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Narração

❖ Histórico

Os anos 20 do século XX presenciaram o auge da mais vertical e profunda ruptura


na história da cultura no Brasil: o Modernismo. Mais do que meramente um
movimento artístico, o Modernismo representou toda uma época na vida intelectual
e política brasileira. Inscrito num grande processo social e histórico, foi resultado e
fonte de transformações que vão muito além dos seus limites estéticos.

Em 1922, quando a Independência do país completava cem anos, o Brasil passava


por diversas modificações sociais, políticas e econômicas. Pautada por uma
necessidade de “redescobrir” o Brasil, que se transformava e se modernizava a
passos lentos da República Velha, sem perder os velhos padrões oligárquicos
coloniais, agora com a roupagem da burguesia industrial.

O Modernismo no Brasil tomou forma em São Paulo e, fundamentalmente, para São


Paulo. Seus adeptos pretendiam dar o grito de independência cultural da metrópole
industrial contra o “atraso” do resto do país. Como principal marco do movimento, a
Semana de Arte Moderna representou a conscientização de que o desenvolvimento
intelectual se encontrava defasado diante do desenvolvimento material. Seus
adeptos comandaram uma revolta contra valores burgueses em nome do ideal
artístico.

Teatro

- Amigo, o nosso país está em uma saia justa, já vistes a quantidade de


pessoas em situações precárias nas ruas? (Luana)

- Já vi, sim. Desde que tivemos essa guerra na Europa muitas pessoas vieram
em nossa amada pátria em busca de uma vida melhor. Só que existe muitas
pessoas e pouco trabalho, então muitos acabam ficando nas ruas. (Almeida)

- Falando em Europa agora lembrei-me, vistes aquela nova corrente literária que
lá surge? O modernismo. (Luana)
- Já vi, e dando minha sincera opinião, não gostei. Acho que uma das partes mais
importantes de nossa cultura seriam as tradições, e o modernismo carrega o anti-
tradicionalista como uma de suas bases. (Almeida)

- Concordo contigo, amigo, uma das coisas que mantém a nossa linda sociedade
atual são as nossas tradições. Acho que não valeria a pena jogá-las fora pra mudar
nossa cultura. (Luana)

- Acho que se esse movimento chegar até nós, como os patriotas que somos,
devemos proteger o nosso país desse mal, com unhas e dentes. (A)

*Outra pessoa entra na sala/conversa*

- Bom dia, nobres companheiros! Sobre o que conversam nesta agradável manhã?
(Davi)

- Bom dia! Conversávamos sobre uma nova corrente literária da Europa. Diga-me,
por acaso já ouviste falar do modernismo? (Luana)

- Sim. Estão animados com sua chegada em nosso país? Devo admitir que estou
deveras empolgado. (Davi)

- Não estou te entendendo. Estás ansioso para o destruimento da nossa


sociedade atual? (Almeida)

- Bom, estou entusiasmado com uma mudança na nossa sociedade.


Particularmente não acho que o movimento vai acabar com nossa sociedade. Tenho
uma visão positiva que esse movimento vai fortalecer ainda mais o nosso
sentimento patriota. Além disso, a temática social e política do movimento é muito
interessante. (Davi)

- Com todo respeito, companheiro, mas discordo completamente de você. (Almeida)

- Eu também discordo, amigo. Acho que falo por nós dois quando digo que acabar
com as tradições não vai ajudar a progredir com o nosso patriotismo. (Luana)

- Acho que você também está defendendo um movimento que é basicamente


anarquista e ainda tens a audácia de dizer que é patriota. Guarde minhas palavras:
se esse movimento chegar no Brasil, iremos entrar numa crise social gigante.
(Almeida)

Narração

❖ Artístico

Sediada no Theatro Municipal em 1922 devido ao Centenário da Independência, a


Semana de Arte Moderna dá início à Primeira Fase do Modernismo, ou Fase
Heroica (1922-1930).

A intenção estratégica da Semana era chocar e confrontar o gosto da burguesia


paulistana. Entretanto, foi uma parcela destacada dessa mesma burguesia, aliada a
alguns aristocráticos descendentes das tradicionais famílias da elite agrária do
estado, que financiou o evento.

A Semana foi aberta no dia 11 de fevereiro de 1922. Desse dia até o dia 18 do
mesmo mês, o Theatro Municipal abrigou continuamente uma exposição de arte.
Nos dias 13, 15 e 17 foram realizados espetáculos de música, dança, conferências
e leituras de poesia e prosa, tudo diante de um público que reagiu com vaias e
apupos. O fato de os dias serem intercalados denuncia a expectativa dos
organizadores de que os espetáculos repercutiriam nos dias que se seguissem às
apresentações. Com efeito, os jornais dos dias 14, 16 e 18 noticiaram
escandalizados ou eufóricos os acontecimentos das noites anteriores.

A Semana foi inaugurada com a conferência de seu patrono intelectual, o conhecido


e respeitado Graça Aranha. Defendendo pontos de vista ligados à nova arte, com a
qual entrou em contato quando servia como diplomata na Europa, criticou também a
Academia Brasileira de Letras por seu caráter conservador, tanto artístico quanto
político.

Teatro

Esse daqui seria caso nós conseguíssemos imprimir algum jornal antigo e seriam
duas pessoas comentando sobre o evento*

- Olhe aqui, companheira, a semana de arte moderna como capa do jornal, mais
uma vez... Provavelmente o evento mais memorável que eu já fui (Laura)

- Realmente, fiquei muito surpresa com o que foi exposto. Não esperava nada
daquilo. (Thaís)

- Achei intrigante a decisão de nos criticar, a elite, sendo que nós que financiamos
toda aquela apresentação. Certamente esses artistas são extremamente
audaciosos. (Marília)

- Ao mesmo tempo que foi intrigante, foi extremamente afrontoso. Se depender de


mim, nunca mais existirá um evento que pregue uma arte tão crítica como esse
movimento modernista. (Almeida)

- O que mais te chamou atenção em toda essa exposição amigo? (Laura)

- Devo dizer que achei que a exposição como um todo foi extremamente polêmica,
porém o cenário que mais me deixou estupefata foi quando o Heitor Villa-Lobos
entrou com um pé calçado e o outro não. Simplesmente não me veio à cabeça o
porquê daquilo. (Thaís)
- Ouvi dizer que ele veio vestido desse jeito por conta de calos que havia em seu pé,
mas duvido muito dessa informação. Além disso achei um absurdo quando ele foi
tocar o piano e no meio da apresentação começou a tocar aqueles tambores. Em
minha opinião foi totalmente merecedor das vaias que recebeu. (Laura)

- Concordo com você. Particularmente acho que não existe essa necessidade de
inovação tão radical em nossa arte. Essa exposição, pelo menos pra mim, foi uma
espécie de anarquismo contra a nossa arte. (Almeida)

Narração

❖ Consequências

Após a Semana, os jovens artistas obtiveram uma espécie de celebridade imediata.


Aproveitando-se do furor causado pelos pequenos escândalos do Municipal e das
polêmicas jornalísticas, praticamente todos os participantes da Semana abriram
outra frente de batalha: lançaram seu próprio “órgão oficial”, ou seja, um periódico
que representasse a voz e os interesses dos modernistas. Assim, mesmo sem
abandonar os grandes jornais, que lhes remuneravam ou a quem deviam fidelidade
política, os intelectuais modernistas lançaram suas próprias revistas, que deveriam
trazer até em sua forma, os preceitos do grupo que as editava.

É importante perceber que o surgimento desses periódicos, dos mais diferentes


tipos e nas mais diferentes partes do país, já indicava dois acontecimentos
importantes para o desdobramento da aventura modernista e para os rumos que a
cultura brasileira tomaria após 1922. Em primeiro lugar notava-se, a partir das
revistas que circulavam Brasil afora, a difusão (e junto com ela a diversidade) do
movimento modernista em território brasileiro; e, em segundo lugar, via-se com mais
clareza o surgimento de divisões e rupturas dentro da vanguarda paulistana, até
então aparentemente coesa. Assim, a Semana foi a plataforma que, lançando
grupos, publicando livros e revistas, fez com que o movimento cultural modernista
se tornasse uma realidade social plenamente visível.

Teatro
- Finalmente acabamos com essa revolucionária exposição, agora sim o Brasil irá
ficar a par com os nossos ideais de mudança. (Marília)

- Sim, tenho certeza absoluta que nosso trabalho irá causar um burburinho grande
na elite brasileira. (Thaís)

- Concordo. Acho que na verdade isso é uma grande oportunidade para nós.
(Luana)

- Como assim? (Marília)

- Devíamos fazer alguma coisa para poder aumentar ainda mais o nosso espalhar
de ideias, como criar algo para poder difundir ainda mais o ideal modernista. (Luana)

- Verdade, quanto mais pessoas forem atingidas, maior seria a probabilidade de nós
conseguirmos um maior apoio. (T)

- Mas se nós fizermos isso, tem a grande possibilidade de acabar sem dinheiro.
Pode ser que venham a forçar a nossa saída do jornal e aí vamos morrer de
fome. (Marília)

- Acho que possuo a solução para esse nosso problema: vamos criar revistas
para poder espalhar o nosso trabalho sem acabar ferindo com a integridade do
nosso local de trabalho. (Thaís)

- Como se fosse um trabalho independente do nosso jornal? (Luana)


- Exatamente. Assim conseguimos ao menos garantir o nosso emprego. (T)

❖ Para não concluir

De 1922 até hoje, a Semana de Arte Moderna foi se firmando como o mais
marcante “fato” de nossa história cultural e, assim, concretizou seu objetivo:
sacralizar-se como evento-símbolo da mentalidade renovadora no Brasil.

Como pudemos ver, a Semana situou-se dentro de um processo de transformação


da cultura e da mentalidade brasileiras do princípio do século, que podemos
chamar, pelo menos no campo da arte e da cultura, de Modernismo. Nesse sentido,
o movimento deve ainda ser objeto de reflexão.

Sem tentar idealizar a Semana de Arte Moderna, quanto ao aspecto político,


podemos também assimilar seu inconformismo, sua vontade crítica que buscava um
novo espaço construtivo para renovar ideias e comportamentos, um espaço melhor
e mais justo, em busca de mais autonomia. Desse modo, podemos dizer que o
famoso evento de 22 continua na contemporaneidade e nos ajuda a alimentar nossa
própria modernidade.

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