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U NI V E R SI DA D E FE DER AL D O MARANHÃO
CENTRO D E CIÊNCIA S H UM A NA S
D E PA RTA M E N TO D E A RTE S
GRU PO D E E ST UD O S E PESQU ISA EM EC O LO G IA SO NO R A
Algumas palavras...
O Gepes
A sociedade é sonora!
consciência do ambiente sonoro ao
nosso redor.
Nosso ambiente é repleto de sons
O Gepes, tem na pesquisa “Caro Marco Aurélio, parabéns pela
que são parte integrante da iniciativa.
participante o princípio Deste lado do atlântico, espero que
Paisagem Sonora que o compõe e se metodológico mais adequado às possamos estreitar relações institucionais,
transforma à medida que sons e nossas necessidades de de forma a que possamos ser parceiros em
mais sons são acrescidos e ou investigação. “A importância na muitos dos projectos que por aí vão sendo
suprimidos do ambiente, em boa articulação – conhecimento e realizados. Um abraço transatlântico”.
parte, pela ação do ser humano; aplicabilidade visando uma
Profº Drº LEVI LEONIDO F. DA SILVA
hoje, produzimos, cada vez mais e melhoria nas relações do homem Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro/
de forma desordenada, sons que vão com a sociedade – que se faz Escola das Ciências Humanas e Sociais/
se tornando parte do ambiente Departamento de Educação e Psicologia/Director
presente neste tipo de pesquisa da Revista Europeia de Estudos Artísticos/
transformando-o dia-a-dia numa social nos é primordial, não Investigador do Centro de Investigação em
“odisséia sonora” que vem havendo lugar para uma forma mais Ciências e Tecnologias das Artes.
deixando, gradualmente, surda convencional de investigação, pois
nossa sociedade. de nada adiantaria um relato “Que maravilha!!!Somos os pioneiros em
Assim, com o intuito de quantitativo e ilustrativo, sem que uma linha de pesquisa raríssima em nosso
estabelecer interface entre Ensino houvesse um retorno para o seio País, isto é muito gratificante para nós”!
de Música e ambiente, criamos o social, buscando uma interação e
Ingrid Kelly Castro e Silva
Grupo de estudos e pesquisa em uma possível transformação do Integrante do Gepes/aluna do curso de música
Ecologia Sonora - Gepes, onde ambiente social”(SILVA, 2006). Bolsista PIBIC/FAPEMA
empreendemos, no momento, um O desenvolvimento de tal
mapeamento sonoro do centro proposta, inovadoramente ousada, “Sabemos o quanto sua pesquisa é
histórico do bairro Praia Grande, em no âmbito da Educação Musical no importante para uma tomada de
São Luis, Maranhão. Brasil, nos faz perceber o belo consciência, para uma percepção sonora
caminho que temos pela frente. mais atenta e preocupada com os sons que
São Luís tem sua história estão a sua volta”
ligada, diretamente, ao Como nos mostra a pesquisadora
descobrimento do Brasil, por Profª Drª Marisa Trench de Oliveira Munique Silva
conseguinte, a cidade possui riqueza Fonterrada, maior autoridade no Integrante do Gepes
Profª de Dança e pesquisadora
cultural ímpar, significativa e assunto na América Latina e que
singular. Seu centro histórico, hoje, muito tem nos apoiado:
convive com uma Paisagem Sonora “O professor Marco Aurélio tem se
muito diferente da original e é mostrado um pesquisador
natural que seja assim, porém, esta interessado e atuante com inegáveis
nova Paisagem Sonora está em benefícios para a Universidade onde
consonância com o ambiente em atua, para o estado do Maranhão e
que interfere? De que forma o para todo o Brasil e, em minha
ambiente estimula a produção de opinião tem o perfil acadêmico
som e ruído ou ainda, de que forma adequado para desenvolver os
esta relação contribui para que estudos a que se propõe(...) Ele tem
sejamos induzidos a “aceitar”, a muito boa formação acadêmica e
tolerar e assim, permanecer, no está investindo em uma área ainda
ambiente? Estas são questões iniciante no Brasil – a da Ecologia
Professor e pesquisador Marco Aurélio e a
interessantes e nos levam à reflexão Acústica – com aplicações nas áreas Pesquisadora Marisa Trench de Oliveira Fonterrada,
a partir do instante que tomamos de Educação e de Artes(...)” em apresentação do projeto de pesquisa do GEPES
no Instituto de Artes da UNESP, Sãõ Paulo, Brasil.
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sonoro do centro histórico da cidade de São Luis, 2008, p.1). E podemos verificar que “O som em
Maranhão? E como corolário desta questão, de excesso – ou indevido – acarreta conseqüências
que modo construir uma escuta sensível em severas à qualidade de vida da população. Sua
alunos dos cursos de Licenciatura em Música, falta de controle afeta a saúde do indivíduo e
durante seu período de formação, de forma a contamina intensamente as relações sociais. À
habilitá-los para empreender trabalhos de medida que a cidade cresce, queixas públicas
Educação Musical interligados às questões da relacionadas ao ruído tornam-se cada vez mais
Paisagem Sonora? numerosas”(EL HAOULI;FONTERRADA;
O músico e pesquisador canadense R. TABORDA, 1998, p. 6).
Murray Schafer começou a desenvolver, a partir A Educação Musical se configura em
da década de 1970, um projeto - até então inédito relevante ferramenta para reflexão na construção
- chamado The Soundscape Project, em que de uma Paisagem Sonora equilibrada, pois, as
realizou um estudo sistematizado sobre a fontes poluentes então mais perto de nós do que
produção sonora em ambientes rurais e urbanos, se pode imaginar e o conteúdo construído a partir
tendo como objetivo principal chamar a atenção do entendimento desses fenômenos pode tornar o
da sociedade para a questão da escuta, apontando alunado mais sensível em relação ao universo
soluções práticas e contribuindo para a melhoria sonoro. “Esses novos sons, que diferem em
da percepção auditiva das pessoas. Paisagem qualidade e intensidade daqueles do passado, têm
Sonora é, segundo o conceito que norteia nossa alertado muitos pesquisadores quanto aos perigos
reflexão, uma expressão usada nos países latinos, de uma difusão indiscriminada e imperialista de
traduzida do inglês "soundscape" - neologismo sons, em maior quantidade e volume, em cada
criado por Schafer -, que tenta descrever - qual reduto da vida humana”(SCHAFER, 2001, p.17).
uma pintura - os sons de um determinado A Educação Musical, em suas possibilidades de
ambiente. Para Schafer, a Paisagem Sonora é intervenção no que tange às questões
formada por todo e qualquer som que se propaga relacionadas à poluição sonora, parece ignorar a
por um determinado ambiente, sendo assim, a Paisagem Sonora como algo a ser observado com
percebemos em constante mudança e a poluição critério e cuidado no sentido de buscar
sonora, parte integrante de nossa Paisagem entendimento sobre nossa realidade sônica, o que
Sonora, está presente no cotidiano da sociedade. abre uma lacuna na formação de alunos,
A falta de atenção a esta realidade traz sérios professores e cidadãos. “Se ainda acreditamos na
problemas para a vida e saúde do ser humano. educação como alavanca para transformação
“A poluição sonora ocorre quando o homem não social, concordamos que ela deve ser estendida
ouve cuidadosamente. Ruídos são os sons que além dos muros da escola, inserida em todos os
aprendemos a ignorar”(SCHAFER, 2001, p.18). ambientes sociais”(CASTRO, 2001, p.6).
Hoje, discussões em torno de questões Galiazzi, em pesquisa empreendida no ambiente
acerca da preservação ambiental ganharam de formação de professores de ciências, nos
espaço considerável na agenda da comunidade chama a atenção para a lacuna existente entre
acadêmica e científica; na sociedade realidade e preparação docente. Segundo a
contemporânea, porém, o som parece não pesquisadora: “Outro dos dilemas a serem
integrar parte relevante destes temas em reflexão. superados pelos cursos de Licenciatura é a falta
“Apesar de nos últimos anos ter havido um de integração entre a Licenciatura e a realidade.
crescimento vertiginoso do desenvolvimento dos Há pouca consonância entre quem forma o futuro
índices de poluição sonora, principalmente nos professor e os sistemas que o absorvem como
centros urbanos, as questões tecnológicas para a profissional”(2003, p.23); isto nos faz ver que o
minimização da poluição sonora estão longe de Ensino de Música deve se apropriar deste pensar
superar hábitos arraigados e culturalmente em direção ao ambiente sonoro. Entretanto, “(...)
ensinados aos jovens”(BASTOS; MATTOS, o som ambiental e as questões que o cercam têm,
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ainda, pouco espaço de divulgação. Em alguns sonora do mundo com uma composição musical,
países desenvolvidos, existe uma certa da qual o homem é o principal compositor; e
preocupação a esse respeito, mas nos países em fazer julgamentos críticos que levem à melhoria
desenvolvimento, entre os quais o Brasil, a de sua qualidade”(SCHAFER, 1992, p.284). A
questão é praticamente inexistente chave do estudo de Schafer parece-nos a máxima
(FONTERRADA, 2004, p.43). do trabalho de Educação Musical, onde, “(...)
Percebemos, assim, a importância do lugar compreender que a educação musical não é
que se constitui ao educador musical na apenas uma atividade destinada a divertir e
discussão e pesquisa de temas relacionados a entreter as pessoas, tampouco um conjunto de
escuta. Em 1998, através da Secretaria Municipal técnicas, métodos e atividades com o propósito
de Meio Ambiente e a Pro-Arte, no Rio de de desenvolver habilidades e criar competências,
Janeiro, um grupo de pesquisadores, dentre eles embora essa seja parte importante de sua tarefa.
Marisa Trench de Oliveira Fonterrada e Tato O mais significativo na educação musical é que
Taborda, publicou uma cartilha chamada ela pode ser o espaço de inserção da arte na vida
“Escuta: a Paisagem Sonora da cidade” onde “O do ser humano, dando-lhe possibilidade de
que se constata é que, dentro do perímetro atingir outras dimensões de si mesmo e de
urbano, especialmente nas cidades grandes, a ampliar e aprofundar seus modos de relação
população é submetida a índices de ruído cada consigo próprio, como outro e com o mundo”
vez mais intensos, constituindo-se a poluição FONTERRADA, 2008, p. 117).
sonora uma das principais fones de conflito da A Paisagem Sonora não é caminho único e
vida moderna”(EL HAOULI;FONTERRADA; muito menos saída redentora, porém, é essencial
TABORDA; et al, 1998). para o aprendizado e construção de uma
Segundo Adorno,“as formas de arte consciência sonora, no conceito que chamamos
registram a história da humanidade com mais de Audição Inteligente.
exatidão do que os documentos”(2002, p.42).
Assim, para a pesquisa sonora, aqui, para o A PESQUISA
Ensino de Música e a Paisagem Sonora, o som e
Buscando um elo entre o saber e a ação
o universo sonoro do ambiente devem estar em
através da participação dos atores que, ao nosso
constante ressonância com seus estudos e
olhar, têm elementos para auxiliar na construção
práticas educativas, uma vez que, se faz
de uma consciência ecológica acerca da acuidade
necessário poder discernir sobre que fontes
auditiva, pensamos ser a pesquisa participante o
sonoras devem estar presentes em cada
princípio metodológico mais adequado às nossas
momento; o silêncio absoluto talvez não exista.
necessidades de investigação. A importância na
“Nenhum som teme o silêncio que o extingue, e
articulação – conhecimento e aplicabilidade
nenhum silêncio existe que não esteja grávido de
visando uma melhoria nas relações do homem
sons.”(CAGE apud FUCKS, 1991, p.16.). Paulo
com a sociedade – que se faz presente neste tipo
Freire nos chama a atenção para a necessidade de
de pesquisa social nos é primordial, não havendo
se saber escutar: “(...)necessário é saber escutar
lugar para uma forma mais convencional de
(...)”(FREIRE, 1996, p.127). O ser humano
investigação, pois de nada adiantaria um relato
pouco atento aos sons que houve é como alguém
quantitativo e ilustrativo, sem que houvesse um
que enxerga mais não vê. Parafraseando Paulo
retorno para o seio social, buscando uma
Freire: “Educar é discernir o ouvir”. Nós
interação e uma possível transformação do
educadores temos uma tarefa maior do ensinar
ambiente social.
rudimentos teóricos sobre nossa arte e ou
Nosso processo de investigação tem -
ciências. “Apresentar aos alunos de todas as
apoiado no observar, coletar, interpretar,
idades os sons do ambiente; tratar a paisagem
argumentar e construir - estreita relação com as
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bases da pesquisa participativa e, além disso, este semiestruturado; coletar dados sobre a legislação
tipo de pesquisa nos dá a flexibilidade que sonora ambiental no âmbito municipal, estadual
necessitamos para a construção do saber, sem e federal, entendendo se as regras vigentes são
nos engessarmos em técnicas metodológicas que claras, e ainda, se são cumpridas; levantar e
não resultam em retorno à sociedade do que foi analisar dados sobre os impactos da Paisagem
construído e investigado. Este retorno se Sonora do ambiente em questão no cotidiano da
configura em elemento de atração e talvez por comunidade, propondo aos participantes, sempre
isso, este tipo de pesquisa venha sendo cada vez que possível, uma reflexão sobre a qualidade
mais desenvolvido na área educacional. “Numa sonora a partir da exposição do áudio captado;
Pesquisa sempre é preciso pensar, isto é, buscar comparar os dados colhidos após a nossa
ou comparar informações, articular conceitos, intervenção com dados anteriores a ela, para
avaliar ou discutir resultados, elaborar observar a evolução do panorama sonoro em
generalizações, etc”(THIOLLENT, 2002, p.27). questão; registrar através de fotografias todo o
Assim, nossa proposta está articulada em processo realizado; editar o áudio coletado, se
duas etapas: possível junto aos participantes, para que faça
1ª etapa: Estudo Bibliográfico, parte de Cd que acompanhará a publicação
reconhecimento, compreensão e análise da didática.
Paisagem Sonora do bairro praia grande;
RESULTADOS ESPERADOS
2ª etapa: A elaboração, a partir do que foi
colhido e analisado na etapa anterior, em Considerando os objetivos pretendidos de
conjunto com a comunidade, de publicação se construir um mapeamento do panorama
didática que possibilite uma tomada de sonoro do bairro Praia Grande, em São Luis, a
consciência por parte da sociedade acerca das avaliação será processual, respeitando as
implicações decorrentes da exposição e produção competências desenvolvidas e as especificidades
sonora de forma desordenada e indiscriminada. do grupo participante; ao final do projeto,
O aporte metodológico da Pesquisa esperamos entender como se dá a relação entre
Participante nos dá flexibilidade e os sons do ambiente sonoro e comunidade, conhecendo
cotidiano se tornam, também, uma forma assim, seus problemas e buscando soluções
atraente de difusão dos resultados conquistados exeqüíveis.
no projeto, pois, através dele propomos um
pensar sonoro em que a comunidade envolvida e REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
pesquisada interferirá, diretamente, no
ADORNO, Theodor Wiesengrund. Filosofia da Nova Música. São
andamento do projeto. Paulo: Ed.Perspectiva, 2002.
BASTOS, Patrícia Weishaupt; MATTOS, Cristiano Rodrigues. Física e
poluição sonora: uma proposta de dinâmica do perfil conceitual.
Curitiba: XI Encontro de Pesquisa em Ensino de Física, 2008.
ATIVIDADES PROPOSTAS CASTRO, Luciana. Análise dos padrões de voz no Cinema. A
Comunicação oral humana em duas versões de The Nutty Professor.
Rio de Janeiro: Dissertação (Mestrado) NUTES/UFRJ, , 2001.
Propomos: EL HAOULI, Janete; FONTERRADA, Marisa: TABORDA, Tato:
NEVES, Estela: SANT’ANNA, Elisabeth: COUTO, Natalia L.F. Escuta!
Realizar um reconhecimento da Paisagem A paisagem sonora da cidade. Cartilha da Secretaria Municipal de Meio
Ambiente do Rio de Janeiro e Pró-Arte. Rio de Janeiro, 1998.
Sonora do bairro Praia Grande; conhecer, através FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De tramas e fios. São
Paulo: Editora UNESP, 2008.
de captação de áudio, com gravador digital e __________________________. Ecologia Sonora. São Paulo: Irmãos
Vitale, 2004.
FUCKS, Rosa. O Discurso do Silêncio. Rio de Janeiro: Enelivros Editora
aferição de decibéis, com um decibelímetro, a e Livraria Ltda, 1991.
GALIAZZI, Maria do Carmo. Educar pela pesquisa: ambiente de
realidade sonora do ambiente da comunidade do formação de professores de ciências. Rio Grande do Sul: Editora Unijuí,
2003.
bairro; conhecer as competências prévias que o SCHAFER, R. Murray. A Afinação do Mundo. São Paulo: Fundação
Editora da UNESP, 2001.
grupo investigado possui sobre os conceitos de ______________. O Ouvido Pensante. São Paulo: Fundação Editora da
UNESP,1991.
som e ruído, mensurando seu nível de SILVA, Marco Aurélio A. da. Imagens sonoras do ambiente e
educação: relato de uma pesquisa participante no ensino superior de
conhecimento e preocupação acerca destas licenciatura em música. Dissertação de mestrado, 2006.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-ação. São Paulo: Ed.
questões, através de um questionário Cortez, 2002.
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