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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ-UEPA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO-CCSE


DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS-LETRAS LÍNGUA PORTUGUESA
DISCIPLINA: SEMIÓTICA
II ATIVIDADE AVALIATIVA

Docente: Rosielem Almeida

Discentes: Alana Pinheiro

Roberta Baia

Vanessa Lobato

Partindo do pressuposto de que tudo a nossa volta se configura como linguagem,


e sustentada pela observação de que todas as coisas têm um significado e uma forma de
representação, encontramos em Semiótica o estudo de como esses fenômenos ocorrem.
A Semiótica, que segundo Santaella (2012), é uma ciência que estuda todas as
linguagens possíveis, teve seu status de reconhecimento graças à Charles Sanders
Peirce, considerado o “pai” desta ciência, e é sob a ótica de sua teoria que iremos
realizar por meio deste texto, uma análise a respeito de uma das capas da edição
especial sobre moda e feminismo da revista ELLE.

Antes de adentrarmos a parte central de nosso trabalho, precisamos


primeiramente compreender as classificações semióticas peircianas, as quais nos
permitirão realizar o estudo analítico da capa de revista mencionada. Estas
classificações são triádicas e têm base na fenomenologia, que é o “estudo que permite
distinguir as diferenças nos fenômenos (por fenômeno, qualquer coisa que esteja de
algum modo presente à mente) e generalizar essas observações a ponto de ser capaz de
sinalizar algumas classes de caracteres muito vastas, presentes em todas as coisas que a
nós se apresente”. (SANTAELLA, 2012, p. 7).

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As mesmas atendem pelos nomes de Primeiridade, Secundidade e Terceiridade.
Em primeiridade faz-se apenas a contemplação do fenômeno, e tudo que se pode ver são
suas qualidades, não sendo possível fazer nenhuma análise nesta fase, visto que ela
ocorre de maneira muito imediata. Na secundidade, já é possível começar a fazer
distinções, mas ainda não se pode tomar nada como certo. Pois apenas na terceiridade, é
que se pode afirmar algo, é onde a análise acontece de fato, e é onde se encontra a noção
de signo. De modo que, qualquer coisa pode configurar-se como signo, desde que
apresente uma qualidade, exista por si mesmo e seja declarado culturalmente.

Ademais, seguindo nas tricotomias de Peirce, temos uma rede de classificações


dos tipos possíveis de signos, distribuídas no quadro a seguir:

QUADRO 1: CLASSIFICAÇÕES DAS TRICOTOMIAS DE PEIRCE

O signo em O signo em O signo em


relação a si relação ao seu relação ao seu
mesmo objeto interpretante

Primeiridade quali-signo ícone rema


produz um algo que se dá à conjectura/hipótese
sentimento vago e contemplação,
indivisível sugestivo

Secundidade sin-signo índice dicente


singulariza e ligação de uma signo de existência
individualiza coisa com outra real
Terceiridade legi-signo símbolo argumento
convenções e representação, signo é uma
regras considerado por sentença, um
meio das enunciado

Fonte: criado pelas autoras (2022) convenções sociais

Tendo em mente esses conceitos, que poderão ser melhor compreendidos ao


decorrer do texto, passemos à contextualização do nosso objeto de análise.

A Revista ELLE surgiu no Brasil no ano 1988, pertence ao grupo Abril e editada
pela Editora do mesmo grupo. Segundo Castro (2017), a revista impressa conforme

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consta no site da publiabril, tem cerca de 44.933 assinantes e na revista digital 11.158, o
site chegou a 32.953.000 de visualizações na página que trazem temas como: tendências
de moda, estilos de vida, beleza, comportamento e cultura. A vista disso, a revista em
análise lançou quatro capas diferentes na edição de 2015, nas quais contém uma modelo
e frases do movimento feminista.

Vale elucidar, ainda, o contexto histórico nacional do momento em que essas


capas foram produzidas. De acordo com Castro (2017) nesse período, o Brasil passava
por diversas manifestações motivadas por acontecimentos políticos e sociais, isso após
um caso de assédio na internet a uma adolescente de doze anos participante do Reality
Show Master Chef, o que gerou uma campanha online com a hashtag #Primeiroassédio,
levantada por feministas do grupo Think Olga, na qual algumas mulheres denunciavam
assédios sofridos durante suas vidas. Bastante repercutida, a campanha supracitada
alcançou, conforme o levantamento do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de
Dados (IBPAD) 2,5 mil tweets no Twiter, teve também grande repercussão no
Facebook.

Outrossim, outro fato importante desse contexto histórico foi quando a Comissão
de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmera dos Deputados aprovou um projeto
que dificulta o atendimento médico às vítimas de estupro, nesse projeto ainda continha a
lei de punição para os médicos que indicassem a pílula do dia seguinte para as vítimas
ou sugerisse a realização do aborto legal.

Esse fato também movimentou vários coletivos feministas que efetuaram


protestos de indignação por essa lei, esses movimentos ocorreram em muitas cidades do
País, onde as mulheres expuseram cartazes com frases como as presente na campanha
da revista ELLE Brasil. Gritavam em prol da legalização do aborto, o uso da pílula do
dia seguinte, segurança nos transportes públicos e a liberdade em poder vestir-se como
preferir.

Desse modo, em torno do contexto exposto em que o País vivenciava, segundo


Castro (2017) nota-se que a revista ELLE Brasil, em sua campanha denominada
“manifesto feminista”, publicada no mesmo período desses acontecimentos na edição de
2015, como já mencionado, atentava para os clamores das ruas, e assim, aproveitou a
visibilidade e trouxe para essa edição, os dizeres entoados nesses protestos como: “Meu
corpo, minhas regras”, “Vestida ou pelada quero ser respeitada”, “Meu decote não dá

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direitos” e “Minha roupa não é convite”. Mais precisamente toma-se como estudo, ao
longo deste trabalho, a capa onde consta o segundo título supracitado, a qual
observaremos de acordo com as tricotomias de Peirce.

Comecemos então, com a análise em primeiridade a partir da imagem 1,


ilustrada a seguir.

Imagem 1: Primeiridade

5 3

2
1
2

Fonte: imagem criada pelas autoras.

Tomando a imagem acima como signo, podemos perceber na sua primeiridade


os tons de vermelho (1) e branco (2), acompanhado de uma silhueta (3) em um fundo
cinza (4), e formas retangulares posicionadas irregularmente (5). Podemos supor que
seja uma figura feminina, a qual aparentemente não está coberta com roupa em um dos
lados, e a partir da noção da forma retangular em que o signo se comporta e a colocação
e sobreposição de cores, conjecturamos que se trate da capa de alguma produção
artística.

Passemos agora à análise em secundidade, a partir da imagem 2.

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Imagem 2: Secundidade

1
2

3
5

4
Fonte: imagem criada pelas autoras.

Após essas primeiras impressões, na secundidade, percebemos que já é possível


identificar que a figura representada na imagem, corresponde à figura de uma mulher
(1), que está mesmo despida de um lado do corpo (2), ao passo que do outro, está
vestida com o que percebemos ser uma roupa formal (3). Essa representação, de pele à
mostra, nos remete às vestimentas comuns na atualidade, consistindo no uso de roupas
muito curtas, através das quais as mulheres expõem muito de seu corpo. E ainda, a
ensaios fotográficos feito por mulheres completamente despidas, os quais são vistos
com maior regularidade atualmente. Assim, é possível que se trate de uma capa de
revista, como indica os elementos em verde (4) e em preto e branco (5).

Por último, seguindo as classificações de Charles Peirce, chegamos à análise em


terceiridade, a partir da imagem 3.

Imagem 3: Terceiridade

5
5
14
4 15
16
3 1
6 2

13
7
11 9 10
12
3XGT4WUukgu9Li2G8

Tendo em vista o que foi explanado nas duas primeiras tricotomias, partimos
agora para uma análise mais definitiva do objeto em estudo, a terceiridade. Nessa fase já
podemos afirmar que se trata de uma mulher no centro da capa (1) ao observarmos o
formato do corpo, os seios, a face feminina e ainda o cabelo comprido sendo uma
convenção social a mulher ter os cabelos longos. Ademais, ainda sobre a mulher,
identificamos que de um lado do seu corpo na parte superior está nu (2), enquanto que
do outro lado usa uma roupa formal na cor preta (3) o que convencionalmente são trajes
formais masculinos.

Nessa mesma linha de pensamento, percebemos por meio das expressões faciais
(4), da maquiagem contornada e do cabelo desgrenhado (5) na imagem da modelo, a
representação de força feminina, posicionamento e determinação, contrariando a
imagem que a sociedade convencionou agregar às mulheres de que elas devem ser
frágeis, meigas, recatadas e submissas.

Outro elemento a ser analisado, é a frase “Vestida ou pelada quero ser


respeitada” escrita no centro da capa (6), bem como foi explicado anteriormente, essa é
uma das frases trazidas por vários coletivos feministas nos protestos que reivindicava
vários direitos incluindo a livre escolha em poder vestir-se de acordo com a sua
vontade. A frase abordada que está na parte central da capa à frente da imagem da
mulher, em faixas vermelhas, (7) escrita na cor branca, (8) em letras maiúsculas bem
destacadas visando alertar, chamar atenção do leitor. Isso associado a imagem da

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mulher analisada acima, afirmamos que essa intertextualidade, objetiva argumentar o
respeito com a livre escolha da mulher.

Por conseguinte, está presente abaixo da figura feminina apresentada no centro


da capa, em letras vermelhas a frase “Manifesto Feminista” (9) que, como abordado
anteriormente, refere-se aos protestos realizados por mulheres em prol da liberdade
feminina. Associado à seguinte frase, notamos também outros nomes (10) de figuras
feministas de movimentos desse caráter, dentre elas, encontramos Juliana de Faria (11),
componente do grupo feminista Think Olga, como já mencionado esses foram alguns
dos ocorridos de grande visibilidade na luta desses grupos.

Desse modo, observamos ainda no objeto de estudo em questão, no canto


inferior esquerdo da capa, o emblema de uma árvore (12), e abaixo desta, escrita em
letras brancas, a palavra Abril, que faz referência a uma marca editorial, percebemos
também um código de barras (13) acima da seguinte ilustração, a partir destas
observações, podemos afirmar que se trata de uma revista.

Continuamente, ao assegurarmos que se trata de uma revista, vemos que o nome


“ELLE” (14) presente acima na capa em letras grandes maiúsculas e cor branca (15) é o
nome dessa revista. A vista disso, os outros elementos analisados anteriormente, bem
como o código de barra, o emblema com a palavra Abril, o qual simboliza a marca de
uma editora e a modelo, comprovam ser uma revista de moda. Outrossim, a frase
“edição especial moda e feminismo” (16) escrita abaixo do nome da revista confirmam
que a mesma lançou uma edição especial relacionando moda e feminismo.

A partir do exposto, sobre o que vimos no contexto histórico social no qual a


revista foi lançada percebemos, por um lado, a contribuição desta na difusão dos
clamores e reinvindicações das mulheres, mas por outro lado há também a apropriação
da visibilidade do movimento feminista que nessa ação objetiva aproveitar-se da causa
com intuito de marketing, fama e lucro. E mediante a nossa análise semiótica na
perspectiva de Peirce, constatamos a importância dessa ciência que nos permite atentar
para os detalhes que muitas vezes passam despercebidos, porém são carregados de
significado, onde cada elemento está interligado de modo a transmitir uma intenção.

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Referências:

CASTRO, Laíse L. C. de. O FEMINISMO ESTÁ NA MODA: AS CAPAS DO


MANIFESTO FEMINISTA DA REVISTA ELLE BRASIL. Revista Prâksis. Novo
Hamburgo. a. 14. V. 1, 2017.
Moda e Semiótica: Análise das capas de Dez/2015 da revista ELLE. Disponível em:
https://sorayaferreiraufjf.wixsite.com/conexoes/single-post/2016/08/16/moda-e-semi
%C3%B3tica-an%C3%A1lise-das-capas-de-dez2015-da-revista-elle Acesso em 28 de
Abril de 2022.
SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. 103.São Paulo: Brasiliense, 2012.

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