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Semiótica e Maçonaria

A semiótica é a ciência geral dos símbolos que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem
sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação. O termo é derivado da palavra grega σημεῖον
(sēmeion), que significa "signo". No entanto tomemos cuidado para não avançar no campo exotérico,
pois o “signo” aqui colocado não tem relação alguma com os estudos do zodíaco. Talvez o ponto onde as
duas ciências se encontram seja apenas na etimologia da palavra. Isto porque a semiótica define signo
como uma tentativa de representar ao menos em parte um objeto, que é a causa determinante do signo.
Se por exemplo o objeto for uma casa, o signo seria sua planta baixa, uma fotografia ou um desenho. Da
mesma forma a semiótica trata de diferenciar signo de símbolo. Este último é definido como uma
proposta artificial, uma convenção de caráter arbitrário que refere-se à mente, ao pensamento, ou seja, à
razão. Por exemplo, a cor verde como símbolo da esperança ou a vermelha como símbolo da paixão.
Existem ainda definições distintas para “Ícone” e “Índice”, mas deixaremos a pesquisa aos que se
interessarem pelo tema...

De fato, comecei a me interessar pelo assunto quanto tomei conhecimento das “Dez Heurísticas de
Nielsen”, um conjunto de orientações desenvolvidas pelo engenheiro de software dinamarquês Jakob
Nielsen que visam potencializar a usabilidade de sistemas de informação (softwares). A segunda
heurística trata de “falar a língua do usuário”. Isto significa organizar as informações de um software na
tela do computador em conformidade com o que Nielsen chama de “modelo mental do usuário”. Da
mesma forma a semiótica explora a comunicação visual como jamais poderíamos imaginar. Notemos o
exemplo das figuras abaixo:

(A) (B)

Parece óbvio utilizar um gráfico de crescimento conforme representado na figura “A”, em que pese a
figura “B” tem exatamente o mesmo propósito. No entanto, ao estudar os fundamentos da Semiótica na
comunicação visual aprendemos que nosso cérebro processa e armazena com mais facilidade quando
as informações nos são apresentadas da esquerda para a direita. Não há nada de errado com a figura
“B”, mas isto é o que Nielsen chama de “agressão” ao modelo mental do usuário, pois o que todos
esperamos ao sermos apresentados à um gráfico de crescimento é algo parecido com a figura “A”.

O fato é que convivemos com a realidade a nossa volta sem nos dar conta dos procedimentos que o
cérebro humano utiliza para compreender os fenômenos cotidianos. E a comunicação que permeia
nossas vidas faz parte desses procedimentos tão naturais, que sua dinâmica se incorpora aos nossos
fazeres mais espontâneos, sem a devida mentalização. Mas, quando recorremos à Semiótica para
entender esses processos, deparamo-nos com uma avalanche de nomenclaturas e explicações
científicas capazes de levar a mente à exaustão.

Apesar de não ter sido o primeiro a utilizar os conceitos da Semiótica (como veremos mais a frente)
atribui-se a Charles Sanders Peirce, filósofo e matemático norte americano, o desenvolvimento da Teoria
Geral dos Signos. O exemplo a seguir define muito bem a teoria desenvolvida por Peirce:
1
Imagine que você vem por uma estrada e bem adiante algo chama sua atenção. Um borrão vermelho
que se movimenta. Algo cuja qualidade inicial é ser vermelho e isso é tudo o que você capta dele em um
primeiro momento. Ao se aproximar começa a visualizar que o vermelho se agita como um pano. Essa é
a segunda característica que você consegue identificar: a relação do vermelho com um pano em
movimento. Por fim, mais próximo do objeto, você desvenda sua dúvida: alguém agita uma bandeira
vermelha na beira da estrada compreendida imediatamente como sendo um aviso de que há perigo mais
adiante. É desse modo que nos situamos no mundo em nossa volta: primeiro os objetos surgem em
nossa mente como qualidades potenciais; segundo, procuramos uma relação de identificação e terceiro,
nossa mente faz a interpretação do que se trata. Por isso a semiótica se baseia numa tríade de
classificações e inferências, ao demonstrar que existem os objetos no mundo, suas representações em
forma de signos e nossa interpretação mental desses objetos. E uma das explicações mais citadas de
Charles Peirce é a de que o signo é aquilo que substitui o objeto em nossa mente; são eles que
constituem a linguagem, base para os discursos que permeiam o mundo. É disso que trata a Semiótica
de Peirce: o modo como nós, seres humanos reconhecemos e interpretamos o mundo à nossa volta, a
partir das inferências em nossa mente. As coisas do mundo, reais ou abstratas, primeiro nos aparecem
como qualidade, depois como relação com alguma coisa que já conhecemos e por fim, como
interpretação, em que a mente consegue explicar o que captamos, ao que Peirce chamou de
Primeiridade, Secundidade e Terceiridade. E todo esse processo é feito pela mente a partir dos signos
que compõem o pensamento e que se organizam em linguagens. Desde uma simples sensação até os
discursos mais elaborados, nossa mente vai lidar com os signos que fazem uma intermediação com a
realidade que nos cerca. A compreensão que temos do mundo, os registros e as interpretações, a
transmissão de informações, completam o processo de comunicação baseado nos sistemas de signos
que compõem toda e qualquer linguagem.

Eles ajudam a compor argumentos de raciocínio dedutivos, indutivos e abdutivos, e nos permitem
estabelecer métodos para chegarmos à compreensão de fenômenos diversos. Todo fenômeno cultural é
também um fenômeno de comunicação, constituído por linguagens que permitem a produção de sentido.
E é no ser humano que se desenvolve a transformação dos sinais em signos pela relação que ele
mantém com a linguagem. Portanto, pode ser muito mais prático compreender a semiótica a partir dos
processos mentais, que usamos cotidianamente, para, depois, aplicar as nomenclaturas criadas no
contexto dos diversos estudos já publicados sobre o assunto.

Avaliando estas definições não podemos deixar de associar semiótica com Maçonaria, pois aprendemos
que o “Símbolo e a alegoria, falando ao mesmo tempo aos sentidos e ao espírito, à imaginação e à
razão, servem para melhor gravar na memória as ideias que exprimem”.

Então porque não afirmar que o estudo da Maçonaria, por estar impregnado de símbolos e sinais, tem
forte influência da semiótica?. Este argumento ganha força quando observamos que a ciência dos signos
foi usada pela primeira vez, em estudos na língua inglesa, em 1670 pelo físico britânico Henry Stubbes,
em um sentido muito específico, para indicar o ramo da ciência médica dedicado ao estudo da
interpretação de sinais, e que o também britânico, o filósofo John Locke, usou os termos "semeiotike" e
"semeiotics" no livro 4, capítulo 21 de seu “Ensaio acerca do Entendimento Humano” em 1690. Ou seja,
ambos os eventos no berço (a Inglaterra) e praticamente às vésperas da criação da Maçonaria
Especulativa tal qual praticada atualmente.

Bibliografia:

1. Revista Eletrônica Temática. Comunicação e Semiótica – Visão geral e introdutória à Semiótica de Peirce – Agosto/2010
2. Web Site: https://pt.wikipedia.org/wiki/Semiotica
3. Web Site: http://aprendendosemiotica.blogspot.com.br/
4. Ritual 1º Grau – Aprendiz Maçom – Rito Moderno

Rogério Alegrucci - MM CIMP 247.473


rogerio.alegrucci@gmail.com
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