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Vitorelli - Ações Coletivas Passivas Por Que Elas Não Existem Nem Deveriam Existir
Vitorelli - Ações Coletivas Passivas Por Que Elas Não Existem Nem Deveriam Existir
deveriam existir?
Edilson Vitorelli
Pós-Doutorando em Direito pela Universidade Federal da Bahia e pelo Max Planck
Institute Luxembourg for International, European and Regulatory Procedural Law. Doutor
pela Universidade Federal do Paraná. Mestre pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Visiting Scholar na Stanford Law School e Visiting Researcher na Harvard Law School.
Professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie e na Escola Superior do Ministério
Público da União. Procurador da República. edilsonvitorelli@gmail.com
Sumário:
1 Introdução
1
O Código de Processo Civil de 2015 trouxe como inovação o regulamento, ainda que
lacônico, dos litígios possessórios coletivos. A primeira providência da norma, já no art.
178, III, é reconhecer o interesse público nesse tipo de debate e determinar a intimação
obrigatória do Ministério Público para intervir no processo, sob pena de nulidade. De
fato, eventos como a malsinada reintegração de posse do conhecido bairro do
Pinheirinho, em São José dos Campos/SP, realizada em 2012, com relatos de
considerável violência, denotam a importância de que instituições vocacionadas à
proteção dos direitos humanos, como o Ministério Público, acompanhem de perto esse
tipo de situação.
Art. 31. Qualquer espécie de ação pode ser proposta contra uma coletividade organizada
ou que tenha representante adequado, nos termos do § 2º do art. 2º deste código, e
desde que o bem jurídico a ser tutelado seja transindividual (art. 1º).
Art. 32. O Ministério Público deverá intervir necessariamente no processo como fiscal da
lei.
Art. 33. Quando o bem jurídico a ser tutelado for de natureza indivisível, a coisa julgada
terá eficácia erga omnes, vinculando os membros do grupo, categoria ou classe.
Art. 34. Quando o bem jurídico a ser tutelado for de natureza divisível, a coisa julgada
não vinculará os membros do grupo, categoria ou classe, que poderão mover ações
próprias para afastar a eficácia da sentença em sua esfera jurídica individual”
28. A ação coletiva poderá ser proposta contra os membros de um grupo de pessoas,
representados por associação que os congregue.
28.3 Os membros do grupo poderão criar uma associação com a finalidade específica de
representá-los em juízo na ação coletiva passiva.
28.4 Os membros do grupo poderão intervir no processo coletivo passivo. (Vide art. 6)
28.5 O representante terá o direito de ser ressarcido pelos membros do grupo das
despesas efetuadas com o processo coletivo, na proporção do interesse de cada
membro.
Até então, essas eram propostas acadêmicas que, de lege ferenda, pretendiam inserir o
regime das ações coletivas no País. Em 2004, Ronaldo Lima dos Santos publicou um
trabalho explicando a origem e o funcionamento das class actions nos Estados Unidos,
4
com especial foco nas ações coletivas passivas . Afirmava, naquele momento, a
prevalência do entendimento no sentido de que o sistema brasileiro não outorgava
legitimidade passiva ao grupo, mencionando, nesse sentido, Hugo Nigro Mazzilli, Pedro
da Silva Dinamarco, Humberto Theodoro Júnior e Ricardo de Barros Leonel, entre outros.
Em textos mais recentes, autores apontam o pedigree histórico das ações coletivas
passivas, sustentando que sua existência precederia mesmo a das ações que prefiguram
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a coletividade no polo ativo . Assim, não é exagerado afirmar que a doutrina brasileira
recebeu as ações coletivas passivas como um acréscimo, no mínimo, benfazejo ou, mais
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que isso, já plenamente incorporado ao sistema processual brasileiro .
A ação coletiva passiva surge na versão de 1966 da Rule 23, das Federal Rules of Civil
Procedure, normas que regulamentam o processo nos tribunais federais. A primeira e
mais evidente constatação que se pode fazer, da simples leitura do diploma, faz é a da
insuficiência de suas regras quando às chamadas defendant class actions. A Rule 23 não
dedica um único dispositivo a regular as ações coletivas passivas. A lógica da norma é
integralmente voltada para a propositura das ações pelos representantes adequados dos
grupos, não para a sua defesa. Em apenas seis itens, ao mencionar os pedidos da ação (
claims), o texto agrega or defenses, do que se infere a possibilidade de propositura de
ação contra o grupo, que se defenderia coletivamente.
Todavia, a laconismo dessas regras, que pressupõe a transposição, para o polo passivo,
dos dispositivos pensados para o autor, fez com que as ações coletivas passivas fossem
uma realidade rara nos tribunais norte-americanos e francamente ignorada pela
doutrina. Esse problema passou ao largo do pensamento brasileiro, focado, ao que
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Ações coletivas passivas: por que elas não existem nem
deveriam existir?
De acordo com o texto, uma ação coletiva poderia ser proposta contra um grupo quando
as defesas do representante forem típicas da defesa do grupo. É que, nos Estados
Unidos, o legitimado coletivo não é uma entidade diversa das pessoas afetadas, como no
Brasil, mas uma das vítimas. A Rule 23 pressupõe que a identidade entre representante
e representados é um elemento essencial para garantir a qualidade da representação. Se
o representante agir mal, estará prejudicando a si mesmo, não apenas aos
representados. Alinham-se os interesses de quem atua e de quem está ausente do
processo, pela circunstância de que, no final, ambos terão o mesmo destino. Esse
requisito da tipicidade está no item (a)(3) da norma.
Após, a Rule 23 dispõe sobre três tipos de ações coletivas que, em tese, poderiam ser
ativas ou passivas, indistintamente: as situações em que a multiplicidade de decisões
em processos individuais poderia exigir da parte contrária comportamentos
contraditórios em relação aos diferentes membros do grupo (b)(1)(A) ou prejudicar o
exercício do direito pelas pessoas que não fazem parte do processo (b)(1)(B); aquelas
em que a parte contrária se recusa a agir de modo uniforme em relação a todos os
integrantes da classe, previsão derivada da necessidade de mecanismos processuais
para coibir a segregação racial, na década de 1960 (b)(2); e as situações em que as
questões comuns, de fato ou de direito, que derivam dos pleitos dos integrantes da
classe predominam sobre as individuais e a ação coletiva é o meio mais eficaz para a
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decisão da controvérsia (b)(3) .
Cada uma dessas modalidades tem requisitos próprios, no contexto estrangeiro, cuja
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análise transbordaria os propósitos deste artigo . Entretanto, é possível constatar,
nesse breve escorço, que uma ação coletiva, ativa ou passiva, tem, nos Estados Unidos,
requisitos bastante diferentes do modelo brasileiro. Quaisquer adaptações, portanto, não
podem partir apenas da transposição do texto normativo, mas de um estudo profundo
sobre o desenvolvimento desses processos e o modo como eles são encarados em seu
país de origem.
Ao contrário do que se pode imaginar pela leitura da doutrina brasileira, que se dedica
com afinco a propagar a possibilidade de ações coletivas passivas no País, esse instituto
é um fracasso nos Estados Unidos, nos mais de 50 anos em que já vigora. O primeiro
motivo para tanto é a marcada desconfiança dos acadêmicos e juízes norte-americanos
quanto à possibilidade de se constituir um representante adequado do grupo.
Contudo, é muito diferente tirar de alguém uma pretensão ativa, que essa pessoa não
exerceu e, na maioria dos casos, sequer sabia que era titular, de invadir o patrimônio
dessa pessoa para dela retirar algo que lá está incorporado, em virtude da derrota em
um processo do qual esse indivíduo não tinha a mais leve suspeita de existência. Ou,
ainda, impor a alguém um comportamento ou uma abstenção, em virtude desse mesmo
processo, alheio ao indivíduo. A gravidade da intervenção da ação coletiva passiva sobre
a esfera individual é muito maior que na ação coletiva ativa. Nesta, deixa-se de ganhar.
Naquela, perde-se algo que já se tinha.
Esse é o motivo pelo qual qualquer defensor das ações coletivas passivas precisaria
esclarecer, com detalhes e minúcias, o que seria a representação adequada dos
ausentes. Não basta afirmar, genericamente, que há necessidade de representação
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Ações coletivas passivas: por que elas não existem nem
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Francis Shen também afirma, escrevendo em 2008, que, até então, a análise acadêmica
havia se focado quase exclusivamente nas ações coletivas ativas. “Ainda que haja alguns
artigos e notas sobre ação coletiva passiva, eles foram incapazes de elaborar uma teoria
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abrangente para a compreensão e avaliação das ações coletivas passivas” . Pesquisa
empírica confirma essa percepção. O site Heinonline, que agrega o conteúdo de
praticamente todas as revistas jurídicas nos Estados Unidos, registrava, em 9 de outubro
de 2014, apenas 18 artigos especificamente sobre o tema, nenhum deles de autoria dos
mais reconhecidos estudiosos sobre o assunto. O portal também registra o número de
citações que cada artigo recebeu, em outros trabalhos. A maioria dos 18 foi citada por
poucos trabalhos ou sequer foi citada. O artigo mais citado, até aquele momento, sobre
ações coletivas passivas, era uma nota publicada na Harvard Law Review de 1978.
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Mesmo assim, em 37 anos, acumulava apenas 58 citações, menos de duas por ano .
É claro que há quem sugira a existência de um potencial inexplorado nas ações coletivas
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passivas . Contudo, até o momento, parece que o entusiasmo acadêmico brasileiro com
o instituto é maior que o norte-americano, de onde ele se origina. Nada impediria que o
Brasil detectasse e aplicasse esse potencial inexplorado, mas, para tanto, seria
necessário produzir mais conhecimento do que o até hoje existente. Também seria
necessário analisar as propostas de alteração da Rule 23, cujo laconismo é apontado por
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pesquisadores como causa do fracasso das ações passivas . Essas propostas incluem,
por exemplo, a sugestão de que as ações coletivas passivas deveriam ser limitadas a
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grupos cujos integrantes partilham relações jurídicas anteriores .
Para efeito de conclusão, o que se poderia dizer é que, nos Estados Unidos, ninguém
sabe exatamente quais são os limites das ações coletivas passivas, porque não há um
único julgado da Suprema Corte para orientar os tribunais inferiores, não há prática
significativa nesses tribunais inferiores, nem interesse suficiente da doutrina no
desenvolvimento do instituto. Não se sabe como seria avaliado o desempenho do
legitimado coletivo, como se operaria o opt-out – afinal, em princípio, todos teriam
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interesse em não participar do polo passivo – e como se executaria o julgado em
desfavor daqueles que não foram sequer notificados, eis que não eram identificáveis no
curso do processo. Enfim, a desconfiança dos autores e dos operadores
norte-americanos deve pelo menos servir como alerta contra a importação pouco
refletida do instituto.
A doutrina brasileira apresenta uma série de exemplos que seriam de ações coletivas
passivas, para demonstrar a sua existência no país, de lege lata. Este tópico
demonstrará os motivos pelos quais esses exemplos não se adequam ao conceito de
ação coletiva passiva até aqui desenvolvido.
Para evitar delonga desnecessária, serão tomados como guia os exemplos oferecidos por
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Ações coletivas passivas: por que elas não existem nem
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Didier Jr. e Zaneti Jr. Eles compreendem a gama de situações usualmente
apresentados pela doutrina. Além disso, será reservado para momento subsequente a
análise dos litígios coletivos possessórios, que constituem o cerne da análise que se
pretende empreender.
5.1 O legitimado coletivo ativo no polo passivo, em defesa de um título ativo, não é uma
ação coletiva passiva
Parte da doutrina se refere a essa hipótese como “ação coletiva passiva derivada”, uma
vez que ela surgiria a partir de uma demanda coletiva ativa, que seria a original. A ação
coletiva passiva derivada seria a mera inversão dos polos da ação coletiva original.
Fredie Didier Jr. e Hermes Zaneti Jr. aceitam essa denominação, dirigindo críticas ao
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projeto de Código de Processos Coletivos de Gidi por não a contemplar . Esse
posicionamento, todavia, parece equivocado, porque confunde posições processuais com
posições materiais. O conceito de ação coletiva passiva foi desenvolvido, nos Estados
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Unidos, para tutelar posições materiais litigiosas, e não posições processuais . Criar
uma subconceituação para colocar sob a mesma denominação hipóteses distintas –
aquelas em que a sociedade é demandada para se lhe impor um comportamento, e
aquelas em que o legitimado coletivo é demandado no contexto do desfazimento de um
título executivo ativo, constituído anteriormente – gera confusão na compreensão do
instituto, em sua formulação original. Produz-se um conceito “à brasileira”, sem
correspondência com o original que o inspira. Seria, seguramente, muito estranho o
debate em que um estudioso brasileiro procurasse explicar a um norte-americano que o
sistema pátrio considera esse tipo de demanda uma defendant class action.
Não é que a adaptação de institutos jurídicos estrangeiros não seja recomendável. Pelo
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contrário, evita-se a realização acrítica de um legal transplant . O problema é que, no
caso, não se trata de incorporar uma norma de direito estrangeiro, mas de compreender
o seu conteúdo. Quando duas situações diferentes são colocadas na mesma categoria,
prejudica-se a compreensão de ambas. Sobretudo quando uma delas é corriqueiramente
aceita na prática, e a outra, não. Ninguém discute a possibilidade de ajuizamento, pelo
réu, de ação rescisória contra a sentença coletiva, ou de embargos à execução,
impugnação ao cumprimento de sentença ou embargos de terceiro contra um título
oriundo do processo coletivo.
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Ações coletivas passivas: por que elas não existem nem
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Ninguém discute porque isso não é uma ação coletiva passiva, é a mera tentativa de
desconstituição de um título formado anteriormente, em favor do autor. Essencialmente,
essas são atitudes defensivas, ainda que exercitadas sob a forma de ação. Não se
pretende impor à sociedade um comportamento. Ação coletiva passiva, reitere-se, tal
como tratada no direito norte-americano, é a imposição de comportamento à sociedade,
por intermédio da participação, no processo, de um representante adequado, não das
pessoas que serão efetivamente atingidas pela decisão. E isso não se aceita
tranquilamente.
Desenvolver essas duas hipóteses opostas como subcategorias do mesmo conceito, ação
coletiva passiva, gera confusões, não esclarecimento, e induz o leitor a crer que, se uma
delas é aceita com naturalidade, a outra também deveria ser.
Por essa razão, o que será tratado como ação coletiva passiva, daqui em diante, é
apenas o conceito estritamente reconduzido a suas origens: ação coletiva passiva é
aquela que visa a impor deveres jurídicos a uma sociedade que não participa do
processo, mas nele é representada, como ré, por um legitimado coletivo. Se o legitimado
for derrotado, é a sociedade que estará sujeita a execução. Estão excluídas, portanto, as
hipóteses em que o legitimado apenas ocupa o polo passivo do processo, mas não se
pretende impor conduta à sociedade, apenas debater uma posição vantajosa originada
anteriormente, pró-sociedade.
Embora o exemplo seja bom, exame aprofundado demonstra que ele não pode ser
efetivamente enquadrado como ação coletiva passiva. Primeiramente, a legitimidade dos
sindicatos para representar suas categorias profissionais e negociar seus direitos,
coletivamente, decorre diretamente da Constituição, mais precisamente, do seu art. 8º,
VI. Mesmo que se considere esse um exemplo de ação coletiva passiva, ele seria
intransponível para outras situações, que não encontram o mesmo amparo
constitucional. Seria um caso singular, não uma demonstração de que a ordem jurídica
estaria apta a agasalhar outras hipóteses.
Mesmo quando se examina o julgamento, pelo Poder Judiciário trabalhista, dos dissídios
coletivos de trabalho, não se trata de situação minimamente comparável à de uma ação
coletiva. Isso porque a Constituição exige, para a sua propositura, o acordo de ambas as
partes (art. 114, § 2º). Não é possível à coletividade dos patrões, por exemplo, impor à
coletividade dos empregados uma decisão judicial, como seria característico de uma
ação coletiva, o que lhe impõe, mais uma vez, uma característica sui generis, não
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Ações coletivas passivas: por que elas não existem nem
deveriam existir?
Essa situação se aprofundou em nosso país, em 2017, quando o art. 611-A foi
acrescentado à CLT (LGL\1943\5), para dispor: “A convenção coletiva e o acordo coletivo
de trabalho têm prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre [...]”. A
atuação coletiva dos sindicatos, portanto, tem o poder de afastar o próprio regramento
legal sobre as relações de trabalho, o que não ocorre com uma sentença judicial
tradicional. Tal característica demonstra o pleno afastamento da esfera dos direitos
coletivos do trabalho das demais situações em que se vislumbram litígios coletivos.
Maurício Godinho Delgado demonstra que ao Poder Judiciário trabalhista foi atribuída
constitucionalmente a competência para “fixar regras jurídicas no âmbito das relações
laborais”, de modo diverso do que ocorre na clássica atuação judicial. Nesta, recorda o
autor, o que se passa é uma dinâmica de reiteração, pelos tribunais, de julgados. Já a
sentença normativa “insculpe um conjunto de regras gerais, abstratas, impessoais
obrigatórias, como resultado de um único e específico processo posto a exame do
tribunal trabalhista para aquele preciso e especificado fim, no exercício de uma função
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típica tradicional do Poder Legislativo (e não do Judiciário)” .
É por isso que a sentença normativa não pode, de modo algum, ser comparada com uma
sentença judicial comum, o processo coletivo do trabalho não pode ser comparado com o
processo coletivo civil e a participação passiva dos sindicatos, nesse contexto, não pode
ser utilizada para justificar a existência de uma ação coletiva passiva de caráter
genérico, no Brasil. De todo modo, mesmo que se pretendesse considerar essa uma
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ação coletiva passiva , ela decorreria de uma situação constitucionalmente peculiar,
intransponível para quaisquer outras circunstâncias.
É bom mencionar, em conclusão, que os Estados Unidos também admitem, desde 1935,
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com o National Labor Relations Act , acordos coletivos de trabalho, denominados
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collective bargaining. Seu objetivo, tal como no Brasil, é permitir uma equiparação de
forças entre empregados e empregadores, garantindo aos primeiros a total liberdade
associativa, que incrementa seu poder de negociação. Não se cogita, por lá, que esse
instituto tenha qualquer relação com defendant class actions, como pretendem os
autores brasileiros.
5.3.As ações contra o Estado, contra greves e contra atos associativos não são ações
coletivas passivas
Esse não é um exemplo de ação coletiva pela singela razão de que a ação se volta contra
a pessoa jurídica do sindicato, não contra os sindicalizados. As consequências negativas
do eventual descumprimento da ordem de cessação da greve serão impostas sobre ele,
não sobre seus filiados. Por exemplo, se do processo derivar a imposição de multa
cominatória, é o sindicato que a suportará, não os sindicalizados. Assim, ações para o
encerramento de greves são processos individuais, movidos pelo ente público contra a
pessoa jurídica do sindicato de servidores. A pretensão é de que a organização
centralizada do movimento cesse sua conduta e, por via de consequência, os servidores
retornem ao trabalho. Se o réu continuar orquestrando a greve, seu patrimônio
responderá pela medida coercitiva. Se, por outro lado, demonstrar que cessou quaisquer
atividades nesse sentido e orientou os sindicalizados a retornar às suas atividades
normais, não poderá ser punido.
O que nunca ocorreu nem poderia se verificar é, primeiro, a hipótese de que o autor
executasse o patrimônio pessoal dos sindicalizados para haver a multa cominatória. Isso
violaria o comando do art. 506 do CPC (LGL\2015\1656), que impede que a coisa
julgada prejudique terceiros. O patrimônio passível de execução, nesse caso, é o do
devedor (art. 789 do CPC (LGL\2015\1656)) e o devedor é o sindicato, enquanto pessoa
jurídica.
Assim, fica claro que as ações relativas a greves e outros movimentos assemelhados,
coordenados por associações ou sindicatos, não são ações coletivas passivas, porque se
voltam apenas contra a pessoa jurídica organizadora do movimento e apenas contra ela
exercem a sua eficácia. O mesmo raciocínio vale para ações contra torcidas organizadas
(art. 39-B do Estatuto do Torcedor), em que o patrimônio da entidade, não dos
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torcedores, é atingido .
O caso da greve dos policiais federais, se analisado para além da ementa, demonstraria
a imprestabilidade do exemplo como ação coletiva passiva. Primeiramente, a ementa
recorrentemente transcrita é de uma decisão monocrática do Ministro Herman Benjamin,
não havendo acórdão. Não se trata, então, de posicionamento que possa ser atribuído
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coletivamente, ao STJ . Em segundo lugar, a decisão se limita a concluir com a frase
“fixo multa diária de R$ 100.000,00 (cem mil reais) para a hipótese de descumprimento
da manutenção dos serviços nos percentuais acima reconhecidos”, sem determinar que
os policiais sindicalizados, ausentes do processo, por ela responderiam. Em terceiro
lugar, o processo acabou sendo extinto sem julgamento de mérito, por decisão
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monocrática subsequente, uma vez que a greve foi encerrada por acordo extrajudicial .
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A multa não chegou a ser executada, nem mesmo contra os sindicatos. Não se pode
dizer, portanto, que o STJ tenha aceitado nem mesmo essa ação, muito menos a tese
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das ações coletivas passivas por meio dela .
Do mesmo modo, se a ação se volta contra o Estado, a demanda será individual e terá
como ré a pessoa jurídica de estatal, não a sociedade. Por isso, não parece adequado
chamar de ação coletiva passiva a ação em que um fornecedor pretende ver declarada a
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legalidade de um contrato ou de um licenciamento ambiental . O réu dessa demanda
seria apenas o Estado e seu efeito seria inibir a atuação dos órgãos fiscalizadores. À
sociedade, nenhuma conduta seria imposta. Não compreender isso é fazer retroceder o
pensamento jurídico alguns séculos, quando não se entendia que a pessoa jurídica
poderia ter personalidade distinta dos indivíduos que a compõem. Ainda que o Estado
seja, em última instância, composto pela sociedade, sua personalidade não se confunde
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com esta .
Aliás, nesse exemplo, seria preciso cogitar, antes de tudo, a viabilidade da pretensão. À
primeira vista, não parece possível inibir a garantia constitucional do acesso à jurisdição
por intermédio de uma ação declaratória de cunho global, na qual se pretenda uma
“blindagem” ampla, geral e irrestrita de uma conduta contra eventuais questionamentos
posteriores, provenientes dos indivíduos. De todo modo, a discussão, nesse particular,
limita-se ao plano teórico, uma vez que não se conhecem demandas intentadas com tal
objetivo.
5.4.O Acórdão 100070019698, do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, não é uma ação
coletiva passiva
A classe tem legitimidade para figurar no pólo passivo de demanda coletiva, desde que
observado o requisito da representatividade adequada, mesmo que não exista previsão
normativa explícita. O ativismo judicial permite seja a admissibilidade inferida das
garantias constitucionais do acesso à justiça, da vedação do non liquet, do due process
of law e outras, pois ¿não se deve excluir a priori, de lege lata, a via do acesso à justiça
contra a classe, porquanto a defining function do juiz, própria das ações coletivas (ativas
ou passivas), autoriza a solução judicial de situações justapostas às previstas em lei (...)
(ADA PELLEGRINI GRINOVER, O Processo, São Paulo: Perfil, 2005, pp. 219-221). 2. A
procedência da demanda coletiva passiva (defendant class action) afeta a esfera
individual dos associados independentemente do exercício pessoal do contraditório.
Assim, não há “prejudicados” quando uma lei é declarada inconstitucional, pelo simples
fato de que nunca houve qualquer “beneficiado”. É por isso que o enquadramento do
controle de constitucionalidade como “processo coletivo especial”, pretendido por alguns
autores, é problemático. Suas características são completamente diversas do processo
coletivo que esses mesmos estudiosos denominam “comum”. Mais problemático ainda é
pretender utilizar esse exemplo para defender a existência de ações coletivas passivas
no Brasil. Se o caso julgado pelo tribunal capixaba for uma ação coletiva passiva, então
toda ação de controle abstrato de constitucionalidade também deveria ser, o que
esvaziaria o instituto da ação coletiva passiva, agora não por falta de exemplos, mas por
um absoluto excesso deles.
A hipótese de que a caracterização do caso como uma ação coletiva passiva não passou
de um excesso de linguagem, irrelevante para o caso concreto, é confirmada pela
constatação de que existem pelo menos cinco recursos no Superior Tribunal de Justiça,
discutindo essa decisão do TJES. Nenhum deles enfoca a aceitação processual da ação
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coletiva passiva, o que denota a irrelevância da tese para a solução do caso . Há, ainda,
recurso extraordinário pendente perante o STF, que, da mesma forma, não versa sobre
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a suposta extensão da decisão a uma coletividade ausente do processo .
5.5.A dificuldade de citação de todos os réus não gera uma ação coletiva passiva
Por muito impressionante que seja o levantamento, chamar essas situações de ações
coletivas passivas é dar um nome novo para uma coisa velha: a ação proposta contra
réus desconhecidos, não individualizados, ou cuja citação encontra dificuldades
intransponíveis. O art. 177 do texto original do Código de Processo Civil de 1939 já
afirmava a possibilidade de se realizar a citação por edital “quando desconhecido ou
incerto o citando, ou ignorado, incerto ou inacessível o lugar em que se encontre”,
disposição que é praticamente transcrita no art. 256 do CPC (LGL\2015\1656) atual, que
admite a citação por edital quando desconhecido ou incerto o citando, quando ignorado,
incerto ou inacessível o lugar em que se encontrar o citando e ainda, no art. 259, em
qualquer ação em que seja necessária, por determinação legal, a provocação, para
participação no processo, de interessados incertos ou desconhecidos. Em realidade, se
se quiser voltar um pouco mais no tempo, o art. 45 do Decreto Imperial 737, de 1850,
que foi a primeira norma processual da história do Brasil independente, já dispunha:
“Art. 45. Para a citação edital requer-se: § 1º Que se justifique a incerteza, ou ausência
da pessoa que ha de ser citada, achando-se em parte incerta ou logar não sabido, ou
inaccessivel por causa de peste ou guerra”.
Como se observa, há mais de 150 anos o processo civil brasileiro já admite a extensão
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da coisa julgada a pessoas incertas, desde que citadas por edital. A mudança do rótulo,
nesse caso, não significaria uma inovação sistêmica. Ou se diz que o processo brasileiro
admite uma ação coletiva passiva desde 1850, incluindo nessa denominação todas as
situações em que há citação de pessoas incertas, por edital, ou o exemplo não pode ser
utilizado. E, se a opção for dizer que essas são ações coletivas passivas, será preciso
deixar claro que se está adotando um conceito completamente “abrasileirado”, sem
referência ao que existe nos Estados Unidos. Dever-se-ia, pelo menos, deixar de utilizar
a expressão em inglês, defendant class action.
Na sua formulação original, a ação coletiva passiva não se caracteriza pela existência de
pessoas incertas envolvidas no litígio, mas sim de um grupo de pessoas cujos contornos
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devem ser definidos ainda no início do processo . Definido o grupo, apenas o
representante será citado, e agirá em nome dos ausentes, representando-os no
processo. Em caso de derrota, contudo, a sentença seria executada contra estes. Não é
isso que ocorre em nenhum dos exemplos mencionados. Em todos eles, os indivíduos
são citados, embora por uma modalidade diversa da citação pessoal, já admitida desde
há muito. Essa questão será aprofundada no tópico subsequente, quando se tratar das
ações possessórias coletivas.
Há, todavia, um aspecto que já pode ser adiantado, referente à execução da decisão.
Uma coisa bastante simples é obter uma decisão judicial que se afirme aplicável a
pessoas indeterminadas, que não participaram do processo. Outra, muito diferente, é
fazer com que essa decisão seja efetivamente cumprida, invadindo o patrimônio desses
indivíduos. Não há, no trabalho de Rudiniki Neto, notícia de que isso tenha sido possível,
em qualquer dos exemplos por ele colacionados. Muito antes, pelo contrário. No caso
citado, em que o Tribunal Regional Federal da 5ª Região admitiu a citação por edital de
ocupantes não individualizados, o mesmo Tribunal refluiu, em momento posterior, e
determinou a extinção do processo sem julgamento do mérito, exatamente pela falta de
citação dos réus. O acórdão foi assim ementado:
Processual civil. Ação civil pública. Área de proteção ambiental. Ocupação irregular. Não
individualização dos réus. Possibilidade de identificação. Ônus da parte demandante.
Vício não sanado. Extinção do feito. Ausência de prejuízo.
1. Apelações interpostas pela pelo IBAMA, pela UNIÃO e pela Superintendência Estadual
do Meio-Ambiente do Estado do Ceará (SEMACE), contra Sentença que, em sede de
Ação Civil Pública, extinguiu o feito, sem resolução de mérito, considerando que os
demandantes não promoveram, no prazo concedido pelo juízo, a individualização dos
réus da ação e a especificação da área de proteção ambiental afetada por suposta
ocupação irregular.
4. Aplicação da máxima pas de nullité sans grief, objeto de consagração expressa pelos
arts. 249, § 1º, do CPC/1973 (LGL\1973\5) e 282, §1o, do CPC/2015 (LGL\2015\1656),
de acordo com a qual não se deve pronunciar a nulidade do ato processual quando dele
não decorra prejuízo para as partes.
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5. Não é razoável impor ao Poder Judiciário que admita a suspensão do processo por
longo prazo, a fim de aguardar-se o cumprimento de um ônus processual, do qual a
parte demandante deveria ter se desincumbido previamente ao ajuizamento da ação.
Ausência de direito subjetivo dos recorrentes à suspensão do feito.
(AC 554476/CE, rel. juiz federal convocado Gustavo de Paiva Gadelha, j. 18.08.2017).
Logo, não parece que, teoricamente, se possa admitir a citação por edital de réus
desconhecidos como ação coletiva passiva, uma vez que esse instituto já existe no Brasil
há 150 anos e o papel que cumpre não se relaciona à formulação teórica original do
instituto, nos Estados Unidos. Também não se verifica que os exemplos citados
sobrevivam ao critério da prática: ressalvados os casos de ações possessórias, que serão
analisados a seguir, não há notícia de que tenha sido possível executar as decisões
contra os ausentes do processo. Essa seria a prova real da existência das ações coletivas
passivas no Brasil, que permanece indemonstrada por qualquer um de seus defensores.
As ações possessórias coletivas não são uma invenção do CPC (LGL\2015\1656), mas da
jurisprudência. A partir da década de 1990, o Movimento dos Sem-Terra (MST) passou a
utilizar como estratégia para a reivindicação do avanço da reforma agrária a invasão de
terras particulares improdutivas. Esse modus operandi foi adotado, posteriormente, pelo
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), em relação a prédios urbanos
abandonados e terrenos não ocupados, bem como pelos estudantes de escolas e
universidades, como forma de pressão pela obtenção de direitos ou protesto contra
50
políticas adotadas pelos dirigentes educacionais .
Essas ações geraram perplexidade jurisprudencial porque tais grupos não são
organizados institucionalmente. Não há uma pessoa jurídica, como um sindicato ou uma
associação, que possa ser processada para cessar a organização do evento. Também
não é possível propor a ação contra todos os invasores, porque não há como
identificá-los ou qualificá-los. E, ainda que isso fosse possível, em vários casos não seria
viável a realização da citação pessoal, porque o acesso a esses locais não é franqueado
ao oficial de justiça.
Esse entendimento foi reiterado pelo STJ, em julgamentos futuros, dezenas de vezes,
até recentemente, já na vigência do CPC de 2015:
(REsp 1314615/SP, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em
09.05.2017, DJe 12.06.2017)
A doutrina que enxergou na formulação pretoriana de 1993 uma ação coletiva passiva só
51
surgiu muito depois . Rogério Rudiniki Neto chega a afirmar que esse seria “um dos
52
casos mais típicos de coletivização passiva” . Trata-se, portanto, de uma nova
caracterização de um velho fenômeno.
Sem dúvida, a regra geral impõe a citação pessoal de todos os chamados a integrar a
relação processual e somente por exceção é possível agir de outro modo. Todavia, não
se pode fazer dessa regra obstáculo intransponível ao exercício do direito de ação, que
constitui garantia constitucional (art. 5º, inc. XXXV). No que concerne à inacessibilidade
do lugar onde se encontre o citando, a lei autoriza expressamente o emprego da
citação-edital, que se justifica pela necessidade de permitir ao autor o ajuizamento da
ação, a fim de que seu direito não pereça.
Não é essa a realidade das ações possessórias. Alguns indivíduos são citados
pessoalmente, outros, por edital. Cada um apresenta suas teses de defesa
independentemente, as quais podem ou não aproveitar também aos demais. O
Ministério Público atua como fiscal da ordem jurídica, para reforçar o contraditório e
garantir que direitos individuais indisponíveis não sejam lesados no curso do processo.
É bom observar que, diferentemente do que pensam Suzana Henriques da Costa e João
Eberhardt Francisco, a presença do Ministério Público nesse processo não indica, por si, a
existência de conflitos relacionados a direitos transindividuais, nem decorre da
58
possibilidade de citação de parte dos réus por edital . A participação do Ministério
Público decorre do art. 127 da Constituição, que atribui ao órgão a defesa de direitos
individuais indisponíveis. Em conflitos possessórios envolvendo grande número de
pessoas, é presumível a presença de crianças, idosos, portadores de necessidades
especiais e outros indivíduos cujos direitos individuais a Constituição e a lei vinculam à
atuação do Ministério Público. É por tal motivo que os arts. 178, III, e 554, § 1º,
reforçam a necessidade de atuação ministerial. E nada disso tem relação com a citação
por edital. Ainda que todos os réus sejam citados pessoalmente e compareçam ao
processo, a atuação do Ministério Público não estará dispensada se estiverem presentes
outras razões para sua atuação.
Se a citação por edital, nesses casos, é admitida há 30 anos pelo STJ, a inovação do CPC
de 2015 sugere exatamente o contrário de uma coletivização. Ao prever, no art. 554, §
3º, exigências adicionais de publicidade do edital, com divulgação em emissora de rádio,
anúncios em jornal (que foram abolidos nos demais casos de citação por edital), cartazes
na região do conflito e outros meios, o Código demonstra preocupação extremada em
fazer com que os indivíduos invasores tenham conhecimento pessoal do processo.
Cogitasse o Código de qualquer espécie de substituição processual, essa providência
seria desnecessária, uma vez que o substituto litiga direito alheio em nome próprio, em
decorrência apenas de autorização legal, não de uma relação de confiança ou
autorização, por parte do substituído. Se o litígio fosse representativo, a preocupação da
lei seria a qualidade de atuação do legitimado coletivo, não a ciência efetiva (e não
presumida) do maior número possível de indivíduos.
Essa característica não escapou ao Ministro Salomão, nos autos do REsp 1314615/SP, no
qual se afirmou que “neste tipo de contenda, existindo uma gama de demandados
citados de forma ficta, é que a norma determinou, objetivando a mais ampla
publicidade, que o magistrado possa se valer de qualquer meio voltado a esse fim
(como, v.g., anunciando em jornal ou rádio locais e expedindo cartazes pela região de
conflito)”. A publicidade, portanto, é mais um indício de que o litígio permanece sendo
individual.
Página 15
Ações coletivas passivas: por que elas não existem nem
deveriam existir?
Nos últimos tempos, a lei não tem sido um grande obstáculo para a criatividade dos
juristas. O giro linguístico parece ter ocorrido, no Brasil, como um pião que rodopia
infinitamente no vácuo. Qualquer intepretação parece possível, por mais dissociada que
esteja do texto legal. Essa é uma característica a se repudiar.
É fato, contudo, que toda a discussão ignora um pequeno detalhe: o texto legal. O art.
5º da Lei da Ação Civil Pública afirma categoricamente que os legitimados coletivos “Têm
legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar”. É preciso convir que há
necessidade de um esforço linguístico muito grande para transformar “propor” em
“responder”. O § 4º do mesmo dispositivo regula a desistência da ação, comportamento
que só pertine ao polo ativo. Há expressa referência de que o “Ministério Público ou
outro legitimado assumirá a titularidade ativa”. Não há norma para revelia ou assunção
da titularidade passiva. Ainda o § 6º, que regula o compromisso de ajustamento de
conduta, refere-se a “tomar compromisso”, não apenas a firmar, denotando que o ente
público será o compromitente, não o compromissário.
Não é só. O art. 6º da LACP assevera que qualquer interessado poderá provocar a
“iniciativa” do Ministério Público. O art. 8º regula a requisição de documentos “para
instruir a inicial”, sem referência à defesa. O art. 7º se refere ao poder-dever do juiz de
comunicar ao Ministério Público fatos que possam ensejar a “propositura da ação civil”,
no que é secundado pelo art. 139, X do CPC (LGL\2015\1656), que alude à mesma
comunicação, para “promover a propositura da ação coletiva respectiva”.
Finalmente, todas as regras de coisa julgada, tanto do art. 16 da LACP quanto do art.
103 do CDC (LGL\1990\40), estabelecem salvaguardas contra a improcedência do
pedido, o que pressupõe, com clareza, que a improcedência é o resultado nefasto à
sociedade, não a procedência. É por isso que ela não incide em todos os casos. O art. 83
do CDC (LGL\1990\40) também determina serem admitidas “todas as espécies de
ações” para a proteção dos direitos do consumidor, não todas as espécies de exceções.
Com a devida vênia, não se pode tratar a lei como um detalhe. O ordenamento jurídico
brasileiro não prevê ações coletivas passivas. Ao contrário, todo o sistema foi
evidentemente estabelecido para propiciar a demanda coletiva de direitos, não para
colocar a sociedade no polo passivo, representada por um ente que para tanto não foi
60
legitimado. Aceitar essas ações não é mera “atuação criativa do Judiciário” . É agir
contra legem.
Finalmente, é certo que não se admite, no processo individual, prejuízo às pessoas que
dele não participaram, como expressamente consta do art. 506 do CPC (LGL\2015\1656)
61
. Com mais razão deveria ser repudiada a possibilidade de causa prejuízos à
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Ações coletivas passivas: por que elas não existem nem
deveriam existir?
Processo civil. Recurso especial. Ação coletiva ajuizada por sindicato na defesa de
direitos individuais homogêneos de integrantes da categoria profissional. Apresentação,
pelo réu, de pedido de declaração incidental, em face do sindicato-autor.
Objetivo de atribuir eficácia de coisa julgada à decisão quanto à extensão dos efeitos de
cláusula de quitação contida em transação assinada com os trabalhadores.
Inadmissibilidade da medida, em ações coletivas.
– Nas ações coletivas, a lei atribui a algumas entidades poderes para representar
ativamente um grupo definido ou indefinido de pessoas, na tutela de direitos difusos,
coletivos ou individuais homogêneos. A disciplina quanto à coisa julgada, em cada uma
dessas hipóteses, modifica-se.
– Pelo panorama legislativo atual, a disciplina da coisa julgada nas ações coletivas é
incompatível com o pedido de declaração incidental formulado pelo réu, em face do
sindicato-autor. A pretensão a que se declare a extensão dos efeitos de cláusula
contratual, com eficácia de coisa julgada, implicaria, por via transversa, burlar a norma
do art. 103, III, do CDC (LGL\1990\40).
Recurso improvido.
O caso julgado tratava de uma ação proposta pelo Sindicato dos Trabalhadores das
Empresas de Telecomunicações contra a Fundação Sistel, com o objetivo de condená-la
a pagar diferenças de correções monetárias de valores recolhidos de seus empregados,
decorrentes dos expurgos inflacionários dos planos econômicos. No decorrer dessa ação,
a Fundação-ré propôs ação declaratória incidental da validade de uma transação
extrajudicial, celebrada individualmente, com grande parte dos empregados vinculados
ao Sindicato.
A ministra relatora observou que a ação declaratória incidental havia sido proposta no
contexto de uma ação coletiva. A declaratória consubstancia, assim como a
reconvenção, pretensão autônoma, apresentada, no caso, pelo réu, em face da
coletividade de trabalhadores. Na visão da ministra, todavia, “O sindicato-autor tem
legitimidade extraordinária constitucionalmente atribuída para representar os
trabalhadores como autor da ação, na qualidade de substituto processual. Mas não a
tem para representá-los como réu”.
Página 17
Ações coletivas passivas: por que elas não existem nem
deveriam existir?
8 Conclusão: já que não existem ações coletivas passivas, seria bom que elas
existissem?
O presente artigo teve como objetivo demonstrar que não existem ações coletivas
passivas no Brasil. Quando se estuda, com mais profundidade, o modelo
norte-americano, que serve de inspiração para os pensadores nacionais, percebem-se
dois aspectos salientes: primeiro, que as ações coletivas passivas são raras e vistas com
desconfiança nos Estados Unidos. Talvez, melhor dizendo, a desconfiança seja um
aspecto mais periférico. Elas são, em regra, ignoradas.
Em segundo lugar, uma ação coletiva passiva demandaria, pelo menos, as seguintes
características: 1) existência de relação entre representantes, presentes no processo, na
condição de substitutos processuais, e representados, na condição de substituídos,
ausentes do processo; 2) formação de coisa julgada em desfavor dos ausentes,
impedindo o questionamento da decisão, em outros autos; 3) possibilidade de execução
do julgado contra os substituídos, com afetação de seu patrimônio pessoal; 4) controle
rigoroso da qualidade da atividade exercida pelo legitimado coletivo, ou seja, da
representatividade adequada.
Isso significa, de um lado, que os fenômenos que a doutrina brasileira pretende explicar
pela figura do processo coletivo passivo são passíveis de explicação por outros institutos
já admitidos no processo civil tradicional, em alguns casos, secularmente. De outro lado,
esses casos não se enquadram ao perfil das ações coletivas passivas, tal como previstas
nos Estados Unidos, de modo que a apropriação “abrasileirada” da expressão defendant
class action complica a compreensão do direito nacional e também a do instituto
estrangeiro. Constitui boa prática da atividade científica comparativa evitar esse tipo de
conduta. Ou se compreende o modelo original, em profundidade, para depois adaptá-lo,
ou se cria um modelo próprio, sem referência ao estrangeiro. A solução intermediária
deve ser evitada.
Se as ações coletivas passivas não existem, seria bom que existissem? A resposta é
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Ações coletivas passivas: por que elas não existem nem
deveriam existir?
O dia que essa discussão, que não é processual, for feita, se se reputar que o processo
coletivo passivo é um caminho socialmente valioso, considerações profundas sobre a
adequação da representação, os conflitos de interesse, os limites da coisa julgada, entre
outros aspectos, deverão ser feitas. Não bastará dizer, genericamente, que o
representante deve ser adequado. Será preciso definir, minuciosamente, como avaliar
65
esse aspecto, o que não é consenso nem mesmo no processo coletivo ativo . E tais
definições deverão estar asseguradas em lei, não apenas em leituras criativas de
diplomas legais não criados para essa finalidade. Criar uma ação coletiva passiva, com
potencial para prejudicar indivíduos que não participaram do processo, sem assegurar
legalmente as salvaguardas do modelo, implica constituir o equivalente processual a um
loose canon: uma ferramenta poderosa, mas descontrolada, que pode ser usada para
produzir decisões de grande abrangência, em detrimento da sociedade.
Nesse ínterim, parece melhor deixar que a sociedade e a doutrina se desenvolvam, para
maturar o que se pretende com a criação dessa nova técnica processual e produzir,
quem sabe, entendimentos que solucionem até mesmo as graves objeções enfrentadas
pelo instituto da ação coletiva passiva em seu país de origem, onde se encontra, até o
momento, fadada ao esquecimento.
9 Referências
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Ações coletivas passivas: por que elas não existem nem
deveriam existir?
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2 Em 2009, o Código foi objeto de uma coletânea de artigos, na qual foi explanado e
debatido. Ver GIDI, Antonio; MAC-GREGOR, Eduardo. Comentários ao Código Modelo de
Processos Coletivos. Salvador: JusPodivm, 2009.
3 GIDI, Antonio. Código de processo civil coletivo: um modelo para países de direito
escrito. Revista de Processo, São Paulo, v. 111, 2003. p. 192-208.
4 SANTOS, Ronaldo Lima dos. Defendant class actions. O grupo como legitimado passivo
no direito norte-americano e no Brasil. Boletim Científico da Escola Superior do
Ministério Público da União, n. 10, 2004. p. 139-154.
6 Ver, por exemplo, GRINOVER, Ada Pellegrini. O processo: estudos & pareceres. São
Paulo: Perfil, 2005. p. 219.
7 O presente trabalho não tem como objetivo realizar uma arqueologia da formação do
entendimento doutrinário abordado, de modo que as referências temporais são
aproximadas. Não se pretende, aqui, sustentar quem pensou o quê antes de quem.
8 MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. São Paulo: Saraiva,
2000. p. 215 e ss.
9 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação civil pública. São Paulo: RT, 1999. p. 145.
11 Grinover (op. e loc. cit.) chegava a defender que se no processo figurassem classes
nos dois polos, o tratamento deveria ser igualitário a coisa julgada deveria ser erga
omnes, restrições.
13 Há, é claro, exceções. Para uma crítica às ações coletivas passivas, ver VIGORITI,
Vicenzo. interesse colettivi e processo: la legittimazione ad agire. Milão: Giuffrè, 1979.
p. 100; MARANHÃO, Clayton. Nota crítica ao instituto da ação coletiva passiva no direito
brasileiro. Scientia Iuris, Londrina, v. 9, 2005. p. 9-14.
(3) the claims or defenses of the representative parties are typical of the claims or
defenses of the class; and
(4) the representative parties will fairly and adequately protect the interests of the class.
(b) Types of Class Actions. A class action may be maintained if Rule 23(a) is satisfied
and if:
(1) prosecuting separate actions by or against individual class members would create a
risk of:
(A) inconsistent or varying adjudications with respect to individual class members that
would establish incompatible standards of conduct for the party opposing the class; or
(B) adjudications with respect to individual class members that, as a practical matter,
would be dispositive of the interests of the other members not parties to the individual
adjudications or would substantially impair or impede their ability to protect their
interests;
(2) the party opposing the class has acted or refused to act on grounds that apply
generally to the class, so that final injunctive relief or corresponding declaratory relief is
appropriate respecting the class as a whole; or
(3) the court finds that the questions of law or fact common to class members
predominate over any questions affecting only individual members, and that a class
action is superior to other available methods for fairly and efficiently adjudicating the
controversy. The matters pertinent to these findings include:
(A) the class members’ interests in individually controlling the prosecution or defense of
separate actions;
(B) the extent and nature of any litigation concerning the controversy already begun by
or against class members;
(C) the desirability or undesirability of concentrating the litigation of the claims in the
particular forum; and
15 Essa análise foi feita, em detalhes, em VITORELLI, Edilson. O devido processo legal
coletivo: dos direitos aos litígios coletivos. São Paulo: RT, 2016, cap. 4.
16 Ver SHAPIRO, David L. Class Actions: The class as party and client. Notre Dame Law
Review, v. 73, n. 2, 1998. p. 913-962. Ver, também, BRANDT, Elizabeth Barker.
Fairness to the Absent Members of a Defendant Class: A Proposed Revision of Rule 23.
Brigham Young University Law Review, v. 1990, n, 3, 1990. p. 909-948.
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Ações coletivas passivas: por que elas não existem nem
deveriam existir?
19 SHEN, Francis X. The overlooked utility of the defendant class action. Denver
University Law Review, v. 88, n. 1, 2010. p. 73-181.
20 WILLING, Thomas E.; HOOPER, Laural L.; NIEMIC, Robert J. Empirical study of class
actions in four federal district courts: final report to the advisory committee on civil
rules. Washington, D.C.: Federal Judicial Center, 1996.
21 SHEN, Francis X. The overlooked utility of the defendant class action, Denver
University Law Review, v. 88, n. 1, 2010. p. 74.
22 NOTE. Defendant class actions, Harvard Law Review, Vol. 91, n. 3,1978. p. 630-658.
A pesquisa empírica foi realizada pelo autor.
23 Ver, por exemplo, PARSONS, Peter A.; STAR, Kenneth W. Environmental Litigation
and Defendant Class Actions: The Unrealized Viability of Rule 23, Ecology Law Quarterly,
v. 4, n. 4, 1975. p. 881-914; RODRIGUES NETTO, Nelson. The Optimal Law Enforcement
With Mandatory Defendant Class Action, University of Dayton Law Review, v. 33, n.1,
2007. p. 59-118; ANCHIETA, Angelo N. Defendant class actions and federal civil rights
litigation, UCLA Law Review, v. 33, 1985. p. 283-330; SIMPSON Robert R. e PERRA,
Craig L. Defendant Class Actions, Connecticut Law Review, v. 32, 2000. p. 1319-1336.
24 Entre outros, ver HOLO, Robert E. Defendant Class Actions: The Failure of Rule 23
and a Proposed Solution, UCLA Law Review, v. 38, 1990. p. 223 e ss.; BRANDT,
Elizabeth Barker. Fairness to the Absent Members of a Defendant Class: A Proposed
Revision of Rule 23, Brigham Young University Law Review, v. 1990. p. 909-948;
GROSS, Debra J. Mandatory Notice and Defendant Class Actions: Resolving the Paradox
of Identity Between Plaintiffs and Defendants, Emory Law Journal, v. 40 1991. p. 611 e
ss., HAMDANI, Assaf; KLEMENT, Alon. The class defense, California Law Review, v. 93,
2005. p. 687-741.
26 Para uma sugestão interessante, ver MORABITO, Vince. Defendant class actions and
the right to opt out: lessons for Canada from the United States, Duke Journal of
Comparative & International Law, v. 14, 2004. p. 197-248.
27 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil: processo
coletivo. 11. ed. Salvador: JusPodivm, 2017. p. 495-502.
28 GIDI, Antonio. Rumo a um código de processo civil coletivo: a codificação das ações
coletivas no Brasil. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 350 e ss.
29 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil: processo
coletivo. 11. ed. Salvador: JusPodivm, 2017. p. 494.
32 O Supremo Tribunal Federal assim se manifestou, nos autos do RE 590.415, rel. Min.
Roberto Barroso, DJ 29.05.2015.
35 MONTEIRO DE BARROS, Alice. Curso de direito do trabalho. São Paulo: LTR, 2016. p.
830.
36 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 15. ed. São Paulo: LTr,
2016. p. 1438.
37 Ibidem. p. 1438-1439.
39 29 U.S.C. § 151–169.
45 Sobre o aspecto histórico, ver BERMAN, Harold Joseph. Law and Revolution: The
Formation of the Western Legal Tradition. Cambridge: Harvard University Press, 1983.
49 Rule 23, (c)(1)(B) Defining the Class; Appointing Class Counsel. An order that
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Ações coletivas passivas: por que elas não existem nem
deveriam existir?
certifies a class action must define the class and the class claims, issues, or defenses,
and must appoint class counsel under Rule 23(g).
51 Seguramente, não antes dos anos 2000. Por todos, ver DIDIER JR., Fredie; ZANETI
JR., Hermes. Curso de direito processual civil: processo coletivo. 11. ed. Salvador:
JusPodivm, 2017. p. 498.
53 Observe-se que o próprio Rudiniki critica a visão de que a citação por edital seria
suficiente para prover requisitos de representação adequada da coletividade ausente.
55 Contra, afirmando que o CPC admite a coletividade como ré nas ações possessórias,
porque determina a intimação do Ministério Público para atuar e isso significaria o
reconhecimento de um direito transindividual subjacente, COSTA, Suzana Henriques da;
FRANCISCO, João Eberhardt. Uma hipótese de defendant class action no CPC? O papel
do Ministério Público na efetivação do contraditório nas demandas possessórias
propostas em face de pessoas desconhecidas, Revista de Processo, v. 250, 2015, edição
eletrônica.
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Ações coletivas passivas: por que elas não existem nem
deveriam existir?
60 PEIXOTO, Ravi. Presente e futuro da coisa julgada no processo coletivo passivo: uma
análise do sistema atual e as propostas dos anteprojetos. Revista de Processo, São
Paulo, v. 256, 2016. p. 229-254.
61 Gidi admite que o titular de uma patente poderia processar um grupo de empresas
para impedir sua violação (GIDI, Antonio. A class action como instrumento de tutela
coletiva dos direitos. São Paulo: RT, 2007. p. 390). É difícil imaginar como esse exemplo
poderia justificar até mesmo a citação por edital, quando os causadores da violação são
conhecidos e estão em lugar acessível. Mais ainda, justificar uma ação coletiva passiva,
para fazer a coisa julgada desfavorecer, individualmente, quem não participa do
processo.
62 NOTE. Defendant class actions. Harvard Law Review, v. 91, n. 3, 1978. p. 630: “they
expand the scope of collateral estoppel to persons not before the court in the prior
litigation. (…) by suing a defendant class representative, the plaintiff can bar all class
members, whether or not they appeared before the court in the class action, from
contesting the common issues”.
64 Esse argumento é utilizado por VIGLIAR, José Marcelo Menezes. Defendant class
action brasileira: limites propostos para o “Código de Processos Coletivos”. In:
GRINOVER, Ada Pellegrini; MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro; WATANABE, Kazuo
(Coord.). Direito processual coletivo e o anteprojeto de Código brasileiro de Processos
Coletivos. São Paulo: RT, 2007. p. 320.
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