Você está na página 1de 5

26/12/22, 12:30 Pedro de Andrade Caminha – Wikipédia, a enciclopédia livre

Pedro de Andrade Caminha


Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Pedro (ou Pêro) de Andrade
Caminha (Porto, c. 1520 – Vila Pedro Andrade Caminha
Viçosa, 9 de Setembro de 1589) foi
um fidalgo e poeta português.[1]
Suposto rival de Luís de
[2]
Camões.

Biografia
Nascido no Porto, provavelmente
na segunda década do século XVI,
foi camareiro de D. Duarte, duque
de Guimarães, e, após o seu
falecimento, deslocou-se para Vila
Viçosa, dedicando os seus serviços
ainda aos Duques de Bragança.
Ganhou uma reputação desonrosa
graças a dois fatores: a rivalidade
com Luís de Camões e também a
denúncia à Inquisição do
humanista Damião de Góis
(1571).[3] Pedro acusou-o de não
ter dado importância suficiente à Poezias de Pedro Andrade
morte do duque D. Duarte na Caminha mandadas publicar pela
Crónica de D. Manuel.[4] Academia Real das Sciencias de
Lisboa
Poucos poemas seus foram
imprimidos no século XVI. Aliás,
até à publicação, em 1791, das suas Nascimento 1520
obras pela Academia Real de Porto, Portugal
Ciências de Lisboa, poucas eram as
alusões a esta figura ou aos seus Morte 9 de setembro de 1589 (69 anos)
escritos. Fruto deste facto, grande Vila Viçosa, Portugal
parte dos seus textos encontram-se
registados em manuscritos cuja
Nacionalidade Português
idade difere. Pedro de Andrade Ocupação Poeta e fidalgo
Caminha escreveu éclogas,
epístolas, elegias, odes, epitáfios e
outros géneros líricos. É também importante referir que Caminha, ao lado de António Ferreira, foi um dos
poetas renascentistas portugueses que mais epitáfios escreveu.

O poeta teria devido toda a fortuna de que usufruiu a D. Duarte. E à sua serventia se teria devido a tença,
confirmada por D. Sebastião, de duzentos mil réis. Pedro de Andrade Caminha conheceu Sá de Miranda,
António Ferreira e Diogo Bernardes porque estes frequentavam habitualmente o palácio de D. Duarte, que
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_de_Andrade_Caminha 1/5
26/12/22, 12:30 Pedro de Andrade Caminha – Wikipédia, a enciclopédia livre

valorizava as letras e a poesia.

Pedro de Andrade Caminha foi o sexto filho de Filipa de Sousa e de João de Caminha, casou-se com D.
Pascoela de Gusmão e teve uma filha chamada Mariana.[5]

Pensa-se que terá participado na expedição de D. Sebastião a Alcácer Quibir. Foi diplomata, cavaleiro da
Ordem de Cristo por intervenção de Filipe I de Portugal[6] e provedor da misericórdia de Vila Viçosa nos
últimos anos de vida. Morreu no palácio ducal de Vila Viçosa, no modesto cargo de alcaide de Celorico de
Basto, em 1589, depois de ter levado uma vida de requintado palacianismo.[7]

Obra
A obra de Pedro de Andrade Caminha permaneceu manuscrita até 1791.

No dizer de António José Saraiva e Óscar Lopes, "Pêro é um petrarquista sem traços pessoais nas formas
decassilábicas e que apenas sentimos à vontade nos moldes ligeiros do mote glosado".[8] Este poeta
mereceu, todavia, a admiração de outros poetas e estudiosos. De entre estes destaca-se Francisco Dias
Gomes, que teceu longas considerações sobre a obra de Pêro. Também Frederick Bouterweck, em History
of Spanish and Portuguese Literature, elogiou a elegância do verso deste poeta; igualmente digno de
destaque é o primeiro grande estudo sobre Caminha, no Ensaio Biographico-Crítico de José Maria da
Costa e Silva.

Cultor da medida nova (em sonetos, éclogas, epístolas, odes, elegias,


entre outros), Pedro de Andrade Caminha inspirou-se em cantares
velhos, portugueses e castelhanos, e na poesia de Petrarca.

Interessou-se bastante por poesia musicada: é o poeta português


mais representado no Cancioneiro Musical e Poético da Biblioteca
da Públia Hortênsia, editado em 1940, onde se registam 101
composições dos séculos XV e XVI com letras em castelhano e
português.

De Pedro de Andrade Caminha conhecemos 134 sonetos, sendo que a


temática predominante é o amor, ainda que um pequeno número de
textos seja dedicado à celebração de acontecimentos circunstanciais
como a morte do príncipe D. João, a impressão das obras de poetas
das suas relações e a oferta de relíquias à Igreja de S. Roque.

Nas suas ballate, Andrade Caminha trabalha apenas um dos grandes


motivos da sua reflexão sobre a problemática amorosa: o dos efeitos
contrários que tanto a visão da amada como a impossibilidade de a
contemplar provocam no eu lírico.
Soneto de Pedro de Andrade
Nos restantes poemas discorre sobre as implicações que tem, para o Caminha
sujeito poético, a impossibilidade de ver o objeto da paixão: a forma
como o tempo parece arrastar-se quando se encontra longe da amada
e as estratégias que utiliza para enganar o desejo de a ver; a terrível dor que a ausência da dama causa ao
amador e que provoca a perda da sua racionalidade.

A coincidência temática entre as ballate de Pedro e Petrarca são, de acordo com os críticos, extremamente
significativas. De facto, é igualmente indubitável a influência de Francesco Petrarca nos sonetos de
Caminha, não só a nível temático, mas também a nível formal, uma vez que todos os esquemas empregues
por Caminha nas quadras dos seus sonetos haviam já sido utilizados por Petrarca em idêntica posição,
salvo raras exceções.[9]

https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_de_Andrade_Caminha 2/5
26/12/22, 12:30 Pedro de Andrade Caminha – Wikipédia, a enciclopédia livre

A obra de Pedro de Andrade Caminha apresenta, além destes géneros, uma quantidade invulgar de
Epitáfios.

Epitáfios

Os epitáfios de Pedro de Andrade Caminha celebraram personagens pertinentes para a História (reis,
rainhas, infantes, duques, entre mais), nobres e membros da sua própria família (pais e irmãos). Além
disso, celebrou também o papel dos músicos, como, por exemplo, Luís de Victoria, e dos poetas, como Sá
de Miranda, sublinhando que estes deixam um testemunho para a posterioridade. Continham uma
natureza celebratória e geralmente faziam referência aos cargos das pessoas homenageadas, às suas
práticas religiosas e às suas vivências políticas e sociais.

Alguns dos temas mais comuns abordados por este poeta são o prémio eterno, fruto de uma vida correta, a
efemeridade da vida e a saudade sentida pelo poeta pelo desaparecimento de certas pessoas. Também é
crucial destacar a celebração das qualidades cristãs e humanistas.[10]

Rivalidade entre Pedro de Andrade Caminha e Luís de


Camões
A designação de “rival de Camões” foi atribuída a Caminha pela primeira vez em 1860, num ensaio
biográfico elaborado pelo Visconde de Juromenha,[11] no qual se encontram diversas referências a Pedro
de Andrade. Juromenha considerava uma atitude desrespeitosa e propositada o facto de poetas da mesma
geração ignorarem Camões. Para chegar a uma conclusão relativamente a Caminha, Juromenha baseia-se
nas semelhanças a nível de escrita e de referências mitológicas que ambos partilham. Juromenha está
também confiante de que existiria uma relação de inimizade entre os dois, pois considera que Pêro poderá
ter tomado parte numa “caballa” (intriga, conspiração) contra Camões, juntamente com outros poetas, que
também escreveram expressamente críticas contra este. Esta intriga poderá ter sido uma das causas dos
azares de Camões.[12]

Inocêncio Francisco da Silva reitera em 1862 que "da parte de Caminha para com Camões havia uma
decidida emulação e rivalidade[13]", citando como evidência o epigrama 145 de Caminha onde se encontra
uma possível alusão ao verso d'Os Lusíadas "Dai-me uma fúria grande e sonorosa" (Lus. 1.5.1) de Camões:

Dizes que o bom poeta há-de ter fúria;


“ Se não há-de ter mais, és bom poeta; ”
Mas se o poeta há-de ter mais do que fúria
Tu não tens mais que fúria de poeta!
  — Pedro de Andrade Caminha , Poezias (1791), Ep. CXLV., p. 352.
Este papel de rival atribuído a Pedro ganha um destaque maior a partir dos anos 70, após a exposição de
diversos ensaios de Teófilo Braga sobre Camões e seus contemporâneos, nos quais aprofunda os
relacionamentos entre estes, anteriormente retratados por Juromenha.

Nos seus estudos, recupera a existência de uma “caballa” contra Camões, chefiada por Caminha, proposta
anteriormente por Juromenha. Para Teófilo Braga, Pedro de Andrade Caminha terá influenciado outras
figuras de maneira a desvalorizar Camões, ao longo do tempo.[14]

Teófilo Braga admite a possibilidade da existência de uma amizade entre Caminha e Camões,[15] que terá
acabado rapidamente, justificando assim a atitude e comentários de Caminha relativamente a Camões.
Entre as razões que poderão ter conduzido ao fim da dita amizade encontram-se um choque de
personalidades,[16] a inveja, e o ciúme, particularmente em relação a D. Francisca de Aragão,[17] que terá
ajudado Camões e que contribuiu a favor da publicação de Os Lusíadas[18].

https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_de_Andrade_Caminha 3/5
26/12/22, 12:30 Pedro de Andrade Caminha – Wikipédia, a enciclopédia livre

Braga adiciona aos seus ensaios, algumas das suas interpretações das obras de Caminha, afirmando existir
nelas críticas dirigidas a Camões, apesar do seu nome não ser diretamente mencionado nos textos.[19]
Entre essas, encontra-se a interpretação do epigrama “Contenda de dous”, na qual Teófilo Braga defende a
existência de uma troça ao poeta pelo facto da conclusão principal do epigrama se basear em torno de um
cego ver mais do que uma pessoa com olhos saudáveis. Também, na sua interpretação de “Con amor y sin
dinero”, Braga acredita ser este o meio utilizado por Caminha para tornar Camões ciente da sua pobreza.

Todos estes ensaios de Teófilo Braga completaram as acusações prévias de Juromenha, fornecendo novas
informações e ajudando a consolidar esta imagem de rival de Camões, que marcou Pedro de Andrade
Caminha.[20]

No entanto, em oposição a Juromenha e Teófilo Braga, destaca-se o artigo “Caminha e a música”[21] da


autoria de Sousa Viterbo, no qual considera “infundada para não dizer infantil” a ideia de que Camões
seria o alvo nas obras de Caminha. Este ato acaba por conduzir a uma mudança de atitude perante o poeta
ao longo dos anos.[22]

Referências
1. Silva, Inocêncio Francisco da (1862). Diccionario Bibliographico Portuguez: M-P. Lisboa: Imprensa
Nacional. p.385
2. Hue, Sheila Moura(org.) (2007) Antologia de Poesia Portuguesa: Século XVI- Camões entre os seus
contemporâneos. [s.l.]: 7letras. p. 163
3. Lisboa, Eugénio (coord.) (1990). Dicionário cronológico de autores portugueses. Lisboa: Publicações
Europa-América. Volume I. pp. 271-272
4. Anastácio, Vanda (1998). Visões de Glória: Uma introdução à poesia de Pêro de Andrade Caminha.
Lisboa: Fundação Carlos Gulbenkian. Volume I, p. 5. ISBN 972-31-0807-0
5. Silva, José Maria da Costa e (1851). "Pero de Andrade Caminha", Ensaio Biographico-Critico sobre
os melhores autores portuguezes. Lisboa: Imprensa Silviana. Tomo III, Livro IV, Capítulo I, p. 8
6. Vieira, Célia; Rio Novo, Isabel (2005). Dicionário Ilustrado da Literatura Portuguesa no Mundo. [s.l.]:
Porto Editora. Volume II. p.76. ISBN: 972-0-01243-9
7. Souto, José Correia do  [s.d.]. Dicionário da Literatura Portuguesa.  [s.l.]: Marujo Editora, Volume I, p.
70
8. Saraiva, António José; Lopes, Óscar (2001). História da Literatura Portuguesa. Porto: Porto Editora
9. Anastácio, Vanda (1998). Visões de Glória: Uma introdução à poesia de Pêro de Andrade Caminha.
Lisboa: Fundação Carlos Gulbenkian. Volume I. ISBN 972-31-0807-0
10. Bernardes, José Augusto Cardoso (1999). "A celebração dos mortos nos epitáfios de Andrade
Caminha". In História Crítica da Literatura Portuguesa. Lisboa: Editorial Verbo. Volume II, Capítulo 6,
pp.117-130
11. Juromenha, Visconde de (1860). Obras de Luís de Camões. Precedidas de um ensaio biográfico no
qual se relatam alguns factos não conhecidos da sua vida augmentados com algumas composições
inéditas do poeta pelo Visconde de Juromenha. Lisboa: Imprensa Nacional
12. Anastácio, Vanda; op. cit., pp.45-50
13. Silva, Inocêncio Francisco da, op. cit. p.384
14. Anastácio, Vanda; op. cit., pp. 52-58
15. Braga, Teófilo [s.d.]. Historia da Litteratura Portugueza- Renascença. [s.l.: s.n.]. Volume I, p. 420
16. Braga, Teófilo (1873). Historia de Camões [s.l.: s.n.]. Parte I, p. 141
17. Ibid, pp. 150-152
18. Braga, Teófilo [s.d.] Historia da Litteratura Portugueza- Renascença [s.l.: s.n.]. Volume II, pp. 475-476
19. Braga, Teófilo, op. cit., p. 148
20. Anastácio, Vanda; op. cit., pp.61-62
21. Sousa Viterbo, Francisco de (1894). "Caminha e a música". In Mala da Europa, Anno I, Lisboa: Typ.
da Companhia Nacional Editora.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_de_Andrade_Caminha 4/5
26/12/22, 12:30 Pedro de Andrade Caminha – Wikipédia, a enciclopédia livre

22. Anastácio, Vanda; op. cit., p.64

Leitura adicional
Silva, Vítor Aguiar e (org.) (2011). Dicionário de Luís de Camões (http://books.google.pt/books?id=fk
HF1b69dboC&pg=PT161&dq=%22A+obra+e+a+imagem+do+poeta+Pero+de+Andrade+Caminha+
t%C3%AAm+sido+frequentemente+desvalorizadas...%22&hl=pt-PT&sa=X&ei=6EIXU9mxCqWqyAP
Lv4Eg&ved=0CDAQ6AEwAA#v=onepage&q=%22A%20obra%20e%20a%20imagem%20do%20poe
ta%20Pero%20de%20Andrade%20Caminha%20t%C3%AAm%20sido%20frequentemente%20desv
alorizadas...%22&f=false), Lisboa: Editorial Caminho.

Obtida de "https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Pedro_de_Andrade_Caminha&oldid=61879021"

https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_de_Andrade_Caminha 5/5

Você também pode gostar