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RESUMO

O presente artigo procura apresentar a prosperidade bíblica, direcionada


desde os tempos patriarcais, quando Deus garantia bem aventuranças a quem
seguia seus mandamentos e era fiel a seus desígnios, em contraposição às
doutrinas heréticas neopentecostais que induzem os seguidores a buscarem a todo
custo o sucesso financeiro, através de crendices, misticismos e até mesmo
extorsões, que levam ao enriquecimento das igrejas e, principalmente, de seus
líderes.

Palavras-chave: Prosperidade. Neopentecostal. Teologia. Seitas. Heresias.

ABSTRACT

This article demand to present biblical prosperity, directed since patriarchal


times, when God guaranteed blessedness to those who followed his commandments
and were faithful to his designs, in contrast to neo-pentecostal heretical doctrines that
induce followers to seek financial success at all costs, through beliefs, mysticism and
even extortion, which lead to the enrichment of the churches and, mainly, of their
leaders.

Keywords: Prosperity. Neo-Pentecostal. Theology. Sects. Heresies.

INTRODUÇÃO

Com o crescimento do neopentecostalismo, especialmente nas décadas de


1980 e 1990, surgem várias linhas teológicas um tanto controversas. Tais
pensamentos ganham força e seus criadores prosperam, reverberando suas ideias e
ganhando cada vez mais adeptos. De acordo com Romeiro1, a origem dessas
“novidades” partem do gnosticismo, prática combatida pelos próprios apóstolos no
século 1 da Era Cristã. Assim, termos como “Confissão positiva”, “orações de fé”,

1
ROMEIRO, Paulo. Supercrentes: o Evangelho segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e
os profetas da prosperidade - 7ª ed. - São Paulo: Mundo Cristão, 1998, p.6

1
“natureza divina”, “teologia da prosperidade” e tantas outras heresias conquistam
espaço nos púlpitos de pregadores deslumbrados e invadem os lares de fiéis com
pouca base teológica, que se atraem com as benesses desse “novo evangelho”.

Moreira2 observa que a busca pelo conforto material e uma vida financeira
mais próspera cria uma espécie de “misticismo protestante”, que promove uma
distorção da sã doutrina através da inserção de elementos pagãos, busca por
manifestações sobrenaturais alegóricas e práticas que se originam nas religiões de
matriz africana. O resultado são templos lotados de pessoas que não possuem uma
base sólida nas escrituras sagradas, não buscam um compromisso verdadeiro com
Deus e são facilmente manipuladas por quaisquer novidades que lhes são
apresentadas.

Este artigo procura estabelecer um diálogo entre diversos autores que


identificam como destoantes das verdades bíblicas a chamada “teologia da
prosperidade”, bem como os vários desdobramentos heréticos oriundos das
construções doutrinárias do neopentecostalismo. Tendo como fundamento principal
os conceitos bíblicos acerca do assunto, levando em conta as diversas
peculiaridades de tempo, circunstâncias e cultura de cada texto, procura-se
apresentar o verdadeiro sentido da prosperidade apresentada na Bíblia, tanto nos
escritos veterotestamentários, quanto nos relatos neotestamentários.

A PROSPERIDADE DA TEOLOGIA

A promessa por prosperidade sempre esteve presente na relação de Deus


com seus servos, principalmente no Antigo Testamento, porém deve-se observar
que essa prosperidade nem sempre foi financeira. A principal marca desses homens
e mulheres citados nas Escrituras foi a fidelidade aos princípios divinos e não a
busca incansável por riquezas.

Abel, citado inclusive na galeria dos heróis da fé, em Hebreus 11, foi morto
por seu irmão, apesar de ser fiel a Deus e proprietário de rebanhos (Gn 4.4). Noé

2
MOREIRA, W. L. A idolatria protestante (pós)moderna e o uso do monte como lugar sagrado
em Ezequiel 6.2-3. Ijuí: Revista Ensaios Teológicos, v. 03, n. 02, dez. 2017, p.30

2
era “justo e íntegro entre os seus contemporâneos; Noé andava com Deus.” (Gn
6.9). Abraão foi próspero, dizimava e oferecia sacrifícios mesmo antes do
estabelecimento da lei (Gn 14.18-20), mas apesar de toda riqueza que possuía, seu
maior anseio era ter um filho (Gn 15.1-5).

Além destes, tantos outros exemplos, cujas riquezas eram apenas reflexos de
seus atos e a prosperidade financeira, sim, foi resultado de sua fidelidade com Deus,
porém não se caracterizava como objetivo final, e sim mais um meio de perceberem
que estavam caminhando corretamente.

Ao caminhar pelo Antigo Testamento, é notável que a principal queixa do


Senhor em relação ao seu povo é a idolatria:

Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Filho do homem, vira o rosto para
os montes de Israel e profetiza contra eles, dizendo: Montes de Israel, ouvi
a palavra do Senhor Deus: Assim diz o Senhor Deus aos montes, aos
outeiros, aos ribeiros e aos vales: Eis que eu, eu mesmo, trarei à espada,
diante dos vossos ídolos. (Ez 6.1-4)

O profeta Malaquias, tão lembrado quando se trata de mensagens contra a


infidelidade financeira, na verdade condena Israel em diversos aspectos, tais como:

● Sacrifícios com animais defeituosos (Ml 1.6-14);


● Infidelidade conjugal (Ml 2.10-16);
● Infidelidade financeira (Ml 3.6-12);
● Atitudes perversas (Ml 3.13-18)

Outro ponto importante concernente a este assunto, é que a própria Bíblia


afirma que os ímpios também prosperam, de forma a deixar claro que a abundância
de bens, a ausência de enfermidades não são marcas exclusivas dos fiéis a Deus,
conforme Asafe declara no Salmo 73.3,12: “Pois eu invejava os arrogantes, ao ver a
prosperidade dos perversos. (...) Eis que são estes os ímpios; e, sempre tranquilos,
aumentam suas riquezas.”

É correto afirmar que “A palavra de Deus jamais tratou os pobres com


desdém, como se fossem amaldiçoados. Ao contrário, a preocupação de Deus para
com o pobre é clara em toda a Escritura” (ROMEIRO, 1998, p.43). Assim, as
escrituras deixam claro que a pobreza não é uma espécie de atestado de

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infidelidade, mas apenas uma posição dentre tantas existentes e possíveis na
sociedade.

O próprio Jesus nasceu em uma família pobre. Oriundo de Nazaré, uma


região humilde na renegada Galiléia dos Gentios. Sobre a situação financeira da
família de Jesus, durante sua infância, podemos afirmar que:

Quando Jesus foi apresentado no templo, seus pais levaram ao sacerdote a


oferta do pobre: “e para oferecer um sacrifício, segundo o que está escrito
na referida lei: Um par de rolas ou dois pombinhos” (Lucas 2.24, de acordo
com Levítico 12.8). A situação financeira de José e Maria não indica, de
modo nenhum, que estivessem sob algum tipo de maldição. (ROMEIRO,
1998, p.44)

Ele mesmo afirmou em Mateus 8.20: “(...) As raposas têm seus covis, e as
aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.” Em
outra ocasião, relatada em Mateus 17.24-20, ao ser questionado sobre os impostos,
Ele ordena que Pedro vá pescar um peixe e, de forma milagrosa, o valor referente
aos impostos dos dois estava na boca do peixe. Desta forma entende-se que nem
Cristo, nem Pedro dispunham do valor necessário para sanar os impostos.

Pressuposto na teoria da revelação progressiva das Escrituras, é possível


afirmar que na primeira etapa da metanarrativa, a saber, o Antigo
Testamento, Yahweh permite algumas ações, para posteriormente retirar a
prática no Novo Testamento. Vale lembrar que cada nação tem uma
necessidade de buscar sua identidade religiosa através da adoração. Por
este motivo, Yahweh parece permitir no início, para em seguida ensinar ao
povo a diferença entre a adoração que depende de matéria e provas e a
adoração pela fé. (MOREIRA, 2017, p.31)

Fica claro portanto, que a prosperidade bíblica, em especial aquela


apresentada pelas Escrituras veterotestamentárias, representam o resultado de uma
vida de entrega espiritual, através da busca por fazer a vontade de Deus, sendo que
os saldos vão além da área financeira, mas retratam um coração puro que
estabelece uma adoração sincera, com o único intuito de andar conforme os
desígnios do Senhor.

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A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

É importante antes de entender o que é a teologia da prosperidade, conhecer


o contexto em que ela foi instaurada no Brasil. Moreira3 destaca a forma como o
protestantismo brasileiro em sua maioria, com pressa e desejo de aumentar o
número de membros em suas comunidades, e sendo isso na maioria das vezes com
interesse financeiro, volta suas práticas para um direcionamento equivocado.

Um dos direcionamentos mais utilizados pela igreja protestante, que carrega


essa finalidade, é o da conhecida teologia da prosperidade. Vende-se uma narrativa
barata de um sucesso financeiro pela crença e, se apoiando na falsa afirmação de
que quanto mais se dá mais se recebe. Haja vista que não há essa promessa nas
escrituras sagradas, diante do fato que riqueza e prosperidade nunca foram pilares
do ministério de Cristo, os financiadores dessa vã doutrina se apoiam de forma
equivocada em alguns versículos, esquecendo-se que textos fora de contextos são
apenas pretextos. Stella4 prova isso ao dizer do mau uso, feito por esses
doutrinadores, do trecho da escritura que se encontra em 2 Coríntios 9.6: "Aquele
que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com fartura, com
abundância também ceifará”. O problema é que analisando o contexto, a semeadura
não se refere à termos financeiros, mas sim de relacionamento.

Lemos5 é assertiva em dizer da distorção dos ensinamentos de Cristo através


da teologia da prosperidade, levando em consideração que Cristo nos ensina e
convida a prática da caridade e do altruísmo, ao contrário de uma doutrina que leva
seus seguidores a firme fé de que após doarem e se de forma generosa o fizerem,
receberão retorno de sua doação de forma multiplicada. O dinheiro é um objeto
concreto que move o coração do ser humano, o que facilitou a adesão a essa
teologia, de forma rápida e exponencial, e distanciou muitos cristãos dos passos do
Mestre.

3
MOREIRA, W. L. A idolatria protestante (pós)moderna e o uso do monte como lugar sagrado
em Ezequiel 6.2-3. Ijuí: Revista Ensaios Teológicos, v. 03, n. 02, dez. 2017, p.37
4
STELLA, M.K. TEOLOGIA DA PROSPERIDADE: riscos de uma teologia controversa. Curitiba:
Teologia e espiritualidade, v. 06, n. 09, jun. 2018, p.47
5
LEMOS, C.S. TEOLOGIA DA PROSPERIDADE E SUA EXPANSÃO PELO MUNDO. Revista
Eletrônica Espaço Teológico, v. 11, n. 20, jul/dez. 2017, p.93

5
É possível ver absurdos sendo falados nas igrejas onde essa vertente é
disseminada, tudo para que o nome de Cristo seja ligado a essa teologia, como
forma de validação de pensamento e crédito aos teóricos da mesma.

Os pregadores da confissão positiva vão muito além da Bíblia quando


afirmam que a prosperidade financeira é uma das marcas da fidelidade de
um cristão a Deus. Chegam a dizer que Jesus usava roupa de griffe, que
morava numa grande casa e que liderava um ministério com muito dinheiro,
a ponto de ter um tesoureiro. (ROMEIRO, 1998, p.42)

E olhando a perspectiva da paz total e, a quase isenção de aflições também


pregadas pela teologia da prosperidade, o próprio Jesus afirma que não veio a este
mundo trazer paz total e ainda alerta sobre o contrário em Mateus 10: 34,35.
Conclui-se, assim, que a teologia da prosperidade contraria preceitos bíblicos e
ensinamentos de Cristo, tornando seu discurso inviável e sem validade diante da
Palavra.

CONCLUSÃO

Tendo em vista as verdades apontadas e, estando à luz das escrituras, é


coerente concluir que há disparidade entre a teologia da prosperidade tão difundida
na igreja pós-moderna e a teologia bíblica, apontada pelas Escrituras. Não havendo
sentido na dissensão de discurso, deve prevalecer a Palavra, texto sagrado
inspirado por Deus e confiado a todos os que nEle crêem como manual de fé e
conduta.

Cristo não se fez empresário do Reino, mas servo de todos. Entregou sua
vida pela salvação da humanidade e não pelo enriquecimento ilícito de poucos
líderes às custas de uma infinidade de fiéis enganados, manipulados e usurpados
através de falsos ensinamentos.

De modo que, deve-se por à prova quaisquer ensinamentos que fujam da


verossimilhança com a Bíblia, a fim de que sejam combatidos, através do ensino das
verdades contidas no texto.

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REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Português. Bíblia NVI. Nova Versão Internacional. São Paulo: Editora Vida,
2001.

BÍBLIA. Português. Bíblia SHEDD. Almeida Revista e Atualizada. São Paulo: Vida
Nova, 1997.

BÍBLIA. Português. Edição Revista e Corrigida. São Paulo: Geográfica Editora,


2009.

LEMOS, C.S. TEOLOGIA DA PROSPERIDADE E SUA EXPANSÃO PELO


MUNDO. Revista Eletrônica Espaço Teológico, v. 11, n. 20, jul/dez. 2017.

MOREIRA, W. L. A idolatria protestante (pós)moderna e o uso do monte como


lugar sagrado em Ezequiel 6.2-3. Ijuí: Revista Ensaios Teológicos, v. 03, n. 02, dez.
2017, 148p.

ROMEIRO, Paulo. Supercrentes: o Evangelho segundo Kenneth Hagin, Valnice


Milhomens e os profetas da prosperidade - 7ª ed. - São Paulo: Mundo Cristão,
1998.

STELLA, M.K. TEOLOGIA DA PROSPERIDADE: riscos de uma teologia


controversa. Curitiba: Teologia e espiritualidade, v. 06, n. 09, jun. 2018.

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