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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ-UNICESUMAR

ELIEZER GEDIELSON DE MORAES

MÉTODOS E INTERPRETAÇÃO BÍBLICA: ESTUDO HERMÊNEUTICO E


EXEGÉTICO SÊMIO-DISCURSIVO DE LC 15:11-32

SÃO BONIFÁCIO-SC
2017
ELIEZER GEDIELSON DE MORAES

MÉTODOS E INTERPRETAÇÃO BÍBLICA: ESTUDO HERMÊNEUTICO E


EXEGÉTICO SÊMIO-DISCURSIVO DE LC 15:11-32

Trabalho feito para o curso de Bacharel em


Teologia na disciplina Métodos e Interpretação
Bíblica, utilizando a abordagem hermenêutica
e exegética sêmio-discursiva

SÃO BONIFÁCIO-SC
2017
SUMÁRIO

1- FASE PRELIMINAR ............................................................................................... 1


2- FASE PREPARATÓRIA......................................................................................... 3
3- FASE FINAL .......................................................................................................... 5
3.1. I Ciclo- A dimensão espaço-temporal da ação ............................................... 5
3.1.1 Alistar ................................................................................................... 5
3.1.2 Analisar ................................................................................................ 6
3.1.3 Síntese ................................................................................................. 7
3.2. II Ciclo – A dimensão teológica da ação ......................................................... 7
3.2.1 Identificação e análise das relações intertextuais e interdiscursivas .... 7
3.2.2 Síntese ................................................................................................. 8
3.3. II Ciclo – A dimensão sociocultural da ação ................................................... 8
3.3.1 Sociedade ............................................................................................ 8
3.3.2 Cultura .................................................................................................. 9
3.3.3 Religião ................................................................................................ 9
3.3.4 Síntese ............................................................................................... 10
3.4 IV Ciclo: A dimensão psicossocial da ação .................................................. 10
3.5 V Ciclo: A dimensão missional da ação ....................................................... 11
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 12
1- FASE PRELIMINAR

De acordo com Mears (1982, p.343), o grande tema do evangelho segundo


escreveu o médico Lucas, é o de apresentar Jesus como o ideal da perfeita
varonilidade, isto é, como o “Homem perfeito”. Lucas trata da humanidade do Senhor
Jesus Cristo, onde Ele é revelado como homem, com toda a sua compaixão, seus
sentimentos e poderes crescentes; em outras palavras Lucas apresenta-nos Jesus
como um “Salvador adequado a todos”.
A mensagem do evangelho de Lucas resume-se nas palavras de Jesus a
Zaqueu, conforme Lucas a registra: “Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o
perdido.” (BÍBLIA, Lc 19:10).
Lucas endereçou o evangelho de sua autoria a um gentio chamado Teófilo, e
aos gregos. Segundo Mears (1982, p. 343), o evangelho de Lucas foi escrito para os
gregos, pois além dos judeus e dos romanos, os gregos também estavam se
preparando para a vinda de Cristo.
A perícope descreve que Jesus prosseguia sua viagem para Jerusalém, e que
no decorrer deste trajeto chegaram-se a Ele para O ouvir, alguns publicanos e
pecadores. Os publicanos eram “Rendeiros dos impostos do governo romano,
cobradores de tributos.” (DAVIS, 1984). O mesmo Davis (1984, p. 490-491) explica
que ao invés de nomear oficiais para a cobrança do fisco, os romanos e seus
prepostos, à semelhança de Herodes, punham em leilão os privilégios para a
arrecadação das rendas públicas, ou parte delas, nas diversas províncias, cidades,
vilas e distritos. Como pagamento pelos serviços prestados e em recompensa aos
riscos da profissão, os publicanos recebiam parte não fixada da proporção do imposto,
logo, alguns deles tomavam largas proporções, o que os levavam a serem
desprezados por todas as classes sociais. Já os pecadores, segundo a Bíblia de
Estudo de Genebra (1999, p.1207) eram pessoas imorais ou que exerciam atividades
que os escribas consideravam incompatíveis com a guarda da lei de Deus; uma regra
rabínica sustentava que uma pessoa não podia associar-se com homens ímpios,
pecadores.
Em virtude da aproximação dos publicanos e dos pecadores à pessoa do
Senhor Jesus Cristo para O ouvir, os fariseus e escribas indignados começaram a
murmurar.

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DAVIS (1984, p. 222) define fariseu como:
Nome de uma das três principais seitas judaicas, juntamente com os
saduceus e os essênios. Era a seita mais segura da religião judaica. Com
certeza, a seita dos fariseus foi criada no período anterior à guerra dos
macabeus, com o fim de oferecer resistência ao espírito helênico que se havia
manifestado entre os judeus, tendente a adotar os costumes da Grécia.

Ainda segundo Davis (1984, p.192), escriba pode ser definido como “homem
encarregado de fazer cópias do livro da lei e de outras partes das Escrituras”, eram
homens que se dedicavam ao estudo das Escrituras em geral, e que ocupavam
cadeiras de ensino que ministravam a um grupo de discípulos. As decisões dos
grandes escribas constituíam a lei oral, ou tradição.
Portanto, faz-se necessário entender que os fariseus e os escribas eram
pessoas com grande conhecimento e zelo da lei de Deus, e que tinham muita
influenciava na sociedade judaica.
Foi a murmuração, a crítica dos fariseus e dos escribas que impeliu Jesus a
propor as três parábolas registradas nesse capítulo: “a ovelha perdida”, “a moeda
perdida” e “o filho pródigo”. Segundo o Comentário Bíblico NVI (2008, p. 1680), as três
parábolas tratam de coisas ou pessoas perdidas, cada uma da sua forma, apresenta
Deus buscando os perdidos, porém cada uma tem a sua própria ênfase.

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2- FASE PREPARATÓRIA
O início da perícope em questão, dá-se no versículo um do capítulo catorze, o
qual se inicia com Jesus entrando na casa de um principal dos fariseus para comer
pão, ocasião esta em que os fariseus O observavam esperando apanhá-lo em alguma
falta possível. Nesta ocasião Jesus pergunta aos fariseus se é licito curar no sábado;
os fariseus não o puderam responder, então Jesus aproveita o ensejo e cura o homem
enfermo. Posteriormente, Jesus diz a eles: “Qual será de vós o que, caindo-lhe em
algum poço, o jumento ou o boi e não o tire logo, em dia de sábado?” (BÍBLIA, Lc
14:10), diante do exposto os fariseus não O podiam replicar sobre isto.
No decorrer do jantar, Jesus propõe aos presentes três parábolas: “dos
primeiros assentos e dos convidados”, “da grande ceia” e a “parábola acerca da
providência”. As duas primeiras parábolas foram propostas em virtude do
comportamento dos convidados e do anfitrião, e a terceira foi a resposta dada a um
comentário feito.
Após o jantar e Jesus expor as três parábolas acima citadas, segundo a Bíblia
de Estudo do Expositor (2015, p. 1863), uma grande multidão acompanhava Jesus,
isto indica que Ele saiu da casa do fariseu, prosseguindo sua viagem para Jerusalém.
É no decorrer desta viagem que os publicanos e os pecadores aproximaram-se de
Jesus para Ouvi-lo. Em seguida entram em cena os fariseus e escribas que começam
a murmurar contra Jesus, pelo fato dEle receber e comer com os publicanos e
pecadores. Por fim, Jesus toma a palavra propondo aos tais as três parábolas que se
encontram registradas no capítulo quinze do livro de Lucas, sendo que o nosso
enfoque cai sobre a parábola do filho pródigo.
Fazendo uma análise crítica, de acordo com Zabatiero (2017, p. 179), temos a
delimitação de uma perícope quando há mudanças relevantes nas pessoas, tempo,
espaço e vocabulário (tema). Na prática, apenas uma mudança não caracteriza a
mudança de perícope, quanto maior for o número das marcas linguísticas acima
citadas, mais certeza teremos no tocante à delimitação realizada.
Enfim, a respeito da divisão supracitada, percebemos que o fim da mesma se
dá no versículo 32 do capítulo 15 onde tem-se a conjunção adversativa “entretanto”;
percebe-se também que há alteração de pessoas no versículo 1 do capítulo 16, no
caso agora fala-se aos discípulos. Uma dúvida, contudo, é pertinente quando se
analisa a disparidade entre os versos 10 e 11. O tempo verbal muda, pois no verso 10

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temos os verbos no presente do indicativo: “eu vos afirmo”, “há jubilo”, “que se
arrepende”, e dos versos 11 em diante temos os verbos no pretérito imperfeito do
indicativo: “tinha”, e no imperativo afirmativo: “dá-me”, “me cabe”. Logo cabe uma
mudança de perícope entre os versos 10 e 11.
Analisando a segmentação a partir da delimitação de perícope proposta no
parágrafo anterior, podemos dividi-la em cinco partes: a primeira no verso 11 o qual
cita a cena do filho mais novo pedindo parte dos bens que lhe cabia, a segunda a
partir do versículo 13 onde o filho mais novo ajuntando tudo o que era seu parte de
casa para uma terra longínqua, onde após ter desperdiçado tudo quanto tinha foi
trabalhar com um cidadão cuidando, onde tendo fome desejou comer as alfarrobas
que os porcos comiam, a terceira a partir do versículo 17 onde arrepende-se
retornando ao seu lar sendo recebido por seu pai e a quarta a partir do versículo 25
onde o filho mais velho mostra-se indignado pelo retorno do seu irmão e pela forma
com a qual o pai o recebeu, ocasião esta onde o pai justifica-se expondo o amor por
ambos os filhos.
Já a estruturação pode ser dividida em:
A- Introdução à parábola, filho mais novo pedindo ao pai parte dos seus bens
(v. 11).
B- Partiu de casa, dissipou todos os seus bens, trabalhou com porcos, teve
fome (v. 13).
C- Reflexão, arrependimento e retorno a casa do pai (v. 17).
D- Indignação e revolta do filho mais velho e resposta do pai (v. 25).
Pode-se sintetizar a perícope evidenciando a atitude qual teve o filho mais novo
de pedir ao pai sua parte de herança e ir viver em uma terra distante a seu bel-prazer.
Gastando tudo quanto tinha, acabando o seu dinheiro, ele vira quase um mendigo,
tendo de ir trabalhar apascentando porcos. Por não ter o que comer, deseja encher o
seu estômago comendo a lavagem que era dada aos porcos, e é neste momento, que
ele se lembra da casa do pai, arrependendo-se e retornando ao seu lar, onde é
recebido com muita festa pelo pai, porém é criticado e tratado com repúdio pelo seu
irmão mais velho.

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3- FASE FINAL
3.1. I Ciclo: A dimensão espaço-temporal da ação
3.1.1. Alistar
[Quem age, onde, quando, fazendo o que, a quem]

Jesus: A caminho de Jerusalém (1), quando os publicanos e os pecadores se


aproximaram dEle para o ouvir (1), propõe aos seus ouvintes algumas parábolas.
Pai: Em seu lar com seus filhos (11 e 12), quando o filho mais novo pede a ele
parte da sua herança (12), ele reparte a herança (12) entre os filhos (12).
Posteriormente, o pai em seu lar (20), ao avistar o filho mais novo voltando para casa
arrependido (20), move-se de intima compaixão, recebendo com uma festa (20, 22 e
23), o seu filho mais novo (24). Consequentemente, o pai em seu lar (20), quando o
filho mais velho volta do campo para casa e mostra-se indignado (28), pelo fato do pai
ter feito uma festa (22, 23 e 24), ao seu irmão mais novo (22, 23 e 24).
Filho mais novo: A princípio em seu lar, na casa do pai (11 e 12), quando quis
viver sua vida em liberdade, a seu bel-prazer (12), ele pede parte da sua herança (12),
ao seu pai (12). Posteriormente, o filho mais novo (13), ainda em casa (13), após juntar
toda a sua parte da herança vai para uma terra longínqua, onde gasta todo o dinheiro
que tinha. Tendo fome se submete a trabalhar cuidando de porcos, onde arrepende-
se dos seus feitos, retornando ao seu lar, reconciliando-se com o seu pai (13-32).
Filho mais velho: aproximando se de casa (25), quando voltava do campo (25),
ele encheu-se de ira (28), por causa da festividade em comemoração ao retorno do
seu irmão à do pai (27 e 28).
Servo: Na casa do seu senhor, no caso o pai dos filhos (25 e 26), enquanto
ocorria a festividade (23), informa o motivo da festividade (27), ao filho mais velho
(27).
Verbos no pretérito perfeito do indicativo: continuou (11), disse (11), repartiu
(12), partiu (13), dissipou (13), sobreveio (14), começou (14), foi (15), agregou (15),
mandou (15), disse (17), foi (20), avistou (20), abraçou (20), beijou (20), disse (21),
pequei (21), disse (22), reviveu (24), começaram (24), ouviu (25), chamou (26),
perguntou-lhe (26), informou (27), veio (27), mandou (27), recuperou (27), indignou
(28), respondeu (29), deste (29), desperdiçou (30), mandaste (30), respondeu (31),
reviveu (32) – ação no passado, no modo completo e terminativo.

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Verbos no pretérito imperfeito do indicativo: tinha (11), desejava (16), comiam
(16), dava (16), vinha (20), estava (24), voltava (25), queria (27), procurava (28), era
(32), estava (32) – ação no passado, mas que continua.
Verbos no Particípio: consumido (14), compadecido (20), chamado (21),
achado (24), vindo (30), perdido (32), achado (32) - indica uma ação que já se
encontra finalizada.
Verbos no gerúndio: ajuntando (13), vivendo (13), caindo (16), levantando-se
(20), correndo (20), saindo (28), vindo (30) - ação que ainda está em curso ou que é
prolongada no tempo.
Verbos no Futuro do Presente do Indicativo: Levantar-me-ei (18), irei (18), direi
(18), pequei (18), pequei (21) - ação que acontecerá num tempo vindouro com relação
ao momento atual.
Verbos no Imperativo Afirmativo: dá-me (11), me cabe (11), trata-me (19), trazei
(22), vesti-o (22), ponde-lhe (22), trazei (23), matai (23), comamos (24), regozijamos
(24) – ação que expressa uma ordem, pedido, conselho, convite ou súplica.
Verbos no Mais-que-perfeito do Indicativo: estivera (25) - ação que ocorreu
antes de outra ação passada.

3.1.2. Analisar
[Como são caracterizados agentes, pacientes, tempo e espaço no texto]

As ações e relações estão organizadas no espaço predominantemente, por


meio de movimentos: (a) Jesus a caminho de Jerusalém, é seguido por publicanos e
pecadores que se aproximam dEle para ouvi-lo, (b) os fariseus e escribas veem e
repudiam este momento, (c) Jesus então propõe três parábolas a da ovelha perdida,
a da dracma perdida e a do filho pródigo; (d) na parábola estão em casa o pai, e os
dois filhos, (e) o filho mais novo sai de casa após reivindicar sua parte de herança ao
seu pai, (f) indo para uma terra longínqua, (g) o mesmo vai trabalhar com um dos
cidadãos daquela terra, após ter gasto toda a sua herança, (h) ele volta pra casa após
se arrepender, (i) o pai o recebe com uma festividade; (j) o filho mais velho estava no
campo, porém retornando para casa, indaga o servo do seu pai acerca da festividade,
ele se irrita não querendo entrar na casa do seu pai, (k) seu pai insiste justificando o
motivo que o levara a festejar o retorno do seu filho mais novo.

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3.1.3. Síntese

A parábola em questão ilustra a dimensão do amor de Deus, que espera por


todos aqueles que por um motivo ou outro afastaram-se dEle. A história suscita o amor
e a disposição de Deus em receber todo aquele que arrependido torna para Ele. O
filho mais novo por querer viver a seu bel-prazer reivindica parte da sua herança ao
seu pai, que o dá. Com sua herança em mãos, o filho parte para uma terra distante,
que fora assolada por uma grande fome. Após o filho mais novo ter gasto tudo quanto
tinha, o mesmo vai trabalhar guardando porcos para um cidadão daquela terra,
desejando comer a comida dos porcos, o mesmo se arrepende, retornando para o seu
lar, onde é recebido por seu pai com uma festividade. O irmão mais novo estava no
campo, e a o retornar para casa indaga um dos funcionários do seu pai acerca da
festividade, o funcionário lhe explica que a festividade é em virtude do retorno do seu
irmão mais novo. O filho mais velho se irrita, não querendo adentrar a casa de seu pai
para comemorar com eles, o pai vem argumentar com ele explicando-lhe o motivo que
o impeliu a festejar o retorno do seu filho mais novo.

3.2 II Ciclo: A dimensão teológica da ação


3.2.1 Identificação e análise das relações intertextuais e interdiscursivas

Analisando as relações intertextuais e interdiscursivas, as mesmas nos


mostram as seguintes características aceca da identidade do filho pródigo: (a) O filho
pródigo representa o homem em seu estado pecaminoso que outrora encontrava-se
morto em suas transgressões e pecados (BÍBLIA, Ef 2:1), longe, separado,
distanciado de Deus, mas que agora, fora aproximado de Deus, mediante Cristo Jesus
e o seu sangue, isto é o seu sacrifício na cruz do calvário (BÍBLIA, Ef 2:12-13). (b) Em
Lc 15:21 encontramos o filho pródigo reconhecendo suas transgressões ao seu pai,
assim como Davi reconheceu sua iniquidade após ter estado com Bate-Seba. Davi
escreveu em um dos seus salmos: “Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que a
teus olhos é mal...” (BÍBLIA, Sl 51:4). (c) E todo aquele que confessa alcança e deixa
alcança misericórdia (BÍBLIA, Pv 28:13). No versículo 32 há uma citação ao versículo
de número 24, onde o Pai fala da condição qual encontrava-se e qual encontra-se
hoje o filho que outrora andava longe, “estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi
achado” (BÍBLIA, Lc 15:24;32). (d) Semelhantemente como o pai e os servos se
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alegraram e festejaram o retorno do filho pródigo, nos céus não é diferente, os anjos
celebram, se alegram quando um pecador se arrepende (BÍBLIA, Lc 15:10).

3.2.2 Síntese

As relações intertextuais e interdiscursivas em Lc 15:11-32 nos mostram: (a) o


filho pródigo distanciado do pai, representando o homem em seu estado pecaminoso
separado, distanciado de Deus. (b) Assim como o filho pródigo sofrera graves
consequências por ter se distanciado do pai, da mesma forma acontece para com
aqueles que se distancia de Deus. (c) O pai representa Deus que está sempre de
braços abertos para receber um filho seu arrependido.

3.3 II Ciclo: A dimensão sociocultural da ação


3.3.1 Sociedade

De acordo com o Comentário Bíblico Beacon (2006, p. 454), se comparado com


os personagens das duas parábolas anteriores que eram de uma classe inferior da
sociedade judaica, pode se dizer que o homem com os seus dois filhos compunham
uma família de classe mais elevada, com considerável riqueza, prestígio e influência.
O filho mais novo solicitou ao seu pai parte da sua herança, o pai prontamente
atendeu-o repartindo a fazenda aos dois filhos. De acordo com os comentários da
Bíblia do Expositor, pode-se entender que o filho pródigo representa os judeus,
embora seja obvio que pode ser aplicado a qualquer e a todos. O filho mais novo após
ter saído e ter gastado toda a sua herança, teve que se submeter a cuidar de porcos;
de acordo com o Comentário Bíblico Beacon (2006, p. 454), o filho pródigo não tinha
nada, não ganhava nada, e o único emprego que conseguiu era inadequado à sua
condição social, o trabalho de cuidar de porcos era um dos mais baixos na escala
social. Neste momento de dificuldades, ele desejou comer as bolotas que os porcos
comiam, lembrando-se dos trabalhadores do seu pai, que entende-se deveriam ser
bem tratados pelo mesmo.
Ao retornar para o seu lar, ele é recebido por seu pai que o avista de longe, e
movido por uma intima compaixão corre a encontro do mesmo, lançando-se ao seu
pescoço e o beijando. O filho pródigo chegou a esse ponto, tendo a intenção de pedir
ao seu pai que o recebesse como um dos seus trabalhadores, porém pode se
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entender que o pai lhe interrompe, chamando aos seus servos, ordenando-os
receberem o seu filho da melhor forma possível. Os mesmos o receberam com uma
linda festividade. O filho mais velho estava no campo e ao se aproximar da sua casa,
ao ouvir a música e as danças, o mesmo indaga um dos servos do seu pai acerca da
festividade, o servo lhe explica que a festividade é em virtude do retorno do seu irmão
mais novo. O filho mais velho indignado não quis entrar para festejar o retorno do seu
irmão, fazendo com que o seu pai lhe explicasse o sentimento que ele tinha tanto pelo
filho que retornara como por ele.

3.3.2 Cultura

Conforme comentário supracitado no ponto de vista social, a família qual o filho


pródigo integrava, era uma família judaica de classe mais alta. De acordo com o
comentário bíblico NVI (2008, p. 1681-1682), na cultura judaica um pai judeu podia
passar suas posses aos filhos, por um testamento que se tonava válido na sua morte,
ou por uma escritura de doação, enquanto ainda vivo. Neste caso, a propriedade era
revertida de direito para o filho quando a escritura entrasse em vigor, no entanto o pai
desfrutava de forma vitalícia de uma parcela dos lucros da propriedade, percebe-se
aqui que o pai foi muito além das suas obrigações legais mínimas. De acordo com o
Comentário Bíblico Beacon (2006, p. 453), não era tão incomum na cultura judaica o
pai dar a herança ao filho mais novo antes da sua morte, porém era totalmente
irregular que o filho a pedisse; quando este favor era concedido, ele se originava da
livre e espontânea vontade do pai. O pai atendendo ao pedido do filho repartiu entre
os filhos a fazenda. Passados poucos dias o filho mais novo parte com a sua herança
para uma terra longínqua; de acordo com o Comentário Bíblico Beacon (2006, p. 453),
não se sabe ao certo onde ficava este local, mas sem dúvida era de fato um país
moralmente e culturalmente distante, bem diferente da atmosfera da casa do seu pai.

3.3.3 Religião

Conforme comentário supracitado no ponto de vista social, a família do filho


pródigo era uma família judaica. De acordo com o Comentário Bíblico Beacon (2006,
p.454), por ele não ter e não ganhar nada, o único emprego que ele conseguiu era

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inadequado à sua condição social e à sua religião; os judeus eram proibidos de comer
carne de porco, eles podiam criá-los e vende-los, mas o trabalho de cuidar de porcos
era um dos mais baixos que um judeu poderia se submeter. De acordo com Lv 11.7
os porcos eram imundos, dificilmente algum judeu aceitaria o trabalho de cuidar de
porcos voluntariamente.

3.3.4 Síntese

A parábola em questão proposta por Jesus, teve como objetivo apontar que os
publicanos e pecadores representados pelo pródigo, apesar das suas falhas, eles hão
de encontrar o perdão quando arrependidos retornarem ao Pai Celestial. Por outro
lado, os escribas e fariseus representados, pelo irmão mais velho, não são apenas
desprovidos de amor pelos pecadores, como também não se alegram com a
reconciliação dos pecadores com o Pai Celestial.

3.4 IV Ciclo: A dimensão psicossocial da ação

O percurso passional do pai: A fase emoção está explicita no texto. A


moralização passional é positiva em relação ao filho mais novo; é esperado que um
pai ame e se compadeça de seus filhos, percebe-se isto na atitude do pai em atender
ao pedido do filho mais novo de repartir a fazenda entre os filhos, e de depois recebe-
lo e perdoa-lo, as perícopes posteriores mostram arrependimento e narram o retorno
do filho à casa do pai. Da sensibilização pode-se dizer que o texto aponta para o amor
do pai para com ambos os filhos; além do amor é perceptível o prazer, a alegria com
qual o pai recebeu o filho mais novo arrependido.
O percurso passional do filho pródigo: A moralização passional é positiva, pois
no desfecho da perícope o filho retorna ao seu lar, pedindo perdão e sendo perdoado
pelo seu pai, confirmando assim o caráter moralmente adequado das emoções de um
filho para com o seu pai.
O percurso passional do filho mais velho: A moralização passional é negativa,
pois o mesmo não se alegra ao retorno do seu irmão mais novo para casa, tentando
argumentar com o seu pai com a finalidade de o impelir a não aceitar o seu irmão mais
novo em casa.

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3.5 V Ciclo: A dimensão missional da ação

A perícope em questão, cuja epígrafe é “A parábola do filho pródigo”, tematiza


a prontidão de Deus em perdoar e aceitar como filho todo aquele que se arrepende
de seus pecados. Num ambiente espaço-temporal onde os escribas, fariseus, as
autoridades eclesiásticas sentiam-se ameaçados pelos discursos de Jesus que por
onde passava multidões vinham ter com ele. Jesus propôs a parábola em questão,
em virtude da murmuração dos fariseus e dos escribas, pelo fato dos publicanos e
“pecadores” virem ter com o Senhor Jesus Cristo.
Jesus apresenta-se num espaço periférico qual ele se introduzia como salvador
dos pecadores. Sem definir literalmente quais são os verdadeiros pecadores, o senhor
propõe-lhes a parábola em questão, onde de uma forma alegórica o Senhor
demonstra que todos aqueles que porventura erraram, cometeram iniquidades, mas
que arrependidos se voltaram ao Pai Celestial, confessando os seus pecados e
abandonando as práticas pecaminosas, alcançam o perdão, e o favor imerecido de
serem chamados filhos de Deus. Esses na parábola são representados pelo filho
pródigo, que após ter saído da presença do pai, tendo gastado tudo quanto tinha e ter
padecido, arrependeu-se, retornando ao seu lar de origem e reconciliando-se com seu
pai.
Em contrapartida, ainda de uma forma figurativa o Senhor Jesus demonstra,
que os verdadeiros pecadores são aqueles que se julgam melhores que os outros,
como fora o caso do irmão mais velho, que argumentou com o seu pai a possibilidade
do mesmo não o receber em casa em virtude dos seus maus feitos. Entende-se que
o filho mais velho no contexto, representa os escribas e fariseus, que se julgavam
melhores que os publicanos e os pecadores que vinham ter com o Senhor Jesus.
Estes assim como o filho mais velho não se alegrara com o retorno do filho pródigo
aos braços do pai.
Infelizmente ainda nos dias de hoje, há muitos que se julgam melhores que os
outros, há muitos que são seletivos quanto aos que devem ou não compor a Igreja do
Senhor. Pessoas julgam os outros, achando que os tais não são dignos de perdão,
que os tais não dignos de serem amados, perdoados e reconciliados com Deus Pai
mediante o sacrifício do Senhor Jesus Cristo.

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REFERÊNCIAS

MEARS, Henrietta C., Estudo Panorâmico da Bíblia. São Paulo-SP: Editora Vida,
1982.

DAVIS, John D., Dicionário da Bíblia. 10 ed. Rio de Janeiro-RJ: Junta de Educação
Religiosa e Publicações – JUERP, 1984.

BÍBLIA, Português. Bíblia de Estudo de Genebra. Tradução: Almeida Revista e


Atualizada Edição de 1993. São Paulo-SP: Editora Cultura Cristã, 1999.

BÍBLIA, Português. Bíblia de Estudo do Expositor. Tradução: Nova Versão textual


expositora. São Paulo-SP: Editora SBB, 2015.

PRESS, Beacon Hill. Comentário Bíblico Beacon. Rio de Janeiro-RJ: Casa


Publicadora das Assembléias de Deus, 2006.

BRUCE, FF. Comentário Bíblico NVI. São Paulo.SP: Editora Vida, 2008.

ZABATIERO, Júlio Paulo Tavares. Métodos e Interpretação Bíblica. Maringá-PR:


UniCesumar, 2017.

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