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AUDITORIA EM
SAÚDE
Introdução
O avanço tecnológico no atendimento ao paciente, a pressão constante
gerada pela competitividade no setor de saúde e os altos custos inerentes
aos serviços e aos procedimentos próprios dessa área têm feito com que
hospitais, operadoras de planos de saúde e até mesmo o Governo bus-
quem mecanismos de controle que assegurem a redução de desperdícios
e a correta remuneração pelos serviços prestados, especialmente no que
se refere à conformidade no processo de faturamento. Dessa maneira,
é fundamental compreender a articulação da equipe multidisciplinar
no processo de auditoria em saúde, com destaque para o trabalho de-
senvolvido por médicos e enfermeiros auditores nesse contexto. Essas
duas categorias atuam em conjunto com uma equipe multidisciplinar
formada por farmacêuticos, nutricionistas, fisioterapeutas, assistentes
sociais, fonoaudiólogos, dentistas, biomédicos, entre outros profissionais
da área de saúde para garantir o equilíbrio nas relações entre contratantes
e prestadores de serviços de saúde.
Neste capítulo, você estudará sobre as funções específicas que com-
petem aos médicos e aos enfermeiros auditores, percebendo a distinção
nas atividades destinadas a cada um desses grupos. Você também reco-
nhecerá a importância das atividades administrativas e o que se espera
dos profissionais dessa área do conhecimento durante o fluxo de auditoria
das contas hospitalares.
2 A equipe multidisciplinar e a auditoria
A ética está presente no nosso cotidiano, uma vez que o ser humano precisa
seguir uma série de regras sociais de ordem implícita ou explícita para conviver
em harmonia com a sociedade e o meio nos quais está situado. Da mesma
forma, as instituições e os seus profissionais também devem atuar de acordo
com regras, normas e diretrizes específicas. Nesse panorama, o médico auditor
constitui-se como um profissional que visa conciliar os anseios e as necessidades
dos agentes envolvidos na operação do serviço hospitalar. Entre esses agentes,
o paciente é o principal deles, pois apresenta-se como o foco dos serviços de
saúde a serem prestados. Porém, também há outras partes interessadas, tais
como o Governo — por meio de leis e demais regulamentações do Sistema
Único de Saúde (SUS) —, os planos de saúde — com as suas diretrizes internas
e governamentais —, os hospitais, os profissionais envolvidos na prestação dos
serviços de saúde, os sindicatos, os conselhos, entre outros.
Conciliar os interesses dos investidores, também chamados de stakeholders,
não é uma tarefa fácil, ainda mais quando se trata da prestação de serviços
de saúde, cuja operação é complexa em função da exigência de uma equipe
multidisciplinar, da gama de recursos utilizados e das particularidades no
atendimento de cada paciente. Por isso, é necessário que o profissional res-
ponsável pela gestão hospitalar conheça o funcionamento das diversas áreas
envolvidas no processo de auditoria e seja capaz de avaliar com propriedade
a presença dos princípios fundamentais de ética no atendimento, gestão sus-
tentável e cuidado ao paciente.
A equipe multidisciplinar e a auditoria 3
Caso uma pessoa sofra um acidente grave e precise realizar uma cirurgia de emergência,
haverá um cenário não programado, ou seja, não eletivo. Nesse caso, o médico assistente
responsável pelo atendimento precisará realizar exames para avaliar as condições clínicas
do paciente e identificar a necessidade de utilização de alguma órtese, prótese ou outros
materiais especiais. Após realizar o atendimento para estabilizar as condições clínicas
do paciente, o médico assistente deverá proceder com a solicitação médica inerente
ao atendimento, descrevendo os materiais utilizados, a necessidade de internação com
os respectivos períodos de baixa e alta clínica, o tipo de leito a ser ocupado, bem como
todos os recursos e cuidados necessários ao tratamento e ao bem-estar do paciente. Por
sua vez, a equipe administrativa do hospital deverá regularizar a internação do paciente
com o contratante dentro do prazo previsto, enviando toda a documentação médica
e os demais documentos administrativos comprobatórios para isso.
Auditoria retrospectiva
Periodicamente, a equipe administrativa da unidade hospitalar deve reunir
todos os documentos administrativos e os prontuários médicos dos pacientes
para providenciar o faturamento. Quando o médico auditor externo atua na
verificação das glosas antes do envio das contas às operadoras de saúde, é
necessário que haja a participação de um colaborador do hospital com conhe-
cimentos técnicos suficientes para a realização de uma espécie de consenso ou
de contestação, caso sucedam-se discordâncias entre um e outros profissional.
Logo, os médicos auditores externo e interno devem discutir as glosas apon-
tadas e chegar a um acordo sobre as mesmas.
Auditoria concorrente
É importante que o médico auditor externo acompanhe a evolução das condi-
ções clínicas do paciente por meio de visitas hospitalares durante a internação
do mesmo. Além disso, o médico auditor deve verificar in loco se o paciente
está em um leito idêntico ao tipo que foi autorizado, sendo que essa checagem
também vale para os equipamentos e as medicações usados no tratamento do
enfermo. Afinal, estar em contato com o paciente e com o ambiente hospitalar
facilita o trabalho do médico auditor no tangente à validação de pedidos de
prorrogação de internações e serviços especializados que não estavam previstos
nos pedidos iniciais de internação dos pacientes. Portanto, a atuação in loco
do médico auditor externo é de suma importância para o próprio paciente, a
operadora de saúde e o hospital prestador dos serviços, pois o médico auditor
consegue acompanhar a evolução do paciente, além de identificar possíveis
intercorrências ou outros fatores clínicos por meio das visitas contínuas. Logo,
a percepção do médico auditor torna-se mais nítida com relação ao aval das
autorizações.
6 A equipe multidisciplinar e a auditoria
Conforme a Resolução CFM nº. 1.614, de 8 de fevereiro de 2001, o médico que de-
sempenha a função de auditor não pode ser remunerado ou gratificado por meio de
valores vinculados à glosa. Também é expressamente proibido que o médico auditor
delegue atividades a outro profissional, ainda que ambos façam parte da mesma equipe.
A equipe multidisciplinar e a auditoria 7
Atualmente, os hospitais podem contar com o auxílio de software que apoiam o enfermeiro
auditor na análise das contas. Já existem sistemas que podem ser integrados ao hospital
information system — ou sistema de informação hospitalar, em português — para fazer
análises sobre a completitude dos valores faturados. Esse tipo de sistema de apoio tem
como princípio identificar a relação de interdependência entre os itens de valores menores.
A título de exemplificação, para cada tira utilizada no exame de glicemia, deve haver uma
lanceta na conta hospitalar. Se o sistema identifica a ausência de uma delas, ele sinaliza ao
enfermeiro auditor a pendência de faturamento, já que esses itens são interdependentes,
sendo impossível realizar o exame com apenas um deles. Os sistemas de apoio não têm o
poder de efetuar esse faturamento no sistema de informação hospitalar e não substituem
o enfermeiro ou o faturista. Além disso, o enfermeiro auditor deve pautar-se em evidências
para chegar a conclusões, analisando os prontuários dos pacientes e outros materiais para
isso. Trata-se de apenas mais uma ferramenta voltada aos itens de baixo valor financeiro,
mas que geram um faturamento representativo quando somados em um montante, o
que permite que o enfermeiro auditor interno direcione a sua expertise e a maior parte das
suas horas de trabalho aos itens de maior valor financeiro e complexidade, como órteses,
próteses, materiais especiais, descartáveis e medicamentos de alto custo.
O enfermeiro auditor deve ter conhecimentos administrativos, posto que ele é res-
ponsável por interpretar os contratos e as suas cláusulas inclusive quando atua na
auditoria das contas hospitalares. Ademais, espera-se que esse profissional apresente
boa capacidade de comunicação, seja um excelente mediador de conflitos e seja
capaz de identificar problemas e possíveis soluções para os mesmos.
10 A equipe multidisciplinar e a auditoria
Organização do prontuário
Os hospitais que não contam com prontuário eletrônico precisam ficar atentos
à organização do prontuário físico, seguindo todos os parâmetros estabele-
cidos. Os funcionários responsáveis por essa atividade devem organizar os
documentos de acordo com as contas parciais, permitindo que os auditores
internos e externos acessem as informações dos pacientes no período corres-
pondente às faturas.
Recurso de glosa
Mediante o pagamento pelos serviços prestados, a empresa contratante deve
emitir um demonstrativo no qual detalha os valores pagos, os valores não
pagos ou pendentes e as respectivas justificativas de cada valor relacionado
a cada paciente. Os valores não pagos, sob justificativas, que constam nesse
demonstrativo são as glosas. Essas glosas são passíveis de serem recursadas,
ou seja, um profissional apto deverá contestar e provar que o pagamento do
item é devido. A contestação ou recurso de glosa realizada sem as evidên-
cias ou sem fundamento técnico corre o sério risco de não ser acatada pelo
contratante. Logo, é fundamental que o profissional que desempenha essa
atividade tenha acesso aos documentos dos pacientes e cumpra com os prazos
estipulados pelos contratantes para que o hospital possa receber os valores
sobre os serviços que foram prestados.
Quando desempenhada por enfermeiros auditores, por vezes, o recurso de
glosa obtém maiores percentuais de recuperação de glosa devido aos argu-
mentos utilizados no processo de contestação. Uma das formas de reduzir os
percentuais de glosa no pagamento é ter um fluxo de faturamento consistente,
contando com profissionais capacitados e treinados para as suas respectivas
funções. Além disso, a atuação do enfermeiro auditor na revisão das contas
antes do envio das mesmas ao contratante é essencial para que se aja de modo
proativa diante de possíveis falhas decorrentes do processo de faturamento.
14 A equipe multidisciplinar e a auditoria
CFM. Resolução CFM nº 1.614/2001. Brasília: CFM, 2001. Disponível em: https://sistemas.
cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2001/1614. Acesso em: 22 jul. 2020.
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cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2002/1638. Acesso em: 22 jul. 2020.
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POSSARI, J. F. Prontuário do paciente e os registros de enfermagem. São Paulo: Iátria, 2005.
TENÓRIO, M. T. F.; CABRAL, L. M. C. Auditoria baseada em evidências: o auditor e a
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Maceió, Maceió, v. 1, n. 1, p. 14–18, 2006.
Leituras recomendadas
BRASIL. Ministério da Saúde. Auditoria do SUS. Brasília: MS, 2017. Disponível em: https://
www.saude.gov.br/participacao-e-controle-social/auditoria-do-sus. Acesso em: 22
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GALANTE, A. C. Auditoria hospitalar do serviço de enfermagem. 2. ed. Goiânia: AB, 2008.
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