Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1 Em fevereiro/2009.
2
A R C
A1. SD genérico do terapeuta: - Fale-me sobre o que o levou a procurar terapia (pausa).
C1. Consequência social para a fala fluente e espontânea do cliente (R1A acima): acenar
com a cabeça, olhar para o cliente, emitir frases curtas ou palavras, tais como
“Entendo”, “Deve ter sido muito difícil para você...”, “Continue” etc. A função das
intervenções verbais é dupla: consequenciar (espera-se que tal consequência tenha
função reforçadora positiva) o que foi dito e fornecer S Ds genéricos adicionais para
que ele fale mais, sem, no entanto, direcionar nenhum tema. O objetivo é mantê-lo
falando fluentemente, sem se preocupar com reforçamento diferencial de qualquer
classe de verbalizações que o cliente faça sobre sua vida.
C2. Consequência social para períodos de silêncio ou de falas com pausas longas do
cliente (R1B acima): acenar com a cabeça, olhar para o cliente, emitir verbalizações,
3
tais como: “Deve ser difícil para você falar sobre sua vida”; “Fale-me sobre outras
coisas”; “Vamos ver: quantas irmãs você tem?”; “O que fazia seu pai?”. Tais
verbalizações têm a função de operação estabelecedora – tornar a relação terapêutica
mais acolhedora – e de aumentar a probabilidade de emissão de verbalizações,
quaisquer que sejam, que permitam ao terapeuta consequenciá-las com reforços
generalizados. Se for o caso, o terapeuta pode usar algum inventário, questionário,
roteiro de história de vida etc., com o objetivo de oferecer alguns S Ds para o cliente
incrementar suas verbalizações. O silêncio não deve ser constrangedor para o cliente;
para isso o terapeuta deve auxiliá-lo, fazendo um fading in de questões e comentários
em direção às dificuldades do cliente. Assim, se o terapeuta tem indícios de que as
dificuldades do cliente são de natureza social, pode conduzir o questionamento mais
ou menos assim: “Fale-me sobre o que você fez neste último fim de semana”; “Você
costuma ligar para alguém no fim de semana?”; “Se você tivesse um amigo bem
próximo, em quem você confiasse, que programa você faria com ele?”; “Você torce
para que algum conhecido seu – colega de classe, por exemplo – ligue para convidá-lo
para fazerem alguma coisa juntos?”; “O que você pensa sobre atividades em grupo?”;
“Como você se sentiu passando sozinho o fim de semana?”; “Você acha que tem
dificuldades de relacionamento social?” etc. Tais questões devem ser consideradas
como meros exemplos; não estão listadas numa hierarquia, como seria de se esperar
em um procedimento de fading in. O que mais importa é que a relação entre o
terapeuta e o cliente deve ir produzindo informações e, se o cliente se mantém
retraído ou em silêncio, cabe ao terapeuta liderar a interação, isto é, prover SDs que
aumentem a probabilidade de emissão de comportamentos dele.
Observação: no início do processo terapêutico, o terapeuta pode ser tolerante para lidar
com outros temas que não tenham a ver diretamente com as dificuldades do
cliente, pois há necessidade de privilegiar o repertório de falar do cliente
(deve-se respeitar seus operantes verbais livres), antes de atuar com
contingências diferenciais para produzir verbalizações com conteúdo
específico de interesse da terapia.
Pode-se notar, pelos exemplos citados, que as consequências fornecidas pelo terapeuta
incluem comentários e questões que funcionam, adicionalmente, como eventos
antecedentes para evocar novos comportamentos do cliente. A interação entre terapeuta e
cliente é, então, um fluxo de comportamentos emitidos por ambos, que se influenciam
reciprocamente sem que se possa afirmar que o fluxo é composto por unidades
moleculares. Qualquer divisão que o terapeuta proponha na sequência de comportamentos
é arbitrária, uma vez que aquilo que ele chama de consequente ao comportamento pode
ser mais propriamente denominado, pela sua importância funcional, de antecedente do
comportamento por vir, por exemplo. A divisão do encadeamento comportamental,
embora reconhecidamente arbitrária, deve ser útil para a compreensão das dificuldades do
cliente e para evocar procedimentos de intervenção que o ajudem. Ou seja, a
arbitrariedade deve ser funcional, de acordo com os objetivos terapêuticos. Se não for
assim, o exercício de elaborar as unidades de análise (contingências de reforçamento
5
explícitas), feito pelo terapeuta, só atenderá aos seus interesses intelectuais, o que muito
poderá satisfazê-lo, mas não terá utilidade para o cliente.
O terapeuta deve desenvolver repertórios de interromper – se necessário – a fala do
cliente, de modo a permitir intervenções nos momentos em que o primeiro achar
relevante. O procedimento consiste em interromper com frases do tipo “Isso me parece
tão importante, que eu gostaria de dizer-lhe que...”. Se necessário, o terapeuta deve fazer
movimentos corporais, deslocar-se, movendo-se mais para a frente na cadeira, erguer um
pouco o braço, como que pedindo licença para falar. E, o mais importante, falar.
O terapeuta deve também instalar no cliente o comportamento de ouvir o que ele tem
para lhe dizer. Ou seja, o cliente deve aprender a ficar sob controle das verbalizações do
terapeuta. A única evidência que o terapeuta tem de que foi ouvido é o próprio
comportamento do cliente após a fala do terapeuta. O que foi dito ao cliente controla seu
comportamento subsequente? Ele responde às questões do terapeuta? Ele concorda ou
discorda explicitamente com o que foi dito? Faz perguntas relacionadas ao que lhe foi
exposto? etc. Se o cliente, após a fala do terapeuta, prosseguir sua narrativa, sem nenhuma
relação com o que lhe foi dito, essa falha deve ser apontada diretamente: “Interessante,
você não fez nenhuma referência ao que acabei de lhe dizer... Você notou isso? Você já
notou se é um padrão usual seu não responder diretamente aos comentários dos outros? O
que observei aqui comigo ocorre também na sua interação com outras pessoas?” etc. O
objetivo dessa forma de intervenção é fornecer para o cliente um S D para ele observar seu
próprio comportamento (de ouvir o outro, neste caso). É o primeiro passo na direção de
instalar o comportamento de ouvir. Não há necessidade de ir além neste momento. O
objetivo não é punir o cliente (embora se esteja correndo esse risco), mas fornecer-lhe S D
que controle o comportamento de ficar sob controle do (isto é, de observar) próprio
comportamento que emitiu.
Observação: os procedimentos descritos acima não se limitam, deve ficar claro, apenas à
primeira sessão. De modo geral, aplicam-se a todo o processo terapêutico.
O terapeuta deve também apresentar para o cliente alguma sistematização dos dados que
aconteceram na sessão. São exemplos de sistematização: “Pelo que você me falou, as
coisas nunca foram fáceis na sua vida”; “Você teve que lutar por tudo que conseguiu”;
“Pelo seu relato, nunca lhe deram liberdade para você fazer o que queria”; “Fica
evidente, pelo que ouvi, que a tristeza tem sido sua companheira” etc. É claro que, neste
momento da terapia, tais sistematizações podem ser incipientes, ainda muito genéricas,
mas serão retocadas com a evolução do processo terapêutico.
Finalmente, se os dados permitirem, deve-se apresentar para o cliente a descrição de
alguma contingência em operação na vida dele: “Você notou que esse sentimento
horrível que você relatou sempre apareceu quando surgiu uma ameaça de que algo ruim
poderia lhe acontecer e você não podia fazer nada para evitá-lo? Esse sentimento se
chama ansiedade”. É muito importante, inclusive, desenhar o paradigma (da ansiedade,
no exemplo) num papel, para o cliente compreender e visualizar claramente o que lhe
está sendo explicado.
IV. Folha de registro das dificuldades comportamentais e afetivas relatadas pelo cliente
FOLHA DE REGISTRO 1
1. A mãe quer o melhor para os filhos e se esforça para dar-lhes liberdade. Preocupa-se,
porém, com os perigos reais que rondam o circuito noturno e por excesso de amor (as
mães das colegas são, portanto, menos alertas com a segurança das próprias filhas), sofre
por eles. A mãe é muito sensível e precisa ser compreendida.
Comentário: Há alguma função importante – a ser identificada – para a mãe ocultar suas
fobias, pensamentos e imagens carregados de aversividade. Talvez ela esteja obtendo
reforçadores positivos por se mostrar sensível, amorosa etc. Além disso, os
comportamentos de fuga-esquiva que vem emitindo estão sendo mantidos por
reforçamento negativo, cada vez que a filha renuncia ao programa com as amigas.
Acrescente-se que declarar suas dificuldades levaria a família, provavelmente, a
encaminhá-la para um tratamento (comportamental, de preferência!) e as interações
intrafamiliares se realinhariam, produzindo, em curto prazo, novas condições aversivas
para a mãe. A insensibilidade da mãe em relação às perdas sociais e afetivas, que seus
comportamentos impõem à filha, fica oculta atrás da imagem de mãe amorosa. A mãe fica
mais sob controle das consequências reforçadoras negativas (remoção dos aversivos)
imediatas que seu repertório comportamental produz, do que das consequências aversivas
que produz na filha (que, eventualmente, poderão vir a afetar a mãe, mas apenas em longo
prazo).
É delicado para o terapeuta mostrar para a cliente qualquer uma das alternativas que
podem revelar uma mãe que não se comporta da maneira como o faz por amor e sensibilidade.
O terapeuta terá, de alguma forma, de mostrar à cliente que a mãe modelou nela
comportamentos de coadjuvante ou cúmplice da modelagem e manutenção dos
comportamentos inadequados dela. (É oportuno lembrar neste ponto o comentário de Skinner:
“não precisamos descrever as contingências de reforçamento para sermos afetados por elas.”
1974, p. 127.) O terapeuta só deve explicitar as funções dos comportamentos dá mãe quando
tiver dados comportamentais para apoiar sua análise. De preferência, deve envolver a cliente
na busca das relações funcionais fundamentais, de tal maneira que o comportamento do
cliente fique sob controle das contingências de reforçamento que mantêm o comportamento
atual da mãe, dos déficits ou excessos comportamentais dela e das análises do terapeuta.
A falha está nos filhos, que devem se sentir culpados pelo que produzem na mãe? Ou
está na mãe que: usa critérios e procedimentos inadequados para controlá-los; ou
exige desempenhos poucos razoáveis para o estágio de desenvolvimento dos filhos?
Outra questão: não estará a mãe exagerando (e tendo ganhos secundários com isso)
na expressão do seu sentimento “causado pelos filhos”?
maneira que ambas obtenham, dentro do possível, mais reforçadores positivos e menos
reforçadores negativos provindos de outrem.
É importante salientar que, em todas as alternativas apresentadas (e poderiam ser
sugeridas outras), a cliente, enquanto participa de tal manejo de consequências feito pela mãe,
pode estar completamente inconsciente dos controles comportamentais aos quais responde. (É
importante salientar que os comportamentos da mãe e as contingências às quais ela submeteu
a filha, podem ter sido igualmente inconscientes para ela.) Assim, a cliente (adulta) pode
relatar: “Eu e meus irmãos fizemos minha mãe sofrer muito. Isso me dói”. “Meu pai não dava
amor para minha mãe, não tinha tempo para ela. Eu compreendo algumas atitudes que ela
acabou tendo...” etc.
FOLHA DE REGISTRO 2
Obs: a presente folha de registro deve ser preenchida progressivamente, no correr das sessões, quando
surgem relatos ou evidências comportamentais pertinentes.
Note que no exemplo I, na redação das colunas, foi usada a linguagem do terapeuta.
Toda a elaboração foi feita por ele, sistematizando informações dadas pelo cliente. No
exemplo II, a redação reproduziu as verbalizações do cliente. É desejável alcançar o nível
de fidelidade expresso no exemplo II, mas o exemplo I também é aceitável, desde que o
terapeuta seja capaz de apontar a fonte de informação em que se baseou.
A categorização que o terapeuta faz das dificuldades do cliente é um processo
dinâmico, ou seja, o terapeuta propôs que as duas dificuldades pertenciam à mesma classe
funcional de comportamentos sob controle de determinadas funções de estímulos, da
mesma forma que outro terapeuta poderia colocar as mesmas duas dificuldades em classes
funcionais distintas. Assim, este último poderia classificar o exemplo I como déficit de
habilidades sociais e o exemplo II como dificuldades com o sono. Por quê? Porque os dois
terapeutas estariam respondendo a diferentes aspectos do contexto, isto é, estariam sob
diferentes controles de estímulos. A consequência prática destas diferenças é que cada
terapeuta conduziria o processo terapêutico de forma diferente para lidar com o problema
do sono: o primeiro daria ênfase ao desenvolvimento de habilidades sociais
(“assertividade”, usando um termo pouco apropriado, mas muito usado), englobando os
dois problemas como exemplos de um déficit básico, único, comum a ambos; o segundo,
14
segunda alternativa, ele possui o repertório comportamental, mas este não é adequado
para o controle de estímulo atual. O terapeuta precisa introduzir gradual e habilmente
respostas de oposição, fazer um fading in de contestação, de argumentação etc. (Fala-se
em fading in de estímulos e não em modelagem de respostas porque a classe de
respostas de argumentação já existe instalada no cliente e suas verbalizações têm a
função de estímulo para o ouvinte. A proposta de usar fading in é minimizar a função
aversiva que oposição e argumentação possam ter.) A dificuldade presente é que as
respostas de argumentação, de oposição, no passado tinham função de SDs para os
pais: estes concordavam com o filho, o atendiam; no contexto atual, no trabalho, por
exemplo, as respostas da mesma classe de argumentar e de se opor têm função de
estímulo aversivo para o ouvinte, o chefe, por exemplo, e são ocasião para o
comportamento produzir consequências aversivas (a função SD instalada na infância na
relação com os pais, passa a ser função SDp no contexto profissional). O terapeuta vai
ensinar o cliente a hierarquizar e suavizar a apresentação dos tais estímulos, que têm
função aversiva para o ouvinte, manejando a topografia das respostas sociais e
profissionais emitidas, minimizando as funções aversivas que possam ter para o outro.
Um bom recurso é usar classes verbais de autoclíticos, dizendo, por exemplo: “Não sei
se você concordará, mas acho que poderíamos apresentar outro argumento. Você acha
que o momento seria oportuno para ser debatido o assunto? etc.
Uma questão que pode ser proposta é: por que não basta o terapeuta apontar para o cliente
as funções que os eventos têm presentemente, sem se ater a funções que tiveram no passado?
Não bastaria dizer, por exemplo, “seu chefe não é seu pai”? Não. As funções dos eventos não
mudam quando se diz que mudaram, mas quando novas contingências de reforçamento
produzem as mudanças. O procedimento mais apropriado é somar a instrução (as funções dos
eventos mudaram...) com o contato do cliente com as novas consequências do seu
comportamento (comportamento governado por regras e modelado pelas consequências,
portanto). No caso das contingências coercitivas, há uma dificuldade adicional: o
comportamento de esquiva, mantido por reforçamento negativo, é pouco sensível às
mudanças nas consequências. Ele se mantém forte, mesmo quando a consequência não está
mais programada para ocorrer, simplesmente porque a resposta ocorre antes do evento
aversivo e não há como testar se ele seria ou não apresentado.
Deve estar clara uma proposição apresentada no início deste subtítulo, qual seja, que a
simples conscientização de como eventos comportamentais foram instalados no passado não
produz mudanças significativas para o cliente no presente. Conhecer a origem das respostas e
das funções dos estímulos no passado, não muda as funções dos estímulos e nem os padrões
comportamentais. Há que se introduzir contingências de reforçamento diferenciadas para tal.