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RESUMO: O presente artigo tem como tema o retrato da sociedade patriarcal presente
na obra O dom do crime, de Marco Lucchesi, a qual faz intertextualidade com Dom
Casmurro, de Machado de Assis. Essa temática nos leva às seguintes indagações: O
que a Helena, de Lucchesi e a Capitu, de Machado, tem em comum? O que Bentinho e
José Mariano representam? Que discursos em relação à mulher são retratados através
das personagens? Para responder a esses questionamentos, objetiva-se analisar, por
meio de elementos formais e discursivos, a ideologia patriarcal presente na sociedade
dos séculos passados, que permanece até os dias atuais. Para atender ao objetivo
proposto, realizamos uma pesquisa bibliográfica e utilizamos fontes secundárias para
subsidiar nosso artigo. Nos respaldamos teoricamente no estudo da autora Teles
(2020), que disserta sobre a intertextualidade das obras de Lucchesi e Machado. Com
isso, realizamos uma análise sobre a relação entre Capitu e Helena e a ideologia por
trás da absolvição de José Mariano. Espera-se, por meio desta análise, gerar uma
reflexão acerca do pensamento pejorativo e julgador da sociedade em relação à mulher.
Palavras-chave: Patriarcal; O dom do crime; Dom Casmurro; Sociedade.
1 INTRODUÇÃO
1 Estudo desenvolvido como requisito parcial de avaliação da disciplina: Introdução aos Estudos
Literários II, 2021/2, ministrada pelo Prof. Dr. José Carlos da Costa.
2Acadêmica da 1ª série do curso de Letras Português/Espanhol, da Universidade Estadual do Oeste
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comum? O que Bentinho e José Mariano representam? Que discursos em
relação à mulher são retratados através das personagens?
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Lucchesi junta em sua obra ficção e elementos históricos, os quais foram
coletados de jornais do século XIX que circulavam no Rio de Janeiro, dando
destaque para um caso de crime passional:
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talvez mais frio, como querem os positivistas. Um livro sem opiniões, beirando o
cinismo, ou quase.” (LUCCHESI, 2010, p. 20).
O fato de José Mariano ter matado Helena com golpes no pescoço, mostra
um intertexto com Bento Santiago que, tomado pelo ciúmes, tem pensamentos
homicidas em relação à Capitu:
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José Mariano, assim como Bentinho, é retratado no romance de Lucchesi
como um homem possessivo, agressivo e violento. Tomado por um ciúme
doentio, ele vê sua esposa como uma mulher que merece receber uma punição
por “trair" sua confiança.
Observamos nesse ponto mais uma questão de poder. A mulher deve ser
submissa e fiel ao homem que tirou-a de uma vida ruim e deu a ela “dignidade".
A traição, para o júri, é muito mais grave que o assassinato de Helena, afinal, ela
não era uma mulher digna de perdão.
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O romance de Lucchesi nos mostra um contexto em que esferas
de poder compõem uma barreira intransponível. Silenciada pela
morte, Helena é julgada por um tribunal masculino, por uma
sociedade que acredita que ela devia ao marido fidelidade e
gratidão pelas condições materiais que ele lhe proporcionou.
(TELES, 2020, p.167).
Nesse ponto, o júri pode ser entendido como a nossa sociedade. Assim
como em Dom Casmurro, o que está em pauta e aberto para julgamentos é a
conduta da mulher. Traiu ou não traiu? Desde Capitolina até Helena Augusta: o
que interessa para a sociedade é a suposta traição, “[...] deve ser observado
que, nos dias de hoje, a grande questão que ronda o romance, para o leitor
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desavisado, é se Capitu traiu ou não o marido. Ou seja, continuamos a ter um
público ávido por respostas” (TELES, 2020, p.165).
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Uma aberração jurídica e médica. Contradição que o primeiro
júri não percebeu, bracejando nas ondas fortes das metáforas
do doutor Busch Varella, nas correntes do folhetim, que acabou
por fazer volume raso das figuras de Helena e Mariano, segundo
uma práxis recorrente, que inverte o lugar da vítima e do
assassino [...]. (LUCCHESI, 2010, p.143).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Os motivos ligados ao tema da obra são: o ciúme, o amor, a
possessividade, a paranoia, a loucura, a insanidade, o machismo, a infidelidade,
a desconfiança, a insanidade, o patriarcalismo, a agressividade, a injustiça e o
descontrole.
REFERÊNCIAS
ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: Ártica, 1997.
DOM. In:______. Michaelis On-Line. São Paulo: Companhia Editora
Melhoramentos, 2022. Disponível em: < https://michaelis.uol.com.br/moderno-
portugues/busca/portugues-brasileiro/Dom/ >. Acesso em 29/06/2022.
LUCCHESI, Marco. O dom do Crime. Rio de Janeiro: Record, 2010.
TELES, Adriana da Costa. O dom do crime, de Marco Lucchesi, e o intertexto
com Dom Casmurro, de Machado de Assis. São Paulo: FronteraZ, 2020.