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Gestão Título

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Meio Título
Ambiente
Aqui
Gerenciamento Integrado de Resíduos de Serviços de Saúde

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Dr.ª Danielly Negrão

Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco

Revisão Técnica:
Prof.ª M.ª Josiane Travençolo Silva
Gerenciamento Integrado de
Resíduos de Serviços de Saúde

Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:

Fonte: Getty Images


• A Importância da Gestão Integrada
de Resíduos de Serviços de Saúde;
• Política Institucional Ambiental;
• Panorama de Resíduos de Serviços de Saúde no Brasil;
• Profissionais de Saúde e o Gerenciamento
dos Resíduos de Serviços de Saúde;
• Ferramentas Gerenciais na Área de
Sustentabilidade e Resíduos
de Serviços de Saúde;
• Reflexões sobre Práticas Educativas
e Concepções Pedagógicas.

Objetivos
• Conceituar o gerenciamento integrado de Resíduos de Serviços de Saúde (RSS);
• Exemplificar atribuições dos profissionais de saúde com foco na atuação do enfermeiro
como gestor de RSS;
• Relacionar estratégias gerenciais sustentáveis para resíduos de serviços de saúde com apli-
cação no cotidiano;
• Refletir sobre a política dos 4R – Reduzir, Reutilizar, Restaurar e Reciclar;
• Contextualizar práticas educativas como estratégias de transformação.

Caro Aluno(a)!

Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl-
timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material
trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.

Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você
poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns
dias e determinar como o seu “momento do estudo”.

No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões


de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e
auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de
propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de
troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE
Gerenciamento Integrado de Resíduos de Serviços de Saúde

A Importância da Gestão Integrada


de Resíduos de Serviços de Saúde
A gestão compreende as ações referentes às tomadas de decisões nos aspectos admi-
nistrativo, operacional, financeiro, social e ambiental e tem no planejamento integrado
um importante instrumento no gerenciamento de resíduos em todas as suas etapas –
geração, segregação, acondicionamento, transporte, até a disposição final –, possibili-
tando que se estabeleçam de forma sistemática e integrada, em cada uma delas, metas,
programas, sistemas organizacionais e tecnologias compatíveis com a realidade local.
Segundo a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) da Agência Nacional de Vigi-
lância Sanitária (Anvisa) n.º 306/2004, o gerenciamento dos Resíduos de Serviços de
Saúde (RSS) consiste em um conjunto de procedimentos planejados e implementados a
partir de bases científicas e técnicas, normativas e legais. Tem o objetivo de minimizar a
geração de resíduos e proporcionar aos mesmos um manejo seguro, de forma eficiente,
visando à proteção dos trabalhadores, preservação da saúde, dos recursos naturais e do
meio ambiente.
Com o planejamento integrado, a adequação dos procedimentos de manejo, o sis-
tema de sinalização e o uso de equipamentos apropriados, não só é possível diminuir
os riscos, como reduzir as quantidades de resíduos a serem tratados e, ainda, promover
o reaproveitamento de grande parte dos mesmos pela segregação de boa parte dos
materiais recicláveis, reduzindo os custos de seu tratamento e disposição final – que
normalmente são altos.

A gestão integrada de resíduos deve priorizar a não geração, a minimização da gera-


ção e o reaproveitamento dos resíduos, a fim de evitar os efeitos negativos sobre o meio
ambiente e a saúde pública. A prevenção da geração de resíduos deve ser considerada
tanto no âmbito das indústrias como também no âmbito de projetos e processos produ-
tivos, baseada na análise do ciclo de vida dos produtos e na produção limpa para buscar
o desenvolvimento sustentável. Além disso, as políticas públicas de desenvolvimento
nacional e regional devem incorporar uma visão mais proativa com a adoção da ava-
liação ambiental estratégica e o desenvolvimento de novos indicadores ambientais que
permitam monitorar a evolução da ecoeficiência da sociedade.

É importante, ainda, identificar ferramentas ou tecnologias de base socioambiental


relacionadas ao desenvolvimento sustentável e responsabilidade total, bem como às ten-
dências de códigos voluntários setoriais e políticas públicas emergentes nos países de-
senvolvidos, relacionados à visão sistêmica de produção e gestão integrada de resíduos
sólidos (BRASIL, 2006).

Os RSS têm sido uma fonte de preocupação para os gestores de saúde que estão
empenhados em solucionar, liderar e conduzir a transformação de suas instituições de
saúde, defendendo as políticas e práticas que impulsionam a saúde ambiental através
de políticas institucionais com foco na gestão ambiental, fomentando ações socioam-
bientais e, ao mesmo tempo, estimulando o uso mais consciente de recursos materiais,
evitando desperdícios, gerando menos resíduos e diminuindo os custos de gestão – prin-
cipalmente no gerenciamento externo.

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Embora se reconheça a importância da gestão dos RSS, há ainda certa dificuldade
para sua operacionalização e implantação da gestão integrada devido à pouca experiência
das administrações municipais e gestores hospitalares em equacionar com eficiência as
suas determinações, devido à diversidade de normas e regulamentações sobre o tema – e
ainda poderíamos citar a falta de conhecimento dos custos do processo.

Política Institucional Ambiental


Os compromissos de uma política ambiental devem estar baseados em quatro princí-
pios: atender à legislação, minimizar a geração de resíduos, prevenir a poluição e favo-
recer a melhoria contínua do processo.
A política dos 4R é um conjunto de princípios orientadores da gestão dos resíduos,
adaptados pela União Europeia em sequência da Conferência do Rio, em 1992, de-
vendo ser colocado em prática nesta sequência lógica e estratégica: Reduzir, Reciclar,
Reutilizar e Recuperar, ou seja, ações consideradas na elaboração de estratégias de ge-
renciamento integrado de RSS.
Ao analisar a evolução da gestão ambiental, percebe-se que na década de 1960 a
percepção foi o marco inicial e houve um “despertar” para o pensamento ecológico.
Na década de 1970, pensava-se no controle de uma forma de inspeção reativa, “primei-
ro gera e depois pensa no que será feito com o refugo”; na década de 1980, já se pen-
sava no planejamento, evitando-se erros desde o projeto, evidenciando um caráter mais
preventivo em relação aos futuros impactos ambientais. Mais recentemente, na década
de 1990, vigorou o modelo da sistematização, integração de todas as partes do sistema
de maneira proativa, monitorando os respectivos impactos ambientais e agora, no século
XXI, estamos na fase da conscientização e na Era da Responsabilidade Pessoal, em que
“cada caso é um caso”, com maior eficiência, agregando-se aos valores anteriores de
forma direta ou indireta.

MAIS PROJETOS

SÉC. XXI – CONSCIENTIZAÇÃO


Era da responsabilidade pessoal.

DÉCADA 90 – SISTEMATIZAÇÃO
Integração de todas as partes do sistema de
maneira pró-ativa, monitorando os respectivos
impactos ambientais.

DÉCADA 80 – PLANEJAMENTO
Tem caráter mais preventivo já que analisa
os futuros impactos ambientais. Objetiva-se
evitar os erros desde o projeto.
EFICIÊNCIA

DÉCADA 80 – PLANEJAMENTO
É a fase de inspeção totalmente reativa.
“Primeiro gera e depois pensa o que vai
ser feito com o refugo”

DÉCADA 60 – PERCEPÇÃO
Marco inicial, despertar do pensamento ecológico.

Figura 1 – Evolução da gestão ambiental

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UNIDADE
Gerenciamento Integrado de Resíduos de Serviços de Saúde

Panorama de Resíduos de
Serviços de Saúde no Brasil
No Brasil, dos 5.565 municípios, 4.518 prestaram, em 2017, os serviços de coleta e
tratamento para os serviços atinentes ao manejo dos RSS, levando a um índice médio de
1,2 kg por habitante/ano; o dado atual representa uma diminuição na geração de 0,04%
em relação ao total gerado em 2016 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE
LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS, 2017). Mesmo com toda a discussão
do tema e regulação dos órgãos fiscalizadores, o volume de RSS tem crescido ano a ano
no setor de saúde, de modo que este dado deve ser analisado com cautela, pois embora
tenha a sua importância no contexto geral de análise de resíduos, o segmento hospitalar
utiliza-se de outros indicadores como, por exemplo, da taxa de ocupação de leito e pro-
dução de RSS, assim como do número de atendimento dia e massa de RSS.

A redução de resíduos e sua adequada segregação são essenciais para a gestão inte-
grada avançada de RSS. Assim, ao reduzir e classificar apropriadamente os resíduos, os
serviços de saúde não só evitam os custos de destinação e os riscos ambientais, como
podem reciclar grande parte, reduzindo a quantidade de matérias-primas, energia e
processamentos requeridos para repor os produtos que usam. Por outro lado, quando
os resíduos perigosos são misturados com resíduos não perigosos (que poderiam ser
reciclados), os hospitais acabam incorrendo em custos adicionais para destinar maiores
volumes de resíduos perigosos, o que pode superar em muitas vezes o custo da destina-
ção de resíduos não perigosos (NOGUEIRA, 2014).

Os estabelecimentos de saúde podem cortar a geração de resíduos e as emissões de


gases de efeito estufa por meio da compostagem, reciclagem, melhorando sistemas de
compras e minimizando o transporte de resíduos mediante o seu tratamento e a sua
disposição em nível local.

É de fundamental importância conhecer o perfil de geração dos RSS, tanto no aspecto


qualitativo como quantitativo para a implantação de um Plano de Gerenciamento de
Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) e para a política de gestão integrada. A taxa de
geração de RSS servirá como base para a tomada de decisão sobre as ferramentas de
gerenciamento, considerando a minimização, segregação, reuso e recuperação desses
resíduos (BRITO, 2009).

Portanto, conhecer a composição dos RSS, as características do perfil de geração dos


RSS, tais como os locais que mais geram resíduos, horários de pico e os profissionais
envolvidos no processo é estratégico para direcionar fluxos e ações para minimizar o
volume e melhor gerenciar esses resíduos.

Com isto, estudos realizados pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e a


Organização Mundial de Saúde (OMS) relataram que a média de resíduos produzidos
por unidade de saúde na América Latina varia de 1,0 a 4,5 kg RSS/leito/dia, depen-
dendo da complexidade e frequência dos serviços, da tecnologia utilizada e da eficiência
dos serviços (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE, 1997; BRITO, 2000).

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Ao analisar a produção e taxa de geração de RSS de 12 hospitais que já tinham PGRSS
implantados em João Pessoa, PB, por sete dias consecutivos e em 100% da totalidade
desses resíduos, através de uma avaliação quantitativa em termos de massa, considerando
que a taxa média de ocupação dos leitos foi de 82% no período, chegou-se à seguinte
situação: taxa de geração de resíduos comuns de 1,136 kg/leito/dia, taxa de geração
de resíduos infectantes de 0,338 kg/leito/dia e taxa de geração de resíduos totais de
1,474 kg/leito/dia. Concluiu-se com esse estudo que o parâmetro quantitativo mais
citado foi exatamente a taxa de geração, sempre expressa em kg/RSS/leito/dia, mas
devendo ser usada com bastante cautela (FONSECA et al., 2006).

Na Cidade de Passo Fundo, RS, foi analisada a gestão de RSS em cinco hospitais, de
modo que o estudo mostrou que todos os hospitais segregam os resíduos, porém, apre-
sentando variação considerável de 17,54% de resíduos infectantes no Hospital B e em
outro – chamado de Hospital E – 4,3%, e 6% para o Hospital A, mostrando uma segre-
gação mais eficiente e passível de considerável redução através de medidas de educação.
Os resultados ainda mostram que nenhum hospital possui integralmente um sistema de
gestão de RSS que atenda à legislação brasileira e que as inadequações na sua maioria
são por falta de informações sobre o tema (SILVA; HOPE, 2005).

O enfrentamento desses problemas inclui o estabelecimento integrado de políticas so-


ciais, econômicas, institucionais e ambientais que busquem maior eficiência dos sistemas
de gestão nacional, regional e local, tornando-se uma estratégia importante na mitigação
ou reversão dos impactos negativos das modificações ambientais (NOGUEIRA, 2014).

A seguir veremos o envolvimento direto e as atribuições de diversos profissionais da


área da saúde no gerenciamento dos RSS.

Leia o Manual do panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2017 – edição especial de
15 anos –, elaborado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resí-
duos Especiais (Abrelpe). Disponível em: https://bit.ly/2OTA4Jt

O que você, como profissional de saúde, pode fazer no seu local de trabalho para contribuir
efetivamente no gerenciamento de RSS?

Profissionais de Saúde e o Gerenciamento


dos Resíduos de Serviços de Saúde
Profissionais de diversas áreas estão discutindo os inúmeros aspectos que perpassam
o tema de gerenciamento dos RSS, seja na perspectiva da gestão ambiental, aspectos
técnicos, legais, financeiros, políticas institucionais e outros tantos que têm relação direta
com a produção de RSS, ou ainda os impactos decorrentes de falhas no processo ou má
gestão. Daí a extensa bibliografia que o trata e que o mantém em evidência, sendo uma
temática muito atual.

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UNIDADE
Gerenciamento Integrado de Resíduos de Serviços de Saúde

Ao mesmo tempo existe uma tendência de crescimento do volume de RSS, como já


citamos, apontando para a necessidade de estratégias gerenciais que envolvam os pro-
fissionais de saúde que utilizam os recursos materiais, ou seja, que geram esses resíduos
ao longo do processo assistencial.

Todos os profissionais geram RSS, mas os da enfermagem, segurança do trabalho,


controle de infecção hospitalar, higiene hospitalar e qualidade de processo têm relação
mais direta com os PGRSS, pois normalmente participam da comissão de gerenciamento
de RSS e ocupam cargos estratégicos, com tomadas de decisões que podem impactar
diretamente na gestão dos RSS – veremos cada uma das áreas citadas.

A enfermagem desempenha um importante papel relacionado à gestão de RSS, de


modo que a temática se enquadra em gerenciamento de recursos físicos e materiais,
gerenciamento ambiental e de custos, não constituindo atividades simples, pois pressu-
põem o domínio de uma diversidade de legislações, conhecimento específico, interface
com todas as áreas assistenciais, administrativas e de apoio, compromissadas com o
meio ambiente e a qualidade de vida da população e dos trabalhadores.

Quanto ao gerenciamento de recursos materiais, o enfermeiro deve considerar


duas situações:
• A primeira como gestor destes recursos envolvidos nos processos de compras,
padronização de materiais, sistemas de estoques, formação de kits; e com o atual
tema dos ciclos eficientes de materiais e princípios de compras verdes – ligado à
gestão de recursos materiais de forma sustentável –, iniciando com a seleção de
fornecedores e materiais produzidos em cadeias de suprimentos social e ambien-
talmente responsáveis;
• A segunda situação é que a equipe de enfermagem tem um papel estratégico por
ser usuária direta de uma quantidade considerável dos materiais médicos hospita-
lares, principalmente os itens de consumo que consequentemente serão descar-
tados, dando origem aos RSS; ou seja, à efetiva segregação na fonte dos grupos
de resíduos e programas de reciclagem e de consumo consciente atrelados a esses
profissionais de forma estratégica.

Em muitos hospitais o enfermeiro é o responsável técnico pelo PGRSS e deve ter


uma visão ampla de gerenciamento, focando na análise do processo de trabalho e na
gestão de custos, que sempre é um forte argumento para buscar apoio da direção na
obtenção de recursos.

Os profissionais da área de segurança de trabalho atuam no mapeamento de riscos,


prevenção de acidentes de trabalho, tais como derramamento de RSS químicos, acidente
com perfurocortantes durante o transporte de RSS ou ruptura de caixa perfurocortante
e sendo responsáveis pelas medidas de contenção em casos de acidentes e a elaboração
do plano de contingência aprovado pela comissão do PGRSS.

Os profissionais da área de controle de infecção hospitalar estão envolvidos na padro-


nização de materiais médicos hospitalares e soluções de desinfecção de alto nível, na de-
terminação da frequência de troca dos dispositivos, ainda no critério de classificação dos
resíduos, uma vez que dentro da legislação existe flexibilidade para alguns itens dentro
do PGRSS da instituição e rede de referência do município, por exemplo, não adiantando

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segregar equipamentos ou frascos de soros em sistema fechado como resíduos do Grupo D
– recicláveis – se a instituição não tiver cooperativa de reciclagem interessada no recebi-
mento do insumo, ou ainda se não contar com mantas de não tecidos, utilizadas como
invólucros na Central de Material Esterilizado (CME).

Os profissionais que atuam na área de higiene hospitalar, os quais nesses últimos


anos ganharam importância e visibilidade nas grandes empresas de saúde, que passa-
ram a administrar e vincular esse serviço ligado ao setor de hospitalidade, envolvendo
áreas como hotelaria e engenharia clínica com a parte de manutenção e facilities
(departamentalização de consumos e custos); a denominação pode variar desde limpeza
hospitalar até governança, isso não importa, mas sim as atribuições ligadas a essa área
são fundamentais na gestão de RSS, realizando a parte operacional da gestão, tal como
a coleta I – retirada dos RSS do local de geração até os abrigos temporários e destes até
o armazenamento externo (coleta II), assim como atividades de reposição dos sacos co-
letores, higienização dos coletores e containers e a manutenção dos ambientes seguros
com o posicionamento correto e estratégico dos coletores.

Na realidade de muitos serviços, este especificamente é terceirizado, o que dificulta a


padronização das técnicas e treinamentos da equipe devido à rotatividade dos profissio-
nais. Na comissão de gerenciamento é parte integrante fundamental, pois vivencia as di-
ficuldades e muitas vezes traz os problemas e propõe as soluções; está mais próximo dos
outros trabalhadores e tem grande importância na classificação e segregação dos RSS.

Os profissionais de qualidade de processos estão envolvidos no mapeamento de pro-


cesso e na visualização de como, onde e porque esses RSS são consumidos e na propo-
sição de processos mais “enxutos”, que levam a menores desperdícios e consequente di-
minuição de geração de resíduos – retomaremos este tema adiante, com as ferramentas
de gestão da qualidade como uma das estratégias de gerenciamento de RSS.

Assim, torna-se notória a necessidade de conhecimento e envolvimento, por parte


dos profissionais de saúde destas áreas, tanto no gerenciamento de RSS quanto no
mapeamento de processos, na aferição dos custos do gerenciamento dos RSS, evitando
e reconhecendo os desperdícios nos processos. Os avanços na gestão de resíduos vêm
ocorrendo, refletidos pelo desenvolvimento de equipamentos e técnicas sustentáveis de
produção, pela pressão de diversos segmentos da sociedade, principalmente nos países
desenvolvidos, bem como pelo fator econômico, apontando para custos cada vez mais
elevados da disposição final de resíduos.

Ferramentas Gerenciais na Área


de Sustentabilidade e Resíduos
de Serviços de Saúde
Como vimos na perspectiva das organizações, o gerenciamento de RSS é um pro-
cesso complexo e oneroso, que envolve várias atividades interligadas, necessitando
de planejamento, recursos e estratégias de implementação individualizadas, pois sua

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Gerenciamento Integrado de Resíduos de Serviços de Saúde

execução depende da estrutura física, das condições de trabalho, da qualificação dos


recursos humanos envolvidos no manejo e comportamento de descarte de todos os
trabalhadores da saúde.

Um dos principais desafios da gestão de resíduos sólidos tem sido implantar e aper-
feiçoar ferramentas gerenciais que realizem o monitoramento e controle dos processos
de manejo de resíduos de serviços de saúde, de modo a desencadear processos de
mudanças baseados em dados reais e significativos para os serviços de saúde. Assim,
conferiremos práticas globais que podem contribuir no gerenciamento de RSS.

Agenda Global para Hospitais Verdes e Saudáveis (AGHVS)


A rede global de hospitais verdes e saudáveis é um projeto de Saúde Sem Dano (SSD),
contando com uma Agenda Global para Hospitais Verdes e Saudáveis (AGHVS), sendo
atualmente a principal referência de gerenciamento ambiental em saúde, de modo que
este documento tem macros objetivos nas áreas de liderança, substâncias químicas, resí-
duos, energia, água, transporte, alimentos, produtos farmacêuticos, edifícios e compras.

Nesse contexto detalharemos as ações relacionadas à área de RSS, atentando-nos aos


objetivos descritos por Karliner e Guenther (2013): proteger a saúde pública, reduzindo
o volume e a toxicidade dos resíduos produzidos pelo setor de saúde, implementando
ao mesmo tempo as opções ambientalmente mais apropriadas de gestão e destinação
dos resíduos.

A Tabela 1 apresenta as recomendações de ações gerenciais da AGHVS (KARLINER;


GUENTHER, 2013) na área de RSS:

Tabela 1 – Recomendações de gerenciamento de RSS da AGVH


Objetivo da AGVH
Ações esperadas para gerenciamento de RSS
para RSS
• Implementar critérios ambientais de preferência para compras e evitar materiais
tóxicos, tais como mercúrio, Cloreto de Polivinila (PVC) e produtos descartáveis;
• Criar uma comissão de gerenciamento e alocar orçamento específico para a gestão
Proteger a saúde de resíduos;
pública, reduzindo • Implementar um programa amplo de redução de resíduos que inclua, quando pos-
sível, evitar medicação injetável quando os tratamentos por via oral tiverem os
o volume e a mesmos resultados;
toxicidade dos • Separar os resíduos na origem e iniciar a reciclagem dos resíduos não perigosos;
resíduos produzidos • Implementar um programa amplo de treinamento de gerenciamento de resíduos
pelo setor de saúde, que inclua a segurança das injeções e manipulação de objetos perfurocortantes,
implementando assim como de outras categorias de resíduos;
ao mesmo • Assegurar que as pessoas que manuseiam os resíduos sejam treinadas, vacinadas e
tempo as opções usem equipamento de proteção individual;
ambientalmente • Introduzir tecnologia de tratamento de resíduos que não implique em incineração
para garantir que os resíduos que não possam ser evitados sejam tratados e desti-
mais apropriadas de nados de maneira segura, econômica e ambientalmente sustentável;
gestão e destinação • Interceder junto às autoridades públicas para que construam e operem aterros
dos resíduos. sanitários seguros para a disposição de resíduos sanitários não recicláveis;
• Apoiar e participar na elaboração e implementação de políticas de “lixo zero”, vi-
sando reduzir significativamente a quantidade de resíduos gerados em nível hos-
pitalar, municipal e nacional.
Fonte: Adaptada de KARLINER; GUENTHER, 2013

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Global Reporting Initiative (GRI)
Na tentativa de gerar relatórios de sustentabilidade mais completos, consistentes, con-
fiáveis e padronizados internacionalmente, a Global Reporting Initiative (GRI) lançou
as diretrizes para os relatórios de sustentabilidade. Este modelo é baseado no equilíbrio
entre os desempenhos econômico, social e ambiental – o chamado triple bottom line
(GASPARINO, 2006).

A GRI apresenta as diretrizes para elaboração de relatórios de sustentabilidade, as


recomendações ligadas aos RSS – descritas no Item N22, que trata das emissões, dos
efluentes e resíduos –; no item EN22 está registrado como essencial à composição do
relatório gerencial a quantidade total de resíduos, por tipo e método de eliminação,
ainda o número de derrames significativos e o peso dos resíduos perigosos transpor-
tados ou tratados.

Importante considerar que para gerar um relatório gerencial se faz necessário ter um
sistema de informação que forneça dados confiáveis e que possa ser retroalimentado –
neste caso, balanças de chão calibradas, containers que se adaptam aos carrinhos de
transportes para evitar manipulação dos RSS e exposição dos trabalhadores que mane-
jam tais resíduos.

No site do Hospital Sírio-Libanês está disponível o relatório gerencial de sustentabilidade


que utiliza essa ferramenta de 2017 a 2019. Consulte o item de resíduos e outros que possam
ser interessantes. Disponível em: https://bit.ly/3dDbJBY

Mapeamento de Processo e Gestão


de Custos no Gerenciamento de RSS
O mapeamento de processo é uma ferramenta gerencial e de comunicação que tem
a finalidade de fazer a descoberta das informações, pessoas ou unidades envolvidas,
capacidades, recursos que são necessários para entender aos processos. Esse entendi-
mento é imprescindível para a promoção de melhorias dos processos existentes ou para
implantar uma nova estrutura ou etapas voltadas aos processos.

Pensando em alcançar a gestão segura e sustentável dos RSS, a OMS determina que
todos os envolvidos com o financiamento e a gestão das áreas de apoio à assistência em
saúde devem prever os custos da gestão dos RSS em seus orçamentos (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2007).

Portanto, os governos são instados a alocar um orçamento específico para cobrir os


custos do estabelecimento e a manutenção de cuidados indiretos à saúde com os sistemas
de gestão de resíduos. Os fabricantes também compartilham a responsabilidade de levar
a gestão de resíduos em conta no desenvolvimento e venda de seus produtos e serviços
médicos – que seria a logística reversa. Além disso, este manual descreve alguns princí-
pios básicos que devem ser respeitados para minimizar esses custos, tais como produzir
menos resíduos para evitar a segregação e o tratamento de resíduos desnecessários,

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UNIDADE
Gerenciamento Integrado de Resíduos de Serviços de Saúde

dimensionar a capacidade e o design dos coletores e considerar as tendências futuras da


produção de resíduos e a probabilidade de legislação cada vez mais rigorosa.

Um processo é uma ordenação específica das atividades de trabalho no tempo e es-


paço, com começo, fim, input (entradas ou recursos) e outputs (saídas ou resultados) cla-
ramente identificados – ou seja, é a estrutura de ação do sistema (MAXIMIANO, 2000).

A gestão de processo também é uma das formas de melhoria no resultado do desem-


penho hospitalar, através do conhecimento geral do processo que leva a uma melhor
utilização dos recursos e redução de custos, inclusive na área de gestão ambiental e RSS
(NOGUEIRA, 2014).

As atividades gerenciais relacionadas ao manejo de RSS – considerando o gerencia-


mento intra-hospitalar – podem ser agrupadas em onze elementos funcionais: geração;
classificação; segregação; acondicionamento; coleta I; armazenamento interno; trans-
porte interno; coleta II; armazenamento externo de origem; pesagem; armazenamento
externo de destino.

A aferição de custos por processos permite o mapeamento das atividades que o com-
põe e o levantamento dos recursos envolvidos, o que possibilita a visualização de como,
onde e porque são consumidos e, assim, pode-se avaliar a sua utilização e remodelar o
processo (OKANO; CASTILHO, 2007).

A OMS (2013) publicou a segunda edição de um manual abrangente e amplamente


utilizado no mundo, intitulado Safe management of wastes from health-care activities,
que seria a gestão segura dos resíduos de atividades de cuidados de saúde, sendo a maior
referência mundial no manuseio seguro e sustentável de resíduos de serviços de saúde, e
pela primeira vez trouxe um capítulo que aborda o gerenciamento de custos, intitulado
Economics of healthcare waste management, que seria economia da gestão de resíduos
de saúde.

Toda atividade de saúde gera resíduos por si, de modo que se os recursos financeiros
são atribuídos de forma insuficiente para gerenciá-los no curto prazo, haverá custo fi-
nanceiro ainda maior a médio e longo prazo sobre a morbidade, mortalidade e os danos
ambientais, devendo ser o princípio norteador do gerenciamento de custos de RSS,
segundo a Organização Mundial de Saúde (2013).

Não basta traçar estratégias de redução de custos, fazendo-se necessário compre-


ender a sua composição com as particularidades de cada serviço para elaborar estra-
tégias sustentáveis.

Na visão de gestão de processo, muitas vezes existem etapas que podem ser elimi-
nadas ou otimizadas ao serem realizadas juntamente com outra já existente ou realizada
por outro profissional.

Como exemplo da aplicação da ferramenta, vejamos um fluxograma de processo de


resíduos químicos, mapeado durante o Doutorado de Nogueira (2014) e realizado no
Centro Cirúrgico do Hospital Universitário da Universidade São Paulo.

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Figura 2 – Subprocesso do Grupo B
Fonte: NOGUEIRA, 2014

Descrição do processo do Grupo B: após o término do ato anestésico cirúrgico nas


salas de operação, são gerados principalmente os resíduos químicos perigosos relacio-
nados a sobras de medicação anestésica e psicotrópica da Portaria n.º 344/98, que são
manipulados pelos anestesistas, enfermeiros e circulantes.

Após o término da cirurgia o enfermeiro tem um protocolo de conferência de me-


dicações utilizadas no paciente durante, de modo que caso já tenha sido gerado esse
conjunto de resíduos a equipe acondiciona os frascos vazios na caixa do kit de anestesia
– que fica no carrinho de anestesia –; tais resíduos são acondicionados em um coletor
químico centralizado na sala das enfermeiras.

Ligados às cirurgias são gerados resíduos como frascos vazios de formol, então acon-
dicionados em um coletor rígido com saco laranja, no abrigo intermediário e identifica-
dos com etiqueta autocolante e descartados quando atingirem a capacidade total; já a
substância química de ácido peracético, com uso relacionado à desinfecção de alto nível,
tendo validade de trinta dias após ser ativado o produto. Com isto, os frascos podem
estar vazios ou ainda preenchidos – independentemente disto, o fluxo será o mesmo,
identificado com etiqueta autocolante e descartados, no container branco infectante,
como resíduos químicos perigosos.

Os resíduos químicos não perigosos são os frascos vazios de álcool, hipoclorito de


sódio e acetona que, quando vazios, contarão com o serviço de higiene para realizar
a tríplice lavagem com água corrente, no Depósito de Material de Limpeza (DML),
transformando-os em resíduo plástico reciclado que será acondicionado em um saco
vermelho e descartado no container verde do abrigo intermediário do CC.

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Gerenciamento Integrado de Resíduos de Serviços de Saúde

Reciclagem de Resíduos de Serviços de Saúde

Diz-se muito em reciclagem, mas de fato o que é? Como colocar em prática na área da
saúde, onde ainda é tão forte o conceito de “lixo hospitalar”? Em que a população acredita
que tudo o que vem dos serviços de saúde está contaminado.

A definição de reciclagem que melhor se aplica à área da saúde é “[...] o processo de


transformação dos resíduos que utiliza técnicas de beneficiamento para reprocessamento
ou obtenção de matéria-prima para fabricação de novos produtos” (BRASIL, 2004).

Segundo a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n.º 306/2004, os RSS que po-
dem ser reciclados são os do Grupo D – resíduos comuns recicláveis –, lembrando que
este grupo também inclui resíduos comuns não recicláveis.

Os benefícios da reciclagem são: diminuição da quantidade de resíduos dispostos no


solo; economia de energia; preservação de recursos naturais e outros (BRASIL, 2006).

A maior parte dos municípios criou uma estrutura de gestão de resíduos urbanos,
onde as usinas ou cooperativas de reciclagem são geridas por Organizações Não Gover-
namentais (ONG) ou outro modelo de responsabilidade social compartilhada; na Cidade
de São Paulo, por exemplo, funciona através de cooperativas por região geográfica,
de modo que um hospital da Zona Oeste só pode fazer parcerias com cooperativas da
própria região onde a instituição está inserida.

Os resíduos frequentemente utilizados na reciclagem são: matéria orgânica, papel,


plástico, metal, vidro e entulho – um resumo de cada tipo se apresenta a seguir:
• Reciclagem de matéria orgânica – compostagem: é a decomposição da matéria
orgânica proveniente de restos de origem animal ou vegetal, por meio de pro-
cessos biológicos microbianos. O produto é chamado de composto e aplicado no
solo com o objetivo de melhorar as suas características, sem comprometer o meio
ambiente. As características do composto devem seguir as legislações específicas
do Ministério da Agricultura.
Em um estabelecimento de serviços de saúde pode-se encontrar a matéria orgânica
para a compostagem nos restos de alimentos provenientes da cozinha, das podas
de árvores, jardins etc.
A compostagem é um processo biológico em que microrganismos transformam a
matéria orgânica em adubo. A compostagem de resíduos orgânicos é uma ferramenta
importante para reduzir a quantidade de lixo descartado em aterros sanitários;

Leia sobre o projeto de compostagem caseira que impediu que 250 toneladas de resíduos
fossem descartadas em São Paulo, disponível em: https://bit.ly/3skf8Ki

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• Reciclagem de papel/papelão: é a técnica que emprega papéis usados para a
fabricação de novos papéis. A maioria dos papéis é reciclável.
Em um estabelecimento prestador de serviços de saúde a matéria-prima está nas
embalagens, no papel de escritório, incluindo os de carta, blocos de anotações,
copiadoras, impressoras, revistas, folhetos e ainda todos os tipos de papelão;
• Reciclagem de plásticos: é a conversão de resíduos plásticos descartados no lixo
em novos produtos.
Em um estabelecimento prestador de serviços de saúde podem ser encontrados:
baldes, garrafas de água mineral, frascos de detergentes e de produtos de limpeza,
garrafas de refrigerantes, sacos de leite etc. Alguns produtos de limpeza só podem
ser destinados à reciclagem após a tripla lavagem no estabelecimento gerador;
• Reciclagem de vidro: é um material não poroso e que resiste a altas temperaturas
sem que haja perda de suas propriedades físicas ou químicas. As embalagens de
vidro podem ser reutilizadas diversas vezes. O vidro é 100% reciclável.
Assim, todas as embalagens de vidro que não apresentem risco biológico, radioló-
gico ou químico, encontradas em estabelecimento prestador de serviços de saúde
podem ser recicláveis;
• Reciclagem de metais: engloba os metais ferrosos e não ferrosos. O de maior
interesse e valor comercial é o metal não ferroso, pois é grande a sua procura pelas
maiores indústrias.
Algumas embalagens, porém, não podem ser utilizadas para a reciclagem, tais como
latas de conservas alimentícias, de óleo, de tinta à base de água, de bebidas etc.;
• Reciclagem de resíduos da construção civil: é o reaproveitamento de fragmentos
ou restos de tijolo, concreto, argamassa, aço, madeira, entre outros, provenientes
do desperdício na construção, reforma e/ou demolição de estruturas da edificação,
sendo encontrados em estabelecimentos de saúde em construção ou reforma;
• Outros resíduos: tais como pilhas e baterias, lâmpadas fluorescentes e resíduos
tóxicos, contidos em embalagens como a lata de tinta, sendo passíveis de recicla-
gem com regulamentação específica.
Grande parte das vezes esses resíduos são encaminhados para reciclagem após o
processo de logística reversa, por demandarem alta tecnologia para a sua reciclagem.

Sem dúvida nenhuma o maior desafio da gestão de RSS na atualidade para os servi-
ços de saúde é gerar menos resíduos, de modo que detalharemos algumas possibilidades
de ferramentas da gestão da qualidade que são importantes como estratégias de mini-
mização de geração de RSS, podendo ser aplicadas pela instituição na identificação e
análise de processo, tais como:
• 5S: é a etapa inicial e base para a implantação da qualidade total, a metodologia 5S
é assim chamada devido à primeira letra de 5 palavras japonesas: Seiri (utilização),
Seiton (arrumação), Seiso (limpeza), Shitsuke (disciplina), Seiketsu (higiene). O Pro-
grama tem como objetivo mobilizar, motivar e conscientizar toda a empresa para a
qualidade total através da organização e disciplina no local de trabalho;

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Gerenciamento Integrado de Resíduos de Serviços de Saúde

• PDCA – Plan, Do, Check, Adjust: é um método iterativo de gestão de quatro


passos, utilizado para o controle e a melhoria contínua de processos e produtos.
É também conhecido como o Círculo/Ciclo/Roda de Deming, Ciclo de Shewhart,
Círculo/Ciclo de Controle, ou PDSA – Plan, Do, Study, Act. Outra versão do ciclo
PDCA é o OPDCA, onde a letra agregada O significa observação ou, como algumas
versões dizem, segure a condição atual;
• Diagrama de Pareto: é um gráfico de barras que ordena as frequências das ocor-
rências, da maior para a menor, permitindo a priorização dos problemas. Mostra
ainda a curva de porcentagens acumuladas;
• Método Lean: o termo Lean é relacionado a um processo genérico de geren-
ciamento derivado do sistema Toyota de produção. Lean significa principalmen-
te eliminar desperdícios ou atividades que não acrescentam valor numa linha de
produção ou em qualquer outro processo. À medida que não se gera desperdício
ou atividades sem valor, a eficiência se torna maior, os custos ficam menores e a
satisfação do cliente (em tese) é maior. Pode-se dizer que é uma forma de gerenciar
baseada no pensamento enxuto e de eliminação de desperdícios;
• Kaizen: prática comercial japonesa de melhoria contínua no desempenho e produ-
tividade; melhoria contínua de um modo geral;
• JIT – Just In Time: é um sistema de administração da produção que determina
que nada deve ser produzido, transportado ou comprado antes do momento exato,
relacionado ao de produção por demanda;
• 5W2H1S – o quê, quando, quem, onde, por quê, como, quanto: é uma forma
sistemática de especificar custos, prazos, metodologias e responsabilidades durante
a implementação de um plano de ação;
• Show: seria a aplicação de um indicador de eficiência.

Não importa muito o nome ou a ferramenta em uso, todas têm o mesmo objetivo,
que é mapear processos, levantar recursos envolvidos e custos, implementar melhorias
contínuas e avaliação por indicadores.
Essas ferramentas são importantes como estratégias de minimização de geração de
RSS, podendo ser aplicadas pela instituição de saúde de pequeno ou grande porte.

Minimização ou Não Geração de RSS


Para além dos requisitos mínimos, os centros de saúde devem adotar uma abordagem
organizada e sistematizada para o RSS.

Essa abordagem é necessária para conhecer os tipos e as quantidades de resíduos


produzidos em uma unidade de cuidados de saúde, sendo o primeiro e mais importante
passo na eliminação segura.

Dados de geração de RSS são utilizados para estimar as capacidades necessárias


para recipientes, áreas de armazenamento, transporte e tecnologias de tratamento.
Dados de geração de RSS podem ser usados para estabelecer informações de referência
sobre as taxas de produção em distintas áreas médicas e de especificações de compras,

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planejamento, orçamentos, fórmulas de cálculo de reciclagem, otimização de sistemas
de gestão de resíduos e as avaliações de impacto ambiental.

O processo de avaliação de resíduos oferece uma oportunidade para melhorar as


práticas atuais, sensibilizar os profissionais de saúde sobre os resíduos e determinar o po-
tencial de minimização de resíduos; de modo que implementar segregação rigorosa pode
evitar o excesso de dimensionamento de equipamentos e resultar na redução de custos.

A realização de uma avaliação formal na gestão dos RSS implica planejamento e


preparação, de modo que a partir de uma sistemática avaliação, pode-se:
• Identificar locais no estabelecimento de saúde onde a boa separação de resíduos é
realizada e a segregação precisa ser melhorada, criando unidades de referências;
• Determinar o potencial de reciclagem e de outras medidas de minimização de resíduos;
• Estimar as quantidades de resíduos hospitalares perigosos que necessitam de trata-
mento especial;
• Obtenção de dados para especificar a recoleta e o transporte de, ainda quanto ao
tamanho do equipamento, áreas de armazenamento, tecnologia de tratamento e
arranjos de disposição para se utilizar.

Reflexões sobre Práticas Educativas


e Concepções Pedagógicas
A existência de normas, rotinas e protocolos individualizados para cada realidade
é importante no gerenciamento de RSS e se faz fundamental para consolidar os con-
ceitos de biossegurança, mas por si não garante o cumprimento de tudo o que está
descrito e proposto.

De acordo com um estudo realizado por Caixeta (2005) em hospitais públicos do


Distrito Federal, o conhecimento dos profissionais de saúde sobre o conceito e as nor-
mas de biossegurança, a disponibilidade dessas normas e a realização de treinamento
em biossegurança no local de trabalho não influenciaram positivamente na redução de
acidentes de trabalho – este fato é importante quando se pergunta: quando? Como?
Onde? Por quem foi feito esse treinamento?

Quando se trabalha a educação com adultos no ambiente de trabalho os processos


mentais de aprendizado são outros, chamados de Andragogia, de modo que o conhe-
cimento deve ser problematizado a partir de uma realidade bem concreta, partindo
de exemplos reais tais como situações já vivenciadas pelo grupo e sempre apontando
soluções aos problemas levantados como prioritários, soluções e verdades – mesmo que
provisórias –, sendo importantes ao adulto – diferentemente da criança.

Neves e colaboradores (2006) questionam o conceito de educação que se tem ado-


tado nas instituições de saúde como treinamento e transmissão de informações, tal
como se o educando fosse um agente passivo – e não o treinamento e a sensibilização,
considerando-o como agente ativo, que participa do processo.

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Uma vez que o objetivo maior é gerar mudança de comportamento humano, terá
de haver ampliação da visão de educação, com novas estratégias e inovadores recursos
pedagógicos por parte das instituições, no sentido de informar, capacitar, sensibilizar os
profissionais envolvidos com RSS, provocando tomadas de consciência desencadeadora
de ações acertadas quanto às questões trazidas ao centro desta discussão.

Educação Permanente Ampliada


Embora não conste como responsabilidade legal do gerador, ressaltamos a impor-
tância da educação ampliada, ou seja, da informação e educação de outros segmentos
direta ou indiretamente envolvidos na gestão dos RSS.

Esse programa de educação ampliada pode se dar através de parcerias, estrutura de


rede, ações educativas específicas, eventos em datas comemorativas e materiais gráficos
informativos, especialmente voltados à comunidade do entorno, aos pacientes e outros
grupos que tenham algum contato ou influência na geração e gestão dos RSS.

Na educação ao paciente também devem ser produzidos materiais a respeito das


medidas de segurança, tais como classificação, segregação e descarte corretos e ainda o
manejo adequado de RSS voltados aos pacientes, acompanhantes e visitantes.

É necessário que estejam conscientes dos riscos envolvidos, sabendo que existem áreas
e grupos de RSS com maior risco e os tipos de RSS que são perigosos, assim como
devem ser informados sobre os procedimentos adequados em caso de acidente.

Já a educação da comunidade externa consiste em informar e educar o público em


geral: a população, especialmente as localidades próximas à unidade de saúde e pessoas
envolvidas na coleta dos RSS, ou ainda as cooperativas de reciclagem.

Como foi o último treinamento que você participou? Você faria igual? Por quê? Acredita
que contribui na formação dos profissionais?

Quando a educação permanente ampliada é introduzida nos serviços de saúde, con-


templando todas as dimensões citadas, torna-se potente instrumento de transformação
da realidade e principal estratégia de sustentabilidade nos serviços de saúde que, aliada
a todas as estratégias gerenciais e determinações que a legislação estabelece, cria um
efeito em cadeia que potencializa todas as iniciativas pessoais e áreas envolvidas e, com
isto, faz – e continuará a fazer – as transformações dos serviços de saúde quanto à ges-
tão ambiental.

O gerenciamento de RSS é um processo complexo e que necessita de planejamento, re-


cursos e estratégias de implementação com base nas particularidades de cada serviço de
saúde, pois sua execução depende da estrutura física, das condições de trabalho, da qua-
lificação dos recursos humanos envolvidos no manejo e comportamento de descarte de
todos os trabalhadores da saúde.
Profissionais de diversas áreas estão discutindo os inúmeros aspectos que perpassam o
tema de gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde, seja na perspectiva da gestão

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ambiental, dos aspectos técnicos, legais, financeiros, das políticas institucionais e de outros
tantos que têm relação direta com a produção dos RSS, ou ainda com os impactos decor-
rentes de falhas no processo ou de sua má gestão. Daí a extensa bibliografia que trata e o
mantém em evidência, sendo uma temática atual.
Ao mesmo tempo em que há discussão na mídia e nos serviços de saúde, existe uma
tendência de crescimento do volume de RSS, conforme já citamos, o que aponta para a
necessidade de estratégias gerenciais mais efetivas e que envolvam os profissionais de
saúde que utilizam os recursos materiais, ou seja, que geram esses resíduos ao longo do
processo assistencial.
Um dos principais desafios da gestão de resíduos sólidos tem sido implantar e aperfeiçoar
ferramentas gerenciais que realizem o monitoramento e controle dos processos de manejo
de Resíduos de Serviços de Saúde (RSS), de modo a desencadear processos de mudanças
baseados em dados reais e significativos para os serviços de saúde.
Assim, conhecemos as práticas globais mais atuais e que podem contribuir no gerencia-
mento de RSS, ficando a reflexão sobre a necessidade de ampliação da concepção de edu-
cação em saúde como potente instrumento de transformação.

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Gerenciamento Integrado de Resíduos de Serviços de Saúde

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