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Em tudo isso, uma certeza: o cangaço e o cangaceiro fazem parte das mitologias que
sustentam o discurso da identidade regional nordestina, (objeto de acordo) e, como toda
mitologia, tem muito pouco a ver com a realidade histórica do que foi esse fenômeno e foram
esses personagens. (tese proposta) Desde a Grécia antiga, o discurso da história surgiu para
se contrapor ao mito, para colocar no tempo e na realidade terrena e prosaica dos homens,
aquilo que parecia habitar o intemporal e as esferas do sagrado, do mitológico.
O cangaço é um fenômeno que, com essa designação, surgiu durante a seca de 1877-
1879, embora o banditismo rural já existisse anteriormente. (operador argumentativo:
contraposição) Nasceu como bandos de antigos jagunços, homens armados a serviço dos
coronéis que, deixados à própria sorte por causa da seca, resolveram usar as armas para
atacar os comboios com os socorros públicos ou pilhar as fazendas e grupos de retirantes que
seguiam pelas estradas. Com o fim da seca, tendo descoberto um meio de vida e provado da
liberdade de agirem por conta própria, sem estar debaixo das ordens de um mandão, muitos
desses saqueadores e bandoleiros continuaram agindo independentemente.
Muitas das cangaceiras, chegaram ao cangaço por serem raptadas, levadas à força,
mantidas sob ameaça e cárcere privado, ocupando lugares subalternos, tidos como lugar de
mulher. Não descarto o fato de que uma ou outra mulher se acostumou, se afeiçoou àquela
vida e até a seu raptor, (concessão) todo fenômeno humano é complexo e assim deve ser
tratado, daí porque a simplificação mítica não é o mais adequado. (explicação e refutação)
Não devemos nos envergonhar do cangaço, (concessão) pois não era mera selvageria
e barbárie, mas também não devemos tecer loas regionalistas a um fenômeno que em nada
contribui para o aprendizado necessário de vivermos em um Estado democrático de direito
(refutação), onde o macho valente e armado não se ache no direito de atacar uma mulher
indefesa (como acaba de ocorrer na cidade do Recife), (metadiscurso) onde o respeito à lei
venha acompanhado da luta política democrática por conquistas sociais.
O cangaceiro deve ser deixado no passado, pois seu mito só reforça a heroicização da
violência individual e pessoal, (operador argumentativo: explicação/ retomada da tese) só
veicula um modelo de ser masculino, de ser homem, que deve ser superado: o modelo do
cabra macho que lava a honra com sangue, que afirma sua virilidade e masculinidade no
recurso à violência sanguinária.