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Resenha

AVALIAÇÃO DE ESCOLAS E UNIVERSIDADES


Rosirlei Clarete Batista Pavão
Engenheiro Eletricista
Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza
Faculdade de Tecnologia “Prof. Wilson Roberto Ribeiro de Camargo”
rcbpavao@gmail.com

FREITAS, L. C. de (Org.). Avaliação de escolas e universidades. Campinas: Comedi,


2003. 184p.

O livro Avaliação de escolas e universidades, editora Comedi, 2003, da série “Ava-


liação: construindo o campo e a crítica”, organizado pelo professor Luiz Carlos de Freitas,
docente e diretor da Faculdade de Educação da Unicamp, aborda tema proeminente para
a educação nos últimos vinte anos: a avaliação institucional. Tema, com importância no
cenário educacional mundial atual, suscita indagações relevantes por parte da comunidade
escolar: “para que se quer avaliar?”; “como avaliar?” e “o que fazer com os resultados da
avaliação?”. A essas questões são acrescentados problemas de autonomia da escola e da
formação do educando, bem como a participação dos envolvidos no processo de constru-
ção de uma sociedade mais democrática.
A obra divide-se em três capítulos:
I. Questões e Propostas para uma Avaliação Institucional Formativa;
II. Avaliação de Escolas de Ensino Básico;
III. Avaliação Institucional de Escolas e Universidades: o debate.
No primeiro capítulo, os autores Isaura Belloni e José Ângelo Belloni fazem uma aná-
lise crítica à concepção implementada pelo Governo Federal, em especial no período pós-
1995. Discorrem sobre a predominância, em plano mundial do “Estado Avaliador”, confor-
me compreensão de Almerindo Janela1 cuja ideia central pauta-se na premência de que a
avaliação esteja voltada para os processos e para os resultados das atividades educacionais.
1
AFONSO, Almerindo Janela Avaliação educacional: regulação e emancipação. – 4. ed.- São Paulo: Cor-
tez, 2009. Cf. NEAVE, Guy (1988) “On the cultivation of quality, efficientcy and enterprise: an overview
of recent trends in higher education in Western Europe, 1986-1988. European Journal of Education, nos 1
/ 2, pp. 7-23; HENKEL, Mary (1991b) Government, Evaluation and Change. London: Jessica Kingsley
Publ.; O’BUACHALLA, Seamus (1992) “Self regulation and the emergence of evaluative state: Trends in
Irish higher education policy, 1987-1992”. European Journal of Education, vol. 27, nos 1 / 2, pp. 69-78.;
HARTLEY, David (1993) “The evaluative state and self-management in education: cause for reflection?”,
in J. Smith (org.) A Socially Critical View of the Self-Managing School. London: Falmer Press, pp. 99-115.

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Os autores visam responder à questão: afinal, o que entendemos por avaliar? (p. 13). Base-
ados em Hadji2 consideram que “A avaliação é uma operação orientada da realidade” (p.
129) e é marcada por duas tendências: a meritocrática – pautada pela lógica da regulação
e do controle, do cumprimento de requisitos e normas, voltada fundamentalmente, para a
identificação e a seleção dos melhores; e a formativa - dirigida para a efetividade científi-
ca e social da instituição. Para os autores, os critérios básicos de avaliação são: eficiência
– fundamentalmente os recursos utilizados e a gestão desenvolvida, eficácia – refere-se
ao resultado efetivamente alcançado do ponto de vista da formação para a cidadania, da
formação profissional, da produção e disseminação do conhecimento visado e; efetividade
social – critério de adequação da educação e da produção científica, simultaneamente às
necessidades técnicas do desenvolvimento e às necessidades sociais de todos os cidadãos.
Os autores apresentam uma metodologia para a avaliação do desempenho de univer-
sidades, sob o ponto de vista da eficiência produtiva e concluem que, para ser efetivamente
relevante, o processo de avaliação deve apresentar algumas características básicas: 1) seus
objetivos e finalidades devem estar voltados para a construção da mudança no contexto da
autonomia da escola; 2) ter caráter global, envolvendo as dimensões acadêmicas, política e
administrativa das instituições de ensino superior e do sistema das universidades; 3) deve ser
introduzida e desenvolver-se de forma autônoma da política governamental de curto prazo;
e 4) deve beneficiar-se do conhecimento cientifico e da experiência acumulada na escola.
Por terem participado da elaboração do sistema de avaliação da Universidade de Bra-
sília, os autores trazem suas experiências e considerações favoráveis sobre a avaliação com
caráter transformador.
O capítulo II, “Avaliação de Escolas de Ensino Básico”, escrito por José Francisco So-
ares, Maria Tereza Gonzaga Alves e Flávia Alexandra de Oliveira Torres Mari, analisa a
relação entre a origem social e o sucesso ou fracasso escolar. Nesse capítulo, o significado de
avaliação é tomado como “preparação para a ação” (p. 60) – quais as ações a serem tomadas
para melhorar a formação cidadã do aluno -, ao invés de “investigação para se identificar o
mérito” (p. 60) – recompensar os professores pelo fato dos alunos terem atingido o objetivo
e sairem-se bem na avaliação. Os autores observam que a escola assumiu outros papéis além
da função acadêmica, tais como (1) promoção de cidadania, ética, social (desempenhando
a função dos pais) e (2) desenvolvimento da autonomia pessoal e do pensamento crítico (p.
60). Assumem a posição de que “os processos avaliativos devem começar com os resultados
cognitivos” (p. 61). Concordam com o sistema adotado pela Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pelo Programa Internacional de Avaliação de Es-
tudantes (PISA), quando elegeu a proficiência em leitura como a primeira a ser medida, por
entenderem que a base da cidadania provém dessa premissa básica. Tecem comentários sobre
os resultados do Relatório Coleman (1966), assim como do livro Lês Héritiers3. Deixando-se
conduzir pela abordagem de Mintzberg4, os autores tomam a escola como uma organização
2
Hadj, Charles. Avaliação desmistificada. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.
3
BOURDIEU, P.; PASSERON, J. C. Les héritiers. Paris, Minuit, coll. << Le sens commun>>
4
MINTZBERG, H. The structuring of organizations. Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1979.

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social e apresentam uma descrição detalhada das etapas de um modelo de avaliação, a saber:
a) criação de uma visão comum, b) coleta de dados, c) análise dos dados e d) o plano de ação.
Salientam que os resultados cognitivos devem ser medidos, principalmente, com o objetivo
de melhorar a aprendizagem dos alunos (p. 72).
Substituem a teoria do “valor agregado” pela do “efeito da escola” para a medição do
valor adicionado à proficiência dos alunos. Baseiam-se em Willms5 para distinguirem dois
“efeitos das escolas”: os efeitos denominados do tipo A – que utilizam fatores que agregam
um maior interesse dos pais - e os efeitos do tipo B - que agregam, além dos fatores usa-
dos para o cálculo dos efeitos do tipo A, outros fatores contextuais que fogem ao controle
do sistema escolar, que interessam aos envolvidos nas decisões sobre políticas e práticas
educacionais (p.72).
Concluem que, se a divulgação dos resultados não for acompanhada de ações para
melhoria da escola, poderá haver efeitos colaterais indesejáveis, como resistência a mu-
danças e uso político dos resultados. Este fato coincide com as considerações anteriores,
feitas por Isaura Beloni.
O capítulo III, “Avaliação institucional de escolas e universidade”, transcreve um
debate desenvolvido entre especialistas sobre o tema, no qual participam: Isaura Belloni,
José Dias Sobrinho, Clarilza Prado Souza, Dilvo I. Ristoff, José Francisco Soares, Helena
Costa Lopes de Freitas, Telma Mildner, Ângela I. L. Dalben, Mara Regina Lemes de Sordi,
Bernadete A. Gatti, Sandra Maria Zakia L. Souza, Heraldo M. Vianna, Francisco Crezo
Franco Junior, Benigna Maria de Freitas Villas Boas, Maria Márcia Sigrist Malavazi e Luiz
Carlos de Freitas como mediador. O debate ocorreu a partir dos dois textos apresentados
anteriormente, nos capítulos I e II. Os participantes trazem suas posições e contribuições
em relação aos sistemas de avaliação e evidenciam a necessidade da análise da qualidade
da escola, considerando uma educação formativa ou emancipadora. Destaca-se a posição
de Bernadete A. Gatti, contrária às explicações que considera simplistas, sobre os sistemas
de avaliação, alegando que a responsabilidade por sua implantação cabe apenas ao Banco
Mundial - a partir do seu projeto intervencionista. Como pesquisadora, leva em considera-
ção a complexidade e contradições existentes na entidade, já que é composta por represen-
tantes de todos os países.
O aspecto comum entre os debatedores reside na preocupação com uma avaliação
que porte uma característica transformadora, contribuindo, assim, para a formação cida-
dã do educando.
Ao trazer o relato das experiências sobre a implantação de sistemas de avaliação na
universidades/escolas brasileiras, deixa o livro explícita a necessidade de nos preocupar-
mos com aspectos da formação social do aluno. A avaliação, com essas características,
também chamada de avaliação institucional formativa ou emancipatória, consideração ne-
gligenciada em muitos sistemas, são apresentados cuidados necessários à divulgação dos
resultados atingidos que, se forem observados, levarão a uma melhor harmonia na implan-
tação desses sistemas.
WILLMS, J. D. Monitoring school performance – a guide for educators. Londres: The Falmer Press, 1992.
5

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Dados do autor:

Rosirlei Clarete Batista Pavão


Engenheiro. Eletricista - Fundação Educacional de Barretos
Especialista pelo Programa Especial de Formação Pedagógica de Docentes
para Disciplinas do Currículo da Educação Profissional em Ensino
Médio – UNIMEP/SENAI
Mestrando em Educação – UNIMEP
Responsável local pelo Sistema de Avaliação Institucional na Fatec Tatuí.
Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza
Faculdade de Tecnologia “Prof. Wilson Roberto Ribeiro de Camargo

Submetido em: 14/05/2012


Aprovado em: 23/01/2013

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