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1.

O papel dos recursos materiais sob o enfoque da logística

No campo da logística, como apresentado e direcionado nos estudos relativos ao


universo da administração, se dão nas atividades básicas de planejamento, previsão e controle
dos diversos níveis de recursos, tais como recursos financeiros, pessoas, anteriormente
designados recursos humanos, recursos espaciais, recursos informacionais, recursos temporais
e recursos materiais.

Dessa forma, cabe ao universo da administração as atividades de manipular esses


conjuntos de recursos, o que envolve as habilidades e domínio de técnicas em transformá-los,
por meio de ajustes, combinações e adequações, em elementos que contribuam para o
atingimento dos mais diversos objetivos e com as mais diversas finalidades.

Relativamente à atuação, de forma sintética ou objetiva, poderíamos ainda entender


que estamos abordando o conjunto de atividades relativas ao ambiente da gestão, composto
por subáreas que envolvem questões financeiras; trabalho de pessoas; questões
mercadológicos e comerciais; e aspectos de funcionamento ou de operacionalização, que
podem ser sistematizados e compreendidos como algumas das grandes áreas de habilitação ou
de especialização da administração.

Com o passar do tempo e com o desenvolvimento questões técnicas e conceituais, as


atividades e estudos desenvolvidos no ambiente da administração relativamente aos aspectos
e gestão de recursos materiais e patrimoniais, juntamente com os aspectos de gestão de
operações e produção acabaram por incorporar e moldar os aspectos conceituais do que hoje
se denomina e conceitua “logística”.

Finanças Pessoas Marketing Produção

Figura 1 - áreas de especialização da administração

Contudo, se ainda recorrermos aos fundamentos da administração, suas origens, é


facilmente identificado que os primeiros estudos e as primeiras bases conceituais se encontram
nas questões relativas ao processo de produção, envolvendo questões relativas à
transformação, historicamente impactado pela Revolução Industrial no início do século XX, que
mudou a forma de como as sociedades produziam bens destinados ao suprimento de suas
diversas necessidades.

Se identifica a forte influência da necessidade de gerenciamento de aspectos relativos à


produção e operações, onde se encontra referências a nomes como Frederick Winslow Taylor,
norte-americano, foi técnico em mecânica e engenheiro mecânico, autor da obra “Princípios da
Administração Científica”, de 1911, considerado o fundador da corrente de pensamento
definida como administração científica, por propor e utilizar métodos científicos cartesianos na
condução de empresas. Também é possível identificar os trabalhos de Jules Henri Fayol, francês,

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engenheiro de minas, considerado o fundador da teoria clássica da administração, autor da obra
“Administração Industrial e Geral”, de 1916, além de Henry Ford, empreendedor e engenheiro
mecânico, também norte-americano, fundador da Ford Motor Compay, que desenvolveu a linha
de montagem, base da produção em série que veio a influenciar fortemente os processos
produtivos industriais.

Como se observa, os aspectos relativos ao gerenciamento da processos e de atividades


produtivas estão presentes desde o início da administração, e que com o passar do tempo
ganharam destaque em diversos momentos, como na Terceira Revolução Industrial, nos
aspectos de gestão da qualidade, por exemplo, bem como na atual tecnologia 4.0, reflexo da
Quarta Revolução Industrial, ainda em curso.

Coerente com o desdobramento das atividades desse segmento, essa área de estudos
ainda é designada amplamente como administração da produção e operações, tendo como
particularidade as questões relativas aos arranjos e processos produtivos, bem como sobre a
gestão de recursos materiais. Se entende que todo esse contexto atualmente cabe mais
propriamente aos estudos relativos à logística, como salientado Christopher (2001), a definição
sobre logística envolve aspectos relativos à ação estratégica de aquisições, movimentação e
armazenagem de recursos materiais e informações.

Assim, o universo dos conhecimentos relativos aos aspectos de gestão de recursos


materiais, envolvendo as operações de guarda, estoque, armazenamento, movimentação e
controle são a base de algumas atividades logísticas, normalmente aplicados em operações
envolvendo:

 Matérias-primas;
 Produtos em processamento;
 Materiais de consumo;
 Produtos acabados, e,
 Produtos para venda.

Estes estoques são formados até de forma planejada, objetiva e intencional, com a
finalidade de atender objetivos e metas específicas de cada organização. Entretanto, é
importante salientar que há casos onde mesmo não havendo a intenção há a formação de
estoques, que, de maneira aleatória, são formados por questões excepcionais, que acontecem
ao longo do tempo de forma “natural”, como resultado de restrições ou limitações não
esperadas, excepcionais, que afetam os processos ou atividades operacionais.

Entretanto, ao considerarmos a intencionalidade da gestão de recursos materiais e a


formação de acúmulos de recursos destinados aos mais diversos fins, podemos facilmente
identificar alguns tipos, como:

 Estoque de Antecipação ou Sazonal – Trata do estoque que é formado ou elaborado


quando uma empresa ou organização prevê uma futura oscilação de demanda de um
item ou conjunto de itens. Tem o objetivo, normalmente, de nivelar a capacidade de
atendimento da demanda em cenários onde há risco de flutuações e oscilações
motivadas por questões sazonais. Também é utilizado em situações em que o
fornecimento é inconstante, com intuito de promover um fluxo regular de
abastecimento.

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 Estoque Consignado – É o estoque que é mantido por terceiros, como distribuidores,
clientes, entre outros, onde a guarda é estipulada por meio de acordo, mas a
propriedade dos itens continua sendo do fornecedor.
 Estoque de Contingência - É relativo aos estoques mantidos como garantia para
cobertura contra possíveis oscilações de oferta, falha extraordinária nas operações de
suprimento ou de abastecimento.
 Estoque Inativo – Trata dos estoques de itens obsoletos, em desuso ou que não tiveram
saída nos últimos períodos, formado por itens sem demanda aparente.
 Estoque de proteção ou isolador - Tem por objetivo compensar demandas acima do
esperado. Similar ao estoque sazonal, ocorre onde o tempo de ressuprimento é incerto,
buscado compensar incertezas no fornecimento.
 Estoque Regulador - É uma forma de estoque de segurança, mantido normalmente por
agências públicas, cujo objetivo é minimizar os impactos contra oscilações entre a oferta
e a demanda de itens que venham a causar impacto econômico negativo à economia e
a sociedade. Algumas organizações privadas também utilizam e se referem a estoques
reguladores como àquele que minimizam incertezas ou ocorrência de riscos de
impedimento de atender a demanda.
 Estoque de ciclo - Ocorre quando se operam vários ciclos ou em operações com vários
estágios de produção, onde um ciclo não depende do outro, mas que necessitam ser
ajustados para uma condição de oferta regular e estável. Por exemplo, no caso onde
uma empresa fabrica e comercializa quatro produtos distintos, mas que não conseguem
ser confeccionados simultaneamente, ao mesmo tempo, sendo necessário programar
os ciclos produtivos de cada um dos produtos, planejando os estoques necessários de
acordo com o período de vendas, para suprir a demanda e ofertar naturalmente todos
os itens simultaneamente.
 Estoque em Trânsito ou virtual - É composto por itens que estão em trânsito, sendo
transportados ou em processo de deslocamento, para serem entregues e que ainda não
estão disponíveis, muito embora já contabilizados, não estão disponíveis para a
operação.
 Dropshipping - É voltado normalmente para operações de e-commerce, comumente
envolvendo a participação de marketplaces. Consiste em receber ordens de serviço
(vendas) e encaminhá-las diretamente ao fornecedor, que por sua vez envia o produto
diretamente ao cliente final em nome da empresa que o comercializou. Dessa maneira,
o vendedor não é apenas um intermediário na venda, mas também um operador virtual
que interfere nas operações de estoque, armazenamento e atendimento.

1.1 A natureza do gerenciamento dos recursos materiais

A percepção sobre a necessidade de gerenciamento de recursos materiais é elemento


que fundamenta a necessidade de formação e manutenção de um estoque. Surge, assim, o
estabelecimento de diretrizes ou padrões relativos à condução de procedimentos sobre as
questões relativas aos processos de aquisição, recebimento, guarda, conservação, controle e
distribuição de recursos materiais dos mais diversos tipos e nas mais diversas formas e naturezas
organizacionais.

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Dessa maneira, cada empresa ou organização, seja por questões culturais, pela
implementação de estratégias, por orientação particular ou compartilhada em redes, acaba
definindo a forma de como conduzir suas ações produtivas e, consequentemente, os aspectos
relativos aos recursos materiais.

Inicialmente, já chama atenção os aspectos relativos à cultura de algumas empresas,


que pode ser derivada de hábitos ou práticas de negócio que acabam por consolidar, com o
passar do tempo, um padrão de conduta que interfere nessas questões. Porém, dadas as
pressões econômicas, sociais e ambientais, além das influências tecnológicas, cabe ressaltar a
necessidade de que essas práticas ou hábitos possam ser analisados e acompanhados frente ao
ambiente de atuação de cada organização.

De forma geral os negócios acabam por gerir suas operações onde os estoques, o fluxo
dos recursos materiais necessários em função de suas operações pode ser percebido de duas
formas: com processos de revisão contínua e com processos de revisão periódica.

Nos processos de revisão contínua, os estoques são acompanhados e as atividades de


recomposição e de renovação ou de reabastecimento ocorrem sempre que se atingem níveis ou
indicadores de ressuprimento, enquanto nas revisões periódicas, os estoques ou os níveis de
recurso são repostos a níveis ótimos considerados necessários à operação regular

Revisão Revisão
CONTÍNUA PERIÓDICA
•O ciclo é determinado pela •O ciclo é periódico,
necessidade do recurso. esperado e controlado.
•O tempo de operações •O tempo das operações é
variável. tido como estável.
•Os volumes transacionados •Os volumes transacionados
são estáveis, fixos. são variáveis

Figura 2 - Revisão Contínua e Revisão Periódica

Dessa maneira, em processos de revisão contínua o intervalo ou os momentos onde


ocorrem as atividades de reabastecimento é variável e os volumes envolvidos se mantem
estáveis, exigindo cuidados, atenção e o emprego de técnicas logísticas, enquanto no processo
de revisão periódica e pedido fixo onde ocorrem os reabastecimentos é fixo, enquanto os
volumes de recursos envolvidos são variáveis.

Dessa forma, a condução de uma prática de gestão de recursos materiais, que envolvam
a configuração de estoques são normalmente designados de “políticas de estoque”, gera e sofre
impactos de várias questões internas e externas à organização. Seja por aspectos econômicos,
que em alguns momentos exigem maior controle nas aquisições, seja em situações onde há a
possibilidade de ganhos em oportunidades ou condições de aquisição mais vantajosa, a
definição sobre uma política de estoques envolve:

 O que será estocado;


 Porque ser á estocado;
 Quem estocará ou armazenará;

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 Quanto será estocado;
 Como será armazenado;
 Quando será armazenado; e
 Onde será armazenado.

A definição de uma política de estoques por parte das organizações contribui


fortemente para o atingimento das metas e objetivos organizacionais, sendo elemento
orientador ou influente da determinação da natureza do que será armazenado, suas
quantidades, características e níveis.

Todas essas orientações tem forte impacto nos custos e no posicionamento da


organização, envolvendo e influenciando na determinação e acompanhamento das quantidades
a serem estocadas, nos aspectos e controle e na forma de sua operação ou funcionamento,
afetando os resultados alcançados.

1.1.1 Conforto Operacional X Conforto Financeiro

Uma relação ainda inicial, que considera aspectos meramente internos de uma
empresa, está no trade-off entre formação e manutenção de estoques e a disponibilidade de
capital.

De forma objetiva, a aquisição e manutenção de estoques implica na imobilização de


recursos financeiros, o que pode impactar ou limitar a disponibilidade de capital que poderia ser
aplicado em outras áreas, limitando ou mesmo inviabilizando outras ações e capacidades do
negócio.

Figura 3 - Trade-off estoques e capacidade financeira

Não há dúvidas de que uma maior quantidade de itens em estoque gera conforto e
segurança operacional, evitando interrupções e atrasos em atividades produtivas diversas,
quando considerados estoques de matérias-primas e de itens em processamento, bem como
permite uma melhor capacidade de responder às necessidades de entrega, quando
considerados os estoques de produtos acabados, por exemplo.

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É importante considerar a capacidade financeira de cada organização em estabelecer
essa imobilização de recursos, para que não se gere custos de capital ou de operações
excessivos, que venham a promover perdas excessivas de um lado ou de outro.

Em muitos momentos é comum observar a formação de estoques motivada por


negociações tidas como “oportunidades”, normalmente envolvendo grandes volumes de
aquisição que implicam em menor custo unitário, ou seja, uma percepção de “desconto” para
uma grande quantidade adquirida que resulta em uma grande quantidade de itens a serem
mantidos. Dessa forma, cabe analisar a situação sob esses mesmos pontos de forma objetiva, já
que essa “oportunidade” no final ainda pode resultar em um grande desembolso total e ainda
impactar e gerar um estoque excessivo que poderá até causar desconforto operacional, com
armazenamento excessivo, aumento de custos, necessidade de aumento de equipes,
equipamentos e até estruturas.

Outro problema ainda pode ser relativo ao custo de oportunidade envolvido, com uma
eventual perda de oportunidade financeira, o aumento do custo total, o impacto no fluxo de
caixa e aumento do risco, pela simples ampliação dos volumes de itens estocados.

Estoques altos geram aumento e até concentração de risco, podendo gerar mais
despesas com depreciação e até de obsolescência, o que deve ser analisado quando
considerados os custos de armazenagem.

1.1.2 Necessidade de manutenção X Capacidade de reposição

Uma outra relação consolidada na literatura da área, sugere que a formação e


manutenção de um estoque sofre forre influência dos aspectos relativos à frequência dos
procedimentos de reabastecimento.

Figura 4 - Custo de pedido X Custo de Armazenagem

Em casos onde haja rotinas frequentes de reabastecimento há uma menor necessidade


de manutenção de estoques. Contudo, o que vai direcionar essa relação, é definir os montantes
de estoque necessários, ou desejados, e o custo total envolvido, fruto do somatório do custo

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total de armazenamento com o custo total de aquisição. Dessa forma, a relação lógica consiste
em identificar o ponto de menor impacto, onde haja uma melhor relação entre a manutenção
de estoques e o custo de aquisição.

Nessa relação ainda se devem considerar os aspectos de sazonalidade de oferta de itens,


como no caso de safras ou condições sazonais, que interferem a possibilidade de aquisição
vantajosa, implicando no aumento do preço em entressafra, por exemplo, ou mesmo
indisponibilidade de oferta, o que impõe a necessidade de formação de estoques capazes de
suprir as necessidades operação de longos períodos de tempo.

Ainda no universo das questões relativas à sazonalidade, a formação dos estoques deve
ser relativa à previsão de aceleração ou aumento da demanda motivada por aspectos previstos
e esperados, como no caso da formação de estoques de varejistas frente aos festejos e
comemorações de fim de ano, que exigem atenção e cuidados muito particulares já que estão
relacionados a períodos de grande faturamento. Nesse caso, estoques mal formados, projetados
ou previstos podem implicar em perdas de difícil recuperação. Mais questões sobre
sazonalidade serão tratadas posteriormente.

O fato é que uma orientação clara e consistente da gestão contribui fortemente para o
cumprimento das metas e objetivos organizacionais, que podem ser amplamente influenciadas
pela forma com que se tratam ou se consideram os aspectos de uso dos recursos materiais.

1.1.3 Papel da política de estoques

Ao estabelecer uma política de estoques, mesmo que não se refiram dessa forma, se
busca estabelecer metas e objetivos quanto ao tempo de entrega dos produtos aos clientes e
mesmo ao máximo de “não atendimentos” em operações mais complexas. Esses são elementos
de grande impacto que influenciam e caracterizam a empresa em vários aspectos.

Figura 5 - Papel da política de estoques

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Definir o número de depósitos, estoques ou de almoxarifados, bem como a lista de
materiais a serem armazenados neles é outra atividade muito importante da política de
estoques. Saber o que guardar e onde guardar orienta e impacta a forma das operações.

Algumas empresas se caracterizam por manter certas operações centralizadas em


alguns pontos, estando os respectivos estoques ali localizados, de forma centralizada ou
descentralizada. Nessa definição, muitas vezes se costuma determinar até que nível os estoques
deverão flutuar, ou seja, quais os indicadores de máximos e mínimos em termos de volume,
entendendo e expondo a percepção sobre as naturezas e características de sobre a flutuação
dos níveis de consumo;

Tudo isso ainda contribui na identificação e na definição dos limites na especulação com
estoques, com as capacidades de compra, de compras antecipadas, busca por descontos e
mesmo por busca de bonificações.

A política de estoques é um importante delimitador na construção e definição de metas


de indicadores de rotatividade dos estoques, buscando as melhores estratégias de gerir a
demanda de forma consistente e legal, considerando os custos e o capital envolvidos, de forma
a projetar o melhor resultado ou a estratégia desejada.

Esses elementos podem ser entendidos quando observados o Retorno de Capital


envolvido.

Equação 1 - Retorno de Capital

O Retorno de Capital é a relação entre receita auferida e o capital investido na aquisição,


estocagem e disponibilização dos recursos materiais, como insumos, mercadorias e produtos.
Algumas fontes se referem a lucro e a capital, mas há que se considerar que o lucro é uma
determinação financeira específica e clara.

A receita auferida diz respeito à entrada de capital específica, relativa ao item estocado,
enquanto a capital aplicado se refere aos gastos de aquisição, manutenção, guarda,
comercialização, ou seja, suas despesas e custos.

Essa relação pode ser muito importante para verificar a rentabilidade gerada pelo
armazenamento e movimentação de materiais por parte da empresa, em especial quando
destinados a operações de produção e comercialização. Essas relações podem resultar nos
seguintes resultados:

Equação 2 - Relações sobre o retorno de capital

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 Quando se observa que o retorno de capital é inferior a 1 (RC < 1) - quando
houve menos retorno que o capital investido; pode indicar que houve perda,
menor ganho que capital investido; algumas situações podem ser reflexo de
uma estratégia de ganho de mercado, como na atração de clientes, que deve
ser feita com cautela e de acordo com limites muito claros (ver relação com a
Curva ABC).
 Quando se observa que o retorno é igual a 1 (RC = 1) - as relações entre
entradas e saídas se iguala, onde não há perdas, mas também não há ganhos;
ao se observar as saídas considerando o custo total essa relação pode definir o
momento ou a situação ótima de renovar ou eliminar itens em estoque; verificar
a ocorrência ou condição de obsolescência e de depreciação.
 Quando se observa que o retorno de capital é maior que 1 (RC > 1) - há retorno
positivo, onde se observa-se ganho de capital investido; os montantes são
positivos, elemento que pode gerar lucro (vide verificação de DRE).

1.2 Questões a se observar

A fim de entender o perceber se a política de estoques, traduzida em sua gestão e


operações estão fluindo de acordo com o esperado, é importante observar o comportamento
ou o desenvolvimento das operações e sus impactos.

Empresas ou organizações em funcionamento ou operação tem no eu cotidiano uma


série de indicadores que podem ser levantados e que devem ser regularmente acompanhados,
tais como os que se seguem:

 Reclamação dos clientes – o aumento da reclamação de clientes pode significar que


produtos errados estejam sendo entregues, que prazos de entrega não estejam sendo
cumpridos ou que produtos inadequados estejam sendo destinados aos clientes, o que
sugere problemas na operação que precisam ser identificados e equacionados;
 Dilatação de prazos de entrega – o aumento dos prazos de entrega pode ser um outro
indicador muito importante, evidenciando problemas ou erros nos processos de
armazenagem, burocracia, demora ou atrasos. Se sugere acompanhar e verificar
questões operacionais, monitorar e ajustar processos para o correto funcionamento e
operação da empresa. Caso a dilatação do prazo de entrega se refira a processos de
entrega de fornecedores em atraso é importante entender e perceber os fatores que
estão produzindo ou impactando neste aumento, podendo inclusive ser elemento
motivador ou influente na seleção de novos fornecedores ou de geração de estoques
de antecipação ou de contingência;
 Aumento de custo de estoque - aumentos de custo de estoque podem indicar a
existência de processos operacionais desnecessários ou a necessidade de implementar
e rever rotinas e procedimentos a fim de aumentar a agilidade das operações ou mesmo
de a realização de processos de manutenção de equipamentos e máquinas, além de
treinamento e motivação de pessoal;

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 Não atendimento de demandas – este item trata especificamente do não atendimento
do pedido recebido, da negação de atendimento, ou seja, da impossibilidade de entrega
de um item a um cliente, o que requer um levantamento pormenorizado na
identificação do fator ou dos fatores que levaram a este não atendimento, implicando
em perda de faturamento ou redução de ganhos ou atraso nas operações;
 Cancelamento de pedidos – é muito importante entender e perceber o que levou ao
cancelamento dos pedidos por parte dos clientes, se por algum fator interno ou se por
questões externas, se controláveis ou incontroláveis, a fim de identificar a possibilidade
de ajustes e alterações contra falhas, resolução de problemas ou de questões que estão
impactando negativamente o resultado das operações;
 Interrupção de processos produtivos – verificar se há interrupções de atividades
produtivas ou operacionais que sejam causadas ou motivadas por problemas de falta de
materiais ou estoques, realizando seus ajustes para evitar maiores problemas futuros.
 Falta de espaço para estocagem – identificar o que motivou ou o que está causando a
falta de espaço no armazenamento é fundamental para que não haja aumento de
custos, com a necessidade de ampliação de equipes, de horas extras, aquisição de novos
equipamentos ou mesmo de ampliação de estrutura;
 Perdas por obsolescência – identificar que fatores estão motivando a perda de produtos
de forma prematura, antes do seu consumo ou uso, dentro dos ambientes estoque.

É fundamental que a gestão bem como as operações relativas aos estoques esteja apta
a responder, da melhor forma, as instabilidades de mercado, servindo como uma espécie de
amortecedor entre oferta e a demanda, estabilizando e promovendo um fluxo constante e
seguro de materiais.

O objetivo da gestão e das operações deve ser o de favorecer uma adequação de uma
acomodação entre as pontas ou elos em uma cadeia de suprimento ou de distribuição. Também
deve responder adequadamente a questões econômicas e ambientais, a fim de evitar perdas e
prejuízos aos envolvidos a à sociedade.

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2. Gerenciando a necessidade de estoques

2.1 A natureza da previsão dos estoques

A previsão da necessidade de recursos materiais das organizações impacta na


necessidade de guarda, preservação e armazenagem desses itens em estoques.

Esses itens, sejam eles mercadorias para transação, produtos para consumo ou insumos
de produção, são considerados consumidos na visão dos estoques sempre que entregues aos
demandantes ou clientes.

Podem se tratar dos mais diversos itens como os que formam os estoques de matérias-
primas, de insumos, de produtos acabados, recursos de almoxarifado, etc.

A natureza e o objetivo da gestão de estoques é garantir que a atividade da organização


ocorra de maneira fluída, sem interrupções, atenuando eventuais oscilações dos fluxos de
recebimento, fornecimento, que por ventura possam vir a ocorrer, evitando que rupturas ou
quebras de estoque venham a ocorrer.

Rupturas do estoque também são conhecidas pela expressão stockout, que indicam o
esvaziamento completo de um estoque, de modo a não se poder atender a pedidos internos da
produção ou de clientes externos, pela falta de itens, produtos ou insumos, que podem ser
consequências ou resultado de diversas causas, como perecimento, deterioração, furto, roubo,
extravio.

2.2 Métodos de dimensionamento da necessidade de estoques

De forma geral, os estoques podem e devem ser determinados de acordo com as bases
de informação disponíveis.

Essa determinação é relativa à forma com que a organização trata a questão da previsão
sobre suas operações e suas práticas operacionais. Ainda cabe ressaltar as questões relativas à
sua cultura interna, que também podem influenciar.

Nessa determinação, as informações que permitem decidir a necessidade do uso de


recursos para a organização, para um período de tempo qualquer, podem ser divididas em duas
categorias, que podem ser de bases quantitativas ou de bases qualitativas.

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Tabela 1 – Bases de definição

2.2.1 Métodos qualitativos

Os métodos qualitativos de previsão são aqueles onde há pouca ou nenhuma influência


de bases quantitativas, onde são usadas bases ou informações de maior peso subjetivo, sendo
usadas em situações ou momentos onde não há a disponibilidade de dados que permitam outras
abordagens. São normalmente baseados na intuição, julgamento, percepção ou entendimento
de pessoas sobre um determinado problema, questão, condição ou situação. Assim, a seleção
das fontes, ou seja, das pessoas a serem consultadas ou a serem consideradas no processo de
coleta dessas opiniões ganha ainda mais relevância, importância.

Projetar cenários futuros usando como base opiniões de pessoas é uma tarefa que
envolve um elevado grau de imprecisão, por isso mesmo, sendo alvo de críticas, desconfianças
e incertezas.

Em muitos casos, as únicas opiniões disponíveis podem ser poucas, mas assim mesmo
precisam ser consideradas e as ações de previsão devem considerar as tendencias das opiniões
dos grupos referenciados. Normalmente são consultados gestores, pessoal de operações,
vendas, clientes e fornecedores. Nesse sentido, processos de coleta por pesquisas podem ser
realizadas, contudo, nem sempre é possível atingir uma amostra que gere segurança estatística,
com margens de erro medidas e controladas

2.2.1.1 Método Delphi

Uma técnica que qualitativa estrutura da que pode ser utilizada é o método Delphi.
Trata-se de uma técnica onde se usa um painel, ou seja, um grupo de cinco a dez especialistas,
que de forma independente e autônoma analisam e emitem sua opinião sobre uma
determinada questão ou sobre determinado tema complexo.

Juntamente com um grupo de apoio, preparam, distribuem, coletam e sintetizam as


respostas dos questionários onde os especialistas exprimiram suas opiniões e análises. Os
especialistas não interagem, a fim de aumentar a confiabilidade de suas opiniões.

O processo é composto basicamente, de forma simplificada, por 4 etapas:

1. Definição de objetivos;
2. Seleção de especialistas;
3. Elaboração e distribuição de questionários; e,
4. Identificação de resultados.

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As respostas são sintetizadas por meio de análise do conteúdo das respostas ou por
respostas quantitativas levantadas nos questionários. A premissa dessa técnica é a de que ao
reunir um grupo de especialistas que permanecerão anônimos, uma opinião mais extremada ou
tendenciosa de um acaba sendo ajustada pela opinião grupo. O processo colhe, dessa forma,
uma opinião média do grupo de especialistas.

Como principais vantagens do suo dessa técnica tem-se a coleta de pensamentos de


pessoas referenciadas, se evitam conflitos e confrontos e a possibilidade de coletar um conjunto
de análises variadas com diversos pontos de vista sobre um mesmo problema ou questão.
Contudo, como desvantagens, é um processo quando bem realizado logo e muitas vezes
demorado e ainda sujeito a interferências a influências diversas.

2.2.1.2 Juri de Executivos

Em alguns casos é importante coletar a percepção de executivos de uma empresa ou


organização, envolvendo suas percepções relativas às suas respetivas áreas de atuação, como
vendas, produção, finanças.

Esses executivos são reunidos e formam uma espécie de júri e valiam um determinada
situação ou questão que lhes é apresentada, como uma previsão de futuro. Assim, cada membro
do júri de executivos deve não apenas expressar suas impressões, mas deve compartilhar a
forma de como seu pensamento foi construído, que elementos ou fatore foram levados em
consideração em suas análises e perspectivas.

A final, deve ser elaborada uma avaliação conjunta, que expresse o fruto trabalho, com
as avaliações e os resultados.

2.2.1.3 Pesquisa de vendas e pesquisa com clientes

Trata da coleta de percepções e avaliações da equipe ou da área responsável pelo


contato e interação com os clientes, com pessoal ou equipes de vendas ou de atendimento.

A percepção da equipe de vendas representa a expetativas ou estimativas das operações


da empresa. Contudo devem ser evitados e filtrados vieses de otimismo exagerado que podem
contaminar a avaliação, devendo ser buscadas reflexões, análises, isentas e fundamentadas.

Para tanto, podem ser usadas interações diversas formas

Por outro lado, interações diretamente com os clientes também se mostram assertivas
e relevantes no processo de precisão. Podem ser realizadas interações e levantamentos com
grupos de clientes a fim de detectar tendencias de demanda futura, suas expectativas, condições
e até limites, como tolerância a preços e condições de atendimento, por exemplo.

Ao pesquisar os elementos de contato com o mercado, sob as duas vertentes interna e


externa à organização, há uma tendencia de levantar dados e impressões mais amplas e
adequadas sobre a previsão de futuro e suas condições.

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2.2 Previsão para os estoques, 16

2.2.1 Introdução,16

2.2.2 Método do último período, 21

2.2.3 Método da média móvel, 21

2.2.4 Método da média móvel ponderada, 23

2.2.5 Método da média com ponderação exponencial, 24

2.2.6 Método dos mínimos quadrados, 26

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