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LICENCIATURA EM ARTE TEATRO

LEANDRO DE LIMA SOUSA ROCHA

A DONA DA POUSADA
(PERSONAGEM: MIRANDOLINA)
Percepções

SÃO PAULO - SP
2022
LEANDRO DE LIMA SOUSA ROCHA – LAT 03 (LAT 020)

A DONA DA POUSADA
(PERSONAGEM: MIRANDOLINA)
Percepções

Trabalho final de elaboração de


percepções a respeito da personagem
Mirandolina apresentado ao professor
Luis Fernando Viti de Freitas, como parte
das exigências para a conclusão da
matéria “Metodologia de Pesquisa”.

São Paulo, 29 de agosto de 2022.

A Comédia “A Dona da Pousada” narra a história de Mirandolina que é constantemente


cortejada por todos os homens que atravessam e ficam hospedados em seu estabelecimento. E
é de uma forma singular muito particular que somos apresentados a dois cavalheiros
“Nobres” que estão em um embate para conquistar tal mulher, são eles: Marquês de
Forlipópoli, um aristocrata, fidalgo apresentando atitudes nobres e distintas, que não tem nada
além de seu título e o conde de Albafiorita, um comerciante, que através de seu grande e
imponente sucesso no mundo dos negócios tornou-se parte da nobreza (Mas pelos seus
excessos consumistas e descontrolado em relação ao dinheiro não o vejo ficando muito tempo
entre tais nobres) . Os dois representam os extremos da alta sociedade veneziana da época. O
marquês, segurando em sua honra, está convencido de que a proteção é mais do que suficiente
para conquistar o coração de uma mulher, no caso da jovem Mirandolina. Por outro lado,
temos o Conde que acredita e prega que a nobreza comprada pode ganhar o amor de
Mirandolina, dando-lhe inúmeros presentes.

Uma das características marcantes de Mirandolina é que a mesma possui uma energia
estonteante e que tudo isso contribui bastante para a figura imponente representada pela dona
da pensão. Tanto é marcante o seu poder de sedução que se mistura com suas garras de
manipulação que a maioria, senão todos os homens que ali ficam hospedados acabam meio
que se apaixonando por ela e, sabendo desse poder, Mirandolina manipula-os como quer, e
acaba atingindo seus sonhos e desejos mais íntimos. O criado/mordomo Fabrício gosta dela
há muitos anos e sempre a pede em casamento. Ela, porém, ainda é jovem e quer se divertir
um pouco mais antes do casamento. Assim, deixa Fabrício no “banco de reservas” enquanto
aproveita a vida, mantendo o mesmo como seu criado, mantendo o mesmo ali sendo sempre
seu fiel escudeiro.

Além do Marquês e Conde também possuímos o misógino Cavaleiro de Ripafratta. O


engraçado é que o conde é um gastão, levando à loucura o pobre e mão de vaca marquês (que
nunca consegue igualar-se na riqueza dos presentes). Apesar de manipular espertamente os
dois nobres, Mirandolina está interessada principalmente no terceiro hóspede: o cavaleiro de
Ripafratta. Ele é inimigo declarado das mulheres e do amor romântico, afirmando que nunca
se apaixonaria. É um personagem divertidíssimo, claramente homossexual enrustido. Seus
discursos contra as mulheres na obra exploram e faz com que algumas das cenas se torne uma
das mais engraçadas da história do teatro. Sua misoginia transforma-o em alvo irresistível
para a sedutora Mirandolina. Conquistar seu amor passa a ser um desafio, um verdadeiro jogo
de poder.

Mirandolina é tão sagaz que ao receber duas mulheres em sua pousada e com seu raciocínio e
rapidez legal de formular ideias boas e generosas já dá um jeito de conseguir aliadas E elas se
chamam Hortência e Dejanira. Mirandolina poderia ser caracterizada dentro do reino animal
como uma raposa, uma tigresa e principalmente como uma planta em alguns momentos.
Mirandolina ativou o seu lado selva e conseguiu convencer as duas engraçadas atrizes a
continuarem representando papéis falsos de mulheres ricas. O plano é que seduzem o conde
de Albafiorita e o marquês de Forlipópoli, pois
desta forma iria conseguir tirar de seu caminho ambos nobres e daria espaço para que
Mirandolina possa “reprogramar” o inimigo das mulheres, neste caso o jovem impetuoso
cavaleiro de Ripafratta. As atrizes aceitam o plano por causa dos presentes que podem
arrancar dos nobres e adotam os nomes de Baronesa Hortência de Monteclaro e Condessa
Dejanira dos Bugalhos.

Enquanto as atrizes distraem o marquês e o conde, Mirandolina vai seduzindo o cavaleiro e


despertando os ciúmes do criado Fabrício. O cavaleiro resiste enquanto pode, mas acaba
sucumbindo aos encantos da hospedeira. Quando declara-se apaixonado, Mirandolina diz que
só queria provar o poder das mulheres e o despreza. Também ridiculariza o marquês e o
conde, enganados pelas duas atrizes. Vitoriosa, diz que vai se casar com Fabrício, mas fica
bem claro para o público quem é que vai mandar no casamento. Um desenlace
surpreendentemente feminista e poderoso para a época em que foi escrita a peça e a forma
leve de certa forma como é abordada a narrativa.

No fim do texto, Mirandolina dirige-se diretamente ao público: “Tirem algum proveito do que
aqui se passou. Saibam proteger os seus corações. E toda vez que eles vacilarem... toda vez
que estiverem a ponto de ceder, de cair, de perder-se... reflitam bem, e lembrem-se de
Mirandolina.”

“O texto literário não é um espelho, não pode ser lido de forma literal, mas, pela sua
verossimilhança, carrega aspectos do mundo real, apresentando características da sociedade
que ele representa. A ficção, portanto, não é o avesso do real, mas outra forma de captá-lo”.
(...)

O texto “A Dona da Pousada” apresenta características bem marcantes do aspectos morais e


pessoais da personagem Mirandolina, sendo que conforme citação abaixo fica evidente que a
mesma não era somente a patroa, mas que é um personagem construído para gerar uma
revolução tanto de pensamentos, quanto gerar o debate a respeito de suas crenças, desejos e
controle sobre a todos que ali ela deseja seduzir.

O horizonte de Mirandolina é bem este: o cálculo, a utilidade econômica, o dinheiro. Mas,


por trás disso tem também o orgulho de uma nova classe social. O interesse, o dinheiro, mas
não a qualquer custo. Não o dinheiro que vem da prostituição. O segredo de Mirandolina está
todo aqui: persegue o mito do dinheiro, mas concorda em não correr além do limiar do
abismo, atentíssima em não cair nunca no abismo. É desavergonhada, cínica, quase obscena,
no uso instrumental que faz da sua beleza, mas não se concede. Se vende psicologicamente,
mas não se vende fisicamente. (ALONGE, 2004, p. 57-58).

Vale destacar que as principais características de Mirandolina com base no texto de Teofrasto
é que a personagem utiliza de uma persuasão inocente que cativa a tudo e todos, utilizando de
sua empatia com seus clientes causando desta forma um grande alvoroço de seus “possíveis
pretendentes”. Mirandolina guarda em si um amor pelo Fabrício a quem prometeu casar-se.
Vejo muito uma figura carinhosa e até mesmo complacente do casal, que muito me soa que
todas as atitudes de Mirandolina sempre foram de plena ciência de Fabrício. Verdadeiros
cúmplices.

Outro detalhe que percebo é que Mirandolina também não era e não é inocente sendo que a
mesma é dissimulada e tem objetivos claros sobre sua cobiça.

Como diria C.S.Lewis sobre a cobiça:


“De que vale pôr no papel regras de conduta social se sabemos que,
na verdade, nossa cobiça, covardia, destempero e vaidade vão nos
impedir de cumpri-las? Não quero de maneira alguma dizer que não
devemos pensar, e nos esforçar, para melhorar nosso sistema social e
econômico. Quero apenas salientar que todo esse planejamento não
passará de conversa fiada se não nos dermos conta de que só a
coragem e o altruísmo dos indivíduos poderá fazer com que o sistema
funcione de maneira apropriada. Seria fácil eliminar os tipos
particulares de fraude e tirania que subsistem em nosso sistema atual;
mas, enquanto os homens forem os mesmos trapaceiros e
manda-chuvas de sempre, encontrarão novas formas de seguir
jogando o mesmo jogo, mesmo num novo sistema. É impossível
tornar o homem bom pela força da lei; e, sem homens bons, não pode
haver uma boa sociedade. É por isso que temos de começar a pensar
no segundo fator: a moral dentro de cada indivíduo”.

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