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01 Compliance
01 Compliance
Adicionalmente, qualquer problema com sua turma/curso deve ser resolvido, em primeira
instância, pela secretaria de sua unidade. Caso você não tenha obtido, junto a sua
secretaria, as orientações e os esclarecimentos necessários, utilize o canal institucional da
Ouvidoria.
ouvidoria@fgv.br
www.fgv.br/fgvmanagement
SUMÁRIO
1. PROGRAMA DA DISCIPLINA
1.1 Ementa
Histórico do Compliance no Mundo e no Brasil. O FCPA, U.K. Bribery Act e outras
Legislações Anticorrupção Estrangeiras. Lei Anticorrupção (Lei 12.846/2013). Aspectos
Penais da Legislação Anticorrupção e Antissuborno. Políticas de Compliance. Programas
Sistema de Gestão de Compliance. Investigações Internas. Processos Sancionadores e
Acordos de Leniência. Delação Premiada. ISO 19.600 e ISO 37.001. Governança e Gestão
de Riscos. Due Diligence de Integridade e Aspectos Fiscais. Estudo de Casos Práticos.
1.3 Objetivos
Transmitir os conceitos e fundamentos pertinentes às competências relacionadas ao
compliance, permitindo que, com uma visão estratégica corporativa, os alunos o apliquem
em seu cotidiano corporativo.
Eixo Temático 2
Conteúdo
Objetivos de aprendizagem
programático mínimo
2. Aspectos Gerais e • Conhecer a legislação aplicada;
Penais da Legislação • Compreender as implicações penais das leis de
Anticorrupção e anticorrupção e antissuborno;
Antissuborno • Conhecer os processos sancionadores, em especial,
Processo Administrativo de Responsabilização - PAR;
• Analisar os limites dos acordos de leniência e delação
premiada;
• Avaliar os aspectos fiscais e empresarias
do compliance.
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Eixo Temático 3
Conteúdo
Objetivos de aprendizagem
programático mínimo
3. Políticas e • Avaliar o processo decisório na escolha de programas de
Sistemas compliance;
de Compliance • Compreender sistemas de compliance, como os modelos
da ISO 19.600 e ISO 37.001, da DSC 10.000 e do Pró-
ética;
• Analisar a relevância de um processo de Certificação;
• Verificar a importância do Compliance Officer.
Eixo Temático 4
Conteúdo
Objetivos de aprendizagem
programático mínimo
4. Compliance e • Verificar a relação entre governança corporativa, o
governança compliance e a gestão de riscos;
corporativa • Entender a ética e a responsabilidade corporativa dentro
do novo contexto empresarial;
• Analisar ferramentas de programas de compliance,
como: investigações internas; due diligence; normas
organizacionais e empresariais; e, auditoria;
• Avaliar o processo de elaboração de um programa de
compliance.
1.5 Metodologia
O curso será desenvolvido por meio de aulas com método participativo, estudo de
caso, exercícios e leituras complementares, de modo que os conceitos sejam aplicáveis à
realidade prática dos profissionais. Durante o curso será solicitado o estudo prévio de
determinados temas pelos participantes, de modo a nivelar o conhecimento e fornecer
subsídios para as aulas.
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riscos”). Esse projeto foi apresentado e aprovado pelo managing board1 do MCI. A partir
de então, já no início do ano seguinte, a matriz assumiu a responsabilidade de liderar o
esforço de difusão e implementação de ERM em todas as unidades de negócio do grupo.
Em sua gestão integrada de riscos, o MCI busca garantir a correta e adequada
identificação, reporte e gerenciamento integrado de todos os riscos materiais, permitindo
um processo de tomada de decisão mais eficiente e melhor informado, que resulte no
aumento do valor da empresa. Ou seja: a função da gestão integrada de riscos para o MCI
é disponibilizar a informação e o conhecimento dos riscos significativos da organização,
para que as pessoas certas, no tempo adequado, tenham as condições necessárias para
tomar decisões mais acertadas e eficientes.
A implantação da gestão integrada de riscos no MCI permitiu a captura de sinergias,
ganho de eficiência e aumento da competitividade do banco por meio das atividades do
modelo holístico2 que já estava em funcionamento. O quadro 1 detalha as principais
características dos diferentes estágios dos modelos de gestão de riscos.
Em seu modelo holístico, MCI já adotava classificação de riscos com nove categorias:
1
Em português, “alta administração”.
2
Identifica os riscos relevantes para a organização e faz sua priorização.
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3
Em português: “painel de controle”.
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Benefícios
A implantação da gestão integrada de riscos gerou, até o momento (2017), os
seguintes benefícios para Banco MC:
Desafios
No processo de implementação da gestão integrada de riscos, o Banco MC tem se
deparado com diversos desafios, entre eles:
▪ resistência à colaboração entre as áreas que não enxergam como a gestão integrada
de riscos pode contribuir para um melhor gerenciamento dos riscos em uma área
específica e no banco como um todo;
▪ dificuldade em fazer o link entre gestão integrada de riscos e tomada de decisão;
▪ falta de metodologia of the shelf4 para homogeneizar as métricas usadas por
diferentes áreas; e,
▪ escassez de profissionais no mercado com expertise e experiência no
gerenciamento integrado de riscos.
4
Em português, “de prateleira” ou “pré-pronta”.
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Principais características
Entre várias características importantes da visão integrada de riscos do Banco MC,
acreditamos ser oportuno destacar:
▪ a necessidade de metodologia única de comparação dos riscos que considera a
interdependência;
▪ a definição das dimensões relevantes e da metodologia de cálculo permitindo a
comparabilidade com o uso de dashboard;
▪ a segmentação dos riscos em modeláveis e parcialmente modeláveis;
▪ a criação da área de risk services, responsável pelo gerenciamento de projetos,
mapeamento de processos e geração de relatórios com foco em riscos modeláveis; e,
▪ a criação de grupos de trabalho, fóruns para a análise interdepartamental dos
riscos, de suas interdependências e das respectivas ações mitigadoras.
5
To act in accordance with rules, wishes, etc; be obedient (to) – COLLINS COBIULD. Disponível
em:<https://www.collinsdictionary.com/dictionary/english/comply>. Acesso em: 24.04.2018.
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6
OLIVEIRA, Fabio Rodrigues de & SOUZA FILHO, Paschoal Naddeo de. O Compliance Tributário. Migalhas.
Disponível em <http://m.migalhas.com.br/depeso/242766/o-compliancetributario>.
Acesso em: 24.04.2018.
7
FERREIRA, Renan. Você sabe o que é o Compliance Tributário? Bluesoft. Disponível em:
<https://blog.bluesoft.com.br/2015/06/voce-sabe-o-que-e-o-compliance-tributario/>. Acesso em: 24.04.2018.
8
ANDRADE, Diogenes. O que é o compliance fiscal e como ele pode contribuir para as empresas. Disponível em:
<http://www.quirius.com.br/como-o-compliance-fiscal-contribui-com-as-empresas/>. Acesso em: 24.04.2018.
9
CANDELORO, A.P.P.; RIZZO, M.B.M. de; PINHO, V. Compliance 360º: riscos, estratégias, conflitos e vaidades
no mundo corporativo. São Paulo: Trevisan Editora Universitária, 2012, p. 37-38.
10
GONÇALVES, J.A.P. Alinhando processos, estrutura e compliance à gestão estratégica. São Paulo: Atlas, 2012,
p. 64-65.
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2.3 FCPA
As penalidades previstas para o descumprimento do FCPA são de natureza cível e
penal, inclusive para pessoas jurídicas. As multas pecuniárias variam em razão da pessoa
(física ou jurídica), sendo maiores, no entanto, caso refira-se às diretrizes contábeis. Há
responsabilização objetiva decorrente da necessidade de se punir baseado no modo de
operação peculiar pelo qual se concretiza a corrupção. Os instrumentos normativos até
então disponíveis mostravam-se insuficientes para coibir a corrupção.
Válido frisar que a corrupção privada não se encontra na esfera da lei, sendo,
portanto, desconsiderada na aplicação das sanções. Outras leis americanas, contudo,
podem ser usadas para tratar de corrupção privada. Os sujeitos ativos, previstos no FCPA,
irão depender do tipo de violação, que, no caso de corrupção, podem ser três:
11
COIMBRA, M.A.; MANZI, V.A. (Coord.). Manual de Compliance: preservando a boa governança e a integridade
das organizações. São Paulo: Atlas, 2010, p. 20-21.
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sejam sujeitos ativos, o ato deve ocorrer nos Estados Unidos ou ter uma conexão com os
Estados Unidos.
O FCPA se baseia numa lei federal que já havia desde 1934. O FCPA se estrutura,
basicamente, numa divisão de dois agrupamentos: um deles trata sobre a corrupção e os
subornos, enquanto o outro se refere às diretrizes contábeis, reforçando a criação de
controles internos que detalhem os fluxos de caixa, e aplica-se a todo indivíduo,
empregado, administrador, agente, representante ou sócio que atue em nome da empresa.
As condutas proibidas pelo FCPA não se resumem ao oferecimento de propina (ou
seja, o oferecimento direto), incluem-se no rol, ainda, aquelas oferecidas de maneira
indireta, mediante o oferecimento de qualquer coisa de valor. Além disso, a contrapartida
do suborno não necessariamente se consubstancia em celebração de contratos, como
também em obtenção de benefícios, tais quais redução de impostos, subsídios
governamentais, dentre outros. É de se notar que o FCPA não prevê a chamada “corrupção
passiva”, ou seja, é uma lei voltada exclusivamente para os “corruptores”.
Percebe-se, com isso, uma dupla função do FCPA: coibir as práticas de suborno
praticados em território estrangeiro, através de sua criminalização e, ao mesmo tempo,
instituir exigências rígidas em relação a controles internos.
Além disso, é previsto, em legislação suplementar, outras sanções, dentre as quais
destaca-se o direito de contratar com a administração pública e de receber financiamentos.
O UKBA visa ter uma abrangência maior do que o FCPA, pois refere-se à corrupção
praticada não somente na esfera estrangeira, mas também na esfera doméstica no Reino
Unido, além de inovar, prevendo a punição na esfera não apenas pública, mas também
particular. O UKBA é uma lei que exige extrema diligência, pois, além da possibilidade de
punição dos atos de corrupção oriundos da própria empresa, também o são os atos
praticados por terceiros (parceiros, prestadoras de serviços, dentre outras), desde que em
benefício da empresa; vale notar que a possibilidade desta responsabilização também
existe no FCPA, mas exige-se a intenção de corromper – atual ou presumida, no conceito
do willful blindness –, e o UKBA acaba permitindo mais facilmente a responsabilização.
Verifica-se as disposições do UKBA o tornam uma lei ainda mais rígida do que o FCPA.
Com sua edição, os normativos anteriores foram revogados, sendo o UKBA, portanto,
a fonte direta das disposições anticorrupção vigente no Reino Unido. No mesmo sentido
que nosso Código Penal, a corrupção é punida tanto no âmbito ativo quanto passivo. A
responsabilização objetiva também é prevista, não apenas em relação às empresas que
ajam finalisticamente, mas também em relação àquelas que foram beneficiadas pelos atos
de corrupção que tenham sido praticados por outrem.
O sujeito ativo da prática delituosa pode ser tanto uma pessoa física quanto jurídica,
a depender, evidentemente, do ilícito envolvido, contudo, ressalta-se que alguns só podem
ser cometidos pela pessoa jurídica – como, por exemplo, ausência de prevenção à
corrupção – e outros apenas por pessoas físicas – como, por exemplo, a corrupção passiva.
A disposição que responsabiliza empresas por falhar em prevenir a corrupção
aumenta a necessidade de um programa de compliance bem estruturado, que seja capaz
de identificar as áreas sensíveis e realizar as devidas diligências, evitando relações que
não sejam pautadas em um rígido sistema de controle.
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12
Sobre o tema, ver MEYER-PFLUG, S. R; OLIVEIRA, V. E. T. O Brasil e o combate internacional à corrupção.
Brasília, ano 46, n] 181, jan/mar, 2009, p. 187-194. Disponível em
<https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/46/181/ril_v46_n181_p187. pdf>. Acesso em: 25.04.2018
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Para atingir tais objetivos, a Convenção da OEA tipifica alguns atos como crimes de
corrupção, como:
“l Esta Convenção é aplicável aos seguintes atos de corrupção:
a - a solicitação ou a aceitação, direta ou indiretamente, por um funcionário público
ou pessoa que exerça funções públicas, de qualquer objeto de valor pecuniário ou de outros
benefícios como dádivas, favores, promessas ou vantagens para si mesmo ou para outra
pessoa ou entidade em troca da realização ou omissão de qualquer ato no exercício de
suas funções públicas;
b - a oferta ou outorga, direta ou indiretamente, a um funcionário público ou pessoa
que exerça funções públicas, de qualquer objeto de valor pecuniário ou de outros benefícios
como dádivas, favores, promessas ou vantagens a esse funcionário público ou outra pessoa
ou entidade em troca da realização ou omissão de qualquer ato no exercício de suas
funções públicas;
c - a realização, por parte de um funcionário público ou pessoa que exerça funções
públicas, de qualquer ato ou omissão no exercício de suas funções, a fim de obter
ilicitamente benefícios para si mesmo ou para um terceiro;
d - o aproveitamento doloso ou a ocultação de bens provenientes de qualquer dos
atos a que se refere este artigo; e
e - a participação, como autor, co-autor, instigador, cúmplice, acobertador ou
mediante qualquer outro modo na perpetração, na tentativa de perpetração ou na
associação ou confabulação para perpetrar qualquer dos atos a que se refere este artigo”.
Prevê dois delitos que devem ser tipificados pelo Estado signatário: suborno
transnacional e enriquecimento ilícito. O suborno transnacional, inserido pela Convenção
da OCDE e internalizado pela Lei nº 10.467, foi definido pela Convenção da OEA como:
Estado Parte proibirá e punirá o oferecimento ou outorga, por parte de seus cidadãos,
pessoas que tenham residência habitual em seu território e empresas domiciliadas no
mesmo, a um funcionário público de outro Estado, direta ou indiretamente, de qualquer
objeto de valor pecuniário ou outros benefícios, como dádivas, favores, promessas ou
vantagens em troca da realização ou omissão, por esse funcionário, de qualquer ato no
exercício de suas funções públicas relacionado com uma transação de natureza econômica
ou comercial.
O enriquecimento ilícito caracteriza-se pelo “(...) aumento do patrimônio de um
funcionário público que exceda de modo significativo sua renda legítima durante o exercício
de suas funções e que não possa justificar razoavelmente”.
A Convenção da OEA define atos de corrupção, estabelece a obrigação de tipificar o
suborno transnacional e o enriquecimento ilícito e é implementada pelo mecanismo de
monitoramento e acompanhamento (MESICIC) no sentido de tornar-se efetivo o combate
à corrupção no Brasil.
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Ou seja, após o procedimento de análise, alterações e aprovação pelo parlamento (House of Lords e House of
Commons), recebeu o Royal Assent em 08 de julho de 2010, que é a sanção pela Rainha do Reino Unido que
transforma o projeto de lei (bill) em lei (Act). Para informações esquematizadas de maneira simples sobre o
processo legislativo aplicável, consultar o site do parlamento britânico
(http://www.parliament.uk/about/how/laws/passage-bill/lords/lrds-royal-assent/). Acesso em: 24.04.2018.
14
Ministry of Justice. The Bribery Act 2010 – Guidance. <http://www.justice.gov.uk/guidance/docs/bribery-act-
2010-guidance.pdf>. Acesso em: 24.04.2018.
15
Hughes Hubbard & Reed LLP. FCPA/Anti-Bribery Alert – Winter 2015. <
https://www.hugheshubbard.com/index.php?p=actions/vmgHhrUtils/download/asset&id=619 Hughes Hubbard
& Reed LLP. FCPA/Anti-Bribery Alert – Winter 2015>. Acesso em: 24.04.2018.
16
Schedule 2 do UK Bribery Act.
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2.5.2 Infrações
O UK Bribery Act estabelece quatro categorias de infrações distintas: (i) o ato de
oferecer vantagem indevida,20 (ii) o ato de aceitar vantagem indevida,21 (iii) o suborno de
funcionário público estrangeiro;22 e, (iv) a falha na prevenção de corrupção por uma pessoa
jurídica.23 Para os fins do UK Bribery Act, diferentemente do Foreign Corrupt Practices Act
norte-americano (“FCPA”) e da Lei Federal nº 12.846/2013 (“Lei Anticorrupção Brasileira”),
as infrações se referem tanto a oferecimento de vantagens a funcionários públicos quanto
a pessoas de direito privado, naturais ou jurídicas. Ou seja, no âmbito da legislação em
tela, a corrupção privada também é uma infração e o UK Bribery Act não visa proteger
apenas a administração pública do Reino Unido.
17
Ver <https://www.sfo.gov.uk/about-us/>. Acesso em: 24.04.2018.
18
Ver <https://www.sfo.gov.uk/about-us/>. Acesso em: 24.04.2018.
19
Ver Ministry of Justice. The Bribery Act 2010 – Guidance. p. 18.
<http://www.justice.gov.uk/guidance/docs/bribery-act-2010-guidance.pdf>. Acesso em: 24.04.2018.
20
Section 1 do UK Bribery Act.
21
Section 2 do UK Bribery Act.
22
Section 6 do UK Bribery Act.
23
Section 7 do UK Bribery Act.
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Para todos os casos, assim como para a primeira categoria de infração, há infração
ainda que quem receba a vantagem não seja a pessoa que deva realizar sua função
inadequadamente ou caso o recebimento da vantagem seja feito por terceiro. Para as
situações indicadas de (2) a (4) acima, a infração será configurada mesmo se o receptor
acredita ou tem ciência de que a realização da função foi inadequada.25
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Essa infração se assemelha ao crime de corrupção ativa (Artigo 316 do Código Penal),
certas infrações previstas na Lei Anticorrupção Brasileira e outros.
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29
Section 1 e Section 2 do UK Bribery Act.
30 Section 6 do UK Bribery Act.
31 CARVALHO, Paulo Roberto Galvão de. Legislação anticorrupção no mundo: análise comparativa
entre a Lei Anticorrupção brasileira, o Foreign Corrupt Practices Act norte-americano e o Bribery Act
do Reino Unido. In: SOUZA, Jorge Munhos; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de (org.). Lei
Anticorrupção. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 50.
32 Mayer Brown LLP. Guide to Anti-corruption Laws in Major Jurisdictions, 2011. p. 70.
33
Transparency International UK. Anti-Bribery Principles and Guidance for NGOs. Disponível em:
<http://www.transparency.org.uk/our-work/publications/10-publications/128-anti-
briberyprinciples- and-guidance-for-ngos>. Acesso em: 24.04.2018.
34 CARVALHO, Paulo Roberto Galvão de. Legislação anticorrupção no mundo: análise comparativa
entre a Lei Anticorrupção brasileira, o Foreign Corrupt Practices Act norte-americano e o Bribery Act
do Reino Unido. In: SOUZA, Jorge Munhos; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de (org.). Lei
Anticorrupção. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 50.
35
CARVALHO, Paulo Roberto Galvão de. Legislação anticorrupção no mundo: análise comparativa
entre a Lei Anticorrupção brasileira, o Foreign Corrupt Practices Act norte-americano e o Bribery Act
do Reino Unido. In: SOUZA, Jorge Munhos; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de (org.). Lei
Anticorrupção. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 58.
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19
2.5.5 Defesas
Conforme anteriormente explicitado, o UK Bribery Act prevê como infração o ato de
falhar na prevenção da corrupção. Portanto, pode-se perceber que o diploma permite e
incentiva a autoproteção das pessoas jurídicas, que terão o ônus de prevenir a prática de
atos que violem as disposições do UK Bribery Act. Nesse sentido, na Section 7 (2) do UK
Bribery Act, está prevista uma modalidade de defesa das pessoas jurídicas que pode
diminuir o âmbito de aplicação da infração, uma vez que esta seria responsável por atos
ilícitos praticados em seu interesse ou benefício por quem possua qualquer ligação com a
pessoa jurídica. O UK Bribery Act dispôs que a existência e aplicação de procedimentos de
36
Section 12 (4) do UK Bribery Act.
37 CARVALHO, Paulo Roberto Galvão de. Legislação anticorrupção no mundo: análise comparativa
entre a Lei Anticorrupção brasileira, o Foreign Corrupt Practices Act norte-americano e o Bribery Act
do Reino Unido. In: SOUZA, Jorge Munhos; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de (org.). Lei
Anticorrupção. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 50.
38 Mayer Brown LLP. Guide to Anti-corruption Laws in Major Jurisdictions, 2011.p. 68.
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20
39
Section 7 (2) do UK Bribery Act.
40
CARVALHO, Paulo Roberto Galvão de. Legislação anticorrupção no mundo: análise comparativa entre a Lei
Anticorrupção brasileira, o Foreign Corrupt Practices Act norte-americano e o Bribery Act do Reino Unido. In:
SOUZA, Jorge Munhos; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de (org.). Lei Anticorrupção. Salvador: JusPodivm, 2015, p.
48.
41
Hughes Hubbard & Reed LLP. FCPA/Anti-Bribery Alert – Winter 2015, p. 308. <
https://www.hugheshubbard.com/index.php?p=actions/vmgHhrUtils/download/asset&id=619 Hughes Hubbard
& Reed LLP. FCPA/Anti-Bribery Alert – Winter 2015>. Acesso em: 24.04.2018.
42
CARVALHO, Paulo Roberto Galvão de. Legislação anticorrupção no mundo: análise comparativa entre a Lei
Anticorrupção brasileira, o Foreign Corrupt Practices Act norte-americano e o Bribery Act do Reino Unido. In:
SOUZA, Jorge Munhos; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de (org.). Lei Anticorrupção. Salvador: JusPodivm, 2015, p.
48-49.
43
Ministry of Justice. The Bribery Act 2010 – Guidance. p. 23-24
<http://www.justice.gov.uk/guidance/docs/bribery-act-2010-guidance.pdf>. Acesso em: 24.04.2018.
Compliance
21
2.5.6 Sanções
Quando pessoas naturais praticarem as infrações de corrupção passiva, ativa e/ou
de funcionários públicos estrangeiros,47 as sanções aplicáveis serão: (i) no caso de
condenação sumária, prisão por um período não superior a 12 (doze) meses e/ou uma
multa não superior ao máximo legal; e (ii) no caso de condenação em processo, prisão por
um período não superior a 10 (dez) anos e/ou multa, sem limite de valor.
Quando uma pessoa jurídica48 praticar os mesmos crimes acima mencionados, caso
considera culpada por condenação sumária, deverá pagar uma multa não superior ao
máximo legal. Por outro lado, se for condenada em processo, estará sujeita ao pagamento
de multa sem limite de valor. Essa última sanção também é aplicável aos casos de falha
de prevenção da corrupção.49 Além disso, no caso de pessoas jurídicas, também poderão
ser aplicáveis sanções de outros diplomas legais, e.g. ordens de reembolso, ordens de
confisco, impedimento de participar de licitações públicas, proibição de exercer atividade
de diretor de qualquer empresa do Reino Unido por até 15 (quinze) anos, entre outros.
44
Ministry of Justice. The Bribery Act 2010 – Guidance. p. 25.
<http://www.justice.gov.uk/guidance/docs/bribery-act-2010-guidance.pdf>. Acesso em: 24.04.2018.
45
Ministry of Justice. The Bribery Act 2010 – Guidance. p. 29-30.
<http://www.justice.gov.uk/guidance/docs/bribery-act-2010-guidance.pdf>. Acesso em: 24.04.2018.
46
CARVALHO, Paulo Roberto Galvão de. Legislação anticorrupção no mundo: análise comparativa entre a Lei
Anticorrupção brasileira, o Foreign Corrupt Practices Act norte-americano e o Bribery Act do Reino Unido. In:
SOUZA, Jorge Munhos; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de (org.). Lei Anticorrupção. Salvador: JusPodivm, 2015,
p. 49.
47
Section 11 (1) do UK Bribery Act.
48
Section 11 (2) do UK Bribery Act.
49
Section 11 (3) do UK Bribery Act.
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22
50
Hughes Hubbard & Reed LLP. FCPA/Anti-Bribery Alert – Winter 2015, p. 313. <
https://www.hugheshubbard.com/index.php?p=actions/vmgHhrUtils/download/asset&id=619 Hughes Hubbard
& Reed LLP. FCPA/Anti-Bribery Alert – Winter 2015>. Acesso em: 24.04.2018.
51
Hughes Hubbard & Reed LLP. FCPA/Anti-Bribery Alert – Winter 2015, p. 314. <
https://www.hugheshubbard.com/index.php?p=actions/vmgHhrUtils/download/asset&id=619 Hughes Hubbard
& Reed LLP. FCPA/Anti-Bribery Alert – Winter 2015>. Acesso em: 24.04.2018.
52
Hughes Hubbard & Reed LLP. FCPA/Anti-Bribery Alert – Winter 2015, p. 314. <
https://www.hugheshubbard.com/index.php?p=actions/vmgHhrUtils/download/asset&id=619 Hughes Hubbard
& Reed LLP. FCPA/Anti-Bribery Alert – Winter 2015>. Acesso em: 24.04.2018.
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2.6.1 Alemanha
O Código Penal alemão (Strafgesetzbuch) prevê crimes de corrupção ativa e passiva,
sendo, portanto, uma ofensa criminal oferecer, pagar ou aceitar suborno em transações
nacionais ou estrangeiras.57 O agente público que praticar o crime de corrupção passiva
poderá terá uma pena de seis meses a cinco anos de prisão, podendo este tempo ser
abrandado ou substituído por multa nos casos mais leves. Por outro lado, a pessoa que
praticar o crime de corrupção passiva responderá por uma pena de até três ou cinco anos
(depende da autoridade a quem ofereceu suborno) e pagamento de multa. O Código ainda
prevê duas outras espécies de corrupção passiva e ativa especial em relação à violação
pelo agente público de seus deveres oficiais.
O Código Penal alemão ainda prevê dois tipos penais de corrupção privada: (i)
oferecer ou pagar suborno nas relações comercias; e (ii) casos sérios de oferecimento ou
pagamento de suborno nas relações comerciais. As pessoas que praticarem tais atos
incorrerão em penas de até três anos ou multa. Além disso, o código prevê que a aplicação
de tais dispositivos a crimes cometidos fora da Alemanha.
Já a responsabilização das pessoas jurídicas está prevista no Administrative Offences
Act,58 que responsabiliza civilmente as sociedades empresárias por delitos de corrupção
em seu nome. Os sócios e a diretoria poderão ser responsabilizados por, intencional ou
negligentemente, não tomar medidas de supervisão necessárias que poderiam prevenir o
delito, sendo a multa máxima estipulada em 10 (dez) milhões de euros para cada delito.
A penalidade pode exceder tal quantia sem limites para que permita as autoridades
confiscarem os benefícios obtidos pelo delito de corrupção.
O rol de crimes de corrupção aumentou nos últimos dois anos. De acordo com a
antiga lei, subornar um empregado ou agente de uma empresa somente seria considerado
crime caso objetivasse a “compra” de vantagem concorrencial indevida. Atualmente,
qualquer ato que envolva a violação do dever do empregado pode ser considerado como
corrupção, desde que relacionada a aquisição de produtos ou serviços.59
53
Ver <https://www.sfo.gov.uk/2015/11/30/sfo-agrees-first-uk-dpa-with-standard-bank/>. Acesso em:
24.04.2018.
54
Ver <https://www.sfo.gov.uk/2016/07/08/sfo-secures-second-dpa/>. Acesso em: 24.04.2018.
55
Ver <https://www.sfo.gov.uk/cases/rolls-royce-plc/>. Acesso em: 10.06.2018.
56
Ver <https://www.sfo.gov.uk/2017/04/10/sfo-agrees-deferred-prosecution-agreement-with-tesco/>. Acesso
em: 10.06.2018.
57
Ver <http://www.business-anti-corruption.com/about/about-corruption/german-legislation.aspx>. Acesso
em: 24.04.2018.
58
Ver <http://www.gesetze-im-internet.de/englisch_owig/index.html>. Acesso em: 24.04.2018.
59
Hogan Lovells LLP. Global Bribery and Corruption Review – January 2016, p. 58.
Compliance
24
2.6.2 Argentina
No começo de março de 2017, a Argentina demonstrou preocupação quanto à
investigação da Odebrecht. Mesmo se quisesse, a Justiça argentina não podia multar, nem
chegar a um acordo com a Odebrecht, que confessou ter pago US$ 35 milhões em subornos
na Argentina, entre 2007 e 2014. A Odebrecht já chegou a acordos econômicos e de
cooperação com Panamá, Peru, Colômbia, República Dominicana e Equador, mas a
Argentina não podia nem multar a construtora brasileira. Sem uma lei que estabelecesse
um regime de penas às empresas que subornarem funcionários públicos, a ação da Justiça
era bem limitada. O código penal argentino só previa sanções por corrupção para pessoas
físicas. Para as empresas, nem sequer estavam previstas sanções administrativas.
O caso Odebrecht pressionou a Argentina por uma legislação contra a corrupção
empresarial. A iniciativa de alterar o código penal para penalizar empresas em casos de
corrupção, lavagem de dinheiro e outros ilícitos já era uma exigência da Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), à qual a Argentina quer se integrar.
A Argentina vem adotando medidas que deram certo no Brasil, como a chamada "lei
do arrependido", baseada na experiência brasileira com a "delação premiada". No ano de
2017, o país aprovou também a responsabilidade penal das pessoas jurídicas, que é a
penalização das empresas envolvidas em casos de corrupção. A nova lei é crucial para o
combate à corrupção na Argentina, mas também beneficiará o Brasil porque as revelações
de uma empresa no país podem auxiliar nas investigações da Justiça brasileira.
No caso das pessoas físicas, a lei que permite a delação premiada individual é de
outubro passado. Tem poucos meses de existência. E, em boa parte, foi decidida pelo
exemplo do sucesso das delações premiadas da Lava Jato no Brasil.
As delações da Odebrecht no Brasil vão chegar à Argentina a partir de 1º de junho
de 2018, quando vence a cláusula de confidencialidade das delações premiadas no acordo
entre a Justiça brasileira e a empreiteira sobre atos de corrupção praticados pela empresa
no exterior. O fim desse sigilo pode impactar politicamente a Argentina, que estará em
plena campanha eleitoral para as eleições legislativas de outubro.60
2.6.3 China
A China anunciou planos para combater a corrupção e abuso de poder no setor de
imóveis, a fim de tentar facilitar o caminho para a migração em massa de milhões de
chineses em cidades do interior. Este plano anticorrupção é parte de um programa de
urbanização destinado a apoiar a reestruturação de sua economia. A corrupção era
generalizada na China, principalmente na administração do Estado, onde muitos agentes
públicos e seus dependentes se tornaram ricos por abuso de autoridade, frequentemente
com negócios em imóveis e propriedades do país. As regras estabelecidas definiram
condições para aplicação, alocação, uso e locação de habitação pública, bem como
subsídios e supervisão administrativa, fortalecendo as penas por fraude e uso ilegal de
habitação pública, especificando os departamentos responsáveis do governo, bem como
as condições que caracterizam abuso de poder, negligência do dever, suborno e fraude.
Desde o início de seu programa anticorrupção, mais de 50 agentes públicos de alto
escalão em postos ministeriais e milhares de agentes públicos de menor autoridade foram
investigados por corrupção e outras sérias violações disciplinares. De acordo com
60
Fonte: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2017-03/caso-odebrecht-pressionaargentina-
adotar-lei-contra-corrupcao>. Acesso em: 24.04.2018.
Compliance
25
Compliance
26
2.6.4 França
Em dezembro de 2013, a França editou duas novas leis que introduziram mudanças
importantes e estruturais para o combate da corrupção na França. A primeira (n. 2013-
1115) foi a criação de uma nova Procuradoria especializada em crimes “de colarinho
branco”, com jurisdição sobre crimes financeiros e delitos relacionados a corrupção
(Procureur de la Republique Financier). A segunda, (n.2013-1117) procurou endereçar as
deficiências apontadas pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
– OCDE na legislação francesa.
Em junho de 2016, os deputados franceses começaram a analisar reformas na lei
anticorrupção do país de forma a transformar as transações econômicas mais
transparentes. A emenda do Ministro Michel Sapin (apelidada de Sapin II), ainda em
discussão, prevê a criação de uma Convenção Judiciária de Interesse Público, onde o
magistrado poderá negociar sanções com a empresa acusada e impor um plano de
prevenção de corrupção futuro, permitindo a Justiça controlar os compromissos assumidos.
61
Hughes Hubbard & Reed LLP. FCPA/Anti-Bribery Alert – Winter 2015, p. 72. <
https://www.hugheshubbard.com/index.php?p=actions/vmgHhrUtils/download/asset&id=619 Hughes Hubbard
& Reed LLP. FCPA/Anti-Bribery Alert – Winter 2015>. Acesso em: 24.04.2018.
62
Hughes Hubbard & Reed LLP. FCPA/Anti-Bribery Alert – Winter 2015, p. 73. <
https://www.hugheshubbard.com/index.php?p=actions/vmgHhrUtils/download/asset&id=619 Hughes Hubbard
& Reed LLP. FCPA/Anti-Bribery Alert – Winter 2015>. Acesso em: 24.04.2018.
63
Ver <http://www.chinadaily.com.cn/china/Fox-hunt.html>. Acesso em: 24.04.2018.
64
Hogan Lovells LLP. Global Bribery and Corruption Review – January 2016, p. 34.
Compliance
27
Tal proposta também inclui uma série de ações, como a limitação das atividades do lobista,
aprovação prévia dos salários de dirigentes das empresas e a proteção dos autores de
denúncias de irregularidades.65
Em fevereiro de 2015 a Transparência Internacional reportou que a França estava
perdendo a luta contra a corrupção. Tendo isso em vista, o governo francês vem
demonstrando um grande interesse nos “procedimentos Americanos” de combate a crimes
do colarinho branco, como: acordos de leniência, multas de alto valor e calculadas com
base nos ganhos ilícitos, reorganizações corporativas obrigatórias e melhoria dos
procedimentos de controle e monitoramento interno.66
2.6.5 Itália
Após mais de dois anos estagnadas para ser votada, em 2015 a Itália aprovou sua
nova legislação anticorrupção, chamada de “Provisões para Prevenção e Supressão de
Corrupção e Ilegalidades na Administração Pública (Disposizioni per la prevenzione e la
repressione della corruzione e dell'illegalità nella pubblica amministrazione). Dentre outras
medidas, a nova lei (i) impossibilita pessoas que foram condenadas por corrupção, ou
qualquer crime sério, de concorrer a cargos públicos ou possuir acesso a certos setores
públicos; (ii) aumenta as sentenças para funcionários públicos condenados por abuso de
autoridade, ter pedido subornos ou atuado em tráfico de influência; (iii) aumenta a
penalidade para corrupção no setor privado, adicionando o crime de corrupção entre partes
privadas; (iv) requer um código de conduta para funcionários públicos; (v) requer que
governos locais e regionais instituam um plano anticorrupção e os renove anualmente,
assim como demonstrem seus orçamentos e o custo de funcionários públicos em seu
website (vi) requer garantia de anonimato para denunciantes. Ademais, também prevê a
criação de uma autoridade anticorrupção, assim como de outros órgãos relacionados.67
Tramita no parlamento italiano um projeto de lei sobre delações premiadas.
Atualmente a legislação italiana (Lei 165/01) estabelece que somente funcionários públicos
podem aderir a delações premiadas, que devem necessariamente implicar somente a
administração pública. A nova proposta incentiva a comunicação de atos de corrupção ao
permitir que empregados do setor privado façam delações premiadas.68
2.6.6 México
O sistema anticorrupção mexicano se baseava em sete leis aprovadas em 2015 que
previam sanções administrativas apenas para servidores públicos. Em julho de 2016,69 o
México aprovou reforma que altera 14 artigos constitucionais. Dentre eles, o que recebeu
maior atenção foi o qual todos os funcionários públicos devem divulgar seus impostos de
renda, assim como os contratantes públicos. Tais medidas versam sobre temas como
combate ao suborno, apropriação indébita, enriquecimento ilícito, abuso de autoridade e
65
SILLAMAN, B., WASOWICZ, J.D.; French Anti-Corruption Law Reform: A Paper Tiger Or A Paradigm Shift?
<http://fcpaprofessor.com/french-anti-corruption-law-reform-a-paper-tigeror-a-paradigm-shift/>. Acesso em:
24.04.2018.
66
Hogan Lovells LLP. Global Bribery and Corruption Review – January 2016, p. 49.
67
Ver <http://www.loc.gov/law/foreign-news/article/italy-anti-corruption-law-adopted/>. Acesso em:
24.04.2018.
68
Hogan Lovells LLP. Global Bribery and Corruption Review – January 2016, p. 60.
69
Ver <http://www.forbes.com/sites/themexicoinstitute/2016/07/18/mexico-wins-anti-corruptionreform-
approved/#230ccf6256e6>. Acesso em: 24.04.2018.
Compliance
28
2.6.7 Rússia
Uma nova lei russa (N. 273) editada em 201370 foi considerada um importante passo
do país rumo à conformidade. Seu artigo 13.3 requer que todas as sociedades empresárias
que atuam no país implementem programas de compliance com medidas específicas. Caso
a empresa falhe em implementá-las, tornar-se-á sujeita a multas elevadas a depender de
sua cooperação, uma vez que a Rússia não prevê um procedimento adequado legal de
defesa contra delitos de corrupção.
Dentre as especificações para um programa de compliance completo, prevê-se (i)
criação de um departamento e funcionários responsáveis por prevenir suborno e delitos
similares; (ii) desenvolvimento de mecanismos para cooperação com autoridades; (iii)
desenvolvimento e implantação de padrões e procedimentos de modo a garantir condutas
éticas nos negócios; (iv) adoção de um código de ética para todos os funcionários; (v)
estabelecimento de instrumentos para identificar, prevenir e resolver conflitos de
interesse; e (vi) prevenção da criação ou uso de documentos falsos. Outros dispositivos
da lei preveem que a sociedade empresária pode ser responsabilizada por qualquer delito
de corrupção em seu nome ou interesse simplesmente por não conseguir preveni-lo.71
70
Ver <http://www.fcpablog.com/blog/2013/3/5/new-russia-law-goes-beyond-fcpa-bribery-act.html>. Acesso
em: 24.04.2018.
71
Ver <http://www.business-anti-corruption.com/about/about-corruption/russian-federal-anticorruption-
law.aspx>. Acesso em: 24.04.2018.
72
A Transparência Internacional é uma organização não governamental que tem como principal objetivo a luta
contra a corrupção. (Site: https://www.transparency.org/)
Compliance
29
73
A Securities and Exchange Commission seria a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, também
abreviada como SEC, consiste em uma agência federal responsável pela aplicação das leis referentes aos títulos
federais, bem como tem a responsabilidade de regular o setor de valores mobiliários.
Compliance
30
74
Fonte: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/10/1825685-embraer-faz-acordo-de-us-206- milhoes-
para-encerrar-caso-de-propina.shtml>. Acesso em: 24.04.2018.
Compliance
31
Pergunta-se:
1. Quais os delitos cometidos pela Magyar Telekom?
2. Quais os países que têm jurisdição sobre o pagamento de propina?
3. Quais as penalidades que podem ser aplicadas?
4. O pagamento é considerado um pagamento se fosse um “pagamento de facilitação”?
Em caso positivo, penalidades podem ser aplicadas?
5. O Diretor Financeiro e o Diretor Jurídico da Magyar Telekom podem ser responsabilizados
por não contratarem o escritório de advocacia para a implementação do programa de
compliance? Havia a obrigação de contratação?
6. A Magyar Telekom pretende participar de um projeto financiado pelo WBI. Qual o risco
para a Magyar Telekom?
7. A Magyar Telekom pode ser sancionada pelo WBI?
8. Caso a Magyar Telekom seja sancionada pelo WBI, ela pode participar de um projeto do
Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento?
9. Quais as opções para a Magyar Telekom evitar uma sanção pelo WBI?
Compliance
32
conhecida como Lei Anticorrupção, a Lei 12.846/2013 não trata apenas do combate à
corrupção, mas de atos lesivos à administração pública. Desse modo, talvez a melhor
nomenclatura seja Lei da Empresa Limpa. O artigo 5º elenca os atos ilícitos...
Compliance
33
ligada ao Brasil (por exemplo, com sucursal situada no Brasil). Apesar de a lei ter sido
omissa quanto a referências expressas a partidos políticos e organizações religiosas, é
possível argumentar que ambos também se submetem aos preceitos alavancados na lei
por se organizarem como pessoas jurídicas.
Destaca-se que, no mesmo sentido que o FCPA e ao contrário do UKBA, a legislação
brasileira não visa a aplicação no âmbito privado, mas sim nas relações com o poder
público. Muitos dos ilícitos previstos na Lei Anticorrupção já se encontram discriminados
em outros normativos, tais quais a Lei de Improbidade, a Lei de Licitações, dentre outros.
Verifica-se, no artigo 5º, um rol de atos lesivos à administração pública, que implica
responsabilização das pessoas jurídicas.
As sanções previstas em caso de descumprimento são bastante severas. No âmbito
administrativo, podem ser elas:
- multa, cujos valores serão variáveis entre 0,1% a 20% do faturamento bruto do
último exercício – caso não seja possível utilizar o critério do valor do faturamento bruto
da pessoa jurídica, a multa será de R$ 6 mil a R$ 60 milhões;
- publicação extraordinária da decisão condenatória: o que pode implicar danos à
imagem da empresa.
- perda de tudo aquilo que fora obtido por meio da prática delituosa;
- suspensão ou interdição parcial das atividades da empresa;
- dissolução compulsória da pessoa jurídica;
- proibição de receber benefícios do governo, tais quais subsídios, doações, empréstimos,
dentre outros.
A citada lei estabelece, também, os parâmetros para que seja firmado acordo de
leniência, bem como a competência do Ministério da Transparência (CGU) para celebrar
tais acordos. Constituem objetivos do acordo de leniência o fim das práticas delituosas,
bem como identificar todos os envolvidos. A celebração do acordo de leniência: isentará
da publicação extraordinária da decisão condenatória; isentará da proibição de receber
incentivos, subsídios, subvenções, doações ou empréstimos de órgãos ou entidades
públicas e de instituições financeiras públicas ou controladas pelo poder público, pelo prazo
mínimo de 1 e máximo de 5 anos; reduzirá em até 2/3 o valor da multa aplicável.
Os requisitos para a celebração do acordo de leniência são:
Compliance
34
Concussão
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de 2 a 8 anos, e multa.
Corrupção passiva
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda
que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou
aceitar promessa de tal vantagem:
Pena – reclusão, de 2 a 12 anos, e multa.
Corrupção privilegiada
§ 1º - A pena é aumentada de 1/3, se, em consequência da vantagem ou promessa,
o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo
dever funcional.
§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração
de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:
Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa.
Tráfico de Influência
Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou
promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no
exercício da função:
Pena - reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que
a vantagem é também destinada ao funcionário.
(CP, art. 332 e, se internacional, art. 337-C – atendendo a Convenção da OCDE)
Corrupção ativa (é para pessoas físicas, e não jurídicas)
Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para
determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:
Pena – reclusão, de 2 a 12 anos, e multa.
Compliance
35
Compliance
36
Compliance
37
Outra corrente sustenta que o bem jurídico protegido pela lavagem de capitais é a
administração da justiça, porquanto a ocultação do produto do crime prejudicaria sua
recuperação, dificultando a ação do Judiciário.
Há ainda quem veja o bom funcionamento da ordem econômica e do sistema
financeiro nacional como os bens jurídicos lesados pela lavagem de capitais, na medida
em que a mistura de ativos lícitos e ilícitos prejudicaria o desempenho econômico nacional
(comprometendo a confiança do investidor e dificultando a captação no exterior).
Por fim, parte da doutrina considera que o branqueamento de capitais é crime
pluriofensivo (afeta diversos bens jurídicos).
Compliance
38
3.2.4 Consumação
A jurisprudência tem interpretado os tipos penais com o verbo “ocultar” como crimes
permanentes. Assim, o entendimento doutrinário majoritário defende o crime de lavagem
de dinheiro permanente. O tema, todavia, está jurisprudencialmente em aberto.
Se considerarmos que o bem jurídico protegido pela norma sobre lavagem de capitais
é a administração da Justiça, entendimento que parece ser mais acertado, os crimes de
lavagem teriam caráter instantâneo, ou seja, a consumação viria com o ato ocultação ou
dissimulação. A manutenção do bem oculto ou dissimulado é mera decorrência ou
desdobramento do ato inicial, ou seja, simples exaurimento. Os crimes de lavagem de
capitais seriam, nesse caso, crimes instantâneos de efeitos permanentes, no qual a
consumação cessa no instante do ato, mas seus efeitos perduram no tempo.
Para Pierpaolo Bottini, a lavagem se consuma imediatamente, no ato de
encobrimento inicial.75 Segundo o Autor, seria nesse momento que ocorreria a afetação da
Administração da Justiça. Ainda que haja o poder de interrupção da lavagem durante todo
o período de encobrimento, isso não torna o crime permanente. Fosse a capacidade de
restituição do status quo ante o elemento definidor dos crimes permanentes, delitos como
o furto teriam essa natureza, pois o autor pode a qualquer tempo devolver os bens e fazer
cessar a lesão patrimonial.
Assim, o crime de lavagem, na forma estabelecida no caput do artigo 1º da Lei n.º
9.613/98, após a alteração de 2012, é crime instantâneo, natureza que não se estende a
todas as outras modalidades típicas previstas na lei.
75
BOTTINI, Pierpaolo Cruz. “Lavagem de dinheiro é crime permanente ou instantâneo?” Revista Consultor
Jurídico. Notícia publicada em 25/01/2013. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2012-out-23/direito-
defesa-lavagem-dinheiro-crime-permanente-ouinstantaneo>. Acesso em: 24.04.2018.
Compliance
39
Do ponto de vista político criminal, essa posição confere maior segurança jurídica. Se
entendêssemos a lavagem como um crime permanente, a nova lei teria aplicação imediata
sobre as ocultações em andamento. Assim, disposições como a ampliação do rol de
infrações antecedentes incidiriam sobre os atos iniciados antes da vigência da nova lei. A
ocultação de bens oriundos de crimes antes não arrolados na lista de precedentes, ainda
que ocorrida antes da vigência do novo texto legal, nessa hipótese, configuraria lavagem
de dinheiro se mantido o escamoteamento.
Imagine alguém que praticou crime tributário há anos, converteu o valor sonegado
em moeda estrangeira e depositou o capital em conta de empresa off shore antes da
vigência da nova lei. À época o ato não caracterizava lavagem de dinheiro, pois o delito
fiscal não integrava o rol de antecedentes. Se considerarmos o delito em discussão como
crime permanente, esse mascaramento, antes atípico, tornar-se-á lavagem em vigor da
Lei n.º 12.683/12, ainda que o agente não movimente mais a conta, não efetue qualquer
operação, e mesmo que o crime fiscal anterior esteja prescrito, pois a falta de punibilidade
do antecedente não afeta a lavagem com ele relacionada.
Por outro lado, a identificação do ato inicial de ocultação com a consumação
instantânea da lavagem não exonera totalmente os bens ocultos antes da vigência da nova
lei. Ainda que à época dos fatos a ocultação daqueles bens não constituísse lavagem, cada
nova movimentação destes mesmos bens com intuito de aprofundar a ocultação ou a
dissimulação será um novo ato típico, sobre o qual incidem as regras vigentes.
Cada conduta positiva de mascaramento afeta com mais intensidade a administração
da Justiça, pois distancia ainda mais os bens de sua origem e dificulta seu rastreamento.
A lesão à administração da Justiça se renova a cada transação, caracterizada sempre como
uma nova consumação que absorve a anterior pela identidade de valores/bens, e por se
situar na mesma linha de desdobramento. A cada nova consumação, como novo delito que
absorve o anterior, inicia-se novamente a contagem do prazo prescricional. Cada novo ato
está sujeito à lei vigente no momento de sua prática, ainda que mais dura que a anterior.76
76
BOTTINI, Pierpaolo Cruz. “Lavagem de dinheiro é crime permanente ou instantâneo?” Revista Consultor
Jurídico. Notícia publicada em 25/01/2013. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2012-out-23/direito-
defesa-lavagem-dinheiro-crime-permanente-ouinstantaneo>. Acesso em: 24.04.2018.
Compliance
40
enriquecimento. O artigo prevê várias condutas que podem ser classificadas como
geradoras de enriquecimento ilícito, dentre as quais destaca-se:
Os atos que causam prejuízo ao Erário são aqueles que acarretam danos de natureza
financeira. Para caracterizá-los, é importante que não haja vantagem patrimonial para o
agente, caso contrário tratar-se-ia de uma hipótese de enriquecimento ilícito. Dentre as
condutas previstas como danosas ao Erário, pode-se ressaltar:
Compliance
41
Esta última sanção, em muitos casos, pode inviabilizar a existência da empresa, pois
implica a vedação de realizar contratos com o poder público e de receber incentivos fiscais,
tais quais o recebimento de subsídios.
Compliance
42
qualquer dos Poderes constituídos dos entes públicos políticos integrantes da Federação.
Cabe salientar que a Lei 8.666/93 dispõe não apenas sobre os contratos administrativos,
stricto sensu, mas sim de todos os contratos celebráveis pela Administração Pública.
No que tange ao enquadramento da Lei de Licitações como norma anticorrupção,
devemos destacar o art. 87, o qual dispõe sobre as sanções administrativas postas à
consideração da autoridade administrativa. Tal artigo traz um rol exaustivo das sanções
aplicáveis, quais sejam, advertência, multa, suspensão por até dois anos do direito de
participar de licitações e de contratar com a Administração, e declaração de inidoneidade.
No entanto, há uma lacuna na lei, visto que ela não especifica qual sanção
corresponderá a qual tipo de infração. Dessa forma, segundo Pereira Júnior, “abre-se para
a Administração espaço discricionário para dosar a penalidade apropriada, desde que, em
qualquer caso, se cumpra o devido processo legal, nele incluído o direito à defesa”.77
Embora exista discricionariedade dada pelo legislador ao administrador, os atos deste
deverão obedecer aos princípios da legalidade, especificação, personalismo da sanção,
culpabilidade e, principalmente, da proporcionalidade.
A advertência é aplicada quando a sanção é de menor gravidade, ou seja, nos casos
de conduta de inexecução parcial de deveres de diminuta monta. O objetivo deste tipo de
sanção é prevenir a inviabilização da execução do contrato, fazendo com que a
Administração Pública tenha um meio de repreender a outra parte pela sua falta sem
precisar rescindir o contrato.
A multa, prevista no art. 86 da Lei 8.666/93, poderá ser cumulada com os outros
três tipos de sanções previstos, possuindo, portanto, caráter secundário. No entanto, nos
casos de demora injustificada na execução da prestação contratual, será a pena principal
substituível por outra somente em presença de agravantes. O autor Pereira Júnior,
entretanto, afirma que há uma diferença entre a multa prevista nos artigos 86 e 87 da Lei
de Licitações. No primeiro caso, a multa será aplicada quando “a obrigação, embora não
cumprida, ainda pode vir a sê-lo proveitosamente para o credor” enquanto no segundo,
será aplicada “quando a obrigação não foi cumprida, nem poderá mais vir a sê-lo com
proveito para o credor, tornando-se definitivo o descumprimento”. Por fim, Justen Filho
afirma que a aplicação da multa como sanção deverá estar prevista no edital e sua ausência
em tal instrumento inviabilizaria sua exigência.
A suspensão temporária, por sua vez, possui prazo máximo de dois anos, devendo
este prazo ser ponderado com base na gravidade da infração e dos prejuízos ao interesse
do serviço. Para que seja aplicada, deve restar comprovada a culpa do contratado em
inviabilizar a execução do contrato. Dessa forma, é dupla a consequência da suspensão,
visto que impede o apenado de participar de licitações e de contratar com a Administração
pelo prazo que for estipulado, o que significa que tampouco poderá ser adjudicatário direto,
se dispensável ou inexigível a licitação.
A declaração de inidoneidade é considerada a mais severa das sanções, uma vez que
o contratado, caso haja com dolo, ficará proibido de participar de licitações públicas por
prazo indeterminado, ou seja, até que os motivos que fundamentaram a declaração de
inidoneidade sejam cessados e este seja considerado reabilitado.
Justen Filho afirma, por outro lado, que a Constituição Federal, em seu artigo 5º, inc.
XLVII, a proibição de penas de caráter perpétuo. Dessa forma, determina-se que a
“reabilitação” do sujeito declarado inidôneo poderá ser concedida apenas após decorrido
77
PEREIRA JUNIOR, Jessé atual. e ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2009. Torres. Comentários à lei de licitações e
contratações da Administração Pública. 8. ed. rev.
Compliance
43
prazo de dois anos da aplicação da sanção e mediante ressarcimento pelo interessado dos
prejuízos derivados de sua conduta. Todavia, para o autor, o requisito do ressarcimento
dos prejuízos não possui caráter obrigatório para o deferimento da reabilitação.
Embora as sanções de suspensão e declaração e inidoneidade possam ser
confundidas, existem algumas diferenças entre elas. Enquanto a suspensão deverá ser
aplicada pela autoridade indicada pela gestão do órgão contratante, a declaração de
inidoneidade será aplicada pelas autoridades indicadas por lei, as quais, via de regra, são
aquelas investidas na hierarquia superior do órgão ou entidade.
Por fim, o art. 88 da Lei 8.666/93 estabelece outros motivos para a declaração de
inidoneidade e da suspensão do direito de licitar não relacionados à inexecução do contrato.
Dessa forma, as pessoas físicas ou jurídicas, independentemente da execução ou não do
contrato administrativo, poderão ter suspensos seu direito de licitar ou contratar, bem
como serem declarados inidôneos quando praticar ato ilícito decorrente de uma conduta
dolosa. As hipóteses para tal sanção estão previstas nos incisos do art. 88, quais sejam:
condenação por fraude fiscal relativamente a tributo de qualquer competência, prática de
ilícitos com o consciente propósito de frustrar a licitação e prática de ilicitudes em sua
atividade empresarial ou profissional que inabilite a pessoa física ou jurídica de gozar da
presunção de inidoneidade.
Para tanto, a aplicação das sanções deve ser precedida do devido processo legal,
garantindo-se a ampla defesa e o contraditório.
Compliance
44
78
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno, 13ª edição, São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2009,
p. 176
Compliance
45
Princípio da motivação
A motivação é instrumento de garantia do processo sancionador. A motivação é a
expressão da vontade da Administração ao emanar um ato administrativo. A falta de
motivação do ato administrativo é, por conseguinte, a caracterização do arbítrio e
autoritarismos estatal, que exige a subordinação de seus súditos sem lhes explicar as
razões para tanto.
O ato administrativo é considerado motivado quando indicam os fatos e os
fundamentos jurídicos que o justificam. Segundo o art. 50 da Lei nº 9.784/99, a motivação
é: mandatória para os atos administrativos que:
3.6.1 Competência
Nos termos do art. 3º, a competência para a instauração e para o julgamento do PAR
é da autoridade máxima da entidade em face da qual foi praticado o ato lesivo, ou, em
caso de órgão da administração direta, do seu Ministro de Estado. Isso quer dizer que
dentro da estrutura da União, o juiz natural do processo será o Presidente da Autarquia,
Fundação ou empresa pública (na administração indireta) ou o Ministro de Estado vinculado
à pasta onde foi identificada a prática de ato lesivo. Contudo, o mesmo artigo, em seu
parágrafo único, permite a delegação de competência, mas não a subdelegação.
A autoridade máxima poderá agir de ofício ou mediante provocação de terceiros. A
atuação de ofício de funcionários públicos para a instauração de processos sancionadores
Compliance
46
é imposição legal (art.143 da Lei 8.112/9079), sendo certo que a nenhum funcionário pode
se escusar de tomar qualquer providência, ainda que não seja a autoridade competente.
79
Art. 143. A autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a promover a sua
apuração imediata, mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, assegurada ao acusado ampla
defesa.
Compliance
47
80
ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA PREVENTIVO. ATO DE DEMISSÃO IMINENTE E ATUAL. JUSTO
RECEIO EVIDENCIADO. LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM RECONHECIDA. PROCESSO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR. INEXISTÊNCIA DE AFROTNA AOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL.
(...)
Compliance
48
3.6.7 Intimações
As intimações poderão ser feitas por meio eletrônico, via postal ou qualquer outro
meio que assegure a certeza de ciência da pessoa jurídica acusada.
O Decreto não esclarece como poderá ser feita a intimação por meio eletrônico e nem
mesmo a Lei 9.784/99, que regula o processo administrativo no âmbito da administração
pública federal, no seu art. 26 (Capítulo IX – da comunicação dos atos) prevê como meio
de intimação a via eletrônica.
Ao que parece, a previsão de intimação de forma eletrônica se mostra nitidamente
ilegal, uma vez que não pode a administração exorbitar a Lei em seu poder
regulamentador.
A via postal é um dos meios mais comuns de intimação, sendo ainda admitidos outros
meios não nominados como a intimação em mãos ou qualquer outro meio que garanta a
certeza de ciência por parte da pessoa jurídica acusada.
Caso não seja possível intimar a empresa pelos meios acima, será feita intimação
pela via editalícia publicada na imprensa oficial e em jornal de grande circulação no Estado
da Federação em que a pessoa jurídica tenha sede. Além disso órgão ou entidade
Compliance
49
responsável pelo PAR irá publicar o edital e seu sítio eletrônico, iniciando-se o prazo a
partir da publicação do último edital.
Se a pessoa jurídica não possuir sede, filial ou representação no País e sendo
desconhecida sua representação no exterior, frustrada a intimação pelas vias ordinárias,
será feita intimação pela via editalícia, mas limitada a publicação na imprensa oficial e no
sítio eletrônico do órgão ou entidade responsável pelo PAR, iniciando-se o prazo a partir
da publicação do último edital.
Ainda que a comissão não goze do poder cautelar, identificando lesão ou ameaça de
lesão decorrente da manutenção do ato ou processo que é objeto de investigação no PAR,
poderá representar à autoridade instauradora pela suspensão.
A autoridade instauradora tem a competência para suspender o ato ou processo por
se tratar da autoridade máxima do órgão de onde provém o ato ou processo em questão.
A exigência de que a comissão seja formada por servidores estáveis do órgão gera
um problema de conhecimento técnico. Os órgãos da administração são compostos por
pessoas com conhecimentos específicos na matéria de atuação finalística, a exemplo de
um Ministério.
Compliance
50
Essa é uma providência das mais importantes no que pertine à produção probatória
pela comissão. É importante lembrar que a comissão não possui poderes de polícia ou de
autoridade jurisdicional, de maneira que não detém de meios coercitivos para
implementação de seus atos. O órgão de representação judicial são as procuradorias como
a Procuradoria Federal e Advocacia Geral da União. Mediante solicitação fundamentada
pela comissão, o órgão de representação poderá requerer medidas judiciais para a
obtenção de provas relevantes para o processo.
Os pedidos de busca e apreensão no exterior serão processados conforme as
disposições do “Título II - Dos limites da jurisdição nacional e da cooperação internacional”,
“Capítulo II - Da cooperação internacional”, do Código de Processo Civil.
i) ao Ministério Público;
ii) à Advocacia-Geral da União e seus órgãos vinculados, no caso de órgãos da
administração pública direta, autarquias e fundações públicas federais; ou ao órgão
de representação judicial ou equivalente.
Compliance
51
3.6.14 Penalidades
As sanções administrativas podem ser de multa, publicação extraordinária da decisão
administrativa sancionadora ou ainda sanções administrativas que tenham como efeito
restrição ao direito de participar em licitações ou de celebrar contratos com a administração
pública, se o ato lesivo estiver também tipificado na Lei 8.666/93.
Art. 14. A personalidade jurídica poderá ser desconsiderada sempre que utilizada
com abuso do direito para facilitar, encobrir ou dissimular a prática dos atos ilícitos
Compliance
52
previstos nesta Lei ou para provocar confusão patrimonial, sendo estendidos todos os
efeitos das sanções aplicadas à pessoa jurídica aos seus administradores e sócios com
poderes de administração, observados o contraditório e a ampla defesa.
Compliance
53
De acordo com Badaró, que toma por base a legislação italiana, caberá ao juízo o
exame dos elementos subjetivos do delator, considerando sua personalidade, seu passado,
as razões que o levaram a confessar/delatar, a ausência de inimizade com o delatado,
entre outros. Já no exame dos elementos objetivos, do conteúdo da delação, deve ser
observada a firmeza, a coerência, e a especificidade lógica da delação.82 Deve ser levada
em conta a narrativa rica em particularidades e especificidades, permitindo seu controle
através de fatos objetivamente verificáveis, sob pena de se transformar em mera
confirmação genérica, sem agregar valor à persecução penal.
Além disso, a declaração não pode se utilizar de palavras ou expressões ambíguas,
suscetíveis de significados diversos. Badaró ressalta, ainda, não bastar como prova à
condenação a existência de duas ou mais delações no mesmo sentido, sem outra prova a
corroborar seu conteúdo (delação cruzada), por serem elementos com valor probatório
menor que um testemunho, por exemplo. Nesses casos, afirma o autor, a hipótese deveria
ser de absolvição, para não se correr o risco de condenação de um inocente. Por isso,
caberá ao magistrado indicar o elemento de prova que se soma ao teor da delação,
confirmando-a, ou estará violando o art. 4º, parágrafo 16, da Lei nº 12.850.
Quanto à extinção da punibilidade, com o advento das Leis 9.613/98 e 9.807/99, foi
possibilitado ao juiz aplicar a delação como causa de extinção de punibilidade do agente,
reconhecendo que o acusado merece a concessão do perdão judicial.
O princípio da individualização da pena está previsto no inciso XLVI do artigo 5º da
Constituição Federal, função atribuída ao juiz para eleger a pena dentre as possíveis,
mensurá-la dentro dos limites e presidir o processo executório da pena que vier a ser
concretizada. Nas hipóteses de delação premiada os critérios analisados pelo juiz para a
81
MALATESTA, Nicola Framarino Dei. A Lógica das Provas em Matéria Criminal. [s.l.]: Conan, 1995. v. 2, p. 208-
209.
82
BADARÓ, Gustavo. O valor probatório da delação premiada: sobre o § 16 do art. 4º da Lei 1.2850/2013.
Compliance
54
concessão do prêmio levam em conta o mérito, quanto maior e mais vigoroso os efeitos
da colaboração do agente, torna-se menor a censurabilidade de sua conduta.
Não há definição legal quanto ao momento processual adequado para sua utilização.
É possível a delação mesmo após o trânsito em julgado da sentença condenatória, mas
nesse caso há divergências quanto ao meio processual adequado: revisão criminal ou
simples petição dirigida ao juiz da vara de execuções criminais.
Além disso, a lei que regulamenta a delação premiada assume contornos de norma
penal mais favorável e, portanto, de aplicação retroativa, atingindo, inclusive, os crimes
cometidos antes da sua vigência.83
Há a seguinte evolução da "cooperação premiada unilateral", prevista nas várias leis
anteriores às Leis 9.613/98 e 12.850/13 como hipótese de diminuição da pena, até o
"acordo de cooperação premiada": Lei 7.492/86 – art. 25, § 2º; Lei 8.072/90 – art. 8º,
parágrafo único; Lei 8.137/90 – art. 16, parágrafo único; Lei 9.034/95 – art. 6º; Código
Penal – art. 159, § 4º; Lei 9.613/98 – art. 1º, § 5º; Lei 9.807/98 – arts. 13 e 14; Lei
10.409/02 – art. 32, §§ 2º e 3º (revogada); Lei 11.343/06 – art. 33, § 4º; e, Lei 12.850/13
– arts. 4º a 6º.
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55
Compliance
56
pelo juiz, o Ministério Público e/ou réu poderiam apelar, levando o tema à análise pelo
duplo grau de jurisdição.
- O magistrado não pode deixar de homologar o acordo de cooperação, salvo se
verificadas ilegalidades de aspecto formal, ficando vinculado a este ato jurídico perfeito.
- É dificultado ao juiz aplicar a pena que mais se aproxime de sua convicção, já que
está vinculado pelo acordo das partes, simplesmente entregando a prestação jurisdicional
exigida por um órgão do Ministério Público e um membro da organização criminosa.
- Não podendo o juiz deixar de homologar o acordo em razão de avaliação de seu
mérito, poderia ser aberto espaço para que um membro do Ministério Público obrigasse o
órgão jurisdicional a conceder um perdão a quem, dentro de uma organização criminosa,
praticou crimes gravíssimos.
- A regra do parágrafo 8° do artigo 4° não autoriza o juiz a participar da negociação
sobre os prêmios, pois isto está expressamente vedado pelo parágrafo 6°. Caso contrário,
o magistrado estaria antecipando a sua pena ainda na fase do inquérito. Na verdade, o
dispositivo legal apenas permite ao magistrado podar regras contratuais inconstitucionais
ou ilegais.
- A decisão de homologação do acordo de cooperação premiada tem a natureza de
jurisdição voluntária, vale dizer, trata-se de uma decisão judicial (não jurisdicional) que a
lei exige para a concretização e eficácia de um determinado negócio jurídico. Assim, a
retratação prevista no parágrafo 10° do sempre referido artigo 4° somente terá eficácia se
manifestada antes da homologação. O desfazimento do acordo homologado dependerá
sempre de uma decisão judicial desconstitutiva.
- O acordo de cooperação premiada é um negócio jurídico de Direito Público,
dependendo a sua existência jurídica da manifestação estatal (do juiz). Para a estabilidade
da relação processual penal não se admite o distrato por ambas as partes. Havendo
inadimplemento em relação aos deveres assumidos (o réu opta para, em juízo, ficar em
silêncio ou mentir sobre a atuação dos outros membros da organização criminosa), perderá
o direito ao "prêmio" avençado e a prova produzida será valorada livremente pelo
magistrado, sendo tudo decidido na sentença final, impugnável pelo recurso de apelação.
- A regra do parágrafo 2° do artigo 4° parece admitir o acordo de cooperação
premiada sem a previsão do perdão judicial, mas usando a técnica da interpretação.
Conforme a constituição, permite-se ao magistrado, desde que haja postulação neste
sentido, a concessão de perdão judicial ao réu (na sentença final), mesmo que não exista
o acordo de cooperação, mas a cooperação tenha se efetivado por “delação unilateral” do
réu, conforme ocorre nas diversas leis anteriores à Lei 12.850/2013.
- A regra do parágrafo 2° do artigo 4° desta lei específica prevê “requerimento”, que
pode não ser deferido pelo juiz, demonstrando que a outorga do “prêmio” não pressupõe
a existência do acordo de colaboração.
- O Ministério Público é o titular do direito de ação penal pública, motivo pelo qual o
Delegado de Polícia não pode, isoladamente, fazer o acordo de cooperação premiada com
o indiciado, dispondo do exercício da ação ou do próprio direito penal material.
- Após a sentença penal recorrível, o acordo de cooperação premiada deve ser
homologado pelo desembargador relator competente para julgar o recurso de apelação.
- A violação do compromisso de dizer a verdade não sujeita o indiciado ou réu ao
crime de falso testemunho, por não reunir as características de testemunha, mas o sujeita
às consequências do inadimplemento do acordo, perdendo o direito ao “prêmio” e
mantendo eficaz toda a prova colhida anteriormente em razão de sua colaboração.
Compliance
57
84
Certidão Negativa de Débitos.
85
Código Fiscal de Operações e de Prestações.
86
Nomenclatura Comum do Mercosul.
Compliance
58
87
MARINS, James. Elisão Tributária e sua Regulação. São Paulo: Ed. Dialética. 2002, p. 32.
88
GOMES, Marcus Lívio & ANTONELLI, Leonardo Pietro (coord.). Curso de Direito Tributário Brasileiro. Vol. 3. 2ª
Ed. Especial – São Paulo: Quartier Latin, 2010, p. 500.
Compliance
59
ganhará uma denominação: evasão fiscal ilícita ou; elisão fiscal lícita. Nos extremos temos
de um lado os atos ilegais e do outro os plenamente lícitos, enquanto que no meio temos
uma área controvertida e que ora será analisada, debatida e testada, a fim de efetivamente
configurá-la de maneira correta.
89
GOMES, Marcus Lívio & ANTONELLI, Leonardo Pietro (coord.). Curso de Direito Tributário Brasileiro. Vol. 3. 2ª
Ed. Especial – São Paulo: Quartier Latin, 2010, p. 503.
90
RIBEIRO, Ricardo Lodi. Justiça, Interpretação e Elisão Tributária. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003, p. 145.
91
DÍEZ, Picazo. 1999 apud RIBEIRO, Ricardo Lodi. Justiça, Interpretação e Elisão Tributária. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2003.
Compliance
60
92
HÖHN, Ernest. 1984 apud RIBEIRO, Ricardo Lodi. Justiça, Interpretação e Elisão Tributária. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2003.
Compliance
61
93
Nesse sentido, TRF-4 - AC: 50172805320154047200 SC 5017280-53.2015.404.7200, Relator: RÔMULO
PIZZOLATTI, Data de Julgamento: 18/10/2016, SEGUNDA TURMA.
94
SANTIAGO, Leonardo Ayres. Artigo 116, parágrafo único, CTN: Norma antielisiva genérica? Disponível em:
<http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_ id=2697>. Acesso em:
24.04.2018.
Compliance
62
95
Apud Greco, Marco Aurélio, artigo denominado “A constitucionalidade do parágrafo único do art. 116 do CTN”,
Apud Rocha, Valdir de Oliveira (Coord.), Planejamento tributário e a Lei Complementar 104. São Paulo: Dialética,
2000. p. 194.
96
Receita Federal do Brasil. SPED - Sistema Público de Escrituração Digital. Disponível em:
<http://sped.rfb.gov.br/pagina/show/964>. Acesso em: 24.04.2018.
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63
Compliance
64
Trazendo o foco mais voltado para o compliance, cumpre observar em mais detalhe
a responsabilidade por imputação legal ou de terceiros e por infrações.
97
A exemplo, se um locador convenciona com um locatário que este pagará o IPTU há aqui uma obrigação entre
particulares que não pode ser oposta ao Fisco. O Fisco enxerga o locador (dono do imóvel) como devedor, pois é
ele que integra a relação jurídica tributária, não o locatário. Art. 123, CTN: Salvo disposições de lei em contrário,
as convenções particulares, relativas à responsabilidade pelo pagamento de tributos, não podem ser opostas à
Fazenda Pública, para modificar a definição legal do sujeito passivo das obrigações tributárias correspondentes.
98
CARNEIRO, Claudio. Curso de Direito Tributário e Financeiro. 6ª ed. São Paulo: Saraiva. 2016, p. 561.
Compliance
65
99
Art. 124. São solidariamente obrigadas: I - as pessoas que tenham interesse comum na situação
que constitua o fato gerador da obrigação principal; II - as pessoas expressamente designadas por
lei.
100
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 26ª ed. São Paulo: Malheiros, 2005. pp. 169.
Compliance
66
101
Inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade não gera, por si só, a responsabilidade solidária do
sócio-gerente.
102
BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Segunda Turma. REsp nº. 246.457-RS. Rel. Min. Nancy Andrighi. j.
06.04.00. DJ 08.05.00; e BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Segunda Turma. REsp nº. 246.723-RS. Rel. Min.
Nancy Andrighi. j. 06.04.00. DJ 29.05.00.
103
Súmula 436, STJ. Ver, também: BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Primeira Seção. REsp 1.149.022 – SP.
Rel. Min. Luiz Fux. DJe 24.06.2010.
Compliance
67
Compliance
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Compliance
69
4.1 Contextualização
A nova realidade exige que as empresas passem a observar de forma cuidadosa os
riscos de suborno e corrupção nos negócios. Por não ser fácil a elaboração de programas
antissuborno e anticorrupção, a Organization for Standardization (ISO) criou regras para
auxiliar as empresas neste mister, inclusive, também sobre programas de compliance, o
que resultou na elaboração da ISO 19600 – Sistemas de Gestão de Compliance e da ISO
37001 –Sistemas de Gestão Antissuborno.
Estas normas especificam uma série de medidas e controles de Compliance e antissuborno
necessários - razoáveis e proporcionais à organização e seus riscos - e também fornece
orientação prática sobre como implementar e manter os sistemas de gestão nestas disciplinas.
A ideia é que com estas regras haja a redução dos riscos corporativos e custos
relacionados ao suborno, à fraude e à corrupção, permitindo que as empresas obtenham
certificação de organismo acreditado de que seus sistemas de gestão de compliance e
antissuborno atendem aos critérios normativos.
Os padrões normativos baseiam-se na orientação de várias organizações, como a Câmara
de Comércio Internacional - CCI, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
- OCDE, a Transparência Internacional e vários governos, que representam um consenso global
sobre as principais práticas antissuborno e modelos de compliance.
Embora não resolvam por si só a situação, a adoção destas normas indica que a empresa
está tomando as medidas cabíveis, dentro de padrões razoáveis e proporcionais, o que pode ser
considerado, inclusive, para a quebra da responsabilidade objetiva da empresa.
Compliance
70
ACT: Baseado nos resultados obtidos, o programa deverá ser continuamente aperfeiçoado,
e os casos de Não-Conformidade devem ser gerenciados.
A ISO 37001 não trata especificamente de fraudes, cartéis e outras infrações de defesa da
concorrência, lavagem de dinheiro ou outras atividades relacionadas a práticas de corrupção,
Compliance
71
embora uma organização possa optar por ampliar o escopo do sistema de gestão para incluir
tais atividades. A ISO 37001:2017 aborda o suborno em diferentes âmbitos:
Compliance
72
com objetivo de detectar e sanar desvios, fraudes, irregularidades e atos ilícitos praticados
contra a administração pública, nacional ou estrangeira.104
Esse programa tem claramente direta relação com o compliance officer, pois ao CCO
também é imputada a responsabilidade por coordenar a implementação das políticas de
integridade da companhia e fiscalizar o efetivo cumprimento por parte dos demais
funcionários, bem como a adoção de políticas mitigadoras de riscos, não apenas para a
empresa e seus gestores, mas para a própria Administração Pública em face da empresa.
Por conseguinte, deve ser observado pelos CCO, como bem observa informativa da CGU:105
4.6 Pró-Ética
Representa a conjugação de esforços entre os setores público e privado para
promover no país um ambiente corporativo mais íntegro, ético e transparente, tendo por
objetivo fomentar a adoção voluntária de medidas de integridade pelas empresas, por meio
do reconhecimento público daquelas que, independentemente do porte e do ramo de
atuação, mostram-se comprometidas em implementar medidas voltadas para a prevenção,
detecção e remediação de atos de corrupção e fraude.
Haverá inscrições no segundo semestre de 2018. Em 2017, houve 375 empresas
inscritas, mas apenas 23 foram aprovadas e reconhecidas como Empresa Pró-Ética 2017.
104
Art. 41, do Decreto 8.420/2015.
105
CGU Brasil. Lei Anticorrupção: entenda os cinco pontos do decreto. Disponível em:
<http://www.cgu.gov.br/noticias/2015/04/lei-anticorrupcao-entenda-os-cinco-pontos-do-decreto>. Acesso em:
24.04.2018.
Compliance
73
106
Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Governança – Governança Corporativa – Origem da
Governança – Principais Modelos. Disponível em: <http://www.ibgc.org.br/index.php/governanca/origens-da-
governanca/principais-modelos>. Acesso em: 24.04.2018.
107
Comissão de Valores Mobiliários. Recomendações da CVM sobre governança corporativa. 2002. Disponível em:
<http://www.cvm.gov.br/export /sites/cvm/decisoes/anexos/0001/3935.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2017.
Compliance
74
108
ROSSETI, José Paschoal; ANDRADE, Adriana. Governança Corporativa – Fundamentos, Desenvolvimento e
Tendências. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
109
OLIVEIRA, A.F. et al. Auditoria interna e controle governamental. Brasília: Tribunal de Contas da União, 2011.
110
FURTADO, L.R. As raízes da corrupção no Brasil. Belo Horizonte: Fórum, 2015.
111
GIOVANINI, W. Compliance – A excelência na prática. 1 ed. São Paulo. 2014.
Compliance
75
Transparência -
A transparência exige mais do que a obrigação de informar, deve englobar a
disponibilização de informações que sejam de interesse dos shareholders, indo muito além
de tão somente cumprir as determinações legais. A adequada transparência resulta em um
clima de confiança, tanto internamente quanto nas relações da empresa com terceiros.
Não deve restringir-se ao desempenho econômico, contemplando também os demais
fatores (inclusive intangíveis) que norteiam a ação gerencial e conduzem à criação de valor.
Equidade
A equidade caracteriza-se pelo tratamento justo de todos os sócios e demais partes
interessadas (stakeholders). Atitudes ou políticas discriminatórias, sob qualquer pretexto,
são totalmente inaceitáveis.
Compliance
76
Prestação de contas
A prestação de contas – accountability – significa que os agentes de governança
devem prestar contas de sua atuação, assumindo integralmente as consequências de seus
atos e omissões.
Responsabilidade corporativa
A responsabilidade corporativa significa que os agentes de Governança devem zelar
pela sustentabilidade das organizações, visando à sua longevidade, incorporando
considerações de ordem social e ambiental na definição dos negócios e operações.
Segundo o IBGC, a responsabilidade corporativa é uma visão mais ampla da
estratégia empresarial, contemplando todos os relacionamentos com a comunidade em
que atua. A função social da empresa deve incluir:
112 CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO (CGU). Programa de integridade. Diretrizes para Empresas
Privadas. Brasília, 2015.
113
FONSECA, L. P. Programa de Integridade para as empresas. Disponível em
<http://fonsecasantosadvogados.com/site/caso/id/16/titulo/Programa-de-Integridade-para-empresas> Acesso
em 03 mar 2017.
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77
114
CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO (CGU). Programa de integridade. Diretrizes para Empresas
Privadas. Brasília, 2015.
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79
5.4 Confiança
O principal objetivo da governança é garantir a confiança do mercado na corporação,
assegurando os “stakeholders” envolvidos. Com o aumento da credibilidade do mercado,
facilita-se o crédito e os negócios da empresa. Além disso, afasta abuso de poder dos
sócios majoritários, fraudes e erros estratégicos.
Evidências da contribuição das práticas de governança corporativa para o valor das
empresas não são raras. Vejamos, no gráfico a seguir, o comportamento dos preços das
ações das maiores empresas brasileiras em comparação aos índices de mercado brasileiro
e norte-americano.
Evolução dos preços das ações da Petrobras, da Ambev, e da Souza Cruz (base
100, comparativamente ao benchmark 2001-2015)
Compliance
80
O gráfico também apresenta a evolução dos preços de três das ações de maior
liquidez na BM&FBovespa, assim como os indicadores de mercado para o Brasil (Ibovespa
e IGC) e Estados Unidos (S&P500). Podemos observar que o índice de governança
corporativa (IGC) alcança, sistematicamente, performance superior ao Ibovespa.
- reviram os relatórios;
- os relatórios não contêm informações falsas ou omissão de qualquer fato relevante;
- as demonstrações financeiras representam, em todos os aspectos materiais, a
posição financeira e os resultados das operações da companhia;
Compliance
81
A seção 406 (code of ethics for senior financial officers) trata do código de ética para
diretores financeiros seniores que as empresas devem possuir e divulgar. Além disso,
também devem divulgar:
- em seus relatórios periódicos, se o código de ética foi adotado para seus diretores
financeiros seniores (devendo justificar quando negativo);
- no formulário 8-K ou pela internet, qualquer alteração ou waiver do código de ética
para os diretores financeiros seniores da empresa.
A seção 409 (real time issuer disclosures) trata da divulgação em tempo real de toda
mudança expressiva nas condições financeiras ou operacionais. Para a proteção dos
investidores e do interesse público, a empresa deve divulgar, de forma rápida e atualizada,
informações relativas a mudanças significativas, incluindo tendências e informações
qualitativas.
Compliance
82
Medidas de transparência
- Carta anual de governança (estatais)
Medidas relacionadas à administração
- Indicação de membros de conselhos de administração e diretoria.
- Avaliação de membros de conselhos de administração e diretoria.
Fiscalização e controles
- Funções de auditoria interna, controles internos, gerenciamento de riscos e
compliance.
- Comitês de auditoria.
- Código de conduta ou ética.
- Canais de denúncias.
- Conflito de interesses.
- Transações com partes relacionadas.
Compliance
83
Ter um programa de integridade efetivo tem suas vantagens. A primeira delas é que
um programa de integridade efetivo funciona como mecanismo de gestão e controle,
aumentando a eficiência da empresa. Além disso, um programa de integridade efetivo
assegura que as empresas mantenham padrões éticos de conduta, que hoje em dia fazem
parte das missões institucionais de quase todas as empresas. De fato, hoje em dia, ter
uma preocupação com a ética corporativa torna-se também uma vantagem no mercado.
Finalmente, uma das vantagens de um programa de integridade efetivo – embora
esse deva ser talvez a última das razões pelas quais uma empresa deve adotar um
programa de integridade – é o atendimento às exigências legais, como a exigência do UK
Bribery Act de que as empresas tenham mecanismos adequados para evitar a corrupção,
bem como a possibilidade de redução de multas, conforme estabelecido na Lei
12.846/2013 e no Decreto 8.420/2015.
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89
violações sem que sejam detectadas pela sociedade. A due diligence de terceiros visa
justamente a verificar se os terceiros têm procedimentos de controle adequados, bem
como verificar a aderência às normas de integridade.
Com o advento da Lei 12.846/2013, a due diligence de terceiros é ainda mais
relevante, por conta das disposições de responsabilidade objetiva. Como a atuação de um
terceiro pode gerar responsabilidade para a sociedade, ainda que a sociedade tome todas
as precauções para evitar a violação e nem tenha conhecimento dela, verificar se os
terceiros com os quais se interage têm mecanismos apropriados de controle é fundamental
como estratégia de gestão de risco.
Micro e pequenas empresas podem ter um programa de integridade considerado
efetivo, mesmo sem atender a esse requisito. Contudo, se não tiverem um mecanismo de
verificação de integridade, correrão um risco de que terceiros violem disposições legais,
em seu nome ou benefício, gerando sua responsabilização. A despeito de não ser uma
exigência, é altamente recomendável a verificação de terceiros, mesmo para micro e
pequenas empresas.
Vale notar que a exigência legal não é de que as diligências sejam amplas e aplicáveis
em todos os casos. O Decreto 8.420/2015 fala em diligências “apropriadas”, o que significa
que as diligências devem endereçar os riscos identificados para cada contratação. A
contratação de um agente para relacionamento com a administração pública, por exemplo,
apresenta muito mais risco que um fornecedor de materiais. As diligências, portanto,
podem ser diferenciadas.
XIV – Verificação durante os processos de fusões, aquisições e
reestruturações societárias, do cometimento de irregularidades ou ilícitos ou da
existência de vulnerabilidades nas pessoas jurídicas envolvidas
Trata-se da exigência de que sempre que houver um procedimento de fusão e
aquisição ou reestruturação societária se proceda a uma due diligence de compliance para
verificar (i) se houve algum cometimento de irregularidade no passado; e, (ii) a existência
de vulnerabilidades.
A existência de procedimentos de due diligence em fusões e aquisições é lugar
comum. Normalmente o foco está na ocorrência de irregularidades para que se determine
se há alguma potencial exposição dos ativos adquiridos ou incorporados ao patrimônio da
nova sociedade. Numa due diligence de integridade verifica-se tanto a existência de
alguma irregularidade no passado, quanto à existência de vulnerabilidades.
O relatório de due diligence de integridade deve, portanto, apresentar esses dois
elementos e apresentar recomendações para mitigar riscos. Muitas dessas recomendações
exigem medidas de ajustes aos procedimentos de integridade das sociedades. Por essa
razão, é recomendável que os relatórios de integridade sejam separados dos demais
relatórios e sejam emitidos na forma de comunicação confidencial entre advogados e
clientes, pois os clientes podem querer debater com os advogados como melhor endereçar
as vulnerabilidades encontradas e é conveniente que o documento tenha a proteção devida
às comunicações entre advogados e clientes.
Esse é outro dos elementos que não se aplicam a micro e pequenas empresas. A
justificativa seria de que micro e pequenas empresas não teriam recursos para despender
com esse tipo de atividades, ou que dificilmente realizariam esse tipo de atividade. Assim
como no caso de diligências com terceiros, as micro e pequenas empresas que
prescindirem desses procedimentos não terão programas de integridade declarados
ineficazes, mas estarão expostas a risco considerável.
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podem ser várias, uma vez que não existe modelo padrão de programa de integridade,
mas dividem-se, normalmente em (i) políticas e normas de natureza contábil, (ii) políticas
e normas de relacionamento com terceiros; (iii) políticas e normas de relacionamento com
a administração pública; e, (iv) políticas internas.
As políticas internas versam sobre conflitos de interesse, normas de relevância
trabalhista – como uma política contra assédio –, assim como normas a respeito do
programa de integridade, tais quais normas a respeito de treinamento, de canal de
denúncias, do funcionamento da estrutura de integridade, como o comitê de ética etc.
As políticas de relacionamento com a administração pública devem endereçar a
vedação a vantagens indevidas a agentes públicos, bem como a participação das
sociedades em procedimentos licitatórios. Com a Lei 12.846/2013 estabeleceu-se uma
série de ilícitos que não eram, na praxe internacional, antes da Lei 12.846/2013 tratados
juntamente com o compliance anticorrupção. Esses ilícitos têm relação com (i)
procedimentos licitatórios e contratos públicos; e (ii) procedimentos de investigação por
parte das autoridades. Assim sendo, hoje em dia as políticas de relacionamento com a
administração pública devem tratar também desses ilícitos inseridos pela Lei 12.846/2013
no âmbito da integridade corporativa.
É praxe que essas políticas estabeleçam procedimentos específicos para lidar com a
administração pública, como exigir a presença de pelo menos dois colaboradores no
contato, exigir o registro das tratativas, vedar o oferecimento de qualquer vantagem
indevida, bem como estabelecer regras claras daquilo que é ou não permitido em termos
de presentes, brindes e hospitalidade.
Para estabelecer as regras daquilo que é ou não permitido em termos de presentes,
brindes e hospitalidade, normalmente cria-se uma política específica, que é a política de
brindes, hospitalidade e entretenimento. Essa política, muitas vezes, trata do oferecimento
de brindes, hospitalidade e entretenimento tanto para agentes públicos quanto para
agentes privados, com regras distintas para cada um. Com as legislações proibindo ou
limitando brindes, entretenimento ou hospitalidade tanto para agentes públicos quanto
privados, as sociedades têm deixado cada vez menos ao bom senso de seus colaboradores
a determinação daquilo que é adequado, e tem criado procedimentos específicos para
esses temas.
O relacionamento com partidos políticos e candidatos é, muitas vezes, tratado dentro
da política de relacionamento com a administração pública e por vezes de maneira
separada. O relacionamento com terceiros – que não a administração pública, que
normalmente é tratada em separado – é alvo de outras políticas além de uma política de
brindes e entretenimento. De fato, como um dos maiores riscos de compliance está
justamente na contratação de terceiros, sobretudo prestadores de serviço, a criação de
políticas robustas de contratação, due diligence e monitoramento de terceiros é uma
exigência de mitigação de risco, e as políticas de relacionamento com terceiros
normalmente têm regras específicas sobre a contratação de terceiros, bem como as
normas de brindes e entretenimento.
Finalmente, as políticas de natureza contábil visam a assegurar que a sociedade vai
ter um controle correto de sua contabilidade e que vai refletir adequadamente as
transações incorridas.
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