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CENTRO UNIVERSITÁRIO FIBRA

LITERATURA LUSITANA I
CLASSICISMO
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O classicismo, movimento artístico surgido no contexto do Renascimento, foi
um contraponto à arte produzida na Idade Média. Inspirados nos ideais da
cultura greco-romana, os artistas aliados à estética classicista cultivavam
o antropocentrismo e o equilíbrio formal. Em Portugal, Luís Vaz de Camões e
Sá de Miranda destacaram-se como os principais representantes do classicismo.
O primeiro notabilizou-se pelo poema épico Os Lusíadas, e o segundo, por
introduzir a técnica de composição de poemas em versos decassílabos.

Classicismo é o nome atribuído à literatura que foi produzida


no contexto de vigência do Renascimento, amplo movimento artístico,
cultural e científico que ocorreu no século XVI, inspirado na cultura clássica
greco-latina.

O contexto histórico que propiciou o surgimento do Renascimento foi


marcado por uma série de acontecimentos, como as navegações e os
descobrimentos, no final do século XV; a formação dos Estados modernos;
a Reforma Protestante, em 1517; a Revolução Comercial, iniciada no século XV;
o fortalecimento da burguesia comercial, entre outros acontecimentos que
acentuaram o declínio da Idade Média, dando origem à Era Moderna.

O interesse pela cultura clássica já vinha ocorrendo desde o final do século


XIII, na Itália, onde escritores e intelectuais, como Dante Alighieri, Petrarca e
Boccaccio, chamados humanistas, liam e traduziam autores latinos e gregos.

Dante Alighieri, autor de Divina Comédia, criou a medida nova, modo de se


fazer poemas a partir de versos decassílabos, deixando para trás as redondilhas
medievais, que passaram a ser categorizadas como “medida velha”. Ainda nesse
contexto de surgimento dos ideais humanistas na literatura, teve papel de
destaque o poeta italiano Petrarca, que se tornou referência na composição
de sonetos ao publicar 350 poemas, a maior parte sonetos, em seu Cancioneiro.

O soneto italiano, difundido por Petrarca, é uma forma fixa que consiste de
quatro estrofes, dispostas da seguinte forma: a primeira e a segunda possuem
quatro versos; a terceira e a quarta, três versos. Nesses sonetos, Petrarca
cantava o amor platônico, restrito ao plano das ideias, por Laura, sua
musa. Boccaccio destacou-se pela escrita da obra em prosa
intitulada Decameron, conjunto de narrativas curtas e picantes que retratavam
criticamente a realidade europeia.

Essas transformações, iniciadas pelos humanistas no século XIII, foram


intensificando-se e, gradualmente, propiciando o clima ideal para que, no
século XVI, surgisse o classicismo. Esse importante movimento artístico
floresceu em um contexto histórico de profundas transformações sociais,
econômicas, culturais e religiosas, momento em que a fé medieval foi
substituída pela razão; o cristianismo, pela mitologia greco-latina; e o
teocentrismo, pelo antropocentrismo.

Diferentemente do homem medieval, que se voltava essencialmente para as


coisas do espírito, o homem do século XVI, sob o ideário do classicismo, voltou-
se para a realidade concreta e acreditava em sua capacidade de dominar e
transformar o mundo que o cercava.

Principais características do classicismo

O classicismo, em relação à temática de suas obras, teve como características


principais a idealização amorosa, o que se dava a partir do cultivo do
neoplatonismo; o predomínio da razão, como uma inspiração humanista
advinda da crença na ciência; o cultivo do paganismo, influência da cultura
greco-romana; a valorização do antropocentrismo, conceito em que o homem
é visto como o centro do universo, o que se contrapunha à crença teocêntrica
que vigorou na Idade Média; o desenvolvimento de uma perspectiva
universalista acerca da realidade; a busca pela clareza e pelo equilíbrio de
ideias; e o gosto pelo nacionalismo em um contexto de intensas investidas
comerciais a outros territórios a partir das navegações.

Quanto aos aspectos formais, o classicismo teve forte apreço pelo soneto,
cultivando-o e difundindo-o como modelo de poema a ser escrito. Além do
soneto, os poetas filiados ao classicismo valorizavam a imitação das formas
clássicas, visando ao equilíbrio formal, além do emprego da medida nova,
como um contraponto à medida velha cultivada na Idade Média.

Classicismo em Portugal

O classicismo em Portugal, assim como o desenvolvido em outros países da


Europa, valorizou temáticas neoplatônicas, vinculadas à concepção de amor
teorizada por Platão na Grécia Antiga, segundo a qual o amor se concretizaria
somente no plano das ideias, e não a partir da matéria carnal. Porém, em razão
do forte contexto de navegações e de expansões territoriais vivido por Portugal
no período do classicismo, esse movimento artístico no país valorizou,
sobretudo, o aspecto nacionalista, já que os grandes feitos nacionais, como
as conquistas do povo português, foram exaltados na poesia épica de Luís Vaz
de Camões.

Principais autores do classicismo em Portugal

Francisco de Sá de Miranda
Pioneiro do classicismo em Portugal, Sá de Miranda nasceu em Coimbra, em
1481, e morreu em Amares, interior do território português, em 1558. Fez
Direito na Universidade de Lisboa e frequentou a Corte até 1521, data em que
partiu para a Itália. Regressou a Portugal em 1526, depois de grande convívio
com escritores e artistas italianos.

Foi o responsável por introduzir o verso decassílabo em Portugal, ou seja, o


verso constituído por dez sílabas métricas. Além disso, foi pioneiro na
composição de sextinas, tercetos e oitavas, influenciando muitos outros poetas.
Leia um de seus sonetos:

SONETO 17

Este retrato vosso é o sinal


ao longe do que sois, por desamparo
destes olhos de cá, porque um tão claro
lume não pode ser vista mortal.

Quem tirou nunca o sol por natural?


Nem viu, se nuvens não fazem reparo,
em noite escura ao longe aceso um faro?
Agora se não vê, ora vê mal.

Para uns tais olhos, que ninguém espera


de face a face, gram remédio fora
acertar o pintor ver-vos sorrindo.

Mas inda assim não sei que ele fizera,


que a graça em vós não dorme em nenhuma hora.
Falando que fará? Que fará rindo?

Nesse soneto, escrito ao modo petrarquiano, com rimas ABBA nos dois
quartetos, o poeta expressa a voz de um eu lírico que, tendo da sua amada
apenas um retrato como lembrança, dirige-lhe a interlocução, sem, no entanto,
obter resposta. Assim como em outros sonetos do autor sobre temática
amorosa, nota-se nesses versos a presença do amor platônico, o qual só tem
existência espiritual.

Luís Vaz de Camões

Considerado o mais importante escritor de língua portuguesa, Camões foi


o nome mais expressivo do classicismo português. Por serem muito escassos os
documentos referentes à vida de Luís Vaz de Camões, estima-se que ele tenha
nascido ou em 1524 ou em 1525, em Lisboa, capital de Portugal. Teria
cursado Artes no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra. Ainda jovem, ingressou
na carreira militar, tendo servido em Marrocos, onde perdeu o olho direito.
Morreu em 1580, em situação de extrema pobreza. Para saber mais sobre a vida
e a obra desse autor português, leia: Luís Vaz de Camões.
Principais obras de Camões

Os Lusíadas

Sua obra-prima foi o poema épico Os Lusíadas, publicado em 1572 e


estruturado em 10 cantos, nos quais distribuem-se 8.816 versos em oitava
rima. Aos moldes das epopeias clássicas, como Odisseia e Ilíada, o poema de
Camões contém proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo.

Narram-se, ao longo dos 10 cantos, os feitos heroicos dos portugueses, os


quais, em 1498, lançaram-se ao mar em busca de expansão comercial e
territorial, liderados por Vasco da Gama, comandante da expedição que
descobriu o caminho para as Índias. Leia a estrofe 3 do Canto I:

Canto I

Cessem do sábio Grego e do Troiano


As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram:
Cesse tudo o que a Musa antígua canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.

Última estrofe da proposição tem-se nesses verses a exaltação da empreitada


marítima portuguesa, considerada pelo poeta superior às navegações
empreendidas pelos gregos, pelo imperador Alexandre, por Trajano. Além dessa
comparação que coloca em superioridade os lusitanos, notam-se nesses versos
referências à mitologia greco-romana, característica fundamental do
classicismo.

Poesia

Na poesia lírica, Camões escreveu poemas em medida velha (redondilhas) e


poemas em medida nova (decassílabos), influência dos humanistas italianos,
principalmente do poeta Petrarca (1304-1374). Em relação à temática, seus
poemas expressam temas ligados ao neoplatonismo amoroso, à reflexão
filosófica e à natureza.

Quem vê, Senhora, claro e manifesto


o lindo ser de vossos olhos belos,
se não perder a vista só em vê-los,
já não paga o que deve a vosso gesto.
Este me parecia preço honesto;
mas eu, por de vantagem merecê-los,
dei mais a vida e alma por querê-los,
donde já me não fica a mais de resto.

Assim que a vida e alma e esperança


e tudo quanto tenho, tudo é vosso,
e o proveito disso eu só o levo.

Porque é tamanha bem-aventurança


O dar-vos quanto tenho e quanto posso
Que, quanto mais vos pago, mais vos devo.

Nesse soneto, o eu lírico tem como interlocutora uma mulher, tratada por
“Senhora”, a quem dirige seu devoto amor. Esse amor, porém, parece não ser
materializado, ficando restrito ao plano das ideias, ou seja, é um amor
platônico. A voz poética expressa sua constante atitude de renúncia e sacrifício
em prol desse amor, mas não espera nada em troca, a não ser a satisfação de
sempre se ver na necessidade de prestar honras a esse amor.

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