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O que é interseccionalidade?
9}Aponta também, para o interesse jurídico de estudos interseccionais entre sexo e raça,
exemplificando com o caso analisado por Crenshaw da General Motors, que apesar de
contratar negros e mulheres, não contratava mulheres negras, e ainda assim, foi absolvido
de discriminação racial e de gênero em tribunal.
10} Há, por fim, o interesse político de estudos que articulam sexo e raça. Demonstrados
pelas teorias da interseccionalidade da consubstancialidade, que situam a prática no
prolongamento da teoria, beneficiam uma luta unitária.
Interseccionalidade ou consubstancialidade?
11} Em fins da década de 1970, na França, Danièle Kergoat empregou análise que
articulava relações de sexo e classe para “compreender de maneira não mecânica as
práticas sociais de homens e mulheres diante da divisão social do trabalho em sua tripla
dimensão: de classe, de gênero e de origem (Norte/Sul)” e ao criar um laboratório de
pesquisas, consagrou a temática de estudos no país. No Brasil, nos anos 1980, Elisabeth
Souza-Lobo desenvolveu estudos similares.
13}A crítica acima foi aprofundada por Kergoat em 2012. A francesa indica três falhas
da interseccionalidade: 1) a multiplicidade de pontos de entrada (religião, região, etnia,
nação, raça, gênero, classe etc.) contribui para fragmentação das práticas sociais e
reprodução de violências; 2) todos esses pontos de entrada não remetem certamente a
relações sociais e não estão em um mesmo plano; e 3) raciocinar em termos de categorias
e não de relações sociais, sem historicizá-las e considerar as dimensões materiais de
dominação.
16} Hirata indica que comentará nesta terceira parte sobre as atuais teorias do care, que
mobilizam gênero, classe, raça e nação como fatores explicativos da relação do care.
Partindo de sua pesquisa comparativa entre Brasil, França e Japão e da expressão
“indiferença dos privilegiados”, de Joan Tronto, a socióloga identificou que nesses países
o polo dos provedores do care é frequentemente representado por mulheres, pobres e
imigrantes, enquanto o dos beneficiários é constituído por aqueles que têm poder e meios
para contratar o trabalho do care.
17} Hirata recupera a norte-americana Joan Tronto e a francesa Patricia Paperman, que
mostraram que o care é provido nesses países pelas dimensões de gênero, classe, e raça,
destacando também a historicidade das relações sociais do care. Tronto também analisou
como as desigualdades estruturais de gênero e raça são evidenciadas nas relações do care.
21} consubstancialidade das relações sociais e suas consequências no care, dessa forma,
ficam evidentes pela pesquisa da autora: o que une os cuidadores nesses países é a
precarização dos seus itinerários profissionais e como são os mais vulneráveis
socialmente.
23} Recuperando falas de Patricia Hill Collins e de Danièle Kergoat, Helena Hirata
reforça sua defesa da importância da interseccionalidade como perspectiva de análise,
pois é forma de combater as opressões múltiplas e imbricadas, um instrumento de luta
política.
2. Construção do argumento
Objetivos:
Tese:
Argumentação:
A socióloga discute, então, os trabalhos desenvolvidos por Kergoat sobre a divisão social
do trabalho na França, a partir de fins da década de 70, que intersecionava as categorias
de gênero, classe e origem. A francesa desenvolveu três críticas ao conceito de
interseccionalidade recuperadas por Hirata, sendo o ponto principal como esse não parte
das relações sociais fundamentais em sua complexidade e dinâmica e como deixa a
dimensão classe social em detrimento do par gênero-raça. Desta forma, ambas preferem
utilizar o conceito de consubstancialidade – controvérsia nomeada pela autora de
“interseccionalidade de geometria variável”.
Na terceira e última parte do artigo, Hirata comenta as atuais teorias sobre o trabalho de
care de Joan Tronto e Patricia Paperman, que analisaram as relações de gênero, classe,
raça e nação na perspectiva consubstanciada. Ela prova, segundo suas pesquisas de campo
sobre esse trabalho nos países França, Brasil e Japão, que a maioria dos profissionais
cuidadores são mulheres, pobres e migrantes.
Hirata confirma, também, a ideia defendida por Kergoat do trabalho do care ser
paradigma de consubstancialidade e suas consequências, pois evidenciou em sua pesquisa
de campo a precarização dos itinerários profissionais dos cuidadores e como são eles os
mais vulneráveis socialmente. Conclui o texto retomando como essa perspectiva de
análise é fundamental como luta política contra essas opressões.
3. Discussão
No artigo Gênero, classe e raça: Interseccionalidade e consubstancialidade das relações
sociais, Helena Hirata defende os benefícios teórico-epistemológico, jurídico e, acima de
tudo, de luta política no emprego de uma perspectiva situada e da teoria da
consubstancialidade das relações de gênero, de raça e de classe à análises de relações de
opressão sofridas por grupos minoritários, neste caso, as(os) profissionais de care. Esta
posição nos parece próxima à defesa de Bell Hooks, no livro Ensinando a transgredir: a
educação como prática da liberdade, da pedagogia engajada: uma forma de educar como
prática de liberdade e prática libertária, se ensinando de forma que qualquer um possa
aprender, sem reforçar sistemas de dominações existentes, a compartimentalização entre
corpo, mente e espírito e a separação dualista entre as esferas pública e privada e que,
também, ligue nos indivíduos a vontade de saber à vontade de vir a ser. Seus estudos
partem da preocupação com a racismo e machismo estruturais sofridos por meninas e
mulheres negras nas instituições de ensino.