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DA"
e d u c a ç a õ f y s i c a
D O S M E N I N O S ,
P A R A U S O
A D A
N A Q A Õ P O R T U G U E Z A ,
P U B L I C A D O P O R O R D E M
D A
A G A D E M I A R E A L DAS SC1ENCIAS.
POR F R A N C I S C O J O S É DE A L M E I D A ,
L I S B O A
NA OFFICINA DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS.
M. D. CC.XCI.
Com licença da Renl Meza da Ccmmipio Geral fobre o
me , i Cenjura dos .Livros.
P R E F A C I O .
IN-
T R A T A D O
DA
E D U C A Ç A Õ F Y S I C A .
A R T I G O
EXT RAH IDO DAS A C T A S
D A
A C A D E M I A R E A L DAS SCIENCIAS.
Da Sefsão de 18 de Maio de 1790.
PRE-
T R A T A D O
D A
E D U C A Ç Ã O F Y S I C A
DOS M E N I N O S ,
P A R A USO
D A
N A Ç A Õ P O R T U G U E Z A
I N T R O D U C Ç A Õ .
pi • p gj I
D O S M E N I N O S ."AS
palavra a mais leve impreífaó vai entender com os ner-
vos deite delicado fexo.
Por tanto as Mais que dezejaó paíTar fem molef-
tia o intervallo da prenhez, e ver na fua prole huma
vegetaçaó florecente devem ter as cautelas que vamos
apontar, e tendem a remover os incommodos neceílarios
deita modificaqaõ do útero. Pois fendo certo que os ner-
vos da matriz padecem com a fua fecundaçaó , e que
eíte padecimento fe fropaga a todo o fyítema nervolo,
induz convulsóes , e outros males communs á M ã i ,
e ao filho ; e que á proporqaó da debilidade da conf-
tituiçaó elles crefcem, e fe aggravaõ i o primeiro cui-
dado deve fer , que as Mais íèjaô robuítas ; em con-
formidade do que reprehendemos o coítume geralmen-
te admitido , e que fendo talvez origem ^nuitas ve-
zes de eíterilidade de ambos os fexos, influe pelo me-
nos muito na robuítez da prole ; e vem a f e r , contra-
hirem-fe efpoforios alues de eítar acabado o crefcimen-
to do corpo j nem completas as fuas ultimas dimen-
sões ; quando he certo que fó de Mais vigorofas naf-
cem crianças fadias , e fortes. Neíte erro cahem prin-
cipalmente"' as peíToas de certa ordem , confummando os
feus conforcios apenas apontaõ os primeiros finaés da
menítruaçao ; fem advertir que muitas vezes a textura
particular do útero débil, e laxa he caufa de menftruos
imtempeítivos. A experiencia confirma tanto eíta ver-
dade , que pelo commum as mulheres do campo menf-
truaÓ-fe mais tarde: e nos climas quentes , aonde a
conftituiçao geral do fexo he mui frouxa 3 as menítrua-
çóes anticipaô-fe muito.
Naó he pois de admirar que os filhos do luxo
fejaó definhados , e valetudinários, nafeendo de peífoas
debeis, e raó moças que precilaÓ ainda empregar em
feu nafeimento o fangue tênue , e defanimado , refulta
ás vezes de más, e tardias digeítoes. He verdade que
a/Tim mefmo conceberão, mas foi imtempeftivamente ,
A ii e
4 TRATADO DA E D V C A Ç A Õ F Y S I C A . "
c fò á cufta da fua precifa nutriqaô entretem a vida
do feto, debilitando-íe a íi; mal logrando as premiíías
da fua fecundidade , e gravàndo a ibciedade com hum
membro quaíi fempre inútil.
Ninguém duvida que a menftruaçaô nas peíToas
robuítas he hum fobejo ; mas examinando a denfidade
do Tangue menftrual nos primeiros tempos , achamos
hum loro mal corado, incapaz de nutrir. Outras ve-
zes deixa tanto abatimento efta*" evacuaçaõ que naõ
pôde fer efTeito de fobejidaó de fangue. Naó dedica-
mos pois a regra de que a época propria para a co-
habitaçao dos íexos he o tempo das primeiras menftrua-
ções , mas fim o da robkítez 3 e perfeito defenvolvi-
mento dos orgaós.
Tenha® igualmente para fi os homens a mefma
regra , e defenganem-fe de que em vaó procuraõ emen-
dar a fua eíterilidade, quando anticipados prazeres lhes
^aftáraò a natureza, e confumiraó toda a energia do
langue ; nem he mifter indagar outra caufa de extincçap
rapida das familias illuftres , e opulentas : e mal por
nós, que difficultofamente fe acautelaó abufos que eltri-
baÒ em propensões naturaes, paliando a fer quafi ne-
ceilidade os eíFeitos de hum eftimulo, que a imagina-
çaô efquentada por artifícios induzira antes de tempo
nos orgaõs genitaes.
O tempo que decorre dos dezoito aos trinta an-
nos lie pelo commum a idade mais propria para feme-
lhantes uniões. O Amor , e naô o intereíTe , ou a vai-
dade prefida ás convenções naturaes; pois raras ve-
zes faõ eftereis os cônjuges, que fe amaõ y e pelo con-
trario pouca fecundidade fe pôde efperar , quando elles
ligados fó por motivos viciofos mutuamente fe fogem,
e le aborrecem. He precifo eftarmos perfuadidos de que
a educaçaó fyfica caminha paílb á palio com a educa-
çaõ moral. Reformem-fe os coftumes , e logo haveraô
numeroías, fortes, e bem educadas familias. Sem vir-
tu-
dos m e n i n o s : 5?
«tude parecem cadeias pezadas os laços da uniac) conju-
gal : e bem eftamos vendo que nos bons tempos de to-
das as Nações foraò frequentes , e refpeitaveis eftes
vínculos fagrados, que l'aõ taô raros, e defprezados
entre póvos corrompidos, fem moral, e fem doítrina.
Ora , fe os conforcios fe formão fegundo as leis
da natureza , cedo apparecem os primeiros linaes de con-
cepção , e como he^precifo para regular a fua diera,
que as Mais fe advirtaÓ do eítado da prenhez , eu ex-
p i e i os fymtomas que podem prometter alguma pro-
babilidade , e feriaõ quafi infalliveis, fe a degeneraçaó
do fexo naó induziífe doenças confundidas de tal mo-
do com a geftaçaô, que illudem os práticos mais expe-
rimentados.
A fufpenfaõ dos menftruos por mais d i duas luas,
naó havendo precedido defarranjo a que fe polfa attri-
buir como doença $ .as naufeas, os vomitos; o f o n o ,
o calor augmentado nos genitaes, a irregularidade dos
appetites ; huma certa indifpoíiçaõ inexplicável na eco-
nomia animal j a groíTura do ventre elevado uniforme-
mente por toda a parte , em figura mais ou menos
arredondada ; a entumefcencia , e dureza dos peitos•>e
do terceiro mez por diante as mudanças que o útero vai
íucceífivamente foífrendo fenfiveis ao toque, faÕ fympto-
mas baftantes para indicar com probabilidade o eítado
da prenhez.
Todavia nao deixemos efquecer que ha muitas
doenças da matriz equivocas, como diííemos., com os ef-
fêitos da concepçaò. Os fcirros , ou obftrucções do úte-
ro , e as fupprefsões de mezes trazem comíigo pezo
de cabeça , fonolencia, elevaçaó de ventre, entumef-
cencia do feio , faílio, nauleas , inchaçaõ das pernas,
e tudo o mais que fe pafla na verdadeira prenhez : he
verdade que eftes fymptomas da falfa prenhez vem fem-
pre acompanhados de grande defordem na economia
animal.
Do
6 TU ATADO D A E D U C A q Ao F YsicA
D o que temos dito claramente fe conclue , que a
prenhez naõ he huma doença no eftado natural, e que
fò precifa remedios , fe excita incommodos. E fe naó
obferve-fe como ainda hoje as felvagens errantes con-
cebem , parem, e caminhão. O parto , e a prenhez faó
para ellas acções tao naturaes como a concepção. A
natureza que prefidio a taes ajuntamentos acaba ella
mefma a fua obra.
Mas no eftado de hoje a j#enhez vem as maiâ
das vezes acompanhada de fymptomas muito m o l e f t ^ ;
fendo huma das primeiras caufas delles a retenção das
fezes procedida tanto dos erros na dieta, como da com-
preíiaõ dos inteftinos , maior , ou menor fegundo o
volume do útero , e a fua íituaçaò. As naufeas, e os
vomitos , f e i t o s do intimo confenfo dos nervos d o .
eftamago com os da matriz, faõ males ás vezes irreme-
diáveis , e de que bem poucas mulheres efcapaô; mas
concorre a aggravallos muito a fordidez do canal intef-
tinal. Daqui vem que hum dos mais importantes con-
íelhos nefte periodo, he ode confervar-lhes o ventre lú-
b r i c o , e prompto.
A s hortaliças, e frutos, alimentos que unem á qua-
lidade nutriente a virtude de laxar , faó-lhes muiro
úteis ; mas pelo commum indifcretamente vedados. E
quando elles naõ baftem para entreter a lubricidade do
ventre, os clyfteres de oleo , e aíTucar enchem a mef-
ma indicaçaõ. Encontraó-fe ás vezes prenhes de intef-
tinos taó debeis , fezes tao refeccadas , e cujo útero fe
encofta tanto fobre o inteftino r e d o , que he preciíò
recorrer a purgantes.
Outras vezes fuccede que a cólera , hum dos dií-
folventes da digeftaô , por qualquer caufa venha a fer
redundante, ou viciada de modo que induzindo efpaf-
mos trasborda para o eftomago , excita naufeas , e vo-
mitos : alumia febres ardentes , e portanto ..deve fer
promptamente evacuada. O emetico he o melhor, e
tal-
D O S M E N I N O S ."AS
talvez o único remedio nefte c a i o ; portanto percaõ-
fe receios vaõs, e intempeílivos ; -pois que o vomito-
rio naõ facode iaõ violentamente a noíía máquina , co-
mo a toíle catarrofa pelo commum tao ferina , que pa-
rece defconjuntar as mais firmes articulações dos oílos;
mas nem por iíTo fe feguem logo abortos. E u nao
duvido que huma conítituiçaõ nimiamente delicada , e
fenfivel eítranhe muito a acçaõ a&iva do emético , e
que por acafo , p9fto que eu o nao tenha vifto em
minha praftica , abortem alguma vez as mulheres pre-
nhes em confequencia do emético mas fe as^ indica-
ções o pedirem he precifo miniftrato ; e naó perder
por huma prudência extemporaa a M a i , e o filho.
Se he muito culpável o M e d i c o , que fem fe apofr
far das caufas da moleftia lança logo mag de reme-
dios mais a f t i v o s , taõbem naó he innocente o que fi-
ca ociofo exoeftador do apparato violento das febres
biliofas, cholera morbus, e outras moleílias, que exir
gem huma prompta evacuaçaõ , e efpera de bom ani-
mo , que apodreça a cólera , a doente coufumida de
ancias, e affiicções , mirrada com hum fogo devorador
vá acabando a miferavel vida ; mas que importa mor-
rer a doente fe o Medico tem faiva a fua reputaça-6?
Naõ p u r g o u , nem emétizou. Oh Santo Deos, que bar-
baro talento,he efte de fazer fortuna ! Como fe torna
v i l , e defprezivel a Arte Medica aífim adulterada 1 Sc
taõ'poucas vezes pveftamos aos doentes , para que he
perdelas ? Os remedios fervem fò na boa occaziaÕ, po-
rém quando efta fe apprcfenta , he mifter aproveitala.
N a õ poífo deixar ainda efta materia ; fem inftar
de novo fobre a neceílidade de purgar brandamente 110
tempo da prenhez ; pois que a maior parte das mo-
leílias defte periodo l á õ , como diílemos muito auxilia-
das pela accumulaçaõ das fezes no canal inteíHnal ; e
por certo que os exeretos empedernidos nos inteftinos
aiudaráõ muito a comprimir os v a l o s , e a aggravar os
fym-
8 TRATADO DA E D V C A Ç A Õ F Y S I C A . "
fymptomas da elevaçaó do útero, afora os danos pro-
cedidos dos effluvios podres , ou gaz inílammavel , que
d'elles fe folta , e que exerce huma virtude ièdativa l'o-
bre o fyftema nervofo, e induz ou vai predifpondo pa-
ra as febres nervofas, da familia das podres. Como
faó as puerperais, as de leite, e a meliar, que ás ve-
zes bem de traz derivaó a fua origem.
Agora pairemos a outro artigo nada menos inte-
refíante , e aonde os abufos nu§ca faó indifferentes.
Vem a fer que indifcreta , e indiílinftamente fe fangraò
parte das mulheres prenhes , attribuindo-fe á pletora lym-
ptomas que ordinariamente ceíTaó com a evacuaçaõ do
canal inteílinal. Tudo para os Difcipulos^ de Botallo,
c de Sthaal faá confequencias de profufaó de fangue,
c por defgraça os feus argumentos tem huma força ap-
parente que pòdç illudir ainda as mefmas peííoas de
rafaô; faltando-lhes os principios para decidir em ma-
térias femelhantes. O fangue dizem , elles, que fe eva-
cuava periodicamente era fobejo no equilibrio do fyf-
tema vafcular, e agora demorado no tempo da pre-
nhez , fica perturbando a economia da circulação ^ don-
de vem as caimbras , dores de virilhas; e região lom-
bar ; os vômitos , as fuíFocaçóes, fyncopes, e abortos.
Mas de preíía fe defmentem theoricas que naô ef-
tribaó na natureza ; naó fe advertem eítes Miniftros fan-
guinarios , de que o feto abforbe em fi tôdo o fangue
que fazia o importe das evacuações menfais. O embrião
he hum átomo invifivel em fua origem , e vem depois
a ganhar tanto pezo , que ainda contando as menílruaçoes
a 7 onças, ellas naó igualao em fomma a maíTa de hu-
ma criança de tempo. D'aqui fe tira que experimen-
taó maior desfalque as mulheres prenhes, acodindo á
vegetaçaó do feto ; e que nao lhes fobra fangue , a
que poíTaó attribuir-fe os gravilTunos incommodos que
as vezes apparecem no tempo da prenhez. Além diílo
natf c o n f e m ó o mefmo appetite durante eíte periodo
nem'
D O S M E N I N O S. 9'
nem' podem por confequencia criar a mefma quantida-
de de fatigue. Agora naõ entra em duvida (tallo pe-
lo commum) que a fangria defneceíTana muitas ve-
zes , até em alguns calos vem a fer prejudicial enfra-
quecendo a M a i , e debilitando o filho, quando nao os
mata a ambos. • i i
Eu naõ quero dizer, que n u n c a a íangria tenlia lu-
gar, antes ao contrario muitas vezes tenho fangrado,
quando encontro hum pulfo forte , largo , e duro i
principalmente fe as f a c e s , e beiços eítaõ nimiamente co-
rados , os olhos fcintillantes, a cabeça perturdada , a rel-
piraçao difficil, e opprimida ; e fe antes da prenhez os
menítruos eraõ copiofos, e o appetite continua fem dimi-
nuição , e ás vezes augmentado. Neftes cafos tres , ou
quatro onças de langue tirado em duas fangaias acalmao
de repente todo o apparato de cólicas , caimbras, al-
ma , convulsões, fyncope , retenção de fezes, fupprei-
sdes de ourinas , edemas, e anafarcas.
He de notar, que muitas vezes fomos neceíiitados
a condefcender com o habito , e fangrar fó porque a
doente eftava ncfte coftume , pois que a repetição, da
fangria he liuma das caufas da plethora , e o abulo vem
a fazer necefíario o mefmo que reprehendemos. l o r
tanto como naó eftamos ligados a fyftema algum , mas
fecuimos a natureza que nos guia , e nos enlina j de-
pois de tentar em vaS outros remedios, recorremos em
fim á fangria, e com ella ás vezes atalhamos gravil-
fimos fvmptomas. Mas poupemos fempre, quanto po-
der fer , efte fluido vital, nunca tão neceflario como no
periodo da prenhez. . ,
Muitas vezes í u c c e d e , crefcendo mais o útero >
que a b e x i g a , como j a z debaixo delle entalada c o m
o inteílino , fe comprima , c nao poíla.defpejar a ouri-
na ; mas nem por iííb fe deve fangrar logo., íem pri-
meiro examinar fe ha outras caufas, pois que o aper-
to dos cozes das f.iias , e conítragimeuio dos e l p a m -
3 lhos
IO T R A T A D O DA E D U C A Ç A Ó FÍSICA
lhos concorre müito para eítes incommodos. Por tan-
ta he confelho faudavel, e de hum grande Prático
Í[ue em vez de colchetes ufem as mulheres de fittas em
uas faias > as quaes ligadas poítçriormente aos colettes
as fufpeadaó , deixando o ventre mais defaffrontado.
E nao baftanda efta cautela* ufem de hurna cinta , que
fem apertar o ventre > o. iuftenha , e arrede aílim o
volume do útero de cima da b e x i g a fe naó aproveitad
eílas cautelas, recorre-fe á Algalia > mas auxilios da ar-
te na6 pertencem a efte lugar.
Finalmente deve harer muito cuidado,, em naô con-
fundir com os eíFeitos da plethora os incommodos, que
provêm da elevaçaó do útero,, o qual comprimindo os
vafos y irnerrompe a ekculaçaó , e impede a acçaó dos
nervos > donde provem caimbras , e efpafmos de todo
o genero. Em, taes cjrcumltancias as limonadas de áci-
do vkriolico laó remedio a g r a d a r e i e muito oppor-
tuiio y com. ellas tenho remediado cafos refervados ao
recúrfo. da lanceta ,, e que até entaó fempre aílim fo-
ra6 tratados, em. damno da doente r que obrigada pe-
lo coíhmiè hia pouco > e pouco perdendo as forças r
e quando naó abortava , raras vezes lhe vingavaõ fi-
lhos fadios, e fortes.
Paliando agora ao artigo da dieta: parece-me mui-
ta importante > e difcreto que fe refpeitem os coftu-
mes y e que as mulheres pienlies alterem mui pouco
em fuás mezas. Advertindo fempre ,, que os jantares fum-
ptuofos eftragaõ os, orgaõs da dtgeftaó : os molhos, gui-
fados y e maífas além de ferem mui difficultofamente difr
folvidos, miniíh-aó hum, C h y l a g r o í l e i r o , que empaftado
nos vafos laíleos dificulíofamente fe animaliza. M a l
podem taóbem convir no tempo da prenhez as carnes
de f u m o , peixes feccos, e falgados, ainda mefmo que
foffem até aíli bem commutados > pois alimentos taó grof-
íeiros fó á força de huma lida muito aéliva fe diri-
g e m : mas n o tempo da prenhez naó convém m o v i m e n -
tos
DOS M E N I N O S ."AS
tos fortes, nem marchas longas, e aturadas. Pofto
que o alimento vegetai feja , como já diflemos, hum me-
dicamento para as mulheres prenhes, com tudo as hyf-
tericas, e hypochondriacas devem moderarfe em feu uib;
porque pode-induzir-lhes diftenções , ou flatulências ,
íòltando-fe os gazes qüe entraô em fua compofiçaõ ; mas
tenhaõ fempre para í i , que os fruftos , e hortaliças amar-
gas faõ , além de alimento, remedio proprio para relaxar
o ventre , que por então fe diffículta, e por tanto ef-
ta cautela deve entenderfe em certos termos
Taõbem naõ çoffo convir com o juizo de alguns
práticos, que aconíelhaõ ás mulheres prenhes naõ def-
continuar no ufo dos liquores, e bebidas fermentadas *
como faõ aguas-ardentes , vinhos , e cervejas. Eu ao
contrario, crendo mui pouco em defvarios i a prenhez,
aconfelho , que nem para fatisfazer defejos fe fuppoiten
abufos femelhantes, e fó poíío coníentir no ufo do vi-
n h o , pois que he remedio em conftituições fracas, e
ainda aífim deve fer moderado. Igualmente reprovo o
ufo do c h á , e do cafFé por coftume ordinário ; tcdas
eftas bebidas mornas naõ fó faõ relaxantes , mas até
narcóticas , offenfivas dos nervos, e fecundas produ-
t o r a s de paralyíias, e apoplexias principalmente nos
paizes quentes. E fe ha hum , ou outro cafo, em que
o chá , ou o caffé firvaõ de remedio , naõ fe contemplaO
a q u i , aonde fe prefcrevem regras geraes.
Como nos propozemos prefcrever o tratamento das
prenhes, em relaçaõ á conlervaçaõ do feto, naõ po-
demos deixar de advertir as cautelas mais necelíarias
para evitar abortos , e melhorar a faude das Mais.
Olhando pois a debilidade, e mobilidade geral do lyí«
tema como a caufa de grande parte dos incommodos
defte periodo, tenho para mim, e figuo em minha prá-
tica em cafos de muita frouxidão ufar da quina , e
naõ me efqueço das aguas gazofas , e férreas; Como
taõbem c o m e c o , q u a f i do primeiro mez, com cs banhos
B ii
12 TRATADO DA EüUCAqAo FYSICA
moderadamente frios. He verdade, que as pelíoas mui-
to fenfiveis ás vezes naõ fiipportaõ o ufo da quina : neí-
te cafo a QuaJJia amara y como tenlio experimentado
por mais de quatro annos, he mui proveitoía, ainda
que naõ- confio mais na fua virtude adftringente, do,
que na da raiz de Genciana.. Ha taõbena muitas oc-
cafiões em que dou o efpirito de vitríolo na doze de.
feis > ou dez gottas ,. diluido em quatro , ou cinco on-
ças de agua, adoçado com aífucar, e fe ha fymptomas
hyftericos , ajunto a arte limonada tres até feis gottas de
diífoluçaõ de opio. Deita afte me firvo para hir pou-
co e pouco defterrando- a prática abuíiva da íangria 7
e poupando o liquor animai, que nos vivifica com a
efperança de que algum dia a pofteridade, reintrando em
feu antigo" v i g o r , abençoará o noifo, trabalho , e os
nolfos defejos-
Sendo pois, como d i í f e m o s a debilidade do fyf-
tema nervofo e os encalhes da circulaçaõ as duas cau-
fas de quali todos os defarranjos no tempo da*prenhez ^
eftá claro que o exercício moderado pode ler mui-
to util ás mulheres prenhes ; pois que a experiencia
nos moftra- os muitos tropeços que a circulaçaõ encon-
tra em feu giro , fendo a refpiraçaõ das prenhes pelo
commum mais frequente , e mais curta : as extremi-
dades inferiores , e os genitaes inchaõ-lhes, e ás vezes
tanto, que lhes tolhem todo o movimento ; e para nos
convencermos do muito que a refpiraçaõ ha de foffrer,
baila refletir , em que o útero remontado eleva o ef-
tomago , embaraça a acçaõ do diafragma, e o bofe naõ
pode dilatar-fe , nem recolher o fangue que por alli.de-
ve circular, e embeber-fe do ar vital, principio efti-
mulante das contracções do coraçaõ. Igualmente eftá na
ordem dos fucceffos da prenhez a inxaçaõ das pernas
pois que os humores fubindo lentamente contra a lei
geral da gravidade , e levando mui pouca força para
vencer a compreífaõ, que o utcrp induz fobre os va-
DOS M E N I N O S ."AS
fos adjacentes , retardaõ feu curfo , e eítagnaõ-fe nas
extremidades.
Do aue eftá dito fe fegue, que tudo o que remo-
ver os obftaculos á circulaçaõ do langue ferá muito util
ás prenhes. O exercicio concorre a coníervar o giro
dos noíTos líquidos; pois que os mufculos eftando em
contracçaõ expremem os vafos fubjacentes : as^ veas ,
como decorrem mais á fuperficie experimentaõ maior
compreflaò , , e os humores naõ podendo recuar porque
empécem nas valvulas deftes vafos y neceíláriamente vaõ
progredindo até o coraçaõr Advirta-fe porém que ef-
te mefmo exercicio, aliás taó util, deve ler moderado j
pois quando he violento induz abortos, e fulfoca a ref-
piraçaõ.
"Aílim fe devem hir conduzindo as mulheres pre-
nhes , até q.ue o feto, ganhando vigor para entrar em
huma nova fôrma de vida , por fi fe defpegue : Entaó
as caimbras , ou dores de lombos, que vem morrer nas
arcadas do pubes, aonde chamaô feixes, o humor que
fua do útero , e algum fangue advertem as Mais de
que o feu parto eftá eminente. Neftes termos, intro-
duzindo o dedo no orifício da matriz , fentem-fe al-
ternadas contracções , e dilatações rápidas.
Podem finalmente eftar feguras as mulheres, que
fe conduzirem por todo o tempo de fua prenhez fegun-
do as regras prefcriptas,. que pouco receio lhes deve
fazer eíta revolução natural, precifa , e as mais das ve-
zes util a ellas mefmas ; pois he já de mui antiga ex~
periencia que as Mulheres Mais naõ perdem nada em
í m robuítez nem taõ pouco encurtaõ fua duraçaõ.
TEA-
T R A T A D O
D A
E D U C A R A Õ F Í S I C A
A R T I G O L
A R T I G O II.
nos cahe nas maós, fem attender , que naõ fe pode es-
tabelecer de repente huma nova forma de vida , e cei-
far em hum inftante a lei que regulava a antiga' cir-
culação.
Como he noffo coftume , que aífrm apprendemos de
Defcartes , duvidar de todas as propofições admittidas ,
em quanto naõ paífaõ por hum efcrupulofo exame j e
como por outro lado , depois de obíervar a natureza,
preferimos antes eftuâar a razaô dos feus procedimen-
tos, do que eftranhalos j o mefmo fazemos na prefen-
te materia , reflectindo fifudamente fobre o que» fe paf-
fa na economia particular do feto , por eifeito da paf-
fagem do útero maternal para efte oceano, que o banha
de improvifo , e defde logo inflüe* cílencialmente^ em
todas as fuas acções.
Antes do nafcimento o mecanifmo da. circulaçaõ
dependiam do ligado como do orgaÕ mais indifpenla-
vei a eíle officio ; por elle fe.conduzia até ao cora-
ção toda a malTa do fangue, que devia íervir ao des-
envolvimento do embrião , em tanto que. o Ipofe efta-
va quaíi ociofo. A ' excepção de pouco fangue , que
por hum pequeno ramo fe efcapava para efta entra-
nha , o total lançava-fe de huma cavidade na outra do co-
raçaó por meio de hum buraco , que depois do naf-
cimento quafi fempre fe cicatriza. Mas- nafce a crian-
ça , o bofe começa logo a jogar nefta máquina : a ir-
ritação da atmosfera , a imprelíaÕ viva-, e dolorofa ,,
que experimenta o Menino em taò repentina, e extra-
nha revolução , o mefmo choro faô talvez eftimulos ,
que concorrem juntos a contrahir os mufculos, quê2
elevaõ a arca do peito , feguindo-fe logo hum vazio
nefta cavidade , que ha de forçofamente fer occupado
pela atmosfera , a qual tende como todos os fluidos a
equilibrarfe por toda a parte : Eis-aqui como o bofe
vai forvendo o ar , evaporando o ácido aeréo , dando
entrada ao fangue , e fazendo-fe abfolutamente neceíla-
rio
24 TRATADO DA E D V C A Ç A Õ F Y S I C A . "
rio na economia da circulaçaó ; em quanto o fígado
defcança , e fe limita ío a receber a materia de que
fe nutre , e de que filtra a cólera , grande diífolven-
te no minifterio da digeftaó. E por ventura em hum
momento fera poífível praticar-fe tao confideravel re-
volução ? E fe ella ainda naô eftava eífeituada., quan-
do precipitadamente fe feparou o cordão da placenta;
qual ferá a perturbaçaó na economia animal ?
Eis-aqui porque fe deve efperar , que páre o pul-
fo no cordaó umbilical antes de o cortar, dando tem-
po ao recem-nafcido de ir pouco e pouco acoftuman-
do-fe ao novo mecanifmo da reípiraçaó , em quanto
vai ceifando a forma de vida que lhe era peculiar no
ventre materno. Deite modo feguimos a natureza , a
q u a l , fendo deixada a fi , entretem por algum tempo a
communicaçaó entre o feto , c a placenta: e fó paf-
fados dez a quinze minutos intercepta eíta communica-
çaó ; pois que neíte intervallo ceifa totalmente a pul-
iáçaó do cordão umbilical. Eíte he o momento de o
cortar, operaçaó que fe faz fem perda alguma de fan-
gue , quando alias fe folta huma copiofa hemorrhagia,
fendo cortado em quanto elle pulfa , e por alfim di-
z e r , eftá vivo.
O modo de ligar o cordão umbilical , os lugares
em que fe deve ligar , e o numero das ligaduras faó
pontos que merecem menos attençaó , do que ordina-
riamente fe entende. O noífo fim he precaver a he-
morrhagia , que em razaó do movimento, e do calor
da cama pode foltar-fe pelas artérias do embigo, e ma-
tar aílim a criança: eftá ao noífo arbitrio ligalo aon-
de quizermos, com tanto que a ligadura fique fixa. O
coftume he ligalo na diftancia de huma maó traveíía
do embigo com hum cordão feito pelo torcimento de
huns poucos de fios , e dando muitas voltas cada hu-
ma cerrada com dous, ou tres nós.
Agora reduz-fe todo efte artigo a duas palavras ,
D O S M E N I N O S ."AS
e vera a f e r , que em quanto pulfar o cordão umbili-
cal naõ fe ligue, e que a ligadura feja fixa.
Eis-aqui como era fimples hum Tratado de Edu*
caçad Fyfica , fe naõ houvera abufos, que desfazer.
Seria efte o lugar de expor a prática , com que fe
pretende prefervar as crianças do contagio das bexigas;
mas como fou de mui tarda crença para coizas fem ra-
zaõ , e pouco aditado com medicamentos empíricos ;
naõ me demorarei miíito em femelhante expoíiçaõ. He
verdade , que nós naó conhecemos a indole deite vene-
no bexigofo ; mas hoje parece eílar reconhecido o feu
contagio , e que naõ paliando com a femente, nem
com o fangue materno, fó por communicaçaõ fe propa-
g a , fendo a atmosfera da fua adividade maligna de
hum pequeno raio , contra o entender dos Medicos
antigos , que o fuppunhaõ alongado a muitas milhas ;
donde facilmente fe entende , que o verdadeiro prefer-
vativo he arredar os faõs para longe do contagio , e
encerrar em hum lugar remoto os que já eftiverem to-
cados. Todavia como nos pódem arguir de nimiamen-
te efcrupulofos, por naõ crer que poífa achar-fe hum
modo de modificar por tal arte a conftituiçaõ das cri-
anças , que fiquem com abfoluta negaçaõ para femelhan-
te enfermidade ; quando nós vemos peíloas com quem
nunca entra a pefte, nem mefmo eíle veneno geral das
bexigas: por obviar de algum modo femelhante nota,
e fatisfazer á curiofidade direi, que o methodo moder-
namente propoíto para prefervar das bexigas, coníifte em
expremer muito bem todo o fangue do cordão umbili-
cal , esfregar a pelle do recem-nafcido com fal moido 5
e layala depois com toda a exacçaõ.
D AR-
IO TRATADO DA EDUCAÇAó FíSICA
A R T I G O IV.
Da lavagem , e do banho.
A R T I G O VI.
A R T I G O VII.
A R T I G O VIII.
ia
^ " t ia 'cada
hindo a I nltarte.
n l h n t emú Z s v e « s c «efpafmos,
V fangueque a-
d
penas o tomava t a U a a « o i .P, ^ b ü f e >
por confenfo do eltomayj u i
AH*
DOS M E N I N O S . 69
A R T I G O XL
Bo modo , e do tempo próprio para defmammar
as crianças.
ANdando os t e m p o s , a criança munida de novos
d e n t e s , e afeita ao trabalho da m a f t i g a ç a o , abun-
dando de f a l i v a , e mais firme de fibras, porcme ^ a-
c o a de lua cryftallifaçao eftá mais enxuta , pode ja ir
entrando melhor com os alimentos duros , com tanto
aue fejaõ em pequena quantidade, e miniftrados a h o -
ras regulares. Completo o anno de fua idade ja conta
quatro dentes; já dorme menos; já fupporta ao collo
largos paíTeios ; em fim tudo moftra , que o leite ma-
terno lhe vai fendo fuperfluo , e talvez i m p r o p n o por
' fer pouco a f t i v o , de mui tenue alimento , e incapaz
de excitar aquella acçaó precifa que entretem a ela ti-
cidade das fibras , as quaes naó fupportando eíhmulos
fortes , fempre precifaó , para naó entorpecerem, ler
b r a n d a m e n t e eílimuladas. Por outra rafao fe alcança que
no fim do anno fe podem hir defmammando as crianças
pois vemos , que o útero até alli pafmado e raramente
fufceptivel de 2oncepçaÓ, por efte tempo , livres as M a i s
para novos cuidados , continua a moftrar os f r u d o s da
fua benefica fecundidade.
O modo de defmammar as crianças he para a gen-
te de hoie huma arte de muito trabalho. Ella culta
vigílias fadigas ás a m a s ; c h o r o s , e doenças aos mi-
feraveis meninos. E tudo v e m dos máos h á b i t o s , que
i3or defcuido lhes foi livre contrahirem.^
N a ó faltaó M e d i c o s , que fupponhao de tanta con-
fequencia efte período , e temaÓ tanto a paílagem do lei-
t e á alimentos f o l i d o s , que femanas logo depois d o
nafcimento entendem em nutrir com elles as fuas crian-
ça para evitar a extranheza, que eftas e x p e r i m e n t a d o
l o tempo e m q u e fe defmammarem. Outros « t e n d e m tao
/
70 TRATADO DA EDTTCAÇAO FYSICA
longe o período da criaçaó , que naó fe contentaó de
que ellas mammem menos de tres a n n o s , julgando que
até entaó o eílomago naõ tem forças para digeílões
mais deficultofas , maior mente paíTando fe neíle intervallo
as grandes dores da fahida dos dentes , as erupções
cutaneas , aftas , e muitas vezes o ferampo , b e x i g a s ,
e outros males , que requerem dieta t e n u e , e que deven-
do fer attendidos com medicamentos p r o p r i o s , mas pou-
co a g r a d a v e i s , fó podem fer bem remediados medican-
do-fe o leite das a m a s , o qual temperado coin hu-
ma dieta conveniente , e remedios adequados fatisfaz
ambas as indicações de nutrir , e curar.
H e c e r t o , que algumas vezes fe me apprefentaõ
crianças taõ debeis, e doentes, que eítando j á em t r e s ,
ou quatro annos de idade , e abandonadas de M e d i -
c o s , fou de v o t o que fe lhes chamem amas que de no-
v o as amammentem , e fem outro remedio em pou-
c o tempo tenho tido o prazer de curar , e reduzir a
huma vigorofa vegetaçaõ crianças marafmadas , e d e
cuja penofa vida fó na morte fe efperava f o c e g o . M a s
quando ellas faõ tratadas fegundo as regras p r e f c r i p t a s ,
f a d i a s , e bem nutridas excufaõ huma criaçaó taõ d i -
latada , inútil para ellas, e de certo muito prejudicial
ás M a i s , que fe desfalcaó para outras ^ criações. T o d a -
via he p r e c i f o , para emendar huma prática abonada por
boas a u t o r i d a d e s , expòr as rasóes , que me levaõ con-
tra as duas opinióes correntes relativas a eíle a r t i g o ;
e vem a f e r , que huns daó muito c e d o o alimento
f o l i d o , outros confervaó l o a leite as crianças por lar-
g o tempo.
Primeiro que t u d o , eu naó poíTo convir com o
v o t o d'aquelles, por fuppôr fer contra a ordem da na-
tureza dar alimento extranho , quando ella tem prepa-
rado no leite da M á i hutn fuílento fobejo á nutrição
nos primeiros mezes. D e mais fe nós v e m o s , que ef-
te mefmo l e i t e , o mais brando , o mais d i g e í l i v e l , e
o
DOS M E N I N O S . 71
o mais natural dos alimentos, l o g o no principio tem
muito menos confiftencia , e que f ó depois a vai g a -
nhando , entendendo allim a natureza fabia em naõ gra-
var o eftomago deites tenros individuos; fe o leite das
a m a s , fendo de muito tempo , he mal foffrido pelos
meninos recem-nafcidos, e he piecifo que elle feja agua-
d o , e forofo como vemos fer o cloftro > entaõ como
foffrerá alimento extranho huma criança , que nem fup-
porta hum leite mais groífo , e conüítente ? M a s ao
p a ç o que pouco , e pouco fe vai vigorizando eíta pe-
quena criatura, o feu eftomago fe enrija j os feus fuc-
cos fe tornaõ mais efficazes , e o exercício vai fortifi-
cando os feus nervos. Por eíta mefma gradaçaó fe po-
de com cautela ir difpondo , para que pafle do leite
humano a ufar de outro alimento ; mas nunca nos pri-
meiros mezes ferá innocente a prática , em que vulgar-
mente eftaõ as amas , que enfartaõ de alimentos g r o f -
feiros eítes pobres innocentes.
A g o r a relativamente á fegunda opinião tenho por
demafiadamente longa a criaçao de t r e s , ou quatro an-
nos ; e por certo , que os dentes naõ forao dados ao
animal fem deítino : elles devem preparar , dividir , e
triturar as matérias de fua nutrição. Quando a nature-
za miniftra efte inftrumento , já tem fortificado de tal
modo os orgaõs da d i g e f t a õ , que elles podem com a-
limentos mais folidos do que os leites , e do que os
caldos. A o s oito mezes fe a criança naõ he muito dé-
bil foffre alimentos e x t r a n h o s j e algumas , que por ni-
mia debilidade naõ podem fe naõ com o leite m a t e r n o ,
taõbem paífaõ muito além deita i d a d e , fem que os pri-
meiros dentes appareçaõ , e para o dizer de huma v e z ,
aífim como o alimento extranho no principio debilita ,
e cança o eftomago dos m e n i n o s , igualmente o leite por
fi fó he infuíiciente , quando elles eftaõ mais robuftos.
A g o r a fuppômos de nenhum trabalho defmammar
as crianças, com tanto que fe pratique o que fica ad-
ver-
72 TUATABO Í) A E 0 Ü C ! A ( 5 A O FYSICA
-vertido por todo o tempo que decorre do nafcimeiW
to até ao termo da criaçaó. B a i l a , que dos tres mezes
n^r d i ^ u e tomem além" do peito algum tanto de leite
S e bu ra depois paíTaó-fe i o d e vacas: do q u i n t o , e
f e x t o meV por diante miílura-fe-lhes com o leite algu-
ma comma leve para encraííar efte alimento e quando
lhes apontaõ os dentes , e começaô a maftigar foge-
fe lhes P O U C O , e pouco com o p e i t o ; affim le diftia-
hem da mamma fem que o fintaô ; e na idade de hum
anno ou anno e m e i o , fe foraó convenientemente cria-
dos acha6-fe naturalmente defmammados fem traba-
lhos', nem e s t r a n h e z a , ou doenças.
a r t i g o XII.
AR*
dos M E N I N O S . 82
a r t i g o XIII.
N ?os = n a , r de:
E Pr0rrrvTdâ £ r e t e r o a l i m e n t o do M e m a ner-
curfo da vida para rerazer a t u r a d a s da econo-
v o f o , que fe debilita na tuncjoes na
mia a n i m a l , nunca elle he mais necena i
primeira i n f a n d a , quando ainda e x t r a n o s , : traço
Ltimos qualquer pequena ^ o como '
forço p
C
d fo°'noTo S ^ S * em eftabelecer o ^
fturno , para defde l o g o as a < a o verta
emprego d o ^ ^ o J o ^
3 . m m í r í eS r a b ^ , ' S ™
i fu o e r f i c i e ' d o s corpos. Por tanto cumpre que em lu-
g a f P d e n ô : d e f g o f t a i ^ o s , de que as crianças nao paf-
l 0 « p ^ ^ ^ »
X k a d e eP
v i v e z , enfinando-lhes a jogar a p e i t a ;
g s a b o L ! e o bilhar; brincos que ennjao as fi-
bras ; difpocm os meninos para o trabalho , e corro
Ho T R A T A D O DA E D U C A Ç A O FÍSICA
boraô de tal maneira as forças , que as fuas funcções
fe executao fem interrupção, a pezar das alternativas da
E í h ç a ó , e da a t m o s f e r a , que aliás influe tanto nos
temperamentos fracos das pelfoas valetudinarias, entor-
pecidas no ocio , e na inacçaó.
Se ainda nao baítaõ eftas razoas para c o n v e n c e r os
Pais da utilidade de huma educaçaõ a d l i v a , e de quanto
importa , que as crianças fe exercitem em largos paíTeios,
em j o g o s , c o r r i d a s , e todo o genero de acçaõ meca-
jiica , entrem nos Armazéns do A r f e n a l do Exercito ^ ve-
j a õ com que armas os noífos Portuguezes debelláraó os
A f r i c a n o s ' ; e confiderem fe homens de taõ agiganta-
das forças podiao conhecer eíte Proteo de enfermida-
des nervofas , que hoje afflige j da eípecie humana :
pois advirtaõ , que eiles naõ bebiaõ chás , nem caíFes j
pouco fe enroupavao , e as M a i s feguiaõ nas marchas
feus maridos , levando nos braços as tenras crianças naf-
cidas no campo , e que apenas c o m e ç a v a õ a arraílar-fe ,
naõ tinha o outro f o c e g o fenaõ em quanto d o r m i a õ : e
como o officio de todo o homem era o das_ a r m a s ,
com tempo fe entrava nas e f c o l a s ; e os exercicios g y m -
nafticos ferviaõ de entretenimento á mocidade Luíitana.
A f l i m fe formáraõ os A l b u q u e r q u e s , os A l m e i d a s , e os
C a í t r o s ; affim os A f f o n f o s todos , pois entaõ as tendas ^
.dç guerra eraõ as falas dos R e i s .
A R T I G O XIV.
A R T I G O XV.
M D IS-
D I S S E R T A Ç A O
Sobre a Inoculaçao.
Mii AR -
5>2 D I S S E R T A Ç Ã O
A R T I G O I.
Da Hijloria da Inoculaçao.
A R T I G O II.
2°. aKG.UMENTO.
3°. Argumento.
N
D I S S E R T AÇ AO
9 8
4o. A r g u m e n t o .
6°. A r g u m e n t o .
„ As cegueiras, tilicas,
r* • 1_ '
„ muitas aleijões, que vinhaó em confequencia das be-
II
j, xigas
laçad. naturaes 3 agora naõ appareeem depois da inocu-
3
ARGXJ MENTO,
N ii A R -
LOO D L S S E K T A Ç A Õ
A R T I G O III.
io. A r g u m e n t o .
2o. Argumento.
30. A r g u m e n t o .
A R T I G O IV.
A R T I G O V.
Qjj ESTA 6.
2". Q j J e s t ã o .
3a. Q u E S T A Õ.
4«. Q J J E s T A õ.
5a. Q j j e s t A õ.
6a. q u e s t ã o .
D A
educaçaõ fysica,
Q U E D E V E M S E R V I R
D 5
M A N U A L P R A C T ICO.
try
i n t r o d u c ç a õ
A f o r i s m o s .
I.
Hi.
IV.
VI.
VIII.
IX.
CLE-'-
REGRAS GERAES
E X T R . A H I D A S DO T R A T A D O
DA
E D U C A Ç A O F Y S I C A .
A R T I G O I.
Da necejjiâade de cobrir as crianças quando nafcem.
A f o r i s m o s .
I.
E hum preceito da natureza , que as cri-
anças fe cubraó apenas nafcem ; pois que
vemos todos os animaes occupados em bare-
jar, e chegar a fi as fuas crias , ainda quan-
do'ellas trazem alguma natural cobertura.
II.
III.
A R T I G O II.
I.
II.
III.
A R T I G O III.
I.
II.
III.
A R T I G O IV.
I.
II.
Qjj Naf-
124 REGRAS GERA ES EXTRAHIDAS
III.
IV.
V.
VI.
A R T I G O V.
I.
III.
AR-
126 REGRAS GERA ES EXTRAHIDAS
A R T I G O VI.
I.
II.
VII.
VIII.
IX.
135 REGRAS GERA ES EXTRAHIDAS
IX.
I.
III.
IV.
A R T I G O VIII.
I.
V
III.
V.
VI.
VIL
A R T I G O IX.
I.
III.
I.
II.
III.
IV.
V.
VI.
A R T I G O XI.
A R T I G O XII.
I.
II.
III.
#
136 REGRAS GERAES EXTRAHIDÀS
O chá , e caffé ta6 ufados entre nós deftroem a
adlividade dos nervos, e enfraquecem o eftomago.
O vinho , liquores efpirituofos, e bebidas fermen-
tadas faÓ muito contrarias á conflituiçaÕ das crianças,
em tanto que a agua fria , e pura lie huma bebida
f a u d a v e l , e corroborante.
A R T I G O XIII.
I.
II.
III.
IV.
Q u a n d o porém já e o m e ç a ó a a r r a í b r - f e , < « W P ^
T,las a fi ; pois q u e advertidas peta n a t m e z a da neceL
& q u e tem de acçaâ , e m o v i m e n t o , l i d a o todo o
VI.
a r t i g o XIV.
I.
II.
III.
A R T I G O XV.
I.
A S paixões fendo movimentos violentos executados
i \ á cuíla dos noilos o r g a õ s , neceiíariamente devem
perturbar a economia de todas as acções do homem , e
maiormente das crianças muito mais debeis, e fenfiveis.
II.
III.
IV.
S ii V.
I40 147 R E G R A S G E R A ES EXTRAHIDAS
V.
VI.
í n d i c e
X í n T o l í e V c a ó d e L i t i o s V e d i t ' o s "de H i f t o r i a P o r t a -
X l
eza C d o e ; ^ i n a d e o s dos S e n h o r e s K e y s D o m João I ,
D . Duarte, D- Affonio V . . , e Dom João 1 1 . , i. ^
O b f e r v t ^ s "fobrc "as P ^ - f ^
r S i r ^ S r ^ d c A l m e j a , Cor- ^
rcfpondente da mefma Sociedade - is
XX. j S d a Legislação
Anaftafio de Figueireao , Cor- ^
refpondente da A c a d e m i a , 2. vol. 4- ,
X X r Obras Poéticas de Pedro de Atidtaac
C a m i n h a
_ _ 6 o o
publicadas d e o r d e m de A c a d e m i a . 1. v o l .
EJlao debaixo do ptélo as feguintes,
A&as c Memorias da Academia R e a l das Sciencias , I . v o l ;
T a b o a d a s P e r p e t u a s Aftronomicas para u f o da N a v e g a ç a ó P o r -
tugueza.
C o l l e c ç a ó de Livros inéditos de Hiftoria P o r t u g u e z a , dos
R e i n a d o s dos Senhores R e i s D . Joaõ I . , D o m D u a r t e ,
D . A f t o n f o V . , c D . Joaó I I . , 2.0 e vol.
Dicçionario da lingoa P o r t u g u e z a .
E p h e m e r i d e s Nauticas 3 ou D i á r i o Aftronomico para o anno
de 1792.
M e m o r i a s de Litteratura P o r t u g u e z a .
M e m o r i a s de Agricultura premiadas pela A c a d e m i a , l . vol.