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2- Marx denomina o capítulo XXIV do Volume I de O Capital de “A assim chamada

acumulação primitiva”. Por que ele assim procede? O que é, na verdade, a acumulação
primitiva para Marx, que processos estão nela contidos? Qual é seu objetivo, digamos assim?
Num primeiro momento, dinheiro e mercadoria não eram capital, assim como os
meios de produção também não. Para que isso acontecesse, era preciso que dois tipos de
possuidores de mercadoria se defrontassem os "...possuidores de dinheiro, meios de produção
e meios de subsistência…” e “...trabalhadores livres, vendedores da própria força de trabalho
e, por conseguinte, vendedores de trabalho.” (Marx, 1867, p. 515). Marx destaca que os
trabalhadores são livres entre aspas, pois não possuem os meios de produção, logo, são apenas
“livres” para vender sua força de trabalho sem amarras. Com essa divisão, estão estabelecidas
as bases para implantação do modo de produção capitalista, uma vez que:
A assim chamada acumulação primitiva não é, por conseguinte, mais do que
o processo histórico de separação entre produtor e meio de produção. Ela
aparece como “primitiva” porque constitui a pré-história do capital e do
modo de produção que lhe corresponde. (Marx, 1867, p. 515).

Para que a separação e expropriação dos meios de produção ocorresse, foram


necessários processos de extrema violência coercitiva no início, que fizeram com que os
trabalhadores fossem jogados à própria sorte na venda de sua força de trabalho, agora como
trabalhadores assalariados. Durante o processo de apropriação de terras no século XVI, a
apropriação era feita por meios individuais de violência e coerção, cuja legislação lutou contra
por 150 anos, mas sem sucesso. No século XVIII, houve uma evolução na expropriação, que
agora passa a ser realizada nos âmbitos legais, a lei agora passa a ser o instrumento de roubo
de terras, embora os primeiros métodos ainda fossem utilizados. Essa apropriação legal era
feita através das leis para o cercamento da terra comunal, “...decretos de expropriação do
povo, isto é, decretos mediante os quais os proprietários fundiários presenteiam a si mesmos,
como propriedade privada, com as terras do povo.” (Marx, 1867, p. 520). Essa usurpação da
propriedade comunal causou efeitos agudos na vida dos trabalhadores entre os anos 1765 e
1780, devido ao achatamento dos salários, que já não conseguiam mais atender às
necessidades básicas dos trabalhadores. (Marx, 1867).
No que tange a legislação sanguinária contra os expropriados no final do século XV,
Marx aponta que esses trabalhadores expulsos repentinamente de suas terras não poderiam se
inserir na manufatura com a mesma rapidez que foram formados. Com isso, se convertem em
mendigos, assaltantes, vagabundos, e surge uma legislação sanguinária contra a
vagabundagem, que tratava essas pessoas como delinquentes. As condenações pela
vagabundagem de pessoas consideradas aptas a trabalhar iam de açoitamento, amputação de
uma das orelhas, escravização legal e até morte em caso de uma terceira prisão por
vagabundagem. (Marx, 1867).
Por fim, para Marx, a acumulação primitiva significa a expropriação dos produtores
diretos, e que a propriedade privada nas mãos de trabalhadores e não trabalhadores possui um
caráter diferente. A propriedade privada nas mãos do trabalhador é o símbolo do
desenvolvimento da produção social e da livre individualidade.

REFERÊNCIA:
MARX, Karl. O Capital. Livro 1 [1867]. Capítulo 24. São Paulo, Boitempo, 2017.

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