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INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA-ISTA

ISTA/PÓLO-CAXITO
CURSO DE DIREITO FORENSE

OS SIGNOS NA PERSPECTIVA DE CHARLES


SANDERS PEIRCE

CAXITO
/2022-2023
INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA-ISTA
ISTA- PÓLO-CAXITO
CURSO DE DIREITO FORENSE

OS SIGNOS NA PERSPECTIVA DE CHARLES


SANDERS PEIRCE

Trabalho apresentado a Docente,


______________como requisito necessário para
avaliação na cadeira de ______________-

GRUPO Nº
1º ANO
PERÍODO: NOITE
CURSO: DIREITO FORENCE
CADEIRA:

AUTORES:
1. Kelvin Pedro Garcia
2. Lurdes António

CAXITO
/2022-2023
RESUMO

Quando o assunto é o conceito de signo, já virou lugar-comum usar Saussure


contra Peirce, e Peirce contra Saussure. Costuma-se dizer que a concepção de um
é diádica enquanto a do outro é triádica, e que o primeiro exclui de suas
ponderações o referente, ao passo que o segundo toma-o como instância a quo, a
um só tempo, residual e fantasmática, da qual a atividade semiótica não deve ser
desvinculada. Saussure seria teórico do sistema, e Peirce, do processo. Até aí tudo
bem. O problema aparece no momento em que o raciocínio tenta autorizar um dos
teóricos promovendo o sacrifício do outro sem atentar para o fato de que ambos
estão na origem de duas tradições do pensamento semiótico fadadas atualmente à
busca dos consensos possíveis. Podemos dizer que uma concepção de signo não
dispensa a outra. Pelo contrário, vislumbramos a dimensão sistêmica de Saussure
no conceito peirceano de legi-signo e vemos a operação realizada pelo interpretante
de Peirce como similar à operação de transposição do sentido, cara à semiótica de
inspiração saussureana. Se o que aqui dizemos não constitui disparate, cumpre
avançar na proposta de aproximação entre Saussure e Peirce sem, no entanto,
descurar das diferenças teóricas que os separam.

Palavras-chave: Signo; Saussure; Peirce.

I
ÍNDICE

RESUMO........................................................................................................................I

1- INTRODUÇÃO..........................................................................................................1

2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................................................2

2.1- Definições de termos e conceitos.......................................................................2

2.2- A concepção de signo na semiótica de inspiração Peirceana...........................2

2.3- O Signo: elementos Semióticos de Peirce.........................................................3

2.4- Legado................................................................................................................6

3- CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................7

4- BIBLIOGRAFIA.........................................................................................................8

II
1- INTRODUÇÃO

Este trabalho apresenta uma discussão sobre aspectos fundamentais da


Semiótica desenvolvida pelo filósofo-lógico-matemático norte-americano Charles
Sanders Peirce (18391914), a qual pode ser entendida como uma Filosofia Científica
da Linguagem, cujo objetivo é a análise da ação e atividade dos signos. A discussão
considera, ainda, como a semiótica peirceana tem sido levada em conta para a
análise do processo de ensino-aprendizagem de Química, tendo-se em vista a
percepção de que a compreensão dos conceitos químicos não ocorre
independentemente das suas representações.

Iremos, dessa maneira, apresentar alguns princípios e conceitos essenciais


que fundamentam a Semiótica Peirceana, cujo alto grau de generalização, abstração
e sistematização teórica a configuram como aplicável à compreensão de diversos e
distintos sistemas de linguagem, e discutir, de forma mais específica, aspectos
relacionados ao ensino aprendizagem da Ciência Química.

A partir da apresentação dessas definições, cremos estar fornecendo alguns


encaminhamentos imprescindíveis para o entendimento dos fundamentos que
constituem as bases da Semiótica Geral de Peirce e, assim, indicando alguns rumos
para a observação e compreensão dos complexos processos de linguagem e de
mediação envolvidos no ensino aprendizagem, os quais podem ser estendidos a
outras ciências.

Para os objectivos deste, traçamos os seguintes: tivemos como objetivo geral,


conhecer os signos segundo a perspectiva de Charles Sanders Peirce e específicos
como: compreender a teoria dos signos de acordo a perspectiva de Charles Sanders
Peirce, analisar os signos na visão de Charles Sanders Peirce e por ultimo identificar
os elementos semióticos na perspectiva de Peirce.

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2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1- Definições de termos e conceitos

A definição de signo herdada da antiguidade, segundo a qual o signo é aliquid


pro aliquo, ou seja, “alguma coisa que está por outra”, tem o mérito de explicitar, na
sua generalidade, o modo básico da existência semiótica. O signo constitui, assim, o
fundamento do fenômeno da representação (ou re-(a) presentação), em que um
dado sensível, de ordem matérica, in praesentia, portanto, remete a algum outro
elemento, na maioria das vezes in absentia. Acontece, porém, que a existência
sígnica, na qualidade de representação de algo, pode ser concebida como relação
diádica, se adotarmos a perspectiva dos sistemas de significação que fundamentam
a atividade comunicativa, ou como relação triádica, caso o foco recaia no processo
de construção do signo. Com base nessa distinção, duas tradições do pensamento
semiótico se firmaram no ocidente: uma que responde pela visada sistematizante, e
outra que é adepta da visada processualizante.

Como se sabe, na origem dessas duas perspetivações do pensamento


semiótico, encontram-se o nome do americano Charles Sanders Peirce e o do suíço
Ferdinand de Sausssure, cada qual, segundo muitos dos seus comentadores, tendo
desenvolvido suas ideias com absoluto desconhecimento do trabalho realizado no
outro lado do Atlântico.

2.2- A concepção de signo na semiótica de inspiração Peirceana

Em seu livro Matrizes da linguagem e do pensamento, Lúcia Santaella (2001),


pesquisadora brasileira especialista na obra de Peirce, destaca a definição de signo
abaixo, dentre tantas outras fornecidas pelo pragmaticista estadunidense, por conta
de sua completude e nuançamento:

Um signo intenta representar, em parte, pelo menos, um objeto que é,


portanto, num certo sentido, a causa ou determinante do signo, mesmo que o signo
represente o objeto falsamente. Mas dizer que ele representa seu objeto implica que
ele afete uma mente de tal modo que, de certa maneira, determina, naquela mente,
algo que é mediatamente devido ao objeto. Essa determinação da qual a causa
imediata ou determinante é o signo e da qual a causa mediada é o objeto pode ser
chamada de interpretante. (p. 42-43).
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Como se pode observar, a definição descreve abstratamente a atividade
geradora do signo e apresenta seus elementos mínimos e seu modo de
funcionamento. Assim definido, signo equivale a fenômeno, ou seja, a tudo aquilo
que toma existência numa mente qualquer, isto é, numa instância concebida não
apenas como instância de intelecção, mas como lugar de operação, lugar onde o
fenômeno se dá pelo «contacto» hílico. Trata-se de uma definição que coloca em
cena três actantes em relação de interdependência e que parece dar primazia ao
objeto, na medida em que ele determina o signo. Mas só parece, porque, para
Peirce, o primeiro dessa relação é, de fato, o signo. Como elemento que representa
outro, o signo é o que primeiro tem existência numa mente qualquer, e o objeto
representado por ele passa a ser uma decorrência do signo, algo segundo, para o
qual ele remete.

O ponto central do conceito reside nas ideias de representação e


determinação. Assim concebida, a noção de signo em Peirce pode parecer obra de
um realismo ingênuo, em que os signos têm uma função nomenclatural, isto é,
servem para nomear «as coisas», os objectos pré-existentes à atividade semiósica.
Nada menos peirceano que isso. Na verdade, Peirce atribui à atividade semiósica a
constituição do próprio objeto, como o segundo de um primeiro (o signo), todos
envolvidos na «realidade» do fenômeno.

2.3- O Signo: elementos Semióticos de Peirce

Nada é um signo, a menos que interpretado como um signo. C.S. Peirce. O


filósofo Charles Sanders Peirce (1839 - 1914) investigava a relação entre objetos e o
pensamento. Em sua perspectiva, seria impossível compreender objetos externos ao
sujeito de forma acurada e de maneira universalmente aceitas entre diferentes
sujeitos. Essas críticas epistemológicas remontam de Locke, Hume e Kant, para
quem um mero empirismo ou um racionalismo isolado não seria capaz de
compreender a realidade. Peirce aproveitou o conhecimento e reflexões adquiridos
em sua formação como físico e matemático para formular sua teoria da semiótica, o
estudo dos signos.

O objecto teria qualidade intrínseca, mas de sua relação com o sujeito por
meio da linguagem resultava na representação da realidade. A unidade semiótica

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seria o signo: o estímulo com parâmetro dotado de significado. Peirce listou três
modos de o signo mediar os significados:

 Ícone: um parâmetro com relação de semelhança com o objeto. Uma foto,


por exemplo. Onomatopeias seriam ícones verbais. As limitações do ícone
basicamente são duas: nem todos os seres reconhecem um ícone (animais
se auto-reconhecerem em uma pintura) e depende da qualidade da
representação, como um retrato cubista não ter um retratado tão facilmente
reconhecível quanto em uma pintura realista.
 Índice: um parâmetro cujo signo possua uma relação de causalidade
sensorial indicando seu significado. Alguns índices podem ser interpretados
por animais. Por exemplo, onde há fumaça geralmente há fogo. Uma poça
d’água pode indicar que houve chuva. Pronomes demonstrativos e advérbios
são equivalentes verbais dos índices.
 Símbolo: uma relação puramente convencional entre o signo e seu
significado. Não há fortes evidências que animais na natureza usem os
símbolos. Sinais de chamados de baleias, cachorros e pássaros aproximam-
se mais dos índices.

O gorila Koko ou outros primatas que respondem a símbolos são exceções a


serem estudados. O símbolo é explicado ad infinitum por outros referentes, como
nas definições de um dicionário que levam a outra definição. Alguns símbolos são
não-verbais, como a cruz para simbolizar uma sepultura, a religião cristã, uma
nacionalidade (em bandeiras), um hospital, dentre outros. Nas línguas, quase a
totalidade das palavras são símbolos, representando alguma coisa, quer nominal
(um substantivo ou adjetivo) ou uma ação.

O signo em si (representâmen) seria o representante que transmitiria a ideia


do objeto representado ao interpretante, não a pessoa em si, mas o conjunto de
pressupostos e percepções do receptor.

Interessando na apreensão da realidade, Peirce (que era um e astrônomo que


se voltou à filosofia da ciência) propôs que havia três categorias básicas entre
elementos que resumiriam todas as outras relações. Essas categorias seriam a
primeiridade (monádica), a secundidade (relação diádica) e a terceiridade (a relação
triádica). A primeiridade formaria o novo, a possibilidade, a qualidade de um ser que
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não teria existência por si só, sem referência a outro ser, sendo, portanto, abstrato.
De sua negação, oposição, semelhança e contraste com outro, estabelecia-se a
secundidade, a própria relação, a qual assume função e existência. Por fim, a
terceiridade representaria uma generalidade.

Esses atributos estariam presentes no sistema do signo como primeiridade>


ícone, secundidade> índice, e terceiridade> símbolo, bem como no sistema
semiótico de signo, objeto e interpretante. Em uma rápida analogia, o azul (categoria
de primeiridade) não pode ser definido, mas em sua categoria de secundidade pode
ser definido como em “azul celeste”, anil, ou #0000ff. Por fim, o que é interpretado
como azul é a terceiridade, a qual pode ser aplicada de forma generalizante.

Com essas categorias, seria possível desdobrar cada elemento de forma


multiplicadora. Mas, Peirce reduzia-as em dez classes de signos, os nove signos
resultantes da tabela abaixo, mais o signo em si.

Representâmen Objeto Interpretante


signo em si signo com seu signo com seu
mesmo objeto interpretante
Primeiridade QUALI-SIGNO ÍCONE REMA
Qualidade Semelhança Relação mental de
Possibilidade semelhança
Sentimento Termo
Secundidade SIN-SIGNO ÍNDICE DICENTE
Realidade Conexão Contexto, fatos,
Atualidade Referência proposição
Existente Confirmação do
Sensação objeto
Terceiridade LEGI-SIGNO SÍMBOLO ARGUMENTO
Lei Abstração Forma lógica
Ideia Representação Dedução
Lógica Hábito Validado pelos
signos da lei
Primeiridade Secundidade Terceiridade

Ao considerar o papel do interpretante Peirce conclui sua teoria igualando o


conhecimento com a semiose (a produção de signos ou ação dos signos), um
processo contínuo de criar significados aos objetos. Epistemologicamente, a
verdade não seria passível de ser validada. Desse modo, a verdade é definida por
consenso, distinta da realidade. A verdade seria um processo, um processo de auto-

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verificação. A utilidade do conhecimento seria sua validade, surgindo aí o
pragmatismo como linha de pensamento epistemológico e ontológico.

2.4- Legado

Influenciado de Duns Scotus e George Boole, a relação lógica entre os signos


seriam mais importantes para Peirce. Estudar a realidade seria estudar as crenças
em abstrato. Esse foco nas relações entre os signos influenciou a psicologia e os
estudos da religião de William James, bem como a filosofia e teorias educacionais
de John Dewey. Para Peirce, o signo existe tanto como um objeto externo em um
plano de realidade objetiva como também existe na mente da pessoa que o percebe.

Contudo, Peirce considerou que as abordagens de James e Dewey eram


distorções de sua concepção de pragmatismo, pois a reduziam a um mero
instrumentalismo. Em razão disso, em seus escritos tardios passou a usar o termo
pragmaticismo.

Baseado em Peirce, Charles William Morris (1901 – 1979) estabeleceu três


disciplinas semióticas: a sintaxe (estudo da relação entre signos e signos), a
semântica (estudo das relações entre signos e objetos) e a pragmática (estudo da
relação entre signo, objetos e usuários).

As tríades de Peirce (ícone, índice e símbolo; o representante, o objeto


denotado, o interpretante) contrapõe às dicotomias da teoria dos signos de
Saussure, mas o foco comum no signo sedimentou a semiologia como a ciência dos
significados, influenciando a teoria da comunicação, o estruturalismo e a linguística.

Com essa abrangência os conceitos da semiótica somaram-se aos da


antropologia. Além dos fenômenos da comunicação, a semiótica passou a ser
aplicada a outros atos simbólicos, como a música, a ciência, a religião, a literatura,
as relações políticas, o vestuário, a culinária, a organização social, dentre outros.
Com essa abrangência da semiótica, Lévi-Strauss empregou largamente essas
teorias na formulação da antropologia estruturalista. Também são patentes as
influências na antropologia simbólica de Geertz, Turner e de Mary Douglas.

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3- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelos estudos desenvolvidos até o presente momento, podemos, em
princípio, concluir que a Semiótica, como teoria geral dos signos, idealizada e criada
por Charles Sanders Peirce, possibilita o uso de uma complexa fundamentação
teórica na análise e investigação dos sistemas de significação.

Na medida em que encontramos no pensamento de Peirce o pressuposto de


que tudo o que é apreendido pela mente, é apreendido com o caráter de signo,
sendo, nesse sentido, o próprio pensamento constituído numa corrente de signos,
isto direciona ao problema central das teorias que investigam os processos de
representação e significação.

Concluído, a atenta observação do pensamento filosófico de Peirce, ou seja,


as relações de interdependência e de sistematização de sua lógica, possibilita o uso
da semiótica peirceana e de toda a sua fundamentação teórica proporcionando
novas perspectivas para o entendimento de diversos fenômenos de mediação,
processos de significação, representação e interpretação, portanto, na observação
de todo e qualquer fenômeno de linguagem aplicados inclusive na áreas da Química
que possui uma linguagem muito específica, às vezes hermética. A teoria de Peirce
pode ser bastante útil na compreensão dos modos de apropriação dessa linguagem.

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4- BIBLIOGRAFIA

PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. Tradução de José Teixeira Coelho Neto. São
Paulo: Perspectiva, 2000.

PEIRCE, C. S. Semiótica e filosofia: textos escolhidos de Charles Sanders Peirce.


São Paulo: Cultrix, 1975.

PIGNATARI, Décio. Semiótica e literatura. 6 Ed. São Paulo: Ateliê Editorial: 2004.

SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2003.

SANTAELLA, Lúcia. Teoria geral dos signos. São Paulo: Pioneira, 2000.

ECO, Umberto. Tratado geral de semiótica. Tradução de Antônio de Pádua Danesi e


Gilson Cesar Cardoso de Souza. São Paulo: Perspectiva, 2003.

SANTAELLA, L. A teoria geral dos signos: semiose e autogeneração. São Paulo:


Ática, 1995.

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