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REVISTA BRASILEIRA DE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO / BRAZILIAN JOURNAL OF BEHAVIOR ANALYSIS, 2006, VOL.2, N .

1, 53-66 O

REFORÇAMENTO POSITIVO DA VARIABILIDADE E DA REPETIÇÃO IMUNIZA


CONTRA O DESAMPARO APRENDIDO

IMMUNIZATION AGAINST LEARNED HELPLESSNESS DUE TO PREVIOUS EXPOSURE


TO POSITIVE REINFORCEMENT OF BEHAVIORAL VARIABILITY AND REPETITION

MARIA HELENA LEITE HUNZIKER, FERNANDO NUNES MANFRÉ E MARCOS TAKASHI


YAMADA
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, SÃO PAULO, BRASIL

RESUMO
Esse estudo investigou se o reforçamento positivo da variação ou da repetição pode imunizar o sujeito contra
o desamparo aprendido. Ratos foram divididos em três grupos, dois deles submetidos a 10 sessões de reforçamento
positivo (variação ou repetição) e o terceiro sem esse tratamento. Em seguida, cada grupo foi subdividido em três,
expostos a choques controláveis, incontroláveis ou nenhum choque, e posteriormente testados sob uma contingência
de fuga. Os animais expostos apenas a choques incontroláveis apresentaram dificuldade de fuga (desamparo
aprendido), enquanto os demais aprenderam normalmente essa resposta; os sujeitos submetidos ao reforçamento
positivo antes dos choques incontroláveis não apresentaram dificuldade de aprendizagem de fuga (efeito de
imunização), independentemente do padrão reforçado: variar ou a repetir. Esses resultados sugerem que o
reforçamento positivo pode imunizar os sujeitos contra o desamparo aprendido, quer seja contingente à variação ou
à repetição comportamental.
Palavras-chave: desamparo aprendido, efeito de imunização, variabilidade operante, repetição operante

ABSTRACT
The present experiment examined whether the positive reinforcement of either a variable or a repetitive
behavioral pattern immunizes against learned helplessness. Rats were divided into three groups, two of which
were exposed to ten sessions of positive reinforcement (either for varying or for repeating response sequences); the
third group was not exposed to positive reinforcement. Following this phase, each group was further divided into
three subgroups exposed to one of the following procedures: controllable shocks, uncontrollable shocks or no
shocks whatsoever. All animals were then tested in an escape contingency. The animals exposed only to uncontrollable
shocks failed to escape (learned helplessness), whereas all other subgroups learned the required response. Those
trained with positive reinforcement prior to the uncontrollable shocks equally learned to escape (immunization),
regardless of which behavioral pattern was reinforced. These results suggest that positive reinforcement might
immunize against learned helplessness, irrespective of which behavioral pattern (variability or repetition) the
reinforcement is contingent upon.
Key words: learned helplessness, immunization, operant variability, operant repetition

Estudos experimentais têm demonstra- Seligman, 1976; Peterson, Maier, &


do que sujeitos expostos a estímulos aversivos Seligman, 1993). Tal prejuízo na aprendiza-
incontroláveis apresentam, posteriormente, gem, resultante da exposição prévia a estímu-
dificuldade de aprendizagem de fuga ou es- los aversivos que não se relacionam funcional-
quiva. Contudo, a mesma dificuldade não se mente com o comportamento do sujeito, tem
verifica se os estímulos experimentados inici- sido denominado desamparo aprendido
almente forem controláveis (Maier & (learned helplessness).

Esse trabalho foi realizado com o apoio do CNPq (processo no.550987/2002-9) e da FAPESP (processo no. 03/02122-4). Parte desse trabalho foi
apresentada na 18th Annual Convention of the Association for Behavior Analysis, realizada em Campinas, SP, em 2004. Os autores agradecem a colaboração
de Cristiano Valério dos Santos ao longo de todo o experimento. Correspondência para e-mail: hunziker@usp.br.

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M. H. L. HUNZIKER ET AL.

Uma das explicações teóricas para esse efei- ram apenas quanto à possibilidade da sua du-
to supõe que o sujeito aprende, na primeira fase, ração ser ou não controlada pelo sujeito. Frente
que não há relação entre seu comportamento e a esses dados, cabe perguntar: será que a apren-
os estímulos aversivos, aprendizagem essa que dizagem de controle se generaliza para qual-
se generaliza para a fase seguinte, dificultando quer nova situação, “imunizando” o sujeito con-
a aprendizagem da relação funcional existente tra os efeitos deletérios da incontrolabilidade,
no reforçamento negativo (Seligman & Maier, ou a imunização se dá apenas se os estímulos
1967; Seligman, Maier, & Solomon, 1971; manipulados em todas as fases do experimento
Peterson, Maier & Seligman, 1993). Portanto, forem semelhantes entre si? Por exemplo, será
segundo essa explicação, o desamparo é um efei- que a aprendizagem de fuga ocorre após cho-
to decorrente da aprendizagem que se estabe- ques incontroláveis se anteriormente a esses
lece na primeira fase experimental à qual o su- choques os sujeitos forem expostos a
jeito é exposto. Assim, seria de se esperar que se reforçadores positivos? Essa é uma das questões
uma aprendizagem de controle sobre o estímulo a ser respondida pelo atual experimento.
(via relação funcional entre o comportamento Além da importância da natureza dos es-
e sua conseqüência) fosse estabelecida antes da tímulos manipulados, também pode ser críti-
exposição aos estímulos aversivos incontroláveis, co, para se obter o efeito de imunização, o re-
o desamparo não ocorreria. Testes experimen- pertório comportamental do sujeito. Será que
tais confirmaram essa previsão: a exposição dos o tipo de aprendizagem estabelecida na pri-
sujeitos a uma contingência de fuga, antes da meira fase, via reforçamento positivo, pode
exposição aos choques incontroláveis, evitou o interferir na aprendizagem sobre a
desamparo aprendido (Alloy & Bersh, 1979; incontrolabilidade dos choques? Por exemplo,
Seligman & Maier, 1967; Seligman, Rosellini, se na condição de reforçamento positivo fo-
& Kozak, 1975; Yano & Hunziker, 2000). Esse rem estabelecidas aprendizagens de padrões
efeito foi chamado de “imunização”. opostos, será que essas aprendizagens produ-
O efeito de imunização aparentemente zirão igual efeito de imunização? Para se veri-
reforça a noção de que o crítico é a aprendiza- ficar essa questão, dois padrões opostos de com-
gem inicialmente estabelecida: se o sujeito portamento podem ser a variabilidade e a re-
aprende que não tem controle sobre os cho- petição comportamental, ambos estabelecidos
ques, ele apresenta o desamparo; se a primeira por reforçamento diferencial (Page &
aprendizagem for de controle, ele fica “imune” Neuringer, 1985; Neuringer, 1991). Assim,
aos efeitos da incontrolabilidade dos choques se um sujeito for reforçado a variar suas res-
experimentados posteriormente, não apresen- postas, e outro for reforçado a repetir sempre
tando o efeito de desamparo. Contudo, vale o mesmo padrão comportamental, ambos es-
notar que os estudos sobre efeito de imuniza- tarão experimentando o controle sobre o re-
ção utilizam, via de regra, apenas estímulos forço positivo, porém estarão aprendendo pa-
aversivos, semelhantes entre si, em todas as fa- drões opostos de comportamento. Será que
ses experimentais. Por exemplo, no estudo de ambos apresentarão igualmente imunização se
Yano e Hunziker (2000), foram utilizados cho- posteriormente forem expostos a choques
ques elétricos que, nas diferentes fases, diferi- incontroláveis e depois testados em aprendi-

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zagem de fuga? Essa é a segunda questão a ser As demais caixas mediam 27,5 X 22,5 X
respondida por esse estudo. 28,0 cm (comprimento, largura e altura), ten-
do paredes frontal, traseira e teto em acrílico
MÉTODO transparente e as demais paredes em alumínio.
Sujeitos O piso era composto por peças cilíndricas de
Foram utilizados 63 ratos experimental- latão, de 0,3 cm de diâmetro, distando 1,3 cm
mente ingênuos, machos, albinos, da linhagem entre si. Na parede direita havia duas barras
Wistar, com aproximadamente 180 dias de ida- retangulares de alumínio (barras direita – D e
de no início do experimento, provenientes do esquerda - E), medindo 5,0 X 2,0 cm (com-
Biotério do Instituto de Psicologia da Universi- primento e largura), eqüidistantes das laterais,
dade de São Paulo. Os sujeitos foram mantidos afastadas 9,0 cm entre si (centro a centro), a
em gaiolas individuais e alimentados à base de 7,0 cm acima do piso. Uma pressão de no mí-
ração seca balanceada, constantemente dispo- nimo 45 gf era registrada como uma resposta.
nível. Quarenta e oito horas antes do início do Um bebedouro, centralizado entre as barras, no
experimento, os animais foram privados de água. nível do piso, permanecia rebaixado, fora do
A partir da primeira sessão eles foram manti- alcance do sujeito: quando acionado, introdu-
dos em regime de privação, recebendo 5 minu- zia na caixa uma concha de alumínio contendo
tos de água diariamente, após a sessão. Os ani- 0,05 cc de água (reforço), a qual permanecia
mais eram pesados diariamente, cuidando-se disponível por 5 s.
para que não ficassem abaixo de 85% do seu As sessões envolvendo estímulo aversivo uti-
peso ad lib, no período de privação. lizaram duas caixas com focinhadores e uma
shuttlebox. As primeiras mediam 21,5 X 21,5 X
Equipamento 21,0 cm, tendo a parede frontal em acrílico e as
As sessões de reforçamento positivo foram demais paredes constituídas de alumínio. No
realizadas em uma caixa com uma barra e doze centro da parede direita, a 6 cm acima do piso,
caixas com duas barras. A primeira delas era de estava localizado um orifício de 3 cm de diâme-
fabricação FUNBEC, medindo 25,0 x 20,5 x 21,0 tro (focinhador). A esse orifício se conectava uma
cm (comprimento, largura e altura, respectivamen- cuba de alumínio, presa pelo lado externo da
te). O piso era composto por peças cilíndricas de caixa, que continha a 1,5 cm da borda um con-
aço inoxidável, de 1/8" de diâmetro, distando 1,3 junto de célula fotoelétrica acionada por um fei-
cm entre si. As paredes laterais eram de alumínio, xe de luz, localizado ao lado oposta desta. A in-
e as demais eram de acrílico transparente. No cen- trodução do focinho do animal no orifício, com
tro da parede lateral direita, 8,0 cm acima do piso, um mínimo de 1,5 cm de profundidade, inter-
localizava-se uma barra cilíndrica de latão, de 1/ rompia esse feixe de luz, registrando-se uma res-
2" de diâmetro e 3,8 cm de comprimento. Uma posta. O piso, composto por peças cilíndricas
pressão mínima de 40 gf (grama-força) sobre ela de latão, de 0,3 mm de diâmetro, distando 1,3
produzia o registro de uma resposta de pressão à cm entre si, estava conectado a um gerador de
barra. Ao nível do piso, encontrava-se o bebedou- choques elétricos de corrente alternada (AC) com
ro, que, quando acionado, disponibilizava ao su- alternador de polaridades (shock scrambler), mo-
jeito uma gota de água de 0,05 cc. delo LVE-133-33.

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A shuttlebox, feita em acrílico pintado de aversivos) e teste (aprendizagem de fuga). Na


preto fosco, com parede frontal transparente, primeira fase, um dos grupos permaneceu no
media 50,0 X 15,5 X 20,0 cm (comprimento, biotério recebendo água e comida ad lib (gru-
largura e altura). Ela era dividida em dois com- po ING). Os demais foram privados de água e
partimentos de tamanho igual por uma parede colocados, inicialmente, na caixa FUNBEC,
de acrílico preto fosco contendo uma abertura onde a resposta de pressão à barra foi modelada
retangular central de 7,5 cm de altura e 6,0 pelo método de aproximações sucessivas e rece-
cm de largura, a 8,0 cm acima do piso. Esse beu 100 reforços em esquema de reforçamento
orifício permitia a passagem do sujeito de um contínuo (CRF). Após esse treino, deu-se iní-
compartimento a outro. Cada compartimento cio à fase experimental, realizada nas caixas com
tinha assoalho independente, que podia ser re- duas barras. Metade dos animais passou a com-
baixado em uma das extremidades de forma que por os grupos a serem expostos ao reforçamento
o peso do sujeito produzia a sua inclinação, re- da variabilidade (VAR) e metade ao
gistrando automaticamente sua presença naque- reforçamento da repetição (REP).
le lado da caixa. O piso era composto de peças Os animais VAR foram submetidos a três
de latão cilíndricas, de 0,3 mm de diâmetro, sessões preparatórias, onde as contingências fo-
distando 1,3 cm entre si, conectadas a um ge- ram CRF, FR 2 e FR 4, independentemente
rador de choques elétricos de corrente alterna- de qual barra era pressionada, com 200 refor-
da (AC) com alternador de polaridades (shock ços em cada sessão. Em seguida, eles passaram
scrambler), de fabricação BRS Foringer modelo por 10 sessões onde o reforço foi contingente à
901. Quando acionado esse gerador, choques variação das seqüências emitidas. Nessas sessões,
elétricos eram liberados através do piso da cai- a unidade comportamental foi a seqüência de
xa. Duas peças semelhantes ao piso localizavam- quatro respostas de pressão à barra, sendo ana-
se na base do orifício da parede central, sendo lisada a disposição de respostas D e/ou E den-
igualmente eletrificadas quando acionado o tro da seqüência para sua comparação de simi-
gerador de choques. laridade ou diferença em relação às demais. Por
Dois computadores PC (486 SX e exemplo, as seqüências EEED, DEEE e DDED
Pentium 133 MH) com programa escrito em eram diferentes entre si, enquanto que a seqüên-
linguagem MED-PC, foram utilizados para cia EEED era semelhante à primeira. Conside-
controlar e registrar os dados obtidos nas caixas rando-se que a diversidade de combinações de
de barras. Dois computadores PC 386, com o quatro respostas em duas barras totaliza 16 se-
programa escrito em linguagem Delphi, con- qüências possíveis, o reforço só era apresenta-
trolaram e registraram os dados obtidos nas do se a freqüência de emissão da seqüência não
caixas com focinhadores e na shuttlebox. ultrapassasse o limiar preestabelecido de 1/16
(ou seja, freqüência relativa de emissão não su-
Procedimento perior a 0,0625). Com esse critério, quanto mais
Os sujeitos foram inicialmente divididos freqüente fosse a seqüência, menor sua proba-
em 3 grupos (n = 21), submetidos a três fases bilidade de reforçamento. O registro da fre-
experimentais: tratamento 1 (com reforçamento qüência era relativizado de acordo com outro
positivo), tratamento 2 (com estímulos critério para reforçamento que levava em conta

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a recência de emissão: ao ser apresentada, cada 200 seqüências, o que ocorresse primeiro.
seqüência produzia a multiplicação do fator Após essa fase de reforçamento positivo, deu-
0,99 sobre a freqüência das apresentadas previ- se início à fase de exposição a estímulos aversivos
amente. Portanto, a cada seqüência emitida, as durante duas sessões. Os sujeitos de cada grupo
demais tinham reduzido o registro de suas fre- foram distribuídos aleatoriamente em três sub-gru-
qüências e, conseqüentemente, aumentadas as pos (n=7), que diferiram entre si quanto ao trata-
suas probabilidades de reforçamento. Portan- mento que receberam na primeira sessão: choques
to, freqüência e a recência eram, em conjunto, escapáveis (C), inescapáveis (I) ou nenhum choque
inversamente proporcionais à probabilidade de (N). Nessa sessão, conduzida na caixa com
reforçamento. A combinação de ambos os cri- focinhador, os dois primeiros grupos (C e I) rece-
térios determinava que essa probabilidade seria beram 60 choques de 1 mA, de 10s de duração
tanto maior quanto mais o sujeito emitisse to- máxima. Cada choque foi chamado de tentativa,
das as 16 seqüências possíveis, com um míni- sendo os intervalos entre choques (IET) variáveis,
mo de repetições sucessivas, ou seja quanto mais em média de 60s (amplitude de variação de 10-
variável fosse o seu comportamento. 110s). A duração do choque correspondia à latência
Os animais REP foram submetidos às três na tentativa. Os animais do grupo controlável (C)
sessões iniciais, conforme citado no grupo an- podiam abreviar o tempo de apresentação do cho-
terior, com a diferença que apenas respostas na que colocando o focinho no focinhador: essa res-
barra E foram reforçadas: na primeira sessão, posta (fuga) tinha como conseqüência a imediata
toda resposta E foi reforçada; na segunda, o re- interrupção do choque e reinício de novo IET. Não
forço seguiu a emissão de duas respostas E su- havendo a emissão da resposta de fuga, o choque
cessivas (ou seja, seqüência EE); na terceira ses- era interrompido automaticamente após 10s de seu
são, foi reforçada a emissão de quatro respostas início, e esse valor registrado como a latência na
E sucessivas (seqüência EEEE). Em seguida, es- tentativa. Respostas durante o IET não tinham
tabeleceu-se o procedimento de reforço da re- conseqüência programada. Cada animal desse gru-
petição, por 10 sessões, onde apenas a seqüên- po tinha acoplado a si um animal do grupo
cia EEEE tinha 50% de probabilidade de incontrolável (I) que recebia os mesmos choques,
reforçamento. As demais seqüências não rece- com a diferença de que suas respostas não produzi-
beram reforço. am qualquer efeito sobre a duração dos mesmos: a
Em ambos os grupos, as seqüências refor- duração do choque para os animais do grupo I de-
çadas foram seguidas da apresentação de uma pendia, única e exclusivamente, da resposta de fuga
gota de água, que ficava disponível ao sujeito por do seu par do grupo C. Os animais do terceiro
5 s; seqüências não reforçadas foram seguidas por grupo permaneceram no biotério, sem receber qual-
um período de 5s com a luz ambiente apagada quer tratamento (grupo não-choque- N).
(chamado timeout) onde nenhum reforço era Na sessão seguinte (teste), todos os sujei-
apresentado, nem havia registro ou conseqüên- tos foram submetidos a uma contingência de
cia programada para as respostas. Após esse perí- fuga na shuttlebox, onde receberam 60 choques
odo de timeout, a luz ambiente se acendia, po- de iguais parâmetros que os anteriores. Esses
dendo ser iniciada nova seqüência. Cada sessão choques podiam ter sua duração abreviada caso
era encerrada após 45 minutos ou a emissão de o sujeito saltasse, através do orifício da divisó-

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ria central, para o compartimento oposto ao que variabilidade e da repetição é apresentado nas
estava. Na ausência da resposta de fuga, os cho- Figuras 1 e 2, respectivamente. Em ambas as
ques eram interrompidos automaticamente após figuras, a primeira coluna diz respeito ao índice
10s de seu início, e esse valor registrado como a U apresentado por todos os sujeitos na primeira
latência na tentativa. e na última sessão de reforçamento positivo. A
A Tabela 1 resume o procedimento em- segunda coluna mostra a latência de fuga da res-
pregado nesse estudo. posta de focinhar (apenas para o grupo contro-
Para analisar a aprendizagem da variabili- lável), ao longo de blocos de 5 tentativas, na ses-
dade comportamental foi utilizada uma medi- são de tratamento com estímulo aversivo. Em
da estatística de distribuição U, extraída da te- ambas, os pontos soltos são representativos das
oria da informação de Attneave (1959), e cal- latências individuais, e a linha contínua
culada da seguinte forma U=(Spi.log 2pi)/4, indicativa da média do grupo. Na terceira colu-
onde pi é a probabilidade de emissão de cada na estão representadas as latências de fuga ao
seqüência particular, extraída de sua freqüência longo de blocos de 5 tentativas, na sessão de tes-
relativa. Este índice estatístico pode adquirir te, quando a resposta de saltar foi reforçada ne-
valores de 0 a 1, sendo 0 representativo do pa- gativamente. Igualmente, essa representação é
drão máximo de repetição e 1 indicador do feita dos resultados individuais (pontos soltos) e
máximo de variabilidade. A aprendizagem do da média do grupo (linha contínua).
comportamento de fuga foi analisada pela re- Os dados da primeira coluna da Figura 1
dução das latências das respostas, agrupadas em mostram que todos os sujeitos submetidos ao
médias por blocos de 5 tentativas. reforçamento da variabilidade aumentaram seus
índices U da primeira para a última sessão, sen-
RESULTADOS do que ao final dessa fase os valores de U fica-
ram em torno, ou acima, de 0.9. A comparação
O conjunto de resultados dos animais ex- intra-grupo mostra que a diversidade dos re-
postos inicialmente ao reforçamento positivo da sultados obtida na primeira sessão praticamen-

Tabela 1
Composição dos grupos experimentais em função do tratamento recebido nas fases de reforçamento
positivo e exposição ao estímulo aversivo. Os animais VAR e REP passaram previamente por sessão
de modelagem de resposta de pressão à barra. A unidade comportamental na fase de reforçamento
positivo foi uma seqüência de quatro respostas de pressão nas barras direita (D) ou esquerda (E).
Todas as sessões tiveram um intervalo de 24 h entre si.

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te desapareceu na sessão final, quando todos os grupo VAR-C apresentaram redução acentua-
sujeitos apresentaram padrão muito semelhan- da das latências de fuga ao longo da sessão: as
te entre si. Na segunda coluna observa-se que, latências, que, em média, tiveram valores inici-
quando submetidos ao reforçamento negativo ais em torno de 9 s, terminaram a sessão em
da resposta de focinhar, todos os sujeitos do torno de 2 s. A terceira coluna mostra que, na

Figura 1. Resultados obtidos com os sujeitos dos grupos VAR. Na coluna à esquerda, índices U, obtidos na fase de reforçamento positivo. Na coluna central,
latências da resposta de fuga “focinhar”, apresentadas pelos sujeitos expostos ao tratamento com choques controláveis (VAR-C). Na coluna da direita,
latências de fuga da resposta de saltar, na sessão de teste, apresentadas separadamente para os sujeitos expostos ao tratamento com choques controláveis (VAR-
C, gráfico superior), incontroláveis (VAR-I, gráfico central) ou nenhum choque (VAR-N). Nos gráficos de latências, os pontos soltos indicam os dados
individuais, e a linha contínua indica a média do grupo, apresentados ao longo de blocos de 5 tentativas.

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Sessão Teste, os resultados diferiram entre os sentado latência final relativamente alta (em tor-
grupos. Os animais dos grupos expostos previ- no de 7 s). Na terceira coluna, os resultados são
amente a choques, controláveis e incontroláveis também análogos ao descrito na figura anterior:
(VAR-C e VAR-I, respectivamente) mostraram os grupos previamente expostos a choques con-
latências de fuga com poucas mudanças ao lon- troláveis (REP-C) ou incontroláveis (REP-I) ini-
go da sessão: em média, a latência inicial foi ciaram a sessão com latências relativamente bai-
relativamente baixa (4 s), mantendo-se em igual xas, não mostrando redução sistemática das mes-
patamar até o final da sessão (em torno de 3,5 mas ao longo das tentativas (em torno de 4 s e
s). Os dados individuais mostram diferenças 3,5 s, no primeiro e último bloco, respectiva-
entre os sujeitos: embora a maioria tenha ter- mente). O grupo não exposto previamente a
minado a sessão com latências mais baixas que choques (REP-N) apresentou latência inicial
as iniciais, alguns deles apresentaram aumento mais alta (em torno de 6 s), com redução gra-
das latências no decorrer das tentativas. Nessa dual e sistemática ao longo da sessão, finalizan-
sessão, apenas o grupo não tratado previamen- do com média abaixo de 3 s. Individualmente,
te com choques (VAR-N) apresentou, na mé- dois sujeitos não reduziram suas latências na
dia, redução sistemática das latências ao longo comparação entre início e fim da sessão.
das tentativas: latências iniciais e finais em tor- Os resultados da Figura 3 aparecem apenas
no de 5 s e 2 s, respectivamente. Apenas um em duas colunas: a primeira é relativa às latências
sujeito desse grupo apresentou latência final da resposta de fuga focinhar, apresentadas pelos
superior à inicial. sujeitos do grupo ING-C na sessão de tratamen-
Na Figura 2, os resultados diferem dos to com estímulo aversivo, e a segunda apresenta
anteriores principalmente na primeira coluna: as latências da resposta de fuga saltar, apresenta-
ao contrário do mostrado na figura anterior, os das pelos sujeitos dos três grupos ING. De forma
sujeitos submetidos ao reforçamento da repeti- equivalente ao descrito anteriormente, os animais
ção apresentaram, sem exceção, redução dos seus do grupo ING-C apresentaram latências decres-
indicies U entre a primeira e última sessão. Na centes ao longo da sessão de reforçamento negati-
sessão 1, esses índices foram bem variáveis intra- vo da resposta de focinhar, que foi emitida, em
grupo, mas essas diferenças praticamente desa- média, com valores iniciais perto de 10 s e finais
pareceram na sessão final, quando todos apre- em torno de 2 s. Individualmente, todos os sujei-
sentaram índices abaixo de 0,1. Na segunda co- tos apresentaram respostas com latências decres-
luna, os resultados são equivalentes ao descrito centes. Na sessão de teste, os resultados aqui ob-
na figura anterior para os animais expostos ao tidos são semelhantes aos anteriores apenas no que
reforçamento negativo da resposta de focinhar: diz respeito aos grupos não expostos previamente
as latências médias dessas respostas, apresenta- a choques (ING-N): latências reduzidas ao longo
das pelos sujeitos do grupo REP-C, foram se re- da sessão, tanto na média como na análise dos
duzindo gradual e sistematicamente ao longo da dados individuais. Os animais previamente sub-
sessão (queda de 9s para 3s, entre as latências metidos aos choques incontroláveis tiveram de-
iniciais e finais). Individualmente, todos os ani- sempenho diferente dos seus pares apresentados
mais terminaram a sessão com latências inferio- nas figuras anteriores: em média, suas latências
res às iniciais, embora um sujeito tenha apre- iniciais foram relativamente elevadas (em torno

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DESAMPARO APRENDIDO E IMUNIZAÇÃO

de 7 s), apresentando pequenas variações com C) também diferiram dos seus pares apresenta-
um pequeno aumento no decorrer da sessão (em dos nas figuras anteriores: suas latências decli-
torno de 8 s no bloco final). Os animais expos- naram sistematicamente ao longo da sessão, ten-
tos previamente a choques controláveis (ING- do iniciado, em média, pouco acima de 5 s e

Figura 2. Resultados obtidos com os sujeitos dos grupos REP. Na coluna à esquerda, índices U, obtidos na fase de reforçamento positivo. Na coluna central,
latências da resposta de fuga “focinhar”, apresentadas pelos sujeitos expostos ao tratamento com choques controláveis (REP-C). Na coluna da direita,
latências de fuga da resposta de saltar, na sessão de teste, apresentadas separadamente para os sujeitos expostos ao tratamento com choques controláveis (REP-
C, gráfico superior), incontroláveis (REP-I, gráfico central) ou nenhum choque (REP-N). Nos gráficos de latências, os pontos soltos indicam os dados
individuais, e a linha contínua indica a média do grupo, apresentados ao longo de blocos de 5 tentativas.

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Figura 3. Resultados obtidos com os sujeitos dos grupos ING. Na primeira coluna, latências da resposta de fuga “focinhar”, apresentadas pelos sujeitos
expostos ao tratamento com choques controláveis (ING-C). Na coluna da direita, latências de fuga da resposta de saltar, na sessão de teste, apresentadas
separadamente para os sujeitos expostos ao tratamento com choques controláveis (ING-C, gráfico superior), incontroláveis (ING-I, gráfico central) ou
nenhum choque (ING-N). Nos gráficos de latências, os pontos soltos indicam os dados individuais, e a linha contínua indica a média do grupo, apresentados
ao longo de blocos de 5 tentativas.

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DESAMPARO APRENDIDO E IMUNIZAÇÃO

terminado por volta de 2,5 s. Os resultados in- tos ao reforçamento positivo (VAR e REP) se
dividuais mostram que, com exceção dos sujei- comportaram igualmente na sessão de fuga fi-
tos 68K e 70K, todos os demais apresentaram nal, independentemente da exposição aos cho-
latências finais abaixo das iniciais. ques controláveis e incontroláveis, ou a nenhum
A análise estatística confirma que as dife- choque. Por outro lado, os animais que não re-
renças entre as médias das latências da resposta ceberam o reforçamento positivo na primeira
de fuga foram significantes apenas entre os gru- fase (ING), apresentaram desempenho diferen-
pos ING, sendo essas diferenças função do tra- cial: os sujeitos previamente expostos aos cho-
tamento (F(2,18) = 9,617, p<0,005) e das ten- ques incontroláveis apresentaram altas latências
tativas (F(11,198) = 3,639, p<0,005). Dentre ao longo de toda a sessão, ou seja, não mostra-
os grupos ING, o grupo I diferiu dos grupos C ram aprendizagem da resposta de fuga, enquan-
e N (p< 0,01), que não diferiram entre si. to os demais sujeitos apresentaram redução gra-
dual e sistemática das latências dessa resposta,
DISCUSSÃO indicando que tiveram seu comportamento
modificado pelo reforçamento negativo. Den-
Os resultados da primeira fase do experi- tre esses animais, destaca-se o fato de que os
mento indicaram que o grau de variabilidade das sujeitos previamente expostos a choques con-
seqüências foi controlado pelas suas conseqüên- troláveis tiveram padrão de fuga similar aos dos
cias: o índice U ficou próximo ao máximo possí- animais que não tinham sido submetidos aos
vel entre os sujeitos para os quais a variabilidade choques, o que indica que o efeito obtido no
foi reforçada (VAR), e próximo do mínimo para grupo ING-I foi decorrente da
aqueles cujo reforçamento foi contingente à emis- incontrolabilidade dos choques, e não dos cho-
são de um único padrão de seqüência (REP). ques em si. Portanto, os resultados dos grupos
Esses resultados replicam diversos estudos da li- ING replicam os dados básicos sobre o desam-
teratura que apontam a possibilidade de se esta- paro aprendido (Hunziker, 2003; Maier &
belecer o controle operante dos padrões de vari- Seligman, 1976; Overmier & Seligman, 1967;
abilidade e repetição comportamentais Seligman & Maier, 1967), enquanto os dos
(Neuringer, 1985, 1991; Hunziker, Caramori, grupos VAR e REP indicam que o reforçamento
Silva, & Barba, 1998; Barba & Hunziker, 2002). positivo produziu o efeito de imunização da
Na medida em que esses padrões de comporta- mesma forma que vem sendo observado com
mento foram controlados pelas suas conseqüên- reforçamento negativo (Seligman & Maier,
cias, pode-se afirmar que foram estabelecidas, no 1967; Seligman, Rosellini, & Kozak, 1975;
atual estudo, as condições necessárias aos testes Yano & Hunziker, 2000).
propostos: dois padrões comportamentais opos- Esse resultado é original e pode ser des-
tos (índices U nos dois extremos possíveis), apren- dobrado em dois aspectos: (1) a imunização por
didos em função do reforçamento positivo, que reforçamento positivo, e (2) a não diferencia-
geraram, portanto, igual experiência de controle ção dessa imunização a despeito do estabeleci-
sobre a ocorrência do reforço. mento de repertórios iniciais opostos.
Esse tratamento produziu efeitos na ses- A indicação de que reforçamento positivo
são final: todos os sujeitos previamente expos- pode produzir o efeito de imunização amplia a

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M. H. L. HUNZIKER ET AL.

abrangência da análise sobre a relevância da ços positivos, liberados em CRF antes do cho-
primeira experiência estabelecida no experimen- ques incontroláveis, não produziram imuniza-
to: se o sujeito aprende inicialmente que existe ção (Mestre & Hunziker, 1996).
relação entre suas respostas e as mudanças no É possível que a imunização, em função
ambiente, torna-se menos provável que ele de- do reforçamento positivo, dependa da maior
senvolva o padrão de desamparo aprendido quantidade de contatos do sujeito com a relação
quando exposto aos eventos aversivos R-S estabelecida, do que o equivalente em situ-
incontroláveis. Tais resultados reforçam a no- ações de reforçamento negativo. Se considerar-
ção de que a possibilidade de controlar, ou não, mos que no estudo de Mestre e Hunziker (1996)
seu ambiente, é uma condição crítica para a os animais passaram por procedimento de mo-
adaptação dos indivíduos a novas condições, delagem (onde os animais recebem, no mínimo,
sendo essa aprendizagem cumulativa e, portan- 30 gotas de água por aproximações sucessivas)
to, influenciadora das novas aprendizagens a para depois serem submetidos aos 100 reforços
serem estabelecidas futuramente. Conseqüen- em CRF, pode-se afirmar que todos eles recebe-
temente, esses dados sugerem procedimentos ram no mínimo 130 gotas de água contingentes
preventivos contra os efeitos deletérios da ao seu comportamento, ou seja, praticamente o
incontrolabilidade aversiva. Considerando-se, dobro do utilizado nos estudos com reforçamento
ainda, a proposta de que o desamparo pode ser negativo. Mesmo assim, o efeito de imunização
um modelo experimental de depressão huma- não foi obtido. No atual estudo, os animais re-
na (Seligman, 1975), tal demonstração da imu- ceberam uma quantidade muito maior de
nização pelo reforçamento positivo abre possi- reforçamento: considerando-se as fases de mo-
bilidades a serem exploradas dentro dessa rela- delagem, CRF, razão fixa, e as 10 sessões de
ção laboratório/clínica. reforçamento da variabilidade ou da repetição,
Contudo, trabalhos anteriores sugerem os sujeitos totalizaram cerca de 1.500 contatos
que tal conclusão tem seus limites, sugerindo com a relação R-S envolvendo o reforço positivo.
que o efeito de imunização tem requisitos dife- Portanto, apesar dos resultados do atual experi-
rentes se o controle inicial for através de mento sugerirem equivalência do reforçamento
reforçamento negativo ou de reforçamento po- positivo e negativo na produção da imunização,
sitivo. Na maioria dos trabalhos publicados, o é possível que essa equivalência dependa do nú-
efeito de imunização é obtido com uma única mero de experiências com controle que, apa-
sessão de reforçamento negativo antes dos cho- rentemente, tem que ser mais numerosa quan-
ques incontroláveis. No trabalho de Yano & do o reforço é positivo. Tal relação pode apon-
Hunziker (2000), por exemplo, a imunização tar para o fato de que além da freqüência de
foi obtida utilizando-se uma única sessão inici- contato com o reforço, tenha que ser conside-
al de treino de fuga, com 60 choques, antes do rada a “potência” do reforçador. É bem possível
tratamento com os choques incontroláveis. Por- que desligar um choque de 1,0 mA seja bem
tanto, era dada ao animal a experiência de con- mais poderoso como reforçador do que o rece-
trole envolvendo no máximo de 60 relações res- bimento de uma gota de água, dado o grau de
posta-conseqüência (R-S). Por outro lado, al- privação empregado. Assim, deve-se ser cuida-
guns estudos já demonstraram que 100 refor- doso nessa comparação entre os dois tipos de

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DESAMPARO APRENDIDO E IMUNIZAÇÃO

reforçadores, para não se cair em análises xa). Esses resultados, vistos em conjunto, pare-
simplistas que colocam no número de reforços cem confirmar que a experiência inicial com
liberados a variável única a ser considerada. controle é a variável mais crítica para se produ-
O outro aspecto a ser considerado diz res- zir o efeito de imunização. Contudo, apesar de
peito ao fato de que o efeito de imunização apa- o controle do sujeito sobre seu ambiente ser a
rentemente não sofreu interferência do tipo de variável crítica no estabelecimento da imuniza-
repertório comportamental instalado pelo ção, é possível que sejam necessárias mais aná-
reforçamento positivo: esse efeito foi igual após lises sobre as especificidades desse controle
treino que envolvia aquisição de repertórios quando a contingência é de reforçamento posi-
comportamentais opostos, tais como variar e re- tivo ou negativo.
petir. Poder-se-ia supor que pelo fato de um su- Em resumo, os resultados do atual expe-
jeito aprender que o reforço depende da sua va- rimento mostram que é possível obter efeito de
riabilidade comportamental, ele seria menos afe- imunização com reforçamento positivo, quer o
tado pela exposição à incontrolabilidade: na sua sujeito tenha sido reforçado por variar ou por
história de reforçamento foi mais adaptativo “fa- repetir seqüências comportamentais. As dife-
zer diferente” do que “fazer igual” porque as con- renças apontadas em relação aos estudos sobre
tingências sempre foram mutantes. Assim, mes- efeito de imunização envolvendo reforçamento
mo que o sujeito passasse por treino em que não negativo e positivo sugerem que mais estudos
havia relação entre suas respostas e o término do precisam ser conduzidos, fazendo-se a compa-
choque (no tratamento de incontrolabilidade), ração sistemática entre os dois tipos de
poder-se-ia esperar que não generalizasse essa reforçamento e seus efeitos sobre a imunização
aprendizagem para o teste, uma vez que a sua ao desamparo aprendido.
história lhe ensinou que as contingências pode-
riam mudar. Ao contrário, o sujeito exposto a REFERÊNCIAS
uma contingência repetitiva, poderia ter apren-
dido que as contingências são mais constantes e, Alloy, L. B., & Bersh, P. J. (1979). Partial control and
nesse caso, talvez pudesse generalizar com mais learned helplessness in rats: Control over shock
facilidade para o teste de fuga o que aprendeu intensity prevents interference with subsequent es-
na condição de incontrolabilidade. Contudo, cape. Animal Learning and Behavior, 7, 157-164.
apesar de lógica, essa suposição não se verificou Attneave, F. (1959). Applications of information theory
verdadeira no atual experimento. to psychology: A summary of basic concepts, methods
Os resultados equivalentes nos grupos and results. New York: Holt-Dryden Book.
VAR e REP talvez possam ser relacionados aos Barba, L. S. & Hunziker, M. H. L. (2002). Variabilida-
de Yano e Hunziker (2000), que mostraram de comportamental produzida por dois esquemas
que reforçamento negativo, liberado antes dos de reforçamento. Acta Comportamentalia, 10, 5-
choques incontroláveis, produz imunização 22.
mesmo que as respostas aprendidas sejam opos- Hunziker, M. H. L. (2003). Desamparo aprendido. Tese
tas às exigidas no teste de fuga final, oposição de Livre-Docência, Universidade de São Paulo, São
essa considerada sobre o grau de atividade Paulo.
motora requerida para sua emissão (alta e bai- Hunziker, M. H. L., Caramori, F. C., Silvia A. P., &

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M. H. L. HUNZIKER ET AL.

Barba, L. (1998). Efeitos da história de reforçamento Learned Helplessness: A Theory for the Age of Personal
sobre a variabilidade comportamental. Psicologia: Control. New York: Oxford University Press.
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