A FISIOTERAPÊUTICA NA PRÉ-PROTETIZAÇÃO DE MEMBRO INFERIOR:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
GIOVANNA MARCELA JULIANI SILVA ¹*, LUIS FERNANDO AGUERA
VIEIRA² , GUSTAVO HENRIQUE MARQUES MORENO ³ ¹ Discente do curso de Fisioterapia - UNINGÁ – Centro Universitário Ingá, em Maringá/ Pr.
² Mestre em Ciências da Saúde – UEM. Docente da disciplina de Fisioterapia em
Cardiologia e Pneumologia no curso de graduação em Fisioterapia – UNINGÁ- Centro Universitário Ingá, em Maringá/ Pr.
³ Mestre em Ciências da Saúde – UEM. Especialista em Ortopedia e Traumatologia.
Docente no curso de graduação em Fisioterapia – UNINGÁ- Centro Universitário Ingá, em Maringá/ Pr.
*Rua Princesa Isabel nº46, Vila Olivia/ Astorga/ PR. E-mail:
giovannajuliani2009@hotmail.com
RESUMO: O coto é a parte do membro que permanece após a cirurgia de
amputação, que consiste na retirada de algum membro do corpo, podendo ser realizada em casos de má circulação em pessoas com diabetes, tumores ou traumatismos causados por acidentes. Após o referido procedimento, não é incomum a ocorrência de complicações no coto, entre as principais causas pra isso acontecer estão os edemas, dor fantasma, ulceração do coto, inflamações, infecções, retração da cicatriz, neuromas e especulas óssea. Assim, o objetivo deste trabalho foi, através de revisão bibliográfica, identificar se a técnica da cinesioterapia associada as outras técnicas auxiliam na adaptação do paciente a essa nova fisionomia, na prevenção das possíveis complicações no coto logo após a cirurgia, e, posteriormente, caso os referidos infortúnios venham a ocorrer, a maneira em que auxilia na cura. A pratica da fisioterapia e seus métodos no contexto pós-cirúrgico da retirada de um membro, é de extrema importância na prevenção de eventuais complicações no coto, bem como, na cura destas e na adaptação do paciente ante a ausência do membro retirado, auxiliando também a se acostumar com a prótese ou outros equipamentos destinados a facilitar a realização de movimentos físicos cotidianos, mas que podem se dificultar devido à amputação.
ABSTRACT: The stump is the part of the limb that remains after amputation surgery, which consists of removing a limb from the body, and can be performed in cases of poor circulation in people with diabetes, tumors or trauma caused by accidents. After the aforementioned procedure, complications in the stump are not uncommon, among the main causes for this to happen are edema, phantom pain, ulceration of the stump, inflammation, infections, scar retraction, neuromas and bone specula. Thus, the objective of this study was, through a bibliographic review, to identify whether the technique of kinesiotherapy associated with other techniques helps in the adaptation of the patient to this new physiognomy, in the prevention of possible complications in the stump soon after the surgery, and, later, if said misfortunes may occur, the manner in which it aids in healing. The practice of physiotherapy and its methods in the post-surgical context of removing a limb is extremely important in preventing possible complications in the stump, as well as in their healing and in the adaptation of the patient in the absence of the removed limb, also helping to get used to the prosthesis or other equipment intended to facilitate the performance of daily physical movements, but which can be difficult due to amputation.
Segundo Carvalho (2003), “amputação é uma palavra derivada do latim,
tendo o significado de ambi = ao redor de/em torno de e putatio = podar/retirar, definida como a retirada, geralmente cirúrgica, total ou parcial de um membro do corpo”. Ademais, para Probstner e Thuler (2006), “a amputação pode alterar a imagem corporal e comprometer a integridade do indivíduo”. Pastre, Salioni, Micheletto e Netto (2005), discorrem que “as complicações após a amputação variam, entre outras, de deformidades em flexão, excesso de partes moles, irregularidades ósseas, cicatrização inadequada a complicações cutâneas”, sendo necessária cautela no tratamento perante profissionais adequados. O Ministério da Saúde ressalta que o procedimento em questão deve ser sempre encarado dentro de um contexto geral de tratamento e não como a sua única parte, cujo intuito é prover uma melhora da qualidade de vida do paciente (2012). Considerando-se que o fisioterapeuta desempenha papel importante na reabilitação física de pessoas que sofreram uma amputação e, na prática diária, observa-se uma grande demanda de recursos e intervenções fisioterapêuticas que são comumente descritas. Assim, a pergunta de pesquisa foi: a cinesioterapia associada a outras técnicas pode ser capaz de tratar e prevenir os comprometimentos apresentados pelo paciente amputado? Para responder à essa questão, foi realizada uma revisão de literatura com o objetivo de relatar e inferir sobre os efeitos dos tratamentos realizados no coto de pacientes amputados.
METODOLOGIA
A coleta de dados deste trabalho foi realizada a partir de uma seleção de
artigos. A busca foi realizada no mês de março de 2022, utilizando as plataformas Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e PubMed. Os descritores utilizados para pesquisa foram: Amputation. Techniques. Kinesiotherapy. Stump. Physiotherapy. Inicialmente foram encontrados, a partir dos descritores, 145 artigos, sendo 140 da PubMed e 5 da BVS. Em seguida, a seleção dos artigos foi realizada através do título e resumos, onde foram incluídos artigos que tivessem como objetivo l, e, posteriormente foi realizada a leitura dos textos completos para a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão. Os critérios de inclusão utilizados para a seleção dos artigos foram: publicações realizadas no período entre 2005 a 2020, em língua portuguesa e inglesa que abordassem os efeitos dos tratamentos realizados no coto de pacientes amputados. Foram excluídos os artigos que não se apresentaram dentro do período de publicação selecionado e, artigos de revisão que não apresentassem o texto completo para a leitura na íntegra ou que não fossem gratuitos. Após a leitura na íntegra destes trabalhos e mediante os critérios de inclusão e exclusão 10 artigos fizeram parte desde estudo. A etapa de seleção dos artigos utilizados para a confecção deste trabalho, é sintetizada no Fluxograma 1. Fluxograma 1- Pesquisas eletrônicas, utilizadas para revisão bibliográfica
Estudos identificados por
meio de pesquisa nas bases de dados: 145
PubMed: 140 BVS: 5
Selecionados após Selecionados após
leitura de titulo: 20 leitura de titulo: 3
Selecionados após Selecionados após
leitura completa: 8 leitura completa: 2
Artigos inclusos na pesquisa: 10
Fonte: Autor, 2021.
RESULTADOS
Foram selecionados 10 artigos para realização o trabalho, com o intuído
de identificar os efeitos dos tratamentos realizados no coto de pacientes amputados. Para facilitar visualização e comparação dos estudos selecionados, um quadro foi elaborado, contendo: ano de publicação, nome do autor, objetivo, amputação e resultados (Quadro 1). Quadro 1 - Síntese dos objetivos e principais resultados encontrados nos estudos selecionados para a pesquisa
Ano Autor Objetivos Amputação Resultados
2005 BRITO et Efeitos da fisioterapia na Transfemoral Fortalecimento do coto, al. 2005 fase ambulatorial, prevenção a retração muscular. atuando na dor, contraturas, hipotrofias e preparo para prótese 2005 PASTRE et Buscar por redução de Transfemoral Os tratamento voltados a al dor, padrão de pacientes amputados detém de deformidade do coto, eficácia através dos recursos diminuir retração, fisioterapêuticos, nesse caso o aumentar força, tratamento é individual. mobilidade, equilíbrio e coordenação. 2009 JUNIOR et Identificação de Transtibial Ganho de força muscular, al. 2009 condutas que levem o medial diminuição de edema e paciente a um melhor consequentemente melhor desempenho funcional independência 2012 OLIVEIRA Buscar por redução de Transfemoral Os tratamento voltados a et al dor, padrão de pacientes amputados detém de deformidade do coto, eficácia através dos recursos diminuir retração, fisioterapêuticos, porém é aumentar força, necessário a individualidade. mobilidade, equilíbrio e coordenação. 2014 SILVA; et Análise da influência da Transtibial e Foi obtido melhora da al. 2014 hidrocinesioterapia em transfemoral funcionalidade, dor, qualidade amputados de MI de vida e independência 2017 BARRETO Promover a Transtibial Ausência de dor fantasma e et al deambulação e aumento da ADM de joelho e independência funcional do membro remanescente com uso da prótese 2017 ARAÚJO; Mostrar recursos Transfemoral Independência maior nas 2017 fisioterapêuticos na pré AVD’s com ou sem uso da protetização prótese
2017 RICKLI; . Efeito da terapia Transtibial Melhora da funcionalidade
et.al. 2017 aquática com a medial. visando do paciente. cinesioterapia em amputação de MI 2017 SANTOS et Abordagem MIE Efetividade na prevenção de al fisioterapêutica em uma transfemoral deformidades e promoção de amputação bilateral de distal, MID saúde MI 2019 ZIEGLER Plano de tratamento Transfemoral Ganho de flexibilidade, et al. 2019 fisioterapêutico para equilíbrio e fortalecimento de amputação transfemoral coto. ainda não protetizada Fonte: Autor, 2021. DISCUSSÃO
A partir da leitura dos artigos selecionados, foi possível perceber que
todos os autores trouxeram dados específicos sobre os pacientes que estavam sendo analisados e também sobre o tipo de técnica utilizado. No estudo de Silva et al. (2014), os pacientes foram avaliados por meio da Medida de Independência Funcional (MIF) e SF36, antes e após o programa de hidrocinesioterapia. As sessões de hidroterapia foram realizadas duas vezes por semana, por oito semanas, com duração de 45 minutos cada, sendo estruturadas da seguinte forma: 10 minutos de aquecimento, 20 minutos de atividades direcionadas, como subir e descer a rampa, agachamento na cama elástica com dissociação de cinturas, ‘’remada’’ com auxílio de flutuadores, abdução e adução de membros superiores com halteres de 2kg e 5 minutos de relaxamento. Em uma amputação traumática a nível transtibial medial espera-se um processo de reabilitação mais lento. Porém, a cinesioterapia associada a hidroterapia mostrou-se satisfatória, a qual contribui na recuperação do paciente. Sugerem os autores uma terapia na fase de pré-protetização tendo início após três meses da cirurgia, integrando exercícios no solo com atividades de fortalecimento, alongamento, treino de equilíbrio e marcha, e na fisioterapia aquática em um período de 12 semanas (RICKLI, et all. 2017). A reabilitação fisioterapêutica frente a uma amputação transfermoral deve ser estabelecida e elaborada de forma global, considerando os aspectos individuais de cada paciente e contando com intervenções, como a cinesioterapia (através de exercícios de condicionamento e recondicionamento aeróbico, exercícios de força, potência muscular e resistência a fadiga), massoterapia, eletrotermofototerapia e hidroterapia, promovendo a reintegração do indivíduo a sociedade (ARAÚJO et al.). Para Brito et all. (2005), a cinesioterapia em relação ao coto visa o fortalecimento e prevenção em relação as retrações musculares, fortalecendo adutores, extensores e rotadores internos da articulação coxofemoral. Em uma perspectiva geral, a cinesioterapia se engloba na parte respiratória, fortalecendo a musculatura abdominal e de membros superiores, a fim de auxiliar transferências e uso da muleta até protetização. Uma conduta cinesioterapêutica para um paciente amputado a nível transtibial medial, necessita englobar o fortalecimento e pode ser constituído de forma progressiva respeitando a tolerância e individualidade do paciente. Como exemplo, podem ser realizadas três séries de dez repetições trabalhando com auxílio de uma caneleira os movimentos de flexão, extensão abdução, adução coxofemoral, flexão e extensão de joelho, trabalho de peso livre em membros superiores, agachamentos, rolamento, abdominais, treino e marcha e orientação postural (JUNIOR, et all. 2009). Ressaltanto que esses pacientes podem apresentar complicações devido ao uso contínuo de muletas e outros fatores que dificultam o uso da prótese. E nesses casos podem ter como consequência a dor lombar, axilar e dependência nas atividades de vida diária. Para isso, foi sugerido que a terapia inclua exercícios de fortalecimento de flexão e extensão de quadril e abdutores. Visando também exercícios de fortalecimento de tronco e membros inferiores, descarga de peso e equilíbrio no preparo do uso da prótese (ZIEGLER 2019). A reabilitação por meio de intervenções fisioterapêuticas se faz ainda mais importante no caso de uma amputação bilateral de membros inferiores, tanto na orientação corporal ao paciente e aos familiares, quanto em relação aos cuidados e posicionamentos e preparo para a fase de protetização. Sendo assim, podem ser introduzidos exercícios resistidos visando melhora do trofismo muscular, laser terapêutico para acelerar o processo cicatricial, reorientação postural, alongamentos passivos para ganhos de amplitude de movimento e enfaixamentos dos cotos (SANTOS et al. 2017). Os autores Pastre et all. (2005) no que tange a cinesioterapia, os exercícios de cadeia muscular anterior e posterior diminuem o impacto articular, diminuindo a sobrecarga. A reeducação postural visa o alinhamento da postura, resultando em movimentos mais coordenados e funcionais. Também englobando exercícios de resistência muscular a fadiga, de força de forma isométrica e isotônica O paciente amputado na fase de pré-protetização, busca recursos fisioterapêuticos com o intuito de preparar o coto para a prótese, trabalhando assim transferências, equilíbrio e coordenação, introduzindo a cinesioterapia com exercícios de fortalecimento e alongamento evitando deformidades devido a encurtamentos que podem prejudicar o treino de marcha (OLIVEIRA et al. 2012). Na fase de pré-protetização de um paciente amputado a nível transtibial, podem ser adotados recursos como: enfaixamento em ‘’8’’ do coto, “transcutaneous electrical nerve stimulation” (TENS) no joelho do membro contralateral da amputação, dessensibilização do coto, descarga de peso no coto, mobilização passiva e ativa, alongamentos, fortalecimento muscular e exercícios de equilíbrio de tronco (BARRETO, MENEZES, SOUZA). Dessa forma é importante ressaltar que através dos métodos utilizados o profissional fisioterapeuta auxilia com eficácia o paciente na recuperação dos membros amputados tanto na diminuição de dores, na prevenção de deformidade para que não ocorra encurtamento do membro amputado quanto na conservação do coto para a protetização.
CONCLUSÃO
No intuito de um levantamento sobre a fisioterapia no tratamento da pré-
protetização destacou-se a utilização de métodos eficazes como uso da cinesioterapia a qual combinada com outras técnicas como a hidroterapia, enfaixamento vem promovendo um notável aumento na melhoria dos amputados. Diante disso foi realizado um levantamento bibliográfico e com apoio de alguns estudos científicos e suas realizações acerca do tema, onde pode-se constatar que a cinesioterapia é um recurso fisioterapêutico indispensável para pacientes amputados que se preparam para o uso da prótese. Percebeu-se que a cinesioterapia quando utilizada segundo os autores tende a promover uma recuperação mais eficaz nos tratamentos pré- protetização, no entanto, evidenciou-se que são limitados os estudos que enfatizam a cinesioterapia em indivíduos amputados, sendo eles associados outras intervenções fisioterapêuticas, como por exemplo, a hidroterapia e enfaixamento. Constatou-se, diante dos aspectos abordados, que a cinesioterapia associada a outros métodos se torna mais eficaz, devendo ser realizadas mais pesquisas que possam ampliar o campo de estudos sobre o assunto no visando auxiliar o profissional fisioterapeuta na escolha da melhor intervenção para o tratamento de seus pacientes.
REFERÊNCIA
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Amputados Transfemorais Durante a Fase de Pré Protetização. XI Encontro de Iniciação à Docência. UFPBPRG, 2017. BARRETO et al. Fisioterapia em Paciente Amputado de Membro Inferior Pré e Pós – Protetização. 2017. BRITO et al. Tratamento Fisioterapêutico Ambulatorial em Paciente Submetido à Amputação Transfemoral Unilateral Por Acidente Motociclístico: Estudo de Caso. Arq. Rev. Ciênc. Saúde Unipar, Umuarama, v.9, n3, set./dez., 2005. CARVALHO, J.A. Amputações de membros inferiores: em busca da plena reabilitação. 2. ed. São Paulo: Manole, 2003. JUNIOR et al. Tratamento Fisioterapêutico na Fase Pré-Protetização em Pacientes com Amputação Transtibial Unilateral. Fisioterapia Brasil. v.10, n.4, jul/ago, 2009. KISNER, C.; COLBY, L. A. Exercícios Terapêuticos: Fundamentos e Técnicas. 4 ed. Barueri-SP: Manole, 2005. OLIVEIRA et al. Amputação Transfemural Esquerda no Idoso: Um Estudo de Caso. 10º Simpósio de Ensino de Graduação, out de 2012. O’SULLIVAN, S.B.; SCHMITZ, T.J. Fisioterapia: avaliação e tratamento. 4 ed. Barueri-SP: Manole, 2004. PASTRE et al. Fisioterapia e Amputação Transtibial. Arq Ciênc Saúde abr-jun; v.12, n.2, p.120-24, 2005. RICKLI C.; FORNAZARI L.P; BLANCO J.H. Intervenção da Terapia Aquática Associada à Cinesioterapia em Amputação Unilateral de Membro Inferior: Relato de Caso. Revista Movimenta v.10, n.3, p.667-675, 2017. SANTOS et al. Fisioterapia e Amputação Bilateral de Membros Inferiores: Relato de Vivencia Acadêmica. Anais do 9º Salão Internacional De Ensino, Pesquisa e Extensão – SIEPE. Nov, 2017. SILVA A.C; VEY A.P.Z; VENDRUSCULO A.P. Hidrocinesioterapia na Qualidade de Vida de Amputados de Membros Inferiores Unilaterais. Disciplinarum Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 15, n. 1, p. 65-74, 2014. ZIEGLER et al. Fisioterapia na Reabilitação de Amputado Transfemoral Unilateral: relato de caso. Rev. Interdisciplin. Promoç. Saúde - RIPS, Santa Cruz do Sul, v.2, n.2, p.106-110 abri/jun. 2019.