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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36


Eu realizei o que chamo de sonho brasileiro: adquiri
a estabilidade e o alto salário de um cargo concursado
federal ainda muito jovem.
Com 23 anos, tinha minha independência financeira garantida
para toda vida, ganhando um salário muito acima da média.
Ainda aguardava a nomeação em outros concursos, os quais
inevitavelmente elevariam minha remuneração para algo
próximo de R$20.000,00 nos próximos anos. Além disso,
adquiri habilidades que me faziam realizar toda minha cota
semanal de trabalho em apenas um único dia.

Consegui a vida dos sonhos, certo?


E era! Centenas de milhares de pessoas batalham diariamente
nos estudos para conseguir essa vida.

Porém, algo inesperado aconteceu no meio do


caminho… Pensava diariamente em largar meu cargo. Me
culpava por pensar assim: Se decidir pela demissão posso
arriscar o futuro financeiro da minha família!
Pois é… O gordo contracheque mensal sempre garantido e a
facilidade no trabalho se tornaram uma prisão…
Eu tive que decidir. Decidi sair.
Minha liberdade só foi retomada com meu pedido de
exoneração.
Mas o que será que aconteceu? Essa foi a melhor decisão?
Descubra isso e todos os segredos do serviço público no livro
O Melhor Trabalho do Mundo.

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Esta é uma obra de ficção, porém TODAS histórias aqui contadas são
baseadas em eventos reais.

Algumas das situações narradas foram vivenciadas diretamente por mim


e outras ocorreram na vida profissional dos muitos amigos e colegas de
trabalho que fiz durante 12 anos de carreira pública, sendo adaptadas e
contextualizadas para melhores efeitos dramáticos.

O presente livro não apresenta fatos em ordem cronológica e alguns dados


foram omitidos, acrescentados ou modificados para proteger informações
pessoais de terceiros.

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O juiz,
o advogado,
o gerente,
o empreendedor
e o servidor

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A pós vários anos de insistentes tentativas e muitos
“vou ver e te aviso”, finalmente conseguimos organizar
nosso churrasco de confraternização de colegas da
adolescência.

Trata-se um grupo muito diversificado, com cerca de dez


pessoas com mais ou menos trinta anos de idade e que não se
encontravam pessoalmente há mais de uma década.

Nesse meio tempo, muitos formaram suas famílias e cada um


seguiu um caminho profissional bem diferente.

Apesar de ali estarem vários amigos que assim como eu se


formaram em Direito, poucos ali seguiram de fato carreiras
jurídicas. Na verdade, apenas três: eu, que desde os vinte anos
comecei a estudar para concursos, consegui várias aprovações
e rapidamente me tornei servidor público, outro se tornou
advogado e um terceiro, atualmente juiz após exercer anos de
advocacia.

Os demais amigos seguiram em áreas diversas, com carreiras


corporativas, continuando os negócios da família ou novos
empreendimentos nas mais diversas áreas.

Após colocar muita conversa atrasada em dia, sempre regada


com os elixires da verdade, cerveja e uísque, consegui tirar
muitas conclusões sobre a minha trajetória de vida como
concurseiro e concursado, fazendo uma comparação entre
o nível de felicidade profissional e financeira que eu tinha
alcançado com o deles.

Cheguei ao cúmulo de fazer uma lista em ordem de infelicidade,


você acredita?

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Pode até parecer mesquinho demais fazer uma comparação
dessas…

Parece para você?

Confesso que eu mesmo me repudiei algumas vezes antes de


fazer essa análise. Parecia ser algo errado, uma certa forma
traição com meus amigos… Eu imaginava alguém me olhando
com um olhar de desprezo enquanto elaborava essa lista: Que
coisa feia… tsc, tsc…

Mas exatamente nesse momento eu estava muito pensativo


sobre minha carreira. Já era servidor público há mais de 10
anos, passando por diversas funções em órgãos de áreas
diferentes e tinha muitas dúvidas sobre meu futuro.

Estava muito inclinado a pedir exoneração, mas estava com


muito medo. Afinal, nunca fiz nada apenas por mim: tinha esposa
e um filho para cuidar. Pois, nos 12 últimos anos da minha
vida, sempre tive um contracheque garantindo a qualidade de
vida da minha família todos os meses, sem falta. Perder isso
parecia algo assustador.

Exatamente nessa semana do churrasco, tinha pedido licença


não remunerada para pensar sobre o assunto e ganhar
tempo para tomar tal decisão. Porém, já tinha sido avisado
informalmente que não iriam me dar a licença e era 8 ou 80:
pedir demissão ou continuar trabalhando normalmente.

Eu sabia, no entanto, que minha remuneração era muito acima


da média, cerca de R$18.000,00/mês, e que algumas centenas
de milhares de concurseiros de todo Brasil batalhavam muito
para conseguir algo parecido. Sabia ainda que nos próximos

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meses, com a aposentadoria de duas
colegas, inevitavelmente me tornaria
assessor ou chefe de gabinete,
aumentando meu salário em mais
R$7.000,00.

Além de tudo isso eu trabalhava em


home office integral.

Inclusive, por causa de uma forma de


trabalho que consegui implementar,
na imensa maioria das semanas de
trabalho conseguia realizar toda
minha carga de processos em 1 dia,
1 dia e meio no máximo. Isso mesmo:
eu trabalhava sem sair de casa, fazia
todas tarefas da semana em menos
de 2 dias, era estável e tinha uma
remuneração muito alta…

Resumindo: eu tinha muito a perder


pedindo minha demissão e isso me
amedrontava de forma intensa.

Mesmo assim, com toda essa


racionalização sobre minhas
condições muito acima da média, já
tinha entrado várias vezes no sistema
do tribunal para entrar com o pedido
de demissão, de forma irrevogável e
irretratável.

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Nota sobre minha produtividade no
trabalho: Eu fazia minha cota semanal,
inclusive bem superior a dos meus
colegas de gabinete com o mesmo cargo,
os quais eram servidores “da antiga”,
típicos usurpadores dos cofres públicos
com baixíssima produtividade, em apenas
1 dia. Por muitos anos não fiz apenas o
meu trabalho, mas também tarefas que
seriam deles e dos “superiores” nos
demais dias, até começar a adoecer por
isso e aprender a me defender do sistema.
Mas isso contarei em outro capítulo.

Quando comparava minha vida com a


de um “trabalhador normal” e pensava
estar prestes a abrir mão de tudo isso,
me sentia um idiota aventureiro e
egoísta querendo chamar a atenção
e colocar em risco a estabilidade
financeira da minha família. Me sentia
um juvenil rebelde e idiota.

Mas uma vontade quase que


incontrolável de abandonar o serviço
público me perseguia dia após dia.

Por causa dessa minha insegurança


sobre o futuro, pensei: não encontraria
nenhuma ideia melhor do que comparar
esses elementos da minha vida
profissional com os meus amigos que
seguiram caminhos diferentes.

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Aliás, alguns desses meus amigos eram a chave dessa
comparação: realmente sou fã de alguns deles e queria muito
comparar o que consegui da vida com o que eles tinham
conseguido até aquele momento. Tenho muita intimidade com
eles e poderia facilmente descobrir todos dados que precisava
para minha análise.

Esses dados iriam me ajudar a tomar a decisão correta! (Será?)

Quando eu pensei dessa forma, aquele sentimento de estar


fazendo a coisa errada foi embora e comecei a consolidar os
dados.

Quer um spoiler? Após terminar essa minha pesquisa, pedi de


uma vez por todas a exoneração de meu cargo. Continue lendo
e entenderá a razão.

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Critérios de análise

Quem me conhece sabe que sou metódico, mas um metódico


diferente, digamos assim. Normalmente acho formas diferentes
e mais simples de resolver as coisas.

Para essa análise não seria diferente.

Em um primeiro momento, pensei em comparar apenas o ganho


de cada um. Porém, achei uma comparação fria entre o que
cada um ganhava muito injusta, porque não media o esforço
real de cada pessoa para ganhar aquilo tanto como não media
algo precioso para mim: o tempo para execução do trabalho.

Pensei bastante e descobri que seria mais interessante medir


a felicidade de cada um e a influência da parte profissional
nesse “índice de felicidade”.

Eis os únicos 2 critérios que decidi levar em consideração,


nessa exata ordem:

1. Remuneração e Tempo para Execução;

2. Tesão pelo trabalho e Propósito.

Remuneração e tempo de execução eram os pontos principais,


afinal a vida não é só trabalho para acumular dinheiro.
Precisamos trabalhar para viver e não viver para trabalhar,
certo? Nesse caso eu decidi juntar esses dois fatores e criar
um índice de “remuneração líquida/hora trabalhada”.

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Aliás, tempo livre do trabalho para mim não significava apenas
mais tempo de ócio, Netflix, diversão ou qualquer outra
atividade que você possa estar imaginando agora. Esse tempo
também significava muito mais dinheiro e felicidade…

Mas é claro, o tesão pelo trabalho e o propósito devem ser


levados em consideração, pois inevitavelmente todos nós
passamos muito tempo trabalhando e, sem considerar esses
pontos, você irá “quebrar” no meio do caminho.

A ausência do tesão pelo trabalho e a falta de propósito para


mim são as grandes causas da infelicidade em dias úteis.
Ainda, sempre achei importante ser feliz não apenas na
chegada ao destino, mas durante a caminhada. Aguardar o
final de semana para ser feliz para mim sempre foi uma forma
de suicídio em pílulas…

Esses dois últimos elementos estão intimamente conectados.


Sem a sensação de propósito, sem entender o seu porquê na
profissão e na vida, você não terá ânimo para executar o que
precisa ser feito e isso aos poucos irá corroer suas forças.

Lembra-se que eu disse que fazia todo meu trabalho semanal em


normalmente 1 único dia? Nos outros dias não ficava no ócio. Minha
natureza nunca me permitiu ter essa tranquilidade. Eu trabalhava e
estudava todos os dias, porém de forma muito mais certeira em termos
de produtividade. Assim criei um negócio digital que em pouco tempo
passou a ser muito mais rentável do que meu cargo público. Em breve
contarei mais sobre isso.

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Decidi, nessa análise, não fazer cálculos complexos, pois isso
só robotizaria tudo. Apenas compararia esses índices dos
meus amigos com os meus, definindo uma carreira vencedora
ou até mesmo o empate, dependendo do caso. Obviamente,
ainda faria uma modulação desse comparativo de acordo com
a percepção dos meus amigos e a minha sensação pessoal
sobre o “tesão pelo trabalho” e o “propósito” no caso de cada
carreira.

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Comparação 1:
O juiz
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A
principal comparação era a mais óbvia
para mim: com o juiz.

Afinal, a carreira de juiz é praticamente uma


extensão lógica da carreira de servidor de tribunal.
Mais de 90% dos servidores de tribunais querem
ser juízes em um futuro próximo.

Inclusive essa era minha ideia inicial. Entrei na


faculdade de Direito com o propósito de passar
rapidamente em concursos de nível médio,
depois ser aprovado em cargos de nível superior
em direito e, quando completasse a experiência
mínima necessária (três anos de prática jurídica
após a graduação no curso de Direito), me tornaria
juiz.

Naquele momento, esse caminho era muito claro


na minha mente.

Logo no primeiro concurso de técnico de tribunal,


fui aprovado com garantia de nomeação. Em
seis meses fui nomeado. Ainda no meio da
faculdade fui aprovado para analista, cargo
que exige nível superior em direito, também
sabendo que inevitavelmente seria nomeado,
o que efetivamente aconteceu logo após minha
graduação. Sabia que, se mantivesse o ritmo,
fatalmente conseguiria a aprovação para juiz,
assim que tivesse os 3 anos de experiência
profissional necessária para o cargo.

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Porém decidi parar antes de chegar à magistratura. Algo
importante aconteceu.

Vi de perto o quadro completo da vida de vários juízes e conclui:


Isso não é para mim.… vou ficar extremamente frustrado
nessa carreira.

Minha visão mudou muito após trabalhar dentro do tribunal


e conhecer muitos juízes. Não consegui me imaginar
verdadeiramente feliz usando a toga. Ainda conclui, nesse
momento, que em termos de custo-benefício a carreira de
analista judiciário seria muito mais atrativa, em todos os
sentidos.

Porém, nesse momento de incertezas sobre minhas decisões


passadas e meu futuro profissional, comecei a duvidar de
minhas conclusões: será que eu estava errado esse tempo
todo?

1. Remuneração e Tempo
para Execução - Juiz x servidor

Nesse ponto sempre soube que eu ganhava o dobro por hora


trabalhada do que qualquer juiz substituto.

Parece mentira, né? Mas não é.

É matemática simples! Vou colocar isso em números para você


entender.

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Nesse caso vamos considerar um
trabalho de 7 horas por dia e que
cada mês tem 4 semanas, para
facilitar o cálculo.

Um juiz substituto, nos primeiros


dez anos de carreira, recebe cerca
de R$25.000,00 líquidos (ou seja, já
descontado imposto, previdência e
etc.). Porém, esse mesmo juiz trabalha
no mínimo 4 dias por semana de forma
bem intensa. Nesse cálculo ainda,
considerei um juiz sabedor de como
resolver seu trabalho na prática, pois
muitos que entram nessa carreira
acabam demorando anos para ter
essa percepção e um rendimento
ótimo em suas atividades… Esses
acabam trabalhando até nos finais
de semana para cumprirem suas
metas e “ficarem bem” perante a
corregedoria.

Nesse caso um juiz trabalha em


média 28 horas por semana ou 112
horas por mês, ganhando cerca
R$25.000,00 líquidos mensalmente,
ou seja, R$223,00/hora trabalhada.

Em compensação, eu trabalhava na
imensa maioria das semanas 1 único
dia e recebia cerca de R$12.000,00
líquidos por mês.

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Portanto, eu, simples servidor público, trabalhava 7 horas por
semana ou 28 horas por mês e recebia cerca de R$428,00/
hora trabalhada. Ou seja, eu ganhava quase o dobro de
um juiz (191,92%, mais precisamente), considerando-se
a remuneração por hora efetiva de trabalho, que é o que
definitivamente importa para mim.

Aliás, como a promoção para assessor ou chefe de gabinete


era iminente, meu salário saltaria para cerca de R$17.000,00
líquidos, ou seja, passaria a receber aproximadamente
R$607,00/hora trabalhada, quase o triplo da média auferida
por um juiz substituto.

É claro que nesse caso fiz a comparação com um juiz que


efetivamente trabalha e atrai para si as responsabilidades de
seu cargo, que era exatamente o caso desse meu amigo.

Nunca faria uma comparação com um juiz que apenas faz


o essencial (as audiências) e joga todo trabalho e suas
responsabilidades para um mero assistente, até porque nunca
conseguiria chegar nesse nível de “encostopatia”. Essa não
seria minha realidade e, portanto, não poderia ser comparada.

Resultado: Para mim o placar foi bem evidente. Ser servidor


de nível superior de tribunal é muito melhor do que ser juiz
substituto em termos de custo-benefício, comparando-se o
fator remuneração por hora trabalhada.

Com essa análise, me senti muito mais aliviado com minhas


decisões profissionais até então. Mas ainda sentia que poderia
ter errado na hora de pensar nos meus propósitos de vida…

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Informação adicional – Acho válido ainda demonstrar essa
comparação do salário de um juiz com o de um servidor de
nível médio de tribunal federal, cargo que exerci por alguns
anos, realizando o mesmo trabalho e as mesmas tarefas após
me tornar analista.

Você deve estar pensando agora: Mas como assim??? Analistas


(cargos de nível superior) e Técnicos (cargos de nível médio)
executam as mesmas tarefas??? Isso não é possível. Não só
é possível, como é fato. Essa é a dura realidade! E eu sou prova
viva disso.

Como técnico exercia exatamente a mesma função de analista.

*Encostopatia é um termo que eu criei para designar a síndrome dos


agentes públicos encostados, que se agarram a seus cargos e suas
facilidades para sugar os cofres públicos. Engana-se você que é
jurisdicionado, cidadão e concurseiro e pensa que somente políticos e
servidores comissionados possuem tal desvio de caráter. Essa é uma
falha humana, independente do cargo. Há encostopatas em todos os
lugares e níveis. Aliás, até fora do serviço público, em qualquer estrutura
rígida, como uma grande empresa, por exemplo, há encostopatas
alimentando-se do dinheiro e trabalho alheio.

Um outro detalhe importante: já nessa época, o tempo para mim


significava ainda mais dinheiro. Desenvolvi habilidades e criei uma
estratégia que me fazia ganhar muito fora do tribunal, mas precisava
de tempo para aprimorar essas atividades. Para ser bem honesto eu
ganhava já nesta época, por conta dessa atividade, muito mais que
o desembargador com o qual trabalhava (ou para o qual fazia todo
trabalho, às vezes ainda me confundo sobre isso…), que recebia cerca
de R$35.000,00 líquidos por mês. Mas essa história irei contar em
outro momento…

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Quando fui nomeado para analista, a única coisa mudada foi a
nomenclatura do cargo no meu contracheque e o salário. Todo
resto continuou exatamente igual.

Um servidor de nível médio, com o mesmo tempo de carreira


que eu tinha e a mesma FC (sigla para função de confiança,
plus salarial pelas atribuições), recebe cerca de R$10.000,00
líquidos, ou seja, cerca de R$357,00/hora trabalhada.

Exato!

Um servidor de tribunal de nível médio que trabalha em


gabinete de desembargador e tenha um controle razoável
de sua produtividade ganha na prática mais do que um juiz
substituto, se considerarmos a hora trabalhada.

2. Tesão pelo trabalho - Juiz x servidor

Essencialmente as funções dos juízes e servidores, os quais


executavam as mesmas tarefas que as minhas, eram as
mesmas: decidir conflitos do mundo real que chegam ao poder
judiciário. Porém, a sensação de prazer e satisfação oferecida
pelo trabalho é totalmente diferente para os dois cargos.

Eu sempre soube que o trabalho na maioria dos casos era


meu, mas os louros da vitória eram do juiz (ou desembargador,
dependendo do caso. Desembargador é o juiz que progrediu
na carreira e atua nos tribunais, para você que não é da área).

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No caso desse meu amigo, descobri que, mesmo com pouco
tempo de trabalho, ele já estava com o desejo pela magistratura
bem desgastado. Porque, a princípio, se achava capaz de ter
muito mais impacto social do que consegue ter na prática.
Descobriu, porém, que no mundo real, sequer poderia decidir
livremente sobre os temas que entende mais importantes,
sob pena de criar decisões “para inglês ver”, além de criar
embaraços insustentáveis.

Aliás, ele encontrou muitos entraves até mesmo no trato


com os advogados. Imaginava que poderia e deveria impor
autoridade e acabar com a “bagunça” que alguns advogados
criavam. Que poderia assim resolver problemas e acabar com
tumultos processuais. Doce ilusão. Quando fazia isso, sua vida
virava um inferno!

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Com o tempo, ele acabou se adaptando ao sistema e fazendo
o menos trabalhoso: ser omisso em vários aspectos. Mas até
mesmo o convívio com os outros juízes o desestimulava. Ele
percebia que todos encontravam os mesmos problemas, mas
alguns se sentiam felizes simplesmente pelo prazer de ter o
poder da caneta e a possibilidade de “catracar advogados e
partes”, de vez em quando.

No caso desse meu amigo, eu sabia que ele ganhava mais


dinheiro quando advogava, antes de ser nomeado como juiz. O
que o atraiu foi a carreira, o propósito, e, obviamente, o status
da magistratura.

Mas com o meu trabalho e convívio com vários juízes, eu já sabia


que atrelar esse status de forma automática à magistratura era
uma visão bem romântica do mundo… E romantismo nunca foi
meu forte, confesso. Quando descobri que na prática não era
nada disso, que o real comandante do mundo era o potencial
econômico e muitas vezes o nome da parte no processo, decidi:
essa vida não era para mim.

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Aliás, mesmo o juiz fazendo tudo que entende justo e correto
no primeiro grau de jurisdição, na segunda instância, lá no
Tribunal, tudo mudava. E falo isso com a propriedade de quem
viveu intensamente esse ambiente por 10 anos.

Atualmente, na minha visão, o juiz nada mais é do que


um “servidor com mais status, maiores benefícios e
responsabilidades”. São tantos juízes que eles se tornaram
números, assim como nós servidores sempre fomos tratados.

Porém, o que vejo na prática são muitos juízes esquecendo


da palavrinha mágica responsabilidades, que fiz questão de
destacar no parágrafo acima.

Um juiz tem muito trabalho a fazer. Muito mesmo! É bem


assustador, confesso. Mas se você realmente está obstinado
a realizar esse trabalho, corre sério risco de ter abalos
psicológicos.

Mas o que percebo é que ocorre um fenômeno dividindo a


classe dos juízes: alguns assumem essas responsabilidades
de seus cargos e trabalham de forma insana, enxugando o
gelo do sistema judiciário do Brasil, correndo todos os riscos
mentais inerentes a isso. De outro lado, outros simplesmente
desligam o bom senso e a parte controlando a ética do seu
cérebro, terceirizando todo o trabalho duro para os servidores.

E sabe o pior? É que o juiz que trabalha muito não tem tempo
de “fazer média” com seus pares - a famosa politicagem - e
isso o irá fazer ser prejudicado na evolução da carreira.

Isso mesmo. Os juízes que têm seu trabalho como prioridade


acabam prejudicados. Sendo isso muito visível para todos

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que estão lá dentro. Um exemplo:
Há vários juízes que atuam como
“assistentes da presidência” por
muito tempo. Durante esses
períodos eles ficam afastados da
Vara e atuam apenas com assuntos
administrativos, supostamente
todos de “relevante interesse”
do Tribunal. Normalmente ser
“nomeado” para essa função é algo
bem concorrido, primeiro porque
diminui quase totalmente sua
carga de trabalho e, segundo, você
fica em uma posição politicamente
muito vantajosa, em contato direto
com quem irá votar nos próximos
juízes a serem promovidos na
carreira.

Porém, sinceramente, nessa função


de “assistente da presidência”, na
maioria dos casos, o juiz se sujeita
a virar “assessor de assuntos
aleatórios de desembargadores”.
Por exemplo, se o desembargador
acha que precisa de um novo
carro oficial, menos rodado, ele
liga para esse juiz assistente.
Sério… desse nível! Eu mesmo
já tive de entrar em contato com
juízes nessa posição para discutir
esses “assuntos de extrema
relevância” (ou talvez a mudança da

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escrivaninha da sala do gabinete,
pois a cor não combinava com a
cadeira barcelona nova…). E eles
faziam tudo para solucionar esse
enorme problema prontamente,
para ganhar uns pontinhos com
o(a) desembargador(a).

Já pensou que situação ridícula


deslocar o potencial de trabalho de
um juiz concursado para situações
extremamente fúteis como essa?
Isso acontece com frequência,
infelizmente.

E sabe o pior? Há uma fila de juízes


querendo essa função, seja para
fugir do trabalho de varas atoladas
em trabalho atrasado, seja para
aumentar suas chances de subir
na carreira, fazendo a famigerada
politicagem.

E isso funciona viu?

No final das contas, os critérios


objetivos para promoção de juízes
por merecimento são totalmente
distorcidos na hora da votação.
Invariavelmente aqueles que
conseguem a promoção são os
melhores em termos políticos.
Nesse ponto me lembro de

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uma aula bem no começo do meu curso de Direito, de uma
desembargadora aposentada:

Sabe o motivo pelo qual eu demorei muito para ser


promovida, por antiguidade? Porque eu não jogava bola
e não bebia com os outros juízes. Além disso trabalhava
demais e isso assustava meus colegas.

Só entendi essa mensagem depois de alguns anos no Tribunal…


E inevitavelmente esse seria o meu caminho, por causa de meu
perfil. Porque nunca fui bom em politicagem, mas sempre fui
muito acima da média em produtividade. Esse era um futuro
quase que inevitável caso me tornasse juiz.

Aliás, o que digo aqui, analisado de forma contextual, não se


restringe apenas a juízes e servidores. Em todos os sistemas
isso ocorre. Em outros Poderes com certeza a realidade não
é diferente, bem como em grandes empresas, onde essa
mesma história acontece com frequência. Basta adaptar
as peculiaridades de cada sistema e voilá: encontramos um
padrão!

Encostopatia em todos os níveis e em todas as áreas.

Agora, uma realidade sobre reconhecimento: como servidor


do Judiciário você pode e até inevitavelmente irá resolver os
problemas do mundo real, com uma decisão e fundamentos
que você mesmo criou. Mas lembre-se: a caneta será sempre
do juiz.

E aí a forma como você vai encarar esse fato depende da sua


personalidade…

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Você quer que os outros
saibam que você decidiu
aquele caso? Isso fará
bem para seu ego? Você
quer ter aquela sensação
de autoridade? Quer um
carimbo com seu nome e
abaixo: Juiz Federal?

Se sua resposta foi positiva,


estude para concursos da
magistratura e vire juiz(a)!

E não quero aqui julgar seus


desejos.

Sei que para muitos esse é


um ponto importantíssimo
da vida, algo pelo qual
vale a pena batalhar. Nós
sempre nos esforçamos para
sermos bem vistos pelas
outras pessoas, mesmo
quando achamos que temos
total liberdade em nossas
decisões.

O que quero
alertar é: toda
decisão tem um
preço.

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Fato: o servidor nunca terá reconhecimento público sobre
nenhuma decisão no Poder Judiciário. Na verdade, sinto
informar, na imensa maioria dos casos, também não terá
reconhecimento nem mesmo dos juízes, do tribunal ou até
mesmo da chefia exercida por outro servidor.

Porém, no meu caso, nunca tive tesão pelo reconhecimento


dessa forma.

Dizer que nunca quis reconhecimento pelo meu trabalho


seria uma imensa mentira. Todos queremos isso. Mas nunca
tive aquele tesão exacerbado por status, sabe? Preferia meu
reconhecimento em dinheiro no bolso e tempo de sobra. E
vamos ser honestos? O que eu vejo na prática é que a imensa
maioria dos que desejam ser juízes querem mais a autoridade
que a remuneração.

No meu caso, sabendo que na prática eu ganhava mais do que


um juiz, na minha cabeça eu só poderia optar pela carreira de

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magistrado se desejasse muito ter um poder que nunca tive
em mãos… E esse, definitivamente, não era meu desejo.

E aqui vai um último tapa de realidade sobre o tema.

Assim como os servidores não têm poderes para tomar


determinadas decisões sem a autorização e assinatura de “seu
juiz”, um juiz substituto não tem tantos poderes assim. Ele
normalmente mais se adapta às decisões dos juízes titulares
do que toma suas próprias decisões.

Está incrédulo(a) sobre isso? Um juiz não pode tomar


livremente uma decisão?

Em tese, ele faz o que quiser. Foi contratado para isso, exercer
seu livre convencimento. Mas na prática…. Ah, a prática é outro
mundo.

Um juiz substituto processa e julga nas Varas dos juízes


titulares que, em regra, possuem um fluxo decisório pronto

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e estabilizado, em sintonia com seus servidores assistentes,
a secretaria da Vara (a equipe de servidores). Mas caso ele
queira chegar decidindo tudo conforme sua própria cabeça, ele
criará um verdadeiro caos naquela Vara.

E se fizer isso os servidores da vara não irão gostar. Talvez até


se juntem para fazer corpo mole e atrapalhar tudo (Duvida? -
já vi acontecer, e não apenas uma única vez). Fazendo isso, seu
trabalho e o de todos envolvidos irá aumentar substancialmente.
Nesse caso, o que a imensa maioria faz? Adapta-se ao que o
juiz titular decide, tornando-se adepto ferrenho à mágica do
ctrl c + ctrl v (descanse em paz Larry Tesler, inventor do “copiar
e colar”, o Poder Judiciário deve muito a você!).

Resultado: Para mim o resultado dessa comparação, em


termos de tesão pelo trabalho e propósito, resultou em ligeira
vitória para o juiz.

É claro que o poder e status dos cargos são bem diferentes.


O cargo de juiz tem toda essa “mágica” em sua volta,
principalmente sob o olhar daqueles que não têm essa visão
interna do Judiciário. Mas em contrapartida, a frustração
decorrente da diferença entre uma vista romântica do cargo
de juiz e o mundo real também é algo assustador demais.

Considerados todos esses elementos e especialmente o meu


perfil, a vitória do juiz foi por pouco.

Mas é claro: para algumas muitas pessoas, o status do cargo


de juiz é mais que suficiente para valer qualquer esforço. Eu
sinceramente entendo e respeito muito essa decisão. Mas ela
definitivamente não é para mim.

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C onclusão - Juiz x servidor

Comparando as realidades entre as carreiras de servidor


e juiz, com certeza pude concluir: aquela que escolhi, a de
servidor, foi a melhor para mim.

Embora o propósito e tesão pelo trabalho tenha dado


ligeira vitória à carreira de juiz, a remuneração e qualidade
de vida proporcionadas pela carreira de servidor acabaram
com qualquer dúvida que eu tivesse sobre isso.

A diferença de remuneração global e de status não pagariam


a paz e qualidade de vida tidas como servidor.

Vale destacar que nesse momento já estava “contaminado”


com essa visão interna do sistema judiciário, e um suposto
maior propósito e tesão pelo trabalho no exercício da
carreira de juiz já não me enchia os olhos. Afinal, eu já
conhecia por dentro as falhas estruturais da carreira e isso
me assustava bastante. Além disso, conhecendo meu perfil
de produtividade insanamente acelerada, pela qual sempre
fiz questão de me esforçar muito, sabia que seria pego em
uma grande armadilha.

Agradeço demais ao destino por ter me colocado para


trabalhar desde muito jovem em contato com juízes, bem
como pela oportunidade de descobrir como ganhar muito
mais que eles e com muito menos esforço. Foi minha salvação.

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Comparação 2:
O advogado

E
ssa comparação foi relativamente fácil de ser realizada.
Minha mãe e minha irmã são advogadas, então sempre
tive uma boa noção dos desafios encarados nessa
carreira.

Ser advogado é uma grande aventura.

Trata-se de um mercado extremamente saturado. Em todo


lugar há advogados. O Brasil é uma máquina de criar novos
aplicadores do direito (bonita essa expressão, né?). Mesmo com
o exame da OAB represando muitos candidatos em uma etapa
inicial, são mais de 20 mil novos advogados a cada quadrimestre
no mercado.

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
Alguns poucos ganham muito, enquanto a gigantesca maioria
ganha uma verdadeira merreca. Até aí, nada novo né? Toda
carreira é assim no fim das contas.

Mas a carreira de advogado tem uma peculiaridade que engana


muitos novos entrantes. A imensa maioria acha que precisa
ser bom tecnicamente para ficar rico nesse nicho. E não é nada
disso. Você precisa ser bom em networking e vendas e ter mais
um perfil comercial do que técnico para se dar bem.

Quem possui essas características ganha muito dinheiro e se for


preciso contrata quem é bom tecnicamente em Direito para dar
apoio, algum desses advogados que se esforçou na Academia,
mas que não consegue bons clientes.

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Já sabia disso antes mesmo de entrar na faculdade de Direito.
E uma coisa que me afastou desse perfil foi de fato gostar de
estudar. Sempre gostei da parte técnica e sabia que nessa área
teria muita facilidade em concursos. Além disso, sinceramente
nunca me senti com perfil bom para vendas e networking.

Além disso, no mundo dos concursos existe uma palavrinha


muito forte: estabilidade.

Para ilustrar isso, vou contar uma história. Lembro-me


claramente que um amigo da faculdade que logo no 1º mês
exercendo a advocacia me ligou contando que estava muito
feliz, que tinha feito um acordo e que teria ganhado mais de
R$40.000,00. Disse que nem queria mais estudar para juiz,
que ser advogado era o melhor dos mundos…

Passados 6 meses conversei novamente com ele e essa foi a


notícia: Voltei a estudar. Aqueles R$40.000,00 foi a única
grana de verdade que vi até hoje.

Na advocacia tudo é incerto. Nada é para sempre…

E naquele momento em especial, quando entrei na faculdade,


gostaria de garantir uma remuneração acima da média e
estabilidade. Há pouco tempo minha esposa tinha sido demitida
grávida e isso literalmente acabou com nosso sono por vários
meses. Não queria mais passar nenhum aperto igual a esse,
queria me garantir de uma vez por todas.

Nesse contexto o concurso foi uma decisão quase que natural.

Para você ter uma ideia, nem a prova da OAB eu fiz. No meio
da faculdade já era técnico judiciário. Logo em seguida, ainda

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no meio do curso, passei para analista judiciário, sabendo que
seria incompatível minha função com a carteira da ordem.

Mas no atual momento, com muitas dúvidas rondando meus


pensamentos, fico imaginando: E se eu tivesse me tornado
advogado? Será que teria ficado rico e estaria mais feliz???

Então chegou a hora de entrevistar meu amigo advogado e


descobrir como é a vida profissional dele e quanto ele ganha
por hora trabalhada.

1. Remuneração e Tempo
para Execução - Advogado x servidor

Esse meu amigo não é um dos


advogados mais ricos da cidade.
Também está longe de ser um
iniciante. Ele está localizado bem
no meio do caminho, ganhando
o que um advogado esforçado
consegue após alguns anos de
trabalho.

Uma coisa que descobri e que


me interessou muito é que o
tempo de trabalho dele era
muito variado. Em algumas
semanas ele trabalhava muito
pouco e em outras semanas
trabalhava demais. Essa variação

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
acompanhando seu nível de
remuneração. Quanto mais ele
trabalhava, mais ele ganhava.

Essa lógica me assustou


bastante, pois vai de encontro
ao que eu sempre desejei para
mim. Até por isso sempre fui
atraído pela lógica de negócios
escaláveis, em que exatamente
com o mesmo trabalho você
pode ajudar uma única pessoa
ou milhares e milhares de outras.
Talvez isso explique minha
tendência natural pela procura
de negócios digitais… Afinal,
nesse ramo você trabalha com o
escalável de forma constante.

Mas no caso dos advogados,


por enquanto, essa lógica não
é aplicável. Existem programas
que ajudam a diminuir o
“trabalho braçal”, mas isso
não afasta a necessidade de
acompanhamento muito próximo
de cada etapa.

Esse meu amigo precisou


contratar pessoas para
resolverem a parte administrativa
e ter mais tempo de qualidade.
Ele tinha gastos fixos e sua

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
remuneração variava muito. Também não podia tirar férias do
jeito que gostaria. Sempre era muito difícil parar. Tirava no
máximo alguns dias por ano. Em alguns poucos meses sua
remuneração era bem superior à minha, mas na imensa maioria
dos meses era bem menor.

Resumindo, se tirasse uma média anual comparativa entre


o que nós dois ganhávamos de forma bruta, eu estava
ganhando mais. E no meu caso, como expliquei acima, gastava
trabalhando apenas 1 dia ou 1,5 dia da semana, no máximo.
Nesse comparativo, portanto, em termos de remuneração
por hora trabalhada, a minha carreira ainda era muito mais
vantajosa.

E sabia que o meu amigo não era um ponto médio dos


advogados. Ele era um pouco acima disso. Se comparasse
minha realidade com a média dos advogados, nem teria graça.
Neste ponto minha análise confirmou que a minha carreira foi
uma melhor escolha do que a advocacia.

2. Tesão pelo trabalho - Advogado x servidor

Vou ser bem direto aqui. O tesão do meu amigo pelo trabalho
como advogado era muito baixo, principalmente por dois
fatores:

1. o atendimento a clientes era muito próximo, intenso e o


desgastava muito; e

2. a falta de estabilidade financeira o amedrontava.

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
Atender clientes não é fácil, em qualquer mercado. Porém na
advocacia é ainda mais desgastante, em especial pela falta de
controle sobre prazos e sobre o que irá acontecer.

Quando uma pessoa precisa recorrer ao Judiciário é porque


alguma coisa muito errada aconteceu. Essa pessoa encontrou
um ponto de dor em alguma relação de sua vida. Ela chegou ao
advogado procurando uma solução para acabar com essa dor
o quanto antes. E o advogado pode ter feito o melhor trabalho
possível, com o maior zelo e rapidez que existe nesse mundo,
mas mesmo assim ficará dependente do serviço público…

Já entendeu, né? Se o processo cair em uma boa Vara e com


um bom juiz, o qual saiba o que está fazendo e com boa
produtividade, ótimo! Agora, se cair com um encostopata…
Melhor rezar!

O cliente, porém, não irá entender isso com naturalidade. Ele irá
cobrar o advogado. E ele terá que justificar a falha ou demora
botando a culpa no serviço público, sem ter o poder prático
de resolver esse problema. Isso, por sua vez, gera um stress
contínuo e traz à tona uma imensa sensação de impotência, aos
poucos acabando por destruir suas forças. Sem contar ainda
alguns calotes que ele tomou por aí. Realmente não é fácil…

Só de pensar nisso me arrepio todo. Jamais gostaria de trabalhar


com isso de forma constante.

Vi essa realidade nos olhos do meu amigo enquanto ele me


contava suas histórias.

Esse meu amigo ainda me confirmou que seu sonho seria na


verdade virar juiz, mas que não se sentia disposto a pagar os

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preços do estudo, ainda mais com sua rotina atual. Ainda, ele
já tinha tomado muita “paulada” de juízes por aí, em todos
os sentidos. Ele queria ter esse poder também um dia, para
poder descontar em outros tudo que sofrera nesses anos de
audiências.

Ele achava que seria muito feliz se passasse no concurso de


juiz. Afirmou, inclusive, que mesmo se passasse em um cargo
igual ao meu, de analista judiciário, não pensaria duas vezes e
largaria tudo para ser servidor.

Ganhar R$18.000,00 todo mês, com estabilidade, férias


e sem ter que ficar atendendo clientes ou chorando nos
fóruns para que os servidores simplesmente façam seu
trabalho seria o céu para mim.

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
Apesar de todo esse discurso, tirei alguns pontos positivos da
carreira de advogado. Nela havia alguns desafios que eu não
tinha, como a possibilidade de em algum momento “virar a
chave” e ganhar muito dinheiro.

Ao mesmo tempo em que meu amigo reclamava de sua carreira,


provocava o juiz: “em algum tempo posso estar ganhando
muito, mas muitooooo mais dinheiro que você”.

E é verdade. O negócio de um advogado não tem limites


remuneratórios. O único limite é o potencial econômico de sua
clientela. Mas são poucos os casos de quem ganha dinheiro
nesse volume na área. E normalmente essas pessoas têm
mais um perfil empreendedor do que técnico, como expliquei
anteriormente.

Mais uma vez, analisando os pontos que me interessavam, a


carreira de servidor foi vencedora nesse comparativo.

A carreira de advogado tem muitos prós interessantes e muitos


contras assustadores. Porém, de acordo com o meu perfil e o
estilo de vida que desejo, a carreira de servidor se mostrou
muito mais interessante.

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
C onclusão - Advogado x servidor

Confesso que nessa análise já fui com aquele clima


de “já ganhou”. Fiz questão de reanalisar todos os
fatos, para ter certeza de fazer uma análise justa, mas
o resultado foi inevitável: a carreira de servidor, para
mim, é muito mais vantajosa, em todos os sentidos.

Mesmo sabendo que naturalmente teria uma


produtividade ótima nesse trabalho, a incerteza sobre
a captação de bons clientes e a impossibilidade de
escala direta me afastaram de qualquer raciocínio de
que valeria a pena advogar.

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
Comparação 3:
O gerente de uma
multinacional

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E
ssa comparação era muito mais
imprevisível para mim.

Nunca vivenciei de fato o clima corporativo e


gostaria de descobrir com esse meu amigo como
eu me sentiria na pele dele. Ele entrou em uma
gigantesca multinacional como estagiário e lá fez
carreira, tornando-se gerente, algo raríssimo hoje
em dia.

O meu único parâmetro próximo sobre o trabalho


em empresas privadas de grande porte foi com
minha esposa. Ela entrou como estagiária na
carreira de propagandista e passou por algumas
multinacionais gigantescas da área farmacêutica.
Em poucos anos passou por grandes apuros lá:
foi assediada sexualmente e, após esse episódio,
demitida grávida.

Obviamente ela processou a empresa e ganhou


na Justiça. Mas os danos foram profundos.

Na verdade, esses fatos foram os principais


responsáveis pelo grande desejo que impulsionou
as aprovações dela em concursos públicos. Ela
viu que a realidade nas empresas era muito cruel,
principalmente com as mulheres, e decidiu dar
um basta nessa situação, buscando no concurso
público a independência financeira e estabilidade.
Em dois anos ela conseguiu a aprovação em
um concurso de técnica judiciária de Tribunal
Trabalhista e, mesmo sendo um cargo de nível
médio, sempre teve uma remuneração acima

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
da média, inclusive se fizéssemos
uma comparação com gerentes
dessas empresas. Além de tudo
isso, a estabilidade e qualidade
de vida que os servidores têm são
incomparáveis.

Para que você tenha uma ideia,


recentemente vi um levantamento
da Revista Exame1 que demonstrou
o salário médio de um gerente no
Brasil: R$8.000,00.

Achei esse valor assustadoramente


baixo, principalmente se fizermos
uma comparação com a realidade
das carreiras públicas. Por exemplo,
esse cargo exercido pela minha
esposa, que só exige nível médio,
tem uma remuneração inicial
de R$8.500,00 e, na prática, a
esmagadora maioria dos servidores
desses cargos recebem pelo
menos R$10.000,00, por conta de
adicionais, funções comissionadas
e pela progressão na carreira.

1
https://exame.abril.com.br/carreira/
os-salarios-medios-no-brasil-para-
analista-gerente-e-mais-6-cargos/

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
Mas enfim, mesmo com todos esses fatos bem estabelecidos
em minha mente, queria extrair tudo do meu amigo, para que
pudesse projetar como seria minha vida no mundo corporativo.

Comecemos a nossa análise. Game on!

1.
Remuneração e Tempo para
Execução - Gerente x servidor

Logo nos primeiros momentos do churrasco, já percebi que esse


meu amigo, o qual não via há muitos anos, tinha o trabalho como
núcleo de sua vida. O encontro era em um domingo, não tinha
começado há nem cinco minutos, e ele já estava mandando e
recebendo áudios no WhatsApp sobre o trabalho…

Ele tem uma vida totalmente diferente da minha. É solteiro e


mora sozinho. O trabalho é definitivamente a maior e única
preocupação dele. Tem o sonho de fazer uma meteórica carreira
corporativa e conseguir o reconhecimento de seus amigos e
pares corporativos. Esse é exatamente o perfil dos sonhos das
grandes empresas.

Ele me revelou que estava ganhando quase R$18.000,00 brutos


por mês. Contou ainda que recebe muitos bônus da empresa.
Definitivamente ele ganha muito bem, uma remuneração
muito acima da média. Não bastasse tudo isso, ainda chegou
no encontro com um sedã luxuoso, pago pela empresa.

Nesse caso há claramente vários benefícios nessa carreira que


ele escolheu.

Porém, no capitalismo não existe almoço grátis, certo?

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
O preço que ele paga para receber todas essas vantagens é
praticamente abdicar de sua vida fora da empresa. O pior? Ele
nem percebeu isso…

Ele confirmou que trabalha pelo menos doze horas por dia útil.
E nos finais de semana, mesmo que ele diga que “é de boa”,
trabalha muito. Eu vi isso acontecendo na prática nas poucas
horas em que estávamos juntos.

Em poucas horas de conversa ficou muito claro: ele ficava


inseguro quando não estava no ambiente de trabalho,
pois sempre achava que poderia perder o controle de suas
responsabilidades e a qualquer momento uma “bomba” poderia
explodir no seu colo. Essa preocupação o fazia ficar online em
tempo integral e justificava suas olheiras bem marcadas. Ele
literalmente não conseguia mais se desligar do trabalho!

Algo que já sabia e que ele apenas me confirmou: nem sempre


era possível tirar férias.

Aliás, se quisesse tirar 30 dias seguidos de descanso, só


pedindo demissão…

Ele já teve inclusive de cancelar algumas viagens marcadas


porque teve mudanças urgentes na empresa. Além de todo
esse incômodo, o que ele me disse que mais o enfurecia era o
ar de descaso de seu chefe:

Quando vou marcar minhas férias, mesmo depois de vários


anos sem tirar nem uma semana de folga, meu chefe sempre
faz questão de deixar bem claro que está me fazendo um
grande favor… Ridículo.

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
Para consolidar os dados que precisava, fiz um cálculo
aproximado, convertendo todos benefícios que ele recebia em
dinheiro. Assim cheguei no valor de R$25.000,00 líquidos/
mês.

Considerando sua rotina, em que ele trabalhava doze horas


por dia útil e ainda acabava inevitavelmente trabalhando nos
finais de semana, cheguei a uma carga horária de 280 horas
trabalhadas/mês (22 dias úteis de trabalho no mês + quatro
dias com pelo menos quatro horas de trabalho nos finais de
semana).

Analisando todos esses elementos, esse meu amigo gerente


de uma multinacional recebe apenas R$89,28 por hora
trabalhada.

Em termos bem objetivos, o custo benefício dessa carreira não


é nada bom. Na verdade, na minha cabeça, não faz nenhum
sentido prender-se a uma estrutura como essa.

Em termos de salário/hora eu ganhava quase 5x mais que ele.


A diferença era muito grande.

A minha realidade em qualidade de vida era muito diferente.


Na prática, com o recesso, tinha 50 dias de férias por ano, as
quais poderia marcar sempre com tranquilidade, além de vários
feriados prolongados e exclusivos para servidores, sempre
usados para viajar com a família e com um valor bem abaixo
da alta temporada.

É claro que nesse caso do trabalho de um gerente, a lógica é


diferente do serviço público. A qualquer momento meu amigo
pode ser promovido e escalar esse salário. Porém, seguindo

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
essa mesma lógica, ele poderia ser
demitido a qualquer momento.

Mas mesmo se ele dobrasse sua


remuneração, o que é algo muito, mas
muito difícil, mesmo assim na minha
cabeça não valeria a pena.

Segundo meu amigo explicou, o


crescimento no mundo corporativo é uma
sequência de funis. A cada vez que você
cresce na carreira, há menos oportunidades
e maiores obstáculos para chegar acima
na estrutura empresarial. Ele mesmo sabia
que nos próximos anos seria improvável
uma nova promoção, ocorrendo apenas
se um dos pouquíssimos diretores acima
dele fosse demitido ou por qualquer
outro motivo tenha saído da empresa. As
chances de evolução eram bem pequenas
a partir de agora. Seu crescimento na
empresa já não era algo simples de ser
conseguido.

Mas como já disse várias vezes aqui,


dinheiro é um fator importantíssimo…
Mas definitivamente não é tudo!

Agora vou mostrar o que descobri sobre


o tesão pelo trabalho do meu amigo
gerente.

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2. Tesão pelo trabalho
- Gerente x servidor

Em poucos minutos de conversa já percebi


que o interesse real pelo trabalho desse
meu amigo superou minhas expectativas.
Todos processos realizados na sua
empresa têm uma dinâmica diferente da
do serviço público. As mudanças são mais
ágeis e você realmente é recompensado
pelo seu trabalho de uma forma mais
direta.

Se você se destaca na estrutura deles por


algum fundamento, normalmente recebe
uma gratificação, um reconhecimento,
uma promoção ou algo do gênero.

Esse foi exatamente o caso desse meu


amigo e toda essa trajetória o orgulhava
muito.

Mas as grandes empresas, mesmo que


sigam normalmente essa lógica de
reconhecimento e meritocracia interna,
também têm muitos vícios parecidos com
o do serviço público.

Lembra-se de quando eu disse que um


juiz que se dedica totalmente ao trabalho
e não tem tempo de fazer política não é
promovido? Pois bem, nas empresas esse

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padrão também é um fato, principalmente quando se chega ao
mesmo nível gerencial no qual esse meu amigo está inserido.

E aqui uma nota: esse meu amigo é um ser político nato. Com
certeza ele domina muito mais esse ponto do que a parte técnica
de seu trabalho. E digo ainda com mais certeza: esse fator foi
fundamental para ele conseguir todas essas promoções.

Entenda: a política faz parte da convivência entre os humanos.


Esse fator é inerente a todas relações e aquele que aprende
a navegar nas correntezas das relações interpessoais sempre
terá um enorme destaque.

O que eu critico e sem dúvida faz muito mal a todos os


sistemas é o privilégio extremo dado àqueles que são hábeis
politicamente e se agarram apenas a isso para garantir seus
benefícios. Na verdade, esse fato é talvez o maior câncer das
carreiras públicas. Obviamente isso também é encontrado nas
estruturas privadas, porém, com menos intensidade.

Em grandes empresas, a politicagem faz parte do cotidiano em


todos os níveis. Eu mesmo vivi um grande trauma decorrente
dessa realidade nas empresas. Na verdade, se não fosse por
esse trauma, talvez nem tivesse começado a estudar para
concursos.

Antes de me decidir sobre o estudo para concursos procurei por


uma chance no mundo corporativo. Me candidatei a dezenas
de empregos. Tinha pouca (leia-se, nenhuma) experiência de
trabalho e isso diminuía muito minhas chances. Apesar de
todas limitações, consegui entrar em um processo seletivo
para estagiário em um banco. Vibrei como se fosse uma final
de Copa do Mundo.

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Lembro que fiz uma prova online e passei para a segunda fase,
presencial.

Deveria estar 10h00 na sede do banco, que ficava na Faria


Lima, em São Paulo.

Comprei um terno e peguei o trem para ir ao local da entrevista.


Eu me lembro ainda que estava muito quente nesse dia. E para
chegar no local sabia que seria uma luta no transporte público,
pois nessa época não havia estação de metrô próxima à sede
do banco. Resumindo, foram mais de 3 horas para chegar
no local. E fui em pé até lá, pois tudo estava lotado. Cheguei
molhado de suor.

Havia cerca de 8 pessoas tentando a mesma vaga. Iniciamos


uma dinâmica de grupo.

No final dessa dinâmica, a responsável pela seleção começou


a conversar com uma menina que concorria comigo e com os
demais:

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Você é a Fulana? Você que foi indicado pelo Diretor X?

Acredite, isso aconteceu na minha presença e dos demais


concorrentes para a vaga.

Parece que a intenção realmente era deixar os demais


incomodados com a situação. Estava ao lado da menina
“amiga” do diretor, incrédulo, ouvindo aquela conversa. A
menina confirmou ser a Fulana e as duas começaram a falar
sobre todas as qualidades do Diretor X. Elas conversaram
alguns minutos sobre como o Diretor X era uma pessoa ótima.
Falaram tão bem dele que até comecei a ter afeto pelo cara.

Naquele momento ficou muito claro: a vaga já tinha nome e


sobrenome. Todo processo era apenas “para inglês ver”, para
preenchimento de formalidades da empresa.

Fiquei com muita raiva naquele momento. Só pensava no


dinheiro gasto no terno e na minha camiseta molhada de suor
por baixo e ainda que chegaria ainda mais molhado e com mais
raiva em casa. Depois dessa conversa, inclusive, pedi licença
para tomar água, virei a esquina do corredor e fui embora. Nem
terminei o teste.

Isso que aconteceu comigo já demonstra qual é a realidade


nas empresas. Se isso acontece em simples vagas de estágio,
imagine o que você precisa fazer para chegar em cargos
gerenciais…

Mas, de qualquer forma, essas duas mulheres, a “amiga” do


Diretor X e a recrutadora sem noção, foram dois anjos na minha
vida. Por causa delas (e da minha camisa molhada de suor), eu

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tomei a decisão de estudar como se não houvesse amanhã
para concursos públicos.

Agradeço todos os dias por essa intervenção divina. Sem essa


frustração, talvez minha vida hoje fosse muito pior.

No caminho de volta para casa, ainda no trem, já tinha


tomado a decisão que iria mudar minha vida. Percebi isso:
somente com a aprovação em um concurso poderia nunca
mais me sujeitar a situações como essa.

Agora voltando ao meu amigo gerente:

Ele gerenciava uma equipe gigante na empresa, com objetivos


bem específicos. O próprio fixava esses objetivos e propunha
formas de alcançá-los. É um trabalho muito mais interessante
que o meu atualmente, isso não posso negar. Além disso, sua
função gerava um enorme status. Ele tinha muitos subordinados,
pois era um dos grandes chefes da empresa e também o mais
jovem. Claramente ele se sentia realizado com isso.

Um fator interessante em sua rotina era algo que muitos


desejam: viajar o mundo a trabalho. Ele já tinha conhecido
inúmeros países, sempre viajando pela empresa e com tudo
pago, usufruindo do melhor dos mundos em todas viagens.

Além disso, já morou por alguns meses na Europa, com


todos custos arcados pela empresa. Realmente essa foi uma
experiência incrível.

No começo de sua carreira, ele ficou maravilhado pela


possibilidade de sempre viajar. Porém me contou que não

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aguenta mais esse ritmo e que sempre
é tudo muito corrido e desgastante.
Ele me disse exatamente isso: Não é
turismo, não é prazer… Já encheu o
saco!

Conversando com ele sobre viagens,


percebi: mesmo com essas longas
viagens para o exterior pela empresa,
ele conhecia menos lugares do que
eu e minha família. Ele ficava tão
imerso no trabalho que não conseguia
“turistar por aí”.

Nos últimos seis anos eu, minha


esposa e meu filho viajamos no mínimo
três vezes por ano para o exterior.
Essa foi uma de nossas prioridades
para aproveitar a vida nos últimos
anos. Decidimos desfrutar enquanto
somos jovens e aguentamos andar
bastante para tirar muito proveito
de todos momentos das viagens.
Aproveitamos as férias garantidas
que sempre tivemos e também o
recesso para viajar muito, inclusive
fazendo algumas trips de mais 25
dias consecutivos.

Já no caso do meu amigo gerente,


mesmo com bastante dinheiro no
bolso, ele não poderia aproveitar
esses momentos como nós, por causa

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de suas responsabilidades e porque a empresa não permitia
que ele se afastasse por tanto tempo.

Outro ponto que me chamou a atenção: ele encara desafios


constantemente. As metas fixadas pela empresa normalmente
são bem agressivas e difíceis de serem alcançadas. Existe um
lado positivo e negativo nisso, pois ao mesmo tempo em que é
sempre saudável enfrentarmos desafios no trabalho, o stress
naturalmente aumenta muito. Mas como no meu trabalho não
havia mais nenhum desafio real, esse aspecto me pareceu
muito interessante, pois diferia muito da minha realidade.

Depois de toda essa descrição da vida profissional dele, você


deve estar pensando: Esse cara vive a vida dos sonhos! É
tipo um Lobo de Wall Street! – na parte boa do filme, é claro.

Com certeza ele tem uma vida muito boa e se sente realizado
com o trabalho, embora encontre já algumas arestas que não
lhe dão certeza de que continuará prosperando no mesmo
ritmo que antes em termos profissionais. Na verdade, na minha
escala de tesão pelo trabalho, ele foi o que mais se destacou.
Acho que ele está há tantos anos imerso nos objetivos da
empresa que em sua mente esses se tornaram seus objetivos
pessoais também.

Porém, conhecendo o mundo corporativo pelo aspecto


trabalhista, como eu bem conheço, essa pode ser uma armadilha
perigosa, principalmente pela falta de estabilidade. Sabemos
que as relações de emprego dificilmente duram para sempre.

E sabe que no final das contas ele me pareceu desestimulado


com seu futuro?

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Ele já tem consciência sobre estar em um nível bem alto
na estrutura da empresa e que agora seus horizontes de
crescimento estão mais restritos. Uma nova promoção não será
algo simples… E isso o faz pensar em novas possibilidades.

Conheço inúmeros casos de executivos altamente preparados


que foram desligados das empresas e depois nunca mais
conseguiram um cargo parecido. O mercado de trabalho nunca
é fácil e não há garantia nenhuma para os trabalhadores, de
qualquer nível.

O que acontece na maioria de casos como esse é: caso um


ex gerente ou diretor procure uma nova oportunidade no
mercado de trabalho, encontrará várias dificuldades de
reposicionamento, pois os recrutadores acham que essa
pessoa será muito cara para a vaga ou ela é muito qualificada
para as oportunidades existentes.

Trata-se de uma situação muito complicada, e, acredite, muito


comum.

O único caminho que ele vê pela frente e no qual poderá


ter uma remuneração maior que a sua atual seria o do
empreendedorismo. Parar de trabalhar para os outros e gerar
riqueza para si mesmo. Porém, essa não é uma tarefa simples.
Imagine um negócio próprio em que ele possa ganhar mais de
R$300.000,00 líquidos por ano, para empatar sua remuneração
atual? Isso não é algo simples de ser feito…

E ele sabe disso.

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C onclusão - Gerente x servidor

Mesmo que o trabalho de gerente tenha se destacado


no “índice de tesão” (meio safadinho esse nome, mas
enfim…), mais uma vez acho que minha carreira saiu
como vencedora, principalmente adaptando a rotina
de um gerente com a minha vida e minhas prioridades.

Como disse, meu amigo é solteirão. Sua rotina e


prioridades são totalmente diferentes das minhas. Sua
qualidade de vida, principalmente pela gigantesca carga
horária de trabalho, é muito reduzida. E no meu caso,
um trabalho como esse inevitavelmente me afastaria
do convívio com minha família, minha prioridade.

Em termos de remuneração por hora trabalhada, eu


recebo cerca de cinco vezes o salário do gerente,
considerando ainda apenas minha remuneração do
Tribunal. Além disso, a estabilidade do meu cargo traz
inúmeras vantagens.

Confrontados todos esses pontos, a carreira de servidor


foi a vencedora dessa análise.

A carreira corporativa com certeza é bem interessante,


dependendo das suas prioridades. Mas não trocaria
minha vida pela dele, definitivamente.

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Comparação 4:
O empreendedor

V
amos primeiro esclarecer a situação desse meu amigo
empreendedor. Ele sempre possuiu negócios “físicos”
(entenda-se como aquela empresa que não atua na
internet) e já teve várias lojas em seu segmento. Já ganhou muito
dinheiro em determinados momentos e já faliu algumas outras
vezes.
No momento em que extraí dele todas informações sobre suas
atividades, os negócios estavam indo de vento em popa.
Após alguns anos de incertezas e erros sobre seu modelo de

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negócios, ele acertou a mão e abriu duas novas lojas. Uma estava
sendo muito lucrativa e a outra, mais nova, estava ainda em
transição. Ele me contou estar sendo difícil fazer essa segunda loja
lucrar porque não podia estar nas duas ao mesmo tempo e não
encontrava mão de obra qualificada para ela funcionar bem nas
suas ausências.
Ele tinha muitos desafios nos seus negócios. Todas ações
importantes dependiam dele. Isso me chamou a atenção em relação
aos demais amigos. Nenhuma atividade oferecia mais riscos e mais
possibilidades de ganho do que a dele. Em nenhuma atividade

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tantas responsabilidades eram exclusivas de uma única pessoa.

Sinceramente, esses tipos de desafios para mim foram sempre


muito interessantes. Muito mais do que qualquer desafio
oferecido por qualquer profissão.

Suas lojas exigiam um grande investimento inicial. Com


isso há muitos riscos envolvidos. Pagar aluguel, maquinário,
manutenção, salários de empregados e ainda lucrar nunca é
algo fácil… Pergunte a quem tentou ser empreendedor!

Na minha mente isso sempre foi assustador. Meus pais tiveram


pequenos negócios “físicos” e todos quebraram… (Talvez
tenhamos um trauma aqui certo?)

E talvez (ou com certeza!) isso que tenha me atraído/empurrado


para negócios digitais na vida adulta, que consegui levar de
forma paralela com o serviço público.

Sempre tive muita vontade de criar meu negócio. Sabia que a


melhor forma de realmente transformar vidas e alcançar meus
propósitos era com meu próprio negócio, em um ramo com sentido
para mim. Mas, ao mesmo tempo, sempre tive um bloqueio com
a criação de uma enorme estrutura física para alcançar essa
finalidade.

Então me adaptei ao mundo e criei meu negócio digital: sem


empregados, sem aluguel, com baixíssimo investimento inicial…
O melhor dos mundos!

Como um empresário experiente e acostumado ao “mundo físico”,


esse meu amigo sempre esteve preparado para momentos ruins
nos negócios. Ele via com naturalidade algumas coisas que

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colocam em pânico empreendedores inexperientes.

Porém algo extraordinário aconteceu… E me sinto na obrigação


de compartilhar isso com você.

Nesse exato momento, no qual escrevo sobre isso, estamos no


ápice da crise do coronavírus. Os shoppings estão fechando
suas portas para diminuir as aglomerações e as pessoas em
geral estão com medo de sair de casa. A previsão é de que essa
crise dure pelo menos 4 meses.

E esse meu amigo, com quem acabei de trocar mensagens,


está desesperado sem saber como vai fazer para seu negócio
sobreviver a tudo isso: E se nos próximos meses ninguém
sair de casa??? Como vou ter caixa para não deixar minha
empresa morrer?

Você pode se imaginar na pele de uma pessoa com um negócio


“físico” como esse em tempos de uma crise como essa? Sem
estabilidade nenhuma? Sem um contracheque garantido no
começo do próximo mês? Com vários empregados e suas
famílias dependendo do seu negócio?

Assustador, não é mesmo?

Analisando essa situação confirmei uma das minhas maiores


crenças: diversificar suas fontes de renda é a chave para se
manter saudável financeiramente, aconteça o que acontecer.

Seja você um servidor estável ou um empreendedor com


negócio “físico”, dois extremos em termos de estabilidade, você
só estará realmente garantido quando diversificar suas fontes
de renda.

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Consiga isso e suas dores de cabeça serão muito menores.

Inclusive já estou convencendo meu amigo a montar o negócio


digital dele, para resolver de uma vez por todas qualquer risco…
Com a expertise dele sobre negócios e com fundamentos
simples, que podem ser aprendidos rapidamente sobre negócios
digitais, tenho certeza: em pouco tempo ele vai ter lucros que
talvez nunca tenha imaginado. Mas isso é tema para outro livro.

De qualquer forma, na minha análise, não considerei fatos


extraordinários como a pandemia do COVID-19, até porque
minha análise e decisão foram anteriores à crise. Mas fiz questão
de falar sobre isso para demonstrar que a atividade dele, um
“negócio físico”, é a mais arriscada de todas.

1. Remuneração e Tempo
para Execução - Empreendedor x servidor

Como na maioria dos casos de empreendedores, meu amigo não


tinha um valor fixo relevante todo mês como “salário”. Existe
um pro labore (uma remuneração que o sócio tira por mês da
empresa), mas esse não é o grosso do dinheiro que ele recebe.
Tudo depende da lucratividade e isso é muito variável.

Nesse ponto há diversas similaridades com o advogado. Em

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alguns meses, ele conseguia um lucro muito alto e em outros
meses quase nada. Foi até difícil tirar uma média de qual valor
era recebido por ele como pessoa física.

Após muitas conversas, consegui chegar no valor de R$20.000,00


líquidos por mês. Isso ainda considerando o último ano, no qual
ele conseguiu se recuperar de outros negócios que não deram
certo. Se extraísse um valor médio com uma amostragem de
tempo maior, de dois anos, por exemplo, com certeza essa renda
média seria bem mais baixa.

Porém de qualquer forma, trata-se de uma ótima remuneração,


ainda mais se considerarmos a média salarial do Brasil.

Porém, eu preciso reforçar que meu amigo não é um


empreendedor mediano. Ele é acima da média, tanto em termos
de pensamentos sobre o negócio como na disciplina que sua
função exige. Ele não teve resultados ainda melhores por causa
de fatores alheios ao seu controle (família ê, família á, FAMÍLIA!).
A verdade é que poucos conseguem alcançar esses resultados…
É só pesquisar o número de empresas falidas no Brasil que irá
entender isso.

Além disso, ele trabalha demais. Não existem feriados ou finais


de semana. Mande uma mensagem e pergunte “onde você está”
e ele dirá “no trampo”. Às vezes penso que ele colocou uma
resposta automática no WhatsApp para isso…

Se você acha que meu amigo gerente de multinacional trabalha


demais, com 280 horas mensais, imagine o meu amigo
empreendedor!

Ele trabalha bem mais de 300 horas mensais e isso significa

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que ele recebe míseros R$66,66 por
hora trabalhada!

É claro, no caso dele há possibilidades


reais de escalar muito esses ganhos, mas
há muito trabalho e muitas mudanças
que precisam ser realizadas até lá.

Neste momento fiz uma continha bem


simples para demonstrar como a minha
carreira em termos de remuneração/hora
trabalhada era muito melhor que a dele.

Para que ele empatasse comigo nesse


critério, sua empresa deveria lucrar
mensalmente R$128.400,00.

Note que eu disse lucrar e não faturar.


São coisas bem diferentes, pois o lucro
demonstra o dinheiro que a empresa
pode distribuir para o dono. Ele precisaria
ter um lucro extraordinário para empatar
comigo nesse critério, pensando em
dinheiro limpo na conta.

Sinceramente não vejo sentido em


trabalhar dessa forma que o meu amigo
trabalha, pois o custo-benefício é muito
baixo, ainda mais pelos critérios que
decidi utilizar.

Nesse caso a vitória evidente foi da


carreira de servidor.

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2.
Tesão pelo trabalho
- Empreendedor x servidor

Neste aspecto há alguns pontos importantes a serem analisados


antes de qualquer conclusão, especialmente se levarmos em
consideração que não sou mais um novato no serviço público e
já passei por algumas situações que abalaram bastante minha
paixão pelo exercício de minhas nobres funções.

Dito isso, preciso reforçar que meu “tesão pelo trabalho” era
muito maior no começo da minha carreira no serviço público.
Hoje não tenho nem um décimo daquela vontade inicial insana
de trabalhar e aprender mais e mais sobre minhas funções.

Até pouco tempo, eu me sentia extremamente feliz e


entusiasmado com meu trabalho. Meu índice de “tesão pelo
trabalho” era maior do que o de qualquer um dos meus amigos
que mostrei nesse estudo.

Então, obviamente, se você está lendo isso e acabou de ingressar


no serviço público ou ainda vai começar sua carreira pública,
entenda: o propósito do serviço público é muito forte e você terá
muito ânimo para trabalhar quando for nomeado(a).

Se você está nessa situação, pode contar que o tesão pelo


trabalho como servidor(a) concursado(a) será até mesmo maior
que o de muitos empreendedores.

Afinal você sabe que não é nada fácil passar em um concurso.


Só quem estudou de verdade e se jogou de corpo e alma no
mundo dos concursos sabe todos perrengues para garantir a

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aprovação. Isso, naturalmente, eleva nossas expectativas para
o exercício do cargo. Por isso mesmo, na imensa maioria dos
casos, os novos servidores chegam ao novo trabalho com “a
faca nos dentes”, querendo fazer jus a todo esforço nos estudos.
Como já disse, o propósito no serviço público é sempre muito
nobre. Atendemos à comunidade, resolvemos problemas reais
e fundamentais da sociedade em que somente o Estado pode
atuar. Em um mundo ideal, teríamos todos que seguir com
essa mentalidade durante toda a vida profissional no serviço
público.
Mas a vida real não é um conto de fadas…
Com o passar do tempo, esse nível de interesse pelo
trabalho naturalmente começa a diminuir. Você percebe que
independentemente do quanto você trabalhe, outros servidores
mais antigos ou “mais amigos” terão funções melhores e uma
remuneração maior que a sua, mesmo que eles não trabalhem
com o mesmo nível que você.
Há urubus concursados e comissionados à espreita de novos
servidores, os quais chegam na repartição cheios de vontade,
propósitos e sonhos, apenas esperando para enchê-los de
serviço que sequer seriam de sua responsabilidade.
E você precisa aprender a se defender disso, DESDE O
COMEÇO!
Veja bem: não estou dizendo que você deve se recusar a fazer
todo e qualquer serviço e que deve se igualar a eles. Deve
se esforçar e fazer o melhor o tempo todo. Mas realize isso
e faça uma carga de trabalho justa. Analise o ambiente, faça
uma leitura da carga de trabalho de seus colegas, inclusive
dos mais velhos, e utilize um critério de proporcionalidade.

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Seja político, relacione-se com todos.
Mesmo que não seja seu perfil, esforce-
se. Você colherá muitos frutos em pouco
tempo com essa prática.

Essa falta de “meritocracia objetiva”


(Pleonasmo? Sim! Pleonasmo de reforço!
Apenas para demonstrar a incongruência
do mundo real…) após a nomeação pode
corroer a estrutura de qualquer pessoa
que não tenha noção dessa realidade,
ainda mais após um longo período de
imersão nessa lógica. Portanto, esteja
preparado psicologicamente para isso.

Só de ler esses relatos você já estará


muito na frente de vários colegas que
quebrarão a cara tentando progredir na
carreira apenas com trabalho duro e sem
estratégia nenhuma.

Por isso recomendo demais que você deixe


o romantismo de lado nesse momento e
adote uma estratégia de balanceamento
entre a alta produtividade e o exercício
da política no ambiente de trabalho.

Tenha equilíbrio e lembre-se dessa frase:


Sabe o que você ganha por fazer todo
seu trabalho com rapidez e perfeição
por aqui? Mais trabalho!

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Enquanto você realiza todo trabalho que seu corpo aguenta,
muitos superiores hierárquicos estarão no expediente
pesquisando qual carro irão comprar ou qual viagem irão fazer
com a grana do cargo em comissão deles.

Ter essa noção te fará reduzir drasticamente as possibilidades


de uma eventual frustração por todos esses fatores. Aprenda
com meus erros e acertos e você será um servidor muito mais
feliz.

Por muitos anos bati no peito e dizia “me dá esse processo


aqui que eu resolvo”. Mas fazendo isso os encostopatas
automaticamente começam a jogar todos esses “abacaxis”
para você. E esse acúmulo de trabalho nunca é recompensado
de forma proporcional… Com o tempo, você perde as forças e,
muitas vezes, a cabeça também.

Agora um alívio para você: mesmo que não tome todos esses
cuidados que eu recomendei e sinta na própria carne tudo que
estou adiantando, apenas por esses fatos você não irá se sentir
infeliz pelas escolhas que fez…

Sabe por quê? Porque essa realidade também é notada em


todas as carreiras privadas. Na verdade, isso nem sequer é uma
exclusividade do mundo profissional. Em qualquer estrutura
na qual haja humanos aqueles que possuem dons de bom
relacionamento terão melhores condições na hierarquia.

E todas carreiras públicas são lugares extremamente cômodos


para qualquer pessoa, apesar de todos os pesares. Mesmo com
todos esses problemas nítidos em sua frente, você olha o mundo
ao seu redor e pensa:

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Graças a Deus estudei muito e fui aprovado nesse concurso.
Mesmo com esses problemas eu faço parte de uma classe
diferenciada, que ganha muito acima da média e que não
passa aperto nenhum. Se não fosse isso não sei o que faria
da vida.

Estabilidade, salários sempre garantidos (oremos!), falta de


regras claras sobre produtividade e ausência de estímulo para
novos aprendizados são ótimos elementos para uma vida pacata
e tranquila…

Imagine se você estivesse na minha pele, ganhando um alto


salário e conseguindo fazer toda sua carga semanal de trabalho
em 1 dia de trabalho… Você reclamaria?

Após todos esses relatos, se você está começando ou


recomeçando uma carreira pública, pode ter certeza que no
aspecto “tesão pelo trabalho” a vida de servidor público
provavelmente iria ganhar fácil da carreira de empreendedor!

Na verdade, analisado sob esse prisma, já posso declarar aqui


de boca cheia: a carreira de servidor se sagrou mais uma vez
vencedora nesse comparativo.

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A felicidade
não está
nos números

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B
aseado em todos os dados e percepções colhidos
nesse meu “estudo”, fica claro: a carreira de servidor
sempre foi a opção mais lógica para que eu fosse uma
pessoa mais feliz.

Praticamente em todos os quesitos a carreira pública mostrou


força superior às demais.

Ainda mais se for levada em consideração a minha produtividade


no trabalho e todos fatores importantes para mim e minha
família, por isso seria uma extrema loucura pedir demissão do
meu cargo…

Será mesmo???

Olhando para os números, sim, seria uma loucura total!

Porém, olhando para dentro de mim, era a decisão mais racional


possível.

Sinceramente, viver imerso nessa realidade do serviço


público por um período prolongado pode lhe fazer muito mal,
dependendo do seu perfil.

E acho que esse foi exatamente o meu caso.

No meu caso, o “tesão pelo trabalho” do empreendedor parece


tão mais forte do que o tesão pelo meu trabalho atual que
acho que vale a pena me arriscar nesse novo mundo. Inclusive
esse desejo torna a remuneração, neste momento, uma
preocupação de segundo plano. Ressalto que a remuneração,
no atual estágio de minha vida, pode ficar em segundo plano
porque nos últimos anos criei um colchão mais do que razoável

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para aguentar um longo período de tempo de tormentas
financeiras. Isso torna muito mais fácil poder dizer ao dinheiro:
Adiós amigo, eu não preciso de você para ser feliz.

Além disso, o negócio paralelo que criei já é uma realidade e


está totalmente validado. Para ser bem honesto, hoje em dia
ele é muito mais rentável que o Tribunal para mim.

Entendo que nesse momento o risco vale a pena, mesmo


sabendo que minha carreira no tribunal seja, talvez, a mais
vantajosa existente.

Acabei trabalhando por muitos anos com pessoas que só


queriam os bônus e não os ônus de sua vida profissional.
Isso gerou um grande desgaste que, após todos esses anos,
chegou a um limite. Não consigo sequer trocar mensagens de
WhatsApp com essas pessoas. Estou quase comprando uma
camiseta com a escrita Ranço, apenas para usar no Tribunal…

Outro fator me incomodando demais na minha vida profissional


no serviço público é a falta de desafios reais.

Modéstia à parte, eu já tenho um amplo domínio de tudo que


precisa ser feito nas minhas funções. Estou há praticamente
dez anos realizando as mesmas ações, as quais, mesmo sendo
extremamente técnicas, são repetitivas. Estou em uma zona
de conforto muito grande e isso me incomoda profundamente.
Nas atividades fora do Tribunal, encontro desafios constantes.
Tudo muda muito rápido e eu preciso me adaptar e me
desenvolver muito rapidamente. É tudo muito mais dinâmico.
Mesmo que acabe trabalhando muito mais do que no serviço
público, me divirto intensamente.

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Eu sempre tive uma vontade muito grande de empreender e
sempre confiei em ter habilidades para criar soluções simples
e efetivas para resolver os problemas de outras pessoas, assim
como sempre resolvi os meus próprios desafios. E consegui nos
últimos anos criar uma vida profissional paralela ao tribunal.
Desenvolvi ferramentas que solucionam problemas reais de
outras pessoas, com os mesmos sonhos que um dia já tive:
garantir uma vida confortável com a aprovação em um concurso.
Criei uma estrutura que funciona e ajuda muitas milhares de
pessoas que querem essa mesma vida que conquistei.

Tudo isso também funciona pessoalmente para mim, fazendo


com que alcance novos objetivos pessoais e profissionais.
Inclusive, confesso que toda essa situação, especialmente nos
últimos anos, tem cobrado um preço muito alto: minha saúde.
Ainda, esse sentimento de que seria uma atitude infantil deixar
o meu cargo no Tribunal se tornou uma prisão e me deixou
doente de verdade.

Acabei trabalhando em benefício de algumas pessoas que


colhem os louros do meu trabalho, sequer merecendo nem
metade do salário que ganham e nem mesmo a convivência
comigo. (Tá bom, “me achei” agora, mas vejo isso como uma
evolução e esse pensamento tem me ajudado.)

Esse pensamento me trouxe primeiro crises de ansiedade,


depois se tornando uma espécie de pré-pânico, e logo depois, de
forma inevitável, causaram crises claras de pânico e depressão.
Passei por acompanhamento psiquiátrico e tratamento com
remédios.

E o pior nem foi isso…

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A pior coisa que ocorreu nesse período foi ver meu filho com
sinais de crises de ansiedade, as quais acredito que tiveram
seu nascimento exatamente por conta da minha doença do
trabalho.

Lembra-se que contei que há muitos anos trabalho em home


office? Pois é… Ele via minhas crises no “horário de trabalho” e
absorvia tudo isso como uma esponja. O fato é: meu trabalho e
minha indecisão estavam não apenas me deixando doente, mas
tendo reflexos em minha família. Isso realmente me assustou.
Por isso, não poderia permitir que tal situação se prolongasse.

Com tudo isso bem fundamentado em minha cabeça, creio


que estou pronto para decidir por novas rotas profissionais em
minha vida.

Agradeço ao mundo dos concursos, que possibilitou a criação


de uma estrutura antes impensável para minha família. Acredito
muito que sem essa base jamais poderia pensar em alçar voos
em ares inexplorados e com chances reais de sucesso, como
estou fazendo agora. Também sou grato a todos que me
ajudaram em todos esses anos e todos que por suas ações
ou omissões me fizeram adoecer nesses doze anos de serviço
público.

Na verdade, faço um agradecimento especial a esses últimos.


Sem vocês não poderia ter amadurecido tanto em pouco
tempo e não teria me esforçado incansavelmente para criar
um mecanismo de escape seguro e com alto potencial de
prosperidade. Acredito, também, que ainda estaria na minha
rotina de servidor, sendo mais feliz do que era antes, é claro,
mas nunca mais feliz e realizado do que estou neste exato
momento.

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Agora que fechei o ciclo e cortei minhas relações diretas com
o serviço público, me sinto uma pessoa muito mais confiante
e não tenho mais nenhum resquício da depressão que me
atacou nos últimos anos. Na verdade, desde o dia em que pedi
exoneração, nunca mais tomei nenhum medicamento.

Pois é….

Depois de todos esses anos como servidor,


parece que me tornei empreendedor!

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Aqui acho que já temos
intimidade para revelar um
segredo bem pessoal…

P
or muitos anos fui todos os dias úteis ao Tribunal
de transporte público, normalmente bem lotado,
demorando cerca de 4 horas no total, no trajeto de
ida e volta.

Após um longo período nessa rotina, consegui iniciar um home


office parcial, indo em média duas vezes por semana para o
gabinete. Nessa época, na imensa maioria das vezes em que
estava na capital, eu conseguia carona para voltar de carro
oficial, junto com um(a) juiz(a). Porém, em um determinado
momento, comecei a negar a oferta de carona, arranjando
sempre uma desculpa de ter algum compromisso na capital.

Isso mesmo. Eu trocava uma “escapadinha mais cedo do


trabalho”, na qual poderia pegar uma carona de carro oficial
em um veículo de luxo com motorista à disposição, que me
deixaria literalmente na porta de casa, para ir em pé no trem
lotado embora, depois de um dia cansativo de trabalho.

Tudo isso para não ter que suportar o convívio com uma das
autoridades com as quais trabalhei, sem nenhuma sinergia
com os princípios que eu acreditava, em todos os seus níveis.

No início do meu relacionamento profissional com essa pessoa,


por causa da autoridade inerente ao cargo, bem como pela

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minha falta de experiência dentro do serviço público, eu tinha
um olhar natural de admiração. Porém, após um bom tempo
de convívio no ambiente de trabalho, captei uma verdadeira
e absoluta falta de propósito e comprometimento com um
serviço público eficiente.

Foi algo traumático, em um primeiro momento. Depois do


trauma, veio a revolta. Em seguida, comecei a evitar ao máximo
o convívio. Até decidir romper qualquer tipo de contato. Porém,
não se tratou de um processo simples de desligamento. Uma
relação subordinada em um Tribunal nunca é resolvida de
forma tão simples…

Naquela época eu sempre olhava para essa pessoa e pensava:


Será que um dia eu vou ser assim?

Pois eu duvido que essa pessoa tenha sido assim no começo


de sua carreira. Ela deve ter começado com um propósito
também. Talvez o sistema tenha corroído suas travas éticas no
meio do percurso de sua trajetória profissional…

Ainda havia algo pior. Essa mesma lógica de total desapego


às responsabilidades eu sentia nos meus colegas de
trabalho, especialmente nos servidores mais antigos (quase
exclusivamente com os servidores da “velha guarda”, na
verdade). Isso me amedrontava ainda mais. Não era um padrão
apenas dos juízes, mas de todos que trabalhavam comigo e
estavam ali há muito tempo. Todos se agarravam em alguma
desculpa para justificar suas ações erradas e omissões diárias.
Meu medo maior era isso ser uma consequência sistêmica. Que
todos convivendo e trabalhando nessa realidade acabassem
de forma inevitável agindo assim.

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Lembra-se que disse que em alguns meses inevitavelmente
teria uma “promoção”, que elevaria meu salário para mais de
R$17.000,00 líquidos (depois de todos descontos)?

Algo curioso acontecia quando eu me lembrava dessa situação.


Não me sentia empolgado. Muito pelo contrário. Isso me
assustava demais. Era medo desse novo salário ser minha cova.

Tinha medo que seria algo tão confortável trabalhar 1 dia na


semana e ganhar 13 salários de R$17.000,00 líquidos por
ano que me renderia ao sistema e também me tornaria o que
mais me enojava: um encostopata.

Durante esse período, por causa desse pensamento e do


convívio com essa lógica, desenvolvi uma crise de ansiedade,
que posteriormente passou ao estado pré-pânico, depois pânico
e, consequentemente, depressão.

Fiquei meses sem dormir direito. Descansava no máximo 3h


por noite. Porque, em todas as madrugadas, acordava com forte
palpitação e pensamentos desesperadores sobre meu trabalho.

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Começaram a aparecer manchas e umas espécies de ferimentos
em minha pele, especialmente na área em que a barba cresce.
Nessa época deixei a barba crescer bastante para tentar
esconder isso (ainda bem que ser barbudo tipo lenhador estava
na moda – virei hipster).

Essa doença me perseguiu até o momento de minha exoneração


do cargo. Pois todos os dias em que chegava no Tribunal,
mesmo medicado, entrava em crise.

Aliás, mais um choque de realidade: eu trabalhava na Justiça


do Trabalho, supostamente defensora do polo hipossuficiente.
Mesmo assim, fui discriminado instantaneamente por um(a)
dos(as) juízes(as) com o(a) qual trabalhei (e sua respectiva chefia
de gabinete, é claro), no exato momento no qual descobriram
minha doença.

No momento em que fui diagnosticado com depressão, estando


em tratamento sem que nenhum dos meus colegas soubessem,
minha produtividade inevitavelmente foi afetada.

Para você ter uma ideia, como não conseguia dormir, ficava
esgotado o dia inteiro. E no exato momento em que começava
a escrever qualquer coisa para o trabalho, sentia uma dor
insuportável em minhas costas. Parecia estar trabalhando com
um saco de cimentos nos ombros e que tinha sido atropelado
por um caminhão no dia anterior.

Além disso, uma simples mensagem do grupo do gabinete,


seja do principal e oficial ou do paralelo (do qual o(a)
desembargador(a) não fazia parte), dava o start em uma crise
de ansiedade.

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Acho que já deu para entender qual era o quadro em que vivia
profissionalmente… Talvez você mesmo já tenha passado por
algo parecido… Infelizmente esse é um quadro cada vez mais
comum.

Simplesmente era impossível manter o ritmo de trabalho


dessa forma. Apesar de tudo, mesmo diminuindo meu ritmo de
trabalho em uns 80%, entregava todo trabalho religiosamente,
todas semanas, exatamente igual aos meus colegas.

Nesse período fazíamos revezamento para irmos ao gabinete.


Porém, por causa das minhas crescentes crises, sabia que “teria
um troço” assim que pisasse no Tribunal.

Na verdade, tentei ainda mais uma vez ir lá, mesmo me sentindo


mal desde que acordei. Tomei meu Alprazolam, guardei
algumas cápsulas em minha mochila por precaução e fui que
fui…

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Chegando no Tribunal comecei a ter outra taquicardia e fui
correndo para o setor médico. Contei o que estava acontecendo
ao médico e fui afastado por 15 dias.

Passado isso, no retorno do meu afastamento, a crise começou


bem antes de chegar no tribunal. No meio da estrada, tive uma
crise incontrolável de choro, simplesmente do nada, e quase
bati o carro. Isso foi algo inédito na minha vida. Foi assustador.
Quase perdi o controle do carro na rodovia, a 120km/h.

A situação não estava mais sob meu controle.

Aí não teve jeito… Tive de contar para aqueles com os quais


trabalhava o que estava acontecendo. No caso, mandei
mensagem para o(a) chefe do gabinete “de fato” explicando a
situação e pedindo para trocarem meu turno no gabinete (isso
mesmo, essa “chefe” não exercia o cargo, mas realizava as ações
de chefia, por motivos obscuros… Aí tinha algo estranho… mas
nunca nem procurei saber o porquê…).

Resultado: algumas horas depois já tinham me colocado à


disposição do RH do tribunal, mesmo sem ter absolutamente
nenhum atraso no meu trabalho.

Um detalhe importante é: estava totalmente em dia com todas


minhas tarefas.

Aliás, sabia que nos últimos meses eles me passavam processos


mais complexos que a média. Não era um iniciante no trabalho
em gabinetes como alguns dos meus outros colegas recém
chegados nesse setor. Eu sabia qual era a média de dificuldade
dos processos e mesmo assim não tinha nenhum atraso se
comparado com os demais.

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Simples assim. Apenas me mandaram uma mensagem em texto
algumas horas depois informando que estava à disposição do
setor de gestão de pessoas.

Eles apenas viram uma possibilidade de diminuição no meu


rendimento no futuro, com possíveis afastamentos para tratar
da saúde e se livraram do problema. Fizeram exatamente o
que os piores empregadores fazem.

Acredite se quiser: depois eu fiquei sabendo que a pessoa que


exercia a chefia de gabinete já tinha sido afastada do trabalho
por um problema parecido. Essa doença afeta a todos, inclusive
vasos ruins…

Mas apesar de que isso talvez soe algo muito pesado para quem
está do lado de fora, eu recebi isso com muita naturalidade
naquele momento. Já tinha muita experiência no Tribunal e
sabia como as coisas funcionavam. Era servidor estável e estava
consciente de que não haveria maiores consequências práticas
quando me dispensassem, ao contrário do que acontece nas
carreiras privadas.

É notório que em grandes empresas, quando acontece esse tipo


de situação, poucos meses depois o empregado é demitido,
caso não tenha nenhuma estabilidade. O empregador olha e
pensa:

Ixi, ele está ficando doente… Vai me dar trabalho, custar


muito dinheiro e não vai resolver meu problema… Vou
demitir e achar alguém mais saudável para ficar no lugar
dele. Talvez ache até alguém disposto a ganhar menos e
fazer as mesmas funções.

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Já no meu caso, o máximo que iria acontecer era me colocarem à
disposição do setor de gestão de pessoas e muito provavelmente
no mesmo dia arranjaria um outro lugar para trabalhar
normalmente. Com minha experiência, era bem provável achar
até um ambiente melhor, com volume de trabalho menor e com
a mesma função comissionada.

A estabilidade é uma grande vantagem que só os servidores


concursados têm em casos como esse.

Naquele gabinete, desde o início, sabia que esse seria o


tratamento a ser recebido quando noticiasse minha doença
do trabalho. Tinha certeza quanto a isso desde o primeiro dia
em que aceitei a proposta de lá trabalhar. Sabia que era algo
provisório, apenas até minha exoneração.

Inclusive, no momento em que isso aconteceu, já tinha solicitado


licença para tratar de interesses particulares, sem remuneração.
Já tinha como certo meu desligamento do tribunal em um futuro
bem próximo, desde o dia no qual aceitei a proposta deles.

Nesse setor já havia um histórico de violações dos mais puros e


basilares direitos dos servidores. O ambiente era muito nebuloso.
Todos sabiam disso.

Acostume-se a esse fato. Em grandes órgãos públicos sempre


haverá setores assim…

Mas também não sofra por antecipação. Setores assim são a


extrema minoria. A maioria dos juízes e servidores possuem
características bem melhores do que essas. Eu passei por vários
setores e gabinetes em 10 anos de tribunal, trabalhei com muitos
juízes e desembargadores, e posso confirmar essa realidade.

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
Mas, nesse gabinete, em especial, durei cerca de 6 meses.
Quando saí de lá, rejuvenesci uns 5 anos!

Essa era uma das funções comissionadas que hoje em dia


tenho certeza que não valeram a pena o esforço. Seria uma
opção bem melhor ter gasto esse período trabalhando com a
numeração de folhas de processos ou atendendo balcão de
uma vara superlotada… Seria muito mais feliz.

Além disso, nesse gabinete havia muita influência externa de


origens desconhecidas. Essas influências se transformavam
em ordens para determinados processos alcançarem um
determinado resultado, independente da análise dos termos
do processo. Essas interferências tiravam toda a tecnicidade
das decisões e deixava a nós, servidores, em situações
embaraçosas.

Como não podíamos decidir de forma técnica em alguns casos,


tínhamos ordem para “sabonetar” em alguns temas, ou seja,
inventar argumentos fracos para alcançar aquele resultado
defendido pela “autoridade”. E isso, com certeza, incomodava
todos servidores.

Agora você pode até estar pensando: Como o pessoal que


trabalha nesse local consegue dormir? Isso é muito errado!

Mas sabe, não entendo porque seria possível impor uma culpa
tão pesada a esses colegas. Talvez eu e você, se estivéssemos
na mesma situação, faríamos o mesmo…

O fato é: essas pessoas têm sua única fonte de renda nesse


trabalho como servidores. Na realidade, a única diferença
profissional entre mim e eles era a margem de rendimentos

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
com minhas atividades fora do tribunal, nesse momento já bem
maiores do que o meu salário, permitindo-me agir de forma
diferente e dizer um belo dane-se para aqueles que queriam
me forçar a decidir de forma nebulosa.

Mas em termos bem práticos, os demais servidores estavam


presos a uma estrutura viciada e dependentes de seus salários e
suas funções. Tenho certeza que eles procuravam oportunidade
em gabinetes mais saudáveis e com maior tecnicidade, mas
isso nem sempre é fácil e rápido.

Ali, eles tinham uma boa qualidade de vida, com um trabalho


relativamente tranquilo, apesar desse gigantesco incômodo
com a falta de técnica. A remuneração deles sempre foi
muito acima da média, principalmente no caso daqueles com
cargos em comissão. Em suas cabeças, nesse caso, se eles
não fizessem esse “trabalho sujo”, outro servidor ocuparia seu
lugar, faria o trabalho, ganharia sua CJ (aquela gorda verba
extra que aumenta a remuneração em até mais de R$9.000,00/
mês) e o mundo continuaria o mesmo, com exceção de que
eles passariam a ganhar menos.

O pior de tudo, para concluir, é que essa projeção deles estaria


absolutamente correta… Espero de coração que essa realidade
um dia seja bem diferente.

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Não seja
escravo de
uma função
ou um cargo
comissionado
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Q ual o objeto de maior desejo de um servidor concursado
em termos profissionais? Um bom cargo comissionado!

Acredite, é muito bom receber uma verba a mais em seu salário,


principalmente quando você não esperava por aquilo. Eu tive
muita sorte e desde que fui nomeado no Tribunal, sempre fui
agraciado com no mínimo uma função comissionada.

Na verdade, depois descobri que nem foi tanta sorte assim.

Alguns levantamentos demonstram que cerca de 70% dos


servidores concursados do Judiciário Federal possuem funções
ou cargos comissionados. No 2º grau, essas verbas são ainda
mais comuns, pois praticamente todos os trabalhadores dali
recebem esse plus salarial…

Atualmente um técnico judiciário, cargo de nível médio, em


começo de carreira recebe R$8.500,00, sem contar nenhum
adicional. Esse mesmo servidor, se tiver graduação ou pós
graduação e ainda uma função comissionada das mais comuns,
passa a ganhar mais de R$10.000,00/mês. Muito bom isso né?

Então aqui #ficaadica: se puder escolher o local de atuação em


um Tribunal, prefira o 2º grau! Assim, há chances certeiras de
ter no mínimo uma função comissionada e ainda normalmente
o volume de trabalho é bem menor do que na 1ª instância. Essa
dica vale ouro.

Nesse poder, é bem comum a existência de funções e cargos


comissionados. Na imensa maioria dos casos, apenas os
servidores concursados podem exercer esses cargos e funções.
Na prática, eles se tornam uma parcela salarial que pode
aumentar um pouquinho ou um montão o seu salário.

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
No poder judiciário federal, por exemplo, a menor função (FC)
acrescenta em seu salário cerca de R$1.000,00 e o maior cargo
comissionado (CJ) passa de R$9.000,00.

E você talvez ache que seja muito raro uma verba de cargo
comissionado como essa, certo?

Não é bem assim…

No Tribunal em que eu trabalhava, por exemplo, há 94


desembargadores. Cada gabinete tem quatro CJ’s. Ou seja,
apenas nos gabinetes de desembargadores existem 376
servidores recebendo essas verbas. Isso ainda sem contar em
órgãos como a presidência, vice-presidência, corregedoria… Há
inúmeras oportunidades!

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
Pense ainda como deve ser, por exemplo, no Tribunal de Justiça
de São Paulo. Ele é um órgão estadual, mas é de longe o maior
Tribunal do Brasil. Nele há 360 desembargadores… Faça as
contas!

Aliás, mesmo nos Tribunais Estaduais o salário inicial sendo


menor do que na esfera federal, normalmente as legislações
estaduais permitem benefícios bem maiores, principalmente ao
longo da carreira. É bem comum servidores mais antigos dos
Estados baterem no limite do teto constitucional.

Ou seja, há inúmeras oportunidades para quem está disposto


a correr atrás. Porém, existe um detalhe importantíssimo que
muitos se esquecem.

Essas verbas nunca se tornam suas definitivamente. Antigamente


isso era possível. Atualmente em poucos casos isso ocorre, em
legislações estaduais ainda permitindo essa incorporação. Em
regra, elas apenas ficam com você durante o período em que
você exercer essa função.

Por conta disso, sempre adotei a estratégia de nunca me


acostumar com essas parcelas. Nunca contei com elas para
“fechar” minhas contas mensais, por exemplo. Sempre as tratei
como uma reserva que deveria se tornar um investimento.

Conheço inúmeras pessoas que dependiam totalmente das verbas


para conseguir ficar em dia com suas finanças e, invariavelmente,
elas tinham problemas financeiros. Mais cedo ou mais tarde elas
perderiam essas verbas e entrariam em apuros.

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
Imagine um momento no qual suas contas estão apertadas,
porque você virou chefe e, ao mesmo tempo em que engordou
seu contracheque, subiu de forma proporcional seu padrão
de vida. Mas, em um instante, você perdeu sua verba em
comissão e ficou com um rombo de R$7.000,00 mensais em
seu orçamento.

Além do mais, normalmente nesses casos de servidores nessa


situação a fonte de renda é “travada”, não há possibilidade de
você “dar um jeitinho” e aumentar sua renda imediatamente
(pelo menos não de forma lícita). Imaginou o caos que pode
acontecer?

Ficar dependente dessa verba pode se tornar uma grande


prisão.

Liberdade para mim sempre foi o bem mais importante da


vida. Sem ela todo o restante perde o sentido. A liberdade
de não depender de politicagem das grandes empresas foi o
que me atraiu no mundo dos concursos. A liberdade de poder
me defender de um eventual chefe inescrupuloso também se
insere nesse conceito. E nunca deixaria uma “verbinha” tirar de
minhas mãos o meu bem mais precioso.

Há inúmeros casos de servidores que ficam dependentes,


principalmente de CJs (cargos de chefia com valor de verba
mais alto), e acabam tendo de engolir muitos sapos de outros
servidores e juízes com encostopatia de todos os gêneros
imagináveis. Essa, sem dúvida, é uma prisão que você deve
evitar. A maioria dessas verbas na verdade nem valem tanto a
pena.

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
Então, fique atento às suas escolhas nesse sentido. Nem toda
verba comissionada vale a pena. A maioria delas não paga sua
paz de espírito. Analise bem cada caso.

Aliás, pensando nisso, sabe qual foi o meu primeiro objetivo


quando decidi criar meu primeiro produto digital, enquanto
ainda era servidor concursado? “Empatar” o valor da função
comissionada que recebia na época, que correspondia a cerca
de R$2.000,00 líquidos por mês. Minha ideia era, com isso,
me tornar ainda mais independente em minhas decisões
profissionais, podendo bater de frente com decisões arbitrárias
do gabinete ao qual estava vinculado e com ampla autorização
para ligar a tecla f@d4-se para eles, caso fosse necessário.

Nos primeiros dias de lançamento do meu primeiro livro digital


já tinha batido minha meta pessoal de alguns meses. Nessa
época me senti muito mais confiante para me defender de
todas arbitrariedades.

A partir desse momento, tomei uma dose extra de coragem


para dizer muitos e muitos “nãos” para todos abusos sofridos
constantemente de colegas servidores e, especialmente, do juiz
ao qual estava vinculado. Na minha cabeça, já tinha diminuído
totalmente meus riscos de problemas financeiros.

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
Não fosse por isso, provavelmente teria adoecido com muito
mais velocidade, pois já apresentava sintomas de pré-pânico
relacionado ao trabalho no tribunal nessa época.

A liberdade que eu senti nesse momento foi tão forte que se


tornou um vício. Não pude parar. Continuei aprendendo e
divulgando cada vez mais meu trabalho no mundo digital, com
uma nova e ambiciosa meta: “empatar” minha remuneração
líquida de forma constante por pelo menos seis meses. Menos
de um ano depois, a nova meta, que era extremamente agressiva
naquela época para mim, estava batida. Na verdade, dei uma de
Tia Dilma e dobrei a meta.

A sensação de liberdade então se tornou uma irreversível


sensação de revolta.

Como na minha cabeça já existia a possibilidade de realmente me


desligar do tribunal assim que quisesse, acabando com aquele
sentimento de dependência natural de qualquer trabalhador
com contracheque, comecei a me sentir mal pensando em todas
situações escrotas pelas quais passei. Comecei a me questionar
se tudo aquilo que aguentei valeu realmente a pena.

Creio que caso não tivesse outras possibilidades de fazer


dinheiro em minha vida, nunca teria tido tanta revolta por causa
disso, até porque essa era a realidade de milhares de outros
servidores. E apesar de eventuais incômodos no trabalho, a vida
concursada é muito tranquila e rentável se comparada com o
mundo exterior.

Sempre haverá um incômodo, em qualquer atividade. Ilude-


se quem pensa que existe profissão perfeita. Porém quando
você percebe que existem mais possibilidades em sua vida, os

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
questionamentos naturalmente aumentam. Exatamente nesse
período, acabou acontecendo um fato emblemático.

Lembro que mais ou menos nessa época nosso gabinete era a


bola da vez no plantão judiciário. E adivinhe quem foi o escolhido
para ser o responsável para ficar de plantão? Eu, é claro! Como
sempre, aliás…

Isso mesmo. Eu, simples “assistente”, cargo abaixo dos


“assessores” e da “chefe de gabinete” na estrutura do gabinete,
fui responsável por segurar a bomba. Mas até então nem liguei,
pois nos últimos anos já tinha sido dessa forma. Já há alguns
anos, para dizer a real, eu era responsável pelas tarefas de maior
complexidade do gabinete, como os processos de competência
originária do Tribunal. Ainda, estava amaciado pelos anos de
desvio de função em que estava imerso e ainda nem reclamava
tanto disso.

Mas, nesse plantão, algo extraordinário aconteceu.

Houve uma greve de um hospital público municipal. Os


servidores fecharam o hospital, com centenas de pessoas
querendo atendimento médico, e o Município ingressou com
ação para determinar o fim da greve e reabertura imediata do
hospital.

A responsabilidade pela análise era do “meu juiz” do momento.


Ao verificar a urgência do caso, mandei a ele uma mensagem de
WhatsApp.

Ele perguntou o que era e expliquei se tratar de uma greve na


qual era preciso decidir rapidamente e que havia interesses
sérios em jogo.

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
Quando expliquei isso, ele
simplesmente desligou seu aparelho,
ficando incomunicável. Tanto que as
mensagens sobre o que tinha pensado
da decisão nem chegaram no aparelho
dele. Ficou aquele tiquezinho único do
WhatsApp ( ), sabe?

Me senti na pele de um namoradinho


chato que manda mensagem para sua
ex e não consegue nada além de uma
mensagem não correspondida, e que
fica vendo, a cada cinco minutos, se o
destinatário ficará online.

Exato. Simples assim.

Ele ligou a tecla f@d4-se para mim


e, pior ainda, para sua nobre função e
para um problema real da sociedade
que ele tinha a obrigação de resolver
prontamente, e para a qual era
MUITO BEM REMUNERADO.
Naquele momento ainda tinha alguma
esperança de que ele tivesse o mínimo
de bom senso e ética. Depois desse
episódio, fiquei com sérias dúvidas se
ele realmente era humano…

Eu estava com seu token, que é sua


assinatura digital nos processos. Eu
tinha sua senha. Eu decidi o processo.

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
Esse era sempre o nível de todas
“decisões”. Eu decidia tudo sem a
autoridade nem saber do que se
tratava. Se inserisse uma receita de
bolo no meio de um mandado de
segurança e publicasse a pessoa só
saberia do ocorrido quando fossem
tirar sarro dela…

Quando havia a necessidade de que


ele votasse na formação de súmulas
do tribunal, talvez o ponto mais crítico
e decisivo em que um juiz possa
atuar, ele e a chefia de gabinete
me ligavam para perguntar: Qual o
entendimento do Dr. X sobre os
temas das súmulas?

Ele estava tão desconectado de


seu “trabalho” que não sabia seus
próprios entendimentos. Esse era
o nível de comprometimento dele
com a jurisdição. Porém, apesar de
tudo, não iria deixar que um caso
seríssimo como esse, um hospital
literalmente fechado, fosse afetado
pela falta de comprometimento de
um encostopata. Portanto, fiz tudo
que tinha que ser feito, mesmo sem a
anuência dele.

No dia seguinte, era dia de sessão.

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Então, era o único dia da semana em que ele ia trabalhar no
Tribunal. Sabia que inevitavelmente iria encontrá-lo por lá.
Pensei que ele entraria e daria alguma desculpa esfarrapada
sobre seu celular ter dado problema, ou algo do gênero.

Mas ele nem sem se preocupou com isso. Eu juro para você,
ele entrou rindo no gabinete.

Já tinha avisado a todos colegas o acontecido e expliquei que


estava prestes a mandá-lo para o devido e merecido lugar,
caso houvesse a oportunidade. Informei que, quando ele
chegasse, eu sairia para almoçar e não voltaria mais enquanto
ele estivesse no mesmo ambiente.

Ele me cumprimentou, rindo ainda, e perguntou: Deu tudo


certo naquele processo?

Tinha uma cadeira do meu lado. Juro, imaginei em minha


cabeça qual seria o impacto na minha carreira se desse uma
cadeirada em um desembargador. Como a projeção não foi
muito satisfatória, desisti disso instantaneamente. Demorei
alguns segundos, engoli seco, balancei a cabeça positivamente
e avisei: Está com o(a) Fulano(a) - chefe de gabinete.

Virei as costas, peguei minha mochila e sai da sala. No mesmo


dia, a chefia de gabinete me contou que o juiz sequer perguntou
o que realmente tinha acontecido no processo…

Senhoras e senhores, esse foi um retrato fidedigno de uma


parte relevante da atuação do Poder Judiciário Brasileiro: Um
mero servidor resolveu um caso urgente em que um juiz sequer
se deu ao trabalho de ler a primeira página da petição inicial.

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
Esse padrão se repete em muitas áreas do Judiciário e de todo
serviço público, INFELIZMENTE.

Se não fossem os servidores que trabalham nos bastidores,


nada do judiciário funcionaria. Repito: nada!

Ainda é bem provável que tenha saído em jornais locais a


decisão do nobre desembargador, que resolveu o “caso da
greve no hospital”. Ele deve ter contado a amigos da socialite
que teve “uma atuação altamente relevante na resolução do
litígio e blá, blá, blá…”.

Nesse dia mesmo nem fui almoçar. Estava com o estômago


embrulhado.

Decidi pegar meu querido trenzão e ir embora para casa.


Durante o caminho, em pé, fiquei fazendo algumas contas…

Naquele momento, contando minha renda com o tribunal e


meu trabalho com marketing digital, no mínimo eu ganhava
o mesmo que o “meu juiz” recebia de forma líquida. Minha
renda fora do tribunal já era superior à minha remuneração de
analista.

E sabe que o padrão de vida de minha família não subiu


automaticamente com minha renda total? Sempre fui muito
controlado nesse ponto.

Para dizer a verdade, tudo que recebia na minha atividade


empreendedora era destinada a investimentos. Aliás, só
contando com minha remuneração do tribunal eu pagava todas
contas do mês da família inteira e ainda sobrava cerca de 20%
para aumentar a bola de neve dos meus investimentos.

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
E fiquei pensando cá com meus botões: Para que estou
guardando tanto dinheiro e aguentando essa convivência
com pessoas que não tem nenhuma sinergia comigo? E o
pior é que isso está me deixando doente…

Se eu gastar a energia perdida na minha função de


servidor é bem provável eu multiplicar meus ganhos no
empreendedorismo… Atualmente faz mais sentido eu
focar nisso do que ficar fazendo todo trabalho de algum
fanfarrão do dinheiro público.

Por coincidência, mais uma vez no trem lotado, em pé, totalmente


frustrado e contrariado, tomei mais uma decisão importante
em minha vida: dar um jeito de sair do mundo concursado e
fazer minha transição para o mundo dos negócios. Deve ser
por isso que gosto de andar de metrô e trem.

Sempre que viajo com minha família para qualquer lugar do


mundo, sempre faço questão de usar esse transporte. Muitas
decisões importantes da minha vida tiveram início neles.

E sabe que só percebi isso agora, escrevendo esse texto???

Preciso voltar a andar mais de trem…

No mesmo dia, já em casa tracei minha estratégia de saída e


decidi me desligar daquele gabinete. Contei à minha esposa o
que queria e ela, apesar de assustada, me apoiou totalmente.

Precisava de uma estratégia bem delineada para isso, pois


sabia que ele e os demais servidores não queriam que eu
saísse, afinal sempre foi cômodo me passar os processos mais
urgentes e desafogar os atrasos dos colegas me enchendo de

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
processos extras. E, na prática,
se eles quisessem me segurar,
poderiam complicar as coisas
para mim.

Mas para tudo há uma solução,


certo?

No meu caso, eu precisaria me


tornar dispensável, substituível.
Precisaria me equiparar aos
colegas do gabinete. E a
solução era simples: precisava
diminuir minha produtividade.
Fui obrigado a diminuir
consideravelmente minha
produtividade para que fosse
liberado de forma tranquila.
Isso, honestamente, me
machucou muito.

Acredite, paguei um preço alto


fazendo isso.

Sabia que a única forma de


me tornar dispensável era
equiparar minha produtividade
e proatividade com os demais
servidores, inclusive dois
encostapatas crônicos com a
mesma função que a minha.

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
Para você ter uma ideia, eu normalmente conseguia realizar
o mesmo volume de trabalho desses dois servidores em bem
menos de um dia. Ainda, apesar de tudo isso, eles tinham a
capacidade de atrasar seus processos para barganhar uma
diminuição no volume de trabalho. Eles eram o retrato do
servidor mal falado pela imprensa, sabe? Aqueles típicos
“braços curtos”, parados no tempo e gastando mais energia
pensando em formas de ter vantagens de todos os níveis
do que realizar suas funções, para as quais eram muito bem
remunerados (nos bastidores com os outros colegas falávamos
sobre eles em código, falando com o codinome Horácio, um
dinossauro com bracinhos bem curtos, personagem da Turma
da Mônica - Google it!).

Fiquei muito mal por ter que fazer isso.

Me sentia um verdadeiro lixo humano em alguns momentos,


pois tive que me equiparar ao que mais criticava e desprezava.
Fazia julgamentos constantes sobre essa decisão e sempre me
declarava culpado. Mas era a única forma racional de conseguir
minha liberdade e fazer minha transição para uma saída do
serviço público com o menor traumatismo possível.

No final, a estratégia deu certo.

Em poucos meses consegui me desligar do gabinete. Em


seguida pedi minha licença sem remuneração, que foi negada.
Logo em seguida pedi minha exoneração. Mas eu só consegui
tomar essa decisão inicialmente porque não estava dependente
de minha verba comissionada.

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Dhemyson Gabriel Martins Carvalho - dhemysonmartins8@gmail.com - CPF: 084.759.823-36
Só consegui ir além e pedir minha exoneração porque já tinha
conseguido quitar todas minhas dívidas, feito um patrimônio
considerável, um confortável colchão de emergência para
qualquer crise, me sentia seguro com minha atividade
empreendedora e sabia que não colocaria minha família em
apuros.

Recomendo a todos fazerem


o mesmo com a sua vida!

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Comissionados
x
Concursados

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O
primeiro cargo que exerci foi em uma prefeitura.
Tratava-se de um cargo do baixo clero, com um
salário de R$1.400,00 (cerca de 3 salários mínimos
na época).

Nem tinha muitas pretensões com esse concurso e ele meio


que “caiu no meu colo”. Na verdade, praticamente não estudei
para ele. Fiz minha inscrição porque era em uma cidade colada
à minha e meu pai que me avisou sobre sua existência. Nessa
época, estudava para outros concursos melhores e acabei
estudando para ele apenas na semana que antecedeu a prova.
Em consequência de minha estratégia (e de um pouco de sorte
em duas questões, confesso), consegui ficar em 3º lugar na lista
de aprovados, em um cargo que tinha três vagas. Dei ainda
mais sorte e fui nomeado rapidamente para ele, em cerca de
quatro meses.

Lá, conheci a realidade de muitos órgãos do Brasil,


especialmente os menores ou ligados ao Poder Executivo e
Legislativo: os comissionados dominam o serviço público.

E existem algumas peculiaridades nesse caso dos


comissionados. Eles sempre são indicados puramente políticos
e, mesmo trabalhando em funções técnicas, raramente têm o
preparo necessário para sua função.

Repito aqui. R A R A M E N T E são pessoas dotadas de


conhecimento técnico elevado.

Veja o meu exemplo na prefeitura. Eu e mais dois servidores


fomos lotados na Secretaria de Planejamento, no setor de
licitações. Trata-se de um setor que PRECISA de pessoal com
conhecimento técnico, pois trata de assuntos e procedimentos

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totalmente regulados pela Lei. Esse ainda é um setor
extremamente sensível, pois afeta diretamente o que mais
importa em qualquer órgão público: a eficiência dos gastos.
Mesmo assim, com essa notória necessidade de pessoal técnico
e preparado para as dificuldades inerentes do setor, não havia
quase ninguém sabendo realmente o que estava fazendo.

Nessa época, estava no começo da faculdade de direito e nunca


nem tinha visto qualquer aula sobre direito administrativo. Tudo
que sabia da matéria aprendi estudando para concursos. E mesmo
assim, sendo totalmente honesto com você, lendo esse texto, eu
sabia mais sobre o tema do que os advogados comissionados
lotados na secretaria.

Pode até parecer ser uma mentira ou talvez uma soberba de


minha parte, não é mesmo? Então deixe-me contar um “causo”
que irá explicar o despreparo puro e absoluto de alguns.

Certa vez estava discutindo com outro servidor comissionado,


mas não diretor, sobre uma mudança que teríamos em breve na
prefeitura, a qual mudaria o regime celetista (empregados públicos
regidos pela CLT) para estatutário (regidos por um estatuto, uma
lei específica sobre o tema). Conceitos simples, ainda mais para
quem é formado ou está em uma faculdade de Direito. Ao ouvir
essa conversa, um dos advogados comissionados me indagou:
Estatutário? Como assim? Eu achei que era brincadeira e fiz
piada da situação. Mas no final das contas percebemos que era
sério… Ele não sabia o que significava o termo estatutário.

Veja bem. Se você não é formado em direito, é plenamente normal


não saber do que se trata esse termo. Até se você for formado na
área e por acaso nunca tenha trabalhado no serviço público ou
com Direito Administrativo, entenderia o desconhecimento…

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Mas um “adEvogado” de um município que está em plena
transição de regime não saber do que se estávamos falando
foi algo assustador. Desconfio até hoje que essa pessoa atue
com carteira da OAB sendo analfabeta funcional.

Aliás, um número importante e interessante sobre essa


comparação entre concursados e comissionados. Nessa
secretaria havia 7 diretores que na época ganhavam mais de
R$6.000,00. A maioria deles, inclusive meu chefe direto, não
tinham nível superior.

Sinceramente, uns dois ou três realmente trabalhavam ali, os


demais eu nem sabia o que faziam… Inclusive, em tempos de
eleição, eles nem apareciam. Apenas deixavam seus casacos nas
cadeiras e iam embora fazer sabe-se lá o quê. Em contraponto,
apenas eu e mais dois éramos realmente concursados. Alguns
outros eram estáveis porque ingressaram na prefeitura bem
antes da Constituição de 1988.

Eram muitos caciques para poucos índios.

Além desses diretores, existiam alguns outros cargos


comissionados, além da secretária da pasta do governo. E a
galera não sabia o que estava fazendo, literalmente.

Ali vi uma aberração maior que a outra, e olhe que eu mesmo


nem tinha muita noção do mundo, pois tinha apenas 22 anos e
uma experiência profissional muito restrita. Mas mesmo assim
ficava assustado. O fato é que eu ou qualquer outro colega
concursado daquela secretaria poderíamos tranquilamente
fazer todo trabalho de todos esses diretores, mesmo esses
comissionados desaparecendo de uma hora para a outra.

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A presença deles ali era um puro e extremo
desperdício de dinheiro público.

Lembro muito bem de um episódio


em que a substituta da Secretária de
Planejamento (que ganhava cerca de
R$10.000,00, no ano de 2009, mais de
20 salários mínimos da época), pediu que
eu fosse até a sala dela.

Nunca tinha sequer conversado com essa


pessoa. Meu trabalho era no andar de
cima, trabalhando com minutas de editais
de licitações e outros temas diretamente
ligados às compras. Ao entrar na sala,
em nenhum momento ela me olhou nos
olhos. Ela estava com os pés na mesa e
fazendo a unha. Parecia uma imagem de
filme de comédia. E ela me disse:

Viu, me disseram que você é muito bom


com planilhas. Eu não sei mexer direito
no computador e preciso que você dê
uma olhadinha nesses arquivos aqui e
faça as planilhas para mim.

Tentei questionar exatamente do que se


tratavam as “planilhas”. Mas sinceramente
ficou bem claro que nem ela sabia
exatamente do que se tratava. Ela tão
somente me deu um pendrive, então subi
para meu setor e abri os arquivos no meu
computador. Ao bater o olho, percebi

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que se tratava do Plano Plurianual do
Município. Era uma cópia de uma planilha
de um PPA de outro Município, em que
o prefeito era do mesmo partido. Até o
brasão da cidade dele estava lá ainda.

Ao bater os olhos no arquivo, pensei:


Tranquilo, deve ser apenas para
formatar. Porém, percebi rapidamente
os dados quase todos incompletos
e sempre com a célula pintada de
vermelho nos campos que precisavam
de preenchimento.

Aí caiu a ficha. Como assim? Ela quer que


eu realmente faça a projeção do nosso
Plano Plurianual? Eu que vou me reunir
com o Prefeito, os demais Secretários e
decidir o futuro do município com eles?
Acho que ela nem sabe o que significa
Plano Plurianual, Lei de Diretrizes
Orçamentárias e tudo mais… Será que
tive uma promoção?

Chamei um dos meus 7 chefes


comissionados, mostrei a planilha e
contei o que ela me disse, o que não tinha
me dito e o que eu achei que ela queria
dizer.

Ele não sabia do que se tratava. Porém


esse meu chefe, mesmo sem ter formação
acadêmica nenhuma, era mais esperto e

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mais inteligente do que muitos outros comissionados formados
em humanas da USP que estavam por ali. Em pouco tempo
ele entendeu o que a “nova chefinha” estava querendo me
passar: o trabalho inteiro dela.

Na hora ele ficou assustado e ligou a para secretária titular,


contando o que aconteceu. A secretária titular não titubeou:
largou as férias e foi lá resolver o problema pessoalmente.
No dia seguinte colocaram a substituta manicure lotada em
outra secretaria, com a mesma remuneração, e a vida seguiu.

Depois de alguns dias descobri que nossa manicure municipal


oficial já tinha sido Secretária de Planejamento de um Estado
da Região Norte por alguns meses. Fiquei embasbacado, mas
pesquisei e descobri que não era fake news. Com certeza era
alguém de costas largas. Triste para o país e coitado daquele
estado…

Já que falei acima “triste para o país”, faço aqui uma observação
importante sobre cargos comissionados e os cofres públicos
e privados. Naquele município TODOS OS SERVIDORES
COMISSIONADOS contribuíam “espontaneamente” com o
partido ao qual estavam vinculados com pelo menos 20% de
seu salário. E “ÁÁÁÍ” de você se não contribuísse… Seu cargo
já era.

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Alguns meses depois vi um levantamento demonstrando
que apenas no executivo federal, na época ainda do Governo
Dilma, existiam mais de 10 mil cargos comissionados, direta
ou indiretamente vinculados à presidência.

Pensando que no executivo federal os salários são normalmente


bem maiores do que nos Estados e Municípios, chutando
aqui uma média de remuneração desses comissionados em
R$10.000,00/mês, cheguei em um número assustador que
demonstra como um partido pode enriquecer com esse sistema
de doação compulsória: R$20.000.000,00 / mês.

São muitos números então vou escrever para ficar claro: São 20
MILHÕES DE REAIS POR MÊS, ou seja, 260 milhões de reais
(considerado o 13º salário), que um partido pode arrecadar
por ano com uma estrutura de servidores comissionados como
essa, que “doam” 20% de sua remuneração.

E isso me fez pensar: Será que nessa esfera a produtividade


dos comissionados é tão ridícula como a dos que conviveram
comigo? Se esse pensamento for verdade, jogamos 1,3
bilhão de reais de dinheiro público no lixo todos os anos
com esses salários e ainda enriquecemos os partidos
vencedores da eleição em ¼ de bilhão a cada ano… E isso
só na esfera federal.

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Se esse dinheiro fosse direcionado para a contratação de
servidores, peritos em suas áreas e contratados com a chancela
do concurso público, provavelmente tivéssemos um serviço
público de 1º mundo no Brasil.

É claro que o sistema do concurso não é perfeito. Há muito a


ser melhorado.

Mas minha experiência nos dois mundos demonstrou claramente:


o sistema de comissionamento fica muito atrás do sistema que
tem como princípio fundamental o concurso público. Podemos
até pensar que em um mundo ideal seria possível uma fórmula
híbrida. Mas se levarmos em consideração a cultura brasileira
de privilegiar família e amigos em detrimento da comunidade,
não vejo outra hipótese mais vantajosa do que o concurso.

Desde o momento em que assumi meu cargo na prefeitura,


sabia que ficaria apenas de forma transitória por ali e isso
tornou esse período muito mais suportável. Sabia que ficaria
no meio daquele pântano por pouco tempo.

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Continuava estudando forte para outros concursos todos os
dias, pensando nos cargos que realmente gostaria de exercer,
principalmente no Poder Judiciário Federal. Logo no começo do
meu trabalho na prefeitura fiz a prova do Tribunal do Trabalho
de São Paulo e fui aprovado em uma ótima colocação, a qual me
deu a perspectiva de ser nomeado logo na primeira chamada.
Porém isso acabou demorando mais que o esperado, por
causa de toda burocracia. Fiquei um ano e meio na prefeitura e
acabei nesse período passando em vários outros concursos de
diversas áreas também.

Sempre trabalhei bem e entregava tudo além do que me era


pedido. Isso criou uma certa dependência no setor em relação
ao meu trabalho, especialmente para meu chefe imediato, o
qual não tinha conhecimento técnico profundo sobre o que
fazíamos. Ele era um ser totalmente voltado para a política.

Tanto que quando avisei sobre ter saído minha nomeação ele
me ofereceu um cargo comissionado na prefeitura, dizendo
que teria ainda mais possibilidades lá dentro. Agradeci, mas
neguei a oferta. O cargo oferecido, inclusive, tinha salário mais

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baixo do que ganharia como técnico do Tribunal. Como não
tinha padrinho político nenhum ali, era tudo que poderiam me
oferecer…

Seguir com a vida concursada, no fim, foi a decisão mais


acertada da minha vida para aquele momento.

No Poder Judiciário, apesar de todos os pesares, o trabalho é


dominado por servidores concursados. Isso, no fim, se reflete
na sua qualidade de trabalho. Você trabalha com pessoas,
em regra, mais qualificadas tecnicamente. O concurso público
faz esse filtro, diminuindo o risco de acabar cheio de colegas
que não sabem o que estão fazendo.

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Isso também se reflete no seu propósito. Quando você conta
com uma equipe de trabalho mais qualificada, há a sensação de
que você realmente pode resolver problemas reais do mundo
que só o serviço público pode fazer.

Especialmente no caso do Judiciário, em que você tem a


possibilidade de realmente resolver conflitos e injustiças reais
de forma efetiva e isenta, algo que não seria possível caso o
serviço fosse dominado por comissionados preocupados com
a política e os interesses daqueles que os apadrinharam em
seus cargos.

O sistema dos concursados não é perfeito, pois há muitas


variações, dependendo principalmente da ética daqueles que
possuem maior poder de decisão, mas o funcionamento é muito
melhor para a sociedade e para os servidores, isso é inegável.

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Revelada: A verdadeira
produtividade no
serviço público

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O
serviço público, em geral, é cheio de contradições.

Invariavelmente há muito trabalho a ser feito. Em


geral há poucos servidores para realizarem todas as funções,
o que ainda torna a sensação de enxugamento constante de
gelo ainda maior. Em um mundo ideal, você pensaria, assim
como eu sempre pensei antes de começar a trabalhar como
servidor: isso faria os servidores trabalharem muito acima da
média, aumentando sua produtividade de alguma forma.

Porém, algo estranho acontece. A produtividade média dos


servidores é, em geral, muito abaixo da esperada. A realidade
é que temos juízes e servidores em tese muito ocupados, mas
pouco produtivos. E quanto mais o tempo passa, quanto mais
antigo o servidor ou o juiz, mais isso se agrava. As pessoas
naturalmente cedem ao sistema burocrático e redundante e
acabam deixando sua produtividade de lado.

Programas complexos são criados para aumentar essa


produtividade. Mas, de alguma forma quase inexplicável,
uma gigantesca parte dos juízes e servidores continuam com
metodologias travadas e redundantes de trabalho…

Sinto informar, mas um simples “sistema novo” de nada vai


adiantar se quem utiliza essa ferramenta continua com a
cultura dos anos 90, principalmente os servidores chefes
e juízes da velha guarda, os quais, no final das contas, são
aqueles que dão as cartas no nosso jogo. Da mesma forma, o
mais moderno sistema do universo de nada vai adiantar se não
houver usuários motivados e capacitados para resolverem os
problemas.

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Um exemplo: não é nada incomum, em pleno ano 2020, os
juízes pedirem para imprimir TODAS minutas de votos que são
feitas, fazerem anotações à mão e pedirem para um servidor
digitar no sistema novamente, ao invés de apenas usar o fluxo
do programa desenhado especialmente para essa situação.

Da mesma forma, apesar de todos MUITOS MILHÕES DE


REAIS investidos no Processo Judicial Eletrônico, o famoso PJe,
a imensa maioria dos usuários internos só usa essa ferramenta
para “lançarem” suas decisões, feitas no Microsoft Word,
impressas, corrigidas, alteradas novamente no Word e depois
lançadas mais uma vez no sistema (depois, é claro, de um último
ajuste nos super relevantes e atuais conectivos Outrossim’s,
Porquanto’s e De tal arte’s).

Lembra que eu disse, no começo desse livro, sobre conseguir


realizar todas metas semanais da minha função normalmente
apenas em um único dia de trabalho? Essa é a mais pura verdade.
Aliás, conheço outros tantos servidores que realizavam o
mesmo trabalho nas mesmas condições.

Então, eu não tinha nenhuma habilidade única ou era abençoado


com um poder dado pelos deuses. Eu até queria ter uma mochila
com uma armadura de bronze dos Cavaleiros do Zodíaco em
casa, com a qual pudesse soltar o poder de super produtividade:
Meteoro de Processos Prontos!

Mas esse não era o caso…

Eu apenas tinha mais motivos para produzir bem mais do que


a imensa maioria dos meus colegas. A motivação adequada
é fundamental. Essa sim pode ser caracterizada como um
superpoder.

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Sem brincadeiras. No gabinete em que fiquei por mais
tempo, éramos uma equipe de oito servidores, excluindo-se
o desembargador e incluindo-se um motorista exclusivo para
este, que apenas levava nosso amigo ao tribunal uma vez por
semana, no dia da sessão…

Sério! O trabalho desse motorista na maioria das semanas era


levar e buscar o desembargador no Tribunal UMA ÚNICA VEZ
NA SEMANA.

E o servidor nessa função recebe mais de R$10.000,00/mês!


Além disso, ele passou por uma prova concorridíssima e detém
muito conhecimento e competência, obviamente. Poderiam no
mínimo passar alguns “votinhos” para ele, não é mesmo? Ou
então determinar que ele realizasse outras funções compatíveis
com seu cargo. Inclusive, em alguns gabinetes, nos quais a
autoridade tinha mais noção do valor do dinheiro público,
ela mesma determinava que o motorista ajudasse em outras
funções.

Eu, sozinho, caso trabalhasse 5 dias por semana de forma


focada e sem distrações, conseguia fazer todas minutas de
votos do gabinete. Eu e mais um único servidor, ajudando
na parte administrativa, daríamos conta de todo volume de
trabalho. É óbvio que isso seria insustentável se pensarmos
em longo prazo. Mas era plenamente possível de ser realizado.
Isso demonstra como a estrutura dos gabinetes de segundo
grau do Poder Judiciário tem uma margem de folga gigantesca.
Tornar esses órgãos mais enxutos e mais produtivos é uma
necessidade urgente.

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Há muita dissonância entre a estrutura do 1º e 2º grau dos
tribunais. Os gabinetes de desembargadores normalmente
navegam tranquilamente, com grande margem de folga,
enquanto no 1º grau os juízes e servidores enfrentam tormentas
todos os dias…

Como já contei em alguns momentos nesse livro, algumas


pessoas que já trabalharam comigo em gabinetes eram
totalmente descartáveis em termos profissionais. Na verdade,
algumas pessoas mais atrapalhavam do que ajudavam. As
férias deles eram sempre celebradas por todos nós: o ambiente
melhorava e tudo fluía. Elas só estavam ali por amizade e talvez
algumas relações obscuras e desconhecidas com quem dava
as cartas “por essas bandas”.

Essa realidade sobrecarregava a mim e outros servidores que


realmente trabalhavam ali.

Sempre tive uma vida paralela com o trabalho como


concursado e nunca escondi isso de ninguém, nem mesmo dos
meus superiores. Sempre deixava claro que essa era minha
prioridade para o futuro e minhas funções no serviço público
seriam sempre cumpridas rigorosamente. Até por isso mesmo
sempre fiz questão de deixar meu trabalho bem adiantado,
para não deixar aparecer qualquer questionamento sobre
minhas funções.

Nos primeiros anos, todos os dias estudava para concursos


públicos melhores, aproveitando todos minutos possíveis em
minha rotina. Nos anos posteriores, quando decidi ficar na
carreira de analista judiciário, que tem o melhor custo-benefício
na minha opinião, comecei a empreender paralelamente.
Primeiro criei um app que se chamou Peso 2 Concursos e no

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qual comecei a divulgar minha
metodologia de estudos para
provas e concursos. No entanto,
a empresa desse app faliu, pois
de fato não sabíamos o que
estávamos fazendo em termos
de negócio.

Segui imediatamente com a


criação do canal do YouTube
Bitolei! e do Aprovação Ágil,
sempre tratando da preparação
para provas e concursos. Nessas
atividades, assim como na época
do estudo para concursos,
dedicava muitas horas por dia no
desenvolvimento de conteúdo e
do negócio, além do estudo sobre
tudo que precisava aprender
nessa área.

Com essa agenda sempre


ocupada, eu nunca deixei
qualquer brecha para que
pudesse procrastinar no meu
trabalho. Afinal, eu precisava
terminar meu trabalho o quanto
antes para poder ter mais tempo
para me dedicar à atividade que
mais me interessava.

No serviço público, sempre tentei


negociar com meus superiores

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para que pudesse executar minhas tarefas por produtividade
e não por tempo. Naturalmente, essa lógica me fez procurar
pelo teletrabalho, em que eu poderia trabalhar na minha
produtividade máxima com maior privacidade e no qual
pudesse fazer todo trabalho da semana em poucas horas.

Tinha medo de que, caso algumas pessoas com potencial de


encostopatia vissem essa minha produtividade real, pediriam
gentilmente para fazer o trabalho atrasado dos colegas, os
quais tinham uma produtividade ridícula (e na minha opinião,
faziam isso propositalmente), o que seria uma extrema injustiça.
Alguém duvida que inevitavelmente teria problemas com isso?
Eu não…

Até porque isso aconteceu comigo, na prática, por alguns anos.


Algumas vezes, quando decidia fazer algum projeto maior na
minha vida empreendedora paralela, que precisaria de maior
atenção e dedicação, pegava um lote maior no tribunal e
trabalhava uma ou duas semanas de forma intensa, ficando
com uma “folga” de meses no trabalho concursado.

Aliás, falando nisso, me lembrei de um ponto relevante sobre


a importância de se ter uma produtividade afiada…

Ela pode fazer você aproveitar grandes oportunidades.

Então leia com atenção:

Revelei anteriormente que diminui minha produtividade, me


igualando aos colegas de gabinete de forma intencional,
pensando nisso como uma estratégia de saída para conseguir
minha liberação tranquila do gabinete, está lembrado(a)?

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O(a) juiz(a) ao qual estava vinculado, como bom encostopata,
tentou tirar um último proveito da situação. Quando disse que
não seguiria mais de forma alguma tendo metas semanais
superiores aos meus pares e que queria minha liberação, ele
disse por recado, pela chefia de gabinete:

Só libero quando ele fizer todo o lote de distribuição que


está com ele.

Como ele sabia da minha produtividade real, ele chutou o


balde.

Nesse momento eu tinha comigo mais de setenta processos.


Para você ter uma noção, isso correspondia a cerca do volume
de trabalho inteiro do gabinete por duas semanas. Meus pares
no gabinete, aqueles que tinham a mesma verba que a minha,
faziam normalmente quatro ou cinco processos por semana.

Ainda me deram o prazo de 2 semanas para que entregasse


essa cota de trabalho...

Ou seja, eles queriam que eu fizesse cerca de 10 processos por


dia útil de trabalho para que conseguisse minha liberação…
10x mais do que meus pares faziam! Uma situação absurda
e muito injusta, concorda?

Estava claro: ele queria dificultar minha saída…

Eu negociei com a chefia de gabinete e disse que isso era


humanamente impossível. Mostrei esses números para eles.
Acabei chegando em um acordo e combinei de entregar tudo
que eles me pediram em 3 semanas.

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Para ser bem honesto com você, eu faria o dobro disso se
fosse necessário para nunca mais ter de ver aquelas pessoas
na minha frente. Faria tudo isso ainda com um grande sorriso
no rosto.

Porém, eu já tinha criado uma margem de folga de pelo menos


40 processos prontos no meu computador. Já tinha previsto
essa situação.

Encostopatas são previsíveis…

Em poucos dias fiz o restante que faltava do combinado e deixei


tudo salvo em meu computador. Entreguei tudo no último dia
do prazo combinado.

Durante o que restou desse período de três semanas trabalhei


com muito afinco no meu negócio digital, para criar uma gordura
ainda maior nos meus investimentos e seguir meu plano de
exoneração com mais tranquilidade. Lembro que exatamente
nesse mês foi o 1º momento em que consegui faturar com a
atividade no empreendedorismo digital praticamente 10x meu
salário bruto do Tribunal.

Todo o obtido nesse período com o negócio digital foi de


forma puramente orgânica, ou seja, sem qualquer gasto com
anúncios, aumentando muito a margem de lucro. Além disso,
conseguimos esse resultado sem nenhum afiliado, fator que
também acaba aumentando sua lucratividade. Nessa época,
não trabalhávamos com a ajuda de nenhum empregado ou
prestador de serviço, bem como nem tínhamos gastos com
qualquer estrutura física. Apenas eram utilizadas ferramentas
bem baratas de automatização de marketing.

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Exatamente nesse mês, quando decidi agir e caminhar
definitivamente para uma nova trajetória profissional, foi a 1ª
vez em que o lucro do novo negócio foi bem superior a 10x
meu salário líquido de servidor.

Demorou alguns dias para cair a ficha e entender o que


realmente estava acontecendo.

Entendi isso como um sinal de que todo o planejado daria certo


e seria até muito melhor do que o planejado e só consegui isso
por causa da produtividade que aprendi a ter, dentro e fora do
tribunal. Eu extraí uma grande oportunidade de um momento
em que normalmente haveria apenas o estresse e a frustração
decorrentes de mais um trauma profissional.

Só consegui fazer isso porque, além de desenvolver uma


produtividade alta, entendi como o jogo é jogado. Descobri
formas de me proteger sem realizar nenhuma ilicitude ou
até mesmo qualquer ação imoral ou antiética.

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Eu aprendi a me proteger do sistema e usar aquilo que tinha de
melhor de forma favorável, protegendo minhas fraquezas dos
aproveitadores de plantão. Desde que me conheço por gente,
sempre busquei formas de estudar e trabalhar com foco em
produtividade.

E a chave para tudo isso sempre foi sempre exatamente a


mesma: a escassez de tempo.

Como sempre fui muito ocupado, porque optava por isso,


precisava buscar formas de aumentar minha produtividade
constantemente, em todos os campos da minha vida. Desde o
começo dos estudos para concursos, sempre estudei esse tema
de forma paralela, principalmente focado na produtividade
de empreendedores acima da média e empresas altamente
rentáveis. Aprendi com o tempo a evitar desperdícios. Adaptei
meus estudos sempre seguindo essa lógica e por isso
sempre consegui resultados muito mais rápidos que os meus
concorrentes em qualquer concurso público.

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Segui fazendo o mesmo no serviço público.

Enquanto meus colegas se preocupavam com a adequada


colocação dos termos ademais, porquanto e tentavam
impressionar figurões do tribunal com uma linguagem dos
anos 1970, pensando em cavar uma eventual CJzinha em um
futuro próximo, eu fazia e repetia o simples de forma constante
e estratégica, com uma produção acima da média, sem medo
de errar. Fazendo isso ganhava tempo para me aprimorar em
atividades diferentes e que sabia terem alto potencial de se
tornarem um negócio lucrativo e transformador.

Eu mesmo criei meus sistemas de elaboração de votos em


“linha de produção”, fazendo com que eu pesquisasse decisões
anteriores parecidas e fizesse meu trabalho com extrema
rapidez. Não cheguei a criar um sistema próprio e programado
para isso, mas a lógica utilizada por mim usava esses conceitos
de programação.

Inclusive já pensei algumas vezes em transformar essa


metodologia que criei para fazer os votos em um software, o
qual possa ser utilizado em qualquer gabinete de qualquer
tribunal, com a intenção de enxugar a estrutura do 2º grau de
jurisdição.

Mas sempre que penso nisso, sinto arrepios só de imaginar a


demonstração dessa ferramenta para um juiz e depois enfrentar
a fúria de outros juízes e demais servidores que flutuam nesse
calmo oceano azul. Haveria muitos atritos, pois provavelmente
eles não teriam o mínimo interesse em diminuir a estrutura de
sua equipe. Por enquanto, esse é um projeto atolado em um
pântano dentro de minha mente…

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E quanto mais eu me aprofundava nas minhas atividades
empreendedoras e estudava sobre temas como produtividade,
criação de novas soluções e mentalidade empreendedora,
mais me distanciava do Tribunal, dos meus colegas servidores
e juízes.

Imagine o choque de realidade quando passei a ir menos


de uma vez por mês ao Tribunal. Eu olhava para aqueles
servidores e juízes, que apesar de agora contarem com
processos inteiramente digitais, estavam ainda realizando as
mesmas atividades de décadas atrás, baseadas em formatos
de trabalho totalmente antiquados, cheios de burocracia e
ciclos redundantes intermináveis. Eu não via sentido algum
em estar ali…

Antes eu pensava que poderia ajudar a todos, mostrando formas


simples de aprimorarmos os processos internos. Assim, na
minha cabeça, todos trabalhariam de forma mais producente,
teriam mais tempo para outras atividades e seriam, em geral,
mais felizes. Mas com o tempo descobri que pouquíssimos
querem isso de verdade.

Em regra, o que se quer da vida é a tranquilidade de uma rotina


previsível, um bom contracheque e estabilidade. Não é à toa
que muitos milhões de brasileiros prestam concursos todos os
anos, pois nessa área você inevitavelmente irá ter à disposição
todos esses elementos.

E o fato de ser possível fazer tudo o que eles faziam em muito


menos tempo era visto como uma ameaça a todo sistema, pois
tornaria o trabalho de muitos dispensável.

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Após um longo período dando murros em ponta de faca,
descobri a verdade.

Não eram eles que estavam errados. Não havia certo e errado,
na verdade. Eles navegavam tranquilamente conforme a maré.
Eu que estava me afogando, tentando seguir um caminho
diferente. E se continuasse forçando a barra, tentando
continuar do lado deles e ao mesmo tempo abraçar o mundo
do empreendedorismo, iria acabar me afogando.

Meu corpo dava sinais claros disso: a depressão brigava comigo


todos os dias.

Se continuasse naquele ritmo, mais cedo ou mais tarde,


iria sucumbir. Tinha um grande medo de que essa doença
apresentasse sintomas mais fortes e se propagasse, não
apenas em relação ao meu trabalho no tribunal, mas em todos
aspectos da minha vida.

Isso não era um quadro improvável se continuasse desse jeito…


O mundo é muito grande, cheio de oportunidades.

Mesmo quando estamos no meio do caos, especialmente o


caos pessoal, que está acontecendo apenas na sua mente,
o mundo continua imenso e aberto a novos desbravadores.
Basta assentar os ânimos e olhar ao redor. As oportunidades
que você merece e precisa irão aparecer. Mas quando elas
aparecerem, e elas irão aparecer, você precisa estar disposto e
pronto para agarrá-las, mesmo que tenha de se desgarrar de
sua manada.

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No meu caso sinceramente não foi nada fácil. Minha manada
oferecia um gordo contracheque todos os meses, estabilidade,
aposentadoria acima da média e tudo que qualquer brasileiro
sempre sonhou. Mas eu fiz o que precisava ser feito naquele
momento.

Eu dei o meu salto de fé.

Agora é continuar
evoluindo e me adaptando
ao meu novo mundo.

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