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História dos Estudos

Linguísticos
PPGLLit - Letras - UFT
A origem dessas
investigações coincide com
a origem da filosofia:
Heráclito, Platão e
HISTÓRIA
Aristóteles eram teóricos
do “lógos” e, portanto,
linguistas avant la lettre.
 A tradição dos estudos
linguísticos na Europa vem
da cultura da Grécia Antiga.

HISTÓRIA  Heráclito foi o primeiro que


nos deixou algo concreto a
respeito do “lógos”: a
expressão do pensamento.
“Caminhando não
encontrarás os limites da
alma, mesmo se
HERÁCLITO percorreres todas as
(cerca de
544-483 a.C.) estradas, pois é muito
profundo o “lógos” que ela
possui.” (fragmento 45)
Três partes constituem uma
unidade (o signo):
 - “lógos”, no sentido da
afirmação acerca de um
acontecimento, uma vez que
possa este ser conhecido e
HERÁCLITO afirmado;
 - “épos”, no sentido do próprio
acontecimento linguístico;
 - “érgon”, no sentido de
acontecimento empírico, ao
qual o “épos” se refere.
 Para Heráclito, o “lógos” cria o
“épos”, que, por sua vez, designa o
“érgon”.
 Em Heráclito, é notória a ligação
entre a concepção do signo e a
concepção da linguagem, isto é, a
HERÁCLITO
compreensão do signo se escora
na compreensão da linguagem, o
que permanece com algo
predominante também para Platão,
Aristóteles e outros.
Conceito heraclítico de
“lógos”:
valor ontológico (razão,
inteligência universal), ou
cosmológico (lei cósmica,
HISTÓRIA fórmula do devir);
valor lógico (lei do
pensamento, lei lógica);
valor linguístico (palavra,
discurso, linguagem).
Em Heráclito encontramos,
dessa forma, a descoberta de
um desajuste entre o dizer e o
agir, a profundidade do “lógos”
(fragmento 45).
HISTÓRIA
Essa percepção será
aprofundada por Empédocles
(c. 480-435 a.C.) e por
Anaxágoras (c. 500-428 a.C.).
 Em Anaxágoras, os seres são vistos
em número infinito e absolutamente
misturados, sendo discernidos
somente pelo “noûs” (mente), que é a
causa do movimento (fragmentos 12 e
17).
HISTÓRIA
 Separado da coisa que representa, o
“lógos” passa a ser compreendido
como instituição humana, como fruto
da opinião geral, como obra de
convenção (fenômeno cultural).
 Já nos sofistas, a filosofia passa a se
afastar das investigações dos pré-
socráticos – sobre a natureza e o
universo, para ocupar-se cada vez
mais com as questões propriamente
humanas.
 A semelhança que uniu esse grupo é
HISTÓRIA
basicamente temática, o momento em
que a recitação de Homero já não
satisfazia como único alimento
cultural dos gregos e em que a
aristocracia entra em crise.
As idéias da sofística abalam a
filosofia, pois o mundo passa a
ser considerado como criação
do próprio homem, no qual os
HISTÓRIA
valores e as verdades são
sempre relativos, frutos de
convenções.
Não fazendo qualquer
distinção do “lógos” em
sua organização,
HISTÓRIA restringem as suas
investigações à exegese
dos poetas e à retórica.
 Destaquemos a contribuição de
Protágoras: tendo distinguido o gênero
dos nomes como masculino, feminino e
inanimado (equivalente do neutro), foi
quem iniciou a classificação gramatical
das palavras (Aristóteles, Retórica: III, 5,
HISTÓRIA
1407b 6).
 Falou, ainda, de diferentes formas de
“lógos” (Diógenes Laércio: IX, 53):
imprecação, interrogação, resposta e
ordem.
Platão:
“lógos” =
“ónoma” + “rhéma”.

GRÉCIA
ANTIGA Aristóteles:
“lógos apofantikós” =
“hypokeímenon” +
“rhéma”.
O modelo platônico de signo
tem uma estrutura triádica:
o nome (“ónoma”,
PLATÃO “nómos”);
(427- a noção ou ideia (“eîdos”,
347)
“lógos”, “dianóema”);
a coisa (“prágma”, “ousía”)
à qual o signo se refere.
Ideias, para Platão, eram
entidades objetivas que
não só existiam na mente,
mas também possuindo
PLATÃO
realidades numa esfera
espiritual além do
indivíduo.
No diálogo Crátilo,
Platão investigou a
relação entre o nome, as
ideias e as coisas.

PLATÃO
Umas das questões
levantadas é se a relação
entre nome, ideia e coisa
é natural ou depende
das convenções sociais.
Aristóteles definiu o signo
como uma relação de
implicação: se „q‟ implica „p‟,
„q‟ atua como signo de „p‟.

ARISTÓTELES
(384-322) “Pois aquilo que procede ou
segue o ser ou o
desenvolvimento duma coisa
é um signo do ser ou do
desenvolvimento dessa coisa.”
(Analíticos Primeiros, II, 70a,
7-9)
O modelo do signo
aristotélico é também
triádico:

ARISTÓTELES
“ónoma”;
“pathémata”
(afecções da alma);
“prágmata”.
 “A oração (“lógos”) é
uma expressão
significativa, da qual
cada parte, quando
ARISTÓTELES
tomada separadamente,
apresenta um significado
como enunciação e não
como afirmação.”
“Toda declaração depende
necessariamente de um
verbo, ou de sua
conjugação, pois a noção
de “homem”, à qual não
ARISTÓTELES
acrescentamos o “é”, ou o
“será”, ou o “era”, ou algo
desse gênero, ainda não
será uma declaração.”
No início de suas
categorias, Aristóteles
apresenta três formas de
nomear o mundo, ou seja,
ARISTÓTELES -
CATEGORIAS três modos discursivos
(três racionalidades):
homonímia, paronímia e
sinonímia.
ὁμώνσμα λέγεηαι ὧν ὄνομα
κοινόν, ὁ δὲ καηὰ ηοὔνομα
λόγος ηῆς οὐζίας ἕηερος.

HOMONÍMIA
ARISTOTELIS.
Categoriae et Liber de
Interpretatione. Oxford:
Oxford University Press,
1986, 1a, 1.
“Chamam-se
homônimas as coisas
[objetos] que têm
apenas o nome [signo]
em comum, enquanto
HOMONÍMIA
que o correspondente
enunciado
[interpretante] da
entidade é distinto.”
παρώνσμα δὲ λέγεηαι ὅζα
ἀπό ηινος διαϕέρονηα ηῇ
πηώζει.

PARONÍMIA
ARISTOTELIS.
Categoriae et Liber de
Interpretatione.
Oxford: Oxford
University Press, 1986,
1a, 12.
“Chamam-se parônimas
as coisas que diferem
PARONÍMIA de outra pelo caso.”
ζσνώνσμα δὲ λέγεηαι ὧν ηό
ηε ὄνομα κοινὸν καὶ ὁ καηὰ
ηοὔνομα λόγος ηῆς οὐζίας ὁ
αὐηός.

SINONÍMIA
ARISTOTELIS. Categoriae
et Liber de
Interpretatione. Oxford:
Oxford University Press,
1986, 1a, 6.
“Chamam-se sinônimas
as coisas [objetos] que
têm o nome [signo] em
comum, sendo o
SINONÍMIA correspondente
enunciado [interpretante]
da entidade também o
mesmo.”
Um modelo triádico do signo
é também a base da teoria
do signo dos estóicos:
“semaínon”
(significante – a
ESTÓICOS
entidade percebida
(300-200)
como signo);
“semainómenon” ou
“lékton” (significado);
“tynkánon” (objeto).
 A consideração da proposta
filosófico-linguística dos
estóicos é difícil, pois as
informações são em geral
indiretas, e o período
OS
ESTÓICOS E abrangido é muito extenso.
SUA  Perdendo a hegemonia
GRAMÁTICA política (crise), os gregos se
apegaram cada vez mais à sua
civilização, que vislumbravam
como superior.
 A perda da autonomia trouxe
consigo a reação natural do
desejo de preservar aquilo
que se está perdendo.
OS  Temos, então, um grande
ESTÓICOS E empenho crítico e filológico
SUA orientado para a preservação
GRAMÁTICA das formas de expressão, e,
consequentemente, “a criação
gradual de um domínio da
gramática” (Neves, 1987: 80).
Diógenes da Babilônia (240
- 150 a.C.) reconhece cinco
partes para a oração:
OS “As partes da oração são
ESTÓICOS E cinco, como afirma
SUA
GRAMÁTICA Diógenes [...], nome,
denominação, verbo,
conjunção e artigo.”
Definição de oração
(Idem, ibidem, p. 20):
OS “A oração é uma
ESTÓICOS E
SUA expressão
GRAMÁTICA significativa emitida
pela inteligência.”
Definição de significado
(Diógenes):
“A dialética trata, como
afirma Crisipo, dos
significantes e dos
OS significados; os primeiros, os
ESTÓICOS E significantes, estão
SUA determinados pelos estóicos
GRAMÁTICA na teoria da expressão;
quanto aos outros, o discurso
acerca dos dizíveis está
organizado em matérias que
tratam das coisas e dos
significados.”
Definição de expressão (Diógenes):
“Diferem a expressão e a dicção,
pois expressão é também um som,
e dicção, somente o articulado. A
dicção difere, ainda, da oração, pois
OS a oração é sempre semântica,
enquanto que a dicção pode não ter
ESTÓICOS E
sentido, como “blítyri”, que não é
SUA de nenhuma maneira uma oração.
GRAMÁTICA São diferentes também, o dizer e o
proferir; pois as expressões são
proferidas, enquanto que as coisas
são ditas, aquelas que apresentam,
ainda, um significado.”
 Adotam a lógica de enunciados –
de predicados.
 Essa compreensão é diferente da
lógica de termos aristotélica.
 Os estóicos compreendem a
OS declaração como a enunciação de
ESTÓICOS E acontecimentos (Deleuze), e não
SUA como a atribuição de predicados
GRAMÁTICA a um sujeito.
 Consequentemente, sua
declaração versa sobre as
implicações de relações
temporais.
 Para os estóicos, o enunciado
linguístico pode ser completo
ou não; só será completo, se
OS contiver o sujeito e o
ESTÓICOS E predicado, cada um deles, por
SUA si só, será sempre um “lékton”
GRAMÁTICA
– dito, incompleto.
 Dessa forma, determinam a
necessidade dos dois termos.
 Partindo da definição estóica
de verbo, perceberemos
claramente a ênfase que
colocaram na declaração como
OS enunciação de acontecimentos
ESTÓICOS E (Diógenes Laércio):
SUA
GRAMÁTICA
“Verbo é a parte da oração
que significa uma afirmação
não relacionada.”
Para os estóicos, verbo é
somente o infinitivo.
Todas as vezes que a
afirmação se relacionar a
OS
ESTÓICOS E um sujeito expresso no
SUA nominativo, chamar-se-á
GRAMÁTICA
“kategoréma” – asserção
ou “sýmbama” – acidente,
acontecimento.
Quando a declaração
tiver a necessidade
para se completar de
OS
outro vocábulo,
ESTÓICOS E chamar-se-á “menos
SUA que um
GRAMÁTICA
acontecimento” ou
“menos que uma
asserção”.
Em Aristarco (215 – 145
a.C.), já encontramos o
reconhecimento das oito
OS
ESTÓICOS E partes da oração
SUA (conforme esclarece
GRAMÁTICA
Quintiliano em Institutio
Oratoria. I, IV, 203).
Os estóicos estudaram com
profundidade a relação entre
significado e significante,
percebendo com clareza a
diferença entre a dicção e a
simples expressão.
ESTÓICOS -
CONCLUSÃO Quanto à definição do
enunciado, deram uma
importância maior aos
acontecimentos e aos
predicados, com a distinção
do verbo como elemento
essencial ao lado do sujeito.
Dionísio nasceu em
Alexandria e viveu
aproximadamente entre
170 e 90 antes de Cristo,
ocupando-se
TECHNÉ
GRAMMATIKÉ especialmente com a obra
de Homero, por meio de
comentários, dos quais
chegaram até nós algumas
dezenas de fragmentos.
 A melhor introdução para esta
gramática equivale com
certeza ao seu parágrafo
inicial (Dionísio, 1, 2-3):

TECHNÉ “A Gramática é o
GRAMMATIKÉ conhecimento empírico
do que se diz
frequentemente nos
poetas e nos
prosadores.”
Da gramática
“A gramática é o
conhecimento
TECHNÉ de empírico do que se
DIONÍSIO, o
GRAMÁTICO diz frequentemente
nos poetas e nos
prosadores.”
“A dicção é a menor parte da oração
em relação ao arranjo [sintaxe] .
A oração é uma composição, desde a
simples dicção em prosa,
manifestando um pensamento
completo.
São oito as partes da oração: nome,
TECHNÉ
GRAMMATIKÉ verbo, particípio, artigo, pronome,
preposição, advérbio e conjunção.
O vocábulo sintaxe, que aparece no
original grego, deve ser entendido
como arranjo significativo; ou seja,
a menor parte do enunciado que
apresenta um arranjo semântico é a
palavra.”
Detenhamo-nos na definição de
oração (“lógos”): a oração é uma
composição que manifesta um
pensamento completo.

TECHNÉ Dionísio não diz que a oração


GRAMMATIKÉ
completa necessariamente tem
as oito partes descritas, apenas
afirma que são oito as partes da
oração.
“O nome é uma parte casual da
oração, significando corpo ou
ação, corpo como „pedra‟, ação
como „educação‟, enunciado de
TECHNÉ
maneira comum ou própria,
GRAMMATIKÉ comum como „homem‟,
„cavalo‟, própria como
„Sócrates’. Há cinco acidentes
para o nome: gênero, espécie,
figura, número e caso.”
“Verbo é dicção sem caso,
capaz de indicar tempo,
pessoa e número,
exprimindo o ativo ou o
TECHNÉ
passivo. Há oito acidentes
GRAMMATIKÉ para o verbo: modo,
disposição, espécie,
esquema, número, pessoa,
tempo, conjugação.”
APOLÔNIO DÍSCOLO
(II séc. depois de Cristo)
“lógos” =
“hypokeímenon” +
“rhéma”
 Porém, de todas as obras de
Apolônio, conservaram-se
apenas quatro: Do Pronome,
Dos Advérbios, Das Conjunções
e Da Sintaxe das Partes da
Oração.
APOLÔNIO  Na última dessas, Apolônio,
ordenando as partes da
oração, estabelece duas como
essências e as restantes como
acessórias (Uhlig, 1910: 11b, 6-
14).
“A ordenação é a imagem da
oração completa,
rigorosamente, em primeiro
lugar, coloca o nome, depois o
verbo, pois sem esses a oração
não está completa. Agora,
unem-se seguramente por
meio da sintaxe, que se ocupa
APOLÔNIO das partes da oração, e, por
causa dela, quando ou o nome
ou o verbo é retirado, as partes
da oração não se completam;
se, entretanto, todas as
restantes forem retiradas, de
forma alguma a oração estará
incompleta.”
“Há uma analogia entre a
oração e o animal; da
mesma forma que o
animal tem corpo e alma,
também a oração tem
APOLÔNIO
corpo e alma;
correspondem ao corpo a
dicção, a frase e a sintaxe;
à alma, o significado.”
“O nome é parte da
oração que designa a
qualidade comum ou
APOLÔNIO própria de cada um
dos corpos ou ações
empregados como
sujeito.”
“Quando procuramos a
natureza do sujeito,
dizemos: quem se move?
quem passeia? quem
conversa? Evidencia-se,
APOLÔNIO então, a natureza do ente do
movimento, do passeio, da
conversa, de modo que se
estabelece a pessoa do
agente não denominado.”
“Está claro que, por meio
da sintaxe nominal,
procuramos a essência do
sujeito (esta, de fato,
somente os pronomes
representam, dela
APOLÔNIO expondo os fatos
subsequentes por meio de
seus demonstrativos, e,
por isso, para todo sujeito
de dirigem).”
“Determinamos [os sujeitos]
no que concerne à primeira
e à segunda, e são
indeterminados no que
concerne à terceira; agora,
APOLÔNIO relampeja e outros
semelhantes são excetuados,
já que tal energia foi enviada
por um deus.”
“Verbo é parte da oração
sem caso que, por meio de
transformações
particulares, é capaz de
conter diversos tempos com
atividade ou passividade ou
APOLÔNIO nenhum dos dois, e que
exprime também as pessoas
e os números, quando
mostra as disposições da
alma.”
 A gramática grega teve
inúmeros seguidores, dos quais
os mais importantes foram os
gramáticos latinos.

DONATO E A
 Em relação aos tratados latinos,
GRAMÁTICA foi no período tardio do império
NORMATIVA romano que aconteceu uma
profusão de tratados
gramaticais, dos quais os mais
famosos são o de Donato e o de
Prisciano.
 Na educação desse período, os
estudos literários haviam
suplantado os filosóficos, e
essa mudança ocasionou
alterações também nos
métodos dos gramáticos.
DONATO E A  As escolas, que se
GRAMÁTICA multiplicavam, precisavam de
NORMATIVA
compêndios didáticos, e assim
foram feitas cópias,
adaptações e, frequentemente,
deformações tanto das obras
literárias quanto dos tratados
gramaticais.
 Essas adaptações e resumos
tiveram, principalmente no
domínio da terminologia, um
resultado irracional: os
DONATO E A
GRAMÁTICA gramáticos, não sendo mais
NORMATIVA capazes de justificar os
conceitos que usavam, caíam
na incoerência.
 Donato (Holtz, 1981: 613):
Das partes da oração
“As partes da oração são oito:
nome, pronome, verbo, advérbio,
particípio, conjunção, preposição e
interjeição. Dessas, duas são as
principais partes da oração: nome e
DONATO E A
verbo. Os latinos não incluem o
GRAMÁTICA
NORMATIVA artigo; os gregos, a interjeição.
Muitos consideram as partes da
oração em maior número; muitos
em menor. Realmente, de todas,
apenas três são as que em seis
casos são flexionadas: nome,
pronome e particípio.”
Via oratória (Quintiliano),
a importância maior do
nome e do verbo está
DONATO E A contida em Donato, mas é
GRAMÁTICA
NORMATIVA só isso; não há
preocupações com a
sintaxe.
Do Nome
“O nome é a parte da oração com
caso que significa corpo ou ação, de
modo próprio ou comum. Próprio,
como Roma e Tibre; comum, como
cidade e rio. O nome tem seis
DONATO E A acidentes: qualidade, comparação,
GRAMÁTICA gênero, número, figura e caso. Há o
NORMATIVA nome de um homem, a
denominação de muitos e o nome
próprio das ações. Mas, de modo
geral, dizemos apenas nomes.”
Do verbo
“O verbo é a parte da oração
com tempo e pessoa, sem
caso, que significa ou o ativo
DONATO E A ou o passivo ou o neutro. O
GRAMÁTICA verbo tem sete acidentes:
NORMATIVA qualidade, conjugação,
gênero, número, figura,
tempo e pessoa.”
 “Já que nos livros anteriores seguimos a
autoridade de Apolônio em relação às
partes da oração, de modo geral, não
negligenciado também os dados
necessários de outros, seja dos nossos seja
dos gregos, e, se nós mesmos pudermos
acrescentar algo de novo, ainda seguindo
PRISCIANO sobretudo os passos do mesmo a respeito
da ordenação ou construção das palavras –
que os gregos denominavam “sintaxin”, não
recusemos inserir, se algo conveniente for
encontrado, tanto dos outros quanto dos
nossos.”
“O que é nome?
Segundo Donato, parte da
oração com caso que significa
corpo ou ação de modo próprio
ou comum; segundo Apolônio,
parte da oração que revela em
PRISCIANO si mesma a qualidade própria
ou comum dos seres
singulares, corpóreos ou
incorpóreos, empregados
como sujeitos.”
“O nome é parte da oração que
atribui a qualidade própria ou
comum a cada um dos corpos
PRISCIANO ou ações empregados como
sujeito.”
“Assim, portanto, a oração se
torna perfeita por meio da
ordenação adequada; dessa
maneira, por meio da ordenação
adequada, as partes da oração
são transmitidas por doutíssimos
conhecedores da arte da palavra,
PRISCIANO em primeiro lugar colocaram o
nome; em segundo, o verbo, pois
nenhuma oração sem esses está
completa, o que pode ser
demonstrado pela construção que
contenha quase todas as partes
da oração.”
 Os escritores que o seguiram
são referidos como um grupo
por meio do nome
“Modistae”, e proclamaram a
existência de uma gramática
universal, dependente da
OS LÓGICOS estrutura da realidade e da
MEDIEVAIS razão humana, ou, em outras
palavras, a existência de
premissas extralinguísticas,
sobre as quais deveriam ser
estabelecidas as regras
gramaticais.
 As gramáticas filosóficas desse
período, em sua maioria, tiveram
o mesmo título - De Modis
Significandi, tratando de uma
quantidade muito grande de
assuntos, muito maior do que a
OS LÓGICOS que temos em nossos manuais.
MEDIEVAIS  O objetivo dos “Modistae” era a
exposição de uma teoria geral da
linguagem e dos princípios da
semântica, com a finalidade de
mostrar a essência do discurso
humano.
 Antes de apreciarmos um
exemplo tirado de uma das
obras desse período, e a sua
ínfima diferença em relação às
OS LÓGICOS anteriores, citemos dois
MEDIEVAIS autores importantíssimos do
mesmo: Siger de Courtrai
(século XIII) e Thomas de
Erfurt (século XIV).
 Siger elaborou um registro das
funções semânticas das palavras
(uma teoria geral do significado),
baseando-se nos filósofos
escolásticos. As coisas, segundo o
esquema dos Modistae, possuíam
qualidades de existência variada ou
OS LÓGICOS modos de ser (“modi essendi”). Para
MEDIEVAIS o autor, elas eram apreendidas por
meio de modos ativos de
compreensão (“modi intelligendi
activi”), aos quais correspondia um
modo passivo de compreensão
(“modi intelligendi passivi”), as
qualidades apreendidas pela mente.
“Voz... é voz a partir de uma ação de
proferir... formalmente, é chamada
de parte da oração por meio de um
modo ativo de significação;
entretanto, os modos ativos de
significação não estão na voz, assim
como no sujeito, pois os modos
ativos de significação são um certo
SIGER DE conceito próprio do intelecto; assim
COURTRAI sendo, os conceitos do intelecto
permanecem no intelecto e não
passam para fora; todavia, são
denominados vozes e por meio
delas, por sua vez, são construídos,
do mesmo modo que o universal
existente no intelecto denomina a
coisa exterior.”
A concepção da linguagem
dos “Modistae”:
 Nível do ser - MODI
ESSENDI;

OS LÓGICOS  Nível da expressão - MODI


MEDIEVAIS SIGNIFICANDI ACTIVI e
PASSIVI;
 Nível da intelecção - MODI
INTELLIGENDI ACTIVI e
PASSIVI.
As partes da oração
somente podem ser
distinguidas por meio dos
modos ativos de
OS LÓGICOS significação, ou seja, por
MEDIEVAIS
meio da maneira pela qual
significam as qualidades
ou propriedades das
coisas.
 O outro autor citado, Thomas
de Erfurt, apresenta um tratado
gramatical completo no
mesmo estilo dos “Modistae”,
que se tornou o mais
OS LÓGICOS conhecido tratado filosófico
MEDIEVAIS medieval sobre a linguagem.
Nele, Thomas nos dá uma
interpretação filosófica da
divisão das partes da oração
encontrada em Prisciano.
THOMAS DE
ERFURT
“O nome é a parte
da oração que
significa por meio do
modo de ser.”
O nome substantivo
e o nome adjetivo:
• “O modo de significar
por meio de um modo
THOMAS por si subsistente (...)
DE constitui o nome
ERFURT substantivo.”
• “Nome adjetivo
significa por meio de
um modo de algo
inerente a outro.”
“Gramática é vocábulo grego:
quér dizer çiênçia de lêteras. E,
segundo a difinçám que lhe os
Gramáticos deram, é um módo
çérto e justo de falár e escrever,
colheito do uso e autoridáde dos
barões doutos. Nós podemos-lhe
JOÃO DE chamár artefíçio de palávras
BARROS póstas em seus naturáes lugáres,
pera que, mediante élas, assi na
fála como na escritura; venhamos
em conhiçimento das tenções
alheas.”
“Porque bem assi entram as lêteras
pela vista como as palávras pelos
ouvidos – instrumento com que o
nósso intendimento reçébe as máis
das cousas. E como pera o jogo de
enxedrez se requérem dous reies,
um de ua cor e outro de outra, e que
cada um deles tenha suas péças
JOÃO DE póstas em cásas próprias e
BARROS ordenádas, com leies do que cada
ua déve fazer (segundo o ofíçio que
lhe foi dádo): assi todalas
linguágens tem dous reis, diferentes
em género, e concórdes em ofíçio: a
um chamam Nome e ao outro
Vérbo.”
“Cada um destes reies tem
sua dama: â do Nome
chamam Pronome e à do
Vérbo, Avérbio. Partiçípio,
Artigo, Conjunçám,
Interjeçám, sam péças e
JOÃO DE capitães prinçipáes que
BARROS debaixo de sua jurdiçám tem
muita pionágem de dições,
com que comummente
sérvem a estes dous
poderosos reies, Nome e
Vérbo.”
“Assi que podemos daqui
entender ser a nóssa linguágem
compósta déstas nóve pártes:
Artigo – que é próprio dos Gregos
e Hebreus -, Nome, Pronome,
Vérbo, Advérbio, Partiçípio,
Conjunçám, Preposiçám,
JOÃO DE Interjeçám – que tem os latinos.
BARROS Os quáes pártem a sua Gramática
em quátro pártes: em Ortografía,
que tráta de lêtera; em Prosódia,
que tráta de sílaba; em
Etimologia, que tráta de diçám; e
em Sintáxis, a que responde a
construçám.”
“Nome (segundo a difinçám
dos gramáticos) é aquele que
se declina per cásos sem
tempo, sinificando sempre
algua cousa que tenha corpo ou
sem corpo: que tenha corpo,
como hómem, páu, pédra; sem
JOÃO DE corpo, Gramática, çiênçia,
BARROS doutrina. E cada um dos Nomes
tem estes açidentes: Calidáde,
Espéçia, Figura, Género,
Número, Declinçám per cásos;
dos quáes açidentes vejamos
particularmente.”
“Nome sustantivo
chamamos àquele que per si
póde estár e nam reçébe ésta
palávra, cousa.”

JOÃO DE “Nome ajetivo ao que nam


BARROS tem ser per si, mas está
encostádo ao sustantivo e
póde reçeber em si ésta
palávra cousa, como quando
digo: ó que fermoso caválo,
que brávo touro.”
O mentalismo linguístico
de Port-Royal antecipou
uma das correntes das
ciências cognitivas que
PORT- descreve o processo da
ROYAL comunicação como
autopoiético, conhecida
hoje pelo nome de
“construtivismo radical”.
 A linguística aproveitou diversas
ideias expostas na Gramática de
Port-Royal.
 A tarefa da gramática, para os
franceses, tem uma relação com a
PORT- semiótica:
ROYAL “A gramática é a arte de falar.
Falar quer dizer expor os próprios
pensamentos por meio de signos,
inventados pelos homens para
esse fim.”
“Existe a seguinte diferença
entre as coisas e as
substâncias, e a maneira das
coisas ou dos acidentes: as
PORT- substâncias subsistem por
ROYAL
elas mesmas, enquanto os
acidentes só existem pelas
substâncias.”
“Toda a grammatica particular e
rudimentar, para ser verdadeira e
exacta nas suas definições, simples
nas suas regras, certas nas suas
analogias, curta nas suas
anomalias, e assim facil para ser
entendida e comprehendida dos
principiantes, deve ter por
JERONYMO fundamento a grammatica geral e
razoada. Porque, subindo esta ás
SOARES razões e principios geraes da
linguagem, é que melhor póde dar
noções dos signaes das idéias,
descobrir todas as analogias de uma
língua particular, e reduzir a ellas
muitas anomalias que os ignorantes
contam por taes, não o sendo
realmente.”
“Oração ou Proposição ou
Frase (pois tudo quer dizer o
mesmo) é qualquer juizo do
JERONYMO
SOARES entendimento, expressado
com palavras.”
“Toda oração tem necessariamente
tres termos, um que exprime a
pessoa ou a coisa, da qual se diz e
enuncia alguma coisa; outro que
exprime a coisa que se enuncia; e o
terceiro que exprime a identidade e
coexistência de um coisa com outra.
O primeiro termo chama-se sujeito,
JERONYMO o segundo attributo, e o terceiro
SOARES verbo. Toda oração, pois, é composta
de um sujeito, de um attributo e de
um verbo, os quaes se exprimem ou
com tres palavras, eu sou amante;
ou com duas equivalentes ás tres,
sou amante, ou com uma só que
concentra em si as tres, como: amo.”
“O sujeito é o principal termo da
proposição ao qual todos os mais
se referem. Elle sempre é, ou um
nome substantivo, quer proprio
sem artigo, como: Pedro é homem;
quer appellativo com elle, como: o
homem é mortal; ou qualquer
parte da oração substantivada
JERONYMO
pelo artigo, quer seja um adjectivo
SOARES o justo, o honesto; quer um verbo
no infinitivo o saber, ou no modo
finito o praz-me; quer uma
preposição o pro e o contra; quer
um adverbio o como e quando;
quer uma conjunção o senão.”
LÍNGUA-OVO:
balbucio e trocas
silábicas repetidas
entre o bebê e seus
LÍNGUA-OVO intercessores.
GRAMÁTICA- GRAMÁTICA-OVO:
OVO
primeiras
manifestações
normativas da
criança.
a LÍNGUA-OVO
pertence ao corpo
sem órgãos
LÍNGUA-OVO
GRAMÁTICA-
OVO o CORPO SEM
ÓRGÃOS é puro
fluxo de intuições
a GRAMÁTICA-OVO
LÍNGUA-OVO é pura morfossintaxe
GRAMÁTICA-
OVO intuitiva
a GRAMÁTICA-OVO
é um conjunto de
LÍNGUA-OVO GRAMÁTICAS-
GRAMÁTICA- RIZOMA (conjunto de
OVO
segmentos de
gramática)
o PARADOXO surge
quando a criança
começa a perceber e
a vivenciar a
LÍNGUA-OVO normatividade
GRAMÁTICA- gramatical, pois
OVO
sendo ainda ovo,
passas se ser
também utente de
normas técnicas
Enquanto houver
apenas uma
confrontação intuitiva
entre ovo e norma,
haverá paradoxo;
LÍNGUA-OVO Quando houver
GRAMÁTICA- imposição autoritária
OVO
na norma, surgirá a
contradição, pois a
criança desejará o ovo
e sofrerá a ditadura da
norma.
o PARADOXO é
saudável;
LÍNGUA-OVO
GRAMÁTICA- a CONTRADIÇÃO,
OVO
não.
o PARADOXO é uma
doxa que caminha ao
lado;
LÍNGUA-OVO
GRAMÁTICA- a CONTRADIÇÃO é
OVO
algo que se opõe,
que está contra.

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