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SUMÁRIO
Introdução ................................................................................................ 3
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NOSSA HISTÓRIA
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Introdução
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corpo ao ponto de uma exaustão mental (burnout). Nas doenças orgânicas
graves e potencialmente letais, tal preocupação inclui o medo intenso, a ameaça
iminente da morte, assim como a tristeza e pensamentos depressivos.
Como pode ser visto nos exemplos acima, na saúde e na doença há uma
interação vital entre a mente e o corpo, e nós estamos constantemente
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conscientizados da nossa própria existência psicossomática e da de nossos
pacientes. Embora a psicologia psicossomática esteja relacionada com a
compreensão da influência de pensamentos e de emoções sobre o corpo, nós
sabemos que, na realidade, esta é parte de um processo de dupla via,
especialmente porque cada condição psicossomática pode evocar sentimentos
de ansiedade e medo muito semelhantes em outras doenças orgânicas. Os
pacientes podem sentir-se estigmatizados pelo diagnóstico de doença
psicossomática, sentindo que o profissional está insinuando que estão
inventando os sintomas, ou que estes são apenas produtos da imaginação
quando, na realidade, sentem a dor e o sofrimento referidos. Também, se logo
após diagnóstico, o médico encaminha estes pacientes para profissionais
especializados em intervenção psicológica, eles podem sentir-se rejeitados e
abandonados pelo médico, caso haja sentimentos contratransferenciais de
incompetência ou de ressentimentos.
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A abordagem psicossomática resgatou o doente como pessoa. E tanto o
aspecto físico quanto o aspecto psíquico são cuidados como uma unidade. Esta
abordagem trata as relações e interconexões entre mente e corpo.
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Com base na revisão da literatura realizada, pode-se entender o estudo
de caso como um subtipo de pesquisa de caso único, que constitui uma
estratégia de investigação naturalística e flexível, mediante a utilização de
múltiplos métodos (quantitativos e/ou qualitativos) e variadas fontes de
evidências e informações, para descrever de forma intensiva e profunda um ou
mais casos individuais (seja o paciente, a díade paciente- -terapeuta, o processo
terapêutico etc.), focalizando as variações intrassujeitos através do tempo, a fim
de testar proposições teóricas (hipóteses) ou gerar explicações a serem testadas
e/ou confirmadas em estudos ulteriores. Diferenciam-se, portanto, estudos de
caso empíricos e estudos de caso clínicos. Essas características são
apresentadas e comentadas a seguir:
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reserva-se o termo para os estudos não experimentais, diferenciando-os desse
modo dos experimentos de caso único (Hilliard, 1993).
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O estudo de caso é uma estratégia de pesquisa com planejamento
flexível: a adaptatividade e a flexibilidade são outras características dessa
estratégia de pesquisa. Conforme Yin (2001), “pouquíssimos estudos de caso
terminarão exatamente como foram planejados” (p.83). Isso significa que esse
tipo de investigação permite ao pesquisador, em virtude das necessidades que
emergem durante o próprio estudo, alterar a direção prevista ou incluir outro
caso, por exemplo. A possibilidade de desvio do planejamento representa um
dos pontos mais fortes do estudo de caso, embora isso potencialmente possa
tornar o estudo mais trabalhoso e exigir do pesquisador capacidade de
adaptação e habilidade em manter o equilíbrio entre flexibilidade e rigor (Robson,
1993).
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técnicas, demonstrando a plausibilidade das mesmas (d’Allones, 1989; Aveline,
Strauss & Stiles, 2007; Widlocher, 1994).
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Os acontecimentos clínicos são fluídos e passageiros, simultaneamente
subjetivos e objetivos, unificam passado, presente e futuro, estão presentes e
ausentes, são tangíveis e intangíveis, verdadeiros e falsos, são paradoxais. Por
essa razão, o terapeuta trabalha no aqui e no agora, no espaço vivencial que se
estabelece nessa relação peculiar.
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compreensão da experiência que possibilite a sua ressignificação. Os pacientes,
os clientes, as pessoas que procuram o psicólogo, enfim, reveem as suas vidas,
revivem as suas experiências, estabelecem de forma única a sua relação com o
terapeuta e, ao fazê-lo, evidenciam o seu modo de ser e de estar no mundo,
expõe as suas vivências e exploram significados.
O psicólogo está ali, a serviço de seu cliente. Ele vê, ouve, escuta, sente
e busca compreender o seu contexto, a sua história, de modo a apreender os
sentidos de suas experiências. Nessa abertura, o terapeuta deixa-se afetar pelo
cliente, atingir-se pelo modo como ele se apresenta, deixa-se mobilizar. E o que
é mobilizado nele torna-se um elemento a mais, sobre o qual pode refletir, para
compreender melhor o que acontece na relação terapêutica e com o seu cliente.
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e de pesquisa. É comum, também, nomearem vertentes metodológicas a partir
das abordagens psicológicas, como a metodologia psicanalítica de pesquisa,
fenomenológica, sistêmica, histórica, ou a partir do estilo da ação clínica de uma
determinada abordagem psicológica, descritiva, hermenêutica, compreensiva,
interpretativa, ou, ainda a partir das estratégias do psicólogo, como as
metodologias consideradas ativas, de pesquisa-ação, pesquisa participante,
entre outras inúmeras denominações e possibilidades de categorização.
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a recuperar a sua autonomia e para isso debruça-se sobre ele e sobre a sua
história. O objetivo do pesquisador é outro. Ele está interessado em aprofundar
o conhecimento de determinado conteúdo teórico, em esclarecer ou rever algum
conceito, pretende desenvolver certo aspecto da teoria que ainda não foi
suficientemente abordado, quer propor novas estratégias de atuação, validando-
as, ou avaliar aquelas que utiliza no manejo terapêutico, e busca, então, observar
os efeitos da nova estratégia no seu ou nos seus clientes.
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Nas pesquisas, prevalece a exigência do rigor, da adequação psicológica
da linguagem, do uso correto e da associação coerente dos conceitos, do
cuidado metodológico, da correta forma de apresentação.
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dessa relação no atendimento precisam ser cuidadosamente observados e
trabalhados sempre que necessário.
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mesmo se não se preste a intervenções ou aprofundamentos do ponto de vista
clínico.
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situações de apresentação científica, no entanto, deverá fazê-lo e, no caso das
pesquisas, o relato escrito é absolutamente necessário.
Por essa razão os relatos do caso para fins clínicos são diferentes do
relato para fins de pesquisa e, convém lembrar, ambos modificam o material
inicial, obtido junto ao cliente e colaborador.
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fenômenos psicológicos relevantes contidos no relato são transcritos em
linguagem psicológica.
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as referências teóricas, mas, não se submeta às mesmas, coloque-se acima
delas, no sentido de ser capaz de lançar uma visada crítica ao uso que está
sendo feito da teoria.
Para que possa fazer isso, é importante que domine a sua teoria de
referência, para que não busque em outros campos do saber aquilo que já está
no seu, simplesmente por desconhecer os recursos que encontra na própria
teoria de apoio.
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A validação da pesquisa se dá em grande parte pelos critérios acima, no
tento, a primeira validação – e a mais importante – é a que decorre de uma auto
avaliação realizada pelo próprio pesquisador. Voltando a atenção para os seus
próprios movimentos, para o modo como colheu o material, como o analisou,
como dialogou com a teoria, como construiu um quadro compreensivo da
questão inicialmente levantada, dos cuidados éticos que tomou, da sua
dedicação e empenho, o próprio pesquisador avalia seu trabalho e sente-se, ou
não, em condições de apresentá-lo.
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Na clínica, a auto avaliação é constante, dada a importância atribuída aos
movimentos contra-transferenciais, e a validação do trabalho se dá,
principalmente, pelo retorno do próprio cliente. Parte dessa validação ocorre,
também, quando o caso clínico é apresentado para discussão com pares.
Validação semelhante se dá no caso das pesquisas. O cliente que é também o
colaborador da pesquisa valida o pesquisador por suas colocações. Não cabe,
no entanto, ao terapeuta pesquisador, levar suas análises ou conclusões de
forma detalhada para que ele as valide. A validade no caso é dada pelos pares,
pelas pessoas para quem o trabalho é disponibilizado e pela sua aceitação no
meio científico.
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A pesquisa, assim como o trabalho clínico, tem uma função de
fecundação. Fecundação do conhecimento, assimilando-o, transformando-o e
devolvendo-o, fecundação do colaborador que, ao participar da investigação,
oferecendo-se como sujeito, desnuda-se para o pesquisador e ao fazê-lo pode
ouvir a própria voz. Fecundação, principalmente para o próprio pesquisador que
ao refletir sobre sua questão, mergulha em um mundo de significados e
possibilita a sua recriação. Desse modo, ele também se recria. Fecundação dos
colegas que ao se debruçarem sobre a pesquisa encontram nela novas
possibilidades de compreensão.
Por essa razão, mesmo a pesquisa que se pretende científica não pode
prescindir da expressão artística, manifesta na harmonia da apresentação, na
originalidade da compreensão, no envolvimento com o pesquisador. O rigor
científico e a precisão adquirem beleza quando acoplados à poesia.
Que a clínica nos impõe questões, isto é fato. Seja a nível de nossa
prática, o que necessariamente nos remete à uma reflexão ética acerca de nossa
postura frente ao paciente, ou a nível conceitual, de avaliação ou não, daquilo
que se propõe teoricamente. É o momento de interrogarão tanto da eficácia
como dos limites desta prática.
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construir a partir da fala deste, nossos questionamentos, e assim, articularmos
conceitualmente este discurso. Em suma, todo o corpo teórico da psicanálise
tem sua origem na clínica.
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O caso se produz justamente neste encontro de uma fala com uma escuta.
Ou, porque não dizer, do desencontro da fala e da escuta? Por mais estranho
que isto possa parecer, é justamente onde a fala do paciente nos faz resistência
que elegemos os elementos que irão constituir a narrativa da ficção. Trata-se do
momento em que a fala do paciente interpela e confronta à quem escuta “no
limite do fantasma que o suporta e da teoria que o orienta” (ibid. p.21).
A este ponto, de um não saber, que dirigimos nosso olhar. Dele, trazemos
no caso, não somente os elementos discursivos que o paciente enuncia, mas o
momento, o lugar no qual ele se enunciou. De fato é disto que se trata, muito
mais do lugar do que da fala em si. Até porque se o principio da escuta é o da
transferência, o que nos importa é em que lugar transferencial algo foi enunciado,
e de que lugar transferencial escutamos. “O caso, nesta perspectiva, revela não
só o sujeito que fala do seu sofrimento, como também o analista que escuta” (
ibid. p.18).
É claro que não temos garantias de como fará marca em quem apresenta,
a intervenção do grupo, sendo que este pode acabar levando estas construções
ao tratamento de seu paciente. Não há como interpretar a fala de um paciente
em grupo, a interpretação pressupõe uma escuta e esta, pressupõe que haja o
endereçamento de um saber-suposto, reafirmando, que haja transferência.
Quando o grupo direciona sua atenção sobre o caso não é para interpretá-lo, só
quem pode fazê-lo é quem o apresenta.
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Do contrário estaríamos tentando aplicar um saber psicanalítico sobre um
não saber, do caso. Lacan, afirma que “A psicanálise só se aplica, em sentido
próprio, como tratamento, e portanto, a um sujeito que fala e que ouve.”
(1998[1960], p.758). Fora do contexto clínico, ou seja, a prática que propõe a
psicanálise aplicada, “só poderia sê-lo, num sentido figurado, isto é, imaginário,
baseado na analogia e, como tal, desprovido de eficácia” (ROUDINESCO, 1998,
p.608).
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grande importância na formação, uma vez que a partir desta apresentação,
questões que o clínico nos remetem possam ser debatidas em conjunto. É a
oportunidade de produzirmos, na direção de uma melhor compreensão ou até
de inovação teórica. É também por esta razão que se justifica a apresentação do
caso. Pelo valor de interrogação teórica que ele produz, pela interação de teoria
e prática. Tendo clara esta dimensão, é provável que não caiamos no exercício
de um gozo que a aplicação de saber poderia suscitar. Neste contexto saímos
do campo da suposição para adentrarmos no campo da teoria.
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