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IMPORTÂNCIA DA CADERNETA

Quando resgatamos a história da Caderneta de Saúde da Criança, é como se pudéssemos ver um filme da
transição demográfica, epidemiológica e nutricional que aconteceu no Brasil.

Desde as primeiras versões, a partir dos anos 70 do século XX, a caderneta foi inspirada no instrumento que
o pediatra britânico David Morin desenvolveu em um trabalho conjunto com uma comunidade rural na Nigéria
por volta de 1959. Um dos objetivos deles era monitorar o estado nutricional das crianças. Esse instrumento foi
mediador de construções coletivas que tiveram um grande impacto na melhoria da qualidade de vida daquela
comunidade naquela época. Aqui no Brasil, as edições da caderneta no século XX olhavam bastante para os riscos
que ameaçavam a expectativa de vida das crianças, e isso fazia muito sentido.

No início dos anos 70, a taxa de mortalidade infantil no Brasil era próxima de cem por mil. Isso quer dizer que,
para cada mil crianças nascidas vivas no espaço de um ano, cem morriam até um ano de idade. Para se ter uma
ideia, isso que acontecia no Brasil naquela época é próximo do que acontece hoje no Afeganistão.

Então, nos anos 70 e 80, a caderneta era uma folha de papel, um cartão com duas dobras, o enfoque era para
desnutrição, doenças imunopreveníveis, diarreia e infecção respiratória aguda.

Na virada para o século XXI, fica nítida na caderneta a forma como o olhar para a infância se ampliou em nosso
país, com uma queda expressiva da taxa de mortalidade infantil, que foi um reflexo de conquistas sociais, como
o Sistema Único de Saúde, o SUS, e o Estatuto da Criança e do Adolescente.

É no século XXI que a caderneta se torna um livreto e, desde 2009, passa a trazer uma inscrição na capa:
Passaporte da Cidadania. A criança é olhada como sujeito, um sujeito de direito em suas várias dimensões:
biológica, psíquica, familiar e social.

O projeto gráfico também foi se modificando ao longo dos anos. No começo, era um bebê, depois surgiu uma
criança e, depois, várias crianças. Finalmente, na versão mais recente de 2019/2020, surgem na capa, junto às
crianças, os adultos, que são responsáveis pelo seu cuidado.

Nós, profissionais de saúde, também fazemos parte dessa rede, que deve assegurar cuidado e proteção às
crianças.

Infelizmente, algumas pesquisas têm mostrado que o preenchimento das informações na caderneta pelos
profissionais ainda deixa a desejar, mas a falta de informação pode afetar a qualidade da atenção às necessidades
da criança.

É muito importante que toda a rede se comprometa com o uso adequado da caderneta, porque isso vai refletir
em um cuidado de melhor qualidade. É um tanto do que diz o provérbio africano: “É preciso uma aldeia inteira
para cuidar de uma criança”.

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