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História da semiótica
Platão (427-347)
- Platão tratou de vários aspectos da teoria dos signos; definiu signo verbal, significação e
contribuiu com idéias críticas para a teoria da escritura.
- O modelo platônico do signo tem uma estrutura triádica, na qual é possível distinguir os três
componentes do signo: o nome, a noção ou ideia e a coisa à qual o signo se refere.
- Ideias para Platão, são entidades objetivas que não só existem na nossa mente, como também
possuem realidade numa esfera espiritual além do indivíduo.
- Uma das questões levantadas por Platão foi se a relação entre nome, ideia e coisa é natural ou
depende das convenções sociais, sendo, portanto, arbitrária. As respostas platônicas são: 1)
signos verbais, naturais, assim como convencionais são só representações incompletas da
verdadeira natureza das coisas; 2) o estudo das palavras não revela nada sobre a verdadeira
natureza das coisas porque a esfera das ideias é independente das representações na forma
de palavras; 3) cognições concebidas por meio de signos são apreensões indiretas e, por este
motivo, inferiores às cognições diretas.
- Desse modo, para Platão, a verdade que se exprime e se transmite por palavras, mesmo que
as palavras possuam semelhanças excelentes com as coisas às quais se referem, é sempre
inferior ao conhecimento direto, não-intermediado, das coisas.
- Nessa tradição, o signo continuou para os gregos a ser uma percepção que indica qualquer
coisa escondida da cognição. Por isso, Platão usou o verbo “significar” como sinônimo de
“revelar”.
Aristóteles (384-322)
- Aristóteles começou a traçar uma distinção entre o signo incerto e o signo certo e discutiu a
teoria dos signos no âmbito da lógica e da retórica. Em geral, definiu o signo como uma
relação de implicação: se (q) implica (p), (q) atua como signo de (p).
- Além disso, Aristóteles descreveu o signo como uma premissa que conduz a uma conclusão.
- Chamou o signo linguístico de símbolo e o definiu como um signo convencional das “afecções
da alma”. Descreveu essas afecções como retratos das coisas.
Epicuristas
- Contra os estóicos, os epicuristas pretendiam desenvolver um modelo diádico do signo, no
qual só entram em composição o significante e o objeto referido. O significado imaterial do
signo não é reconhecido como componente semiótica do signo.
- Na base do modelo epicurista há uma epistemologia materialista, na qual o objeto físico é
considerado como a origem das imagens que emanam de sua superfície, na forma de
verdadeiros átomos. Na cognição do receptor, esses átomos icônicos reaparecem como uma
nova imagem chamada fantasia. A imagem emitida do objeto e a imagem captada pelo
observador descrevem, portanto, os dois componentes do signo.
- Por outro lado, os estóicos consideravam que a cognição não é só um processo inteiramente
mecânico; o reconhecimento de um signo, para eles, presumia a capacidade de antecipação
por parte do receptor. Uma tal antecipação, porém só é possível se na mente do receptor já
existem previamente imagens mentais ou conceitos capazes de antecipar a imagem.
- Considerando esse aspecto do processo semiótico, o modelo estóico do signo contém, em
verdade, uma terceira dimensão semelhante aos modelos triádicos do signo. Essa ideia de
uma imagem mental antecipando uma cognição atual, aliás, está bem de acordo com as
teorias modernas da ciências cognitiva, ao passo que a base materialista da teoria epicurista
parece hoje uma mera curiosidade da história da epistemologia.
- Semiosis, para os epicuristas, não pressupõe combinações lógicas, porque mesmo um cão
que segue a pista de um outro animal está apenas interpretando signos, sem conhecer as
regras da indução. Tais reflexões zoossemióticas, em conjunto com especulações sobre a
origem gesticular da língua, constituem a parte mais interessante da contribuição dos
epicuristas à história da semiótica.
O Racionalismo de Port-Royal
- No século XVII muitas ideias de interesse para o futuro da semiótica se desenvolveram sob o
Racionalismo francês.
Ideias inatas
- René Descartes, na sua teoria das ideias inatas, postulou a prioridade do intelecto sobre a
experiência. Do ponto de vista semiótico, a conseqüência maior dessa teoria foi o fato de ela
ter sido eliminada da teoria dos signos o aspecto referencial. Sem verdadeiro elo de contato
com o mundo aparente, o processo semiótico foi descrito em categorias mentais.
Hobbes (1588-1679)
- Thomas Hobbes elaborou uma definição diádica e materialista do signo verbal ao escrever que
“os nomes são signos das nossas concepções e não das coisas mesmas”. Se os signos não
podem se referir ao mundo, mas apenas a outros conceitos dele derivados, o processo de
semiose irá se desenvolver numa rede de tramas mentais, que Peirce, mais tarde, denominaria
de semiose ilimitada.
Berkeley (1685-1753)
- George Berkeley radicalizou a teoria diádica do signo no quadro do seu nominalismo e
idealismo ontológico. A matéria do mundo para ele, não participa do processo de semiose; as
nossas sensações do mundo são ideias impressas nos sentidos e não existem a não ser na
mente de quem as percebe. O ser delas é o ser percebido.
Locke (1632-1704)
- John Locke é a principal figura da história da semiótica de sua época. Ele descreveu os signos
como “grandes instrumentos do conhecimento” e distingue duas classes de signos: as ideias e
as palavras. As ideias são os signos que representam as coisas na mente do contemplador, as
palavras não representam nada “senão as ideias na mente da pessoa que as utiliza”. Palavras,
portanto, são os signos das ideias do emissor.
- Como ideias são signos – e as palavras são signos das ideias, na definição de Locke, são
signos de signos, ou como se diria hoje, meta-signos.
- A separação categórica entre dois níveis semióticos – ideias e palavras – implica problemas
sérios do ponto de vista da semiótica geral.
- A imagem que Saussure usou para descrever a relação entre palavra e ideia foi a imagem da
relação indissociável entre o anverso e o verso de uma folha de papel; no anverso tem-se o
significante de Saussure ou a palavra de Locke, no verso tem-se o significado ou a ideia. Não
se pode separar o anverso do verso de uma folha sem que se perca o conjunto.
Iluminismo
- Da semiótica no século das luzes, este panorama pode só escolher alguns capítulos do
Iluminismo francês, poucos apontamentos sobre o Iluminismo alemão e uma digressão curta
sobre Vico.
Vico (1668-1774)
- Os temas de maior relevo semiótico na Nuova Scienza são a poesia, o mito, a metáfora, a
língua e evolução dos signos da humanidade. Vico acreditava em uma “história ideal e eterna”,
na qual a humanidade teria passado por três fases de desenvolvimento: era divina, era heróica
e era humana. Essas três fases ocorrem em ciclos que podem resultar em fases de retrocesso
a estágios anteriores do desenvolvimento.
- Para Vico durante a era divina, os homens acreditavam que tudo fosse Deus ou criado por um
deus. Seria, pois, a época da semiose ritual, marcada por “atos religiosos mudos ou cerimônias
divinas”. Antes de desenvolver a linguagem articulada, os homens se comunicavam por meio
de hieróglifos divinos, ou expressavam-se por meio de gestos ou objetos físicos que tivessem
relações naturais com as ideias. A linguagem falada ter-se-ia se desenvolvido, então, a partir
da onomatopéia e das interjeições; era “uma linguagem com significações naturais”.
- Durante a época heróica, o modo dominante da comunicação deu-se por meio de emblemas
visuais, brasões, insígnias e outros signos de posse material. Ideias abstratas foram expressas
na forma antropomórfica de heróis míticos.
- Ambas as eras foram períodos de sabedoria poética e as pessoas que nelas viveram foram
autênticos poetas. Para Vico, portanto, poesia, metáfora e mito são formas arcaicas de
pensamento.
- A terceira era – a era dos homens – foi a idade da razão e da civilização. Os signos, agora
arbitrários, literais e abstratos, fazem com que entrem em declínio a poesia e a imaginação.
Porém, seria errôneo pensar que somente essa era teve acesso à verdade. Vico postulou que
as mitologias antigas não são meras ficções ou mesmo distorções da realidade, mas
expressões poéticas precoces da sabedoria humana.
Ciência e arte
- Nesse ponto, a época Iluminista da semiótica conduz a uma constatação surpreendente: a
iconicidade – correspondência entre signo e mundo – era o critério semiótico principal para
duas formas de expressão cultural tantas vezes consideradas contrárias à ciência e à arte. Em
ambos os setores, os iluministas viram a possibilidade de se atingir níveis mais altos de
perfeição por meio de signos que representem uma coisa por aproximação icônica. Esse ponto
de vista aproxima arte e ciência como irmãs gêmeas.
Referência Bibliográfica:
Nöth, Winfried. Panorama da Semiótica – de Platão a Peirce. São Paulo: Annablume, 1995.