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ENTREVISTA A ANTÓNIO TORRADO

Entrevistadores: Ent.
António Torrado: A.T

Ent. – Por que é que você, quando era jovem, gostava de ler?
A.T. – Gostava de ler mas não era um fanático da leitura e, para além de ler, praticava desporto, nomeadamente,
uma modalidade que hoje em dia aqui, em Portugal, tem pouco reconhecimento, que é o hóquei em campo, num
clube de bairro chamado Atlântico Clube de Portugal. Mas gostava de ler. O que é que os livros que tinha em casa
não eram suficientes para eu saciar o gosto pela leitura e, infelizmente, nessa altura, nessa época, ainda não
havia as bibliotecas públicas apetrechadas como há agora e, aí, eu recomendo vivamente que aproveitem o facto
de agora haver essas bibliotecas à disposição e de haver tantos e tantos livros disponíveis para a diversidade de
gostos de leitura que todos nós temos.

Ent. – Com que idade começou a escrever? Por que é que sentiu interesse em escrever?
A.T. – Em escrever, escrever histórias, comecei por volta dos dezoito anos. O interesse derivava de já ter
experimentado contá-las e inventava algumas histórias para uns primos meus mais novos do que eu oito/nove
anos. Eu tinha quinze anos, eles tinham seis/sete anos. Gostavam das histórias que eu inventava para eles e
então, a partir de certa altura, comecei a passá-las ao papel. Portanto, da oralidade passei à escrita e foi talvez
assim que tenha descoberto também o prazer da escrita e, mais tarde, o prazer da divulgação daquilo que eu
escrevia, em jornais e revistas.

Ent. – Teve a influência de alguém para escrever os seus livros?


A.T. – Não, não tive assim influência a não ser dos próprios livros que eu ia lendo, ou seja, eu li alguns escritores
ao tempo com livros publicados para os mais novos, como Virgílio de Castro e Almeida, como Aquilino Ribeiro, o
“Romance da Raposa”, como António Sérgio, vários livros também que ele tinha escrito para os mais novos e,
talvez, tenham sido esses os primeiros escritores a motivar-me também para a escrita. Mais tarde sim, mas
bastante mais tarde, tive o apoio de um senhor José Lemos, que era responsável por um suplemento de um jornal
de Lisboa, e de uma querida escritora chamada Ilse Losa que, lendo as minhas primeiras histórias nos jornais, me
mandou uma carta muito estimulante para o desenvolvimento do meu posterior trabalho.

Ent. – Por que é que você só escreve livros para crianças e jovens?
A.T. –Eu não escrevo só para crianças e jovens e, neste momento, tenho tanto…Bem, em livros, sim, tenho uma
produção bastante extensa para os mais novos, mas já noutra áreas, por exemplo, no teatro, tenho, sei lá…
catorze livros para os adultos e, talvez, outros tantos livros para os mais novos e até devo ter mais livros e mais
peças de teatro escritas para adultos do que para os mais novos. Tenho também, mas está um pouco oculta, a
minha produção literária de ficção para adultos. Tenho três livros publicados e… e enfim a poesia que abandonei
ao sétimo livro. Mas realmente, porque a minha produção para crianças e jovens é esmagadora, maciça, ela
acaba por enclipsar o resto da minha produção.

Ent. – Qual das suas obras o marcou mais? Porquê?


A.T. – Bem, de todos os meus livros, eu assumo e aceito e apadrinho, não sinto rejeição por nenhum deles mas
também não sou capaz de eleger um mais do que os outros. Isto é como quem tem vários filhos, e eu tenho dois,
e não sei escolher se gosto mais de um se gosto mais de outro.

Ent. – Qual foi a história mais trabalhosa que escreveu?


A.T. – A história mais trabalhosa? Todas as histórias são trabalhosas, sobretudo quando não se consegue acabá-
las, não é? Quando ficamos pelo meio da história, e sou capaz de ter uma gaveta cheia de histórias inacabadas
que espero uma ou outra voltar a elas, mas provavelmente à maioria delas já não chegarei a dar-lhes um fim útil.
Essas, as incompletas, são provavelmente as mais trabalhosas.

Ent. – Você está a escrever para algum livro, actualmente? Qual é o tema?
A.T. – Bom, actualmente, não estou a escrever. Tenho quatro livros na cabeça, embora não se note, mas tenho,
entre peças de teatro e livros e responsabilidades de natureza literária, tenho provavelmente quatro livros que
andam à roda da cabeça, não é? Hoje é um destes dias em que estou fora do meu gabinete de trabalho.

Ent. – Onde é que vai buscar imaginação e inspiração para escrever tantas histórias?
A.T. – As coisas dão para as outras, não é? Não há aqui propriamente a noção da inspiração. Há sim uma noção
de que é preciso trabalhar. Um grande pintor francês, Manet, dizia que, quando a inspiração o visitava no atelier
dele, já ele estava a trabalhar há três horas e é o que me acontece também. Se a inspiração vem é fruto do
trabalho que eu, entretanto, desenvolvi.

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