Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ENGENHARIA CIVIL
RECIFE
2020
CAMILA OLIVEIRA DA SILVA
RECIFE
2020
CAMILA OLIVEIRA DA SILVA
Esta monografia foi julgada adequada como parte dos requisitos para a obtenção do título de
Engenheiro Civil aprovada em sua forma final pela banca examinadora do Centro
Universitário Estácio do Recife.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Nome do professor
Orientador
__________________________________________
Nome do professor
Examinador
__________________________________________
Nome do professor
Examinador
Aos meus avós José Félix e Severina (In
Memorian). Sei que onde quer que estejam
estão orgulhosos.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pois sem Ele, com certeza eu nada seria. Ele quem me dá forças para seguir e
a quem peço sabedoria todos os dias para enfrentar os obstáculos da vida.
Aos meus pais, que sempre me incentivaram no caminho dos estudos, fazendo o que
podiam e o que não podiam, sempre com muito amor. A vocês, devo a vida.
Ao meu namorado, que sempre me apoia e me incentiva a prosseguir, comemorando
cada vitória e obstáculo vencido ao meu lado.
Aos amigos da faculdade, que ao longo desses 5 anos pudemos aprender, rir, chorar e
passar raiva juntos. A cada período vinham novas barreiras e conseguimos passar por cada
uma delas. Vocês foram essenciais no meu amadurecimento.
Aos professores que passaram em minha vida e me ensinaram muita coisa que sei
hoje. Essa é a classe que deveria ser mais valorizada, pois é graças a vocês que o
conhecimento pode chegar a lugares que muitas vezes não imaginamos. E o conhecimento é
sem dúvida uma das únicas coisas que não nos pode ser tirado.
A todos os profissionais, que tive a honra de conhecer e trabalhar junto, onde me
ensinaram muita coisa que sei hoje. Sempre com paciência e carinho me mostrando como
tudo funcionava.
Por fim, a todos aqueles que acreditaram em mim, que eu poderia chegar até aqui e eu
cheguei.
RESUMO
Ao decorrer do tempo, muitas edificações sofrem com a deterioração nos seus sistemas e uma
das principais causas é a ausência de manutenção predial, que pode ocasionar em acidentes
graves. O presente trabalho teve como objetivo apresentar a importância da realização de
manutenções ao decorrer da vida útil das edificações residenciais. A metodologia utilizada foi
um estudo de caso realizado num edifício residencial, no município de Jaboatão dos
Guararapes em Pernambuco, a fim de analisar a situação do edifício sobre a realização das
manutenções prediais. Os resultados obtidos apontaram alguns problemas encontrados nos
sistemas da edificação gerando a perda de desempenho dos mesmos. E, também
demonstraram que o condomínio não tem um sistema de gestão da manutenção, o que
ocasiona em não realização de manutenções preventivas periódicas e na realização de
manutenções corretivas que geram um maior custo aos proprietários. Com isso, recomenda-se
a atenção as práticas de manutenções a fim de garantir a segurança de todos os usuários e a
valorização imobiliária do bem.
Over time, many buildings suffer from deterioration in their systems and one of the main
causes is the absence of building maintenance, which can cause serious accidents. This work
aimed to present the importance of carrying out maintenance over the lifetime of residential
buildings. The methodology used was a case study carried out in a residential building, in the
municipality of Jaboatão dos Guararapes in Pernambuco, in order to analyze the situation of
the building regarding the realization of building maintenance. The results obtained pointed
out some problems found in the building systems generating the loss of their performance.
And, they also demonstrated that the condominium does not have a maintenance management
system, which leads to the failure to carry out periodic preventive maintenance and to carry
out corrective maintenance that generate a higher cost to the owners. Therefore, it is
recommended to pay attention to maintenance practices in order to guarantee the safety of all
users and the property's real estate appreciation.
Pág.
Figura 1 Distribuição de acidentes prediais por origem 17
Figura 2 Incêndio no Edifício Joelma 18
Figura 3 Desabamento da varanda do Edifício Versailles 18
Figura 4 Desabamento do Edifício Andreas 19
Figura 5 Desempenho das edificações com intervenções 23
Figura 6 Fluxograma das estratégias de manutenção 25
Figura 7 Desempenho da edificação em relação a vida útil 28
Figura 8 Fluxograma de documentação 33
Figura 9 Lei de Sitter 34
Figura 10 Anomalias e falhas 36
Figura 11 Etapas da produção e uso das obras civis 38
Figura 12 Localização do edifício A 40
Figura 13 Viga do subsolo com ferragem aparente 43
Figura 14 Fissura e ferragem aparente no subsolo 43
Figura 15 Vigas desgastadas próximo a junta de dilatação no subsolo 44
Figura 16 Ferragem desgastada pela corrosão 45
Figura 17 Escada de acesso a guarita 46
Figura 18 Gerador de energia do edifício 47
Figura 19 Caixa de abrigo para mangueira de incêndio 48
Figura 20 Caixa de abrigo para mangueira de incêndio 49
Figura 21 Quadro de medidores 50
Figura 22 Medidor com fusível 50
Figura 23 Fachada do edifício 51
Figura 24 Descolamento do revestimento da fachada 52
LISTA DE QUADROS
Pág.
Quadro 1 Controle da manutenção – tipos de manutenção 21
Quadro 2 Recomendação dos prazos de vida útil de projeto (VUP) 27
Quadro 3 Resumo das principais manifestações patológicas encontradas no 39
concreto
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................12
2 OBJETIVOS........................................................................................................................14
2.1 OBJETIVO GERAL..........................................................................................................14
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.............................................................................................14
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................................15
3.1 MANUTENÇÃO PREDIAL..............................................................................................15
3.1.1 Histórico da manutenção predial.................................................................................16
3.1.2 Acidentes relacionados a falta de manutenção...........................................................17
3.1.3 Panorama da manutenção no Brasil e no mundo......................................................20
3.2 CLASSIFICAÇÃO DA MANUTENÇÃO........................................................................22
3.2.1 Tipos de manutenção....................................................................................................22
3.2.2 Estratégias de manutenção..........................................................................................23
3.3 DESEMPENHO................................................................................................................25
3.3.1 PBQP-H / SiAC.............................................................................................................28
3.4 MANUAL DE USO, OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO..................................................29
3.4.1 NBR 14037:2014...........................................................................................................30
3.5 GESTÃO DO SISTEMA DE MANUTENÇÃO..............................................................31
3.5.1 NBR 5674:2012.............................................................................................................31
3.5.2 Lei de Sitter...................................................................................................................33
3.6 INSPEÇÃO PREDIAL......................................................................................................34
3.6.1 Anomalias e falhas........................................................................................................36
3.6.2 NBR Reforma de edificação.........................................................................................37
3.7 PATOLOGIA DAS EDIFICAÇÕES................................................................................37
4 METODOLOGIA..............................................................................................................40
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................................................42
5.1 INFORMAÇÕES PELO QUESTIONÁRIO....................................................................42
5.2 INSPEÇÃO VISUAL………….......................................................................................42
6 CONCLUSÕES..................................................................................................................54
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................55
12
1 INTRODUÇÃO
Ao adquirir um imóvel, espera-se que este perdure o seu uso por bastante tempo, mas
para que essa expectativa se realize, é necessário que haja um plano de manutenção predial e
que ele seja seguido firmemente. Porém, infelizmente esta prática não é comum,
principalmente entre os brasileiros que não possuem esta cultura, onde muitos prezam por
manutenções em seus automóveis, eletroeletrônicos etc. e acabam deixando de lado a sua
residência.
A manutenção predial, quando feita por ações planejadas com periodicidade, traz
muitos benefícios para o proprietário, entre eles a valorização do imóvel. Pois um imóvel bem
cuidado, com condições adequadas ao uso e tendo sua vida útil preservada, com certeza
gerará boa impressão além de garantir segurança e conforto para aqueles que nele habitam.
Segundo Sitter (1984), a realização de uma manutenção corretiva custa 5 vezes mais do que a
preventiva, gerando impactos econômicos.
A Norma Brasileira (NBR) 14037:2014 – Diretrizes para elaboração de manuais de
uso, operação e manutenção das edificações – Requisitos para elaboração e apresentação dos
conteúdos - diz que o processo de produção das edificações normalmente vinha sendo
observado como constituído de apenas duas etapas: o projeto e a execução em canteiro. Ou
seja, a edificação era entendida como a realização do objetivo do processo. Mas as etapas vão
além dessas, pois os estágios posteriores à construção do edifício, como operação, uso e
manutenção, devem e tem assumido crescente importância na gerência do processo.
Uma pesquisa realizada pela Câmara de Inspeção Predial do Instituto Brasileiro de
Avaliações e Perícias (IBAPE/SP) no ano de 2009, apontou que 66% das causas e origens
prováveis dos acidentes prediais são relacionados à deficiência com a manutenção, ou seja, a
ausência de cuidados com a manutenção predial gera mais acidentes que os próprios vícios
construtivos, ou ainda, anomalias endógenas. O que deve ser um alerta tanto para os usuários
quanto para as construtoras, que devem prezar por uma melhor orientação na entrega dos
imóveis, a fim de que os proprietários fiquem cientes do que é necessário fazer para evitar
problemas maiores ou até tragédias futuras.
Com base ao exposto, nesse trabalho será abordado a importância da prática da
manutenção predial nas edificações residenciais, com a realização de um estudo de caso num
13
2 OBJETIVOS
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Ao falar em manutenção, muitas pessoas pensam em diversos bens que precisam deste
serviço, como automóveis, eletroeletrônicos, eletrodomésticos etc., mas não nas edificações.
Todavia, ao contrário do que muito se pensa no Brasil, a manutenção predial é tão essencial
quanto a saúde dos seres humanos, pois se trata da saúde do edifício, e quando se fala em
saúde do edifício, a sua ausência pode acarretar em inúmeros problemas que se tornam
prejudiciais e/ou fatais a todos que nele habitam.
A manutenção em edificações é considerada como um conjunto de atividades técnicas,
operacionais e administrativas que garante o melhor desempenho da edificação para atender
as necessidades dos usuários, com confiabilidade e disponibilidade, ao menor custo possível.
Podendo assim, garantir a vida útil adequada da edificação (GOMIDE; PUJADAS;
FAGUNDES NETO, 2006). Com essa definição pode-se confirmar que a manutenção predial
deve ser levada em consideração para que a edificação possa atender as necessidades a que foi
designada, seja ela na área residencial, comercial, obras de arte, entre outras.
A NBR 5462 (1994), define que a manutenção predial seja a “combinação de todas as
ações técnicas e administrativas, incluindo as de supervisão, destinadas a manter ou recolocar
um item em um estado no qual possa desempenhar uma função requerida”. Gomide, Pujadas e
Fagundes Neto (2006), ainda relatam que a missão da manutenção é garantir a disponibilidade
da função dos equipamentos e instalações de modo a atender a um processo de produção ou
de serviços, com confiabilidade, segurança, preservação do meio ambiente e custos
adequados. Buscando manter a operacionalidade dos equipamentos e instalações de forma
igualitária a como foram adquiridas.
No entanto, a NBR 15575-1 (2013) reforça que ao longo da vida total da edificação
para conservar ou recuperar a sua capacidade funcional, de seus sistemas constituintes e
buscar atender as necessidades de segurança dos seus usuários são necessárias essas
atividades de caráter preventivo. Para isso é preciso um controle periódico de desempenho
dos itens, sendo realizado com cuidado e atenção por profissionais técnicos habilitados.
Mas a manutenção não pode ser vista somente como um “conjunto de atividades de
recursos que garanta o melhor desempenho da edificação para atender às necessidades dos
16
usuários”. Sua abrangência é muito maior, devendo ser entendida como ferramenta estratégica
na gerência de ativos imobiliários, pois está diretamente ligada à viabilidade de investimentos
patrimoniais e depreciação do bem (PUJADAS, 2007).
É notório que todos gostariam que seus imóveis sejam e estejam bem valorizados, mas
para isso, a manutenção entra como um item muito importante, pois é a partir dela que o
imóvel consegue obter seus devidos desempenhos em todos os seus sistemas sejam eles civis,
elétricos, hidráulicos, entre outros, e assim, evitar que haja depreciação do mesmo. A
manutenção predial também não deve ser tratada apenas como atividades de correção, ou seja,
aquelas atividades que são realizadas apenas quando são visualizados alguns problemas, mas
sim como atividade de prevenção, com verificações periódicas, visando garantir
principalmente a segurança e o investimento para a valorização do imóvel.
Por isso existe a preocupação com os edifícios que envelhecem, pois a maioria não
toma os devidos cuidados com a manutenção causando a falta de segurança. E então, vem a
necessidade de impedir que se transformem em sinistros, como no caso do incêndio no
Edifício Joelma em São Paulo, no ano de 1974, um caso marcante no Brasil de tragédia
ocorrida devido à negligência com a manutenção. O incêndio foi ocasionado devido a um
curto-circuito em um aparelho de ar-condicionado no 12º andar e culminou na morte de 191
pessoas e mais de 300 feridos (LIMA, 2016). Na figura 2 é possível ver as fortes chamas que
tomaram conta do prédio.
18
Esses são só alguns dos vários acidentes que ocorrem ao decorrer do tempo, onde a
maioria não ganha visibilidade na mídia. Embora o assunto da saúde das edificações só entre
em discussão quando há um caso pontual que ganha repercussão na imprensa, como os
citados.
O IBAPE/SP (2015) diz que muitas dessas tragédias ocorreram e ocorrem em
edificações com mais de 20 anos, situação em que se verifica a baixa (ou quase nenhuma)
qualidade ou até mesmo existência das atividades de manutenção. Habitualmente,
proprietários de imóveis, usuários e síndicos negligenciam, ou até mesmo ignoram as
atividades preventivas, corretivas, reformas e outras que deveriam impulsionar uma melhor
performance de desempenho nos sistemas e elementos construtivos. Essas negligências
traduzem-se em prejuízo e, em alguns casos, acidentes que chegam a ser fatais. A visão da
20
manutenção predial residencial ainda é muito limitada aos usuários por ser considerada como
despesa inconveniente e estacionada na ideia corretiva.
qualidade de desempenho ao decorrer dos anos com manutenções aplicadas, como mostra a
figura 5.
manutenção por ser pouco utilizada em edificações residenciais, geralmente não é muito
comentada, mas é bom ressaltar que ela existe.
A figura 6 abaixo tende a demonstrar de forma resumida os tipos de estratégias de
manutenção.
Manutenção
Não planejada
Planejada
3.3 DESEMPENHO
A palavra desempenho por definição geral entende-se pelo modo como algo ou
alguém se comporta quando designado a específicas funções. E na construção civil, com as
edificações não seria diferente, onde desde os primórdios buscou-se a boa funcionalidade dos
seus sistemas e componentes. Mas foi a partir de 2013 com o surgimento na NBR 15575
(Edificações Habitacionais – Desempenho), que aborda definições e níveis a serem
obrigatoriamente seguidos em toda edificação a ser construída, que o assunto tomou alta
proporção. Nour (2003) explica que o termo desempenho na construção civil é utilizado para
demonstrar o comportamento do produto em utilização. E que o conceito da palavra é
utilizado para explicitar que o produto deve atender e cumprir os objetivos e funções para o
qual foi projetado ou produzido, submetido a condições de uso.
26
A busca pelo desempenho hoje está totalmente associada a manutenção, pois a sua
ausência causa prejuízos aos sistemas, perda precoce de desempenho e redução da vida útil.
Quando o usuário se isenta de realizar a manutenção, os gastos com reparos corretivos e
reformas se tornam grandes, pois a manutenção garante a funcionalidade e principalmente a
segurança do uso das instalações e sistemas da edificação. Mas também, se for realizada sem
critério técnico, pode causar falhas, gastos indevidos com resultados falhos, danos materiais e
físicos, além da desvalorização do imóvel (IBAPE/SP, 2015).
A NBR 5674 (2012) relata que nos frequentes casos de edificações retiradas de serviço
muito antes de cumprida a vida útil de projeto (VUP), é causada pela desatenção dada para a
manutenção, causando aos usuários transtornos e sobrecusto nos serviços. Portanto, a
manutenção não pode ser realizada de modo improvisada, deve ser entendida como um
serviço técnico programável e que tenha a funcionalidade também de preservar o valor
patrimonial. Deste modo, se torna importante para a segurança e qualidade de vida dos
usuários e também, para um adquirir um bom nível de desempenho ao longo da VUP.
A NBR 15575 (2013) diferencia o conceito de vida útil e vida útil de projeto, como:
Vida Útil (VU) é o período de tempo ao qual o edifício e seus sistemas se dispõem as
atividades as quais foram projetadas e construídas considerando a correta execução dos
processos de manutenção especificados no manual de uso, operação e manutenção. Já a Vida
Útil de Projeto (VUP) é período de tempo estimado ao qual o sistema é projetado para atender
aos requisitos de desempenho definido, considerando os requisitos das normas aplicáveis, o
estágio do conhecimento no momento do projeto e a correta execução das devidas
manutenções seguindo o manual de uso, operação e manutenção.
O quadro 2 abaixo informa as recomendações mínimas que devem ser atendidas dos
prazos de vida útil de projeto para os sistemas de uma edificação.
27
A depreciação é inevitável em todo produto produzido pela ação humana, onde pode
advir de agentes de degradação que agem sobre os materiais ou componentes da construção,
podendo ser de natureza mecânica, eletromagnética, térmica, química, biológica, além de
intervenção do próprio usuário (JOHN; SATO, 2006).
Lichtenstein (1985) reforça que é necessário realizar atividades de manutenção nos
vários componentes e sistemas do edifício, a fim de que a deterioração seja minimizada e o
mesmo consiga atender aos requisitos de desempenho para que foi projetado. Contudo, essas
atividades não têm como objetivo resgatar o desempenho inicial do edifício, uma vez que
existe a perda residual, mas é possível visualizar na figura 7 que a manutenção é um ponto
importantíssimo para que a edificação alcance o desempenho requerido e até a vida útil
projetada.
28
Qualquer produto por mais simples que seja, é feito sua entrega junto com o manual de
instruções com o objetivo de orientar o usuário quanto ao uso, manuseio e manutenção. E com
as edificações não deveria ser diferente, pois assim como qualquer bem que se adquire, ele
tem suas orientações a serem seguidas quanto ao uso. Com isso, surgiu o manual de uso,
operação e manutenção das edificações, um documento onde reúne todas as informações
necessárias que o usuário/proprietário precisa saber quanto as atividades de uso, operação e
manutenção da edificação, para as áreas privativas e comuns.
A NBR 15575 (2013) define a durabilidade de uma edificação como a capacidade da
mesma e de seus sistemas em desempenhar suas devidas funções a que foram designadas, ao
longo do tempo e sob as condições de operação, uso e manutenção especificadas. A entrega
dos manuais tem a função de ressaltar que a durabilidade de uma edificação não está ligada
apenas aos fatores de projeto e execução de obra, mas também ao correto uso e manutenção,
executando-as corretamente, no período pós ocupação. Deste modo, é importante realizar
esforços conjuntos no sentido de mudar a cultura da falta de cuidados e atenção rotineiras com
a edificação (CBIC, 2014).
Os construtores/incorporadores ao realizarem a entrega do imóvel, tem por obrigação
efetuar a entrega do manual do proprietário, tendo sido ele elaborado sob as diretrizes da NBR
14037:2014. Mas, além da entrega, é dever também informar e instruir os proprietários e o
30
Início
Programa da manutenção
Registros de contratação
Registros de execução
Arquivo
Fim
engenheiro Tito Gomide que em seguida formou o primeiro grupo de estudos com a
criação da câmara de inspeção predial do IBAPE/SP. A partir deste momento, surgiram
no país vários cursos, seminários, livros e normas técnicas, o que acarretou a
divulgação da disciplina e a formação de muitos profissionais especializados na área
(GOMIDE; FLORA, 2019).
Neves e Branco (2009), definem a inspeção predial como uma vistoria a fim de avaliar
os estados de conformidade de uma edificação, considerando seus apectos de desempenho,
vida útil, segurança, estado de conservação, manutenção, utilização, operação e exposição
ambiental. Através disso, ela aponta o grau de risco observado em cada uma das
inconformidades encontradas, gerando a ordem de prioridades técnicas com orientações ou
recomendações para sua correção (IBAPE/PR, 2016).
A inspeção se faz importante no auxílio a gestão da edificação, devendo ser realizada
com periodicidade regular, o que contribui para atenuar os riscos associados a perda de
desempenho. Importante ressaltar que os resultados das inspeções são referentes ao momento
em que foram realizadas, devendo ser associadas a data da vistoria correspondentes. O
objetivo da mesma inclui constatar o estado de conservação e funcionamento da edificação e
seus sistemas, tendo um acompanhamento periódico ao longo da vida útil, com o propósito de
manter as condições mínimas de segurança, habitalidade e durabilidade. Consequentemente,
com o relatório emitido, poderá assim auxiliar na instrução da gestão de uso, operação e
manutenção da edificação (NBR 16747, 2020).
Portanto, a avaliação do estado de manutenção e condições de uso deve considerar as
condições do comportamento em uso dos sistemas, analisando as falhas de uso, operação ou
manutenção e comparar com as condições previstas no projeto que estejam disponíveis.
Devem ser considerados na avaliação: falhas nos elementos e sistemas construtivos, falhas
registradas nos documentos analisados quanto a manutenção, não conformidade em relação a
NBR 5674:2012 e organização das prioridades em relação as ações corretivas relatadas (NBR
16747, 2020).
De acordo com a NBR 16280 (2015), entende-se por reforma de edificação toda e
qualquer alteração que ocorra nas condições da mesma com ou sem mudança de função,
visando recuperar, melhorar ou ampliar suas condições de uso ou segurança, habitabilidade e
que não seja manutenção. Geralmente as reformas ocorrem nas edificações para repor
sistemas que já se encontram com a vida útil ultrapassada ou para alterar características. Por
isso, se faz necessária a presença de responsáveis técnicos habilitados para sua execução, por
envolver prestações de serviços de engenharia e arquitetura (IBAPE/SP, 2015).
Assim como as manutenções, as reformas também devem ter um fluxograma de
documentação, a fim de manter registrado toda e qualquer alteração realizada. Além de um
plano de reforma apresentado por um profissional habilitado contendo informações como: as
especificações dos sistemas, apresentação dos projetos e serviços a serem realizados,
cronograma da obra e meios que garantam a segurança da edificação e dos usuários.
A patologia é definida como uma não conformidade que se manifesta em algumas das
etapas de produção da edificação, seja ela em fase de projeto, fabricação, instalação,
execução, montagem, uso ou manutenção. E não consideram os problemas decorridos de
envelhecimento natural (NBR 15575, 2013). Mas ainda pode ser entendida como parte da
engenharia que estuda os sintomas, causas e origens das irregularidades encontradas nas
edificações, se tornando o estudo do diagnóstico dos problemas encontrados (HELENE,
1992).
Atualmente, a patologia da edificação é uma ciência que estuda as modificações das
condições físicas e/ou funcionais produzidas por anomalias construtivas e falhas de
38
manutenção, tendo como base as auditorias, inspeções, perícias e ensaios técnicos realizados
nos sistemas (GOMIDE; FAGUNDES NETO; GULLO, 2009).
Vieira (2016) compara que na medicina há o estudo de doenças que é feito pela ciência
experimental denominada patologia, na engenharia este termo é designado como patologia
das construções, que tem o objetivo de estudar as manifestações e consequências que podem
afetar a vida útil da edificação.
Como citado acima, as manifestações patológicas podem surgir por diversas causas e
em todas as fases do processo de produção, mas tendem a aparecer mais no período de uso,
em decorrência da maior quantidade de tempo neste estado, como apresenta a figura 11. E
também, podem se manifestar em quaisquer dos sistemas construtivos da edificação, tais
como: estrutural, vedação, esquadrias, impermeabilização, revestimento, cobertura,
instalações elétricas, instalações hidrossanitárias e proteção contra incêndio.
4 METODOLOGIA
Foi feita uma visita técnica no dia 08/10/2020, onde foram visitadas as áreas do
subsolo, acesso ao hall pilotis e acesso a guarita; sendo analisados os seguintes sistemas:
estrutural, gerador, elétrico, combate a incêndio e fachada. A cada sistema observado com
alguma manifestação identificada, foi feito o registro fotográfico e determinado as possíveis
causas das problemáticas.
Ao síndico do edifício foram realizadas perguntas a respeito da situação do prédio e
seus sistemas quanto a realização das manutenções e programas de manutenções. Seguindo o
questionário abaixo:
1. Os proprietários possuem o Manual de Uso, Operação e Manutenção a fim de
estarem cientes quanto a realização das manutenções e cuidados com a edificação?
2. O edifício possui algum programa de manutenção predial para os sistemas? Se
não, como são realizadas as intervenções nos sistemas quando necessário?
3. Já foi realizada inspeção predial alguma vez na edificação?
42
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Outro ponto do edifício analisado, foi embaixo da escadaria de acesso ao hall social do
pilotis, onde foi encontrado ponto de ferragem aparente com processo de corrosão do concreto
armado, indicado na figura 16.
45
Na escada em concreto do tipo caracol que dá acesso a guarita, foi verificado a mesma
manifestação de descolamento do revestimento e o aparecimento das ferragens da estrutura,
que compromete a segurança dos que precisam utilizá-la. Além disso, na figura 17 também é
possível verificar o corrimão de ferro da escada que se apresenta em estado de oxidação.
46
No subsolo, há uma sala onde se localiza o gerador de energia, que é acionado apenas
quando há falta de abastecimento de energia da concessionária no edifício e segundo o síndico
não apresenta programa de manutenção, embora ainda esteja operando sem problemas.
Entretanto na figura 18, é possível observar sinais de degradação na parte externa do
equipamento.
47
Na figura 20, é possível visualizar que não há a falta dos acessórios correspondentes
ao sistema, mas os mesmos apresentam sinais de degradação no registro utilizado para abrir e
fechar o hidrante propriamente dito.
49
Outro local analisado foi a área dos quadros de medidores de energia elétrica no
subsolo, como identificado nas figuras 21 e 22, nota-se a presença de fusíveis, dispositivo
antigo que atualmente não é mais permitido utilizar em instalações elétricas, devendo ser
substituídos por disjuntores, para melhor segurança.
50
Com isso, podendo prejudicar a segurança de todos os proprietários se não for corrigido logo,
chegando a gerar até o colapso de toda a estrutura.
O sistema do gerador, segundo relato está em bom funcionamento quando averiguado
na última vez em que precisou ser utilizado, embora permaneça desgastado na parte externa e
sem programa de manutenção periódico, apenas sendo realizadas manutenções corretivas
quando o sistema atinge a falha. Ainda assim, pode gerar desconfortos nos usuários ao
precisar ser utilizado e não puder atender a função designada devido à falta de manutenção.
Da mesma forma, o sistema de combate a incêndio completo ao não ser atendido por
programa de manutenção, pode gerar um problema maior, como os acidentes que ele tem a
função de evitar. Pois em caso de emergência, o sistema pode não funcionar ou não operar
como deveria de acordo com o que foi designado a ele por falta de manutenção preventiva.
O sistema elétrico também não há programa de manutenção, um edifício com seus 40
anos pode ter seus sistemas desatualizados e acabarem estando vulneráveis a acidentes.
Inclusive a presença de modelos muito antigos de fusíveis no quadro de medidor, indica essa
falta de manutenção, pois o INMETRO recomenda a substituição dos fusíveis por disjuntores
pelo motivo de melhores vantagens econômicas e tecnológicas que resultam em uma melhor
segurança.
E o outro sistema relatado foi a fachada que nitidamente sofre com a ausência de
manutenção, ao apresentar o descolamento das pastilhas e consequentemente sua queda,
ocasionando a vulnerabilidade do edifício a intempéries que podem gerar infiltrações. Além
do risco de acidente ocasionado pela queda das pastilhas, o qual foi relatado que já houve caso
da pastilha cair e atingir retrovisores de carros estacionados nas garagens descobertas,
causando gastos aos proprietários dos veículos.
Com isso, vale ressaltar a importância da realização das manutenções e inspeções
regulares a fim de identificar as origens e causas exatas destas manifestações, para agir da
maneira correta com a finalidade de preservar a utilidade dos sistemas.
54
6 CONCLUSÕES
Diante de toda a análise realizada neste trabalho, fica constatado que a realização de
manutenção predial é a melhor solução para evitar a depreciação da edificação e a perda de
desempenho dos seus sistemas, tendo como vantagens garantir a segurança, a valorização
imobiliária, além de ser a solução mais econômica.
Mas para garantir a realização das manutenções de forma adequada, se faz importante
o planejamento do sistema de manutenção que deverá fazer parte da gestão do edifício. Este
sistema deve abranger o planejamento, os projetos e todas as programações dos serviços a
serem realizados com seus intervalos de tempo.
Outro ponto importante dentro do processo de manutenção predial é a atuação dos
construtores que devem aderir a ideia da manutenção bem antes do pós ocupação, devendo
este item fazer parte do sistema de elaboração de uma obra. Mas também eles devem atuar na
questão educativa, quanto a ensinar e oferecer as ferramentas necessárias aos
usuários/proprietários, através da entrega do manual de uso, operação e manutenção no ato de
entrega do imóvel, para que o mesmo possa estar instruído para a realização das manutenções
de maneira correta.
Assim espera-se que o trabalho sirva de fonte de informação para os proprietários dos
imóveis, síndicos e construtoras, a fim de que reforcem a atenção em relação as manutenções
das edificações. Pois foi perceptível que ainda há o hábito de executar as manutenções de
forma corretiva, quando o sistema já atinge um estado avançado de degradação, o que faz o
serviço ter um custo elevado.
E com isso segue algumas sugestões para trabalhos futuros:
- Elaboração de manuais de uso, operação e manutenção para edifícios residenciais antigos
que não possuem.
- Maneiras de transmitir aos usuários, além dos manuais, as instruções para realização das
manutenções.
- Análise detalhada dos problemas encontrados no edifício.
- Elaboração de plano de manutenção para os edifícios que não possuem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PERÍCIA divulga 5 fatores que contribuíram para queda do Edifício Andrea. Diário do
nordeste, Fortaleza, ano 20. Disponível em:
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/seguranca/pericia-divulga-5-fatores-que-
contribuiram-para-queda-do-edificio-andrea-1.2204933. Acesso em: 15 set. 2020