Personalizada à Saúde
(APS). Inicialmente ocorreu a escolha da equipe para o projeto, seguida pelo diagnóstico da carteira para
conhecer o perfil dos beneficiários, pela escolha dos indicadores a serem monitorados e pela divulgação do
serviço junto à população-alvo. O início do atendimento ocorreu em oito de novembro de 2016. A procura
tem sido gradativa, consistindo em 49 atendimentos no mês de novembro/2016, 67 em dezembro/2016,
74 em janeiro/2017, 104 em fevereiro/2017 e 109 em março/2017, totalizando 403 atendimentos realizados
por meio de intervenções médicas e de enfermagem nas mais variadas situações, por atendimento eleti-
vo e por demanda espontânea. Alguns beneficiários têm sido acompanhados de forma periódica, sendo
nove gestantes, seis crianças em puericultura e quinze indivíduos com comorbidades crônicas. Entre as
várias formas para comunicação, o aplicativo WhatsApp é um dos recursos que garantem melhor acesso
à equipe, sobretudo na sua ausência. A Atenção Primária se tornou referência como modelo de atenção,
com menor custo e visão abrangente do binômio beneficiário e plano de saúde. A Unimed Joinville deu
um passo importante a favor desse modelo, proporcionando com a Atenção Personalizada à Saúde o aten-
dimento integral ao cliente.

Palavras chave: Atenção Primária à Saúde; Acesso; Projeto.

1. Enfermeira na APS - Porto de Itapoá pela Unimed Joinville. Graduada pela Universidade Regional de Blumenau. E-mail: alineg@
joinville.unimedsc.com.br
2. Enfermeira coordenadora do Núcleo de Atenção à Saúde da Unimed Joinville. Graduada pela Universidade Regional do Alto
Uruguai. Pós-graduada em Gerontologia pela Universidade Regional de Blumenau. E-mail: marciavvl@joinville.unimedsc.com.br
3. Médica coordenadora do Núcleo de Atenção à Saúde da Unimed de Joinville, formada na Faculdade Federal de Santa Catarina
em 1985. Tem residência em Medicina de Família e Comunidade pela Secretaria Municipal de Saúde de Joinville. Email: zulma@
joinville.unimedsc.com.br

286 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 286-289


Unimed Joinville: implantação da Atenção Primária à Saúde no Porto de Itapoá

artigos originais2017

1. Introdução 3. Metodologia
O modelo de Atenção Primária implantado A Unimed Joinville, entendendo as transforma-
nos serviços de saúde em países industrializados ções do modelo de assistência, foi ao encontro das
ganhou força em meados do século XX e tornou- necessidades do Porto de Itapoá, que precisava ga-
se uma proposta viável para tornar os serviços de rantir um melhor atendimento de saúde a seus co-
saúde mais eficientes, isto é, com mais impac- laboradores, elegendo assim essa carteira de bene-
tos sobre indicadores de saúde, menos custos e ficiários para incluir no projeto-piloto de Atenção
maior satisfação dos atores envolvidos (STAR- Primária à Saúde, denominado de Atenção Perso-
FIELD, 2002). nalizada à Saúde – Porto de Itapoá.
Esse modelo serviu de base para os países or- Inicialmente foi realizado o levantamento de
ganizarem seus serviços de saúde, pois o “modelo dados da carteira, para se obter o diagnóstico de
tradicional de assistência não acompanha a his- saúde desses beneficiários. Foram estudados os
tória natural das doenças” (LEAVELL & CLARK, seguintes dados: demografia, características do
1976, p.744), inclusive nas operadoras de planos território, características socioeconômicas, vulne-
de saúde, nas quais, na maioria das vezes, o bene- rabilidades específicas e uso do plano de saúde,
ficiário é detectado apenas quando já possui um principalmente a frequência de consultas médicas,
agravamento de sua morbidade, gerando compli- a utilização do pronto-atendimento, as internações
cações para o cliente e altos índices de sinistrali- e os diagnósticos registrados. Os dados foram ob-
dade para os planos de saúde. tidos por meio dos sistemas de informação utiliza-
A proposta desse novo modelo se trata de uma dos na Unimed Joinville.
reorganização da assistência médica para que pra- Alguns indicadores foram escolhidos para moni-
tique os princípios ou atributos principais da Aten- torar o processo de trabalho e as ações do serviço, de
ção Primária: porta de entrada do sistema de saúde acordo com os diagnósticos de saúde da população,
(acesso), longitudinalidade do cuidado, coordena- juntamente com a proposta do modelo de atenção.
ção da assistência e integralidade da assistência Para a execução da assistência foi reunida uma
com alta resolutividade. equipe mínima composta por um médico de fa-
Nesse sentido a Atenção Primária à Saúde (APS) mília e comunidade, uma enfermeira generalista
mostrou-se a alternativa mais viável e eficiente, e e uma técnica em enfermagem, todos capacitados
aquela cuja implantação tornou-se uma das metas em Atenção Primária à Saúde. A carga horária da
mais importantes e desafiadoras das grandes ope- equipe para atendimento é de 20 horas semanais,
radoras de planos de saúde no Brasil. sendo 15 horas in loco distribuídas em três dias
na semana e cinco horas para reuniões de equipe,
2. Objetivo discussão de casos e levantamento de dados para
O presente trabalho teve como objetivo implan- monitorar o serviço.
tar um serviço de Atenção Primária à Saúde como A assistência ocorre no primeiro andar do Cen-
projeto-piloto da Unimed Joinville para a carteira tro de Saúde do Porto de Itapoá, na cidade de Ita-
de beneficiários do Porto de Itapoá, composta por poá, onde há uma academia de ginástica no piso
colaboradores e dependentes, totalizando cerca de térreo, uma recepção para os clientes, duas salas de
1.500 vidas com variação mensal conforme as in- atendimento clínico e uma sala para acolhimento e
clusões e exclusões do plano. procedimentos de enfermagem.

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 286-289 287


Aline Gabrielle de Souza, Márcia Valéria Vianna Liell e Maria Zulma Sancho Moreira

artigos originais2017

Os serviços ofertados atualmente são: puericul- Gráfico 2 – Consultas de enfermagem mensais


tura, atenção à saúde da mulher, pré-natal, puer-
30
pério, atenção à saúde do adulto, atenção à saúde 26
22
25
do idoso, pequenos procedimentos cirúrgicos e
20
atendimentos de casos agudos. A agenda dos pro-
fissionais é ofertada com vagas para agendamento 15 18
10
eletivo e para demanda espontânea.
5 8 9
O sistema de informação utilizado para registro
0
de evolução e histórico de saúde, entre outras in-
nov/2016 dez/2016 jan/2017 fev/2017 mar/2017
formações, é o Tasy.
Para divulgação do serviço aos beneficiários fo- Fonte: Sistema de Informação Unimed

ram realizados alguns encontros com o auxílio de


Com a compilação dos dados foi obtida a totali-
projeção multimídia, demonstrando-se a proposta
dade de 403 atendimentos realizados pela Atenção
da Atenção Personalizada à Saúde. Em um segundo
Personalizada à Saúde no período de oito de no-
momento foi distribuído um folder explicativo dos
vembro de 2016 a 31 de março de 2017. Os atendi-
princípios da APS e dos horários de atendimento.
mentos realizados têm variado entre consultas ele-
Em oito de novembro de 2016, a equipe come-
tivas (257 atendimentos) e consultas por demanda
çou a se deslocar até o Centro de Saúde para orga-
espontânea (146 atendimentos).
nização da estrutura e de materiais de trabalho, e o
As consultas eletivas são aquelas em que o
primeiro atendimento realizado pela equipe ocor-
indivíduo faz contato com a equipe de enfer-
reu em dez de novembro de 2016.
magem e realiza o agendamento para uma data
posterior de acordo com sua necessidade; já as
4. Resultados/Discussão
consultas por demanda espontânea são aquelas
A procura pelo serviço está aumentando de
em que o indivíduo procura pelo atendimento
forma gradativa. Foram realizados 49 atendimen-
no mesmo dia, presencialmente na APS, por te-
tos em novembro/2016, 67 em dezembro/2016,
lefone e/ou por WhatsApp.
74 em janeiro/2017, 104 em fevereiro/2017 e 109
O WhatsApp é uma ferramenta utilizada para
em março/2017, divididos por atendimentos mé-
garantir melhor acesso aos beneficiários, sobretu-
dicos e atendimentos de enfermagem.
do na ausência da equipe. Foram disponibilizados
Os atendimentos foram distribuídos de acordo
dois números, sendo um de médico, ativo 24 horas
com os gráficos a seguir:
por dia com resposta no prazo máximo de 72 ho-
Gráfico 1 – Consultas médicas mensais ras, e outro de enfermagem, com atendimento de
segunda a sexta-feira em horário comercial para
100% agendamento de consultas, autorização de exames
91
80% e demais demandas, conforme disponibilidade.
82
60% Esse recurso tem sido eficaz e o mais procurado
65
40% para comunicação com a equipe de saúde.
41 41
20% Alguns beneficiários são acompanhados de for-
0% ma periódica; até o momento são nove gestantes,
nov/2016 dez/2016 jan/2017 fev/2017 mar/2017
seis crianças (puericulturas) e 15 indivíduos com
Fonte: Sistema de Informação Unimed morbidades crônicas.

288 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 286-289


Unimed Joinville: implantação da Atenção Primária à Saúde no Porto de Itapoá

artigos originais2017

O atendimento para esses beneficiários é re- importante a favor desse modelo, proporcionan-
vezado entre consulta médica e de enfermagem, do por meio da Atenção Personalizada à Saúde o
podendo ser semanal, quinzenal, mensal ou tri- atendimento integral ao cliente com uma condu-
mestral, de acordo com a necessidade e a avalia- ta personalizada para cada indivíduo, realizando a
ção de risco. prevenção quaternária e reduzindo custos com pro-
cedimentos e exames desnecessários.
5. Conclusão Quanto aos beneficiários, é possível concluir que
A Atenção Primária se tornou referência como estão aprendendo sobre essa nova forma de aten-
modelo de atenção, com menor custo e visão abran- dimento e aos poucos estão resgatando a visão de
gente do binômio beneficiário e plano de saúde. ter uma equipe de referência a qual podem acessar
Entendendo a necessidade da reformulação sempre que preciso, promovendo a confiança do
de sua estrutura, a Unimed Joinville deu um passo cuidado e a criação de vínculo entre as partes.

Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional da Saúde Suplementar. Duas faces da mesma moeda: microrregulação
e modelos assistenciais na saúde suplementar. Rio de Janeiro: ANS, 2005.
CHRISTENSEN, C. Inovação na Gestão da Saúde: soluções disruptivas para reduzir custos e aumentar qualidade. Tra-
dução de André de Godoy Vieira, Mariana Belloli Cunha, Ronaldo Cataldo Costa. Porto Alegre: Bookman, 2009.
ITAPOÁ, SC. Guia cidade de Itapoá. Disponível em: <http://www.itapoa.sc.gov.br/ turismo/guia/listar/358/Unidades+-
de+Sa%C3%BAde > Acesso em: 07 jun. 2016.
LEAVELL, H. & CLARK, E.G. Medicina Preventiva. São Paulo: McGraw-Hill, 1976. 744 P.
PORTER, M. E.; TEISBERG, E. O. Repensando a Saúde: estratégias para melhorar a qualidade e reduzir os custos. Tradu-
ção de Cristina Bazan. Porto Alegre: Bookman, 2007.
ROSE, G. Estratégias da Medicina Preventiva. Porto Alegre: Artmed, 2010.
STARFIELD, B. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília, DF: UNES-
CO, Ministério da Saúde, 2002. Disponível em <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ atencao_primaria_p1.pdf>.
Acesso em 15 maio 2016.

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 286-289 289


artigos originais2017

O papel do enfermeiro na
Atenção Personalizada à Saúde

Aline Gabrielle de Souza1, Márcia Valéria Vianna Liell2 e Maria Zulma Sancho Moreira3
UNIMED JOINVILLE

RESUMO
Na atenção primária, o enfermeiro assume seu espaço na equipe interdisciplinar, atuando nas necessi-
dades humanas e no planejamento do cuidado. Este trabalho tem como objetivo relatar o papel do en-
fermeiro no projeto da Unimed Joinville de Atenção Personalizada à Saúde (APS) no Porto de Itapoá, por
meio de uma pesquisa quantitativa com análise qualitativa. Entendendo a atualidade do projeto, a Unimed
Joinville deu início a ele em novembro de 2016, com cerca de 1.500 vidas. A equipe é composta por um
médico, uma enfermeira e uma técnica em enfermagem. Dentre as atividades da enfermeira destaca-se a
consulta de enfermagem realizada para demandas de pacientes crônicos como hipertensos e diabéticos
e o acompanhamento à saúde da mulher, à puericultura e à gestação de risco habitual. Os atendimentos
realizados pela enfermeira na APS foram: nove de hipertensos, três de diabéticos, 13 de puericultura, sete
de pré-natal, 31 de saúde da mulher e seis de saúde do homem. Com a abrangência da atuação é possível
perceber que a enfermagem está conseguindo desempenhar seu real papel de assistência na Atenção Pri-
mária, além das questões administrativas já desempenhadas. Fica perceptível a subutilização da mão de
obra da enfermeira, entre outros motivos, pela cultura dos beneficiários, que não estão acostumados com
uma enfermagem tão atuante nesse tipo de atenção. Acredita-se que aos poucos o espaço da enfermagem
será ocupado, criando vínculos e tornando-se referência para a carteira da qual cuida.

Palavras chave: Assistência; Atenção Primária à Saúde; Enfermagem.

1. Enfermeira na APS - Porto de Itapoá pela Unimed Joinville. Graduada pela Universidade Regional de Blumenau. E-mail: alineg@
joinville.unimedsc.com.br
2. Enfermeira coordenadora do Núcleo de Atenção à Saúde da Unimed Joinville. Graduada pela Universidade Regional do Alto
Uruguai. Pós-graduada em Gerontologia pela Universidade Regional de Blumenau. E-mail: marciavvl@joinville.unimedsc.com.br
3. Médica de família e comunidade coordenadora do Núcleo de Atenção à Saúde da Unimed Joinville. Graduada pela Universidade
Federal de Santa Catarina. E-mail: zulma@joinville.unimedsc.com.br

290 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 290-294


O papel do enfermeiro na Atenção Personalizada à Saúde

artigos originais2017

1. Introdução enfermagem é usualmente denominado como con-


A prática do enfermeiro se estrutura de acor- sulta de enfermagem.
do com as necessidades sociais de cada momento Em seu artigo 2º, a resolução descreve que o pro-
histórico. Na década de 1970, nos programas, os en- cesso de enfermagem se organiza em cinco etapas
fermeiros atuavam em centros de saúde, desenvol- inter-relacionadas, independentes e recorrentes: co-
vendo ações gerenciais, de supervisão, treinamento, leta de dados de enfermagem, diagnóstico de enfer-
controle e coordenação do pessoal de enfermagem. magem, planejamento de enfermagem, implemen-
Nas décadas de 1980 e 1990, em ações em que pre- tação e avaliação de enfermagem. O artigo 6º traz
dominava o tipo pronto-atendimento, o trabalho de que a execução do processo de enfermagem deve
enfermeiros voltava-se à organização e manuten- ser registrada formalmente.
ção da infraestrutura do serviço para atendimento Essa sistematização possibilita que os enfer-
médico e de enfermagem, e a algumas ações de saú- meiros identifiquem a presença das necessidades
de coletiva como vacinação e vigilância epidemio- humanas básicas, com consequentes diagnósti-
lógica (MATUMOTO et al., 2011). cos classificados e as respectivas intervenções de
A prática de trabalho do enfermeiro vai além enfermagem estabelecidas. A equipe de enferma-
das funções gerenciais, administrativas, de organi- gem consegue prestar uma assistência de forma
zação e outros. planejada, fundamentada em conhecimentos, via-
A função peculiar do enfermeiro é prestar as- bilizando um cuidado objetivo e individualizado
sistência de enfermagem ao indivíduo doente ou (REPPETTO; SOUZA, 2005).
sadio, à família ou à comunidade, no desempenho Na atenção primária, o enfermeiro assume fun-
de atividades para prevenir a doença e manter ou damentalmente seu espaço na equipe interdiscipli-
recuperar a saúde (ALMEIDA; MELLO; NEVES, nar, atuando na identificação das necessidades hu-
1991).A enfermagem reconhecida como profissão manas e no planejamento do cuidado ao indivíduo
deve, segundo (ALMEIDA et al, 1991; p. 64), “cons- e à comunidade.
tituir-se de critérios de universalidade, raciona-
lidade, autoridade e competência no seu campo 2. Objetivo
específico”. Esses autores complementam que está Este trabalho tem como objetivo relatar o papel
previsto não só o trabalho de administração e de do enfermeiro no projeto da Unimed Joinville de
organização do serviço de saúde e enfermagem, Atenção Personalizada à Saúde no Porto de Itapoá.
mas também o de realização de ações clínicas de
atenção direta ao usuário. 3. Metodologia
Dentre as ações de enfermagem pertinentes para Inseridas no panorama atual, no qual a atenção
a atenção, podem ser destacados a sistematização primária está em evidência por ser a base das de-
da assistência de enfermagem (SAE) e o processo de mais atenções à saúde, fundamental no processo
enfermagem baseada em resoluções do Conselho de intervenção no adoecimento do indivíduo, vá-
Federal de Enfermagem (COFEN). rias operadoras de planos de saúde iniciaram seus
A resolução 358/2009 traz que o processo de trabalhos com projetos que visam a essa ação. A
enfermagem deve ser realizado de modo deliberado Unimed Joinville, entendendo o cenário atual, deu
e sistemático em todos os ambientes em que ocor- início em novembro de 2016 ao projeto de aten-
re o cuidado profissional do enfermeiro, inclusive ção primária no Porto de Itapoá denominado
em instituições prestadoras de serviços ambulato- como Atenção Personalizada à Saúde (APS), com
riais de saúde, entre outros. O processo de saúde de cerca de 1.482 vidas.

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 290-294 291


Aline Gabrielle de Souza, Márcia Valéria Vianna Liell e Maria Zulma Sancho Moreira

artigos originais2017

A escolha do local ocorreu pelo encontro de da Unimed Joinville (Tasy), no período de oito de
necessidades entre a Unimed Joinville e a empre- novembro de 2016 a 31 de março de 2017.
sa Porto de Itapoá, que montaram o local para o
serviço, situado no Centro de Saúde do Porto de 4. Resultados/discussão
Itapoá, junto com uma academia para atividade O número de atendimentos realizados pela en-
física. O atendimento acontece 15 horas/semana fermeira na Atenção Personalizada à Saúde para
in loco e há cinco horas/semana para a discussão os grupos acompanhados foram: nove de hiper-
dos casos pela equipe e as demais demandas ne- tensos, três de diabéticos, 13 de puericultura, sete
cessárias.Na composição da equipe, primou-se de Pré-natal, 31 de saúde da mulher, seis de saúde
por um médico de família e comunidade, uma do homem e 14 de outras demandas.
enfermeira e uma técnica em enfermagem; cada
profissional tem designadas suas funções espe- Gráfico 1 – Atendimentos de enfermagem na APS
cíficas de modo a atender às necessidades da
35
carteira. Pela estruturação do serviço ficou defi- 31
nido que a atuação da enfermeira, dentre outras 30

funções, também ocorre por meio da consulta 25

de enfermagem e em consultas conjuntas com o 20

médico, ou seja, de forma abrangente nas neces- 13 14


15
sidades humanas básicas dos indivíduos. 9 7
10 6
As atividades de enfermagem iniciaram-se 3
5
pela estruturação do projeto em conjunto com
0
o médico da equipe, realizando o diagnóstico da

Outras
demandas
HAS

DM

Puericultura

Pré-natal

Saúde
da mulher

Saúde
do homem
carteira de beneficiários, estruturando a organi-
zação do serviço e levantando os insumos neces-
sários para atendimento. Dentre as atividades da
enfermeira na equipe estão: educação em saúde, Fonte: Sistema de informação Unimed Joinville
coleta da colpocitologia oncótica durante a con-
sulta de enfermagem na saúde da mulher, men- Entre os inúmeros segmentos de atuação da
suração de indicadores e elaboração do perfil enfermeira, a saúde da mulher atrelada à coleta
epidemiológico. do exame citopatológico do colo do útero ganhou
A consulta de enfermagem é realizada em casos destaque, visto que a demanda para a coleta au-
de demandas crônicas como hipertensão e diabe- mentou consideravelmente em novembro e de-
tes, acompanhamento à saúde da mulher, adoles- zembro de 2016 devido ao estímulo realizado pela
centes, puericultura e gestação de risco habitual. empresa para a adesão à campanha de prevenção
O presente trabalho tem como pretensão de- do câncer de colo do útero. Outro fator impor-
monstrar experiências vivenciadas nas atividades tante a ser considerado é a distância geográfica,
que a enfermeira executa na Atenção Personalizada que era um problema pelos horários de trabalho
à Saúde, ocupando seu papel dentro do novo mo- das mulheres na cidade de Itapoá. Para conseguir
delo de atenção, por meio de uma pesquisa quan- atendimento especializado, era preciso que as pa-
titativa com análise qualitativa nos relatórios de cientes se deslocassem até cidades vizinhas ou
atendimento extraídos do sistema de informação que eventualmente procurassem a assistência do

292 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 290-294


O papel do enfermeiro na Atenção Personalizada à Saúde

artigos originais2017

Sistema Único de Saúde (SUS), prolongando assim A abordagem do homem enquanto indivíduo
o tempo de busca por assistência. Em consequên- que tem necessidade de ações de prevenção ainda
cia disso, antes acabavam buscando atendimento é muito difícil, cheia de tabus, com necessidade
somente na existência de sintomas ou de doença de novos conhecimentos para que seja vista de
já instalada. maneira natural. Percebe-se que quando feita de
O acompanhamento de puericultura apareceu maneira coletiva é mais aceita.
em seguida com um número menos expressi- Com os dados obtidos e relatos de experiên-
vo, porém relevante, visto que, assim como para cias, é possível perceber que a enfermagem está
as mulheres, o atendimento às crianças, prin- conseguindo desempenhar seu real papel de as-
cipalmente as recém-nascidas ou com poucos sistência na Atenção Primária, em vez de se res-
meses de vida, foi facilitado com a chegada da tringir à resolução de questões administrativas.
APS. Toda a equipe trabalha na conscientização Fica perceptível a subutilização da mão de obra
da importância do acompanhamento regular do da enfermeira, entre outros motivos, pela cultu-
crescimento e desenvolvimento, bem como na ra dos beneficiários que não estão acostumados
busca ativa daqueles que por algum motivo não com uma enfermagem tão atuante nesse tipo de
estão realizando o acompanhamento com a fre- atenção. Acredita-se que aos poucos o enfermeiro
quência necessária. ocupará esse espaço, criando vínculos e tornan-
A enfermeira atua ainda na assistência ao do-se referência para a carteira da qual cuida.
pré-natal de risco habitual, percebendo que mui-
tas gestantes realizam o acompanhamento em 5. Conclusão
dois ou três locais diferentes (no consultório do
Historicamente, a enfermagem busca desem-
obstetra, na unidade de saúde do SUS e na APS).
penhar seu verdadeiro papel dentro da profissão e,
Durante os atendimentos fica perceptível que o
em consequência disso, o reconhecimento do tra-
acompanhamento em diversos segmentos ocor-
balho que desenvolve. Ainda existem muitos ca-
re principalmente pela insegurança da gestante
minhos a serem trilhados, porém cada passo dado
e pela falta de empoderamento do momento em
é uma conquista para a profissão, que tem como
que se encontra, transferindo para cada equipe
pilar a arte de cuidar.
em diferentes situações as dúvidas geradas como
Pode-se concluir que, na Atenção Personalizada
forma de confirmar as orientações repassadas
à Saúde da Unimed Joinville, o enfermeiro tem pa-
pelas outras. Na busca pelos beneficiários com
pel fundamental, atuando em consultas de enfer-
morbidades crônicas, percebeu-se certa resistên-
magem, na educação em saúde e nas orientações
cia na realização dos acompanhamentos periódi-
coletivas e individuais e mantendo as funções ad-
cos. Quando esses pacientes procuram esponta-
ministrativas que também são de sua competência.
neamente o serviço por queixas agudas, há uma
Este é apenas o início do caminho que a enfer-
facilidade maior de inseri-los no programa. Um
magem começou a trilhar para ocupar seu espaço
eixo auxiliar para APS, nas condições crônicas, é
dentro da atenção primária em uma operadora de
a academia disponível para os colaboradores da
plano de saúde. Existe ainda muito a ser realiza-
empresa e seus dependentes gratuitamente.
do e conquistado.

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 290-294 293


Aline Gabrielle de Souza, Márcia Valéria Vianna Liell e Maria Zulma Sancho Moreira

artigos originais2017

Referências
ALMEIDA, M. C. P.; MELLO, D. F.; NEVES, L. A. S. O trabalho de enfermagem e sua articulação com o processo de tra-
balho em saúde coletiva, rede básica de saúde em Ribeirão Preto. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 44, n. 2/3, p.
64-75, 1991.
CEVERA, D. P. P.; PARREIRA, B. D. M.; GOULART, B. F. Educação em saúde: percepção dos enfermeiros da atenção básica
em Uberaba (MG). Ciência e Saúde Coletiva, v. 16, n. 1, p. 1547-1554, 2008.
MATUMOTO, S. et al. A prática clínica do enfermeiro na atenção básica: um processo em construção. Revista Latino-
americana de Enfermagem, v. 19, n. 1, p. 01-08, 2011.
STARFIELD, B. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: UNESCO, Mi-
nistério da Saúde, 2002. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ atencao_primaria_p1.pdf>. Aces-
so em: 15 maio 2016.

294 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 290-294


artigos originais2017

Transição de cuidado, modelo de continuidade


e coordenação do cuidado para o paciente
hospitalizado participante de um programa
de assistência domiciliar da
Unimed Vale do São Francisco

Maria Luiza Barros Fernandes Bezerra1, Luciana Andrade Mendonça Machado Coelho2
e Yanna Paola Muniz3
UNIMED VALE DO SÃO FRANCISCO

RESUMO
Este trabalho tem como objetivo apresentar o modelo de transição de cuidado praticado pelo programa
de assistência domiciliar Unimed Lar, da Unimed Vale do São Francisco. Trata-se de um relato de expe-
riência por meio da sistematização do cuidado na transição entre os níveis domiciliar e hospitalar prati-
cada pela equipe do programa. Foram analisados o número de internações hospitalares e o quantitativo
de dias dessas internações, no período de janeiro de 2015 a dezembro de 2016. Os resultados apontaram
uma redução de 12% no número de internações hospitalares, em grande parte ocasionada pela queda do
número de reospitalizações, que correspondeu a 27%, o que indica uma qualificação no gerenciamento de
pacientes crônicos. Foi observada, também, redução do número de dias de internação (28,5%), o que im-
pactou os custos assistenciais, a qualidade de vida e a humanização da assistência prestada aos pacientes.
A atuação sistematizada e coordenada da equipe do programa resultou na redução de iatrogenia, tempo de
internação e reospitalização dos pacientes, evitando a fragmentação do cuidado e, consequentemente, a
realização de procedimentos e abordagens desnecessários. Dessa forma, aponta-se para a necessidade de
organizar e coordenar o cuidado domiciliar para garantir uma atenção ampliada nos diferentes níveis da
assistência, promovendo prevenção terciária e quaternária e garantindo a integralidade e a continuidade
do cuidado, a satisfação do paciente e a sustentabilidade para a operadora.

Palavras-chave: Transição de Cuidado. Reospitalização. Prevenção Quaternária.

1. Especialista em Medicina de Família e Comunidade, pós-graduada em Geriatria, mestra em Psicologia. Professora da Universidade
de Brasília (UnB). Médica cooperada e consultora de Medicina Preventiva da Unimed Vale do São Francisco. E-mail: barrosbr@
uol.com.br
2. Especialista em Auditoria em Saúde. Enfermeira Gerente do Espaço Viver Bem da Unimed Vale do São Francisco. E-mail: luciana.
mendonca@unimedvsf.coop.br
3. Graduada em Enfermagem. Coordenadora do Programa Unimed Lar da Unimed Vale do São Francisco. E-mail: coordenação.
unilar@unimedvsf.coop.br

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 295-299 295


Maria Luiza Barros Fernandes Bezerra, Luciana Andrade Mendonça Machado Coelho e Yanna Paola Muniz

artigos originais2017

1. Introdução saúde o custo hospitalar é numerador de grande


O Brasil encontra-se em um processo de tran- impacto em relação aos gastos e, para o benefi-
sição demográfica, tecnológica e epidemiológica. ciário, está inversamente relacionado à sua qua-
O modelo vigente, fragmentado, organizado por lidade de vida. Durante a internação hospitalar
componentes isolados e com ênfase nas ações observa-se uma fragmentação importante no
curativas, gera uma crise na atenção (MENDES, cuidado, pois a família não consegue transmitir
2012). Na busca por um modelo de qualidade, in- o cuidado que é oferecido pela equipe de assis-
tegrado e mais sustentável, a Unimed Vale do São tência domiciliar, gerando internações prolonga-
Francisco implantou o programa de gerencia- das e intervenções desnecessárias. A atenção da
mento de casos Unimed Lar, com foco em Aten- equipe de saúde hospitalar é focada na condição
ção Primária, que tem como atributos essenciais aguda que provocou a internação, de maneira
a longitudinalidade, a integralidade e a coorde- que a continuidade de cuidado pós-alta recebe
nação, e como atributos derivados a orientação um planejamento ineficiente. A equipe domici-
familiar e comunitária e a competência cultural. liar não recebe informações adequadas sobre o
Esses atributos tornam-se indispensáveis e favo- período de internação, o que muitas vezes resulta
recem a prática da clínica ampliada e a condução em reospitalização. Existe um hiato significativo
de casos complexos (OLIVEIRA; PEREIRA, 2013). entre a admissão e a alta hospitalar, o que torna
O programa consiste na definição de uma necessária uma lógica de referência e contrar-
equipe interdisciplinar de saúde que se respon- referência para garantir uma prática sistêmica,
sabiliza pela atenção do paciente durante todo coordenada e que evite iatrogenias, em especial
o processo clínico e faz julgamentos sobre a de- para os idosos frágeis (OLIVERA, 2016).
manda de atenção, coordenando seu percurso Diante desse cenário, a Unimed Vale do São
assistencial. Por meio do atendimento em do- Francisco implementou um modelo de transi-
micílio, a equipe traça um plano de cuidado in- ção de cuidado com o objetivo de assegurar a
dividual. As ações buscam a prevenção terciária coordenação e dar continuidade ao cuidado do
– dada àqueles que têm, além de doença(s) diag- paciente na internação e após a alta hospitalar,
nosticada(s), dano a sua atividade de vida diária para os pacientes acompanhados no programa
– e a prevenção quaternária – conjunto de ações Unimed Lar. Considerando que, para um gestor,
que visam a evitar a iatrogenia associada às in- a inovação é fundamental, e que além de incor-
tervenções médicas como a “sobremedicaliza- porar a inovação ele precisará de competências
ção” ou os “excessos preventivos” (JAMOULLE; para poder administrar o processo de mudança,
GOMES; 2014). conhecer novas experiências poderá ajudar ou-
O Programa Unimed Lar tem como público- tras Unimeds nos seus esforços para melhorar os
-alvo: a) beneficiários sem acesso à rede de ser- processos e resultados em saúde.
viços de saúde; b) pacientes dependentes de au- O modelo praticado pela Unimed Vale do São
xílio para as atividades básicas de vida diária; c) Francisco pode ser considerado uma experiência
portadores de multimorbidade; d) pacientes em exitosa para os beneficiários, para a equipe de
cuidados paliativos e f) grandes gastadores. cuidado e para a operadora. A sistematização do
Sabe-se que o hospital é parte da rede de cuidado do paciente que está vivenciando a trans-
atenção desse público e é responsável por grande ferência de cuidado entre diferentes níveis visa à
parte do custo assistencial. Para a operadora de redução de iatrogenia, do tempo de internação e

296 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 295-299


Transição de cuidado, modelo de continuidade e coordenação do cuidado para o paciente hospitalizado
participante de um programa de assistência domiciliar da Unimed Vale do São Francisco

artigos originais2017

da reospitalização, bem como ao oferecimento de é informada sobre a possibilidade de continui-


qualidade de vida para o beneficiário de forma dade de cuidado pela Unimed Lar no domicílio,
sustentável para a operadora de saúde. após estabilização do paciente; i) após a visita
hospitalar, a equipe preenche o formulário de
2. Objetivo abordagem dos beneficiários hospitalizados no
Este relato tem como objetivo apresentar o sistema Nagis; j) a equipe monitora semanal-
modelo de transição de cuidado praticado pelo mente a internação hospitalar; l) no momento
programa de assistência domiciliar Unimed Lar, da alta, a equipe solicita ao médico assistente no
da Unimed Vale do São Francisco. hospital que emita o relatório de alta; m) após a
alta, o médico e a enfermeira têm até 72 horas
3. Metodologia para visita domiciliar; n) é elaborado um plano
A sistematização do cuidado na transição en- de cuidados pós-alta, que é inserido no sistema
tre os níveis domiciliar e hospitalar, praticada de informação; o) a equipe interdisciplinar é co-
pela equipe do programa Unimed Lar, consis- municada do novo plano de cuidados.
te nas seguintes atividades: a) as famílias rece-
bem orientação para comunicar à coordenação 4. Resultados/Discussão
de enfermagem a ocorrência de internações; b) O Programa Unimed Lar iniciou suas ativida-
a coordenação de enfermagem identifica quais des no ano de 2005, tendo sido cadastrado na
beneficiários foram internados e em qual local, Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)
por meio de telefonemas, mensagens eletrôni- em setembro de 2009. Atualmente possui 193
cas e sistema de informação; c) a coordenadora pacientes incluídos, sendo 68 do sexo masculino
de enfermagem emite um relatório com o resu- e 125 do sexo feminino. Em 2016, a equipe ob-
mo do histórico clínico e assistencial com infor- servou a necessidade de organizar e coordenar o
mações do sistema de informação Nagis e co- cuidado na ocorrência de internação hospitalar.
munica a ocorrência da internação para a equipe Assim, ao longo do ano o cuidado foi sendo sis-
assistencial; d) a enfermeira assistente encami- tematizado e a equipe assistencial foi treinada e
nha o relatório para o hospital e realiza uma capacitada para o modelo de cuidado. Espera-se,
visita hospitalar em até 48 horas; e) o médico para pacientes acompanhados em programas de
assistente realiza a visita em até 48 horas; f) no gerenciamento de doentes crônicos, até 4% de
hospital a equipe solicita o prontuário, conversa internações (CAMPOS, 2008). Pode ser obser-
com a equipe assistencial hospitalar e fornece vada na Figura 1 uma queda no número de in-
informações quanto aos cuidados prestados até ternações quando comparada aos anos de 2015
antes da internação; g) a equipe fornece orienta- (116) e 2016 (102). Essa queda corresponde a um
ções para o beneficiário e/ou responsável sobre percentual de 12%. Esse resultado foi devido,
assuntos referentes a sua internação e posterior principalmente, à queda do número de reospi-
desospitalização; h) a equipe de saúde hospitalar talizações (27%).

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 295-299 297


Maria Luiza Barros Fernandes Bezerra, Luciana Andrade Mendonça Machado Coelho e Yanna Paola Muniz

artigos originais2017

Número de internações
2015 2016 Meta

20

14 14
12
11 10 11 10 12
9 11
8 8 8 8 8 8
9 8 8
7 8 8 8 8 8 8 8 6
7 7
6
5 5 5 4

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Fonte: Sistema PGS Nagis – Programa Unimed Lar Vale do São Francisco

O modelo de transição de cuidado trouxe como 5. Conclusões


principal resultado a queda no número de dias de A internação hospitalar é um episódio trau-
internação se comparados os anos de 2015 e mático, principalmente quando o indivíduo tem
2016. Percebe-se uma queda de 28,5% no núme- um caso de alta complexidade, pois comumente
ro de dias – que foram de 712 e 509 dias, respec- deixa o hospital com perdas funcionais e mais
tivamente. Essa informação pode ser verificada fragilizado, necessitando de cuidado diferencia-
na Figura 2. A mudança reflete nos custos assis- do. O Modelo de Transição do Cuidado praticado
tenciais e na qualidade de vida dos beneficiá- pela equipe de Assistência Domiciliar contribui
rios, pois a desospitalização precoce promove a para a organização e coordenação da atenção
redução do risco de infecção hospitalar, otimiza pelos diferentes níveis da assistência, a fim de
leitos hospitalares e oferece um cuidado mais promover prevenções terciária e quaternária,
humanizado ao lado da família, evitando abor- minimizando as complicações e descompensa-
dagens e procedimentos desnecessários. ções, garantindo a integralidade e a continuida-
de do cuidado e evitando a iatrogenia associada
às intervenções médicas desnecessárias. Dessa
Dias de internação forma, busca-se a satisfação do beneficiário e a
2015 2016 sustentabilidade para a operadora.
712
509

Fonte: Sistema PGS Nagis – Programa Unimed


Lar Vale do São Francisco

298 Unimed Ciência; out 2017 (2) : 295-299


Transição de cuidado, modelo de continuidade e coordenação do cuidado para o paciente hospitalizado
participante de um programa de assistência domiciliar da Unimed Vale do São Francisco

artigos originais2017

Referências

CAMPOS, E. F et al. Desenvolver a Saúde: Modelo cuidador da Federação das Unimeds de Minas Gerais. Belo Horizon-
te: Editora Federação das Unimeds de Minas Gerais, 2008. 432 p.:Il.

JAMOULLE, M.; GOMES, L. F. Prevenção Quaternária e limites em medicina. Rev Bras Med Fam Comunidade, n. 9, v. 31,
p.186-91, 2014. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.5712/rbmfc9(31)867>. Acesso em: 20 mar. 2017.

MENDES, E. V. O cuidado das condições crônicas na atenção primária à saúde: o imperativo da consolidação da estra-
tégia da saúde da família. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2012.

OLIVEIRA, M. A. C; PEREIRA, I. C. P. Atributos essenciais da Atenção Primária e a Estratégia Saúde da Família. Rev. Bras.
Enferm, v. 66, set. 2013.

OLIVEIRA, M. et al. Idoso na saúde suplementar: uma urgência para a saúde da sociedade e para a sustentabilidade do
setor. Rio de Janeiro: Agência Nacional de Saúde Suplementar, 2016.

Unimed Ciência; out 2017 (2) : 295-299 299


CONECTE-SE AO
FUTURO DA MEDICINA
O RES é uma plataforma digital
que trará inúmeros benefícios à
saúde do Sistema Unimed.

INTELIGÊNCIA APOIO
CLÍNICA À GESTÃO
qualidade e uso racional de
segurança no recursos
cuidado

CONECTIVIDADE
dados clínicos
unificados e
integrados

unimed.me/res
Acesse e veja como integrar seus
prontuários e sistemas de gestão.

RES
Registro Eletrônico de Saúde
João Guilherme, 33 anos.
Conheça o mude1hábito,
Aponte seu leitor QR Code
e veja o que o João tem um movimento para colocar
para contar. mais saúde em seu dia a dia.
Aqui você encontra
ferramentas simples para
mudar e ouve histórias
de pessoas reais,
iguais a você, que quiseram
viver melhor e conseguiram.

Mudar um hábito
muda uma vida.
Veja por onde começar em
mude1habito.com.br.

Aqui em casa diminuímos


a quantidade de açúcar e
aumentamos a de carinho.

Você também pode gostar